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Zona Portuaria RJMultiplos Olhares Espaco Mutacao
Zona Portuaria RJMultiplos Olhares Espaco Mutacao
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ISBN 978-65-87145-45-7
CONSEQUÊNCIA
ISBN 978-65-87145-45-7
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9 786587 145457 CONSEQUÊNCIA
CONSEQUÊNCIA
© 2022, dos autores
Conselho editorial
Alvaro Ferreira
Carlos Walter Porto-Gonçalves
João Ferrão
João Rua
Marcelo Badaró Mattos
Márcio Piñon de Oliveira
Marcos Saquet
Martina Neuburger
Ruy Moreira
Timo Bartholl
PREFÁCIO............................................................................................................ 9
Márcio Piñon de Oliveira
AGRADECIMENTOS..................................................................................... 15
9
10 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
1 Letra da música “Opinião”, composição de Zé Keti, que deu título ao show de mesmo
nome, estrelado por ele em 1964, ano do golpe militar no Brasil, ao lado de Nara Leão
e João do Vale.
Prefácio 13
Referências
15
16 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
19
20 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
A ideia de organizar o livro que o(a) leitor(a) tem hoje em mãos sur-
giu no decorrer da organização do evento “Porto Maravilha 10 anos:
passado, presente e futuro da zona portuária”, realizado entre os dias 23
e 26 de outubro de 2019 no edifício que abriga o Museu da História e
Cultura Afro-brasileira (Muhcab), no bairro da Gamboa.
A história da zona portuária está diretamente atrelada a aconteci-
mentos marcantes da história brasileira, e as recentes intervenções no
âmbito do projeto Porto Maravilha corroboram e reatualizam a relevân-
cia deste espaço como expressão de processos, modelos, paradigmas e
contradições que se reproduzem em escala global. Ao mesmo tempo, o
desenvolvimento urbano da zona portuária aponta para idiossincrasias
que exigem análises e respostas singulares.
O evento em questão, portanto, caracterizou-se como uma oportu-
nidade para a realização de debates críticos a respeito das transforma-
ções e rumos deste espaço tão emblemático da cidade do Rio de Janeiro.
A partir do encontro de pesquisadores(as), agentes públicos, ativistas,
artistas e representantes da comunidade, o objetivo do evento foi cons-
truir um espaço de reflexão calcado na pluralidade de ideias e na diver-
sidade social, valorizando a multidisciplinariedade.
Para além de um encontro estritamente acadêmico, o evento foi mar-
cado pela celebração das ricas manifestações culturais da zona portuá-
ria, contando com apresentações de artistas locais, como o ator e diretor
Thiago Vianna, da “Cia. de teatro do Porto”; a cantora e dançarina Lizza
Dias, que conduziu uma oficina de jongo para os participantes do even-
to; o grupo “Meninas da Gamboa”, do “Galpão Gamboa”, que apresentou
uma amostra do espetáculo “Nossas histórias”; e o coletivo “Pretitude
Territorial”.
Além das apresentações culturais, foram organizadas exposições fo-
tográficas e instalações de artistas que se relacionam de formas distintas
com a zona portuária, como Maurício Hora, Thereza Carvalho, Laura
Burocco e Luiz Baltar, este último que nos brinda com uma seleção in-
crível de fotografias que abrem cada um dos capítulos deste livro, so-
madas a um texto de sua autoria inspirador sobre a relação entre arte e
desenvolvimento urbano.
O projeto Porto Maravilha foi marcado por conflitos, violações e re-
sistências de diversas ordens. Contrapondo-se ao discurso e à propos-
Apresentação 21
Introdução
35
36 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
1 “Klabin explica sua viagem aos correspondentes estrangeiros no Rio”, Jornal do Brasil,
25 mai. 1979, p. 7.
2 “Empresários planejam Clube do Rio para evitar esvaziamento”, Jornal do Brasil, 14
dez. 1980, p. 40.
3 “Empresário quer reurbanizar o Porto do Rio”, Jornal do Brasil, 17 out. 1982, p. 36.
4 “Rio Internacional teve 34 eventos que reuniram 100 mil participantes”, Revista da
Associação Comercial do Rio de Janeiro, 43, n. 1180, 1982, p. 4-15.
Zona portuária do Rio de Janeiro 41
5 “Temporal quer aproveitar Porto do Rio como ponto turístico”, O Globo, 03 fev. 1983,
p. 26.
6 “Teleporto Rio: conexão com o mundo”, Revista da Associação Comercial do Rio de
Janeiro, 47, n. 1215, 1985, p. 24-28.
42 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Durante a década seguinte uma série de anúncios foram feitos, ora a par-
tir da prefeitura, ora vindo da CDRJ, com vistas a uma recuperação inte-
grada da zona portuária (Quadro 1). Esta falta de entendimento explici-
tava como a articulação intergovernamental e institucional era essencial
para que um programa de requalificação em grande escala pudesse
ocorrer. Por parte da prefeitura, grupos de trabalho foram estabelecidos
por decretos municipais na Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU)
para estudar mudanças no uso do solo e no zoneamento, incluindo uma
cooperação internacional com o Instituto de Planejamento e Urbanis-
mo da Região de Paris (IAURIF, 1994). Por outro lado, poderes foram
transferidos à CDRJ após a dissolução da Portobrás em 1993, o órgão
federal responsável pela coordenação das atividades dos portos brasi-
leiros, e a aprovação da Lei federal 8.630/1993, a Lei de Modernização
dos Portos, que possibilitava o arrendamento das instalações portuárias
para fins comerciais. Consultorias foram contratadas para avaliar a li-
beração de propriedades ociosas de “potencial econômico inexplorado”
que pudessem dar lugar a “empreendimentos e iniciativas que valorizem
adequadamente o patrimônio da Companhia” (MINFRA, 1991, p. 6).
Foram assinados memorandos de entendimento entre o município, a
autoridade portuária, a ACRJ e o Ministério dos Transportes, mas ne-
nhum progresso significativo foi observado.
