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CAPÍTULO 02 - Campo Elétrico I - Distribuições Discretas de Carga
CAPÍTULO 02 - Campo Elétrico I - Distribuições Discretas de Carga
CAPÍTULO 02 - Campo Elétrico I - Distribuições Discretas de Carga
O campo elétrico é uma entidade física real que preenche todo o espaço em
torno de qualquer carga elétrica ou distribuição de cargas elétricas. Ele
desempenha o papel de transmissor de interações elétricas entre cargas.
Considere um corpo eletrizado com carga elétrica Q fixado num ponto do espaço como
mostra a Figura 2.1. Por possuir a propriedade carga elétrica, esse corpo produz em todo
o espaço ao seu redor um campo elétrico e, nesse contexto, ele é chamado de uma carga
fonte de campo elétrico. Qualquer outro corpo eletrizado, por exemplo uma carga q como
mostra a Figura 2.1, posicionado em um ponto P pertencente ao campo elétrico gerado por
Q ficará sujeita à ação de uma força elétrica F~ que é exercida pelo campo elétrico que existe
em P . Todo corpo eletrizado posicionado em um campo elétrico recebe o nome de carga
de teste (ou carga de prova).
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Capítulo 2 – Campo Elétrico I: Distribuições Discretas de Carga Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
Figura 2.1: Campo elétrico criado por uma carga Q (carga fonte). Por meio desse campo, a
carga Q interage com outras cargas, por exemplo, uma carga de teste q.
Figura 2.2: Campo vetorial que caracteriza o campo elétrico gerado por um dipolo elétrico.
Nota-se que em cada ponto P pertencente ao campo elétrico gerado por uma carga fonte
~ ), chamado vetor campo elétrico em P , ou
Q existe um vetor, que denotaremos por E(P
seja,
~ )
∀P ∈ campo elétrico 7→ E(P
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Se posicionarmos uma carga de teste q num ponto P do campo elétrico gerado pela carga
fonte Q, a força elétrica F~ atuante em q é dada por:
F~ = q · E(P
~ )
|F~ | = |q · E(P
~ )| = |q| · |E(P
~ )| ∴ |F~ | = |q| · |E(P
~ )|
Exemplo 7 Uma carga fonte Q produz em todo o espaço um campo elétrico cujo vetor
campo elétrico num ponto (x, y, z) ∈ R3 é dado por:
1, 8 × 104
~
E(x, y, z) = · (x~i + y~j + z~k) N/C.
(x2 + y 2 + z 2 )3/2
(b) Suponha que um elétron seja posicionado no ponto P (1, 1, 0). Determine o vetor força
elétrica atuante no elétron.
(c) Determine o vetor aceleração inicial ~a do elétron no ponto P (1, 1, 0) admitindo apenas
a ação da força elétrica. Dado: massa do elétron = 9, 11 × 10−31 kg.
Solução:
~ ) basta determinar E(1,
(a) Para obter E(P ~ 1, 0):
1, 8 × 104
~ ) = E(1,
E(P ~ 1, 0) = (1~i+1~j+0~k) N/C ⇒ ~ ) = E(1,
E(P ~ 1, 0) = 6, 4 × 103 · (~i + ~j) N/C
(12 + 12 + 02 )3/2
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(b) Posicionando o elétron (carga de teste) em P , a força elétrica atuante no elétron é dada por:
F~ = qe · E(P
~ ) = −e· E(P
~ ) = −(1, 6×10−19 C)·6, 4×103 (~i+~j) N/C ⇒ F~ = −1, 0 × 10−15 · (~i + ~j) N
Solução: Atuam no bloco a força peso P~ , a força normal ~n, as forças das molas F~m1 e F~m2 e a força elétrica
F~E gerada pelo campo elétrico E
~ de modo que o DCL do bloco fica:
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de modo que
Queremos determinar o vetor campo elétrico E(P ~ ) produzido pela carga fonte puntiforme
Q no ponto P . Lembre-se que determinar um vetor significa determinar seus três atributos:
direção, sentido e intensidade (ou módulo). Podemos determinar esses atributos a partir da
análise da força elétrica F~ que o campo elétrico E(P
~ ) produz, por exemplo, numa carga de
teste q > 0 (também puntiforme) posicionada em P .
