Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Hermenêutica 1
Hermenêutica 1
Sumário
HERMENÊUTICA .................................................................................... 0
HERMENÊUTICA .................................................................................... 3
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3
A Abordagem Hermenêutica.................................................................. 11
Referências............................................................................................ 49
1
2
NOSSA HISTÓRIA
2
3
HERMENÊUTICA
INTRODUÇÃO
É corrente a ideia de que as sociologias compreensivas, por lidarem com
“construções de segundo grau” – interpretações elaboradas pelo pesquisador
acerca de interpretações produzidas pelos atores sociais em sua vida cotidiana
–, estão enredadas na armadilha do psicologismo, do subjetivismo e do
meramente contextual.
Tal controvérsia pode ser brevemente resumida nos seguintes termos: por
um lado, há aqueles que argumentam que as ciências sociais devem seguir os
princípios explicativos das ciências naturais, enquanto outros clamam pela
diferença entre elas, tanto em relação aos seus objetos como em relação aos
seus métodos. A explicação e a compreensão, nesse último caso, constituiriam
3
4
4
5
como uma teoria geral da interpretação, tomou como um dos temas básico de
investigação a relação entre vida e obra.
5
6
6
7
Tal essência é alcançada pela razão. A primazia da razão como vetor para
alcançar a essência é partilhada, de maneira geral, pelos pensadores dos
séculos XVII e XVIII. Contudo, há uma diferença significativa na forma como no
século XVIII o Iluminismo realiza esse empreendimento.
7
8
8
9
9
1
0
Como diz Eduardo Nicol (1960: 76), “o ideal de história é deixar de ser
histórica. A regularidade do princípio causal suprime necessariamente toda
inovação”.
10
1
1
A Abordagem Hermenêutica
Nos últimos anos, a abordagem "hermenêutica" foi introduzida nos
estudos das ciências sociais, especialmente naqueles relacionados às
disciplinas artísticas.
I. Sobre a interpretação
Um dos pressupostos que dizem respeito ao campo da História da Arte é
sua tarefa ética de explicar o significado das obras de arte. Para este fim, o
historiador aprendiz deve conhecer e manipular diversas metodologias que
permitam desenvolver e testar uma hipótese a partir de argumentos lógicos e
sustentáveis.
11
1
2
Dada a virada linguística da arte desse século, parece lógico supor que
os parâmetros de interpretação também tenham sofrido alterações.
12
1
3
A segunda questão que pode ser advertida neste tipo de discurso no qual
surge a hermenêutica é que não se faz qualquer menção a uma tendência ou
autor específicos.
13
1
4
Por tudo isso, falar da hermenêutica como uma metodologia implica uma
contradição: toma-se a disciplina em seu sentido convencional, sua versão
14
1
5
Também não tem a ver com concentrar-se no estudo de uma obra como
produto artístico ou focar em um sujeito criador, o artista, para tentar explicar o
que é comunicado.
15
1
6
16
1
7
Ainda que as ideias sobre a arte expressas pelo autor nesse texto
possam, ser lidas como uma resposta às teorias de Hegel sobre a "morte da
arte", suas ideias a respeito da arte como lugar mediador onde o Ser se "revela"
através do jogo poiético merecem ser consideradas aqui.
E a obra se diferencia das coisas, que também são produzidas, por sua
natureza poiética, ou seja, por sua capacidade criativa-imaginativa.
17
1
8
A arte, dizia Gadamer, não possui propósito, e, sim, sentido. Com base
no "livre jogo da imaginação", de Kant, e no conceito de jogo, de Huizinga,
Gadamer descreve a arte como um jogo: um horizonte de autorrepresentação
que surge da relação entre autor, intérprete e público.
18
1
9
Não há outro propósito na arte além do jogo da arte em si: à medida que
o jogo absorve os jogadores - o autor, o intérprete e o espectador -, a verdade
emerge.
19
2
0
20
2
1
Não se pode falar de uma obra em sentido estrito, diz Gadamer, pois ela
não carrega a conotação de produto acabado.
Toda obra de arte possui um tempo próprio, que se impõe como uma
"demora" da obra mesma, no tempo presente (dessa forma, diz Gadamer, as
reproduções musicais em disco são reproduções, mas não representações:
constituem meramente uma cópia, mas não têm presente). Nesse sentido, a obra
de arte pode ser vista como uma superação do tempo: em seu presente
contínuo, conjuga-se também o passado.
