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x.

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

. LOCALIZAÇÃO
A comunidade Barra II esta situada no Município de Morro do Chapéu
está localizado na região de planejamento do Piemonte da Diamantina do
Estado da Bahia, limitando-se a Leste com os Municípios de Miguel Calmon e
Piritiba, a sul com Tapiramutá, Utinga e Bonito, a oeste com Cafarnaum e
América Dourada, e a norte com João Dourado, São Gabriel, Sento Sé,
Ourolândia e Várzea Nova. A área municipal é de 5.920 km² e está inserida nas
folhas cartográficas de Camirim (SC.24-Y-A-IV), Umburanas (SC.24-Y-A-V),
América Dourada (SC.24-Y-C-II) Jacobina (SC.24-Y-C-III), Canarana (SC.24-Y-
C-IV), Morro do Chapéu (SC.24-Y-C-V) e Piritiba (SC.24-Y-C-VI), editadas pelo
IBGE, SUDENE/CODEVASF e MINTER/SUDENE, em 1975 e 1977 na escala
1:100.000. Os limites do município, podem ser observados no Mapa Sistema
de Transportes do Estado da Bahia na escala 1:1.500.000 (DERBA,
julho/2000).

A sede municipal tem altitude de 1040 metros e coordenadas geográficas


11°33’00” de latitude sul e 41°09’00” de longitude oeste. O acesso a partir de
Salvador é efetuado pelas rodovias pavimentadas BR-324, BR-116 e BA 052
num percurso total de 386 km (Figura x).
Caracterização Geoambiental da Região de Estudo

Geologia e Geomorfologia

x.Geologia
A comunidade quilombola Barra II fica localizada na zona lítica do
Município de Morro do Chapéu onde é caracterizada pela predominância de
litótipos representantes do grupo Chapada Diamantina, formação Morro do
Chapéu, formação Bebedouro e formação Salitre. Existência coberturas
quaternárias constituídas por areia argilosa e argila essa aonde a comunidade
aproveita-se para propriedade da agricultura familiar abaixo nas figuras x e y ,
além de areia com níveis de argila e cascalho e crosta laterítica, além de
brecha calcífera e clarete, ocorre em segmentos isolados. Nessa área da
comunidade e da maior parte da região situa-se o grupo Chapada Diamantina
está representado pelas formações tombador (quartzoarenito eólico com
intercalações de arenito mal selecionado e arenito conglomerático; e arenito,
arenito conglomerático e pelito) e caboclo (laminito algal, calcarenito
silicificado, pelito e arenito laminados e estromatóloito colunar; siltito e argilitos
rítimicos e quartzoarenito, com lentes de laminito algal, calcarenito,
estromatólito colunar, arenito conglomerático e siltito).

Figura x. Solo característico da região em área de Figura x. Solo característico da região em área de
abrangência de Barra II. Fonte equipe pesquisa abrangência de Barra II. Fonte equipe pesquisa
2023. 2023.
A região estudada situa-se na porção centro-nordeste do Cráton do São
Francisco – unidade geotectônica estabilizada a partir da primeira metade do
Pré-Cambriano Superior – e que se comportou como ante-país cratônico às
faixas de dobramentos brasilianos, que se dispõem a seu redor. O grupo
Chapada Diamantina é constituído, da base para o topo, pelas formações
Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu, tendo sua deposição terminado por
volta de 950 Ma (Brito & Leal (1968) apud Rocha & Pedreira (1995).

A formação sedimentar de Barra II caracterizada pela zona espacial rural


de Morro do Chapéu, repousa diretamente sobre a formação Caboclo, em
contato erosivo, e é caracterizada pela ocorrência de conglomerado, arenito
conglomerático e quartzo arenito, na base, passando a arenito fino a médio, em
parte feldspático e quartzoarenito fino a médio bem selecionado, no topo.

Na área de estudo caracteriza-se ainda a formação do tipo Bebedouro


onde é constituída por diamictito, pelito e arenito, enquanto a formação Salitre
sobreposta é caracterizada pela presença de calcilutito, calcarenito e tapetes
algais, na base, seguida por calcarenito, calcilutito e calcissiltito odorosos; e
calcilutito e calcarenito com níveis de silexito, dolomito, arenito e pelito, além de
calcarenito, calcissiltito e calcilutito pretos e odorosos, calcarenito quartzoso,
arcóseo e siltito na base e calcarenito oncolítico, calcirrudito e calcilutito, no
topo da seqüência.

Vale ressaltar do ponto de vista estrutural que a maior parte dessa


região a sequência encontra-se dobrada. A presença de rochas cristalinas na
porção oriental, caracteriza-se pela presença de gnaisse kinzigítico e anfibolito,
e ortognaisse migmatitico, tonalitico-trondhjemitico-granodioritico, com enclaves
máfico e ultramáfico. A figura abaixo mostra o mapa geológico do município.
Figura x. Esboço Geológico. Fonte CPRM, BA.

Como aspectos da geologia regional na área de Barra II, podemos citar


a existência de terrenos granito-gnáissicos do embasamento cristalino
formados há mais de 2,5 bilhões de anos, que atualmente afloram a leste da
sede de Morro do Chapéu, desenvolveu-se a partir do Proterozóico Médio
(cerca de 1.600 milhões de anos antes do presente) uma bacia sedimentar
onde se depositaram os cascalhos, areias, argilas e calcários do grupo
Chapada Diamantina. O grupo Chapada Diamantina é constituído pelas
formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu e a sua deposição terminou
há cerca de 950 milhões de anos.

Segundo Misi e outros (2006) apud Ambcon / Marrikah (2011), o Grupo


Chapada Diamantina corresponde a uma extensa sequência de rochas
sedimentares, depositadas em ambientes de ciclos regressivos (continental) –
transgressivos (marinho) – regressivos (continental). Trata-se de rochas
predominantemente clásticas, pouco deformadas e apresentando anqui-
metamorfismo.

Sobre os sedimentos do Grupo Chapada Diamantina, no intervalo de


tempo compreendido entre 950 e 570 Ma, depositaram-se os cascalhos e
calcários atualmente conhecidos como grupo Una, composto pelas formações
Bebedouro e Salitre (CPRM, 1995). As rochas pertencentes ao grupo Una
situam-se na porção oeste da área diretamente afetada (ADA) da comunidade.

Abaixo, duas fotos referentes ao afloramento de Silexito da em Barra II,


situado numa propriedade próxima à estrada que liga Morro do Chapéu a Barra
II. O silexito é um calcarenito oolítico silicificado com cimento de ferro e
interclastos de dolomito.

Figura x. Solo silexito característico da região em Figura x. Latosolo oolítico característico da


área de abrangência de Barra II. Fonte equipe região em área de abrangência de Barra II.
pesquisa 2023. Fonte equipe pesquisa 2023.

As unidades estratigráficas de idade terciário-quaternária estão


relacionadas à evolução geomorfológica da área e abrangem os seguintes
tipos de coberturas: coberturas detríticas, coberturas detriticas-lateriticas,
alterações residuais, depósitos aluvionares, depósitos coluvionares. A
cobertura detrítica é constituída predominantemente por sedimentos areno-
argilosos inconsolidados. Apresenta coloração variando do creme ao marrom
avermelhado. Ocorre geralmente em porções topograficamente planas, por
vezes desenvolvendo-se também em morrotes de topo aplainado. São
interpretadas como depósitos de fluxo fluvial sob um clima árido.

Caracterização Geomorfológica

Geomorfologicamente a área apresenta feições distintas condicionadas


aos diversos aspectos responsáveis pelo modelamento da mesma. Portanto o
clima, as litologias, arcabouço estrutural, intemperismo, são fatores que deram
origem ao relevo atual. Localmente são visualizadas três formas dominantes de
relevo na região, compreendendo: o Pediplano Cimeiro da Chapada
Diamantina, o Planalto Dissecado (anticlinais aplanados e esvaziados,
sinclinais suspensos, blocos deslocados por falhas da Chapada Diamantina) e
o Planalto cárstico. Exibe fragmentos e seixos de rochas carbonáticas sobre
superfícies de planaltos ou em depressões. Na foto abaixo se pode visualizar o
planalto cárstico na porção extremo oeste da ADA, onde pode ser observada a
característica da superfície topograficamente plana dessa unidade
geomorfológica. A imagem seguinte mostra duas unidades geomorfológicas
presentes na região. Na parte superior da foto, observa-se a unidade planalto
dissecado, enquanto na parte central visualiza-se a topografia plana típica do
Planalto cársico.

Figura x. Comunidade Barra II cercado por uma Figura x. Comunidade Barra II cercado por uma
topografia característica de planalto e planície. topografia característica de planalto cárstico.
Fonte pesquisa 2023. Fonte pesquisa 2023.

Aspectos Fisiográficos
A comunidade quilombolas Barra II esta incluída no denominado cerrado
e cerradão, onde foram identificados como dos tipos latossolos ácricos,
distróficos ou eutróficos, cambissolos eutróficos, argissolos eutróficos e
neossolos litólicos e areias quartzosas. Os tipos de vegetação mais
representativos são os seguintes: Cerrado aboreo e arbustivos, caatingas
arbórea ou densa (sem palmeiras), florestas deciduais montana ou estacional
semidecidual, contatos cerrados-floresta estacionais, caatinga-floresta
estacional e ainda gramíneo lenhosa e refúgio ecológico montano. O relevo,
em sua maior parte, está configurado por chapadas e patamares e cortados
pela drenagem.

x. Biodiversidade

A comunidade Barra II está localizada no município de Morro do Chapéu,


que por sua vez está na cadeia da serra do espinhaço (Chapada Diamantina).
Informações básicas relativas à riqueza e distribuição de espécies de
mamíferos são ainda escassas para o estado da Bahia, identificando-se
apenas este estudo que informa sobre a diversidade e distribuição de
pequenos mamíferos na região da Chapada Diamantina (OLIVEIRA &
PESSOA, 2005).

