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CURSO ONLINE

"AGROECOLOGIA,
FAÇA ONDE PUDER!"

Reprodução Proibida

JINSABA AGROECOLOGIA
Bahia | 2020 | Módulo 02
MATERIAL DE ESTUDO

MÓDULO 02 - MANEJO
AGROECOLÓLICO DO SOLO

Reprodução Proibida

JINSABA AGROECOLOGIA
Bahia | 2020 | Módulo 02
Copyrigth © 2020 Jinsaba Agroecologia

Está proibido a reprodução deste material.


Todos os direitos reservados a Jinsaba Agroecologia.

Direção e Produção Editorial

Afropolita

Autores

Diego de Albuquerque Oliveira e Hegair das Neves Pereira

Arte / Diagramação / Capa

Emanuel Lucas

Revisão

Maria Karoline Silva Souza

Agroecologia, Jinsaba

Curso "Agroecologia, faça onde Puder!" / Jinsaba

Agroecologia / Material de Estudo, Módulo 02 - Manejo

Agroecológico do Solo. -- Bahia:

Afropolita, 2020. 53 p. (Produção Coletiva)

1. Agroecologia 2. Solos 3. Comunidade

@jinsabaagroecologia
@afropolita
CNPJ: 31.339.171/0001-73
jinsabaagroecologia@gmail.com
afropolita@gmail.com
SUMÁRIO

05 SOBRE O CURSO

06 QUEM SOMOS

08 SOBRE O MATERIAL

10 VAMOS REFLETIR?

12 MANEJO AGROECOLÓGICO DO SOLO

15 COMO É FORMADO O SOLO?

28 TRANSFORME FERTILIDADE EM ALIMENTO

36 COMO É UM SOLO IDEAL?

39 RECUPERANDO SOLOS

49 PRÁTICA SUGERIDA

50 REFERÊNCIAS SUGERIDAS
SOBRE O CURSO
Na cidade, temos o afastamento das atividades que envolvem
diretamente a natureza. Na roça, a impossibilidade de vida
plena, por conta da não garantia do acesso a terra, aliado a
negação de todos os outros direitos básicos, impede que a gente
viva bem.

O consumo de comida industrializada aumenta, configurando-


se, como uma poderosa ferramenta de dominação. Os setores
que comercializam estes produtos alimentícios são os mesmos
detentores da terra, água, controle midiático, jurídico,
educacional e, consequentemente, do poder político
econômico.

Sem alimento, não há autonomia, não há libertação.

05
QUEM SOMOS
Jinsaba Agroecologia é uma iniciativa familiar, que pretende
através da produção de alimentos a construção de parcerias e
processos educativos para fortalecer a agricultura
agroecológica, baseada na sabedoria dos povos e comunidades
que lutam pela terra. 

Nossa formação acadêmica ocorreu com graduação em


Agronomia, especialização e mestrado em Educação do Campo,
mestrado em Extensão Rural, contudo, nada disso substitui
nossas vivências, que girou em torno da Agroecologia, desde
crianças.

Percebemos que nossa trajetória de mais de 10 anos, atuando


diretamente nos movimentos sociais do campo, especialmente
da Via Campesina, organizações da sociedade civil como a
Articulação do Semiárido (ASA), grupos de Capoeira, coletivos
de Hip Hop, Associações e grupos de Agroecologia;
comunidades Quilombolas, Indígenas, Sertanejos,
Assentamentos e Acampamentos de Reforma Agrária,
Comunidades Ribeirinhas, Pescadores e Pescadoras e, não
menos importante, Povos de Terreiros, formaram os pilares da
nossa caminhada. 

06
Os exemplos que vimos a partir da Agroecologia, faz a gente ter
confiança na possibilidade de modificar positivamente as
paisagens. Por isso, nos colocamos a disposição das
comunidades, no campo e na cidade, que queiram transformar
a realidade, intensificar a produção agroecológica a partir do
diálogo e ações.

Temos um imenso potencial para produzir coletivamente.


Nossas ancestrais já fizeram desta forma. Nós estamos
refazendo a materialização dos ensinamentos da adinkra
Sankofa: resgatar na memória, para continuar fazendo no
presente.

Essa é nossa missão!!!

Estimular nas pessoas a prática da Agroecologia como


possibilidade para otimização dos espaços, luz, água e
nutrientes para produção de alimentos.

