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Ceará e Maceió
Ceará e Maceió
EIXO TEMÁTICO:
( ) Ambiente e Sustentabilidade (X) Crítica, Documentação e Reflexão ( ) Espaço Público e Cidadania
( ) Habitação e Direito à Cidade ( ) Infraestrutura e Mobilidade ( ) Novos processos e novas tecnologias
( ) Patrimônio, Cultura e Identidade
(1) Professora Doutora, Universidade Federal do Ceará, UFC Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Fortaleza,
CE, Brasil, e-mail: bhdiogenes@yahoo.com.br
(2) Professora Doutora, Universidade Federal de Alagoas, UFAL – PPG, Maceió, AL, Brasil; e-mail:
mrmontei@hotmail.com
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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
RESUMO
As regiões metropolitanas de Fortaleza e Maceió dos estados do Ceará e Alagoas, têm experimentado
nas últimas décadas, processos urbanos novos, em conformidade com fenômenos recentes de
urbanização, ocorridos em outras aglomerações urbanas do Brasil e do mundo. A expansão urbana
verificada nos dois casos obedece a uma tendência geral, ao apresentar morfologias espaciais ligadas
aos processos de urbanização contemporânea, que resultam no fenômeno da dispersão urbana, cuja
configuração difere do modelo verificado até o final da década de 1970, apresentando novos padrões de
uso e ocupação territorial e intensa transformação no tecido urbano. No âmbito dessa expansão urbana
e metropolitana, destacam-se grandes empreendimentos relacionados à atividade turística, voltados
para as classes de média e alta renda e característicos de um novo modo de vida da população. Esses
empreendimentos, viabilizados com o apoio do Estado, de um modo geral, contribuem para a formação
de núcleos dispersos ao longo do litoral, ensejando mudanças significativas na região. O objetivo do
artigo é abordar o fenômeno da dispersão urbana a partir do diálogo entre as experiências ocorridas nas
regiões metropolitanas de Fortaleza e Maceió, relacionadas às atividades turísticas.
PALAVRAS-CHAVE: Fortaleza, Maceió, Região Metropolitana, atividade turística, dispersão urbana
ABSTRACT
The metropolitan areas of Fortaleza and Maceio, located in the states of Ceara and Alagoas, by the
atlantic coast of Brazil, have experienced new urban changes in the last decades. Changes that are
similar to other urbanization processes that have ocurred in Brazil and in the world. The urban expansion
verified in the these two cases follows a general trend, presenting spacial morphologies that are
connected to urbanization processes triggered by global dynamics, which results into an urban dispersion
phenomenon. These new type of urban configuration differ from the models identified by the end of the
70’s decade because they present new patterns in the occupance and use of the territory, besides intense
configuration in the urban fabric of the region. Within this metropolitan and urban expansion, large
touristic enterprises take the space, becoming a clear characteristic of middles and upper-class
population new life-style. These new touristic facilitie, contribute with the formation of dispersed centers
along the coastline, bringing significant changes to the region. This paper main objective is to discuss the
urban dispersion phenomenon by connecting dialogues of different experiences in the metropolitan
regions of Fortaleza and Maceio, related to their touristic activities.
KEY-WORDS: Fortaleza, Maceió, metropolitan area, touristic facilities, urban dispersion
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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
RESUMEN:
Las regiones metropolitanas de Fortaleza y Maceió de los estados de Ceará y Alagoas, han
experimentado en las últimas décadas, procesos urbanos nuevos, conforme a fenómenos recientes de
urbanización en otras agolmeraciones urbanas de Brasil y del mundo. La expresión urbana verificada en
ambos casos obedece a una tendencia general, al presentar morfologías espaciales ligadas a los procesos
de urbanización contemporánea, que resultan en el fenómeno de la dispersión urbana, cuya
configuración difiere del modelo verificado hasta el final de la década de 1970, presentando nuevos
patrones de uso y ocupación territorial e intensa transformación en el tejido urbano. En el ámbito de esa
expansión urbana y metropolitana, destacan grandes emprendimientos privados relacionados a la
actividad turística, orientados a las clases media y alta, y característicos de un nuevo modo de vida de la
población. Estos emprendimientos, viabilizados con el apoyo del Estado, contribuyen para la formación
de núcleos dispersos a lo largo de la costa, proporcionando cambios importantes en la región. El objetivo
del artículo es abordar el fenómeno de la dispersión urbana a partir del diálogo entre las experiencias
ocurridas en las regiones de Fortaleza y Maceió, relacionadas a las actividades turísticas.
