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Ministério Público do Estado da Paraíba

Procuradoria-Geral de Justiça
Comissão de Combate aos Crimes de Responsabilidade e Improbidade Administrativa - CCRIMP

Procedimento Investigatório Criminal n° 002.2020.008682

PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO

Assinado eletronicamente por: VASTI LOPES em 14/03/2023


Vistos e etc.…

1 – DOS FATOS

Cuida-se de procedimento investigatório criminal instaurado a partir de


notícia anônima formulada contra o prefeito do Município de Santa Cruz-PB, Paulo
César Ferreira Batista, relatando supostas fraudes em processos licitatórios para
aquisição de materiais de construção, mediante dispensas indevidas de licitações,
durante os exercícios de 2018 e 2019, privilegiando a pessoa de Francisco Carlos
Linhares Pereira, bem como as empresas Reunidas Materiais de Construção e
Alves e Freitas -ME.

Aduz ainda a existência de irregularidade na contratação de Nivson


Alessandre Freire Costa, para prestação de serviços técnico de engenharia, haja
vista haver servidores efetivos da Prefeitura capazes de prestar a referida função.

Para melhor instrução dos fatos, foram anexados o relatório prévio da


prestação de contas de 2019 da Prefeitura de Santa Cruz/PB, bem como a defesa
preliminar do Prefeito. (fls. 1569/1693,)

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Também juntou-se, às fls. 1489/1446, o relatório integrado contendo
registros e informações acerca das empresas Accocil Construções e Locações e
Reta Construções e Serviços LTDA .

Notificada, a Prefeitura de Santa Cruz/PB encaminhou notas de


empenhos, notas fiscais e as movimentações bancárias, realizadas durante os
exercícios de 2018 e 2019, emitidas em favor da empresa Alves e Freitas- ME,
(fls.1934/ 1960), empresa Reunidas Materiais de Construções (fls. 1961/1987) e na

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pessoa de Francisco Carlos Linhares Pereira (fls. 1989/2019).

Também apresentou, às fls. 2020/2046 e 2105, documento do


Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba- CREA de Nivson
Alessandro Freire Costa, juntamente com as notas de empenho emitidas pela
prestação de serviço feita à edilidade e a declaração do setor técnico de
engenharia da Prefeitura de Santa Cruz exigindo qualificação técnica para
prestação do serviço de construção. (fls. 2106/2148) .

Juntada, as fls. 2284/2290, folha de pessoal, exercício 2018 e 2019,


retirada do sistema do Tribunal de Contas do Estado, Sagres on line.

Por fim, Francisco Carlos Linhares Pereira e as empresas Alves de


Freitas LTDA e Reunidas Material de Construções encaminharam documentações
necessárias a instrução, em especial as notas fiscais emitidas, sendo seus
representantes, posteriormente, ouvidos em audiências realizadas por esta
Comissão. (fls. 2180/2190, fls. 2195/2204, fls. 2211/2224 e fls. 2268/2273)

Em seguida, vieram os autos conclusos.

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É o relatório.

Passo a fundamentar.

2 – DOS FUNDAMENTOS

Como visto, a presente investigação tem como desígnio averiguar


cometimento de supostos pagamentos feitos pelo Prefeito de Santa Cruz/PB,

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Paulo César Ferreira Batista, em favor de Nivson Alessandro Freire Costa,
Francisco Carlos Linhares Pereira e as empresas Reunidas Materiais de
Construção e Alves e Freitas -ME, contratados, indevidamente, por meio de
dispensa de licitação para prestação de serviço de engenharia e aquisição de
materiais de construção.

Como se percebe, resta claro que a responsabilidade criminal norteia-


se nos estreitos limites fixados na lei como sendo fato típico. Assim sendo, no caso
em comento, deve-se comprovar a existência de pagamento indevido por
inexecução do objeto contratado, bem como a descrição da real afronta as
hipóteses legais de cabimento da dispensa da licitação.

Ocorre que, após ingressar no mérito da persecução investigativa,


não se vislumbrou elementos mínimos capazes de configurar conduta
criminosa descrita em nosso ordenamento jurídico, notadamente tendo o
Prefeito de Santa Cruz/ PB, Paulo César Ferreira Batista, como sujeito ativo.