~ ):
• Determinando direção e sentido de E(P
Notamos que, como consequência da relação vetorial F~ = q · E(P
~ ), se q > 0 a direção
e sentido da força elétrica F~ que atua em q são idênticos ao do vetor campo elétrico
~ ) produzido em P pela carga fonte puntiforme Q. Na Figura 2.3 são mostradas
E(P
as correspondências entre a direção e o sentido da força elétrica F~ atuante em q > 0
posicionada em P e o vetor campo elétrico E(P~ ) gerado em P pela carga fonte nos
casos (a) Q > 0 e (b) Q < 0.
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Figura 2.3: Direção e sentido do vetor campo elétrico E(P~ ) gerado por uma carga fonte
puntiforme (a) Q > 0 e (b) Q < 0 num ponto P . A direção e sentido são os mesmos da
força elétrica atuante numa carga de teste q > 0 posicionada em P .
~ ):
• Determinando a intensidade (ou módulo) de E(P
~ )| do vetor campo elétrico gerado por Q em P
Para calcular a intensidade |E(P
partiremos do cálculo da intensidade |F~ | da força elétrica atuante na carga de teste
q > 0 posicionada em P . Esse cálculo pode ser realizado de duas maneiras:
k · |q| · |Q|
Lei de Coulomb: |F~ | =
r2
Campo Elétrico: |F~ | = |q| · |E(P ~ )|
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~ )| como função
A Figura 2.4 mostra o gráfico da intensidade do campo elétrico |E(P
da distância r do ponto P em relação à carga fonte puntiforme Q. A curva gerada
recebe o nome de hipérbole.
~ )| = lim k · |Q|
lim |E(P =0
r→+∞ r→+∞ r2
O resultado mostra que para pontos muito distantes da carga fonte Q a intensidade
do campo elétrico tende assintoticamente a zero. Vetorialmente, esse limite
indica que os tamanhos dos vetores campo elétrico vão diminuindo à medida
que tomamos pontos afastados da carga fonte puntiforme Q.
– P é um ponto muito próximo (r → 0+ ) da carga fonte puntiforme Q:
~ )| = lim k · |Q| = +∞
lim+ |E(P
r→0 r→0+ r2
O resultado mostra que para pontos muito próximos da carga fonte Q a intensidade
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Na Figura 2.5 são mostrados alguns vetores pertencentes ao campo vetorial que caracterizam
matematicamente os campos elétricos gerados por (a) uma carga fonte puntiforme
positiva (Q > 0) e (b) uma carga fonte puntiforme negativa (Q < 0). Note que o
comportamento dos vetores campo elétrico estão em acordo com nossas conclusões.
Figura 2.5: Campos vetoriais que caracterizam os campos elétricos gerados por (a) uma
carga fonte puntiforme positiva (Q > 0) e (b) uma carga fonte puntiforme negativa (Q < 0).
O vetor campo elétrico resultante E(P ~ ) em P gerado por essa distribuição discreta
de cargas fontes puntiformes é dada pela soma vetorial
N
X
~ )=E
E(P ~ 1 (P ) + E
~ 2 (P ) + · · · + E
~ N (P ) ∴ ~ )=
E(P ~ i (P )
E
i=1
onde E~ i (P ) é o vetor campo elétrico criado isoladamente pela carga fonte puntiforme Qi em
P . Esse resultado recebe o nome de princípio da superposição de campos elétricos.
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Solução: No contexto da teoria de campo elétrico, a força elétrica atuante na carga qC é produzida pelo
~ ) gerado pelas cargas qA e qB no ponto P onde qC está localizada. Logo, a
campo elétrico resultante E(P
estratégia para resolver esse problema é determinar primeiramente o vetor campo elétrico resultante E(P~ )
em P (gerado por qA e qB ) e depois calcular a força elétrica atuante em qC pela expressão F~C = qC · E(P
~ ).
~ ): O primeiro passo é desenhar os vetores campo elétrico E
• Obtendo E(P ~ A (P ) e E
~ B (P ) produzidos
por qA e qB , respectivamente, no ponto P , veja figura a seguir:
O segundo passo é determinar as intensidades desses campos elétricos. Devemos enfatizar que para
utilizar o valor padrão da constante eletrostática (de Coulomb) do vácuo devemos garantir que todas
as grandezas estejam expressas em unidades do SI. Assim:
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~ )=E
E(P ~ A (P ) + E
~ B (P ).
