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CONCURSO DE CRIMES

NORMA GERAL – ART. 30º CP; CÁLCULO – ART. 77º CP


Há dois princípios que nunca podem ser violados: o princípio non bis in idem (art. 29º/5 CRP) –
ninguém pode ser julgado pelo mesmo facto e, portanto, é preciso saber por quantos crimes
posso ser condenada – e o mandado da esgotante apreciação do ilícito – tem que se revelar
todo o conteúdo do ilícito.

INTRODUÇÃO: sempre que alguém é julgado por ter praticado um crime, este crime está em
relação com outros (de entre os vários se vai averiguar por quantos vai ser julgado).
Ex.: A dispara sobre B e este morre. Pratica um crime de homicídio, de tentativa de homicídio
(enquanto não morre), crime de ofensa à integridade física, crime de dano porque destrói
roupa e crime por porte de arma sem licença. A não vai ser acusado de 5 crimes pq há relação
de concurso entre crimes, de outra forma seria punidos 5x pela mesma coisa violando o art.
29º/5. A pergunta é saber por quantos crimes vai ser punido. CONCURSO DE CRIMES (nº de
crimes ou o mesmo crime várias vezes).

CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL:
1. CONCURSO APARENTE – visava explicar situações onde aparentemente tínhamos
vários crimes, mas o agente só pode ser punido por um; se existir alguma destas
relações é punido por concurso aparente, se não houver é punido pelo concurso
efectivo e, portanto, por todos os crimes; na relação de especialidade e
subsidiariedade apenas é necessário olhar para as duas normas em concurso
identificando-se logo a relação e não sendo preciso olhar para a história/caso
concreto.
 Relações de especialidade – norma especial assume todos os elementos da
norma geral e acrescenta; normalmente relações entre norma base e o
qualificado em que só seria punido pelo qualificado: pune-se pela norma
especial pela hierarquia de normas. Ex.: A mata B com dolo e à partida é
homicídio, mas B é pai então já é qualificado.
 Relações de subsidiariedade (há duas formas)
 Subsidiariedade expressa: situações em que a própria norma se aplica,
salvo se houver uma mais grave que se aplique (ex.: 152º-A). Havendo
aplica-se a mais grave.
 Subsidiariedade implícita (divergência doutrinária):
 CAVALEIRO FERREIRA: classicamente explica a subsidiariedade
como tendo uma zona de intersecção (elementos
parcialmente comuns). Ex.: concurso entre roubo e ameaças;
quando há roubo feito como ameaças existe esta zona e o
facto preenche o crime de roubo e de ameaça; o agente não
vai ser punido pelos dois porque é um caso de subsidiariedade
implícita. Vai ser punido pelo mais gravoso, neste caso o roubo
pq o crime em si já está tipificado como normalmente tendo
ameaças.
 FD: explica a subsidiariedade com base numa esfera de
proteção do bem jurídico; a esfera de proteção mais distante
só se aplica se não se aplicar a mais próxima; neste caso tem
em vista a proteção do bem jurídico vida; só aplico a tentativa
de homicídio (menos grave) se não aplicar o homicídio (mais
grave). Pune-se pelo mais grave.
 Relações de consunção – situações em que aparentemente há dois crimes
mas um deles esgota todo o sentido de ilicitude que está associado à situação;
se um dos crimes já tiver desvalor todo não posso punir por mais nenhum; são
factos posteriores que tornam concurso aparente por consunção e não
efectivo; há um sentido de ilicitude que prevalece e se houver vários sentidos
de ilicitude com força autónoma e é punido em efectivo. Crime mais forte
consome o outro.
2. CONCURSO EFETIVO – situações em que de facto havia vários tipos de crimes
diferentes/autonomizando-se sendo que assim o agente pode ser punido por todos
pelo art. 77º.
 Cálculo geral pelo art. 77º
 Em PT temos um misto de cúmulo material e jurídico.
Ex.: A comete 3 crimes e vai ser punido pelos 3 e depois somam-se as penas dos 3 (cúmulo
material), sendo que se for superior a 25 anos tem que se reduzir; partindo do pressuposto
que a soma dos 3 crimes dava 19 anos (limite máximo) e que o crime com maior pena era de
10 anos (limite mínimo); entre 19 e 10 é que a pena é definida (cúmulo jurídico).
 Caso dos CRIMES CONTINUADOS – punidos de maneira diferente pelo art. 30º/2 CP,
diminui-se a culpa do agente pelos factos exteriores e aplica-se o art. 79º em vez do
77º (não se soma e aplica-se uma só que será a mais grave). Ex.: pessoa durante uma
semana roubou durante todos os dias um pão pq a janela estava sempre aberta
 Casos de comportamento doloso: sempre que o comportamento for doloso e lesar
bens iminentemente pessoais há sempre concurso efectivo de tantos quanto os bens
atingidos. Ex.: A põe uma bomba em avião e mata 200 pessoas; não é um homicídio
com 200 vítimas, mas sim 200 homicídios pq a vida é um bem iminentemente pessoal
e portanto a tutela é de cada titular individualmente; pode ser só um crime com várias
atos e isso não significa vários crimes (se forem 2 pessoas aí já são 2 crimes por causa
dos bens iminentemente pessoais).

CLASSIFICAÇÃO DE FD:
 CONCURSO DE NORMAS (unidade de lei aplicável)
 Relações de especialidade
 Relações de subsidiariedade
 Só nestas duas há a conformação entre normas
 CONCURSO DE CRIMES (pluralidade)
 Concurso efectivo (77º)
 Concurso aparente (consunção)
 Tenho de conhecer a história/caso concreto
CASOS PRÁTICOS (FD): se não houver especialidade, subsidiariedade ou consunção então é
efectivo. Nunca se podem violar os princípios; ver sempre no caso concreto se posso
autonomizar os crimes.

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