Com efeito, de acordo com a manifestação anônima efetuada, o


mencionado gestor teria contratado diretamente, Francisco Carlos Linhares Pereira
e as empresas Reunidas Materiais de Construção e Alves e Freitas -ME, para
fornecimento de materiais de construção destinados a obras do município, sem
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observância aos ditames legais permissivos da dispensa de licitação.

Contudo, temos que os documentos obtidos e acostados aos autos


afastam a prática do ilícito penal imputado ao investigado, Paulo César Ferreira
Batista, não havendo evidência de que os insumos não foram entregues pelas
pessoas contratadas, nem que houve afronta da contratação à lei 9.8666/93.

In casu, percebe-se que o montante efetivamente utilizado nas

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contratações questionadas, durante os exercícios de 2018 e 2019, encontram-se
no limite legal permissivo para a dispensa de licitação, conforme prevê o art. 24, I,
da lei 8.666/93:

Art. 24. É dispensável a licitação:


I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso I do artigo anterior, desde que não se
refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e
serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas
conjunta e concomitantemente;(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)

No ano de 2018, o Decreto nº 9.412 atualizou a quantia referente a


cada modalidade de licitação, passando a constar os seguintes valores:

Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do art. 23 da Lei


nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ficam atualizados nos seguintes termos:
(...)
II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil
reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais); e

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c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais).

Dessa forma, está evidente que o Prefeito de Santa Cruz, Paulo César
Ferreira Batista, realizou as contratações diretas, com dispensa de processo de
licitação, resguardado pela legislação, à época, que permitia realização das
negociações, sem o devido processo licitatório, quando a contratação estivesse no
parâmetro enquadrado pela norma para casos de pequeno valor, o que foi o caso.

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A contrario sensu, como forma de provar a efetiva prestação do serviço
contratado, foram anexados aos autos, documentos referentes a entrega dos
objetos, como emissão de notas fiscais pelos fornecedores,
descaracterizando totalmente a existência de pagamento indevido pela Prefeitura,
ou seja, de prática de conduta criminosa por parte do gestor.

Lado outro, de forma similar, também não se vislumbra irregularidade


na contratação de Nivson Alessandre Freire Costa para serviços de engenharia na
realização de obras realizadas pela Prefeitura de Santa Cruz/PB, uma vez que
restou provado, através de documentos do Sagres on line do Tribunal de Contas
que, à época, não existiam engenheiros no quadro efetivo da edilidade e que era
necessário o serviço técnico especializado. (fls. 2284/2290)

Outrossim, importante ressaltar, ainda, que não há provas, nos autos,


de que Nivson Alessandre Freire Costa não teria prestado, efetivamente, os
serviços exigidos, ao contrário, encontra-se demonstrado o efetivo desempenho
das funções.

Dessa forma, não obstante as ilações efetuadas na declaração


anônima inicial, mesmo com esforços despendidos por este Órgão Ministerial, não
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restou comprovada a ausência de prestação dos serviços pelos contratados, nem
tampouco afronta ao limite legal permitido para realização de dispensa de licitação
pela Prefeitura.

Ora, resta manifesto não só o efetivo cumprimento do pactuado, com a


consequente entrega dos itens comprados, validado por meio de empenhos e
notas fiscais constantes dos autos, às fls.1934/ 1960, fls. 1961/1987 e fls.
1989/2019, como também a ausência de informes ou elementos probatórios

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capazes de evidenciar relacionamento entre as pessoas e empresas contratadas,
Nivson Alessandro Freire Costa, Francisco Carlos Linhares Pereira e as empresas
Reunidas Materiais de Construção e Alves e Freitas -ME, e o agente político,
capaz de indicar prévio ajuste ou, até mesmo, uma eventual contrapartida
econômica ou promessa indevida. Assim, não se demonstrou qualquer indício a
evidenciar o interesse pessoal ou de terceiros, descaracterizando qualquer
componente subjetivo de conduta criminosa.

