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4.

Atualização ou desconto de capitais

4.1. Definição e tipologias

Atualização (desconto ou resgate) de determinado capital a receber no


futuro (valor nominal) consiste no cálculo do valor atual desse montante.
Corresponde, portanto, a uma operação inversa à operação de
4 – Atualização ou desconto de capitais capitalização de um certo capital.

4.1 - Definição e tipologias Atualização (desconto ou resgate) é a redução sofrida por um dado
4.2 - O conceito de taxa de desconto (d) capital durante um certo espaço de tempo, ou seja, é o preço a pagar por
se dispor de um capital antes do vencimento.
4.3 - O caso particular das Letras
Podemos dizer então que atualizar um valor é reportá-lo a um momento
anterior; capitalizar um valor é reportá-lo a um momento posterior.

Assim, o fator de atualização será o inverso do fator de capitalização.

Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 1 Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 2

4. Atualização ou desconto de capitais 4. Atualização ou desconto de capitais

4.1. Definição e tipologias 4.1. Definição e tipologias

Admitamos uma dívida de 1.000 euros, com vencimento daqui a um O que importa compreender é que, em qualquer dos casos, vai ser
ano, e os dois casos seguintes: necessário estabelecer uma equivalência entre os capitais envolvidos:
ü o capital que deve ser pago daqui a 2 anos (situação 1), seguramente
1. O devedor deseja diferir o pagamento da dívida por um ano, isto é, pagá-la superior a 1.000 €;
somente daqui a dois anos (um ano depois da data inicialmente prevista).
ü o capital que deve ser pago hoje mesmo (situação 2), seguramente inferior
Parece razoável admitir que, nessa data (daqui a dois anos), pague um valor
a 1.000 €.
superior a 1.000 € (uma vez que está a pagar mais tarde, deve pagar mais o
juro desse ano). Esquematicamente,
Quanto, exatamente? Depende da taxa de juro adotada.

2. O devedor deseja antecipar o pagamento da dívida um ano, isto é, pagá-la


hoje mesmo (um ano antes da data inicialmente prevista). Parece razoável
admitir que, nesta data (hoje mesmo), pague um valor inferior a 1.000 €
(uma vez que está a pagar mais cedo não deve pagar o juro desse ano).
Quanto, exatamente? Depende da taxa de juro (atualização) adotada.
Fonte: Matias (2015)
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4.1. Definição e tipologias 4.1. Definição e tipologias

Podemos dizer que a equivalência entre capitais pode ser obtida LEGENDA:
capitalizando (reportando-os a um momento posterior) e ou atualizando
c - capital nominal, reportado ao (ou com vencimento) no momento 0;
(reportando-os a um momento anterior).
c'- capital atual ou valor atualizado de c: capital equivalente a c, reportado a um
momento anterior (digamos, n períodos antes, genericamente designado por -n)
a uma determinada taxa de atualização (também chamada taxa de desconto);

S - capital acumulado ou valor capitalizado de c: capital equivalente a c,


reportado a um momento posterior (digamos, n períodos depois, genericamente
designado por n) a uma determinada taxa de juro;

D - desconto (parcela a abater a c para obter c', ou seja, c’ = c – D);

j - juro (parcela a adicionar a c para obter S, ou seja, S = c + j, expressão


certamente já familiar).
Fonte: Matias (2015)

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4.1. Definição e tipologias 4.1. Definição e tipologias

Conclusão... Assim sendo... pode ser necessário:


D e j e, consequentemente, c' e S dependem de 3 fatores: c, n e i (taxa de
atualização ou taxa de juro). ü atualizar todos os capitais (se a data focal for anterior ao
vencimento de todos eles);
Vamos ver como tornar equivalentes dois (ou mais) capitais, quer em
RJS, quer em RJC. ü capitalizar todos os capitais (se a data focal for posterior ao
vencimento de todos eles);
A equivalência é efetuada para um determinado momento, designado
por data focal da operação de equivalência. ü atualizar alguns capitais e capitalizar outros (se a data focal for um
momento intermédio relativamente a todos eles).

Momento para o qual é efetuada a equivalência de capitais, Se a data focal coincidir com o vencimento de algum capital, este não
ou seja, para o qual são reportados todos os capitais será atualizado nem capitalizado.
envolvidos.