A biodiversidade pode ser qualificada quanto ao seu status e quanto o


empreendimento pode afetar a espécie, indicando as que são de interesse
especial para conservação. O uso da terra pelo homem causa impactos para a
fauna e flora em geral devido a transformação do habitat, principalmente em
função do aumento populacional. A redução de habitat e a consequente perda
de riqueza de espécies são duas consequências do processo de transformação
de áreas naturais contínuas em fragmentos (MARTINS FILHO et al., 2019).
Além disso, a diminuição da capacidade de dispersão, alteração no tamanho
de áreas e aumento da taxa de predação, são também influenciados pela
fragmentação, sendo que estes podem ocorrer em eventos isolados ou não,
resultando no desaparecimento local de algumas espécies das regiões
afetadas (OLIVEIRA et al., 2016).

Para o planejamento de conservação, tem sido altamente difundida a


confecção de listas de espécies ameaçadas para delinear as taxas em riscos
de extinção, identificar processos de ameaças, suportar legislação de proteção
dos grupos animais e vegetais, informar prioridades de conservação e subsidiar
relatórios de impacto ambiental. Porém, é importante levar em consideração o
conhecimento dos riscos regionais dos padrões de extinção e as grandes
lacunas de conhecimento (GILLESPIE et al., 2011). Em estudos ecológicos, é
amplamente discutido e aceito que a subdivisão biogeográfica de continentes e
regiões simplifica e integra a complexidade de ecossistemas naturais e
variação de espécies, sendo recentemente suportado na literatura um método
único de abordagem biogeográfica para a análise de risco de extinção de
espécies de acordo com a categoria da International Union for Conservation of
Nature e critérios em nível regional (IUCN, 2020).

Nesse sentido os levantamentos para compor listas de espécies em


empreendimentos de impacto ambiental no Brasil podem se tornar uma
ferramenta bastante útil no refinamento de ações de conservação da
biodiversidade, principalmente na forma de monitoramento que envolvam
diferentes regiões, biomas e tipos de ecossistemas (VERARDO; OLIVEIRA;
SILVA, 2020). Dessa forma, pode-se avaliar a perda de espécies entre diversos
tipos de ecossistemas com distintas pressões de degradação ambiental. Como
ferramentas para essas ações tem-se as diversas técnicas de inventário e
monitoramento da biota, especialmente da fauna terrestre, impactadas por
empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica propostas por
diversos pesquisadores (CAVALCANTI, 1999).

Considerando o exposto, para atender às premissas expostas na fase de


avaliação de impacto da Linha de Transmissão e no complexo eólico e
entender os impactos da implantação de empreendimentos lineares sobre a
fauna e flora, foi realizado um levantamento dos grandes grupos encontrados
nos territórios quilombola de Barra II, sendo: a avifauna e Caatinga arbórea ,
Caatinga arbustiva, Cerrado e Cerradão por se apresentarem mais comum nas
áreas.

Na região de estudo das comunidades quilombolas, existem muitas


áreas de AAPs preservadas e nascentes. Segundo o Código Florestal, as
nascentes são determinadas como APP, e devem ser protegidas em um raio
de 50 metros, porém, esta norma não se enquadrou em nenhuma das
nascentes avaliadas, contribuindo para o péssimo grau de preservação. A
vegetação do entorno dos recursos hídricos propicia uma maior infiltração da
água das chuvas no solo, realizando a recarga dos lençóis freáticos e
conservando os mananciais (MEDEIROS et al., 2015).

A base legal da Política de Meio Ambiente e de Proteção à


Biodiversidade do Estado da Bahia é a Lei nº 10.431/06, regulamentada pelo
Decreto nº 14.024/2012. As leis 11.050/2008, 12.212/2011 e 12.377/2011
alteraram alguns artigos da Lei 10.431/2006, com incidência direta sobre o
licenciamento ambiental, entre outros temas. Os empreendimentos eólicos
estão sujeitos a licenciamento ambiental, que poderá se dar mediante uma
única licença – Licença Única (LU) – ou em 3 fases, com a emissão de Licença
Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO), a
depender do porte do empreendimento, definido pelo número de aerogeradores
instalados. Conforme o Anexo IV do Regulamento da Lei 10.431/2006, os
parques eólicos possuem pequeno potencial de poluição, portanto não sujeitos
à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental, podendo o seu porte variar em
função do número de aerogeradores instalados (pequeno 30120). A
combinação do grau de poluição e do porte do empreendimento resulta na sua
classificação, conforme artigo 109 do regulamento da Lei 10.431/2006,
aprovado pelo Decreto 14.024/2012. O território quilombola de Barra II
apresentam sua principal biodiversidade na Caatinga, uma das 37 grandes
regiões naturais do planeta. Contudo, ainda existe controvérsia se a Caatinga
realmente enquadra-se nessa categoria, dado seu atual nível de perturbação,
afetando a suas nascentes e riachos. Ab`Sáber (1999) classifica essa
vegetação em: arbustivo, arbóreo-arbustiva e muito dificilmente arbórea, com
folhas pequenas e trocos espinhentos, caducifólia e espécies xerófilas como o
mandacaru, xique-xiques, entre outras.

De acordo com Rodrigues (2004), as ações antrópicas comprometem a


capacidade quantitativa e qualitativa das nascentes, seu reabastecimento e sua
produção de água ficam alterada, principalmente em ambientes de contribuição
natural de infiltração em seu entorno e na área de recarga do lençol freático.
Essas interferências antrópicas ocasionam aspectos negativos para a
preservação desses locais visto que a grande parte está desprovida de
vegetação ciliar.

Martius apud Prado (2003) se refere às Caatingas como Hamadryades


ou pelas frases descritivas “silva horrida” ou “silva aestu aphylla”, a última (a
floresta sem folhas no verão), seguindo o costume local de tratar a estação
chuvosa das Caatingas como inverno, apesar de, na verdade, este período
coincidir com o solstício de verão. Nas fotos abaixo, alguns exemplos de
espécies comuns representantes desta fitofisionomia.

Figura x. Caatinga árborea em transição com Figura x. Caatinga árborea em transição com
arbustiva. Fonte pesquisa 2023.
Cerrado. Fonte pesquisa 2023.

Na região de Barra II o esse ecossistema é caracterizado pela


ocorrência de um complexo mosaico de solos com características variadas e
diferentes origens geomorfológicas e geológicas, os quais refletem a variação
dos tipos vegetacionais encontrados na Caatinga (Prado, 2003; Sampaio,
2010. Santos et al., 2012). Dessa forma, espera-se que esse ecossistema
apresente uma flora heterogênea e, consequentemente, uma dissimilaridade
florística elevada entre áreas relativamente próximas, o que torna os
inventários florísticos realizados em grande escala ainda mais importantes para
subsidiar as ações de conservação da biodiversidade da Caatinga.
Figura x. Caatinga árborea em transição com Figura x. Caatinga em zona de transição. Fonte
arbustiva. Fonte pesquisa 2023. pesquisa 2023.

Clima e hidrografia

Clima

Morro do Chapéu possui um clima tropical de altitude e é classificado na


escala climática internacional de Köppen como Cwa. Com temperaturas suaves
para a região com baixa latitude, por volta de 18 a 28 °C, no verão. E no
inverno, já foi registrada temperatura mínima abaixo de 10 °C, embora ocorram
muito raramente. E por apresentar um verão úmido e mais fresco que as
cidades do entorno, moderada principalmente pela altitude acima dos 1000m e
pelas chuvas de verão que se apresentam torrencialmente ou advindas do
oceano. Possuindo invernos relativamente frios e mais secos e verões úmidos
com dias quentes e noites mais frescas.

A cidade apresenta duas estações bem definidas: A das chuvas vai de


novembro a abril e a da seca vai do final de abril a outubro. Segundo dados
do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes ao período de 1961 a
1970 e a partir de 1977, a menor temperatura registrada em Morro do Chapéu
foi de 7,2 °C em agosto de 1963, nos dias 24 e 31, [8] e a maior atingiu 36,8 °C
em 3 de dezembro de 2015. O maior acumulado de precipitação em 24 horas
foi de 124,8 milímetros (mm) em 27 de dezembro de 1977. Outros grandes
acumulados iguais ou superiores a 100 mm foram: 122,2 mm em 18 de
novembro de 2014, 111 mm em 16 de março de 1969, 109,4 mm em 27 de
março de 1997, 105,3 mm em 22 de dezembro de 1963, 104,5 mm em 9 de
março de 1987 e 101,4 mm em 2 de abril de 2017.

O domínio morfoclimático das caatingas é um dos domínios brasileiros


menos investigados para os anuros (RODRIGUES, 2003). Além das espécies
possuírem um padrão de distribuição desigual (LEWINSOHN & PRADO, 2002).

