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Direito e Sociedade - Teoria e Prática - Artigos
Direito e Sociedade - Teoria e Prática - Artigos
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Direito e Sociedade
Teoria e Prática
3
Direção Editorial
Willames Frank da Silva Nascimento
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André Luís de Almeida Barros
Antônio Tancredo Pinheiro da Silva
Direito e Sociedade
Teoria e Prática
5
DIREÇÃO EDITORIAL: Willames Frank
DIAGRAMAÇÃO: Willames Frank
DESIGNER DE CAPA: Willames Frank
S135p
ISBN: 978-65-88994-22-1
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SUMÁRIO
7
Missão constitucional da Polícia Militar do Brasil ...... 99
Sebastião Grangeiro Bisneto .......................................................... 99
Mulheres e vulnerabilidade: encarceramento em massa
nos Estados Unidos e no Brasil ....................................... 117
Maria Adriana Torres
8
APRESENTAÇÃO
Direito e Sociedade
9
Conforme a ortodoxia do Positivismo Jurídico, não
deve haver espaços vazios no ordenamento normativo, visto
que a ausência de regulamentação pode gerar insegurança que
pode desaguar em crises e rupturas. Portanto, a
previsibilidade e a elaboração efetiva de normas jurídicas
necessárias ou úteis à garantia da coesão social assumem
protagonismo no âmbito da política do direito, da política
legislativa, como pressuposto de governabilidade e de
continuidade das relações sociais vigentes.
Diante disso, novamente se evidencia a necessidade
de permanente reflexão-crítica do direito, desde as propostas
em discussão nos parlamentos até a eficácia social das normas
em vigor. E, essa tarefa de pensar crítica e permanentemente
o direito não se deve limitar às atividades dos poderes do
Estado, mas tornar-se um elemento entranhado na rotina
daqueles que devem ser os maiores interessados nas coisas do
direito: o cidadão brasileiro.
Apresenta-se, pois, um desafio colossal aos
estudantes da Ciência Jurídica e aos operadores do direito:
promover a democratização do conhecimento jurídico,
tornando-o palatável ao cidadão, para que ele compreenda a
si mesmo através da compreensão da sociedade e não
somente possa pensar sobre o que vive, mas viver conforme
o que pensa. Afinal, o que é a sociedade, senão um complexo
de relações humanas em constante transformação? E, qual a
contribuição que cada um pode e deve dar nesse processo
histórico?
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O QUE SE DIZ E O QUE SE FAZ:
As políticas públicas na efetivação dos
direitos fundamentais sociais
INTRODUÇÃO
11
Administração na concretização de tais direitos, como
precariedade de serviços públicos básicos, gastos
exorbitantes, ou seja, da ausência ou mesmo inercia dos
poderes, o que requer direito de prestações (garantia positiva)
por parte do Estado.
Para discussão dessa obra, sem olvidar que o termo
direitos fundamentais, aquele que por sua vez surgiu na
França no século XVIII, resultado de um movimento
político-cultural, e depois com suas ideologias; nos
restringiremos ao plano da positivação, sendo normas
jurídicas exigíveis, a ser perseguida pela superioridade
constitucional.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo
evidenciar que as políticas públicas de origem polissêmica são
instrumentos de concretização dos direitos fundamentais
sociais, e que a atividade judiciaria tem nos últimos tempo
assegurado o seu controle, em atenção a uma a problemática
que evidencia a não garantia positiva dos poderes Legislativo
e Executivo na concretização dos direitos fundamentais
sociais.
Já na hipótese busca estabelecer que as políticas
públicas têm por finalidade precípua a implementação dos
direitos fundamentais sociais que demandam prestações
positivas do Estado, numa justificativa que decorre da
possibilidade do Poder Judiciário controlar políticas públicas
que versam sobre direitos fundamentais sociais como
garantidor de tais valores.
Metodologia logico-dedutivo numa abordagem que
deriva de analise bibliográfica por consultas de livros, revistas
especializadas; doutrinaria, jurisprudenciais. Tendo como
resultado que o judiciário deve tratar de questões sociais na
garantia da concretização dos direitos fundamentais sociais
12
consagrados em nossa carta cidadã, em razão da ausência por
vezes dos Poderes Legislativo e Executivo.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Direitos fundamentais como gênero
13
A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à
pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminação consciente e responsável da
própria vida e que traz consigo a pretensão ao
respeito por parte das demais pessoas, constituindo-
se em um mínimo invulnerável que todo estatuto
jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao
exercício dos direitos fundamentais, mas sempre
sem menosprezar a necessária estima que merecem
todas as pessoas enquanto seres humanos.