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4.1. Definição e tipologias 4.1. Definição e tipologias

Existem duas conceções quanto forma de atualizar valores... através da Resumindo:


chamada abordagem comercial ou da chamada abordagem racional.

Assim, existem seis formas de efetuar a equivalência de capitais:

ü Capitalização em RJS => capitalização simples (CS)


ü Capitalização em RJC => capitalização composta (CC)
ü Atualização (ou desconto) em RJS, via abordagem comercial => desconto
comercial simples (DCS)
ü Atualização (ou desconto) em RJS, via abordagem racional => desconto
racional simples (DRS)
ü Atualização (ou desconto) em RJC, via abordagem comercial => desconto
comercial composto (DCC)
ü Atualização (ou desconto) em RJC, via abordagem racional => desconto
racional composto (DRC) Fonte: Matias (2015)

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS: Atualização ou desconto em RJS:

O capital equivalente, c', a um outro capital, c, n períodos antes do Existem duas abordagens ou conceções para calcular o valor D, em RJS:
vencimento deste, à taxa i é, genericamente, c’ = c - D.

Em esquema: 1. Abordagem comercial => desconto por fora, assume-se que a taxa i
incide sobre o capital nominal, c.

D = c n i => Desconto Comercial Simples (DCS)

2. Abordagem racional => desconto por dentro, assume-se que a taxa


i incide sobre o capital atual, c'.

D = c‘ n i => Desconto Racional Simples (DRS)


Fonte: Matias (2015)

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS)

O DCS é o mais utilizado na prática (p.ex. no desconto bancário de letras),


muitas vezes também chamado desconto por fora (Df), no qual a taxa i
incide sobre o capital nominal, c:

DCS = Df = cni
Assim:
Na solução comercial a taxa incide sobre o valor nominal c, o qual é, c’cs = c - DCS ; DCS = cni
obviamente, superior ao valor atual comercial simples c’cs c’cs = c – cni

No fundo, é como se a taxa efetivamente subjacente à operação fosse Então:


superior à taxa anunciada.
c’cs = c ( 1– ni ) => Valor (ou capital) atual comercial simples
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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS)

Como calcular a Taxa de Desconto Comercial Simples (dCS):


c’cs = c ( 1– ni ) => Valor (ou capital) atual comercial simples
É a taxa que, aplicada ao capital atual c’cs, permite obter, após o mesmo
prazo, no mesmo regime de capitalização (RJS) o capital nominal c.
Representando essa taxa por (dCS), temos:
Deste modo, para atualizar um capital em RJS, segundo a solução
comercial, basta multiplicá-lo pelo fator (1-ni), que é o chamado fator de
atualização de um capital único em RJS segundo a solução comercial ou,
simplesmente, fator de atualização comercial simples:

FACS n; i % = (1 – ni)

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS)

Como calcular a Taxa de Desconto Comercial Simples (dCS): Conclusões importantes relacionadas com a Taxa de Desconto
Comercial Simples (dCS):
Pretendemos, encontrar a taxa d CS. que transforma o capital c’cs, no
capital c, n períodos depois, com n e d CS expressos na mesma unidade de
tempo, ou seja: Ø A taxa de desconto comercial simples (dCS) é superior à taxa
contratada, i => (dCS > i )

Ø A taxa de desconto comercial simples depende de (varia com) n,


sendo que quanto maior for n, maior é a diferença entre d CS e i, ou
seja, em desconto comercial simples, cada data focal conduz a uma
taxa real diferente.

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS)

Exemplo 1: Resolução:
Uma empresa tem uma dívida de 10.000 €, com vencimento daqui a 3 Esquematicamente:
anos. Em desconto comercial simples:
Se pretender antecipar o pagamento desta dívida, quanto deve pagar c’cs = c ( 1 – ni)
hoje, assumindo que foi acordada a taxa anual de 6% e a utilização do
desconto comercial simples?
Determine igualmente a taxa de desconto associada a esta operação.
Neste caso, c’cs = 10.000 (1 – 3 x 0,06) = 8.200 €

Ou seja, nas condições estipuladas, a empresa deve pagar hoje 8.200 € em


substituição do pagamento de 10.000 € daqui a 3 anos.
Contudo, vejamos o ponto de vista do credor...
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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS)

Resolução: Resolução:
Contudo… do ponto de vista do credor, ele recebe hoje 8.200 € em vez de Em linguagem matemática temos: 8.200 (1 + 3 x 0,06) = 9.676 €
receber 10.000 € daqui a 3 anos.
Conclusão: para que atinja os mesmos 10.000 € no final dos 3 anos, o
Será esta uma situação financeiramente equivalente? credor tem de conseguir aplicar os 8.200 € a uma taxa de juro mais elevada.