8.4.3 Recursos Hídricos

8.4.3.1 Comunidade Barra II

A área de abrangência de estudo se enquadra nas águas superficiais do


Município de Morro do Chapéu possui drenagens que pertencem a três
grandes bacias hidrográficas. A oeste, as drenagens fluem para a bacia do rio
São Francisco (sub-bacia do rio Jacaré), ao norte as drenagens estão inseridas
na bacia do rio Salitre e a sul e leste drenam as águas para a bacia do rio
Paraguaçu. Dentre as drenagens que cortam o município, destacam-se: o rio
Jacaré, o rio Salitre e o rio Jacuípe (CEI, 1994f). O rio Jacaré é uma drenagem
intermitente que flui para nordeste e faz o limite municipal oeste com América
Dourada, João Dourado e São Gabriel. O rio Salitre ocorre ao norte da área
municipal, sendo que suas nascentes estão ao norte da cidade de Morro do
Chapéu. Trata-se de uma drenagem intermitente com direção de fluxo para
norte. O rio Jacuípe flui na direção leste e ocorre no extremo leste da área
municipal. Apresenta caráter intermitente, em grande parte do trecho em que
corre no Município de Morro do Chapéu, adquirindo perenidade nas
proximidades da divisa com o Município de Piritiba.

x. Águas Subterrâneas

No Município de Morro do Chapéu, podem-se distinguir cinco domínios


hidrogeológicos: formações superficiais Cenozóicas,
carbonatos/metacarbonatos, grupo Chapada Diamantina/Estancia/Juá,
metassedimentos/metavulcanitos e cristalino (Figuras 4 e 5). As formações
superficiais Cenozóicas, são constituídas por pacotes de rochas sedimentares
de naturezas diversas, que recobrem as rochas mais antigas. Em termos
hidrogeológicos, têm um comportamento de “aqüífero granular”, caracterizado
por possuir uma porosidade primária, e nos terrenos arenosos uma elevada
permeabilidade, o que lhe confere, no geral, excelentes condições de
armazenamento e fornecimento d’água. Na área do município, este domínio
está representado por depósitos relacionados temporalmente ao Quaternário
(coberturas residuais) e Terciário-Quaternário (coberturas detrito-lateriticas). A
depender da espessura e da razão areia/argila dessas unidades, podem ser
produzidas vazões significativas nos poços tubulares perfurados, sendo,
contudo, bastante comum, que os poços localizados neste domínio, captem
água dos aqüíferos subjacentes. Os carbonatos/metacarbonatos constituem
um sistema aqüífero desenvolvido em terrenos com predominância de rochas
calcárias, calcárias magnesianas e dolomiticas, que têm como característica
principal, a constante presença de formas de dissolução cárstica (dissolução
química de rochas calcárias), formando cavernas, sumidouros, dolinas e outras
feições erosivas típicas desses tipos de rochas. Fraturas e outras superfícies
de descontinuidade, alargadas por processos de dissolução pela água
propiciam ao sistema porosidade e permeabilidade secundária, que permitem
acumulação de água em volumes consideráveis. Infelizmente, essa condição
de reservatório hídrico subterrâneo, não se dá de maneira homogênea ao
longo de toda a área de ocorrência. Ao contrário, são feições localizadas, o que
confere elevada heterogeneidade e anisotropia ao sistema aqüífero. A água, no
geral, é do tipo carbonatada, com dureza bastante elevada. O domínio
hidrogeológico denominado grupo Chapada Diamantina/Estancia/Juá, envolve
litologias essencialmente arenosas com pelitos e carbonatos subordinados, e
que tem como características gerais uma litificação acentuada, forte
compactação e intenso fraturamento, que lhe confere além do comportamento
de aqüífero granular com porosidade primária baixa, um comportamento
fissural acentuado (porosidade secundária de fendas e fraturas), motivo pelo
qual prefere-se enquadra-lo com mais propriedade como aqüífero do tipo
fissural e “misto”, com baixo a médio potencial hidrogeológico. Os
metassedimentos/metavulcanitos e cristalino têm comportamento de “aqüífero
fissural”. Como basicamente não existe uma porosidade primária nestes tipos
de rochas, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por uma
porosidade secundária representada por fraturas e fendas, o que se traduz por
reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Dentro deste
contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água,
em função da falta de circulação, dos efeitos do clima semiárido e do tipo de
rocha, é na maior parte das vezes salinizada. Essas condições definem um
potencial hidrogeológico baixo para as rochas, sem, no entanto, diminuir sua
importância como alternativa no abastecimento nos casos de pequenas
comunidades, ou como reserva estratégica em períodos de prolongadas
estiagens.

Figura 5 – Domínio hidrogeológico do município.


Há alguns anos atras havia uma política de construção de barreiros no
território de Barra II onde tem-se baseado no conceito de que, desde que a
ausência de água era por definição um problema de falta de água, a situação
deveria ser resolvida com a acumulação de água em grandes quantidades, o
que tem sido chamado de "solução hidráulica". É de chamar a atenção o fato
de que, até bem pouco tempo, a grande maioria dos barreiros ou trincheiras
tem sido escassamente usada, porque não se pensam mais seriamente de que
maneira essa água chegaria a todos os usuários da comunidade. Argumenta-
se, nesta região de Barra II, que um dos aspectos negligenciados pelos
planejadores físicos tem sido a natureza disseminada da demanda de água
que torna inconveniente a concentração da oferta em um limitado número de
grandes poços particulares ou apoio público para com as famílias da
comunidade.

A Lagoa Doce, como mostra a figura abaixo, tem origem natural e está


situada em depressões de rochas impermeáveis na comunidade Barra II,
produzidas por causas diversas e sem conexão com o Rio Piauí. Essas águas
são provenientes da chuva, de uma nascente local de cursos de água chamada
Lagoa Grande essa no período de cheia desagua na lagoa doce. Contudo
antes dessa água chegar a comunidade Barra II , proprietários privados fizeram
barreiras para que as águas da mesma assim interferindo no fornecimento de
água das mesmas na comunidade e nas lavouras próximas, assim havendo um
pequeno barramento.

Fig. 52 e 53. Lagoa Doce que abrange a comunidade Saco.


Acervo de pesquisa, 2021.

A localidade Barra II possui um tanque chamado popularmente de


“Tanque do Baixão” localizado estrategicamente próximo a produção agrícola
da família XXX logo atrás das principais residências da comunidade. Este
tanque foi construído com intuito de dar água aos animais silvestres e
domésticos, banho de pessoas e prevenção de combate à seca na região.

Fig. 54: Tanque da Comunidade Saco

Acervo de pesquisa ,2021.

A comunidade saco está inserida numa das áreas de menor precipitação


do semiárido nordestino, conhecida como “polígono da seca”. A área de estudo
se insere na sub-bacia do rio Canindé na região hidrográfica do Parnaíba”
(AGUIAR; GOMES, 2004). Contudo possui um lençol freático fértil, a
comunidade é abastecida por um poço artesiano que fica localizado na região
central da área da sede da comunidade Curtume, a qual tem uma boa elevação
239 m, com coordenadas 0798824° 9077769°, próximo a PI-141.
Fig. 55: Principal poço da comunidade Curtume.

Acervo de pesquisa, 2021

8.4.3.2 Comunidade Barra II

A Comunidade Barra II tem sua economia concentrada na agricultura


familiar, avicultura e mais recentemente, no comércio, sendo assim uma das
comunidades que tem sua importância no município. Para seu abastecimento
d’água, possui dois principais poços de profundidade entre 100 e 150 metros,
com amplo abastecimento, um localizado próximo à casa de farinha e outro
próximo ao leito do Rio Piauí.

Segundo a Associação Caatinga (2021):

A maioria dos rios na Caatinga é intermitente, ou seja, correm apenas


durante o período das chuvas, ficando sem água corrente durante a estação
seca. Os rios perenes, aqueles que permanecem com água corrente o ano
todo, são menos frequentes. Um rio perene de grande porte e bastante
conhecido é o rio São Francisco. Na formação dos rios, as nuvens de chuvas
vindas do litoral são barradas pelas serras e as chapadas mais altas, onde a
água da chuva se infiltra e escoa, originando nascentes de encosta e pés de
serra úmidos.
Esta área de limite do território quilombola é caracterizada pelo o
encontro de três formações agroambientais como córregos, tanques e leito do
Rio que passa dentro da comunidade, cada uma delas com propriedades que
influem no acesso e disponibilidade das reservas hídricas subterrâneas,
impactando diretamente na quantidade de poço e vazão de cada localidade.

Figs. 56 e 57: Poços artesianos localizados na sede da comunidade (A)


e próximo ao Rio Piauí.

Acervo de pesquisa, 2021.

As principais atividades econômicas e de subsistência (produção de


alimento) da comunidade, consistem principalmente na pesca artesanal,
agricultura de pequena escala, complementadas por criação de animais. Essas
na qual sofre influência nas proximidades do Rio.

A pesca na comunidade Curtume é bastante difundida em ambas as


culturas, ocorrendo geralmente de forma mais artesanal, ou seja, não utilizam
barcos por conta do baixo nível da água, utilizam algumas técnicas a beira do
rio como as técnicas de pesca bastante diversificadas, incluindo redes de
pesca de vários tipos (espera, arrasto, dentre outras), anzol e linha, espinhel
(vários anzóis atados a uma corda), tarrafas e armadilhas diversas, utilizadas
para capturar várias espécies de peixes.

Apesar da variedade de petrechos utilizados, as redes de pesca,


principalmente as redes de espera confeccionadas com material sintético
(nylon), têm sido muito utilizadas por pescadores do Território e ribeirinhos.

Segundo Campos (2019):

A popularização dessas técnicas possivelmente se deve a seu maior


rendimento em relação ao esforço de pesca na comunidade, pois a rede pode
ser mantida na água por várias horas, sem a presença do pescador, que pode
se dedicar a outras atividades (ou mesmo utilizar simultaneamente outras artes
de pesca).

Apesar de sua pequena escala, a pesca artesanal na comunidade


Saco não é impactante, e ainda vale ressaltar que a pesca comercial quase
não existe na comunidade. A pesca que ocorre na área é apenas para fornecer
alimento para consumo interno e não para comercialização, sabendo assim os
ribeirinhos quilombolas a importância do leito do Rio próximo a comunidade.

Fig. 58. Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa ,2021.


Fig. 59: Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa, 2021.

