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Cabo Verde:

história, cultura e
literatura

Profa. Julia Pinheiro Gomes


Apresentando
Cabo Verde
• Está situado a 455 km da costa africana,
no Oceano Atlântico
• Seu arquipélago é formado por rochas
oriundas de erupções
• É composto por ilhas, ilhéus e ilhotas que
somam mais de 4 mil km2
• Tem hoje, aproximadamente, 550 mil
habitantes
• Português é a sua língua oficial, ainda que
no cotidiano o crioulo cabo-verdiano seja
mais empregado
O arquipélago
de Cabo Verde
1. Ilha de Santo Antão
2. Ilha de São Vicente
3. Ilha de Santa Luzia
4. Ilha de São Nicolau
5. Ilha do Sal
6. Ilha da Boa Vista
7. Ilha do Maio
8. Ilha de Santiago
9. Ilha do Fogo
10.Ilha Brava
O dragoeiro, uma
árvore típica da
flora de Cabo Verde

Esta árvore, símbolo da ilha de São


Nicolau, pode ultrapassar 650 anos de
idade. Sua presença em Cabo Verde é
anterior ao próprio descobrimento do
arquipélago. Ela chega aos 15 metros de
altura e a sua seiva, chamada “sangue de
dragão”, é conhecida por ter poderes de
cura e de proteção.
A colonização portuguesa
• Os portugueses chegaram ao arquipélago desabitado por volta de 1460
• Ocorreu a divisão em capitanias hereditárias para exploração agrícola
• A maior parte da população foi constituída por negros provenientes de outras
regiões da África, com destaque para a Guiné
• Foco em plantações de algodão e na indústria têxtil, criada a partir de técnicas
de tecelagem levadas por artesãos de outras partes do continente africano
• Pela sua posição privilegiada no Oceano Atlântico, Cabo Verde serviu como
como entreposto comercial entre Europa, Brasil e África
• A partir do século XIX, houve um processo de mestiçagem de brancos e negros
de variadas etnias nas ilhas, que dá origem ao crioulo cabo-verdiano
“Os crioulos são línguas naturais, de formação
rápida, criadas pela necessidade de expressão e
comunicação plena entre indivíduos inseridos em
comunidades multilíngues relativamente estáveis.
Procurando superar a pouca funcionalidade das suas
línguas maternas, estes recorrem ao modelo imposto
(mas pouco acessível) da língua socialmente dominante

Uma observação e ao seu saber linguístico para constituir uma forma de


linguagem veicular simples, de uso restrito mas eficaz, o

sobre o crioulo pidgin, que posteriormente é gramaticalmente


complexificada e lexicalmente expandida, em particular
pelas novas gerações de crianças que a adquirem como
língua materna, dando origem ao crioulo.
Chamam-se de base portuguesa os crioulos cujo
léxico é, na sua maioria, de origem portuguesa. No
entanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos são
línguas diferenciadas e autónomas.”
(“Crioulos de base portuguesa”, Dulce Pereira,
disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/crioulosdebaseport.html)
E meste pa nho ben li

Ele (haver) mister (de) para senhor vem ali

Ele precisa (de) que o senhor/você venha cá

(“Crioulos de base portuguesa”, Dulce Pereira,


disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/crioulosdebaseport.html)
Início da década de 1950: inspiração do movimento da
negritude e da independência de outras ex-colônias

1956: fundação do PAIGC (Partido Africano para a


Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por
Amílcar Cabral
O processo de 1963: início das lutas armadas pela independência na
independência Guiné-Bissau, com auxílio de guerrilheiros provenientes
de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde
de Portugal 1974: acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se
um governo de transição em Cabo Verde

5 de Julho de 1975: proclamação da independência de


Cabo Verde pela Assembleia Nacional Popular
A independência
de Cabo Verde

“Povo de Cabo Verde, hoje, 5 de Julho


de 1975, em teu nome, a Assembleia
Nacional de Cabo Verde proclama
solenemente a República de Cabo
Verde como Nação Independente e
Soberana”.
Abílio Duarte, presidente da Assembleia Nacional Popular
(https://expressodasilhas.cv/pais/2020/07/05/independencia-foi-ha-45-anos/70308)
Amílcar Cabral,
“o pai da democracia da Guiné
e de Cabo Verde”
• Nasce em 1924, na Guiné-Bissau, de pais cabo-
verdianos
• Ainda criança, muda-se com os pais para Cabo
Verde, onde conclui a educação básica
• Entre 1945 e 1950, estuda agronomia em Lisboa,
onde se engaja na luta contra o colonialismo
português
• De volta à Guiné, realiza em 1953 o 1º
recenseamento agrícola de seu país
• Em 1956, funda Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
• Foi assassinado em 1973, por dois membros do
seu partido
“A minha poesia sou eu”
[excerto], de Amílcar Cabral
… Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
[...]
(Revista Seara Nova, 1946)
[…]

Ilha:
“Ilha” [excerto], de colina sem fim de terra vermelha
Amílcar Cabral — terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!