Será que se ele aplicar os 8.200 € hoje, à mesma taxa de juro anual (6%) Como podemos encontrar essa taxa de desconto dCS ?
durante o mesmo prazo (3 anos) no mesmo regime de capitalização (RJS)
obtém no final os 10.000 €? 8.200 (1 + 3 dCS) = 10.000
1 + 3 dCS = 1,219512
dCS = 0,073171 = 7,3171%

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJS => Desconto Comercial Simples (DCS) Atualização ou desconto em RJC => Desconto Racional Composto (DRC)

Resolução: O desconto racional composto é o que se utiliza na prática, de forma


Como podemos encontrar essa taxa de desconto dCS ? generalizada.
Consiste simplesmente em efetuar a operação inversa da capitalização em
OU… simplesmente usar a fórmula da taxa de desconto comercial simples RJC, a qual resulta da aplicação do fator (1 + i)n.

Assim, para atualizar um capital c, basta dividi-lo por (1 + i)n ou, o que é o
mesmo, multiplicá-lo por (1 + i)-n, que é precisamente o fator de atualização
de um capital único em RJC, segundo a solução racional ou simplesmente
fator de atualização racional composta (FARC n; i% ).

FARC n; i% = (1 + i)-n

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJC => Desconto Racional Composto (DRC) Atualização ou desconto em RJC => Desconto Racional Composto (DRC)

Deste modo, a taxa de desconto associada ao desconto racional


C’rc = c ( 1 + i )-n => Valor (ou capital) atual racional composto composto, drc, será necessariamente igual a i.
De facto, drc será uma taxa tal que aplicada ao capital c’rc, resulte no
capital c, após n períodos de capitalização em RJC.

Note-se que coincide com a taxa anunciada (drc = i),


pelo que a equivalência segundo o desconto racional composto é perfeita.

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.2. O conceito de taxa de desconto (d)
Atualização ou desconto em RJC => Desconto Racional Composto (DRC) Atualização ou desconto em RJC => Desconto Racional Composto (DRC)

Resolução:
Exemplo 2:
c = 10.000
Uma empresa tem uma dívida de 10.000 €, com vencimento daqui a 3
anos. n = 3 anos c’ rc = c (1 + i) –n = 10.000 (1 + 0,06) -3 = 8.396,19 €
Se pretender antecipar o pagamento desta dívida, quanto deve pagar İ = 6% a.a.
hoje, assumindo que foi acordada a taxa anual de 6% e a utilização do
desconto racional composto? Quanto à taxa de desconto, ela será drc tal que:
Determine igualmente a taxa de desconto associada a esta operação. 8.396,19 (1 + d rc)3 = 10.000
(1 + d rc) 3 = 1,191016
1 + d rc = 1,191016 1/3
d rc = 0,06 = 6% drc = i

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4.2. O conceito de taxa de desconto (d) 4.3. O caso particular das letras
FATORES DE EQUIVALÊNCIA => Quadro resumo Um caso concreto de uma operação de desconto comercial simples, ainda
que com algumas especificidades, encontra-se no desconto bancário de
letras.

Nos termos do art.º 5.º, n.º 1, do Dec.-Lei n.º344/78, de 17 de novembro:


"Nas operações de desconto de letras, extratos de fatura e warrants, as
instituições de crédito poderão cobrar antecipadamente a importância dos juros,
por dedução ao valor nominal dos efeitos".

A letra é um título de crédito no qual consta o montante da divida (valor


nominal da letra = L) e a respetiva data de vencimento.

Fonte: Matias (2015)


O valor nominal reporta-se à data de vencimento.
Nota: Cada um destes fatores se aplica a um único capital.