A área em estudo localiza-se na região do Semiárido Brasileiro (SAB),


uma delimitação geográfica do território nacional, oficialmente definida em 2005
pelo Ministério da Integração Nacional (MI), através da Portaria nº 89, para fins
administrativos. Neste documento, o Semiárido Brasileiro corresponde a um
conjunto de municípios que atende a, pelo menos, um dos critérios:
precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros; índice de
aridez de até 0,5 no período entre 1961 e 1990; risco de seca ou
prolongamento da estação seca, de um ano para outro, maior que 60%,
tomando-se por base o período entre 1970 e 1990 (BRASIL, 2005).

Essa delimitação do SAB feita pelo Ministério da Integração Nacional,


antes era de competência da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), extinta em 2001. Essa autarquia adotava desde 1989
apenas critérios de precipitação anual igual ou inferior a 800 mm. No entanto,
MI considerou insuficiente o critério de utilização somente da precipitação
pluviométrica no processo de inserção de municípios no SAB, adotando mais
critérios para tal inclusão na última atualização de 2005, abrangendo assim,
mais áreas que se beneficiariam de isenções fiscais e políticas de crédito
voltadas para essa. Como essa delimitação é uma estratégia de diminuição das
desigualdades regionais e apesar dessa alteração nos critérios, o processo
ainda prioriza fatores climáticos dos municípios.

Considerando aspectos para além do clima, Ab`Saber (1999) caracteriza


a região do Semiárido Brasileiro como uma área de depressões interplanáticas
entre maciços antigos e chapadas, constituída de muitas colinas, estas
formadas de xistos e gnaisses. Um solo raso, com pouca decomposição
química das rochas, resultante do clima quente e relativamente seco da região.
Segundo o autor, as colinas são contornadas por rios intermitentes, que em
decorrência dos baixos índices de precipitação e elevados índices de
evapotranspiração, são característicos da região semiárida.

Em relação à geomorfologia, Ross (2011), situa o semiárido dentro de


duas unidades morfoesculturais, anteriormente citada como depressões
interplanálticas: Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba e Depressões
Sertanejas e do São Francisco. Esta última, área que compreende este estudo,
apresenta altitudes de 200 a 500 metros e abrange uma extensa área
rebaixada e aplanada, com uma superfície de erosão que secciona uma grande
diversidade de litologias e arranjos estruturais, além de uma superfície com
inúmeros relevos residuais, chamadas de inselbergues, associados às rochas
cristalinas, quer sejam metamórficas ou intrusivas.

Sobre a estrutura morfológica do Piauí, Lima (1987) mapeia seis


compartimentos regionais no estado: Depressões Periféricas, Chapadões do
Alto-Médio Parnaíba, Oriental da Bacia do Maranhão/Piauí, Baixos Planaltos do
Médio-Baixo Parnaíba, Tabuleiros Pré-litorâneos e Planície Costeira.

Dentre os compartimentos do relevo do Piauí destacados por Lima


(1987), os territórios quilombolas do estudo estão sob as Depressões
Periféricas. Este compartimento localiza-se nas áreas do sudeste e sul do
Piauí, na unidade estrutural do embasamento cristalino, datado do Pré-
Cambriano. Topograficamente, corresponde a uma área deprimida, com um
nível de base local de aproximadamente 300m de altitude, entre os bordos da
bacia sedimentar Paleozóica e as Formações Cretáceas dos planaltos que
ocorrem nos limites sudeste do Piauí com os Estados do Ceará e Pernambuco
e ao sul com a Bahia. Compreende uma área de aproximadamente 39.000 km²
correspondente a 15,6% da área total do Estado.

No compartimento de Depressão Periférica, os processos de


pedimentação e pediplanação são explicados como anteriores à instalação dos
domínios morfoclimáticos atuais, foram elaboradas a partir de um passado
remoto, Pré-Siluriano. Uma vez que iniciaram o fornecimento de detritos para a
formação da bacia sedimentar, submetendo-se ora com maior intensidade, ora
com menor intensidade às perturbações tectônicas, oscilações do nível do mar
e variações climáticas continentais e possíveis de comprovação através dos
registros deixados nos ambientes, como as linhas de pedras, cascalheiras,
lateritas e sílex, entre outros. (LIMA, 1987).

O contexto geológico do município de São João do Piauí é constituído


por rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba, representadas pelo Grupo
Serra Grande (arenitos e conglomerados) e formações Pimenteiras (folhelhos e
siltitos) e Cabeças (arenitos e conglomerados), além dos Depósitos Colúvio-
Eluviais (areias, argilas e lateritos). As rochas do embasamento cristalino
afloram, apenas, numa pequena área localizada no sul do município e são
representadas por filitos da Unidade Barra Bonita (AGUIAR, 2004).

Fig. 10: Esboço Geológico de São João do Piauí

Fig. 11: Ao fundo, área geológica correspondente à Bacia Sedimentar do Parnaíba

AGUIAR, 2004, p. 4.
Acervo FUMDHAM apud VIEIRA, 2015, 37.

Sobre os solos das terras secas do Nordeste, Ab`Saber (1980), afirma


que, entre os componentes básicos das paisagens sertanejas, os solos
regionais são os que melhor caracterizam a região como semiárida., porém
com uma característica peculiar em relação aos solos de outras regiões de
semiaridez, por estarem numa província ecológica de caatingas dotadas de
uma biomassa importante em termos de tapete vegetal e não sujeitas a
salinização e concrecionamento, sendo a região do país que menos apresenta
o domínio brasileiro de pedalfers (que concentra carbonato de cálcio).

O autor divide os solos dessa região como: solos escuros e castanhos,


com argilas expansivas (Vertissolos), comuns nas plataformas interfluviais
correspondentes às superfícies aplainadas modernas dos sertões; solos com
horizontes B solonético, restrito a manchas nas baixas encostas de
determinadas áreas sertanejas do Ceará e do norte da Bahia; solos vermelhos
dos sertões, com horizonte B prismático (e ou, em blocos subangulares.
Situados, via de regra nos setores interfluviais mais elevados das colinas
interplanálticas sertanejas; Solos esqueléticos e litossolos (Entissolos), das
"serras secas" e das caatingas rochosas, em áreas de lajedos, "boulders" e
"inselbergs".

Hidrografia

O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é


diretamente proporcional a suas características geomorfológicas (forma, relevo,
área, geologia, rede de drenagem, solo, etc.) e do tipo da cobertura vegetal
existente (LIMA, 1976). Assim, as características físicas e bióticas de uma
bacia possuem importante papel nos processos do ciclo hidrológico,
influenciando a infiltração e a quantidade de água produzida como deflúvio, a
evapotranspiração, os escoamentos superficiais e subsuperficial, dentre outros.
Além disso, o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica, também, é
afetado por ações antrópicas, uma vez que, ao intervir no meio natural, o
homem acaba interferindo nos processos do ciclo hidrológico (TONELLO,
2005).

O Piauí, por se encontrar numa faixa de transição entre as condições


climáticas de elevada umidade da Amazônia e a semiaridez do Nordeste
Oriental, apresenta variações na ocorrência e na circulação das águas em seu
território, mesmo tendo cerca de 80% de seu espaço localizado numa estrutura
geológica de rochas sedimentares (LIMA, 1987). Para o atendimento do
objetivo proposto, a pesquisa realizada teve natureza bibliográfica em
associação a observações de trabalhos de campo realizados no espaço
sanjoanense. Como apoio ao tratamento, espacialização e discussão dos
dados e observações, foram utilizadas registros fotográficos e imagens de
satélites disponíveis online trabalhadas em ambiente digital, por meio do
geoprocessamento, gerando mapas locais.

Nesse sentido, realizamos a caracterização geoambiental,


particularmente morfométrica, da Bacia Hidrográfica do rio Piauí, abrangendo
as Comunidades Quilombolas de Riacho dos Negros e Saco/Curtume,
localizadas na zona rural do município de São João do Piauí do estado do
Piauí, a partir de identificação de variáveis geométricas, rede de drenagem e
do relevo, como possibilidade para conhecimento da dinâmica ambiental da
referida área.

A análise das características do relevo de bacias hidrográficas é


importante, pois está diretamente relacionado ao risco de erosão do solo, tendo
em vista que com a mecanização, o relevo apresenta-se como um aspecto
ambiental significativo por estar diretamente relacionado ao escoamento
superficial e a velocidade da água, portanto, ao transporte do solo, nutrientes,
dejetos e agrotóxicos para os cursos de água.
8.3 Infraestrutura Social e Produtiva

8.3.1 Educação

Esporte

Capoeira

Uma outra manifestação cultural é a capoeira teve visibilidade maior na


comunidade quando as crianças junto com a educadora do quilombo faziam
rodas de capoeira na escola. E com isso foi tendo outra visão as crianças
começaram a praticar a capoeira juntos com seu monitor. Para os mais velhos
a capoeira era vista como um coisa ruim, mas não era e naquele tempo tinha
mais de quinze pessoas praticando entre jovens e crianças. Mas ao passar do
tempo isso foi se acabando e hoje só restam três. As vezes tem cultura na
comunidade mas não sabemos valorizar é preciso se agregar para nunca
acabar. Pra mim a capoeira tem uma importância muito grande, desde que eu
era criança que tinha vontade de aprender. Até que um dia entrei no grupo
raízes Baiana e hoje me sinto muito bem em ter essa cultura junto comigo. Não
temos uniformes, som e espaço para rodas. Também são necessários os
instrumentos de violão, pandeiro, microfone e som.

Futebol
Figura x. Campo de futebol da comunidade Barra II. Figura x. Campo de futebol locado ao lado de
Fonte pesquisa 2023. estrada rural da comunidade Barra II. Fonte
pesquisa 2023.