07
SOBRE O MATERIAL
Este material é fruto de nossas vivências, experiências e estudos
enquanto um casal de quilombolas, agrônomos agroecologistas
e semeadores de possibilidades nesse imenso campo do
conhecimento, a Agroecologia. 

Este material foi pensado exclusivamente para você que está


participando deste curso. Pedimos que não reproduza as
imagens que estão neste módulo, são todas autorais.

Acreditamos que todo o conhecimento deve ser multiplicado,


por isso, desenvolva sua abordagem a partir do que lhe agrada.
Agradecemos profundamente o seu interesse por esta temática
que nos move diariamente.

Esperamos que a partir deste contato, possamos construir ou


fortalecer uma rede de Agroecologia e escambo de produtos e
serviços. Temos certeza que todas as pessoas são dotadas de
imensa capacidade criativa e que com organização e
compromisso podemos transformar nossas realidades.

08
Somos partes da Natureza, do Universo.

Buscamos aliar a teoria à prática de maneira simplificada, deste


modo, lhe convidamos para essa caminhada, que é a busca por
autonomia a partir da produção de alimentos. 

Trouxemos neste curso, um conteúdo introdutório, com


reflexões em torno da temática do módulo e uma abordagem
teórica de maneira simples, para que no final você seja capaz de
realizar algumas práticas sugeridas, ou mesmo propor e efetuar
outras.

É bom que se diga que, de forma alguma, esperamos trazer


soluções prontas e/ou definitivas. Cada pessoa, possui uma
realidade única, com isso, podemos nos apoiar, nos incentivar,
mas cada uma é responsável pela sua própria caminhada. 

De nada valerá compreender a realidade e não lutar com


mudanças. Reconstruir indivíduos, famílias e comunidades.
Ação real, cotidiana. 

"Pegue o que você faz de melhor e faça pelo seu povo", bendito
seja Dr. John Henrik Clarke.

Desejamos que esta experiência seja agradável, útil e bem


produtiva. Em tempos de guerra, sobrevive quem possui
sementes, sabe fazer fogo e planeja seus próximos passos.

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VAMOS REFLETIR?

Você já parou para pensar que


todo o nosso modo de vida está
baseado numa fina camada
deste planeta?

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

10
É isso mesmo!

Se considerarmos o tamanho do planeta Terra


veremos que utilizamos uma minúscula camada
entre a atmosfera e a litosfera. Por isso, os Solos são
um dos mais importantes recurso naturais.

| Foto: Imagem extraída da Internet |

Disponível em: https://youtu.be/NZfHmoroHD0

Veja
“A Natureza está falando | Gilberto Gil é o Solo"
e reflita sobre

11
MANEJO AGROECOLÓGICO
DO SOLO

Existem diversos conceitos sobre o Solo, se perguntássemos aos


povos indígenas, quilombolas e demais expressões da
agricultura familiar veremos uma concepção bem diferente
dos latifundiários.

Se buscarmos o conceito na Agronomia, Geografia, Biologia,


Artes, Arqueologia, Pedologia,  Geologia, Química, Engenharia
de Minas, Engenharia Civil e diversas outras áreas do
conhecimento, também encontramos variações.

Compartilhamos das opiniões que enxergam os solos como um


componente vivo, agregado, que recebe influência e ao mesmo
tempo influencia a biodiversidade, de forma que permite o
bom desenvolvimento das raízes e principalmente restabelece a
autoconfiança das famílias agricultoras a partir do manejo
agroecológico.

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Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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Não há dúvida que a planta vive em parte no solo e em parte no
ar. Nenhuma parte pode existir sem a outra, e o bem estar da
parte aérea, isto é, das folhas, flores e frutos é tão importante
como o bem estar da parte terrestre, isto é, da raiz. A raiz retira
do solo água, nutrientes e parte do oxigênio. A folha capta o ar,
gás carbônico e energia.
Necessitamos que o solo permita um bom desenvolvimento da
raiz, tenha o suficiente em nutrientes, conserve e disponibilize
água para a planta, seja suficientemente arejado e não contenha
substâncias tóxicas.
Por muito tempo solos e raízes foram esquecidas, porque se
olhava somente a parte vistosa da planta, a parte escondida não
era considerada. Precisamos entender a planta como um todo, e
que os problemas visíveis podem ter origens na raiz. Observe
abaixo a foto de uma moringa que encontrou dificuldade para
penetrar no solo compactado.
| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Reprodução Proibida

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COMO O SOLO
É FORMADO?

