Você está na página 1de 138
ENCHENTES E DESLIZAMENTOS: causas e solucdes Areas de risco no Brasil 3 Se eau ss ress W cess gl |e. See ee eS Pe Cri eo ecu esate se: OUI cic ae La Ce UMS ee Secu 1968. ee MES is eR te Pe tem R ae eu desenvolvida no IPT - Instituto de Pesquisas Sere esc ema ree cele: uel: a cee oe DATS M et sete Externe Poach Pines eV es Eos oor de Planejamento e Gesto do IPT. Goce cant Nec ican CUS een cen oa Coa Tyee eM Roe ae ee eee ca uO ER COIS} Cara eure econ Ee tabilidade de Taludes de Corte e Encost: Grouse ‘Ao longo de sua carreira, dedicou especial atenco a formula¢so conceitual e metodo- légica da Geologia da Engenharia brasilei- ecu sceecu ere we EI Te MAE nN Genelec Cs Rue eee Semon eo Yea enue Dae eee Me re uray Pree el Mn ee EEC) Serra do Mar: da Trilha dos Tupiniquins & Rodo: Ree cae set etc hey sua experiéncia técnica nessa estra Gio do Sudeste brasileiro, mostrando aimpor- ENCHENTES E DESLIZAMENTOS: CAUSAS E SOLUCOES Areas de risco no Brasil ‘oe a~ Guasec® le, Gu » le whe ele pe ee thee cesiogo Alvaro Rodrigues dosSantos ,..-, 2013 a Pipi 2012 Enchentes ¢ deslizamentos: causas e solugdes - areas de risco no Brasil ‘©COPYRIGHT EDITORA PINI LTDA. tos de reprodugio ou tradugo reservados pela Editora Pini Ltda, Todos os di pados Internacionais de Catalogacéo na Publicacio (crp) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Santos, Alvaro Rodrigues dos Enchentes e deslizamentos : causas e solugées : Areas de risco no Brasil / geélogo Alvaro Rodrigues dos Santos. -- Sao Paulo : Pini, 2012. ISBN 978-85-7266-262-8 1, Aguas pluviais 2. Deslizamentos~3. Enicostas (Mecdnica de solos) 4. Geotecnologia ambiental 5, Inundagées 6. Inundagdes - Previséo 7. Saneamento I) Titulo. 2-08016 cDb-551.307 indices para catalogo sistematico: 1. Controle de enchentes : Geologia 551.307 2. Controle de deslizamentos : Geologia 551.307 Coordenagao Manuais Ténicos: Josiani Souza Projeto Grafico e Capa: Mauricio Aires Diagramagao: Mauricio Aires Reviso: Ménica Elaine G. S. da Costa Editora Pini Ltda. Rua Anhaia, 964 — CEP 01130-900 — Sao Paulo — SP — Brasil Fone: (011) 2173-2300 — Fax: (011) 2173-2466 www.piniweb.com — manuais@pini.com.br 1# edigao, julho/12 Apresentacado “Amelhor maneira que temas de tornar possfvelamanha alguma coisa que nao é possivel de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu no fizer hoje co que hoje é possivel de ser feito e tentar fazer hoje o que hoje néio pode ser feito, dificilmente eu farei amanhé o que hoje também néio pude fazer...” Paulo Freire Ano a ano a populacao brasileira tem testemunhado o aumento de viti- mas, muitas delas fatais, e de pesadas perdas patrimoniais e financeiras por decorréncia de enchentes urbanas e deslizamentos de encostas. Diferente- mente de palses castigados por fenémenos de origem totalmente natural, como terremotos, vulcées e furacdes, no Brasil essas reincidentes tragédias hidrolégicas, geolégicas e geotécnicas estado direta e intimamente associa- das 4 a¢3o humana, especialmente no que toca ao enorme descompromisso com que as administracdes ptiblicas e privadas tam tratado as relacées entre a expansdo urbana e as caracteristicas naturais dos terrenos ocupados. Ou seja, no caso brasileiro essas