(Praia, Cabo Verde, 1945)


Primeiro período: das origens até 1925

Segundo período: de 1926 a 1935


Panorama da Terceiro período: de 1936 (publicação de
literatura em Claridade) a 1957

Cabo Verde Quarto período: de 1958 a 1966


(segundo Pires
Laranjeira, 1995)
Quinto período: de 1966 a 1982

Sexto período: de 1983 à atualidade


Primeiro período
• Em 1842, é criado o prelo (tipo de impressão
em papel)
• Os primeiros homens das letras de Cabo Verde
surgem após a criação do Liceu-Seminário de
São Nicolau (1866-1928)
• Romance O Escravo (1856), do português José
Evaristo D’Almeida, é considerado o marco
inicial da ficção cabo-verdiana
• Em 1916, Eugênio Tavares publica dois livros de
poemas (Amor que salva e Mal de amor: coroa
de espinhos)
• Entre 1923 e 1924, Pedro Cardoso edita o
jornal “Manduco”, com textos em crioulo
Segundo período (período hesperitano)
“O fundamento que leva a que se possa designar tal período como hesperitano
ressalta da assunção do antigo mito “Hesperitano” ou “Arsinário”. Trata-se do mito,
proveniente da Antiguidade clássica, de que, no Atlântico, existiu um imenso
continente, a que deram o nome de continente Hespério. As ilhas de Cabo Verde
seriam, então, as Ilhas Arsinárias, de Cabo Arsinário, nome antigo do Cabo Verde
continental, recuperado da obra de Estrabão. Os poetas criaram o mito poético
para escaparem idealmente à limitação da pátria portuguesa, exterior ao
sentimento ou desejo de uma pátria interna, íntima, simbolicamente representada
pela lenda da Atlântida, de que resultou também o nome do “Atlântico
hesperitano”, por oposição ao continentalismo africano e europeu. Anote-se que a
primeira opção para o nome da revista Claridade, avançada por Jaime de
Figueiredo, chegou a ser Atlântida.”
(PIRES LARANJEIRA, 1995, p. 181)
“Rumores” [excerto], de Jorge
Barbosa
Rumores das coisas simples da minha terra...
Dos trapiches
quando esmagam a cana para o grogue
com os bois pacíficos a rodar,
sempre a rodar
ao som desse canto que vem dos currais
numa cadência estranha de nostalgia,
que deixa um arrepio a morrer no ar...
Rumores das salinas,
dos rodos nas maretas,
das carretas,
levando o sal na via férrea...
[...]
Terceiro período
• Consciência regional, ainda que não seja anticolonial
• Influência do modernismo brasileiro, com destaque para
Manuel Bandeira e Jorge Amado, além de Gilberto Freyre
• Publicação da revista Claridade em 1936, fundada por
Baltasar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes – marco da
poesia moderna caboverdiana
• Continuidade com a revista Certeza (1944), que traz
também aspectos sociais, de influência neorrealista
A revista Claridade
“Renovar não é criar alma nova, mas
procurar reencontrá-la na aluvião dos
lugares comuns que a inércia
estratificou e adaptá-la às condições
de vida do seu tempo. Arrancar a alma
viva do acervo de experiências
cristalizadas – eis o que Claridade
tentou e está tentando ainda.”
(Manuel Lopes apud LARANJEIRA, 1995, p. 190)
Quarto período
• Publicação de apenas um número
do Suplemento Cultural (1958)
• Participação de Ovídio Martins,
Gabriel Mariano e Onésimo Silveira
• Recusa das gerações anteriores
(Claridade e Certeza)
• Busca de uma voz coletiva, que
represente a nação
• Tom combativo e de revolta,
marcando o início das lutas
anticoloniais
“O único impossível” [excertos],
de Ovídio Martins
[…]
Mordaças a um poeta?
Absurdo!
E por que não
Parar o vento
Travar todo o movimento?
[...]
Mordaças!
A um poeta?
Não me façam rir!...
Experimentem primeiro
Deixar de respirar
Ou rimar...mordaças
Com liberdade

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