Durante os governos dos prefeitos Cesar Maia (1993-1996) e Luiz
Paulo Conde (1997-2000), algumas propostas foram feitas que se rela-
cionavam à circulação de políticas e de profissionais. Dentre estas pode-
-se destacar a candidatura aos Jogos Olímpicos de 2004 elaborada entre
Zona portuária do Rio de Janeiro 45
12 “O Programa Porto do Rio”, Blog Alfredo Sirkis, 21 out. 2005. Disponível em: https://
bit.ly/3J4dcyy. Acesso em: 01 ago. 2013.
Zona portuária do Rio de Janeiro 51
A rapidez com que foi lançado o projeto Porto Maravilha e como a fase
inicial de intervenções em infraestrutura foi concluída, despertaram o
13 “Museu do Amanhã, no Píer Mauá, será marco da Rio+20”, O Globo, 19 jan. 2010.
Disponível em: https://glo.bo/32rRIL6. Acesso em: 22 dez. 2021.
Zona portuária do Rio de Janeiro 55
14 Informação verbal fornecida por gestor do Consórcio Porto Novo, em 2015, citado
em Silvestre (2017b).
56 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
É replicável? É. Talvez não com tudo. Posso levar o pacote do Porto Ma-
ravilha para Recife, para Salvador? Não sei, não sei responder porque
talvez aí você não precise de fundo, talvez não precise fazer leilão de
lote único, talvez não precise de PPP para intervenções menores, não é
um empreendimento de R$8 bilhões, não tem serviços. Então, tudo isso
precisa ser examinado em cada caso.15
16 “Empreiteiro relata lobby para fazer obra no porto do Rio”, Folha de São Paulo, 07
dez. 2014. Disponível em: https://bit.ly/32s49H2. Acesso em: 01 abr. 2016.
17 “Eduardo Cunha cobrou R$ 52 mi em propina para liberar dinheiro do FI-FGTS,
diz PGR”, Revista Época, 16 dez. 2015. Disponível em: https://glo.bo/3EgMFdN. Acesso
em: 01 abr. 2016.
58 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Conclusão
18 “Caixa diz que Porto Maravilha do Rio era inviável desde o início”, Folha de São Pau-
lo, 04 jun. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3Fo0jNx. Acesso em: 25 ago. 2020.
60 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Referências
Introdução
67
68 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Elaborado a partir de: Relatórios anuais dos fundos imobiliários; Relatórios anuais dos
fundos de pensão; e Relatórios Trimestrais das empresas listadas
5 “No Porto Maravilha, três anos de queda livre no preço dos imóveis corporativos”,
O Globo, 29 jul. 2021. Disponível em: https://glo.bo/3JfBlSS. Acesso em: 27 dez. 2021.
84 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Considerações finais
Referências
Introdução
91
92 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Laboratório urbano
1 Levi-Faur (2005) introduz uma divisão histórica do sistema capitalista em três ordens
caracterizadas pela separação entre steering (liderança, ideias e direcionamento) e ro-
wing (provisão de serviços) no âmbito do mercado e do Estado.
2 Em especial no caso norte-americano (Altshuler e Luberoff, 2004).
96 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Conclusões
Referências
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Formatos institucionais e os limites redistributivos de grandes projetos urbanos
109
113
114 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
4 Fajardo é arquiteto e desempou diversas funções nas duas primeiras gestões de Eduar-
do Paes, todas relacionadas as políticas urbanas e de preservação histórica e cultural.
Com a vitória de Paes nas eleições para prefeito em 2020, Fajardo retorna à gestão mu-
nicipal, como secretário de Planejamento Urbano.
Passados ideais, futuros encantados 117
7 Informação verbal fornecida por Jorge Arraes durante o Seminário “Patrimônio Cul-
tural e Intervenção Urbana”, realizado no Clube dos Engenheiros em 22 de setembro de
2011.
Passados ideais, futuros encantados 121
12 Interessante notar que, já nos anos 1990, tomou forma um projeto de descapitaliza-
ção de Brasília por meio do movimento “Rio Capital”, que defendia que a transferência
da capital havia provocado a perda de referências culturais da identidade nacional.
13 Refiro-me à Copa das Confederações (2013), à Jornada Mundial da Juventude
(2013), ao Rock in Rio (2013 e 2015), à Copa do Mundo de Futebol (2014) e aos Jogos
Olímpicos (2016).
124 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
afetam a historicidade local muito antes do seu início e seus efeitos du-
ram muito tempo após seu fim. No caso em questão, os Jogos Olímpicos
Rio 2016 agenciaram metáforas poderosas a respeito do papel do Rio
de Janeiro como “caixa de ressonância” do Brasil, ao mesmo tempo em
que se tentou destacar a oportunidade imperdível para a cidade alcançar
definitivamente o status de cidade global.
Sintomaticamente, a potencialidade turística e econômica é vista
como um princípio inquestionável pelos técnicos da prefeitura e fator
fundamental para o sucesso das intervenções urbanas na zona portuá-
ria. Mas a novidade não reside no turismo cultural ou na valorização
da sustentabilidade financeira das ações culturais,14 e sim na atuali-
zação do imaginário da cidade a partir de uma lógica econômica que
valoriza a oferta de experiências históricas e culturais (Heinich, 2014;
Peixoto, 2009; Kirshenblatt-Gimblett, 1998). Trata-se de potencializar
a vivência singular de um presente historicizado, orientado menos
pela lógica da monumentalidade das grandes obras (estas componen-
tes também desse tipo de projeto) do que pelo registro do cotidiano
das experiências da cultura local renovada, o que demonstra que o
critério do turismo cultural deixou de ser visto como atividade suple-
mentar para se tornar um componente fundamental para a promoção
das cidades. Como explicita a seguinte apresentação do projeto Porto
Maravilha:
16 Informação verbal fornecida por Washington Fajardo durante a palestra “Porto Ma-
ravilha”, realizada no Instituto Pereira Passos em 2 de março de 2014.