( MORAES, 2002. p. 128)
14
competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte
de instituições oficiais ou privadas.
15
Direito, que buscam mecanismos sólidos de redução das
desigualdades socioeconômicas entre os integrantes da
sociedade, encontra-se os direitos sociais.
Sendo espécies do gênero “direitos fundamentais”, presente
no Capítulo II do Título II da nossa Constituição de 1988.
Eles são genericamente enunciados no artigo 6º, a saber:
16
Enquanto os direitos de defesa se identificam por
sua natureza preponderantemente negativa, tendo
por objeto abstenções do Estado, no sentido de
proteger o indivíduo contra ingerências na sua
autonomia pessoal, os direitos sociais prestacionais
têm por objeto conduta positiva do Estado (ou
particulares destinatários da norma), consistente
numa prestação de natureza fática. Enquanto a
função precípua dos direitos de defesa é a de limitar
o poder estatal, os direitos sociais (como direitos a
prestações) reclamam uma crescente posição ativa
do Estado na esfera econômica e social.
Diversamente dos direitos de defesa, mediante os
quais se cuida de preservar e proteger determinada
posição (conservação de uma situação existente), os
direitos sociais de natureza positiva (prestacional)
pressupõem seja criada ou colocada à disposição a
prestação que constitui seu objeto, já que objetivam
a realização da igualdade (SARLET, 2001, p. 261).
INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO
As Políticas públicas
17
necessário, pois não se dá simplesmente pela ampliação da
ação do Estado, mas também e principalmente – pelas
exigências feitas e vocalizadas pela sociedade, em razão da
omissão ou ausência do Estado.
Elas, políticas públicas, são definidas e praticadas em
termos históricos, pois cada sociedade tem um critério de
políticas públicas, seja no sentido da reprodução de certos
modos de conceber e fazer, de financiar e gastar, seja no
sentido das carências e dos problemas que se dispõem a
enfrentar.
Para proposta do trabalho, nos restringiremos, de
modo singelo em razão de tratar-se de termo polissêmico, o
que na doutrina e jurisprudência pátrias também não existe
uniformidade quanto à sua definição, nos utilizaremos como
“os meios necessários para a efetivação dos direitos
fundamentais” (FREIRE JR., 2005, p. 48). Claro não
olvidando o texto de Haroldo D. Lasswell, publicado em
1951, para entender o objetivo lato sensu do estudo, o que
não iremos tratar.
Por essa racionalização conforme reza o art. 3º da
CF/88, onde evidência uma carta de intenções a serem
materializadas, o que não é um rol taxativo; ver-se que a
maior finalidade do Estado é a realização dos direitos
fundamentais inoculado em seus direitos e garantias, então
questiona-se: Como alcançar as suas finalidades?
Não esquecendo o que Barbosa firma (1932, p.11
apud MORAIS, p. 64, 2004), “Os direitos são disposições
meramente declaratórias, imprimindo existência legal aos
bens e valores por eles reconhecidos, enquanto as garantias
são disposições assecuratórias que têm por finalidade
proteger direitos”
18
Diante da dessa indagação, tem por resposta: - as
Políticas públicas! As quais têm como objetivo primordial
concretizar as espécies de direitos fundamentais – sociais,
como com maestria afirma Bucci:
19
e negativos das mesmas, tomada de decisões implementação
e avaliação.
É através do problema e não qualquer um, mas
aqueles considerado “público” os quais desrespeitam direitos
e garantias fundamentais objetivas, que viola o mais
importante fundamento constitucional da Republica - a
dignidade humana, “o piso vital mínimo.” O princípio
norteador de todas carta cidadã.
As políticas públicas, inclusive, sendo como aquele
mecanismo de efetivar o acesso das camadas mais
desfavorecidas aos direitos fundamentais de natureza social.
Visto que, o Estado, gerindo os interesses da sociedade,
busca, através do Legislativo e Executivo, as metas e os
instrumentos de interesse da comunidade, conforme dispõe
a Constituição.