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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Partimos do princípio de que somos parte de um todo.
Considerando o planeta como um grande ser vivo, o solo é
também uma parte viva e fundamental para o bom
funcionamento deste Organismo. 
O solo é o resultado da união das diferentes camadas que
envolvem a Terra. Por isso, ele é constituído de ar (atmosfera),
água (hidrosfera), organismos vivos (biosfera) e da rocha que o
formou (litosfera).
A base de formação do solo é seu material de origem, ou a
rocha mãe. A influência das variações do clima, da modificação
do relevo, juntamente com a atuação dos organismos vivos ao
longo do tempo, promove o desequilíbrio, desgaste e
transformação do material de origem em partículas menores,
que resulta no solo. Este processo é conhecido também como
pedogênese.

Reprodução Proibida

| Foto: Imagem extraída da Internet |

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Já ouviu aquele ditado ”água mole em pedra dura, tanto bate até
que fura”? Pois é, ele aqui é bem empregado no contexto de
formação dos solos.
É importante lembrar que os solos mudam de um local para
outro. E isso vai depender principalmente das condições do
ambiente onde estes são formados.
Reflita por quantos tipos de solos você já andou, suas diferentes
cores, texturas, profundidades, estruturas, quantidade de
matéria orgânica, nutriente e organismos vivos.
Verá que há uma grande diversidade de solos. Esta diversidade
pode ser observada também em um perfil de solo . Se você
abrir um buraco (corte vertical) em seu solo, como fizemos,
perceberá que há uma variação nas camadas de acordo com o
aumento da profundidade.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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Veja a imagem acima!

Perceba que a primeira camada é mais escura, onde há


presença de raízes e pequenos galhos, o solo está mais “solto”,
com variados tamanhos de poros e torrões. Além disso, observe
que há uma diferença de cor, textura e presença de material
vegetal entre a primeira e segunda camada. Estas variações são
chamadas de horizontes do solo.

Este diagnóstico é importante pois te ajudará na escolha e


execução de práticas que serão sugeridas mais a frente!

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CARACTERÍSTICAS 
DO SOLO
COMO INTERPRETAR AS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DO SOLO?

Lembra quando falamos lá atrás sobre o material de origem do


solo? Ela após passar pelo processo de pedogenese, dará origem
a fração mineral do solo.

Esta fração é constituída de argila, silte, areia e fragmentos


minerais de maiores tamanhos e determina fortemente
características como seu nível de acidez  (pH) e teor de
nutrientes para as plantas.

Essa natureza química do solo depende em grande parte da


“rocha mãe” que lhe deu origem, bem como, dos processos
responsáveis pela formação do solo.

Já a fração orgânica tem sua parte viva composta pelos


organismos vivos que habitam (plantas, animais,
microorganismos) o solo e sua parte não viva, composta pelos
resíduos destes seres.
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Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Os solos apresentam poros, que são “buracos” contendo água e


ar. Esses poros tem grande importância para infiltração,
movimentação e retenção de água, além de favorecer o
desenvolvimento radicular dos vegetais.
Poros grandes (macroporos) permitem a movimentação da
água pelo perfil do solo e aumentam a aeração e o espaço para o
desenvolvimento das raízes, Que então, aumentam sua
capacidade de absorção de água e nutrientes.
Os microporos são importantes porque realizam a retenção e
armazenamento da água.

20 | Foto: Imagem extraída da Internet |


A qualidade do solo está ligada às suas propriedades. Em
campo, podemos observar algumas propriedades analisando
um perfil do solo, como fizemos anteriormente. Contudo,
outras propriedades químicas devem ser avaliadas em
laboratório, mediante a coleta adequada de uma porção do solo.
O solo apresenta propriedades físicas, químicas, morfológicas e
mineralógicas que dependem da sua constituição, das
condições ambientais nas quais está inserido e do manejo que é
submetido.
A grande questão é que a partir de uma visão eurocêntrica,
padronizou-se o manejo para o solo de clima temperado,
através de uma terrível articulação entre empresas, centros de
pesquisa, universidades e apoio estatal.
Disseminando um conjunto de práticas agrícolas que causam
alterações nas propriedades do solo e resultam no mau
funcionamento e degradação da Natureza. Além de todos os
impactos sociais e econômicos que o agronegócio provoca.

Reprodução Proibida

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |
Existem características presentes e observáveis nos solos que
permitem distinguir um determinado tipo de solo dos demais.