Thays

8.3.2 Saúde

O atendimento de saúde dos remanescentes quilombolas de


Saco/Curtume é feito na sede do município de São João do Piauí, nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS), para consultas de rotina e problemas
menos urgentes; e no Hospital Teresinha Nunes de Barros para casos que
requerem internações, trabalhos de parto etc. Para o presidente da
Associação do território, Sidney Gomes Ferreira, o acesso aos postos de saúde
e demais instituições da área pelos moradores da comunidade é facilitada pela
curta distância para a sede do município.

(...) hoje a comunidade em si, graças adeus, voltada em


sistemas da saúde (...) nós não temos essa carência,
porque nós temos um poder público que dá muita
importância nessa questão da saúde, assim, a gente
enquanto comunidade, nós temos também uma
vantagem, que nós moramos a apenas 3 km da cidade,
que não tem essa dificuldade de se deslocar (...)
(INFORMAÇÃO VERBAL1).

Para pacientes graves que estejam necessitando de atendimento


imediato, é acionada a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (SAMU) através do telefone 192, que faz o atendimento médico ainda

1
Entrevista de Sidney Gomes Ferreira concedida ao ECQ, 23/01/2021.
na comunidade e o deslocamento desse paciente para o hospital da cidade.
Alguns casos que requerem atenção especializada, como acidentados com
fratura ou similares, são encaminhados para outras cidades, como São
Raimundo Nonato, Floriano ou Teresina.

Para quilombolas que estão acamados, ou que sejam hipertensos e/ou


diabéticos, a agente de saúde Ana Paula de França faz a visita para
monitoramento e possíveis encaminhamentos para consultas médicas. Nesse
período de pandemia, o acompanhamento está sendo realizado via telefone.
Além desse acompanhamento pela agente de saúde, frequentemente são
ministradas palestras, na sede da associação, com temáticas ligadas ao câncer
de mama, saúde do homem, nutrição, saúde mental, entre outras.

Uma das queixas mais frequentes dos moradores, na área de


assistência à saúde, diz respeito ao atendimento odontológico. A demanda é
grande e a quantidade de fichas para atendimento, distribuídas pela secretaria
de saúde do município, é insuficiente, sendo de apenas duas vagas semanais,
como expôs Ana Paula, agente de saúde de Saco/Curtume:

(...) é pouca as vagas, a demanda é muita e eu fico num


beco sem saída, porque quem tem que dar as fichas sou
eu e tem que dar aquela quantidade, muitos não entende
e fica achando que eu sou a culpada, e não é eu. quando
eu chego lá, a doutora, a dentista diz que não pode
atender mais porque já tem de outras áreas (...) é uma
dentista pra minha área e mais cinco áreas (...)
(INFORMAÇÃO VERBAL2).

Ela relata ainda, a problemática quando há mais pessoas necessitadas


para atendimentos de urgência. Muitas vezes a distribuição das fichas já
aconteceu e casos mais graves são acometidos, gerando transtornos para os
que já estão na espera e os que necessitam de atendimento imediato. Para
Ana Paula, as cobranças de um número maior de vagas são constantes, mas
tal ação deve ser direcionada ao poder público municipal, responsável pela
oferta.

x.Saneamento Básico

2
Entrevista de Ana Paula de França ao ECQ, 18/01/2021.
A nucleação de Barra II não têm coleta de lixo na semana, todo lixo
orgânico gerado pelos moradores são feitas compostagens ou direcionados
aos animais realizadas pelos moradores, porém, é frequentemente relatado
que tal oferta coleta é necessária para a demanda da comunidade e, muitas
vezes, é preciso incinerar o lixo no quintal para que não acumule.

Ainda sobre o lixo, Barra II vem sofrendo com problemas relacionados


ao descarte de lixo em local inapropriado, principalmente nas proximidades das
residências. De acordo com relatos de moradores, algumas pessoas da
comunidade vêm descartando esses entulhos e lixos domésticos nas áreas
próximas à localidade, não havendo, por parte dos órgãos públicos, controle ou
punição aos responsáveis, que dificilmente serão identificados, pois o fluxo de
carros que passam na via rural é intenso e complexo de se monitorar.

Fig. 33: Lixo na reserva legal da CRQ Fig. 34: Trânsito de

veículos na PI-141
Acervo da pesquisa, 2021.

As unidades habitacionais do CRQ Barra II são majoritariamente


construídas de alvenaria, com tijolos, telhas e cimento. Possuem banheiro com
fossa séptica e seguem um padrão de tamanho, principalmente as do centro da
comunidade ou rua principal, pois são de assentamento, construídas e
regularizadas pelo INCRA. Entretanto, mesmo a maioria das moradias de Barra
II tendo fossa séptica, ainda é possível identificar algumas com esgoto a céu
aberto.

Fig. 35: Esgoto a céu aberto no Saco Fig. 36: Casa de


Alvenaria no Curtume
Acervo da pesquisa, 2021.

Contudo é possível identificar em Barra II algumas residências , pelo fato


de algumas famílias morarem as margem do rio, foram construídas de
maneiras e com materiais diversificados, não obedecendo ao mesmo padrão,
porém apresentam boa infraestrutura, com piso de cimento queimado ou
cerâmica, a grande maioria com banheiro e vaso sanitário.

Com relação ao abastecimento de água, já discutido nos tópicos


específicos de cada núcleo populacional, podemos constatar que para
consumo e atividades domésticas advêm de poços artesianos, sendo
distribuída das caixas d’água através de encanação para as residências, não
havendo nenhum tipo de tratamento no centro de distribuição, mas que, de
acordo com os moradores, apresentam boa qualidade. Já os animais, criados
soltos no território, saciam a sede no rio, represa e nas lagoas.

Fig. 37: Caixa d’água de Curtume Fig. 38. Trecho do Rio Piauí

em Saco/Curtume
Acervo da pesquisa, 2021.
Em geral, os transportes usados pelos moradores de Saco são próprios,
é possível perceber que muitos já possuem motocicleta ou carro e, em geral,
fazem deslocamentos em busca de atendimento médico, compra de alimentos
ou para resolver pendências bancárias na cidade de São João do Piauí em
seus próprios veículos. Ainda assim também apontamos o uso de transportes
coletivos do tipo “pau-de-arara” circulando pelo território.

8.3.4 Outras Infraestruturas

Todas as casas de Caco/Curtume possuem energia elétrica, tarifa


individual com desconto através do subsídio do governo federal por se tratar de
Comunidade Remanescentes Quilombolas. Somente a tarifa da energia, gasta
para o bombeamento da água dos poços artesianos, é fracionada pelo total de
famílias da comunidade, e que, em geral, permanece em torno de R$ 10,00.
Porém, existe um sistema de placas solares pronto para utilização no
fornecimento de energia dos poços artesianos que abastecem as
comunidades, mas que ainda não estão em funcionamento.

Esse sistema de energia foi uma compensação de empreendimento de


energia fotovoltaica, presente no território e apesar de estar disponível, não
funciona, pois de acordo com o presidente da associação do território
quilombola Saco/Curtume, Sidney Gomes Ferreira (informação verbal 3), a
associação está com um problema, que perdura há mais de um ano, com o
técnico contratado para emitir o relatório de homologação do sistema a ser
encaminhado à concessionária de energia elétrica no município.

Dada a proximidade com a sede do município, não há cemitérios dentro


da CRQ Saco/Curtume. Geralmente, as práticas de enterramento dos
moradores das comunidades acontecem no cemitério principal da cidade, ou
ainda, caso o falecido ou falecida pertençam à uma comunidade rural –
geralmente no Riacho dos Negros –, estes são sepultados nos cemitérios
Fig. 39: Kit de placas solares em Curtume Fig. 40: Kit de placas solares em Saco

3
Entrevista de Sidney Gomes Ferreira concedida ao ECQ, 19/01/2021.
destes locais.

Acervo da pesquisa, 2021.

A CQR Saco/Curtume dispõe de sinal de celular, possibilitando o uso de


internet pelos dados móveis das operadoras e algumas casas, por estarem
próximas à área urbana, têm internet via Wi-Fi, contratadas de empresas da
cidade de São João do Piauí.

8.3.5 Produção

A comunidade recebeu o nome de Barra por conta de um córrego que


atravessa a comunidade

Dados da comunidade

A comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares desde de 31 de


outubro de 2001 com cerca de 60 famílias. É acompanhada pela Associação
remanescentes quilombola da comunidade de Barra (74 9 91080983). Dentre
necessidades prioritárias estão apoio a grupos culturais, apoio às festas
tradicionais, reforma da escola, incentivo à agricultura familiar/ projeto de
irrigação e equipamentos para roça. A comunidade teve acesso aos projetos do
CAR com projeto casa de farinha, Casa do doce e crédito fomento.

A comunidade de Barra II foi fundada entre os anos de 1910 a 1938,


sendo os primeiros moradores o Sr. Laudelino, Sr.Líbio, Sra.Vicentina, Sra.
Maria, Sra. Cabocla, e outros que não foram citados. A comunidade recebeu o
nome de Barra por conta de um córrego que atravessa a comunidade,
antigamente quando chovia muito o córrego ficava com bastante água entre a
margem e nela ficava uma barra de água escura, por isso que deu o nome da
comunidade de Barra. No entanto, tem outra comunidade bem próxima, que
também se chama Barra, e para especificar as Barras foi acrescentado I e II.  A
primeira Barra I, e a segunda Barra II.
Uma das festas mais esperadas do ano é o novenário de Nossa
Senhora Aparecida, que é celebrado em outubro. Essa festa tem uma grande
importância na comunidade por conta de ser uma homenagem, veneração,
intersecção a uma santa negra. Para nós isso é motivo de muito orgulho para
nossa comunidade, e segundo relatos, muitos de seus devotos da comunidade
já receberam milagres através dela.