tragédias nao so exatamente naturais, podendo, portanto, ser evitadas apenas a depender de decisbes humanas. Como em qualquer atividade, um exato diagnéstico das causas dos pro- blemas é essencial para a concep¢ao e implementagao das a¢des necessarias aevité-los. Afesté o objetivo maior desta publicacso: esclarecer e conscien- istradores pUblicos, as empresas privadas, o meio técnico ea tizar os admi popula¢o para que. a partir de uma perfeita noc’o das causas que propiciam a ocorréncia dos fenémenos de enchentes e deslizamentos, conhecam e compreendam as solugées que devam, cada qual em seu ambito, implemen- tar para evité-los. O Autor Prefacio Conhecio Alvaro Rodrigues dos Santos em 1985, quando, engenheiro civil formado hé 4 anos, fui trabalhar no Instituto de Pesquisas Tecnol6- gica do Estado de Séo Paulo - IPT, com 0 objetivo ainda um tanto difuso de me tornar engenheiro geotécnico. O IPT naquela época, sob a lideran- ¢a técnica do Alvaro, na drea de Geologia Aplicada, e do Carlos de Souza Pinto e Faical Massad, na Engenharia Geotécnica, buscava desenvolver, a partir do entendimento dos processos do meio fisico responsaveis pelos graves desastres associados a escorregamentos nas encostas da Serra do Mar nas décadas anteriores, bem como pelos acidentes geotécnicos que se tornavam cada vez mais frequentes na Regido Metropolitana de Sdo Paulo, ento em franco processo de avanco sobre as periferias das zonas leste e oeste, novos instrumentos para subsidiar 0 planejamento urbano - as cartas geotécnicas de aptiddo a urbanizacdo - e implementar novas metodologias de projeto de obras geotécnicas. Foi nessa época que aprendi a li¢o mais importante para o enge- nheiro geotécnico: antes de procurar determinar os parametros neces- sdrios para nossas equacGes de andlise de estabilidade de talude, pre- cisamos entender o que esté acontecendo na Natureza, quais as forcas que estdo agindo para instabilizar o talude e a partir dai, entendendo as causas, elaborar as propostas de intervencao para controla-las e reesta- belecer 0 equilibrio, “Mais observacdo da Natureza e menos ensaios de laboratério”, dizia o Alvaro! Neste livro, o Alvaro aplica, as propostas de politicas puiblicas para pre- vencdo de desastres naturais, este conceito téo simples, que na década de 1970 era inovador e hoje, espantosamente, continua sendo inovador: entender as causas para propor as solugdes! Entender as causas significa, nas condicdes geoldgicas prevalecen- ‘tes no nosso Pais, comegar por colocar entre aspas 0 termo “desastre natural’. Afinal, poderia ser considerada Natural a auséncia de condicées para prover moradia adequada para a populacdo pobre, obrigando-a a construir suas residéncias de forma irregular em dreas de elevada decli- vidade, sobre antigos depésitos de lixo ou junto as calhas dos rios? Qua impermeabilizacao radical da superficie urbana? Ou o padrao de ocupa- (So de éreas de maior declividade baseado em extensivos cortes e ater- ros que instabilizam as encostas e potencializam os processos erosivos? Discutindo as causas responsdveis pelos desastres naturais urbanos, Alvaro apresenta propostas de politicas puiblicas que nos faréo avan¢ar efetivamente na direcdo de cidades mais seguras, para