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Conceitos 2020
Conceitos 2020
1. Introdução
As plantas são constituídas, em média, por 15% de matéria seca e 85% de água. Deste total
de matéria seca, 90% são representados pelos elementos químicos carbono (C), hidrogênio (H) e
oxigênio (O), o que resulta em 1,5% da planta para outros elementos. Na Tabela 1 têm-se
elementos químicos que são encontrados nas plantas. Dentre eles estão, principalmente:
nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl),
cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn), os quais são
nutrientes de plantas.
Nutrientes de plantas são elementos químicos que as plantas absorvem e que são
essenciais ou indispensáveis para o seu crescimento, desenvolvimento, produção e reprodução.
Na Tabela 2 estão os nutrientes de planta sob a ótica da Fertilidade do Solo, segundo a
classificação em macro e micronutrientes. Na Tabela 3 encontram-se íons de nutrientes de plantas
e respectivos raios iônicos, com o objetivo de demonstrar que o critério para definir os macro e os
micronutrientes não é o do tamanho do elemento químico, mas sim o da quantidade absorvida
pela planta, o que se verifica na Tabela 4.
1
Depto. de Ciências da Produção Agrícola, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal (SP).
Edição revista em 2020.
2 Ferreira & Cruz
Tabela 4. Quantidade total de nutrientes na parte aérea das culturas de soja e cana-de-açúcar,
para produção de 4,0 t de grãos de soja e 100 t de colmos de cana.
Nutriente Quantidade extraída Nutriente Quantidade extraída
kg/4,0 t soja kg/100 t cana g/4,0 t soja g/100 t cana
Nitrogênio 332,0 145,8 Boro 308 433,2
Fósforo 27,2 24,2 Cloro 2.060 -
Potássio 128,0 210,9 Cobre 104 87,2
Cálcio 48,8 61,9 Ferro 1.840 3.297,0
Magnésio 26,8 28,2 Manganês 520 2.496,7
Enxofre 61,6 38,7 Molibdênio 28 -
Zinco 244 582,2
Fonte: modificado de Sfredo (2008) e de Otto et al. (2019).
Dos fatores que afetam a produtividade e que foram citados anteriormente, apenas a luz
não está ligada ao solo, o que caracteriza uma relação solo-planta muito importante. Cada fator
afeta diretamente a produção e, ao mesmo tempo, indiretamente, por meio da estreita relação
que mantém com os outros. Assim, considerando que no solo a água e o ar ocupam os espaços
porosos, fatores que afetem a relação solo-água, afetarão também a relação solo-ar. Por outro
lado, mudança na umidade do solo afetará a sua temperatura. Como último exemplo, a
disponibilidade de nutrientes é influenciada pelo balanço solo-água, bem como pela temperatura
do solo. A compreensão desse exemplo será facilitada com o avanço dos estudos específicos de
fertilidade do solo, sendo este um dos objetivos desta disciplina.
No estudo da fertilidade do solo, as principais perguntas que devem ser respondidas são:
um solo de fertilidade baixa pode ser transformado em um solo de fertilidade alta? Um solo de
fertilidade alta pode ser transformado em um solo de fertilidade baixa? O solo tem algum
mecanismo de resistência a mudanças em sua fertilidade? A resposta é sim para as três perguntas.
Solos pobres ou com fertilidade baixa poderão, por meio de adições feitas principalmente
pelo homem, serem transformados em solos férteis. Entre os processos de adição têm-se a
calagem, por meio da qual é feita a correção da acidez e a adição de cálcio e magnésio ao solo; a
adubação orgânica, que implica na adição de nutrientes por meio de resíduos orgânicos de origem
vegetal ou animal; e a adubação mineral, por meio da qual é feita adição de nutrientes por meio
de produtos ou substâncias minerais. Por outro lado, solos de boa fertilidade podem ser
transformados em solos de baixa fertilidade, devido aos processos de perda de nutrientes:
lixiviação (os nutrientes são perdidos dissolvidos na água que percola através do perfil do solo);
remoção nos produtos colhidos (os grãos, os tubérculos, os frutos, etc., colhidos das áreas de
produção e usados na alimentação humana e animal contêm quantidades variáveis de N, P, K, Ca,
Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn); erosão (os nutrientes associados às partículas do solo são
perdidos quando as enxurradas arrastam quantidades variáveis de solo de um local para outro).