As políticas públicas, assim, revelam-se como uma
necessária intervenção do poder público na sociedade. Como
afirma Appio que:
20
tendo o poder judiciário o dever de tutelar uma série de
direitos fundamentais e que, em razão do princípio da
inafastabilidade do controle de jurisdição, presente no seu
artigo 5º, inciso XXXV, ele não pode afasta-se, quando há a
violação dos direitos fundamentais sociais
constitucionalmente consagrados, em prestações positivas.
Um ponto importante a ressaltar foram os
“movimentos constitucionalista” e fazendo um corte bem
depois da evolução histórica e, já no neoconstitucionalismo
ou pós-positivismo e, deixando a questão mais normativa do
viés histórico e, agora é enaltecer a primazia do princípio da
dignidade da pessoa humana, o qual é guarnecida e
promovida pelos Poderes Públicos e pela sociedade, assim
como afirma Agra:
21
XXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito.”.
O fato, entretanto, do poder judiciário desenvolver
uma postura mais ativa não significa colocá-lo em situação de
superioridade aos outros poderes, mas sim no comprimento
do mandamento constitucional e na necessidade de
eficazmente aplicá-la, pois a efetivação de direitos
fundamentais, devem ser considerados o núcleo essencial da
democracia constitucional, como aduz Júnior, (2010, p. 533)
“é inegável que o grau de democracia em um país mede-se
precisamente pela expansão dos direitos fundamentais e por
sua afirmação em juízo”.
O que se diz e o que se faz, diz respeito ao “se”. Se a
atividade judiciária asseguraria a fruição desses direitos
fundamentais em caso de inércia ou mesmo ineficiência dos
demais entes estatais na busca da sua satisfação diante da
realidade contemporânea, para tal realidade o que tem sido
considerado que é legitima!
Inclusive o Supremo Tribunal Federal - STF já se
posicionou nesse sentido, embora a competência de efetivar
políticas públicas não se inclua entre as funções institucionais
típicas do Judiciário, ocorre que sua incumbência lhe poderá,
excepcionalmente, ser imputada, em descumprimento ao
comando constitucional.
22
DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA [..]
LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DA
INTERVENÇÃ O DO PODER JUDICIÁRIO
EM CASO DE OMISSÃO ESTATAL NA
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLI-
CAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO –
INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO AO
POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE
PODERES [...] Embora inquestionável que resida,
primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo, a prerrogativa de formular e executar
políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao
Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais,
determinar, especialmente nas hipóteses de políticas
públicas definidas pela própria Constituição, sejam
estas implementadas, sempre que os órgãos estatais
competentes, por descumprirem os encargos
político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter
impositivo, vierem a comprometer, com a sua
omissão, a eficácia e a integridade de direitos sociais
e culturais impregnados de estatura constitucional.
[...] O Poder Público – quando se abstém de
cumprir, total ou parcialmente, o dever de
implementar políticas públicas definidas no próprio
texto constitucional – transgride, com esse
comportamento negativo, a própria integridade da
Lei Fundamental, estimulando, no âmbito do
Estado, [...] A inércia estatal em adimplir as
imposições constitucionais traduz inaceitável gesto
de desprezo pela autoridade da Constituição e
configura, por isso mesmo, comportamento que
deve ser evitado. É que nada se revela mais nocivo,
perigoso e ilegítimo do que elaborar uma
Constituição, sem a vontade de fazê-la cumprir
integralmente, ou, então, de apenas executá-la com
o propósito subalterno de torná-la aplicável
somente nos pontos que se mostrarem ajustados à
conveniência e aos desígnios dos governantes, em
detrimento dos interesses maiores dos cidadãos. –
23
A intervenção do Poder Judiciário, em tema de
implementação de políticas governamentais
previstas e determinadas no texto constitucional,
notadamente na área da educação infantil (RTJ
199/1219-1220), objetiva neutralizar os efeitos
lesivos e perversos, que, provocados pela omissão
estatal, nada mais traduzem senão inaceitável insulto
a direitos básicos que a própria Constituição da
República assegura à generalidade das pessoas.
Precedentes [...] (STF, ARE 639337 AgR, Rel. Min.
Celso de Mello, Segunda Turma, DJe-177, de
1º/9/2011).