PALABRAS-CLAVE: Fortaleza, Maceió, Región Metropolitana, actividad turística, dispersión urbana
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arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
1. INTRODUÇÃO
Desde as últimas décadas do século XX, os principais centros urbanos assistem a uma expansão
metropolitana intensa que promove mudanças significativas em curto intervalo de tempo. São
mudanças de caráter social (econômico, político e cultural), advindas da globalização, das
transformações do sistema produtivo, do desenvolvimento das atividades terciárias e da
infraestrutura de transporte e comunicações, as quais incidem, com maior ou menor
intensidade, sobre o espaço urbano.
As cidades perderam algumas das características principais que lhes foram atribuídas
historicamente. Os aglomerados compactos e densos, fisicamente limitados e distintos dos
territórios envolventes, são agora formações socioterritoriais complexas, de limites imprecisos
e com tendências de crescimento cada vez mais disperso. Novas dinâmicas urbanas foram
observadas de maneira diversa nos diferentes países, e, como resultado das mudanças
ocorridas, as metrópoles incorporaram atributos urbanos novos, em determinados casos, até
inéditos. Surgiram outras realidades urbanas, que emergiram no contexto da globalização e da
sociedade da informação.
De fato, a expansão da metrópole aumentou a complexidade dos espaços, fragmentando a
centralidade e estimulando um modelo de urbanização mais disperso, decorrente também da
segregação espacial e do aumento da mobilidade. O processo de urbanização contemporâneo
caracteriza-se, pois, principalmente, pela dificuldade de mensurar e controlar a forma, os
limites e o crescimento, uma vez que se estrutura de modo diferente do modelo dito
tradicional. A cidade, antes compacta, ganha novas configurações.
O fenômeno foi também observado no Brasil, em maior ou menor escala, em diferentes áreas
urbanas e metropolitanas. As regiões metropolitanas de Fortaleza (RMF)1 e de Maceió (RMM)2,
respectivamente com 3.610.379 e 1.156.278 habitantes3 – objeto deste estudo - conheceram,
nas últimas décadas, um processo intenso de urbanização, com evidente rebatimento no
tecido urbano, cujas formas diferenciadas, pedem melhor investigação, considerando as suas
especificidades.
As duas regiões, localizadas na costa atlântica, contam com atrativos paisagísticos, históricos e
culturais, que propiciaram o incremento da atividade turística, intensificado pelas políticas
nacionais de incentivo ao turismo como forma de desenvolvimento socioeconômico do país.
Apresentam morfologias semelhantes a urbanização desencadeada por dinâmicas globais, que
resultam no fenômeno da dispersão urbana4, cuja configuração difere do modelo verificado
1
A Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi criada em 1973 com cinco municípios: Fortaleza, Caucaia,
Maranguape, Pacatuba e Aquiraz. Atualmente possui 15, que foram incorporados progressivamente: Maracanaú
(1983), Eusébio (1987), Itaitinga e Guaiuba (1992), Chorozinho, Pacajus, Horizonte e São Gonçalo do Amarante
(1999) e Pindoretama e Cascavel (2009).
2
A Região Metropolitana de Maceió (RMM) foi criada vinte e cinco anos depois, em 1998, com 10 municípios:
Maceió, Rio Largo, Marechal Deodoro, Pilar, São Miguel dos Campos, Barra de São Miguel, Barra de Santo Antônio,
Messias, Satuba, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Paripueira. Em 2006, foi incorporado o município de São
Miguel dos Campos.