As principais atividades produtivas na CRQ são agricultura familiar,


criação de ovinos, caprinos, suínos, bovinos e aves. Por estar em área de solos
mais férteis, planos e influenciados pelo leito do rio Piauí, o agricultor do
Curtume tem mais vantagens na produção agrícola que os da Comunidade
Saco, que enfrentam a declividade do relevo e solo pedregoso.

Além da agricultura de sequeiro, muitos agricultores possuem roças com


kits de irrigação com a água de poços e do próprio rio Piauí, quer margeia a
comunidade. Os principais cultivos nas áreas agricultáveis são: milho,
mandioca, banana, feijão, abóbora e melancia.

Boa parte da produção agrícola é voltada para a subsistência da família


e alimentação dos animais nos períodos de estiagem. Porém, o cultivo por
irrigação, tem produzido um volume significante de excedente, que é vendido
pelos produtores através do programa CONAB (Companhia Nacional de
Abastecimento) e o Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF).

Além disso, há ainda a comercialização de produtos como abóbora,


tapioca, farinha, mel de abelha, artigos artesanais, dentre outros no Mercado
Municipal Luiz Gonzaga de Carvalho, em São João do Piauí.

Fig. 41: Plantação de milho em Curtume Fig. 42: Mercado


Municipal

A Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF) é um instrumento do


Programa da Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal, que tem por
finalidade garantir, com base nos preços de referência, a compra de produtos
agropecuários dos participantes agricultores enquadrados no Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e aqueles povos e
comunidades tradicionais, como é o caso da CRQ Saco/Curtume.
Acervo da pesquisa, 2021.

A pecuária na comunidade é voltada também para o consumo ou


comercialização dentro do próprio território e comunidades vizinhas. Os
caprinos e ovinos são criados soltos, se alimentando na caatinga durante o dia,
e a noite retorna para dormir nos chiqueiros (um espaço cercado de arame e
madeira). As galinhas são presas nos quintais que rodeiam as residências. Os
porcos também ficam soltos e sempre na área de “terreiro”, espaço livre, aberto
localizado na frente das casas. Além de se alimentarem da vegetação da
caatinga, os animais precisam de ração nos meses de estiagem.

Os benefícios sociais do Governo Federal também são de grande


relevância na composição da renda das famílias de Saco/Curtume, como o
Bolsa Família e Seguro Safra. Assim como a aposentadoria rural dos idosos.
Poucos trabalham fora da comunidade, não havendo na CRQ Saco/Curtume
relatos corriqueiros de êxodo rural.

8.3.6 Organização Comunitária

Na CRQ Saco/Curtume, o principal mecanismo de organização coletiva


se dá através da denominada “Associação de Desenvolvimento Comunitário
Rural do Assentamento Saco do Curtume”, que responde pelas duas
comunidades inseridas nesse território.

Sobre a origem e formação, o presidente, Sidney Gomes Ferreira


comenta:

A Associação Saco/Curtume, ela surgiu em 96 de acordo


com a necessidade da comunidade. A Comunidade achou
que, reunidos enquanto associação, as coisas facilitavam
mais. Você poderia ter mais acesso ao poder público,
jurídico... Então, assim, a comunidade se reuniu, fez todo
o processo administrativo e daí se criou a Associação de
Desenvolvimento Comunitário Rural do Assentamento
Saco do Curtume (INFORMAÇÃO ORAL4).

Popularmente conhecido como Ney, o presidente conta que logo no


início de formação da Associação, eles não tinham nenhum espaço apropriado
para a organização de reuniões e assembleias, elas eram realizadas “debaixo
dos pé de juazeiro” ou ainda “debaixo de um pé de algaroba”, sem contar com
reuniões nas casas dos vizinhos (informação oral 5). Paulatinamente,
começaram a se organizar melhor e hoje possuem duas sedes, uma para cada
comunidade, conquistadas a partir das demandas locais junto aos
empreendimentos que se estabeleceram no município.

As principais lideranças que fazem parte da Associação e são


responsáveis pela organização e mobilização do movimento são, além do
próprio presidente Sidney Gomes, pontua ainda Nego Bispo, uma das grandes
referências, inclusive a nível estadual, por ser representante também da
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas; o Sr. Raimundo
Canela, considerado uma das grandes referências e vivências históricas do
território, presente desde o início de ocupação e conhecedor das formas de
vivências quilombolas locais; e a agente de saúde Ana Paula, partícipe desde o
início de formação e também moradora de Curtume.

O processo de organização interna se dá bianualmente, através de


reuniões extraordinárias em que a comunidade aponta os nomes possíveis
para concorrer à diretoria da Associação, geralmente chapa única, mas já
houve momentos com até três candidatos. No estatuto, estabelece-se que na
eleição de qualquer pauta votada se dá a partir do cálculo de maioria 50% mais
1.

Ainda com relação à organização comunitária, pontuamos o grupo de


mulheres que formaram o Coletivo de Mulheres Quilombolas (CMQ), criado
para a realização de atividades culturais e recreativas, além da mobilização de

4
Entrevista de Sidney Gomes Ferreira, concedida ao ECQ em 23/01/2021.
5
Idem.
políticas públicas para o território.6

Sem dúvidas, não podemos deixar de pontuar a mobilização e


organização comunitária dos grupos de futebol do Território, que são
responsáveis pela geração de entretenimento loca, qualidade de vida e saúde,
acesso ao esporte e empoderamento feminino através da consolidação de um
time feminino local, que também tem revela talentos a nível regional 7.

8.4 Recursos Ambientais Naturais

O Território das comunidades Barra II estende-se por uma margem da


estrada rural xx, em glebas da União e do Estado da Bahia, sendo o território
quilombola mais próximo a zona urbana do município de Morro do Chapéu. O
desenvolvimento dessas comunidades está pautado no equilíbrio e convívio
entre a população, meio ambiente e agroecologia. A interação
homem/natureza/agricultura é de extrema importância para a preservação e
continuidade da existência da vida biótica dessa área, sendo notável a
necessidade de ações humanas conscientes na construção de uma
comunidade sustentável.

No território abrangido pelas comunidades, existem diversas Áreas de


Proteção Permanente (APP’s), das quais têm-se nascentes, rio, faixa de
passagem de inundação (baixões) e áreas de relevo ondulados (BRASIL,
2012). Algumas dessas APP’s estão situadas na área de abrangência da Bacia
Hidrográfica do Rio Piauí, o que exige um levantamento detalhado das
condições atuais dessas áreas.

6
Vide item aspectos Históricos, Culturais e Religiosos.
7
Vide item aspectos Históricos, Culturais e Religiosos.
Após a avaliação realizada nesses locais, observou-se que o Rio Piauí
se encontra em estado crítico de preservação, uma vez que segundo o Código
Florestal Brasileiro, os cursos d’água com largura de 10 m a 50 m, devem
possuir faixa marginal de 50 m (BRASIL, 2012). Entretanto, na APP avaliada, a
faixa marginal não correspondia a indicada anteriormente.

Fig. 43: Área de Proteção Permanente (Rio Piauí) encontrada próxima a


comunidade Barra II.

Acervo de pesquisa, 2021.


Sendo assim, observa-se a importância da vegetação para a
manutenção e preservação dessas APP’s, uma vez que as plantas
proporcionam diminuição da erosão, e consequentemente impedem o
assoreamento dessas áreas, assim como auxiliam na infiltração da água no
solo, favorecendo a manutenção dos mananciais subterrâneos e fluviais
(MEDEIROS et al., 2015).

8.4.1 Paisagem Física

8.4.1.1 Baixões

Os Baixões abrangem as áreas baixas desse conjunto de relevo da


comunidade Barra II e têm por principal característica situarem-se no envolto
dos córregos, trincheiras e do rio. Dessa forma, os Baixões do território de
Barra II constituem-se das principais áreas úmidas da região, tornando-se as
terras mais adequadas para a atividade agrícola, além de um vasto
ecossistema e área de vegetação preservada.
Sendo assim, Aguiar e Gomes (2004) descrevem que:
A formação geológica desses locais é originária de rochas
sedimentares da Bacia do Parnaíba, representadas pelo
Grupo Serra Grande (arenitos e conglomerados) e
formações Pimenteiras (folhelhos e siltitos) e Cabeças
(arenitos e conglomerados), além dos Depósitos Colúvio-
Eluviais (areias, argilas e lateritos). As rochas do
embasamento cristalino afloram, apenas, numa pequena
área localizada no sul do município e são representadas
por filitos da Unidade Barra Bonita.

Figs. 44 e 45: Baixão em área de APP da comunidade Saco, próximo a PI


141.
Acervo de pesquisa, 2021.

Baixões com produção agrícola Baixões com produção agrícola perto


perto do Rio de Barra II. Acervo do Rio de Barra II.Acervo técnico
técnico 2023. 2023.

A exploração dos recursos naturais pelas pessoas do território de Barra


II ocorrer sempre e necessariamente de forma sustentável, e é inegável e
evidente a dependência direta que essa comunidade possui em relação aos
recursos naturais e a relação com meio ambiente para onde onde vivem. Tal
dependência decorre da importância desses recursos para fornecimento diário
de alimento e renda, da escala reduzida de exploração, acarretando baixa
mobilidade dessas comunidades e da continuidade no tempo das atividades,
que geralmente têm sido realizadas por dezenas de anos em um mesmo local.

Em virtude de tal dependência e das várias ações exercidas por


moradores dessas comunidades que podem alterar o ambiente, comunidades
tradicionais (incluindo-se Barra II) interagindo com o ambiente têm sido
denominados como sistemas socioecológico, por exemplo a utilização desses
baixões para atividade groecológica.