Passados ideais, futuros encantados 127
Então essa cidade que abandonou sua região central [...] ao mesmo tem-
po preservando estes ambientes na medida em que eles perdem densi-
dade, perdem população, eles entram em processo de degradação mais
acelerada. É isso que observamos como “fragilidades”. [...] O esgarça-
mento do território, a perda de vitalidade, a ausência de instrumentos
legais de preservação histórica. A atuação do patrimônio e do estado é
relativamente confortável entre o “selecionar” e “proteger”, mas preci-
samos criar novos marcos jurídicos, como apoiar essa proteção, como
apoiar os proprietários privados, como fazer com que os imóveis te-
nham realmente preservação, como fazer com que o patrimônio tenha
promoção e visibilidade antes mesmo do tombamento. Entendendo que
o instituto do tombamento é o ato inicial, e não o ato essencial.17
18 Remeto à diferença proposta por Assmann (2018) entre dois tipos de memória: a co-
municativa, relacionada à transmissão difusa de lembranças no cotidiano, e a memória
cultural, referente a lembranças objetivadas e institucionalizadas, que podem ser arma-
zenadas, replicadas ou reincorporadas, constituindo heranças simbólicas materializadas
por meio de textos, imagens, monumentos, celebrações, memoriais e outros dispositivos
que sirvam para acionar significados associados ao passado.
Passados ideais, futuros encantados 129
20 O Cais do Valongo foi construído em 1811 e durou oficialmente até 1831, quando o
tráfico negreiro foi proibido. Em 1843, o Cais da Imperatriz foi construído sobre o Va-
longo, para o desembarque da imperatriz Tereza Cristina, futura esposa de Dom Pedro
II. Com a reforma do prefeito Pereira Passos, na primeira década do século XX, o Cais
da Imperatriz foi aterrado.
Passados ideais, futuros encantados 133
Considerações finais
21 Vale lembrar que o monumento integra a lista dos onze sítios considerados sensíveis,
que remetem a episódios traumáticos e dolorosos da história, como Hiroshima, no Ja-
pão, Auschwitz, na Polônia, e Robben Island, na África do Sul.
134 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Referências
139
140 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
3 Tais como Corredor Cultural, Rio Orla, Rio Cidade, Favela Bairro, Plano de Revitali-
zação do Porto do Rio, dentre outros.
Quem pode falar em nome da cidade? 141
9 Schmidt (2009).
10 Magalhães (2012).
11 O Globo (2009a, 2009b, 2010a, 2010b, 2010c, 2010d, 2010e).
Quem pode falar em nome da cidade? 147
13 Grupo formado por profissionais da arquitetura, do design, das artes, das mídias, do
entretenimento e de outras atividades que agregam valor econômico por meio de ideias,
tecnologias e conteúdos criativos. A sua mobilização no planejamento e na gestão da ci-
dade está cada vez mais presente graças a difusão do modelo das “cidades criativas” pelo
mundo a partir das décadas de 1990 e 2000 (Landry e Bianchini, 1995; Florida, 2005).
Quem pode falar em nome da cidade? 149
14 Integrou o Programa Jovens Urbanista criado na gestão Cesar Maia (2001) e foi
subsecretário e secretário de Projeto Urbano no município de Nova Iguaçu entre 2005
e 2008.
15 Como prova desse destaque, pode-se citar a incorporação do IRPH ao Gabinete do
Prefeito, colocando o instituto no centro da arena decisória municipal.
16 A parceria com Felipe Góes, incumbido da tarefa de atrair negócios e investimentos
para a localidade, também é reveladora da capacidade do arquiteto e urbanista conciliar
princípios do seu campo de origem com os interesses financeiros e fundiários dos agen-
tes envolvidos na operação urbana (Góes e Fajardo, 2010a, 2010b, 2011).
150 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Conclusões
Eu acho que o que acontece é que, pelo fato de ser efetivo e ter de fato
realizações, esse órgão, que era irrelevante – [porque] o patrimônio
não é importante numa cidade complexa como o Rio de Janeiro, com
tanta desigualdade – ele passa a ficar relevante. O porto é um capítulo
especial da nossa conversa; ele abre espaço para o patrimônio cultural.
Mas, num certo momento, a gente passou... [...]. O prefeito me coloca
como assessor especial dele para assuntos urbanos. Eu não tinha ne-
nhuma responsabilidade na Secretaria de Urbanismo, mas o prefeito
me coloca numa posição bastante complexa, como uma espécie de
curador das intervenções da Prefeitura. Isso não significa que as coi-
sas que eu dizia eram obedecidas, mas que eu tinha espaço para dizer
coisas de uma maneira que até o secretário de urbanismo não tinha.
Washington Fajardo17
Referências
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jun. Opinião, p. 7.
GÓES, F., & FAJARDO, W. (2010b). Porto e Vila Olímpica. O Globo, 25
set. Opinião, p. 7.
GÓES, F., & FAJARDO, W. (2011). O Rio do Valongo. O Globo, 29 abr.
Opinião, p. 7.
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tro. O Globo, 13 ago. Opinião, p. 6.
O GLOBO (2009a). Editorial. Resgate urbanístico. O Globo, 17 jun. Opi-
nião, p. 6.
O GLOBO (2009b). Editorial. Rumo ao Centro. O Globo, 05 ago. Opi-
nião, p. 6.
O GLOBO (2010a). Editorial. Área estratégica. O Globo, 24 mar. Opi-
nião, p. 6.
O GLOBO (2010b). Editorial. A chance do Rio. O Globo, Rio de Janeiro,
26 mar. Opinião, p. 6.
O GLOBO (2010c). Editorial. A nova chance do Rio. O Globo, 07 mai.
Opinião, p. 6.
O GLOBO (2010d). Editorial. Hora de traçar o futuro da cidade. O Glo-
bo, 19 jun. Opinião, p. 6.
O GLOBO (2010e). Editorial. A possível recuperação urbana. O Globo,
30 nov. Opinião, p. 6.
SCHMIDT, S. (2009). Entrevista: Sérgio Magalhães. “O Porto tem que
ser aproveitado”. Urbanista critica a concentração de equipamentos
na Barra, e não em áreas mais carentes de infraestrutura. O Globo,
06 out. Rio, p. 12.