3
Conforme o Censo do IBGE 2010.
4
De acordo com REIS(2006), a dispersão urbana pode ser caracterizada pelo esgarçamento crescente do tecido dos
principais centros urbanos; pela formação de constelações ou nebulosas de núcleos urbanos e bairros, com
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até o final dos anos 1970, apresentando novos padrões de uso e ocupação territorial e intensa
transformação no tecido urbano, áreas em descontinuidade com a conurbação principal,
extensos espaços livres, e baixas densidades e que se apoiam nos diversos sistemas de
estrutura viária REIS (2006).
O objetivo do artigo é estabelecer um diálogo sobre o fenômeno da dispersão urbana a partir
de exemplos que ocorrem nas regiões metropolitanas de Fortaleza e Maceió, relacionados às
transformações urbanas decorrentes da atividade turística, buscando aspectos comuns e
especificidades em ambos processos, além de ensejar reflexões sobre práticas urbanas.
Desde os anos 1980, o crescimento das áreas metropolitanas, de modo geral, foi bastante
acelerado, sobretudo nas metrópoles latino-americanas, como consequência do fenômeno da
globalização e reestruturação produtiva, o que provocou “uma forte reestruturação na
morfologia das urbes modernas.” (DE MATTOS, 1999). No Brasil, o processo se iniciou nos
principais centros urbanos, mais intensamente no Sudeste, onde havia maior concentração de
investimentos e habitantes, estendendo-se posteriormente às demais regiões do país. Diversas
dinâmicas verificam-se atualmente nessas metrópoles, expressando espacialidades novas e
configurações urbanas inéditas, cada uma com níveis de complexidade variados.
A seguir, serão enfocadas as formas de crescimento urbano recente nas duas metrópoles -
Fortaleza e Maceió - com o intuito de investigar seus modos particulares de expansão urbana.
diferentes dimensões; pelas mudanças nos transportes diários intrametropolitanos de passageiros; e pela difusão
ampla de modos metropolitanos de vida e de consumo.
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De 1974, quando foi criada a Região Metropolitana de Fortaleza, para 2010, a população
aumentou de 1.036.779 para 3.610.379 habitantes, concentrando, respectivamente, 23% e
42% da população do Estado, o que representa acréscimo expressivo (Figura 1).
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atividades agrícolas. Fortaleza cresce sob o influxo de outras dinâmicas e de outras formas de
produção do espaço, transformando significativamente a conformação dos espaços urbano e
metropolitano, resultado, em grande parte, das mudanças produtivas, tecnológicas e sociais,
verificadas desde então.
Tal como outras metrópoles, passa também por uma adaptação aos novos tempos, perceptível
em vários aspectos, como: a descaracterização do centro tradicional e a constituição de novas
áreas de centralidade, ensejando uma policentralidade; o surgimento de novos padrões
espaciais para diversas atividades produtivas; a formação de espaços fragmentados e
desarticulados; a adoção de novos modos de vida pela população, com a assimilação de novos
hábitos metropolitanos; a segregação socioespacial proveniente da forma diferenciada de uso
e apropriação dos espaços públicos e privados; as mudanças no mercado imobiliário e os
reflexos no espaço urbano; a manifestação espacial da atividade turística e as consequências
físicas, traduzidas por núcleos dispersos ao longo do litoral, aonde se instalam equipamentos
de lazer e turismo de grande porte, muitas vezes em áreas de reservas ambientais.
Afora isso, a metrópole cearense apresenta peculiaridades, como a implantação do Porto do
Pecém, inaugurado no ano de 2001, que tem estimulado a urbanização no lado oeste; a
criação de um corredor industrial na BR 116, com indústrias instaladas ao longo da rodovia; a
construção recente do Centro de Eventos, o surgimento de novas áreas de centralidades e o
aparecimento progressivo de condomínios residenciais horizontais, sobretudo desde a década
de 2000, que configuram uma nova tipologia, gerando espaços mais fragmentados.