Destacamos:

I. Cor: é um atributo de fácil identificação, além disso,


possibilita fazer estimativas a respeito do conteúdo de matéria
orgânica, os tipos de óxidos de ferro, os processos de formação
daquele solo, dentre outros. Algumas generalizações sobre este
atributo podem ser feitas.

| Foto: Imagem extraída da Internet |

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E aí, qual a cor do seu solo?

> Solos escuros costumam indicar altos teores de matéria


orgânica.
> Cor escura a preta em estado úmido, e acinzentada a branca
em estado seco, é solo sem matéria orgânica, mas muito rico em
manganês.
> A cor vermelha está relacionada a solos naturalmente bem
drenados e com altos teores de óxidos de ferro.
> Tons de cinza indicam permanente excesso de água no perfil,
como nos solos das áreas úmidas próximas a rios e riachos.
> As cores do solo tornam-se progressivamente mais claras em
áreas mais secas e mais vermelhas em climas quentes.
> Em regiões áridas, os solos possuem tons cinzentos, marrons
acinzentados e marrons avermelhados. Essas cores são
influenciadas pela cor natural dos minerais.
> Em regiões frias e úmidas, os solos cinzentos e marrons são
dominantes.
> Em regiões quentes e úmidas são comuns as cores marrom
avermelhado e marrom amarelado em áreas tropicais úmidas,
as temperaturas mais altas aceleram o intemperismo e, desse
modo, os teores de matéria orgânica são baixos, pois sua taxa de
decomposição é alta.

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II. Textura: é a proporção das partículas de um solo (areia,
silte e argila). Tem grande influência no comportamento físico,
hídrico e químico do solo, e por isso, sua avaliação é importante
para o uso e manejo dos solos. Raramente um horizonte do solo
é constituído de uma única fração, mas sim de uma
combinação daquelas três frações que vimos lá atrás: areia, silte
e argila.

Vamos determinar a textura do solo?

Em campo, ela é feita por estimativa, esfregando um pouco de


solo úmido e bem misturado entre os dedos.  Ao tocar nesta
“massinha de solo” indique qual (is) das seguintes frações é 
predominante:

> Areia: sensação de aspereza, não é moldável e não pegajoso


(não gruda nos dedos).
> Silte: Sensação de sedosidade, pode ser moldado e não
pegajoso (não gruda nos dedos).
> Argila: Sensação de sedosidade, é moldável e pegajoso (gruda
nos dedos).

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A textura interfere no manejo e nas características do solo pois,
influencia na capacidade de retenção de água, na taxa de
infiltração, na presença de ar (aeração) e, consequentemente,
no crescimento das plantas.
Solos de textura arenosa possuem um teor de areia de 70% ou
mais. Esses solos são soltos, retém pouca água, apresentam boa
permeabilidade e boa aeração, sua fertilidade é geralmente
baixa.
Solos argilosos contêm mais de 35% de argila, são coesos, duros,
quando úmidos são moldáveis e pegajosos, retém muita água.
Às vezes apresentam baixa permeabilidade e baixa aeração. A
fertilidade dos solos argilosos geralmente é alta.
Solo franco ou de textura média contém uma mistura
equilibrada de partículas de areia, silte e argila. Esses solos
normalmente apresentam boas características do solo arenoso e
do solo argiloso, como agregação, taxa de infiltração e nenhum
impedimento à drenagem. Muitos solos de importância
agrícola pertence a esta classe.
É importante destacar que não existe solo ruim. Cada solo
possui suas próprias potencialidades. É preciso conhecê-las
para realizar o manejo correto.
O solo é composto por partículas de areia e de silte que se
mantêm unidas pela ação da argila e da matéria orgânica,
formando agregados estáveis, que são os torrões do solo.

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Reprodução Proibida

III. Estrutura do solo: é a organização das partículas e


agregados. Tem grande influência no desenvolvimento das
plantas, no sistema radicular, armazenamento e
disponibilidade de água e nutrientes, além da resistência à
erosão e suportar melhor a chuva.

Para determinar a estrutura agrícola de um solo, pega-se um


torrão. Se este, por pressão leve dos dedos, se desmanchar em
grumos, o solo é ótimo. O solo que apresenta torrões com faces
planas indica ser muito decaído biologicamente.