157
Foto: Série Fluxos, Luiz Baltar
CAPÍTULO 6
Introdução
159
160 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
4 Em 2013, este era o museu/centro cultural mais visitado do Brasil e o 17º do mundo,
de acordo com o ranking da publicação The Art Newspaper (Lucena, 2015).
5 Ver Farias e Trigo (2016).
Em busca de um amanhã global 165
Guggenheim Rio
6 “Guggenheim Rio de Janeiro”, Revista Projeto, 01 fev. 2003. Disponível em: https://bit.
ly/31Ralbo. Acesso em: 10 dez. 2021.
166 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
7 “Guggenheim critica o Rio por veto ao museu”, BBC Brasil, 04 jul. 2003. Disponível
em: https://bbc.in/3pMOfyT. Acesso em: 10 dez. 2021.
8 Ver Falcão (2003) e Amendola (2002).
Em busca de um amanhã global 167
Em busca do Amanhã
Fonte: pt.slideshare.net/viniciusmoro/projeto-porto-maravilha
Fotos da autora
Discussão e conclusões
Referências
Introdução
1 “Quase a metade dos prédios do Porto Maravilha, no Rio, está sem uso”, G1, 03 jun.
2019. Disponível em: https://glo.bo/3qTW5r0. Acesso em: 27 dez. 2021.
2 “Homem cai em bueiro de três metros de profundidade na Zona Portuária”, O Globo,
23 jul. 2019. Disponível em: https://glo.bo/3qXWgl1. Acesso em: 27 dez. 2021.
183
184 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
6 “Ministry of cities RIP: the sad story of Brazil’s great urban experiment”, The Guar-
dian, 18 jul. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3zGwXrz. Acesso em: 27 dez. 2021.
186 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Foto do autor
De fato, é. Mas, para sairmos deste atoleiro, o que nos permite julgar,
entre as concorrentes reivindicações de verdade, sobre como proceder
para evitar a calamidade ecológica?
O Museu do Amanhã também não nos impulsiona a problematizar
processos maiores – o consumismo sem limites, as desigualdades e a
degradação ambiental – que deseja resolver, mas nos quais também se
encontra implicado. Seus financiadores, afinal de contas, estão ligados
às mesmas indústrias e ao modelo de crescimento sem fim que são em
grande parte responsáveis pela criação da crise ecológica sobre a qual
o museu pretende conscientizar em primeiro lugar. De fato, o museu
pode ter o oposto de seu efeito pretendido: ou seja, ao tornar “verdes”
Conclusões
Referências
“A ver navios”
Descaminhos da turistificação da zona portuária
do Rio de Janeiro
João Carlos Monteiro
Introdução
203
204 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
para que sua importância seja reconhecida [...]. Cidades são vendidas
como qualquer outro produto [...]. Cada cidade tenta se projetar como
um lugar maravilhoso para ser visitado, onde um fluxo incessante de
eventos se desdobra constantemente [...]. O produto deve se assemelhar
à representação, e assim as cidades muitas vezes se refazem em conso-
nância com a sua imagem anunciada. Caso não exista uma infraestru-
tura que atraia e estimule as expectativas dos turistas, ela deve ser então
construída. Como isto não pode ser confiado à própria sorte, o poder
público está inevitavelmente envolvido na coordenação, subsídio e fi-
nanciamento da transformação do ambiente urbano (Fainstein e Judd,
1999, p. 4).
Naufrágio
Conclusões
Referências
Introdução
231
232 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
2 O Malho, n. 39, 13 jun. 1903, p. 4. Optamos por utilizar a ortografia atual em todos os
textos extraídos de fontes primárias.
234 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
O notável empreendimento que hoje, entre música e flores, vai ser inau-
gurado, é o resultado de múltiplos esforços que, de há 50 anos a esta
parte, procuram resolver um dos grandes problemas que afetam o de-
senvolvimento material do país.3
sobre a mão de obra escrava, que legava a esses braços as tarefas bási-
cas de construção e manutenção da cidade e de suas edificações, como
por exemplo, tanto no abastecimento de água das residências quanto
no despejo de esgoto, com escravizados sendo parte fundamental da
infraestrutura urbana e elementos constantes da paisagem.
A estrutura socioeconômica e a lógica urbana da cidade demanda-
vam que os elementos na base da pirâmide social convivessem no mes-
mo espaço imediato das classes mais altas. E essas, ainda que olhassem
para aqueles com desprezo, dependiam do seu trabalho para as tarefas
mais comezinhas. Assim, ao mesmo tempo que havia uma necessidade
da presença próxima de pobres e negros, havia o permanente medo e
tensão entre as elites, e que imbuía as autoridades do sentido de perma-
nente controle e vigilância sobre eles.
Neste sentido, é fundamental entender o pensamento que guiava
as ações das autoridades da República e das elites que a compunham.
Ideias como o higienismo e a eugenia se estruturaram na segunda me-
tade do século XIX não apenas como um modo de perceber a popula-
ção pobre, mas como pilares das políticas públicas durante as décadas
subsequentes direcionadas ao território urbano, como no combate aos
cortiços e mesmo as sucessivas reformas urbanas na primeira metade
do século XX na área central da cidade. Ao imaginário das elites que
reservava a negros e pobres uma visão como elementos incômodos da
paisagem urbana, e que necessitavam ser superados, juntava-se o aspec-
to econômico que passou a vigorar nas políticas urbanas e tornou-se um
fator determinante na própria expansão urbana do Rio de Janeiro, traço
que permanece ainda hoje.
Essa grande reforma urbana, se estendendo para o conjunto da cida-
de particularmente no que viria a se tornar o atual bairro do Centro, re-
fletia o pensamento desses homens de elite na economia e na condução
das políticas urbanas e nos modelos de cidade, e consequentemente de
sociedade, que se desejava alcançar.