É evidente também o crescimento acelerado do setor sudeste, de ocupação mais recente, que
tem como principal vetor de expansão a Av. Washington Soares/rodovia CE 040 e abrange uma
diversidade de processos sociais, urbanísticos e ambientais. É aí onde se verificam novos tipos
de produção de centralidades e a presença de núcleos dispersos e descontínuos, formados por
condomínios horizontais fechados e equipamentos turísticos, ao longo do litoral (Figura 3).
Este setor, no âmbito da Metrópole, é o mais representativo das novas formas de urbanização,
indicando rupturas com o modelo tradicional de assentamento urbano. É também nessa região
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O desenvolvimento de Maceió até os anos 1970, como em outras cidades, foi circunstanciado
pela condição de centro administrativo, financeiro e cultural do estado, concentrando renda,
comércio, serviços e investimentos públicos, em detrimento das demais regiões. A partir dessa
década, o município consolidou-se também como centro de turismo e negócios;
posteriormente a região metropolitana, ao integrar o circuito nacional e internacional do
turismo, assumiu-o como parte de sua economia, abrindo espaço a distintos
empreendimentos, inicialmente à rede hoteleira e loteamentos em áreas litorâneas (Figura 4).
Figura 4. Expansão e Dispersão Urbana no Município de Maceió 1960-2000
5
A Av. Maestro Lisboa e sua continuação, a CE 025, dão acesso às praias situadas no Município de Aquiraz, onde se
concentram equipamentos ligados à atividade turística e de veraneio.
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duplicação da rodovia estadual AL 101-Sul e a abertura de novas vias na capital e litoral norte.
Essas obras foram fundamentais para a mobilidade urbana e regional e induziram a ocupação
de áreas adjacentes, valorizando propriedades e atraindo investidores imobiliários e do setor
hoteleiro. Com a internacionalização dos investimentos, multiplicaram-se os
empreendimentos no litoral, principalmente de condomínios residenciais para estrangeiros,
complexos turísticos com centros de convenções e clubes de lazer privados, abrangendo quase
sempre grandes áreas de preservação ambiental, em praias mais distantes.
O litoral sul de Maceió, em evidência há mais tempo, teve maior valorização imobiliária e
grande número de empreendimentos. Nessa parte, foram lançados, na segunda metade da
década, os primeiros condomínios residenciais de turismo e lazer de alto padrão, um próximo
ao mangue em Marechal Deodoro e outro no planalto da Barra de São Miguel.
O litoral norte da RMM atualmente é o vetor de maior crescimento imobiliário, a partir da Av.
Comendador Gustavo Paiva, um corredor de comércio e serviços diversificados, onde se
instalaram supermercados, centros de compras, concessionárias de automóveis, faculdades,
templo religioso e dois shoppings centers. Nessa faixa, estão previstos empreendimentos nas
proximidades e ao longo da AL 101-Norte, que será duplicada, e melhorias no sistema viário
para favorecer a mobilidade urbana. As recentes mudanças destacam-se, como no setor
sudeste de Fortaleza, pelas novas dinâmicas de uso e ocupação do solo, configurações
espaciais análogas à dispersão urbana e relação com as atividades turísticas. Na parte alta da
encosta, evidencia-se a ocupação com loteamentos e condomínios residenciais fechados, de
alto padrão em grandes glebas com áreas verdes e infraestrutura de lazer e esporte, havendo
empreendimentos com centro comercial e empresarial externos, outros com lotes a partir de
1200m², reserva de mata atlântica e integrando complexos hoteleiros, situado na planície
(Figuras 6 e 7).
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Outra tipologia que se destaca nesse processo de dispersão são, os espigões (Figuras 8 e 9),
que começam a ser construídos na estreita planície, à beira mar, ao longo da AL 101-Norte,
com até 20 pavimentos, aprovados após mudanças ocorridas na legislação urbana em 2007,
que aboliram algumas restrições.