Ademais, considerando a vasta documentação inclusa na investigação,


não há que se cogitar a inexistência da prestação dos serviços contratados, não
podendo falar em cometimento de crime, inexistindo, até o presente momento,
qualquer indício ou comprovação de elementos que configurem os crimes
licitatórios e/ou de responsabilidade no que diz respeito a apropriação/desvio de
recursos públicos. Desta forma, não se apresentou elementos probatórios aptos a
apontar a prática de crime licitatório pelo gestor municipal.

É de se reconhecer, ainda, que não se pode adentrar na seara criminal


em razão de meras conjecturas sem lastro razoável de provas de conduta ilícita.
Temos que não consta da investigação outros elementos que indiquem o
cometimento de crime pelo Prefeito de Santa Cruz/PB, Paulo César Ferreira
Batista, não verificando, consequentemente, justa causa para o ajuizamento de
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Ação Penal.

Outrossim, conforme sabido, o Princípio da Intervenção Mínima


apregoa que o Estado de Direito deve lançar mão das Leis Penais como último
recurso (ultima ratio), não devendo ser utilizado, de forma inicial, para a resolução
de todo e qualquer conflito. Deste modo, é de se reconhecer que não seria
plausível adentrar na seara criminal, utilizando-se apenas de meras conjecturas,
sem qualquer lastro razoável de provas de conduta criminosa.

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Assim, se de um lado resta inviabilizada a adoção de medidas visando
atender o pleito investigatório e descortinar os supostos fatos genérico e
vagamente articulados, de outro, não há elementos mínimos que apontem para o
envolvimento do atual Prefeito de Santa Cruz/PB, Paulo César Ferreira Batista,
com relação aos fatos ilegais a ele imposto, sendo impositivo o arquivamento do
presente Procedimento Investigatório Criminal.

Não se verifica, no feito, quaisquer elementos capazes de, em tese,


compor uma suposta conduta criminosa, não existindo, consequentemente, justa
causa para a instauração de Ação Penal, determinando, em razão disso, o seu
arquivamento.

3 – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, ausente indícios elementares de tipicidade penal nos


fatos objeto da presente investigação, não vislumbro justa causa para o início de
uma ação penal e determino o ARQUIVAMENTO do presente procedimento
investigatório, nos termos do artigo 19 da Resolução CPJ 017/2018 1.
1Art. 19. Se o membro do Ministério Público responsável pelo procedimento investigatório ou notícia de fato criminal se
convencer da inexistência de fundamento para a propositura de ação penal pública promoverá o arquivamento dos autos,
fazendo-o fundamentadamente.
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Com fundamento no Artigo 41, I da Lei Complementar nº 97/2010 –


LOMP, dê-se ciência aos investigados, fazendo constar a possibilidade de interpor
recurso ao Colégio de Procuradores de Justiça no prazo de 5 dias 2. Exaurido o
prazo, dê-se baixa no registro.

De outra banda, por não visualizar no presente procedimento


quaisquer elementos caracterizadores de improbidade administrativa, deixo de

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determinar o encaminhamento de cópia dos autos à Promotoria de Justiça de
Sousa/PB.

João Pessoa, data da assinatura digital

VASTI CLEA MARINHO DA COSTA LOPES


1º Subprocuradora-Geral de Justiça
Presidenta da CCRIMP

§ 1º A promoção de arquivamento será apresentada ao juízo competente, nos moldes do art. 28 do Código de Processo
Penal, ou ao Conselho Superior do Ministério Público, nos termos da legislação vigente.

§ 2º Na hipótese de arquivamento do procedimento investigatório criminal, ou do inquérito policial, quando amparado em


acordo de não persecução penal, nos termos do artigo anterior, a promoção de arquivamento será necessariamente
apresentada ao juízo competente, nos moldes do art. 28 do Código de Processo Penal.
2 (LEI COMPLEMENTAR Nº 97 DE 22 DE DEZEMBRO DE 2010 - LOMP)
Art. 41. Cabe ao Colégio de Procuradores de Justiça:
I - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, decisão do Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua
atribuição originária, acerca de arquivamento do inquérito policial ou de peças de informação;
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