Em 1910, as obras do novo porto finalmente são concluídas. O porto
moderno era uma regeneração da capital e do país, que enfim saía da
era colonial e adentrava a era moderna, de máquinas e dinâmico flu-
xo de mercadorias. Cinco anos antes, a Avenida Central, hoje Avenida
Rio Branco, havia sido inaugurada, pensada pelas autoridades da época
Do porto “moderno” ao Porto Maravilha
237
Conclusão
que poderiam ser gentrificadas por conta das Unidades de Polícia Paci-
ficadora (UPPs) e políticas de urbanização. No entanto, para o conjunto
da cidade, a gentrificação olímpica foi mais uma ameaça para alguns,
promessa para outros, que acabou não se efetivando.
No entanto, ao olharmos para a zona portuária, o conceito demonstra
aplicabilidade. Além dos novos equipamentos culturais, como o Museu
do Amanhã, Museu de Arte do Rio e o AquaRio, têm sido construídos
na área modernos espigões comerciais e empresariais, com linhas do
veículo leve sobre trilhos (VLT) ligando a região ao conjunto do Centro
da cidade. Observa-se ainda uma forte efervescência cultural, em gran-
de parte ligada à cultura afro-brasileira sobrevivente na região e enfim
valorizada nos circuitos turísticos e comerciais da cidade, a ponto de ser
destaque no guia turístico Time Out London, que colocou o bairro da
Saúde “entre as 49 regiões mais interessantes do mundo (...) ocupando a
25ª posição do ranking, com destaque para a Pedra do Sal e o Largo de
São Francisco da Prainha”.11
Em que pese essa “revitalização”, vemos que as camadas mais pobres,
que historicamente ocuparam a zona portuária, continuaram a não ser
contempladas por políticas públicas efetivas. No Morro da Providência,
as promessas de valorização da área e melhoria na qualidade de vida
dos moradores, com maior segurança, com UPP e teleférico, junto às
ameaças de remoção (não efetivada para a maioria, considerando que
alguns moradores chegaram a ser removidos) foram abandonadas pós-
-Rio 2016, retomando a costumeira ausência de políticas consistentes
e duradouras. E as diversas ocupações na área penam com a espera de
investimentos públicos e projetos. O que fez com que, em novembro de
2020, o Ministério Público Federal oficiasse a CDURP, a Caixa Econô-
mica Federal e a Secretaria de Patrimônio da União requerendo ações
efetivas para habitação popular na área.
12 “MPF cobra providências sobre projeto de habitação popular no Rio”, Agência Brasil,
20 nov. 2020. Disponível em: https://glo.bo/3lNArmI. Acesso em: 08 out. 2021.
Do porto “moderno” ao Porto Maravilha
253
Referências
1 O FCP foi um espaço constituído em 2011 com moradores da zona portuária, nota-
damente, da Favela da Providência, com apoio de pesquisadoras/es, ONGs e mandatos
parlamentares para articular e vocalizar denúncias de violações de direitos humanos em
razão das intervenções urbanas por meio do projeto Porto Maravilha. Tornou-se funda-
mental no processo de resistência aos despejos forçados e na organização de moradoras
da região na luta pela moradia.
257
258 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
2 Parte do texto corresponde à tese de Tavares (2015) com ajustes e releituras sobre a
experiência da autora por meio do FCP e da pesquisa realizada durante o doutorado.
Espaço generificado em resistência pelo direito ao espetáculo, apesar do Porto Maravilha 261
Foi por meio de imobiliária. Aluguei, aí fiquei pagando aluguel por um bom
tempo. Fiquei pagando, pagando, até que tem nove anos que parei de pagar
aluguel. Por que parei de pagar aluguel? Porque descobri que a gente tava
pagando aluguel e eles não nos davam atenção, a gente precisava de atenção
na parte externa do prédio. No outro lado do prédio, tava horrível. O que
adiantava? Eu fazia melhora dentro da minha casa e eles não davam nenhu-
ma assistência pra gente. Aí fomos ficando sem pagar o aluguel. Quando a
bomba queimava, eu que corria atrás pra arrumar pra consertar e colocar
no lugar. Uns moradores colaboraram, outros não. Daí você cansa, eu can-
sei. Inclusive hoje as pessoas falam: ‘Esta mulher que é a dona do prédio’.
Não sou a dona do prédio. Eu só não me encostei (informação verbal forne-
cida por Ana, moradora da favela da Providência, em 2012).
7 “Eduardo Paes faz primeiro teste no teleférico da Providência no RJ”, Terra, 21 dez.
2012. Disponível em: https://bit.ly/3pHfYks. Acesso em: 22 dez. 2012.
Espaço generificado em resistência pelo direito ao espetáculo, apesar do Porto Maravilha 269
Foto da autora
ral, à SMH e à imprensa revelam que esse caminho foi traçado. Houve
momentos em que buscaram fortalecer a sua luta se solidarizando com
outras, como foi o caso da comunidade Vila Autódromo, na Zona Oeste
do Rio de Janeiro. Ali, percebi que havia se iniciado uma possibilidade
mais ampla e estratégica de mobilização delas em torno do direito à mo-
radia na cidade. Contudo, frente às situações de violência da SMH para
a viabilização das remoções na Vila Autódromo, e em outras comuni-
dades da Zona Oeste, além da violência na qual estavam já vivencian-
do na Providência, paulatinamente essas mulheres se voltaram aos seus
interesses do cotidiano. Ou seja, os limites impostos às práticas sociais
de resistência voltadas à mobilização política contra as violações que es-
tavam sofrendo, em função dos interesses da prefeitura, estabeleceram
um paradoxo importante. Algumas descobriram que suas práticas so-
ciais, realizadas conscientemente a partir de seus interesses, transforma-
ram objetivamente a sua realidade, permitindo ir dos interesses práticos
aos mais estratégicos, mas este último mais difícil de ser alcançado. Por
isso, houve o recuo.