CONSIDERAÇOES FINAIS
24
Poder Judiciário, sem ofender a separação dos
poderes, faz para sociedade um papel de destaque na atual
conjuntura político-jurídica de nosso país, participando
expressivamente na transformação da realidade social, o que
se diz mormente pelo fato de que temos um país em que a
desigualdade é vista em cada esquina, sentida em cada afronta
aos mais necessitados.
REFERÊNCIAS
25
normas constitucionais. Porto Alegre: Sergio Antônio
Fabris Ed., 2010.
26
Capitalismo e Direito: uma crítica a partir
de Marx e Pasukanis2
27
totalidade social determinada pela categoria trabalho. No
modo de produção capitalista, este complexo é determinado
pelo trabalho abstrato/explorado, produtor de mercadorias e
de relações sociais contraditórias reificadoras do
antagonismo que há entre trabalhadores e donos dos meios
de produção. Portanto, a pesquisa realizada permite constatar
que é dessa base material produtora de mercadorias e de
relações sociais desiguais que se dá o Direito, a que faz alusão
Pasukanis (1972) em seus escritos respaldados no marxismo.
INTRODUÇÃO
28
Por isso, na primeira seção, trataremos de analisar
como a força incontrolável do capital produz e reproduz
mercadorias e, ao mesmo tempo, produz e reproduz relações
sociais extremamente desiguais que acabam por necessitar do
Direito. Na segunda seção abordaremos como o Direito, por
estar diretamente determinado por essa base de produção de
mercadorias, contribui para a reprodução da sociedade
capitalista.
A seguir, analisaremos a sociedade capitalista e a
produção de mercadorias inerentes às relações jungidas pelo
capital.
O CAPITAL E A ESPECIFICIDADE DA
MERCADORIA
29
capital já submetia a sua força aos homens antes mesmo de
findar a organização feudal. Porém, a generalização dessa
força se deu apenas no sistema capitalista. Assim, o fim do
feudalismo aconteceu porque na base desse sistema começou
a desenvolver o capital, que precisava se expandir e que
encontrava limites para sua expansão no interior da ordem
feudal. Por isto, ao se livrar das restrições objetivas e
subjetivas que o sistema feudal impunha, o capital, de acordo
com Mészáros,
30
assalariada em que a exploração do trabalhador é velada por
uma relação de igualdade.
Além deste velamento, esta nova base determinante
das relações sociais que é o trabalho assalariado, segundo
Marx (1975), se mantém através de uma relação entre
desiguais, em que de um lado está o trabalhador e do outro o
capitalista. O trabalhador, visto não possuir meios de
produção, vive de vender a sua única mercadoria, a sua força
de trabalho, para produzir outras mercadorias que contém
trabalho não pago. O capitalista é o dono dos meios de
produção e é quem o contrata. Nessa relação, o trabalhador,
com sua força de trabalho, tem a particularidade de conferir
valor às mercadorias que produz. No processo de produção,
ele produz um valor excedente, pois ele trabalha não só o
tempo necessário que corresponda ao valor do seu salário,
mas também trabalha horas a mais não pagas. Estas horas em
que ele produz mercadorias e o seu trabalho não é pago são
chamadas por Marx (1975) de mais-valia. O capitalista usufrui
desta exploração, pois o trabalho excedente é a fonte da sua
riqueza. Desta forma, ao mesmo tempo em que o trabalhador
gera riqueza para o capitalista, também gera pobreza para si
mesmo. O próprio trabalhador mantém esta base social de
exploração.
É preciso salientar que nos modos de produção
escravista e feudal, as mercadorias já existiam, pois não se
produzia apenas para o uso, mas também para a troca.
Todavia, esta forma mercantil não era a via predominante. A
generalização da troca mercantil se dá apenas no sistema
capitalista. Esse sistema se particulariza porque a mercadoria
produzida pelo trabalhador tem como principal função
atender o valor de troca, como Marx (1975) afirma. O
31
objetivo da produção é gerar lucro para a apropriação privada
do burguês e não para atender as necessidades humanas.
Com isso, a mercadoria produzida na sociabilidade
burguesa traz consigo uma especificidade que não havia nas
outras sociabilidades. Como afirma Marx (2013, p. 132):
32
que se produz perdem importância e tudo passa a ser
mercadoria, inclusive a força de trabalho (MARX, 2013).