Na Figura 1 é apresentado, esquematicamente, o ciclo envolvendo solo fértil, solo pobre e
processos representativos de como o solo pode ganhar ou perder nutrientes.
Embora o solo esteja sujeito a processos de perda e de ganho, a sua fertilidade nem
sempre é alterada bruscamente, principalmente no que se refere às perdas. Essa resistência a
perdas e ganhos (até certo ponto) deve-se à presença de partículas no solo que apresentam
propriedades coloidais e que são responsáveis pelo que se chama de sistema ou poder tampão.
4 Ferreira & Cruz
3. Conceitos básicos
CULTIVO MÍNIMO: sistema de preparo (cultivo) que reduz o número das operações mecanizadas
ao mínimo necessário para criar a condição adequada para a semeadura e a germinação das
sementes.
DESSORÇÃO: liberação de um íon ou molécula de uma superfície. O oposto de adsorção.
ELETRÓLITO: substância que em solução se dissocia totalmente em íons.
EROSÃO: é todo o arrastamento, no sentido horizontal, de partículas de solo, seja por meio da
água ou do vento. Como consequência tem-se perda de elementos químicos que fazem parte
da estrutura de partículas sólidas do solo ou de íons que estão adsorvidos a elas.
ESTRUTURA DO SOLO: conjunto de agregados que ocorrem em um solo.
FERTILIDADE DO SOLO: é a capacidade intrínseca de um solo para fornecer nutrientes às plantas
em quantidades adequadas e em proporções convenientes.
FOTOSSÍNTESE: processo pelo qual as plantas captam a energia luminosa, combinando água e
dióxido de carbono para formar os carboidratos. O pigmento clorofila é requerido para a
conversão da energia luminosa em energia química.
FRAÇÃO ARGILA: são as partículas minerais da fase sólida do solo menores do que 0,002 mm de
diâmetro. É constituída por minerais secundários, principalmente minerais de argila silicatados,
e de óxidos de ferro e de alumínio.
ÍNDICE DE SATURAÇÃO POR BASES, V%: é a proporção de bases trocáveis presentes no solo, em
um dado momento, em relação a sua CTC (CTC potencial), expressa em porcentagem. É,
portanto, a relação entre os valores SB e CTC multiplicada por 100. O mesmo que Porcentagem
de Saturação por Bases.
ÍON: átomo ou grupo de átomos que está eletricamente carregado em consequência da perda ou
do ganho de elétrons. No solo o íon se refere a um elemento ou a uma combinação de
elementos eletricamente carregados, que resulta da dissociação de um eletrólito na solução do
solo. O íon positivo é chamado de cátion e o negativo, de ânion.
LEI OU TEORIA DA RESTITUIÇÃO: é indispensável restituir ao solo, para evitar seu
empobrecimento, todos os nutrientes removidos nas colheitas.
LEI OU TEORIA DO MÍNIMO: a produção das culturas é regulada pela quantidade do elemento
nutriente disponível que se encontra no mínimo em relação às necessidades das plantas (Figura
2).
LEI OU TEORIA DOS FATORES LIMITATIVOS: o nível da produção agrícola não pode ser maior do
que o possibilitado pelo mais limitativo dos fatores essenciais ao crescimento vegetal (Figura 2).
Fertilidade do solo: Conceitos básicos 7
(a) (b)
Figura 2. Representação esquemática da lei do mínimo (a) e da lei dos fatores limitativos (b).
LIGAÇÃO COVALENTE: é a união entre átomos, estabelecida por meio de pares de elétrons, de
modo que cada par seja formado por um elétron de cada átomo. Há compartilhamento de
elétrons e isso determina uma ligação forte.
LIGAÇÃO ELETROVALENTE: é a força que mantém os íons unidos, depois que um átomo entrega
definitivamente 1, 2 ou mais elétrons a outro átomo. Nesta doação e aceitação de elétrons
acabam sendo produzidos cátion e ânion que se atraem. Há atração por forças eletrostáticas e
isso determina uma ligação fraca.
LIXIVIAÇÃO: é o arrastamento, pela água que percola, de íons e moléculas que estão em solução
nas camadas superiores do solo, para camadas mais profundas, podendo alcançar o lençol
freático. É um dos processos de empobrecimento da fertilidade do solo.