8.4.1.2 Morros

Nas áreas próximas à comunidade Barra II , o relevo é irregular


podendo ser observadas formações elevad diferentes, que são denominados
morros. Segundo a Resolução CONAMA 303/2002, define-se morro como:
“elevação do terreno com cota do topo em relação à base entre cinquenta e
trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento
(aproximadamente dezessete graus) na linha de maior declividade” (CONAMA,
2002, Art. 2º). Andrade-Lima (1981) e Lima (2002) dizem que, “nos morros
ocorre maior precipitação, devido às chuvas de convecção forçada, que
causam as chamadas chuvas de montanha”.

Fig. 46: Morro próximo a comunidade Saco, paralelo a estrada de acesso a

Lagoa Doce.
Acervo de pesquisa, 2021

8.4.2 Fauna e Flora

8.4.2.1 Flora

A vegetação presente na área do estudo pertence ao bioma Caatinga, o


qual se estende pelos estados do Piauí, Ceará, Bahia, Pernambuco, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais (PRADO, 2003).
Este bioma é característico de plantas xerófitas, as quais são adaptadas a
baixa pluviosidade de 500 mm a 1000 mm e grande estiagem, aspecto peculiar
do clima semiárido, o que acarretou em modificações das estruturas dessas
plantas, como formação de folhas modificadas (espinhos), assim como a queda
natural das folhas, além da formação de um tipo de cera na superfície da folha
denominada cutícula, que também é um fator importante que permitem uma
menor perda de água para o ambiente possibilitando assim a sobrevivência
dessas espécies nessa região. Dentre essas destacam-se o facheiro
(Pilosocereus pachycladus), a coroa-de-frade (Melocactus Zehntneri), o xique-
xique (Pilosocereus polygonus) e o mandacaru (Cereus jamacaru), sendo o
último um dos símbolos desse bioma (SANTOS, 2021).

Ainda segundo Santos (2021), as plantas presentes no bioma Caatinga


estão divididas nos estratos, herbáceos, arbustivos e arbóreos. A exemplo de
espécies herbáceas tem-se a macambira (Bromelia laciniosa), caroá
(Neoglasiovia variegata), e etc., enquanto as arbustivas têm-se o feijão bravo
(Cynophalla flexuosa (L.) J. Presl), marmeleiro (Croton sonderianus Müll. Arg.),
jatobá-de-porco (Hymenaea courbari lL.), bananinha (Annona leptopetala),
dentre outras (ROCHA et al., 2017).

Fig. 47: Vegetação presente na Localidade Saco.


Acervo de pesquisa, 2021.

Em relação as espécies arbóreas, podem ser citadas a carnaúba


(Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore), pau-d’arco (Tabebuia sp.), aroeira
(Myracrodruon urundeuva Allemão), catingueira (Poincianella bracteosa (Tul.)
L. P. Queiroz), umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), imburana de cheiro
(Amburana cearensis (Allemão.) A.C. Sm.), cajueiro (Anacardium occidentale
L), dentre outras (ROCHA et al., 2017).

Fig. 48: Carnaubeira (Copernicia prunifera). Fig. 49: Umbuzeiro

(Spondias tuberosa Arruda)


Acervo de pesquisa, 2021.

8.4.2.2 Fauna

A Caatinga é o único bioma restrito ao território brasileiro que possui


uma rica diversidade de animais adaptados às suas condições climáticas, o
que confere um elevado número de espécies que ocorrem exclusivamente
nessa região.

O território possui uma vasta variação de espécies de anfíbios


característicos das comunidades, sendo que nenhuma delas está listada como
ameaçada de extinção. Exemplos de espécies: sapo-cururu (Rhinella jimi), o
sapo-cururuzinho (Rhinella granulosa), o sapinho (Proceratophrys cristiceps),
as rãs (Leptodactylus macrosternum e Leptodactylus troglodytes).

Os anfíbios anuros da região da Chapada Diamantina destacam-se pela


considerável riqueza de espécies endêmicas, porém ainda desconhecidas,
muitas vezes restritas a 202 determinadas unidades de relevo e a sua inserção
geográfica em uma área que contempla três diferentes biomas brasileiros
(LEITE et al, 2005). O domínio morfoclimático das caatingas é um dos
domínios brasileiros menos investigados para os anuros (RODRIGUES, 2003).
Além das espécies possuírem um padrão de distribuição desigual
(LEWINSOHN & PRADO, 2002). A classe Anfíbia tem sua importância
ecológica por estar na base da cadeia trófica, a maioria como consumidores
secundários, controlando a grande população de insetos. Ainda como
consumidores terciários, como o Sapo (Rhinella jimi) e a Rã-pimenta
(Leptodactylus vastus), alimentando-se de roedores e serpentes. Todo o grupo,
por se situar na base da cadeia trófica, representa alimento para os
consumidores seguintes. Este grupo possui peculiares características
morfológicas e fisiológicas, uma delas é a respiração epitelial, o que os torna
sensíveis a fatores externos, como as mudanças ambientais, constituindo-se
um eficiente grupo indicador de qualidade ambiental (FEIO et al, 1998). Os
anfíbios possuem sua reprodução e nidificação de sazonalidade bem marcante.
Essencialmente os anuros necessitam de água para se reproduzir, logo estão
mais próximos a corpos d´água (riachos, lagoas e lagos artificiais), outras
espécies vivem abrigadas da desidratação climática e aguardam a estação de
fortes chuvas. A estreita relação com o ambiente faz com que os anfíbios
sejam considerados bioindicadores de variação nas condições ambientais, uma
vez que suas características ecofisiológicas (p. ex. pele permeável e ciclo de
vida bifásico) possibilitam marcada suscetibilidade a alterações de parâmetros
físico-químicos da água, bem como da estrutura da vegetação que os
circundam (VITT et al, 1990; WAKE, 1991). O Sapo (Rhinella jimi) pertencente
à família Bufonidae, pode ser considerado uma das EIA, pois costuma se
deslocar grandes distâncias para se alimentar, principalmente quando atraído
pelo alimento fácil. A presença de insetos e sua possível colisão com as pás do
gerador eólico pode, ao longo do tempo, ocasionar um aumento da população
do anuro, além do que, a presença de mais anfíbios, como presa, pode atrair
outros predadores como répteis, aves e mamíferos.

Fig.50: Sapo cururu, encontrando na região.

Acervo de pesquisa, 2021.

A área Quilombola apresenta vasta representatividade de espécies de


répteis, sendo lagartos, serpentes e quelônios, na qual esses répteis
apresentaram um elevado grau de endemismo. Entre as espécies de répteis
endêmicos que podem ser encontradas na região, tem-se o lagartinho
(Lygodactylus klugei), teiú (Tupinambis merianae), o lagarto-verde (Ameivula
ocellifera), camaleão (Chamaeleo chamaeleon), o calango (Tropidurus
semitaeniatus), a jararaca (Bothrops erythromelas), o lagarto-de-rabo-vermelho
(Vanzosaura multiscutata).

Na vertente de espécies de aves, entre as quais destacam-se


bacurauzinho-da-caatinga (Nyctidromus hirundinaceus), picapauzinho-pintado
(Picumnus pygmaeus),periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum), chorozinho-
da-caatinga (Herpsilochmus sellowi), casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata),
Cancão (Cyanocorax cyanopogon), corrupião (Icterus jamacaii), cabeça-
vermelho (Paroaria dominicana) e Anum (Synallaxis hellmayri). Algumas
espécies migrantes sempre são registradas nas comunidades, entre elas papa-
lagarta (Coccyzus melacoryphus) e a pomba-de-bando (Zenaida auriculata),
contudo os morcegos, juntamente com as aves, são os representantes da
fauna que mais sofrem impactos na região.

Fig. 51: Anum, pássaro bastante encontrado no território.

Acervo de pesquisa, 2021.