21
2
2
22
2
3
Como sua forma de proceder não é indutiva nem dedutiva, não considera
sequer o tipo de análise que pode ser realizada por meio da iconografia, a
iconologia ou a semiótica, ainda que compartilhe com todas essas disciplinas -
sobretudo com a iconologia - a vontade de elucidar fenômenos axiológicos gerais
nos quais se inscreve determinada obra.
(...) a obra de arte é um presente atemporal. Mas isso não significa que
ela não proponha uma tarefa de compreensão e que não seja necessário
encontrar também sua origem histórica.
23
2
4
Para abordar qualquer texto (e, de certa forma, a obra de arte é também
um texto, segundo Gadamer), basta possuir senso comum, essa phronesis ou
prudência descrita por Aristóteles, que é um "sexto sentido" que nos permite
equilibrar a informação intelectual e a sensitiva.
E que, como sugere Gadamer com sua associação entre arte e festa, é
um princípio social, de bem comum. Embora este não seja o lugar para discutir
a falta de "senso comum" de grande parte da arte contemporânea, é necessário
ressaltar, entretanto, que tal situação é bastante frequente e difundida no
universo dos museus: o público se descobre perplexo diante do que é mostrado
24
2
5
na maioria das exposições e, assim, pouco a pouco, a arte se distancia cada vez
mais de uma compreensão e de uma gozo social.
Justamente nisso reside o caráter especial de arte pelo qual o que acede
a sua representação, seja pobre ou rico em conotações - ou mesmo sem ter
nenhuma -, move-nos a permanecer nela e concordar com ela como em
reconhecimento.
"Ouvir" a obra, no caso das artes visuais, é "vê-la". Percorrer a obra com
a visão, demorar-se sobre ela com o tempo implícito na autorrepresentação da
obra, que nos propõe "brincar" com ela:
25
2
6
A obra não é um signo que "aponta" para uma mensagem. Perguntar após
ver, entretanto, permite esclarecer para nós mesmos e iluminar a obra
justamente por distinguir-se da própria forma de perguntar. De perguntas básicas
como "a que se refere a palavra 'arte'?" ou "o que significa 'belo'?", Gadamer
deriva outras, mais complexas, que "orientam" suas interpretações:
26
2
7
27
2
8
28
2
9
29
3
0
Além desse fator, por assim dizer psicológico, ele confessou que "'durante
muito tempo o escrever constituía um verdadeiro tormento'" (Gadamer apud
Grondin, 2001, p. 491). Por isso, por muitos anos, dedicou-se à interpretação de
obras poéticas e publicações 'pedagógicas' e, por mais "meritórias e necessárias
que fossem na situação de então", o fato é que Gadamer se evadiu, com elas,
30
3
1
Heidegger não pode ser deixado de lado em minha trajetória [...] Fui
admirador de Heidegger [...] O que eu mais agradeço a Heidegger, foi ele me ter
forçado a estudar filologia clássica; pois, através disso, aprendi a acompanhar
mais disciplinadamente a tendência a ele peculiar, a saber, aquela de mostrar, a
partir da língua, o que é propriamente a gênese de conceitos [...] eu admirava a
imaginação e a força do seu pensar. (Gadamer apud Almeida, Flickinger, &
Rohden, 2000, p. 220)
31
3
2
Constata-se, sim, uma espécie de tutela, pois não temos controle total
sobre a tradição, de maneira que somos determinados, em grande parte, por ela.
32
3
3
Dito de outro modo, Gadamer "parece estar dizendo que o horizonte dos
intérpretes nunca é estabelecido por eles.
33
3
4
Não a esgota" (Gadamer apud Dutt, 1998, p. 54). Essa é uma das pistas
para lermos sua obra e percebermos sua relação com a proposta filosófica de
Heidegger.
Para Heidegger, não existia nenhum método por meio do qual se pudesse
alcançar a verdade [...]Pode-se somente estar aberto à verdade" (Hintikka, 2000,
p. 492) ao passo que, para Gadamer, a relação entre verdade e método não é
de exclusão mas de tensão complementar.
34
3
5
Basta um rápido contato com seu projeto filosófico para perceber que
conceito de phrônesis constitui a espinha dorsal do procedimento e da estrutura
da hermenêutica filosófica a qual, pensamos, pode ser designada como
uma filosofia prática, segundo a perspectiva do estagirita.