Para realizar algebricamente essa soma vetorial, utilizamos o formalismo das componentes (coordenadas)
cartesianas. Para encontrar o vetor E(P ~ ) devemos encontrar as componentes cartesianas de E ~ A (P )
eE~ B (P ) e realizar a soma das componentes. Tendo em vista que esse problema é bidimensional (os
vetores estão definidos no mesmo plano), trabalharemos apenas com as componentes x e y. Com os
vetores E~ A (P ) e E
~ B (P ) posicionados num plano-xy, identificamos suas componentes:
(
~ A (P ) EAx (P ) = 0
E ⇒ E ~ A (P ) = h0; 5, 0 × 106 N/Ci
EAy (P ) = |E ~ A (P )| = 5, 0 × 106 N/C
(
~ 6 6
~ B (P ) EBx (P ) = |EB (P )| · cos(θ) = (2, 9 × 10 ) · (0, 80) = 2, 3 × 10 N/C
E
EBy (P ) = −|E~ B (P )| · sen(θ) = −(2, 9 × 10 ) · (0, 60) = −1, 7 × 106 N/C
6
Logo,
~ ) = h2, 3 × 106 N/C; 3, 3 × 106 N/Ci = (2, 3 × 106 ~i + 3, 3 × 106 ~j) N/C
E(P
F~C = qC · E(P
~ ) = (70×10−6 C)·(2, 3×106 ~i+3, 3×106 ~j) N/C ⇒ F~C = (1, 6 × 102~i + 2, 3 × 102~j) N
Notamos que o resultado obtido é idêntico ao resultado obtido no Exemplo 6 do Capítulo 1, como
era de se esperar.
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(tamanho dos vetores) vão diminuindo à medida que vamos nos afastando da carga fonte.
Note que a forma como os vetores campo se distribuem no espaço em torno da carga fonte
pode ser representada utilizando linhas retas orientadas saindo para todos os lados a partir
da carga fonte puntiforme positiva. Essas são as linhas de campo da carga fonte puntiforme
positiva, veja Figura 2.6 (a). Essas linhas possuem as seguintes propriedades:
• nunca se cruzam;
Na Figura 2.6 (b) são mostrados os vetores campo elétrico criados por uma carga fonte
puntiforme negativa (Q < 0) e ao lado a representação das correspondentes linhas de campo
elétrico. Veja que nesse caso, a única diferença em relação ao caso anterior é o sentido das
linhas, que para uma carga fonte puntiforme negativa estão entrando na carga fonte.
Figura 2.6: Linhas de campo elétrico de (a) uma carga fonte puntiforme positiva (Q > 0) e
(b) uma carga fonte puntiforme negativa (Q < 0).
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Outro aspecto que devemos destacar é que a representação das linhas de campo de uma
carga fonte puntiforme deve levar em conta a magnitude de sua carga. Observe a Figura
2.7 que mostra a representação das linhas de campo para três cargas fontes positivas que
diferem pela magnitude de suas cargas: +q, +2q e +4q. Note que, se representarmos o
campo elétrico criado por +q desenhando 8 linhas de campo, o campo elétrico criado por
+2q deverá ser representado utilizando 2 × 8 = 16 linhas de campo e o campo elétrico de
+4q deve ser representado com 4 × 8 = 32 linhas de campo. Assim, o número de linhas de
campo desenhadas para representar o campo elétrico de uma dada carga fonte é proporcional
à magnitude de sua carga.
Figura 2.7: O número de linhas de campo desenhadas para representar o campo de uma
dada carga fonte puntiforme é proporcional à magnitude da carga.
As linhas de campo elétrico de uma carga fonte puntiforme podem ser visualizadas
experimentalmente. Na Figura 2.8, pequenas fibras de tecido suspensas em óleo submetidas
ao campo elétrico criado por uma partícula eletrizada mostram a forma das linhas de campo
radiais representativas desse campo.
Figura 2.8: Determinação experimental das linhas de campo elétrico criado por uma
partícula eletrizada (carga fonte puntiforme).
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As Figuras 2.9 e 2.10 mostram mais dois exemplos de linhas de campo elétrico e a
correspondente verificação experimental.
Figura 2.9: Linhas de campo elétrico criadas por um dipolo elétrico e a sua verificação
experimental.
Figura 2.10: Linhas de campo elétrico criadas por um par de cargas puntiformes idênticas
(e positivas) e a sua verificação experimental.
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