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O fenômeno da dispersão urbana pode ser constatado nas duas metrópoles, ocorrendo,
sobretudo, na faixa litorânea, associado às intervenções relacionadas à atividade turística,
tendo como principais atrativos para os investimentos imobiliários o meio ambiente, pela
natureza e ecossistema exuberantes, a diversidade cultural e a cordialidade da população. A
paisagem, nas duas metrópoles é marcada por rico patrimônio natural, com o mar, os
coqueirais, rios, vegetação de mangue, mas apresentam particularidades como dunas em
Fortaleza e lagoas em Maceió, que agregam significativo valor ao local.
O fenômeno da dispersão urbana, comum no litoral brasileiro, promove um processo de
ocupação e urbanização descontínua, principalmente aquela relacionada com o turismo e o
lazer, atraindo investimentos, serviços e infraestrutura, assim como oportunidades de
empregos. Essas áreas, anteriormente com baixas densidades demográfica, passam a ter um
fluxo de população flutuante de turistas em determinados períodos do ano.
A paisagem é alterada pela instalação de novos conjuntos urbanísticos seja na produção de
condomínios, parques temáticos ou resorts. Os grandes investimentos impactam
significativamente no meio ambiente, durante as obras, com desmatamentos, aterramentos
de mangues, grandes movimentos de terra, desvios de cursos de águas, etc. E, por serem
direcionados a um segmento de maior poder aquisitivo, têm também implicações sociais,
sobretudo no que se à própria capacidade do Estado de provimento de serviços e
infraestrutura urbana.
Na reestruturação dos espaços metropolitanos cearense e alagoano, particularmente no
litoral, a espacialização das atividades turísticas representa fator relevante, que merece ser
avaliado com atenção. A urbanização aí verificada, associada ao turismo, é configurada com a
instalação de hotéis, pousadas e restaurantes, e também ao chamado veraneio marítimo6, com
a construção de segundas residências e de condomínios residenciais, resultado da expansão
imobiliária. Essas dinâmicas provocam mudanças relevantes na ocupação do espaço litorâneo,
ensejando um tipo de urbanização diferenciado.
A atividade turística é o principal vetor da organização espacial da zona litorânea dos dois
estados. A exuberância da paisagem natural, a diversidade de praias e a grande extensão de
áreas desocupadas constituem forte potencial para o desenvolvimento do segmento turístico
denominado "sol e praia", de grande demanda, como, aliás, ocorre na maioria das praias do
Nordeste, inseridas no contexto contemporâneo da produção e consumo capitalistas.
A prática de veraneio no litoral do setor sudeste de a expansão metropolitana cearense e do
litoral norte de Maceió, ambos vetores de expansão das respectivas metrópoles, iniciou-se
ainda na década de 1970 nas antigas vilas de pescadores e primeiras localidades que
receberam veranistas. Estes agentes inseriram novas formas de uso no espaço, mediante a
6
O fenômeno do veraneio marítimo, associado à construção de segundas residências, está ligado a uma prática de
ócio, lazer e descanso, e é voltado preferencialmente para os residentes da Capital, e não para os turistas.
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construção de segundas residências, atraindo, de certo modo, a ação do Poder Público, no que
se refere à oferta de infraestrutura urbana.
Na década de 1980, a ocupação e os usos no litoral de ambas as regiões modificaram-se e
tornaram-se ainda mais complexos, quando a procura por espaços de veraneio se intensificou,
atingindo outras praias. Na década seguinte, e no contexto da progressiva valorização
litorânea, a reestruturação das orlas marítimas nas capitais se fortaleceu com a intensificação
de outro fenômeno, o turismo, espacializado na orla como resultado das políticas públicas
estaduais e ações da iniciativa privada.