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IV. Através do cheiro do solo podemos classificar os solos
quanto à sua micro vida:

> Cheiro fresco e agradável: micro vida saudável, solo em boas


condições;
> Cheiro de mofo: o solo tem pouca vida aeróbia. Pode haver
problema com aplicação de palha na superfície, a
decomposição é iniciada por fungos, e não por insetos, e a palha
impede a germinação da semente plantada;
> Cheiro nenhum: o solo está morto e provavelmente duro,
adensado;
> Cheiro de pântano: ocorre por causa da produção de gás
sulfídrico e de metano, indica que a matéria orgânica (ou
composto) está errada, sendo decomposta sem a presença de ar;
> Cheiro fétido: indica que a matéria orgânica está podre. Isso
ocorre especialmente com material rico em nitrogênio, em um
ambiente com pouco oxigênio e com excesso de umidade.

Não se esqueça de anotar qual a estrutura e o cheiro de seu solo!

É necessário dar atenção a estas propriedades descritas pois elas


são a base para compreender qual solo você tem disponível.
Qual manejo utilizar para aproveitar o potencial agrícola e
aumentar a produção com culturas que se adaptam à sua
realidade.

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DE QUE FORMA PODEMOS MANEJAR O SOLO
PARA TRANSFORMAR A FERTILIDADE EM
ALIMENTO?

As causas da baixa fertilidade dos solos podem ser tanto


naturais (material de origem pobre em nutrientes,
intemperismo e elevada acidez), quanto provocadas pelo
manejo inadequado e erosão.

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |


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Podemos e devemos, usar métodos que contribuam o máximo
para a saúde do solo.

A planta, ao mesmo tempo, que é sustentada pelo solo, também


dá vida a ele através de vários processos de troca. Daí a
importância da diversidade nutricional. A agrônoma Ana
Primavesi bem disse que solo saudável - planta saudável - ser
humano saudável.

O manejo agroecológico dos solos  tropicais deve basear-se na


proteção do solo com coberturas, na incorporação de matéria
orgânica e no aumento da biodiversidade, resultando na
nutrição vegetal  equilibrada (Trofobiose).

Uma planta sadia, que encontra no solo todos os nutrientes


necessários para seu ciclo de vida, tem poucas chances de ser
atacada por pragas e doenças pois seu sistema de defesa está
mais forte. O mesmo ocorre conosco quando consumimos um
alimento bem nutrido. Daí a importância de saber de onde vem
o que você come.

Olha que ideia interessante na música I-Tal, da banda GrooVI:

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Já basta de cair na cilada da propaganda da indústria alimentícia,
Que é vinculada a indústria Farmacêutica.
Alimentos porcaria proliferando no seu corpo dia após dia,
Açúcar, doces, diabetes, hipertensão, desde a  Colonização,
e agora o terrível câncer.
Dentre as diversas formas de genocídio das populações pretas e
indígenas,
podemos citar o nutricídio.
O nutricídio também tem aniquilado nosso povo
Olhemos para trás e honremos nosso passado glorioso
A colonização alterou sua dieta propositalmente
Desate suas amarras e se veja precioso novamente
Porque alimentar-se bem é amar a si mesmo
Amar a criação e reconhecer sua perfeição
O legado de Baba Sebi nos trouxe a alimentação alcalina
O Dr. Llaila Afrika ensina a nutrir sua melanina
Os escritos de Imhotep são os mais antigos documentos médicos
Seu remédio é seu alimento e seu alimento é o seu remédio.

(Banda GrooVI: I-Tal disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=mhXYChlM9PY)

Percebe que novamente estamos retratando a importância de


se ver como parte de um todo?. Sinta o convite à observação e
procure saber mais sobre Nutricídio.

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Entender a dinâmica dos diferentes ecossistemas é importante
para garantir uma ótima condição para a planta se desenvolver.
Veja que todas as plantas cultivadas, tem sua origem num
ambiente natural.
Já verificaram o que acontece debaixo de uma árvore? Ou como
é o solo de uma floresta? Se for possível, veja o solo de uma
mata.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Geralmente a primeira camada do solo é composta por folhas,


galhos, flores, frutos e restos de animais em diferentes estágios
de decomposição realizados por diferentes organismos vivos,
especializados nesta função.

