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Documentário é uma produção artística, via de regra um filme, não-ficcional, que se

caracteriza principalmente pelo compromisso da exploração da realidade. Isto não


significa que represente a realidade «tal como ela é»: o documentário, assim como o
cinema de ficção, é uma representação parcial e subjetiva da realidade.

História
Assim como a fotografia, o cinema veio como uma revelação. "As pessoas nunca tinham
visto imagens tão fiéis a seus temas e nem testemunhado movimento aparente que
transmitisse sensação tão convincente de movimento real."[1]

“A capacidade do filme de fornecer documentação rigorosa do que aparece diante da


câmara leva a pelo menos duas outras direções: ciência e espetáculo. Ambas começam
no cinema primitivo (aproximadamente de 1895 a 1906, quando o cinema narrativo
começa a predominar).”.[2]

Os Irmãos Lumière (Auguste e Louis) faziam pequenos documentários porque filmavam o


que era mais palpável no momento, ou seja, a realidade.

“Prevalecia um tom de exibicionismo, que diferia radicalmente tanto da ideia de


olhar para dentro de um mundo privado e fictício como do material documental usado
como prova cientifica. Esse exibicionismo também difere do documentário.” (NICHOLS,
2012, p. 121)

“Nem a ênfase na exibição (“cinema de atrações”) nem a ênfase na reunião de provas


(documentação científica) proporcionam uma base adequada para o documentário.”
(NICHOLS, 2012, p. 122)

Se houvesse uma trajetória linear das características do cinema primitivo até o


documentário, seria de esperar que o documentário se tivesse desenvolvido
paralelamente ao filme de ficção nos primeiros anos do século XX e não que
alcançasse amplo reconhecimento apenas no fim da década de 1920 e no começo da de
1930. (NICHOLS, 2012, p. 123)

Atualmente, há uma série de estudos cujos esforços se dirigem no sentido de mostrar


que há uma indefinição de fronteiras entre documentário e cinema de ficção,
definindo um gênero híbrido.

Conceito
“Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca
tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados sejam
familiares.”[3] "O discurso do filme documentário tem por característica sustentar-
se por acontecimentos reais. Trata efetivamente daquilo que ocorreu, antes ou
durante as filmagens, e não daquilo que poderia ter acontecido."[4]

"Os documentários costumam abordar questões sobre as quais existam interesses


sociais ou debates."[5] "A ação tende a se realizar mais no espaço cinematográfico
que no espaço cenográfico. Aquilo que na ficção é cenário passa a ser, no
documentário, um espaço real, um espaço do mundo, sobre o qual a câmara não exerce
domínio total."[6]

“Os documentários de questões sociais consideram as questões coletivas de uma


perspectiva social. As pessoas recrutadas para o filme ilustram o assunto ou dão
opinião sobre ele.” (NICHOLS, 2012, p. 205). “O argumento do documentário é quase
sempre aberto, porque filmar personagens reais, fatos e locações realistas envolve
o acaso, um elemento sempre presente nesse tipo de produção.”[7]

“O documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta, marcado por


várias etapas de seleção, comandadas pelas escolhas do realizador que podem ser
expostas integralmente - ou não - no produto final, após a montagem.[8] “Para cada
documentário, há pelo menos três histórias que se entrelaçam: a do cineasta, a do
filme e a do público”. (NICHOLS, 2012, p. 93).

“Públicos diferentes veem coisas diferentes; apresentar ou promover um filme de uma


determinada maneira pode preparar os espectadores a vê-lo de uma forma e não de
outra.”[9] "As ações filmadas tendem a escapar dos limites do enquadramento da
câmara. Fazendo com que o registro se torne muitas vezes incompleto, fragmentado".
[6] As suposições e expectativas que trazemos para o documentário também podem ter
um efeito significativo na maneira pela qual o recebemos.[10]

O documentário nos leva a uma experiência única, com os sons e imagens organizados
de tal forma que representa mais do que simples impressões passageiras. Passa a
representar conceitos abstratos, e de acordo com a bagagem cultural do espectador
se terá um determinado ponto de vista que pode ser ou não o que se quis expor.
(NICHOLS, 2012, p. 98) “No documentário, a tendência a explorar uma montagem
expressiva, em contraposição à montagem narrativa, é consequência direta da própria
natureza das imagens disponíveis ao montador.”

linha do tempo:
Anos 1920
Nanook, o Esquimó - Robert Flaherty
É, no entanto, nos anos 1920 que se começa a consolidar uma ideia de documentário.
Um dos primeiros filmes associados ao gênero é O Esquimó de Robert Flaherty,
herdeiro dos populares travelogues do início do século XX.

Apesar de pioneiro, o trabalho de Flaherty está algo longe da noção que temos hoje
de documentário. Parte das filmagens de «Nanook» foram encenadas para a câmara, e
não apenas documentadas espontaneamente. Apesar de ilustrar certos aspetos da vida
dos inuit, a representação daquele povo é simplista na forma como aborda as
complexidades da sua estrutura social, para mais facilmente ser compreendido à luz
dos padrões culturais americanos. O retrato que Flaherty faz dos inuit é
essencialmente romântico, já que tende a filmar um modo de vida de um ponto de
vista intemporal, que não correspondia exatamente ao quotidiano destes indígenas.
Esta intemporalidade é aquilo que mais caracteriza «Nanook», pois implica o
sacrifício da espontaneidade nas filmagens para transmitir uma ideia ocidental do
bom selvagem.

O Homem da Câmara de Filmar - Dziga Vertov


Flaherty era intuitivo e pragmático, mas não era um teórico. Um dos mais férteis
teóricos dos anos 1920 foi sim Dziga Vertov, que desenvolveu a sua obra e teoria
por volta desta mesma altura. A obra de Vertov insere-se num contexto político
muito oposto ao de Flaherty. Os filmes de Vertov são claramente políticos, apesar
de também terem uma componente poética e estética.

O cinema soviético do início do século foi marcado pelo socialismo e pela sua
propaganda. Visto como um meio de agitação das massas, beneficiou de um
investimento que não teria sido possível caso não fosse visto como um importante
instrumento de educação de uma população isolada e analfabeta.

O trabalho de Vertov distinguiu-se devido à sua experimentação com a imagem, para


além da montagem (cuja exploração caracteriza, em geral, os mais proeminentes
cineastas soviéticos da altura). O essencial da sua teoria foi o conceito de Cine-
Olho, uma forma particular de observação apenas possível devido ao uso do
dispositivo cinematográfico. Não estando limitada pelas capacidades humanas, a
câmara era superior ao olho humano na apreensão da realidade. Esta superioridade do
Cine-olho permitiu a Vertov desenvolveu uma nova estética baseada no desafio às
capacidades de perceção do olho humano, nomeadamente com os ângulos improváveis que
este cineasta utiliza – à semelhança da fotografia de Rodchenko, na qual o cineasta
se inspirou.
É com Homem da Câmara de Filmar, a sua obra mais emblemática, que Vertov produz o
primeiro filme não-ficcional entendido como tal, estando plenamente consciente
disso, como provam os créditos que iniciam a película, e que anunciam ao espectador
que o filme que está prestes a ver foi executado sem recurso a cenários, guiões ou
atores. Vertov trata a materialidade da vida e a autorreflexividade do cinema. Para
este cineasta, a imagem é “a arte do facto”, conceito que nasceu do Construtivismo
que, assim como as vanguardas europeias do início do século XX, influenciaram o seu
trabalho. E é essa mesma forma de abordar a materialidade e de filmar a realidade
que irá influenciar, quatro décadas mais tarde, os cineastas do cinéma vérité.

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