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras
No entanto, o credor pode pretender realizar antecipadamente aquele Genericamente, na ótica do cliente da instituição bancária (credor), temos:
valor, que em rigor não será exatamente aquele valor, dado que vai ser
recebido num momento anterior ao seu vencimento, sendo pois razoável
esperar que receba um valor inferior àquele.

O desconto bancário é, assim, uma operação de desconto através da qual o


portador da letra recebe da instituição bancária, antes da data do Estamos perante uma operação de atualização ou desconto (PLD < L) que é
vencimento, o valor nominal (L) deduzido de uma parcela que é composta efetuada segundo os princípios do desconto comercial simples, uma vez
por encargos legais ou contratuais (A) estipulados para a operação. que os juros são calculados sobre o valor nominal (L), e cobrados
antecipadamente.
A diferença entre o valor nominal da letra (L) e os encargos cobrados (A)
designa-se habitualmente por produto líquido do desconto da letra (PLD), O que acontece é que o desconto bancário de letras apresenta algumas
sendo este o montante efetivamente recebido pelo portador da letra. particularidades que se prendem com outros encargos, legais e contratuais,
que são deduzidos ao valor nominal (por exemplo, comissões e impostos).

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras
Os encargos mais frequentes são os seguintes:
Juro (J) ou Desconto por fora (Df):
ü O juro (desconto propriamente dito) que é calculado segundo as
regras do desconto comercial simples ou desconto por fora. Trata-se do juro relativo ao prazo de antecipação do recebimento,
Será representado por J ou Df ; calculado segundo a conceção comercial em regime de juro simples, pelo
que a sua forma de cálculo é a seguinte:
Como n está expresso em dias e i em anos, é
ü A comissão de cobrança, que será representada por Cc;
necessário dividir n por 360, para que fiquemos
com n e i expressos na mesma unidade de
ü O imposto do selo, que representaremos por IS; tempo.
L - representa o valor nominal da letra, reportado à data de vencimento;
ü Despesas eventuais, também designadas por portes, que n - representa o número de dias que medeiam entre a data da apresentação da
representaremos por P. letra a desconto ("data-valor”) e a sua data de vencimento, acrescido de 2 dias;

i - representa a taxa de juro anual utilizada pelo banco.


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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Juro (J) ou Desconto por fora (Df): Comissão de cobrança (Cc):


Mas... porquê o n acrescido de 2 dias? Trata-se de uma comissão bancária, ou seja, é o preço de um serviço
prestado pelo banco, expresso através de uma percentagem ou permilagem
Porque, nos termos do art.º 38.º da Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças:
do valor nominal da letra, como segue:
"O portador de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista
deve apresentá-la a pagamento no dia em que ela e pagável ou num dos dois dias
úteis seguintes”.
Cc = L iCc

Ou seja, a legislação permite que o pagamento da letra seja efetuado até ao 2.º dia em que iCc representa a percentagem ou permilagem a que é calculada a
útil posterior ao seu vencimento.
comissão de cobrança, a qual varia de banco para banco, de acordo com
O banco, ao aceitar a operação de desconto, assume desde logo que o devedor vai fatores como, por exemplo, o facto de a letra ser domiciliada ou não, com
aproveitar esta faculdade que a lei lhe confere e repercute imediatamente esse
ou sem protesto, tendo geralmente valores máximos e mínimos.
facto sobre o seu cliente (que descontou a letra), incluindo esses dias no cálculo de
Df.

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Comissão de cobrança (Cc): Imposto do Selo (IS):


Vejamos uma tabela exemplificativa: Trata-se de um encargo fiscal, imposto por lei.
Ao contrário de J, Cc e P, que são receitas do banco, o IS é uma receita do
Estado.
Incide sobre o juro (Desconto por fora) e a comissão de cobrança, ou se]a:

IS = iS (J + Cc)

O valor da comissão de cobrança será o resultado da aplicação da Em que iS representa a taxa a que é calculado o Imposto do Selo nestas
respetiva taxa ao valor nominal da letra desde que esse resultado se situe operações.
dentro dos limites indicados para cada caso. Atualmente é de 4%.
Se assim não for, prevalece o limite mais próximo (mínimo ou máximo).
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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Portes (P): Desta forma, designaremos o total dos encargos, J + Cc + IS + P, por ágio
(A):
Trata-se de uma rubrica residual.
A = J + Cc + IS + P
Alguns bancos, como regra geral, não cobram portes se a letra for
domiciliada, enquanto que se o não for, os portes variam geralmente entre
1 e 2 euros. A diferença entre o valor nominal da letra (L) e o ágio (A) é vulgarmente
designada por produto líquido do desconto (PLD):
Não tem, por isso, nenhuma forma de cálculo específica.
PLD = L – A