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Esta grossa camada, conhecida também como matéria orgânica,
é rica em minerais e húmus, originados da decomposição de
plantas, microrganismos e excreções animais.
O húmus é o resultado da decomposição vegetal e animal, um
material de coloração escura, extremamente importante para
agricultura, constituído principalmente de carbono, nitrogênio,
oxigênio e enxofre
| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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Uma das possíveis origens da palavra “Humano” pode ser do


Latim humanus, relacionado a homo, “homem”, e humus, “terra”,
pela noção de “coisas terrestres”, em oposição a “seres divinos”.
Qual a cor do solo mais fértil? Preta! Qual a origem do ser
humano? África! Será que existe uma conexão?
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Como bem sabemos, tudo na natureza se transforma, nada se
perde. Os componentes do húmus são os mesmos que
compõem nosso corpo, viemos da terra e em terra nos
transformaremos.

Estes nutrientes, presentes na matéria orgânica, serão


absorvidos pelas raízes e novamente retornarão para a planta,
constituindo a ciclagem de nutrientes.

Mas como um solo descoberto pode fazer ciclagem de


nutrientes? Difícil né?! Percebem a necessidade da cobertura?
Muitas vezes, chegamos em comunidades, que devido a falta de
informação sobre a importância da cobertura do solo, tem o
costume de varrer os quintais, ou como popularmente é dito
“limpar a área”, “varrer o terreiro”. Infelizmente isso ocorre
também nas roças, nos lugares de produção.

Ao assumir que não estamos inventando a roda, mas resgatando


algumas práticas que nossos ancestrais já realizavam, estamos
dizendo que é preciso observar a natureza para saber lidar com
toda a prosperidade que vem dela. Começando pelo solo. Não é
à toa que nas cosmovisões dos povos de terreiro,  o solo
representa uma das energias mais poderosas, responsável pela
saúde e pela doença.

33
Lhe convidamos para ouvir uma adaptação literária produzida
pela Rádio UESC em parceria com o pesquisador Diego de
Albuquerque Oliveira a partir da dissertação “Invisibilidade dos
povos de terreiros frente às políticas públicas de ATER no
Estado da Bahia”.

Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=MJMg_Khl0m0

Nesse capítulo você vai ouvir a história de como se deu a


escravização de africanos, a formação de quilombos, além de
entender o que é a “pedagogia de terreiro” utilizada no Terreiro
Caxuté, localizado em Valença, na Bahia.

O cultivo de diferentes espécies em uma mesma  área,


conhecido como plantio consorciado ou policultivo; a mudança dos
cultivos a cada ciclo de produção, chamado rotação de culturas e
o plantio de espécies principalmente da família das
leguminosas, para fixação de nitrogênio no solo, denominado
adubação verde, também são exemplos de práticas fundamentais
para o aumento da biodiversidade, com baixo custo de
implantação.

34
Outros exemplos de práticas para o manejo agroecológico do
solo são: estabelecimento de curvas de nível e
dimensionamento de terraços em áreas com declive; instalação
de cordões de vegetação permanente e reflorestamento;
cultivos em faixas de retenção; manejo de pastagem e controle
de pastorio, roçagem ou capina seletiva do mato e uso de
quebra ventos.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

35
COMO É UM SOLO IDEAL?

O solo é um interessante componente do planeta, que


apresenta, ao mesmo tempo, características de natureza
química (como o pH e teor de nutrientes), física (estrutura,
porosidade, resistência à penetração) e a biológica (atividade
biológica e diversidade de microrganismos).
O solo saudável é agregado, grumoso, fofinho, estrutura
parecendo “pó de café”, com presença de fungos, bactérias,
tatuzinhos, minhocas, formigas e outros organismos, com um
sistema por onde entram e circulam ar e água, e as raízes
podem penetrar
com facilidade.

36 | Foto: Imagem extraída da Internet |


Sem a presença de lages que impeçam o crescimento das raízes
e a  infiltração da água. Não possui compactação e não existe
erosão.

O solo ideal é limpo, quer dizer, sem  resíduos tóxicos ou


metais pesados, e tem seus nutrientes em equilíbrio, de modo
que as plantas que nele crescem são saudáveis, sem pragas e
doenças e produzem produtos de elevado valor biológico e
nutricional.

Não podemos esquecer que um bom solo para agricultura


também é rico em matéria orgânica, componente essencial que
funciona como um agente cimentante que liga as diferentes
frações (areia, silte e argila), formando agregados estáveis
resistentes à erosão, com poros de tamanhos variados capazes
de armazenar água e ar.

Rica em cargas elétricas, a matéria orgânica atrai, armazena e


fornece elementos químicos como nitrogênio, fósforo, enxofre,
entre outros, necessários para o crescimento e desenvolvimento
das plantas e organismos do solo.