Quando relatavam suas histórias do passado e do presente, esse aspec-
to se revelava. “Como vou abandonar minha casa, depois de ter passado
por tudo que passamos?”, questionaram Neuza, Ana, Carla, Elza e tantas
outras, fazendo referência às suas histórias pessoais na favela. Histórias
que também se desvendam no presente diante das históricas contradições
urbanas no Rio de Janeiro. São pessoas que aproveitaram as brechas, o
local onde a repressão falhou, em que a luta pelo direito à moradia ex-
põe práticas, símbolos, tempos, subjetividades e identidades inerentes ao
modo como se apropriam do espaço urbano e o produzem. Incorporando
ou rompendo com o poder, resistindo por meio das práticas. Resistências
que transformaram a própria história e o destino da Providência e de suas
moradoras, assim como o dessas mulheres, que, apesar de cansadas, tam-
bém se transformaram, não só porque conseguiram impedir as inúmeras
remoções e transformações anunciadas, mas porque também atingiram
suas respectivas subjetividades cotidianas e as possibilidades do espetácu-
lo. Portanto, as práticas sociais enquanto práticas espaciais de resistência
no espaço urbano (Tavares, 2015) se mostraram como uma ferramenta
significativa quando os interesses práticos não podem ser mais pautados
pela luta política na esfera pública.
Espaço generificado em resistência pelo direito ao espetáculo, apesar do Porto Maravilha 275
Considerações finais
Referências
Introdução
281
282 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Tít. 4o. Art. 6o. Nenhuma pessoa de qualquer estado, condição ou sexo
(inclusive pessoas encarregadas da condução de gêneros) poderá tran-
sitar pelas ruas deste município senão com vestes decentes, isto é, não
deixando patente qualquer parte do corpo que ofenda a honestidade e
Intervenções urbanas na zona portuária do Rio de Janeiro
285
que mais do que resistência, “o que se tem é r-existência posto que não
se reage, simplesmente a ação alheia, mas, sim, que algo pré-existe e é a
partir dessa existência que se r-existe. Existo, logo resisto. R-existo” (p.
51). Assim, a zona portuária se configura em um espaço de saberes e fa-
zeres que se, por um lado, busca-se apagar e se fazer esquecer, por outro,
vive, (re)vive, existe, r-existe e faz lembrar dos sujeitos e das gerações de
famílias que residem neste território e contribuíram para a construção
identitária desse local. Ou seja, de sujeitos que lutam pela afirmação de
sua identidade histórica. Que lutam pela reapropriação da denominada
Pequena África. Que lutam para lembrarmos dos escravizados africanos
e seus descendentes. Que reivindicam a memória negra e, com isso, um
território que lhes é de direito (Araujo, 2020).
A zona portuária é um território de lutas e mobilizações urbanas no
qual o sentimento de pertencimento está estreitamente relacionado com
a identidade local, e estreitamente inserido na vida de seus moradores.
Um local historicamente de resistência negra.
Como exemplo que expressa a luta desses sujeitos, destaca-se o Ins-
tituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, que representa um local
de resistência que auxilia na compreensão da trajetória e dos diferentes
usos e apropriações deste território ao longo do tempo em que a cultura
negra na zona portuária esteve silenciada. Outro exemplo, já citado, está
na luta dos moradores do Morro da Providência contra as remoções,
nos primeiros anos do projeto Porto Maravilha.
Outra manifestação de destaque são os grafites espalhados pelos lo-
cais marginalizados da zona portuária, em especial na Pedra do Sal, lu-
gar de grande representatividade afrodescendente. Esses grafites repre-
sentam espaços de luta desses sujeitos, em que frases simbólicas como
“vende-se a carne negra” e “no princípio era grito” fazem alusão à polí-
tica racista e ao genocídio do povo negro.
Observa-se aí a luta por melhores condições de vida e pela afirma-
ção de saberes e identidades, vislumbrando uma cidade onde possam
construir e definir suas territorialidades, na qual o território represente
as práticas, sentidos e as sensibilidades dos sujeitos. Representa, entre
tantos outros, a luta de um povo pela sua memória, pelo seu espaço de
vida, pelo direito ao seu território, pela sua existência.
302 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Considerações finais
Referências
Introdução
309
310 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Fonte: IPN
Fonte: O Dia
Considerações finais
Referências
329
330 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Foi a resolução ordenar que todos os escravos que viessem nestas em-
barcações, logo que dessem sua entrada na Alfândega, pela porta do
mar, tornassem a partir e embarcassem para o sítio chamado Valongo,
que é no subúrbio da cidade, separados de toda comunicação e que ali
se aproveitassem das muitas casas e armazéns que ali há para os terem.1
2 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Fundo Câmara Municipal, Série Cais,
40.2.67, Fl. 101.
3 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Fundo Câmara Municipal, Série Cais,
40.2.67, Fl. 114.
4 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Fundo Câmara Municipal, Série Cais,
40.2.67, Fl. 103.
5 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Códice 49.1.54., Fl. 1/1v.
334 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
A pesquisa arqueológica
Autor desconhecido
340 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Referências
Fontes primárias
ARQUIVO NACIONAL, Caixa 746, Fundo Vice-reinado. Instruções do
Marquês do Lavradio ao seu sucessor como Vice-Rei.
ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Fundo Câ-
mara Municipal, Série Cais, 40.2.67, Fl. 101.
ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Fundo Câ-
mara Municipal, Série Cais, 40.2.67, Fl. 114.
ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Fundo Câ-
mara Municipal, Série Cais, 40.2.67, Fl. 103.
ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Códice
49.1.54., Fl. 1/1v.
Fonte eletrônica
MATTOS, H., ABREU, M., & GURAN, M. (2013). Inventário dos Lu-
gares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos
Africanos Escravizados no Brasil. Laboratório de História Oral e Ima-
gem (LABHOI), Universidade Federal Fluminense. Disponível em:
http://www.labhoi.br. Acesso em: 22 dez. 2020.
343
Foto: Série Favelicidades, Luiz Baltar
CAPÍTULO 14
“Jogando com vocábulos vazios, já que todos no final das contas são
tratados como negros, os que dominam evitam que o povo afro-bra-
sileiro consiga aquela unidade que o tornaria invencível”.
Abdias Nascimento (1980)
Introdução
345
346 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
tal, nem nas universidades por onde passei e vivo até hoje.