Através da mercadoria produzida pelo modo de
produção capitalista não é possível perceber, de forma
imediata, que ela é resultado do trabalho explorado e que o
único meio de comercializá-la e igualá-la às outras
mercadorias é, exatamente, por conter dispêndio de forças de
trabalho equivalentes que lhe determina valores para serem
vendidas. Pelo fato de a mercadoria encobrir a exploração,
ela então carrega uma mistificação. Isso significa que tudo
passa a ser comercializado. Esta comercialização coloca
sujeitos opostos como iguais.
Assim, neste modo de produção, as relações de
exploração são mascaradas pela forma como o trabalho se
realiza. O trabalhador se vê livre como um pássaro como
afirma Marx (1975), pois ele está livre para ir ao mercado
vender a sua força de trabalho, uma forma feitichizada de
liberdade que reifica o trabalho alienado. Porém, essa
liberdade é falsificada, pois a força de trabalho é o único bem
que o trabalhador tem e ao vendê-la ela torna-se mercadoria
apropriada pelo capitalista.
Para o autor referenciado, como já foi dito, esta
relação é desigual, pois proporciona riqueza de um lado e
miséria do outro. Esta relação é, portanto, a base que mantém
o sistema capitalista em pé e é também determinante das
relações sociais. Toda a superestrutura da sociedade burguesa
tem como fator determinante essa relação de exploração que
aliena e oprime o trabalhador.
Apesar de este modo de produção encobrir as
relações de exploração, muitos trabalhadores, já no primeiro
estádio de desenvolvimento do capital, se organizam e
reivindicam por melhores condições de vida (SIMÕES,
33
2013). Para este autor, é da luta dos trabalhadores, no
momento da expansão do capital industrial, que surgem os
primeiros direitos que asseguram à classe social dos
trabalhadores direitos sociais.
Como exemplo de constituições desse período de
luta temos os movimentos ludista e cartista e as legislações de
fábrica, com significativa participação do movimento
operário inglês, em decorrência da alta exploração do
proletariado e da sua luta organizada para fins de conter os
abusos dos donos dos meios de produção sob a proteção do
Estado burguês. Além desses movimentos e legislações,
também observa-se as lutas dos trabalhadores contempladas
em algumas passagens da Constituição mexicana de 1917, que
segundo Rizzi e Faria (2016), foi a primeira constituição
mundial que assegurou direitos sociais, e, também deste
período, temos a Constituição alemã de 1919, mais conhecida
como Constituição de Weimar.
Estas duas constituições são exemplos da
intervenção do Estado7 garantindo direitos sociais aos
trabalhadores. É por isto que no modo de produção
capitalista o Direito alcança uma particularidade específica
que não tinha antes nas outras sociabilidades. Veremos isso a
seguir.
34
A ESPECIFICIDADE DO DIREITO COMO UM
MEIO DE REPRODUÇÃO DA ORDEM DO
CAPITAL
35
Para Mascaro (2007), nas sociedades anteriores ao
capitalismo também não havia instância jurídica específica,
pois o Direito não estava separado da religião, por exemplo.
Muitas regras sociais eram impostas através da ordem
religiosa, pois esta regulava e mandava, assim como o rei, ou
o senhor feudal ou o senhor de escravos. Dessa forma,
percebe-se que o Direito não se constituía como o complexo
específico que é hoje. Antes ele estava totalmente imbricado
com essas instâncias sociais.
Pasukanis (1972) também deixa claro que antes do
sistema do capital a própria lei não igualava os seres humanos,
por isso nem formalmente havia a igualdade entre todos. “A
igualdade dos sujeitos era pressuposta apenas no concernente
a relações compreendidas numa esfera relativamente
limitada” (PASUKANIS, 1972, p. 121). Ou seja, os sujeitos
tinham igualdade de direitos apenas em âmbitos específicos,
como a igualdade entre os nobres, entre o clero; ficando o
restante da população desigual em relação a estes. Dessa
forma, nem todos eram sujeitos de direitos e nem todos eram
iguais formalmente.
Como no sistema capitalista os servos são libertados
dessa relação de servidão, eles se tornam livres porque nesta
nova base social está o trabalho assalariado que condiciona
os homens a se tornarem força de trabalho “livre”. Com isso,
pelo fato de a sociedade capitalista colocar todos no âmbito
da lei como livres e iguais é que será permitido a criação de
direitos que representem os destituídos de riqueza. Assim, os
direitos sociais garantidos aos trabalhadores são frutos da luta
e organização destes, mas também representam o contrato
social que coloca explorado e explorador no mesmo patamar.