A inspiração na natureza, permite que a imite para produzir


solo através da decomposição de materiais de origem vegetal e
ou animal com o auxílio dos organismos vivos do solo,
conhecido por compostagem e criação de minhoca
(vermicompostagem).

37
A compostagem pode ser realizada em pilhas pequenas ou
grandes, e a medida que o composto for produzido, é
incorporado ao solo. Mas também pode ser feito diretamente
na área de cultivo, onde  são acrescentadas  em sequência,
camadas de esterco curtido  e material vegetal.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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COMO RECUPERAR SOLOS DE ÁREAS
DEGRADADAS?

Uma experiência da recuperação por camadas!

Já citamos, um exemplo de prática simples e extremamente


necessária, a cobertura do solo, que pode ser feita com todos os
tipos de palhada, podas e restos culturais organizados sobre o
solo como uma camada protetora.
A prática de cobertura é fundamental nos trópicos para que o
solo não forme uma crosta superficial, nem uma camada
adensada com pouca
profundidade, que limita o
desenvolvimento das raízes. 
Reprodução Proibida
Esta prática é
um dos princípios de
recuperação válido para
áreas de todos os
tamanhos ou mesmo
os vasos e recipientes
adaptados para o plantio.

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |
Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Existem diversas técnicas para recuperação de áreas


degradadas. Compartilharemos uma experiência positiva com
a utilização de cobertura.

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Primeiro, retiramos a brita e outros materiais que estavam
abandonados na área.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Em seguida, adicionamos podas de árvores, picotada em


diversos tamanhos para formar a primeira camada de
cobertura vegetal. O objetivo desta cobertura é proteger contra
o impacto das chuvas e ventos, impedindo também os
processos de desagregação, perdas de nutrientes e erosão.
A cobertura, reduz a evaporação e ressecamento do solo, ao
mesmo tempo que aumenta a retenção de água e porosidade.
Mantém a temperatura do solo mais baixa, formando um
microclima propício para a proliferação dos organismos vivos

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Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

A segunda camada de cobertura foi feita com esterco. Com o


intuito de aumentar a atividade microbiana e
consequentemente intensificar o processo de decomposição e
aumento do teor de matéria orgânica e nutrientes do solo.

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Reprodução Proibida

Para garantir a qualidade da cobertura, é importante saber a


origem dos materiais. Os que nós utilizamos foram
disponibilizados a partir de uma ampla relação com diversas
comunidades. A parte vegetal foi oriunda das podas realizadas
na sede do município e o esterco, de  equinos, ovinos e bovinos
vindo de diferentes lugares.
Este curso é direcionado para o aproveitamento de insumos
presentes na sua realidade. Se procurar na sua cidade você
ficará impressionad@ com a quantidade de material
disponível. A depender da sua capacidade de organização e
negociação, você pode conseguir insumos gratuitamente ou
com baixo preço.

43
Destacamos também que a cobertura pode ser feita com
qualquer planta, e enriquecida com pó de serra, cinza vegetal,
farinha de osso, casca de ovo, etc. A ausência de esterco não
inviabiliza o processo de decomposição vegetal.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

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Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Continuamos alternando as camadas de cobertura e após


observar o sentido da caída da água de chuva na área
(declividade), planejamos as linhas de plantio no sentido
contrário ao da enxurrada. Introduzimos o cultivo consorciado
de plantas adubadeiras, feijão de porco com a moringa no
primeiro ciclo de produção.
Com acelerado processo de decomposição, foi necessária a
reposição mensal da cobertura vegetal e animal. Prática, que
naquele estágio, contribuiu significativamente para o controle
de ervas espontâneas, pois, impediu a entrada de luz, um
importante fator para a germinação das sementes.

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Após quatro meses, começamos a introdução de plantas
alimentícias, com baixa exigência de nutrientes, que também
cumprissem com a função de produzir biomassa para
continuar cobrindo o solo: a batata-doce consorciada com a
abóbora.

Reprodução Proibida

| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

Observando o ciclo da lua, aos seis meses de plantio, fizemos


uma poda drástica na moringa, isto é, a retirada de toda a copa
da planta. É importante que você saiba que esta prática foi
realizada no semiárido baiano, o que demonstra a ótima
adaptação da planta às condições climáticas da região.

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Introduzimos plantas com potencial apícola e frutífero para
atrair polinizadores.
Em menos de um ano, este processo de recuperação resultou na
formação de mais de 20 cm de solo fértil. Essa profundidade é
suficiente para grande parte das plantas encontrar e absorver
seus principais nutrientes.