A performance do bloco utilizaria o circuito da herança africana
como roteiro, iniciando com a chegada dos escravizados na Pequena
África, e ao longo do desfile se desenvolveria com encenação de atos de
resistência em locais-chave da memória negra, quais sejam: Cais do Va-
longo, onde seria realizada a lavagem do cais; Igreja Santa Rita de Cás-
sia, em memória das irmandades negras que davam proteção e cuidado
aos escravizados; e Largo de São Francisco da Prainha, concluindo o
desfile com muita festa aos pés da estátua de Mercedes Batista, primeira
bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A conclusão do
desfile remete à expressão simbólica das lutas e resistências contínuas
manifestas mais na alegria do que na dor. A alegria acionada como sím-
bolo máximo de resistência negra.
A letra da música do bloco, escrita pela musicista Simone Faitú, com
arranjo produzido coletivamente, denota o sentimento de valorização
identitária e resistência que vertebra a proposta.
[...] a minha pesquisa e o meu trabalho é com o Ateliê Afro Oyá De-
signer, que vem fomentar de forma sustentável a identidade da mulher
preta, a história da família preta, das pessoas que fizeram a nossa ances-
tralidade e que essa história precisa ser divulgada, falada, contada e os
trabalhos que faço, tem como foco mostrar que nossos ancestrais deixa-
ram o vocabulário, deixaram história, deixaram representatividade que
precisa estar presente dentro das escolas, dentro das casas, nas praças.
E, é isso que o Ateliê tem como foco, levantar a autoestima da mulher
e fazer com que a mulher conheça seu corpo e aceite como ele é, sem
padrões que não sejam o que lhe der prazer.
Movimentos sociais na Pequena África
359
Sandra Lucia:
[...] a gente começou agora com esse trabalho. É todo pautado na ques-
tão de fazer artesanato com coisas sustentáveis. Então a gente pega coi-
sas que naturalmente iriam pro lixo, como saco de pão, revistas, jornais,
várias coisas aleatórias e transforma em coisas muito bonitas.
[...] somos lá do Quilombo do Camorim, Jacarepaguá, e a gente faz a
nossa arte aproveitando tudo, garrafa pet, filtro de café, saco de pão,
aquela bijuteria que você acha que vai jogar fora [...], a gente reaproveita
tudo.
Casa Amarela
A ONG Casa Amarela, fundada em 2009 por JR, artista plástico francês,
e Maurício Hora, fotógrafo, articulador cultural e morador da Provi-
dência, está localizada na parte mais alta do morro. A casa atua para ga-
rantir a promoção ao acesso de instrumentos educacionais, artísticos e
culturais, incentivando a valorização territorial e a cultura local. Dirigi-
da por Tiphanie Constantin, a casa direciona atendimentos diversos aos
moradores do entorno onde a instituição se localiza, uma das regiões
mais vulnerabilizadas do Morro da Providência.
O corpo de educadores em sua maior proporção é composto por
moradores da comunidade que vivenciam e conhecem bem a realidade
Movimentos sociais na Pequena África
363
3 Desde que foi desativado não foi destinado a novas atividades, sendo eventualmente
utilizado para cenário de produções artísticas.
Movimentos sociais na Pequena África
367
indicadores que apontam a região como uma das várias zonas de sa-
crifício da cidade.
Contudo, nem tudo é silêncio ou desistência.
A existência de movimentos, organizações e ações, e a dificuldade de
contabilizá-las, denotam que o território se articula. O surgimento, desa-
parecimento ou reformulação desses grupos dá o tom da dinâmica que
sempre marcou a Pequena África. Nem todas as resistências foram ex-
pressas em revoltas, como a do Prata Preta que nos inspira. Algumas são
cotidianas, persistentes e aglutinadoras. Acionam ações de solidariedade
que funcionam como uma rede temporária e inconstante que se faz, des-
faz e refaz nas horas de maior necessidade. Atuam em múltiplas dimen-
sões: no ensino, no letramento político e racial, na promoção da moradia
e da renda, frente a um poder estatal que nega e/ou subtrai direitos.
Muitas são as tentativas de silenciamento e apagamento das heranças
africanas. Subtraem dos mapas e uma escavação faz emergir das tumbas
coletivas o IPN. Soterram a vergonha do cais de comércio racista do
Valongo com o cais do poder europeu da Imperatriz e eis que ressurge o
Valongo, denunciando as farsas históricas. Casas de branco, moradas de
negro. Nas letras e melodias, as histórias. Estas são marcas do passado
que reverberam, nos informando presenças e persistências que têm sido
lidas e traduzidas por cada um e cada uma que as aprende ler. Essa dinâ-
mica traduz a resistência, ainda que esta seja mais dolorosa e difícil do
que bem-sucedida. O sucesso não é garantia. Mas não lutar é sucumbir.
E pela voz de Conceição Evaristo (2017), reiteramos: “A vida não
permite o lento caminhar”.
Referências
Porto Maravilha
Alegoria de um Brasil que se nega a encontrar o
Brasil
Aercio Barbosa de Oliveira
(A questão)
Quem chegar ao final deste ensaio poderá avaliar que ele está deslo-
cado do conjunto da publicação. Não será uma avaliação nonsense,
pois só foi possível estar nela graças à generosidade e empenho dos
editores. O objetivo aqui não é analisar o projeto urbanístico Porto
Maravilha, lançado em 2009, na zona portuária do Rio de Janeiro. O
projeto e as obras foram realizados com a parceria dos governos do
estado do Rio de Janeiro, da cidade do Rio e governo federal, com a
justificativa de dinamizar o mercado imobiliário de moradia e negó-
cios; construir equipamentos públicos; e melhorar a infraestrutura e
a paisagem urbana para receber os megaeventos esportivos no Brasil
– algumas partidas da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos
de 2016, que tiveram como sede a capital fluminense. O Porto Mara-
vilha, que beneficiou parcela ínfima da população que mora na região,
servirá para tratar do quanto o nosso desencontro com uma leitura
interpretativa sobre o Brasil é profundo, recorrente e nocivo, precisan-
371
372 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
2 Informe aos peritos na filosofia de Gilles Deleuze: esta palavra não tem o sentido dado
pelo filósofo francês.
Porto Maravilha 373
(A nossa alegoria)
coisas –, mais dinheiro público do FGTS foi utilizado para pagar ao con-
sórcio de empresas responsáveis pelas obras e serviços na região.