MACRONUTRIENTES: são elementos essenciais ou nutrientes que as plantas precisam e absorvem
em quantidades relativamente grandes. Obs.: São divididos em primários ou nobres: nitrogênio
(N), fósforo (P) e potássio (K) e secundários: cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S).
MATERIAL COLOIDAL OU COLOIDE: refere-se a materiais orgânicos ou inorgânicos com partículas
muito pequenas, área de superfície correspondentemente grande por unidade de massa e
carga de superfície. Os coloides apresentam diâmetro menor do que 0,001 mm.
MICRONUTRIENTES: são elementos essenciais ou nutrientes que as plantas necessitam e
absorvem em quantidades relativamente pequenas. Obs.: São os seguintes: boro (B), cloro (Cl),
cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn).
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MILÍMETRO (mm): submúltiplo do metro; é a milésima parte do metro (10-3 m). O coloide tem
diâmetro menor do que 0,001 mm.
MINERAL: sólido homogêneo de ocorrência natural, formado inorganicamente, com composição
química definida e arranjo atômico ordenado.
MINERAL DE ARGILA: é um silicato de alumínio hidratado que apresenta estrutura laminar. As
estruturas básicas dos minerais de argila são lâminas de tetraedros de sílica (um átomo de
silício coordenado com quatro átomos de oxigênio) e lâminas de octaedros de alumina (um
átomo de alumínio coordenado com seis grupamentos -OH). Os minerais de argila que
apresentam unidade cristalográfica constituída por duas lâminas de sílica para uma de alumina
são as argilas silicatadas do tipo 2:1 e as que apresentam uma de sílica para uma de alumina,
são as do tipo 1:1.
MINERAL PRIMÁRIO: mineral que não foi alterado quimicamente desde a deposição e cristalização
da lava.
MINERAL SECUNDÁRIO: mineral que resulta da decomposição de um mineral primário ou da
reprecipitação de produtos da decomposição de um mineral primário.
NANOMETRO (nm): submúltiplo do metro; é a bilionésima parte do metro (10-9 m). Os íons têm
diâmetro menor do que 1 nm.
NUTRIENTE: é todo elemento químico que as plantas absorvem e que é essencial ou indispensável
para o seu crescimento, desenvolvimento, produção e reprodução.
PERFIL DO SOLO: é o conjunto de horizontes, num corte vertical, que vai da superfície até o
material semelhante ao que deu origem ao solo.
pH DO SOLO: é a medida da concentração dos íons hidrogênio dissolvidos na solução do solo. Obs:
pH < 7 indica solos ácidos; pH = 7, solos neutros; e pH > 7, solos alcalinos.
PORCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR BASES: ver Índice de Saturação por Bases
PRODUTIVIDADE: está relacionada com a capacidade de um solo em proporcionar rendimento às
culturas.
SEPARADOS OU FRAÇÕES DO SOLO: partículas minerais, com diâmetro menor do que 2,0 mm.
Obs.: Classificadas segundo a International Society of Soil Science, de acordo com o tamanho,
nas seguintes categorias: a) areia grossa: 2,0 a 0,2 mm; b) areia fina: 0,2 a 0,02 mm; c) silte: 0,02
a 0,002 mm; d) argila: menor do que 0,002 mm.
SÓLIDO: substância caracterizada por um arranjo regular de suas partículas constitutivas, que
formam uma rede espacial definida e característica.
Fertilidade do solo: Conceitos básicos 9
SOLO: do ponto de vista da fertilidade do solo é a camada arável da crosta terrestre, onde se
desenvolve a maioria das raízes das plantas.
SOMA DE BASES OU VALOR SB: refere-se ao total de cátions, exceto Al e H, adsorvidos no solo na
forma trocável, mais a quantidade de amônio trocável.
TAMPÃO OU EFEITO TAMPÃO: nos solos, é devido à presença de substâncias que agem
quimicamente oferecendo, por exemplo, resistência a mudança de pH. Obs.: o efeito ou ação
tampão no solo é devido principalmente à fração argila e à matéria orgânica e se manifesta
também em relação ao nitrogênio, ao fósforo, ao potássio, etc.
TEXTURA DO SOLO: proporção relativa das frações areia, silte e argila de um solo.
TROCÁVEL OU ELEMENTO TROCÁVEL: é o elemento que está adsorvido ou retido pelos
componentes da fase sólida do solo e que pode facilmente trocar de posição com um elemento
dissolvido na solução do solo.
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