Neste sentido,
36
[...] é apenas na sociedade burguesa capitalista, onde
o proletariado surge como sujeito que dispõe da sua
força de trabalho como mercadoria, que a relação
econômica da exploração é juridicamente
mediatizada sob a forma de um contrato
(PASUKANIS, 1972, p. 23).
37
proporção, por outras mercadorias (PASUKANIS,
1972, p. 110-111).
38
A forma jurídica nasce somente em uma sociedade
na qual impera o princípio da divisão do trabalho,
ou seja, em uma sociedade na qual os trabalhos
privados só se tornam trabalho social mediante a
intervenção de um equivalente geral. Em tal
sociedade mercantil, o circuito das trocas exige a
mediação jurídica, pois o valor de troca das
mercadorias só se realiza se uma operação jurídica –
o acordo de vontades equivalentes – for introduzida
(NAVES, 2000, p. 57).
39
permite. Pasukanis também esclarece que esses princípios de
regulação
8 A respeito da
concepção marxiana de alienação, ver A ideologia alemã
(MARX; ENGELS, 2009, p.48- 49).
40
determinadas pelos compradores e vendedores de
mercadoria, pois é somente com esta base de produção que
iguala os sujeitos e os coloca como detentores de Direito, que
o complexo jurídico se generaliza. Desse modo, a forma
jurídica está intimamente ligada com a forma mercantil. Por
isso, “[...] a esfera da circulação das mercadorias ‘produz’ as
diversas figuras do direito [...]” (NAVES, 2000, p. 54). Dito
por outras palavras:
41
[...] se a liberdade, esse atributo da personalidade,
existe por e para a troca, isto é, para que se constitua
um circuito de transações mercantis, então o
homem só é livre uma vez inserido na esfera da
circulação. Se, portanto, é a troca que constitui a
liberdade do homem, podemos dizer que quanto
mais se alarga a sua esfera de comercialização, mais
livre então pode ele ser, de tal modo que a expressão
mais ‘acabada’, a mais completa, a mais absoluta de
sua liberdade é a liberdade de disposição de si
mesmo como mercadoria. Aqui podemos encontrar
o homem reduzido à sua ‘essência’: no ato de troca
de si mesmo o homem realiza a sua liberdade,
portanto, a liberdade do homem aparece no ato de
disposição de si como mercadoria, no qual o
homem se torna um proprietário que carrega em si,
em sua ‘alma’, o objeto de seu comércio (NAVES,
2000, p. 67).
CONCLUSÃO
Por tudo que foi dito, ficou claro que todas as pessoas
se tornam sujeitos de Direito apenas na sociedade capitalista,
pois nessa sociabilidade a base material de produção da
43
riqueza iguala, no âmbito formal, sujeitos desiguais. Por conta
disso, a universalização do acesso ao Direito por todos os
sujeitos, independente de sua classe social, se concretiza
somente quando todas as pessoas podem dispor de seu
tempo livre como “bem entenderem”. Isto só foi possível
com a emancipação política que libertou os indivíduos das
condições de vida determinadas pelo trabalho servil. Desta
forma, a emancipação alcançada com o fim do feudalismo
representa um grande salto na história da humanidade. No
entanto, ela se configura como um limite estrutural, pois se
situa no interior da ordem burguesa e não pode ir além dela
e, com isso, as lutas situadas no âmbito do Direito estão
enquadradas nesta emancipação. Ao entender isso, não
estamos afirmando que as lutas por direitos são inúteis, muito
pelo contrário, estamos afirmando que elas devem estar
subordinadas a um horizonte maior que é a emancipação
humana. Portanto, o entendimento da especificidade do
Direito na sociedade regida pelo capital nos mostra os seus
limites e as suas possibilidades.
REFERÊNCIAS
44
MARX, Karl. O Capital (Crítica da economia política), Livro
1: O processo de reprodução do capital. V 1, 3 ed, Rio de
Janeiro: Civilização brasileira, 1975.