todos. Os académicos das areas de Geologia e Engenharia Civil véo encontrar neste livro todo o rigor conceitual que tanto prezam em seus artigos técni- cos e, muitos deles, vo se surpreender com a possibilidade de se traduzir esses conceitos de forma clara e acessivel. Os estudantes de Geologia e Engenharia terdo uma fonte essencial para construir seus conhecimen- tos e desenvolver suas carreiras. Os engenheiros, arquitetos e urbanistas encontrardo elementos de reflexdo para a adequacdo de seus projetos € planos. Os legisladores encontrardo até exemplos de normas legais. Ends, que nos governos municipais, estaduais e federal nos dedicamos a cons- truir uma politica nacional de prevencdo de desastres e gesto de riscos, teremos um exemplo de rigor técnico, competéncia e dedicacdo a causa publica para guiar nossas acées. Celso Santos Carvalho Engenheiro civil, mestre e doutor pela Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo. lista em infraestrutura do governo federal. Diretor de Assuntos Fundiarios e Prevencdo de Risco do Ministério das Cidades. Sumario APRESENTACAO DEDICATORIA... AGRADECIMENTOS ... PREFACIO. INTRODUCAO IMPLICACOES ENTRE A POLITICA HABITACIONAL EA TRAGEDIA GEOLOGICA-GEOTECNICA-HIDROLOGICA DAS ZONAS DE EXPANSAO URBANA.....12 AMODERNA LEGISLACAO BRASILEIRA DE GESTAO DE RISCOS - Lei n?12.608, de 10 de abril de 2012... RELACAO OFICIAL DOS MUNICIPIOS BRASILEIROS MAIS AMEACADOS .. ENCHENTES ENCHENTES: IMPORTANCIA E IMPLEMENTACAO DE MEDIDAS NAO ESTRUTURAIG... ENCHENTES URBANAS: DIAGNOSTICO E TRATAMENTO..... ENCHENTES: CRIEM BOSQUES FLORESTADOS, NAO TIREM A SERAPILHEIRAL...... 50 ENCHENTES: AJARDINEM SUAS CALCADAS! ... ENCHENTES: RETER AS AGUAS DE CHUVA EM RESERVATORIOS DOMICILIARES E EMPRESARIAIS .. ENCHENTES: IMPEDIR A EROSAO PARA EVITAR 0 ASSOREAMENTO. ENCHENTES: PATIOS, ESTACIONAMENTOS, PAVIMENTOS DRENANTES .. ENCHENTES: E PRECISO ADENSAR AS CIDADES ENCHENTES: PRECISAMOS E PODEMOS NAO PRECISAR DOS PISCINOES MINUTAS DE LEIS MUNICIPAIS PARA IMPLEMENTACAO DE MEDIDAS DE COMBATE AS ENCHENTES... MINUTA DE LEI MUNICIPAL PARA 0 AUMENTO DA CAPACIDADE DE RETENCAO/INFILTRACAO DAS AGUAS DE CHUVA NA AREA URBANA, CONSIDERADOS O INTERIOR DE LOTES IMOBILIARIOS COM OU SEM OCUPACAO PREDIAL E PATIOS DE ESTACIONAMENTO, FRENTES PREDIAIS DE ESTACIONAMENTO E AREAS A CEU ABERTO UTILIZADAS PARA FEIRAS, EXPOSICOES, EVENTOS OU QUALQUER OUTRO Fi MINUTA DE LEI MUNICIPAL PARA COIBICAO DA EROSAO URBANA... MINUTA DE LEI MUNICIPAL PARA O AUMENTO DA CAPACIDADE DE RETENCAO/INFILTRACAO DA AGUA DE CHUVA NA AREA URBANA, COMO DECORRENCIA DA DISSEMINACAO DE BOSQUES FLORESTADO: DESLIZAMENTOS AREAS DE RISCO A DESLIZAMENTOS NO BRASIL: CAUSAS E SOLUCOES. AIMPORTANCIA DO CONHECIMENTO DA DINAMICA GEOLOGICA NATURAL DE UMA DETERMINADA REGIAO. 0 EXEMPLO DA SERRA DO MAR... (0 FOCO ESTRATEGICO CORRETO PARA AS ACOES DE ELIMINACKO DAS AREAS DE RISCO A DESLIZAMENTO. A ARMADILHA, DA ABORDAGEM DE RISCO. CARTA GEOTECNICA E CARTA DE RISCOS: SIGNIFICADO, ELABORACAO E USO... W115 ACARTA DE RISCO .122 AREAS DE RISCO: QUANDO DESOCUPAR, QUANDO CONSOLIDAR.. 