Como consequência do processo de expansão urbana de Fortaleza e Maceió e valorização do
litoral, operado pela prática do veraneio marítimo, no início da década de 1980 foram criados
loteamentos como Porto das Dunas7, Ceará, e na Barra de São Miguel, Alagoas, que resultaram
em novas morfologias socioespaciais nas respectivas regiões. Para facilitar os acessos, foram
construídas pontes sobre o rio Pacoti (na rodovia CE 025), ligando Fortaleza ao Porto das
Dunas e sobre a Lagoa Mundaú (AL 101-Sul), ligando Maceió ao litoral sul através de Marechal
Deodoro. As duas áreas se urbanizaram e toda a extensão das orlas, antes despovoadas,
passaram a ser ocupadas progressivamente. Os loteamentos transformaram-se em área de
perfil turístico-residencial.
Outros empreendimentos turísticos contribuíram para o desenvolvimento das respectivas
regiões. Em Alagoas, assistiu-se ao surgimento de vários resorts e no Ceará, em 1985, foi
inaugurado o Beach Park, um complexo de turismo e lazer que começou com um restaurante
sofisticado, à beira mar, incorporando em 1989 um parque aquático, considerado o maior da
América Latina. O parque foi posteriormente ampliado e transformou-se no Complexo Beach
Park8, que abrange, além do parque aquático e barracas de praia, resort de luxo, restaurantes,
lojas e condomínios de lazer, constituindo a grande “âncora” do Porto das Dunas e principal
produto turístico do Estado.
A urbanização verificada na Praia do Porto das Dunas e os empreendimentos de alto padrão do
litoral norte da RMM apresentam-se de forma bastante distinta da que ocorre nas demais
localidades do litoral de ambas as metrópoles. O tipo de ocupação possui peculiaridades que
resultaram na produção de um espaço diferenciado, pelo padrão e o nível dos imóveis -
resorts, condomínios de luxo e grandes mansões – e pelo caráter de luxo. Em sua maioria, as
construções se destinam a um tipo de lazer sofisticado, próprio de uma população de elevado
poder aquisitivo e de turistas estrangeiros.
Nesse sentido, a atividade turística desenvolvida nos dois casos se insere nas proposições de
Mullins (1991) acerca da “urbanização turística”, quando ressalta que os centros turísticos
constituem atualmente uma nova e extraordinária expressão da urbanização, ao se
transformarem em locais construídos unicamente para o consumo.
No que se refere aos resorts, sua implantação demanda extensas áreas para abranger um
programa diversificado de lazer, diretamente relacionado com localizações privilegiadas, como
a proximidade do mar, lagoas e rios. Embora instalados distantes de áreas urbanizadas,
requerem acessibilidade fácil e excelente infraestrutura de apoio, uma vez que o próprio resort
7
O loteamento Porto das Dunas foi concebido originalmente para atender às exigências de lazer, férias e finais de
semana dos fortalezenses.
8
O Complexo Beach Park ocupa uma área de aproximadamente 183.000 m², por onde circulam todo ano cerca de
800 mil pessoas, conforme informações contidas no site.
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já é um destino em si. São vários instalados no Porto das Dunas, muitos ainda em construção e
alguns no litoral de Maceió. Situam-se todos junto à orla, ocupando considerável parte das
faixas de praia.
Quanto aos condomínios de lazer, surgidos recentemente9 e mais comuns no litoral cearense,
vieram substituir os antigos loteamentos de residências de férias e fim de semana,
comercializados nos anos 1970. São empreendimentos com características diferenciadas,
compostos de unidades residenciais de alto padrão, relacionados com veraneio marítimo. Os
usuários em geral são habitantes da Capital, de nível de renda elevada, ou investidores
estrangeiros, que adquirem um imóvel próprio para passar temporadas, alugando-o durante o
resto do ano. (Figuras 10 e 11).
Figuras 10 e 11: Loteamento Porto das Dunas e Condomínio Acqua Ville – Porto das Dunas/RMF
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A maioria dos condomínios de lazer foi construída nos últimos sete anos, a partir de 2007.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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