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| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |


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Aumentamos consideravelmente o teor de matéria orgânica
nesta área, a cor do solo mudou de vermelho para marrom
escuro, com torrões resistentes à erosão,  presença de galerias
feitas pelos organismos do solo, boa infiltração e retenção de
água.

Conseguimos
transformar
Reprodução Proibida
um solo
extremamente
duro,
ressecado,
com baixa
atividade
microbiana,
em um solo,
ainda em
recuperação,
mas visivel-
-mente vivo,
com boas
condições de
| Foto: Arquivo Jinsaba Agroecologia |

cultivo para alguns vegetais como quiabo, tomate, mamão,


couve, berinjela, pimenta, abacaxi, babosa, manjericão, arruda,
erva cidreira, capim santo, milho, feijão, sorgo, girassol,
diversas flores e um sem fim que o manejo agroecológico do
solo permite.

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PRÁTICA SUGERIDA

Faça o diagnóstico de um solo, observando perfil,


cor, cheiro, textura e estrutura. Pense nas suas
limitações e potencialidades.

Com base no que apresentamos na experiência de recuperação


de uma área com cobertura do solo e nas principais técnicas de
recuperação de solo com aumento da biodiversidade, escolha
uma ou mais práticas que dialogam com sua realidade e tente
realizá-la.

Registre o passo a passo e compartilhe conosco esta vivência!

Relembrando algumas práticas de recuperação do solo:

> Cobertura do solo;


> Compostagem;
> Plantio consorciado;
> Rotação de culturas; 
> Adubação verde.

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REFERÊNCIAS SUGERIDAS:

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases científicas para uma


agricultura sustentável. 3 ed. São Paulo, Rio de Janeiro: Editora
Expressão Popular, AS-PTA. 2012.

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antonio.


Agroecologia e extensão rural: contribuições para a promoção
do desenvolvimento rural sustentável. Brasilia:
MDA/SAF/DATER-IICA, 2007.

DIÁLOGO DOS POVOS, Projeto de comunicação da Teia dos


Povos para amplificar a voz de mestres e mestras, da militância
dos povos em luta. Disponível em:
https://www.youtube.com/channel/UC2UJMebiQCJihQ6GdC_
q2aQ/featured

GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos


em agricultura sustentável – 2. Ed. – Porto Alegre: Ed.
Universidade/ UFRGS, 2001.

50
MACHADO, Luiz Carlos Pinheiro; MACHADO FILHO, Luiz
Carlos Pinheiro. A dialética da agroecologia: contribuições para
um mundo com alimentos sem veneno. São Paulo: Expressão
Popular, 2014.

PRIMAVESI, Ana Manejo ecológico do solo: a agricultura em


regiões tropicais. São Paulo: Nobel, 2002. 579 p.

PRIMAVESI, Ana. Manual do solo vivo: solo sadio, planta sadia,


ser humano sadio./ Ana Primavesi.. --2.ed. rev. - São Paulo:
Expressão Popular, 2016. 205p.

PRIMAVESI, Ana. Pergunte ao solo as às raízes: uma análise do


solo tropical e mais de 70 casos resolvidos pela agroecologia./
Ana Primavesi.. --1.ed.- São Paulo: Nobel, 2014. 288p

SOSA, Braulio et al. Revolução agroecológica: o movimento de


camponês a camponês da ANAP em Cuba. São Paulo: Outras
Expressões, 2012.

HOWARD, A. Um testamento agrícola. 2. ed. São Paulo:


Expressão Popular, 2012. 360 p.

Revista Agriculturas da AS-PTA, disponíveis em


http://aspta.org.br/numeros-anteriores/

Vídeo “Manejo agroecológico do solo” disponível em: 


https://www.youtube.com/watch?v=iSk90lpH7a4

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Vídeo “Vamos falar sobre Solos” diposnível em:
https://www.youtube.com/watch?v=e8uqY0Aqcf0

Vídeo “É melhor salvar os solos” disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=fNNoDjGf0rE

Vídeo “A Natureza está Falando / Gilberto Gil é o Solo”


disponível em:https://www.youtube.com/watch?
v=NZfHmoroHD0&feature=youtu.be

Vídeo “A escravidão no Brasil e a Pedagogia do Terreiro”


disponível em:https://www.youtube.com/watch?
v=MJMg_Khl0m0

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Realização e Parceria

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