O propósito era transformar a zona portuária em local para moradia,
com postos de trabalho, serviços e equipamentos para o entretenimento
– conforme a propaganda governamental, uma área central que segue
o padrão internacional de cidades: compactada, adensada, de uso di-
versificado e ambientalmente sustentável. Muita lorota! O projeto, com
suas obras, deveria abarcar as favelas do Morro da Providência, Pedra
Lisa, Morro da Conceição, Morro do Livramento, Morro do Pinto, São
Diogo, os bairros Saúde, Gamboa, Santo Cristo, Centro, Cidade Nova
e São Cristóvão. O Censo Demográfico de 2010 (IBGE), já identifica-
va que mais da metade das famílias que viviam nesses bairros e favelas
possuíam renda mensal domiciliar per capita inferior a um salário mí-
nimo. Com a pandemia, a situação econômica e social que já era ruim,
infelizmente, piorou.
Esse projeto urbanístico foi mais uma vez a repetição, em um outro
tempo, com outros recursos, do que tem sido a marca de boa parte dos
projetos urbanos no Brasil – um pastiche. É mais uma vez a mistura
dos hábitos adotados por pessoas que ocupam posições de decisão den-
tro do Estado e de corporações: produzir pastiche serialmente, ignorar,
sempre, as nossas capacidades, encontrar incansavelmente meios para
obter vantagens para ampliar o poder e o patrimônio pessoal e corpora-
tivo. Essas características, sobretudo a de produzir o espaço urbano imi-
tando as ideias e formas criadas no Norte da Europa ou da América an-
glo-saxônica, se tornaram um forte traço do comportamento nacional
que extrapola, em elevada medida, o urbanismo e a arquitetura. Poucas
esferas da vida não são acometidas por essa enfermidade. A produção
intelectual, instituições de pesquisas, a produção estética, entre outros
espaços e fatos da vida social não escapam. Nem o futebol, orgulho na-
cional, resistiu!
O American way of life – consumir, consumir e consumir; ter, ter e
ter, agora com o tempero do empreendedorismo – “ilumina” as mentes
ditas mais ilustres do Brasil. Estátua de um marruá, semelhante a que
está em Wall Street, nos Estados Unidos, foi colocada na Bolsa de Va-
lores de São Paulo; a Estátua da Liberdade é o ícone do bairro do Rio
de Janeiro onde dizem residir os “novos ricos”. Até democratas, pessoas
Porto Maravilha 383
(A Retomada)
Referências
393
394 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
401
402 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
As propostas participantes1
Urbanismo de vivências
Nádia Conterno, Marcelo Jabor e Thiago Fonseca
Baía da revolta
Tiago Maciel e Bianca Mota
Pós-Porto
Carolina Pullig, Elisa Scarpe, Julia Barreto e Fanny Barré
Habitar 2.1
Anna Carolina Peres
Identidade e integração
Alba Sams, Ana Carolina Cruz, Átria Vasconcelos, Gabriele Monteiro e Mayara
Paes
As cidades do comum
Birkis Perret, Caroline Moura, Júlia Moraes, Larissa Figueira e Renan Marques
A Pequena África
Matheus Martins e Rafael Vermil
Reassumindo a cidade
Jade Resende, Lorena Lessa, Luana Rosa, Thainá Guinsani e Victória Vieira
Ester Limonad
417
418 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO
Urbanismo inóspito
geram receita, tais como parques e praças urbanas (Silva e Maciel, 2021;
Smith e Walters, 2018), muitas municipalidades tratam de descarregar o
ônus de manutenção dessas infraestruturas públicas e amenidades para
o setor privado. Com isso, espaços públicos pretéritos estão a ter o seu
uso cerceado e circunscrito a horários, comportamentos, quando não
são privatizados, como é o caso de pequenas praças, largos, vias de pe-
destres, muros de contenção. Vis a vis, observa-se o favorecimento de
investimentos privados em áreas públicas, passíveis de renovação ur-
bana e dotadas de potencial para gerar receitas para o poder público
e lucros para o setor privado (Banerjee, 2001; Harvey, 1989; Martins,
2017; Monteiro, 2020; Sanfelici, 2021; Smith, 1987).
Promovem-se, assim, parcerias público-privadas e são implementa-
das, cada vez mais, soluções de caráter global transnacional para atrair
corporações e empresas globais em diferentes contextos sócio-políticos.
Articulam-se em empreendimentos vultosos o poder público, diferen-
tes capitais e grandes escritórios de arquitetura e urbanismo, com base
em uma cumplicidade antiética e silenciosa, que privilegia as classes
abastadas, muitas vezes às custas da erradicação espacial das habitações
populares e de cunho social (De Graaf, 2015). Isto ocorre, em especial,
no caso de empreendimentos urbanos de grande escala, onde empresas
globais são escolhidas em detrimento de empresas locais de menor por-
te (Smith e Walters, 2018).
Na contemporaneidade, obras de arquitetos icônicos globais emergem
como expressões do poderio de suas cidades. Assim como as catedrais,
castelos e palácios do passado, demarcam lugares e se convertem em pré-
-requisitos para seu desenvolvimento e conquista de uma supremacia em
um quadro de cidades globais (Gospodini, 2002). Nesse contexto, grandes
projetos urbanísticos de vanguarda, de reabilitação e de renovação urbana
desempenham um papel estratégico para atender aos interesses do Estado
e de diversos capitais. Em nome de uma pretensa modernidade e de um
bem comum, arrasam-se quarteirões, remove-se a população residente,
muitas vezes para destinos incertos, tudo isso para implementar políticas
de recuperação urbana direcionadas a converter as cidades em moder-
nas mecas da arquitetura, do urbanismo e do planejamento com o fim
de inseri-las no “mapa global”. Rugosidades (Santos, 1996), permanências
(Pesavento, 2007) e resquícios de práticas espaciais passadas, que não se-
Porto Maravilha, um urbanismo inóspito 423
Referências
433
434 ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE UM ESPAÇO EM MUTAÇÃO