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Aula: 1

Tema:
Discussão: como se constrói história
Documentos (objeto) e sua seleção
Linha do tempo
O perigo da história única

Fontes:
Funari, P.P. Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos
documentos.
Eco, Humberto. O nome da Rosa.
Trecho adaptado da obra O nome da Rosa, de Humberto Eco.

Era uma bela manhã de fim de novembro. De noite tinha nevado um pouco, mas a fresca camada que
cobria o terreno não era superior a três dedos. Já tínhamos ouvido a missa numa aldeia do vale. Depois, tínhamo-
nos posto a caminho para as montanhas, ao despontar o Sol. Enquanto os nossos cavalos andavam rumo à última
curva da montanha, o meu mestre parou por algum tempo, olhando para os lados da estrada, para a estrada, e
acima da estrada, onde uma série de pinheiros, sempre-verdes, formava um teto natural, alvo de neve. - Rica
abadia - disse. - O Abade gosta de parecer bem nas ocasiões públicas.
Habituado como estava a ouvi-lo fazer as mais singulares afirmações, não o interroguei. Até porque, mais a
frente da estrada, ouvimos ruídos, e numa curva apareceu um grupo agitado de monges e de servos. Um deles,
quando nos viu, veio ao nosso encontro com grande exaltação:
Bem-vindo, senhor - disse -, e não vos admireis se imagino quem sois, porque fomos advertidos da vossa
visita. Eu sou Remo de Bellagio, o despenseiro do mosteiro. E vós sois, como creio, frade Guilherme de Bascavilla, o
Abade deve ser avisado. Tu – ordenou voltando-se para um servo da comitiva-, sobe e avisa que o nosso visitante
está prestes a entrar.
– Agradeço a hospitalidade, senhor despenseiro - respondeu cordialmente o meu mestre - aprecio muito a vossa
cortesia, mas acho que interrompemos a perseguição, não é mesmo? Mas não tema! O cavalo passou por aqui e
dirigiu-se para a direita. Não poderá ir muito longe, porque chegando ao depósito do estrume tem de parar. É
demasiado inteligente para se lançar pelo terreno íngreme...
- Quando o haveis visto? - perguntou o despenseiro espantado.
- Não o vimos, não é verdade, Adso? – disse Guilherme, voltando-se para mim com ar divertido.
- Mas se procura Brunello, o animal deve estar onde eu disse.
O despenseiro hesitou. Fitou Guilherme, depois o caminho e por fim perguntou: - Brunello? Como sabe o nome do
cavalo? - Vamos - disse Guilherme - é evidente que está à procura de Brunello, o cavalo preferido do Abade, o
melhor galopador da vossa estrebaria, de pêlo negro, cinco pés de altura, cauda majestosa, casco pequeno e
redondo, mas de galope bastante regular; cabeça miúda, orelhas finas e olhos grandes. Foi para a direita! Acho
melhor se apressar!
O despenseiro teve um momento de hesitação, depois fez um sinal aos seus [colegas] e lançou-se pelo
caminho da direita. Quando estava para interrogar Guilherme, porque me roia a curiosidade, ele fez-me sinal para
esperar. E, de fato, poucos minutos depois ouvimos gritos de júbilo [de alegria, entusiasmo], e na curva do caminho
reapareceram monges e servos trazendo o cavalo. Passaram ao nosso lado, continuando a olhar-nos atônitos, e
foram em direção à abadia.
- E agora dizei-me, como fizeste para saber?
- Meu bom Adso - disse o mestre. - Em toda a viagem te tenho ensinado a reconhecer os traços com que o mundo
nos fala como um grande livro [...] Quase me envergonho de repetir aquilo que deverias saber. No caminho, sobre a
neve ainda fresca, desenhavam-se com muita clareza as pegadas dos cascos de um cavalo que apontavam para o
carreiro à nossa esquerda. Aqueles sinais diziam que o casco era pequeno e redondo e o galope de grande
regularidade... de modo que daí deduzi a natureza do cavalo e o fato de ele não correr desordenadamente, como faz
um animal irritado. Ali, onde os pinheiros formavam como que um teto natural, alguns ramos tinham sido
quebrados de justamente à altura de cinco pés. Um dos pés de amoras, por onde o animal deve ter andado [para a]
direita, conservava ainda entre os espinhos longas crinas muito negras... Não me digas enfim que não sabes que
aquele caminho conduz ao depósito do estrume, porque subindo pela curva inferior vimos os detritos no chão,
sujando a neve. - Sim – disse -, mas a cabeça pequena, as orelhas aguçadas, os olhos grandes...
- Não sei se os tem, mas decerto os monges agora o crêem firmemente.
Periodização tradicionais da história
Paradigmas: História Tradicional

1.Documentos (objeto) e sua seleção: 2. Narrativa


A história diz respeito essencialmente a política História é a narrativa dos acontecimentos.
Fatos são únicos, estáticos.
Positivismo (século XIX)
Nova história preocupada com uma análise
Documentos históricos = textos escritos das estruturas
(história política)
Diferentes interpretações de acordo agora
Tudo tem uma história com o objeto e as perguntas
Interesse por toda a atividade humana
(ampliação do objeto de análise)
3. Visão de cima (concentração dos fatos no feito
Documentos escritos diversos (poesias, ficção, dos estadistas, generais...) resto da humanidade
histórias, inscrições, reflexões filosóficas...) papel secundário
Cultura material (vasos cerâmicos, pinturas História vista de baixo (history from below)
parietais) Movimentos populares, revoltas, classes operárias.

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