35
3
6
36
3
7
Assim, para Gadamer, "'todo encontro com a tradição que ocorre dentro
da consciência histórica envolve a experiência de tensão entre o texto e o
presente [...] a consciência histórica tem clareza de que ela é diferente e, por
isso, distingue o horizonte da tradição do seu próprio horizonte'" o que mostra,
de acordo com Kusch, a idiossincrasia da posição gadameriana sobre "fusão
dialógica dos horizontes" e que "é suficiente para apontar o que Heidegger deve
ter considerado como um desvio crucial de sua própria filosofia" (Kusch, 2001,
p. 260).
37
3
8
Em nossa opinião, Gadamer retoma, só que por outra porta, num outro
nível, a noção sujeito [de consciência] sem conceder-lhe, na polaridade com o
objeto, a absolutização que lhe foi outorgada pela metafísica moderna.
38
3
9
39
4
0
40
4
1
[...] à diferença de Heidegger, você não tem a intenção de criar uma nova
consciência do diálogo e uma nova consciência da compreensão do ser, mas
explicitar a ideia já existente do que é um diálogo.
41
4
2
O Philebo se pergunta por uma "vida mista", que era o único âmbito onde
se podia encontrar o humanamente bom, e demonstrava em que medida Platão
e Aristóteles se encontravam em um mesmo terreno. (Grondin, 2001, pp. 184-
185)
42
4
3
Se para Heidegger, com certa razão, não há método que nos possibilite
acessar a verdade, para Gadamer há modelos estruturais [como diálogo, círculo,
jogo] que contribuem para compreendê-la e explicitá-la – afinal, ela é também
histórica – sem porém esgotá-la.
43
4
4
Sobre sua opção por Platão e Hegel e concomitante crítica ao seu mestre,
ele se pronunciou nos seguintes termos: "fui admirador de Heidegger [...] e ainda
hoje, eu diria, meu primeiro livro, A ética dialética de Platão, está ainda por
demais amarrado ao esquema defendido então por Heidegger; Platão é aí
apenas um preparador de Aristóteles.
Hoje, eu diria que ele, com isso, não faz justiça a Platão, de modo que
não enxergou o que Hegel percebeu" (Grondin in Almeida, Flickinger, & Rohden,
2000, p. 220).
Visto assim, Gadamer está mais para o projeto hegeliano, ao passo que
Heidegger se distancia dele; o primeiro assume o método dialético-dialógico
platônico e o segundo o analítico-conceitual aristotélico.
Com relação a esse ponto, lembramos que nossa pesquisa versa sobre a
hipótese de explicitar e justificar uma proposta sistemática – aberta, em
construção, movente – a partir da filosofia de Gadamer na medida em que
assimilou a Fenomenologia do Espírito de Hegel sem a pretensão de encerrá-la
no Absoluto.
44
4
5
45
4
6
Num certo sentido, é verdade que Heidegger pode ser tido como um
pensador teológico e sua filosofia apresenta paralelos íntimos com a teologia
especulativa ao passo que Gadamer subsumiu-a na sua concepção de
experiência estética – enquanto experiência da obra de arte.
46
4
7
última palavra" (Gadamer apud Almeida, Flickinger, & Rohden, 2000, p. 211), e,
por isso, o melhor que podemos fazer é emitir nossa palavra – sem pretensão
de que seja definitiva, absoluta ou a última – sobre as idiossincrasias da
hermenêutica heideggeriana e gadameriana assim como sobre o tensionamento
constante e entrecruzamento dialético que deve haver entre ambas. Nossa
palavra, ao modo do itinerário de Hermes, é apenas mais uma, em continuidade
ao profícuo diálogo, interminável, acerca das diferenças e identidades entre as
propostas filosóficas em questão.
47
4
8
Enfim, estou às voltas com ambos há mais de uma década, mas com uma
dedicação redobrada à hermenêutica gadameriana.
Assim, desse modo, nos jogamos entre ambos com o escopo de jogar
nosso jogo assumindo seus riscos com suas riquezas, afinal de contas, o
filosofar, como o "Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe.
Porque aprender-a-viver é que é viver, mesmo" (Rosa, 1958, p. 550).
48
4
9
Referências
Almeida, C. L. Silva de, Flickinger, H-G., & Rohden, L.,
(Orgs.). Hermenêutica filosófica; nas trilhas de Hans-Georg Gadamer. Porto
Alegre: Edipucrs.
49
5
0
Rosa, J. G. (1958). Grande sertão: veredas (2a ed.). Rio de Janeiro: José
Olympio
50