8.4.3 Recursos Hídricos

8.4.3.1 Comunidade Barra II

4.5. Recursos Hídricos 4.5.1. Águas Superficiais O Município de Morro do


Chapéu possui drenagens que pertencem a três grandes bacias hidrográficas.
A oeste, as drenagens fluem para a bacia do rio São Francisco (sub-bacia do
rio Jacaré), ao norte as drenagens estão inseridas na bacia do rio Salitre e a
sul e leste drenam as águas para a bacia do rio Paraguaçu. Dentre as
drenagens que cortam o município, destacam-se: o rio Jacaré, o rio Salitre e o
rio Jacuípe (CEI, 1994f). O rio Jacaré é uma drenagem intermitente que flui
para nordeste e faz o limite municipal oeste com América Dourada, João
Dourado e São Gabriel. O rio Salitre ocorre ao norte da área municipal, sendo
que suas nascentes estão ao norte da cidade de Morro do Chapéu. Trata-se de
uma drenagem intermitente com direção de fluxo para norte. O rio Jacuípe flui
na direção leste e ocorre no extremo leste da área municipal. Apresenta caráter
intermitente, em grande parte do trecho em que corre no Município de Morro do
Chapéu, adquirindo perenidade nas proximidades da divisa com o Município de
Piritiba. 4.5.2. Águas Subterrâneas No Município de Morro do Chapéu, podem-
se distinguir cinco domínios hidrogeológicos: formações superficiais
Cenozóicas, carbonatos/metacarbonatos, grupo Chapada
Diamantina/Estancia/Juá, metassedimentos/metavulcanitos e cristalino (Figuras
4 e 5). As formações superficiais Cenozóicas, são constituídas por pacotes de
rochas sedimentares de naturezas diversas, que recobrem as rochas mais
antigas. Em termos hidrogeológicos, têm um comportamento de “aqüífero
granular”, caracterizado por possuir uma porosidade primária, e nos terrenos
arenosos uma elevada permeabilidade, o que lhe confere, no geral, excelentes
condições de armazenamento e fornecimento d’água. Na área do município,
este domínio está representado por depósitos relacionados temporalmente ao
Quaternário (coberturas residuais) e Terciário-Quaternário (coberturas detrito-
lateriticas). A depender da espessura e da razão areia/argila dessas unidades,
podem ser produzidas vazões significativas nos poços tubulares perfurados,
sendo, contudo, bastante comum, que os poços localizados neste domínio,
captem água dos aqüíferos subjacentes. Os carbonatos/metacarbonatos
constituem um sistema aqüífero desenvolvido em terrenos com predominância
de rochas calcárias, calcárias magnesianas e dolomiticas, que têm como
característica principal, a constante presença de formas de dissolução cárstica
(dissolução química de rochas calcárias), formando cavernas, sumidouros,
dolinas e outras feições erosivas típicas desses tipos de rochas. Fraturas e
outras superfícies de descontinuidade, alargadas por processos de dissolução
pela água propiciam ao sistema porosidade e permeabilidade secundária, que
permitem acumulação de água em volumes consideráveis. Infelizmente, essa
condição de reservatório hídrico subterrâneo, não se dá de maneira
homogênea ao longo de toda a área de ocorrência. Ao contrário, são feições
localizadas, o que confere elevada heterogeneidade e anisotropia ao sistema
aqüífero. A água, no geral, é do tipo carbonatada, com dureza bastante
elevada. O domínio hidrogeológico denominado grupo Chapada
Diamantina/Estancia/Juá, envolve litologias essencialmente arenosas com
pelitos e carbonatos subordinados, e que tem como características gerais uma
litificação acentuada, forte compactação e intenso fraturamento, que lhe
confere além do comportamento de aqüífero granular com porosidade primária
baixa, um comportamento fissural acentuado (porosidade secundária de fendas
e fraturas), motivo pelo qual prefere-se enquadra-lo com mais propriedade
como aqüífero do tipo fissural e “misto”, com baixo a médio potencial
hidrogeológico. Os metassedimentos/metavulcanitos e cristalino têm
comportamento de “aqüífero fissural”. Como basicamente não existe uma
porosidade primária nestes tipos de rochas, a ocorrência de água subterrânea
é condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas e
fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de
pequena extensão. Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por
poços são pequenas e a água, em função da falta de circulação, dos efeitos do
clima semi-árido e do tipo de rocha, é na maior parte das vezes salinizada.
Essas condições definem um potencial hidrogeológico baixo para as rochas,
sem, no entanto, diminuir sua importância como alternativa no abastecimento
nos casos de pequenas comunidades, ou como reserva estratégica em
períodos de prolongadas estiagens
Há alguns anos atras havia uma política de construção de barreiros no
território de Barra II onde tem-se baseado no conceito de que, desde que a
ausência de água era por definição um problema de falta de água, a situação
deveria ser resolvida com a acumulação de água em grandes quantidades, o
que tem sido chamado de "solução hidráulica". É de chamar a atenção o fato
de que, até bem pouco tempo, a grande maioria dos barreiros ou trincheiras
tem sido escassamente usada, porque não se pensam mais seriamente de que
maneira essa água chegaria a todos os usuários da comunidade. Argumenta-
se, nesta região de Barra II, que um dos aspectos negligenciados pelos
planejadores físicos tem sido a natureza disseminada da demanda de água
que torna inconveniente a concentração da oferta em um limitado número de
grandes poços particulares ou apoio público para com as famílias da
comunidade.

A Lagoa Doce, como mostra a figura abaixo, tem origem natural e está


situada em depressões de rochas impermeáveis na comunidade Barra II,
produzidas por causas diversas e sem conexão com o Rio Piauí. Essas águas
são provenientes da chuva, de uma nascente local de cursos de água chamada
Lagoa Grande essa no período de cheia desagua na lagoa doce. Contudo
antes dessa água chegar a comunidade Barra II , proprietários privados fizeram
barreiras para que as águas da mesma assim interferindo no fornecimento de
água das mesmas na comunidade e nas lavouras próximas, assim havendo um
pequeno barramento.

Fig. 52 e 53. Lagoa Doce que abrange a comunidade Saco.

Acervo de pesquisa, 2021.

A localidade Barra II possui um tanque chamado popularmente de


“Tanque do Baixão” localizado estrategicamente próximo a produção agrícola
da família XXX logo atrás das principais residências da comunidade. Este
tanque foi construído com intuito de dar água aos animais silvestres e
domésticos, banho de pessoas e prevenção de combate à seca na região.

Fig. 54: Tanque da Comunidade Saco


Acervo de pesquisa ,2021.

A comunidade saco está inserida numa das áreas de menor precipitação


do semiárido nordestino, conhecida como “polígono da seca”. A área de estudo
se insere na sub-bacia do rio Canindé na região hidrográfica do Parnaíba”
(AGUIAR; GOMES, 2004). Contudo possui um lençol freático fértil, a
comunidade é abastecida por um poço artesiano que fica localizado na região
central da área da sede da comunidade Curtume, a qual tem uma boa elevação
239 m, com coordenadas 0798824° 9077769°, próximo a PI-141.

Fig. 55: Principal poço da comunidade Curtume.


Acervo de pesquisa, 2021

8.4.3.2 Comunidade Barra II

A Comunidade Barra II tem sua economia concentrada na agricultura


familiar, avicultura e mais recentemente, no comércio, sendo assim uma das
comunidades que tem sua importância no município. Para seu abastecimento
d’água, possui dois principais poços de profundidade entre 100 e 150 metros,
com amplo abastecimento, um localizado próximo à casa de farinha e outro
próximo ao leito do Rio Piauí.

Segundo a Associação Caatinga (2021):


A maioria dos rios na Caatinga é intermitente, ou seja,
correm apenas durante o período das chuvas, ficando
sem água corrente durante a estação seca. Os rios
perenes, aqueles que permanecem com água corrente o
ano todo, são menos frequentes. Um rio perene de
grande porte e bastante conhecido é o rio São Francisco.
Na formação dos rios, as nuvens de chuvas vindas do
litoral são barradas pelas serras e as chapadas mais
altas, onde a água da chuva se infiltra e escoa, originando
nascentes de encosta e pés de serra úmidos.

Esta área de limite do território quilombola é caracterizada pelo o


encontro de três formações agroambientais como córregos, tanques e leito do
Rio que passa dentro da comunidade, cada uma delas com propriedades que
influem no acesso e disponibilidade das reservas hídricas subterrâneas,
impactando diretamente na quantidade de poço e vazão de cada localidade.

Figs. 56 e 57: Poços artesianos localizados na sede da comunidade (A) e


próximo ao Rio Piauí.

Acervo de pesquisa, 2021.

As principais atividades econômicas e de subsistência (produção de


alimento) da comunidade, consistem principalmente na pesca artesanal,
agricultura de pequena escala, complementadas por criação de animais. Essas
na qual sofre influência nas proximidades do Rio.

A pesca na comunidade Curtume é bastante difundida em ambas as


culturas, ocorrendo geralmente de forma mais artesanal, ou seja, não utilizam
barcos por conta do baixo nível da água, utilizam algumas técnicas a beira do
rio como as técnicas de pesca bastante diversificadas, incluindo redes de
pesca de vários tipos (espera, arrasto, dentre outras), anzol e linha, espinhel
(vários anzóis atados a uma corda), tarrafas e armadilhas diversas, utilizadas
para capturar várias espécies de peixes.

Apesar da variedade de petrechos utilizados, as redes de pesca,


principalmente as redes de espera confeccionadas com material sintético
(nylon), têm sido muito utilizadas por pescadores do Território e ribeirinhos.

Segundo Campos (2019):

A popularização dessas técnicas possivelmente se deve a


seu maior rendimento em relação ao esforço de pesca na
comunidade, pois a rede pode ser mantida na água por
várias horas, sem a presença do pescador, que pode se
dedicar a outras atividades (ou mesmo utilizar
simultaneamente outras artes de pesca).

Apesar de sua pequena escala, a pesca artesanal na comunidade Saco


não é impactante, e ainda vale ressaltar que a pesca comercial quase não
existe na comunidade. A pesca que ocorre na área é apenas para fornecer
alimento para consumo interno e não para comercialização, sabendo assim os
ribeirinhos quilombolas a importância do leito do Rio próximo a comunidade.

Fig. 58. Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa ,2021.


Fig. 59: Leito do Rio Piauí que passa dentro da comunidade.

Acervo de pesquisa, 2021.

Referências
1. ↑ Prefeita de Morro do Chapéu toma posse Portal G1 - acessado
em 2 de janeiro de 2021
2. ↑ IBGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da
Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 5 dez.
2010
3. ↑ «IBGE Cidades. Estimativa Populacional de 2019». Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 1 de julho de 2019.
Consultado em 9 de setembro de 2019
4. ↑ http://www.uniregistro.com.br/cidades-do-brasil/bahia/
morrodochapeu/
5. ↑ «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do
Brasil» (PDF). Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2010.
Consultado em 11 de agosto de 2013
6. ↑ Ir para:a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 2004-2008».
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 11
dez. 2010
7. ↑ IBGE. IBGE - Cidades. Disponível em [1]. Acesso em março de
2014
8. ↑ Ir para:a b Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). «BDMEP -
série histórica - dados diários - temperatura mínima (°C) - Morro
do Chapéu». Consultado em 14 de julho de 2018
9. ↑ Ir para:a b INMET. «BDMEP - série histórica - dados diários -
temperatura máxima (°C) - Morro do Chapéu». Consultado em 14
de julho de 2018
10. ↑ INMET. «BDMEP - série histórica - dados diários - precipitação
(mm) - Morro do Chapéu». Consultado em 14 de julho de 2018
11. ↑ INMET. «NORMAIS CLIMATOLÓGICAS DO BRASIL».
Consultado em 14 de julho de 2018
Ligações externas

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