124 O ESPAGO URBANO E 0 CODIGO FLORESTAL AREAS DE RISCO, GEOLOGIA E ARQUITETURA. TECNICAS DE OCUPACAO ADEQUADAS A TERRENOS DE ALTA DECLIVIDADE CARTA GEOTECNICA: UMA REFERENCIA OBRIGATORIA PARA OS PLANOS DIRETORES E PARA OS CODIGOS DE OBRA... ee Introducso Implicagdes entre a politica habitacional e a tragédia geoldgica-geotécnica-hidrolégica das zonas de expanséo urbana Amoderna legislacdio brasileira de gestéo de riscos - Lein® 12,608, de 10 de abril de 2012 Relacdo oficial dos municipios brasileiros mais ameacados Rime] Enchentes e deslizamentos : causas e soluc¢des EE) 12 IMPLICACGES ENTRE A POLITICA HABITACIONAL EA TRAGEDIA GEOLOGICA-GEOTECNICA-HIDROLOGICA DAS ZONAS DE EXPANSAO URBANA 30 da prioridade estratégica que deverd ser atribuida as medidas de caré- ter preventive nos programas de reducdo e eliminacdo dos riscos urbanos de cardter geolégico, geotécnico e hidrolégico, No 4mbito da abordagem preven- tiva, as questdes habitacionais da populacdo de baixa renda destacam-se comoa varidvel de maior importancia. C= o leitor se apercebera, este livro tem como pilar expositivo a percep- Aanilise a seguir utiliza como laboratério de campo a Regido Metropolitana de Sao Paulo, mas suas consideraces e conclusées sao validas para todo 0 con- texto urbano brasileiro, em especial de suas médias e grandes cidades. Hoje uma familia de baixa renda (até 3 ou 4 salarios minimos) somente conse- gue constituir moradia, propria ou alugada, que caiba em seu parco orgamento com alguma combinac&io entre as seis seguintes varidvels: distancia, periculosidade, in- salubridade, desconforto ambiental, precariedade construtiva e irregularidade fun- didria, Essa condic#io leva inexoravelmente a populacao pobre a trés alternativas: fa- velas, corticos ou zonas periféricas de expansao urbana. Especialmente nesta ultima condi¢o a populacao de baixa renda tem sido protagonista ativa e passiva da grave tragédia geotécnica que incide generalizadamente em éreas de relevo mais aciden- tado e margens de cérregos; tragédia que pe a perder por erosio, deslizamentos, assoreamento e enchentes a jé precdria infraestrutura urbana, as préprias habita- ¢6es, patrim6nios publicos e privados e, néo raramente, vidas humanas. De fato, estudos demogrdficos recentes apoiados no Censo Demografico de 2010 mostraram que na Ultima década e meia, enquanto as areas centrais e os bairros con- solidados mais antigos dos maiores municfpios das metrépoles brasileiras tiveram decréscimo ou estabilizacao populacional, nas zonas periféricas de expansao urba- na houve uma verdadeira explosdo populacional, com taxa de crescimento médio de até 8% aoano, passandoa abrigar mais de 30% da populacao total. Ou seja, as zonas periféricas vem se comportando como a vélvula de escape para o abrigo da populacao de baixa renda em uma clara tendéncia de espraia- mento geogréfico horizontal, com o que seguidas porcdes do territ6rio, incluindo seus mananciais de dgua, vao sendo incorporados a tentacular e temerdria man- cha urbana metropolitana. No que se refere ao meio fisico de suporte, considerada especialmente sua va- ridvel geolégica, considere-se que a ocupacdo urbana da metrépole paulista de- senvolveu-se até meados do século XX preponderantemente nointerior do vértice dos rios Tieté e Pinheiros, ocupando terrenos sedimentares tercidrios e quater- TD 3... 0 %osiques

Você também pode gostar