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Exemplo 3: Resolução:

Qual e o valor líquido que se obtém ao descontar uma letra de 3.600 €, 28 J = 3.600 x (28 + 2) x 0,11
dias antes do seu vencimento, à taxa de juro anual de 11%, tendo a 360
comissão de cobrança sido calculada à taxa de 1,75%, o imposto do selo à Cc = 3.600 x 0,0175 = 63,00 €
taxa de 4% e os portes ascendido a 2 euros?
IS = 0,04 x (33,00 + 63,00) = 3,84 €
P = 2,00 €
A = 33,00 + 63,00 + 3,84 + 2 = 101,84 €
PLD = L - A = 3.600 - 101,84 = 3.498,16 €

O valor líquido obtido foi de 3.498,16 €

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Custo efetivo para o cliente e retorno efetivo para o banco Custo efetivo para o cliente e retorno efetivo para o banco

Na perspetiva do cliente, uma operação de desconto bancário de letras Na perspetiva do cliente, temos:
apresenta um custo efetivo claramente superior ao representado pela taxa i
utilizada no cálculo do juro, J (Df):

Ø Porque se utiliza o desonto comerial simples ao qual está associada


a taxa de desconto dcs, que, como sabemos, é superior à taxa i;
Ø Porque se consideram, no mínimo, mais dois dias para além dos que Deste modo, o custo efetivo para o cliente numa ótica de juro simples
efetivamente decorrem entre a data de apresentação da letra a pode ser representado por uma taxa, i’ cs , tal que:
desconto e a data do seu vencimento;
Ø Porque são cobrados ao cliente outros encargos para além do juro, J
(Df), nomeadamente, Cc, IS e P. O cliente recebe apenas, no
momento do desconto, PLD. Assim, na —tica do cliente, temos:
Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 43 Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 44
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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Custo efetivo para o cliente e retorno efetivo para o banco Custo efetivo para o cliente e retorno efetivo para o banco

Os quatro encargos referidos (J, Cc, IS, P) são custos para o cliente.
Na perspetiva do banco, o retorno efetivo numa ótica de juro simples pode
No entanto, nem todos são receitas do banco, nomeadamente, o Imposto ser representado por uma taxa, i’ bs, tal que:
do Selo que é uma receita do Estado.

Assim, na perspetiva do banco, o retorno efetivo proveniente de uma


operação de desconto bancário de letras não é exatamente igual ao custo
efetivo para o cliente (será um pouco inferior) Graficamente:

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4.3. O caso particular das letras 4.3. O caso particular das letras

Exemplo 4: Resolução:
a) O custo efetivo para o cliente (ótica de juro simples)
Numa operação de desconto de uma letra de 3.600 €, 28 dias antes do seu
vencimento, à taxa de juro anual de 11%, tendo a comissão de cobrança PLD ( 1 + n i’cs ) = L
sido calculada à taxa de 1,75%, o imposto do selo à taxa de 4% e os portes 3.498,16 (1 + 30/360 i’cs ) = 3.600
ascendido a 2 euros, determine, numa ótica de juro simples:
i’cs = 0,349349 = 34,93%

a) O custo efetivo para o cliente

b) O retorno efetivo para o banco

Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 47 Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 48
4. Atualização ou desconto de capitais

4.3. O caso particular das letras

Resolução:
b) O retorno efetivo para o banco (ótica de juro simples)

(PLD + IS ) ( 1 + n i’bs ) = L
( 3.498,16 + 3,84 ) (1 + 30/360 i’bs ) = 3.600
i’cs = 0,335808 = 33,58%

Conclusão:
É natural que i’cs > i’bs pois no cálculo do custo efetivo para o cliente entra
um encargo que não é receita do banco (o Imposto do Selo).

Bruno Pereira - ESTGF LSOL/1º ano 49

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