45
Relações Familiares
os desafios da sua atual configuração e
estrutura9
46
as novas modalidades familiares, com novos valores e
costumes, levando em consideração os princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade
e da liberdade, que impuseram o reconhecimento de novas
espécies, como a união estável e a família monoparental, à
sociedade e ao direito brasileiro, ao mesmo tempo em que
surgiram novos desafios e novas perspectivas que abrangem
o direito de família nos dias atuais. O estudo tem como
método de procedimento uma pesquisa bibliográfica, com a
coleta de matérias publicadas em sites especializados, de
Tribunais de Justiça e fontes doutrinárias, tais como, livros,
manuais, revistas acadêmicas e artigos científicos. Além disso,
foram utilizados, como forma de averiguação,
posicionamentos jurisprudenciais, legislação em geral e
específica, para se compreender as modificações acontecidas
nas relações familiares sob um enfoque constitucional,
estabelecendo um paralelo entre a transformação dos
vínculos familiares e sua repercussão na judicialização dos
seus conflitos.
INTRODUÇÃO
47
relacionados à promoção da dignidade da pessoa dos
membros, sejam eles crianças, adultos ou idosos, como
entendem Venosa (2016), Lôbo (2018), Madaleno (2019) e
Dias (2018).
A concepção de família adequada ao atual contexto
social é, então, decorrente do entendimento, numa
perspectiva constitucional do Direito de Família moderno,
como o local de apreciação do ser humano, por meio da
realização pessoal de todos os membros da entidade familiar,
com fundamento na efetivação do princípio constitucional da
dignidade humana e igualdade jurídica, além da afetividade e
pluralidade.
Diante dessas e outras questões, discute-se a
compressão de família de acordo com as perspectivas dos
movimentos que constituem as relações sociais ao longo do
tempo, sob uma argumentação reflexiva pautada nos
princípios de justiça apresentados na Constituição, mas não
esquecendo a caminhada histórica e social da família
brasileira, já que as relações familiares tiveram sua função
social transformada e já não se espera dessas relações
somente o cuidar e manter a prole.
Pode-se pensar, então, a configuração familiar em
termos dos arranjos e disposições dos membros que
compõem uma família. Sendo assim, as famílias têm diversas
configurações que variam desde as que reproduzem o modelo
tradicional definido pela consanguinidade e parentesco, até as
que coexistem nos dias atuais, como estruturação jurídica e
psíquica, com a regulação de novas formas de relações
sociofamiliares.
Assim, aborda-se o tema dando ênfase às relações
familiares conectadas com a evolução social, em que a
afetividade e o atendimento à dignidade da pessoa humana
48
funcionam como princípios. Desse modo, são feitas reflexões
delineadas em ações voltadas às relações familiares e sociais
com os espaços culturais brasileiros.
Nessa perspectiva, questiona-se: quais as relações
entre as características da família na atualidade e as tensões
entre a necessidade de segurança jurídica diante do
imperativo constitucional da justiça material nas relações
familiares?
A hipótese que foi trabalhada foi a de que, apesar dos
novos rumos que o Direito de Família tem tomado, com a
regulação de novas formas de relações sociofamiliares e os
novos paradigmas de família através das relações familiares,
apesar da conjugação dos princípios constitucionais que
norteiam a disciplina jurídica da família em favor da pessoa,
sabe-se que ela enfrenta dificuldades de diversa ordem, assim,
tratar das suas configurações é um desafio, tendo em vista a
profunda mudança no seu perfil.
O objetivo deste estudo é discutir as transformações
dos laços familiares no panorama da sociedade atual, numa
perspectiva interdisciplinar, proporcionando a compreensão
e aprofundamento para a atualização dos conhecimentos na
área de Direito de Família, através do suporte teórico-
metodológico que possibilita o entendimento acerca da sua
configuração e estrutura.
O estudo tem como método de procedimento uma
pesquisa bibliográfica, sendo baseado em textos jurídicos e
interdisciplinares, para se identificar a percepção atual das
relações familiares brasileiras, por meio do estreitamento e
entrelaçamento dos conhecimentos direcionados para o seu
estudo que, certamente, contribuirão para a compreensão de
conceitos – entre eles o de configuração e estrutura familiar
49
– que permitem a aproximação do levantamento das
diretrizes propostas.
50
Os laços de consanguinidade e parentesco eram as
referências que definiam a configuração familiar da maioria
da sociedade. Hoje em dia, não é tão simples identificar e
classificar as pessoas que pertencem ao mesmo grupo
familiar. Nader (2016) explica que alguns autores até usam a
expressão polimorfismo familiar, para afirmar que, na vida
prática, a sua composição se apresenta sob múltiplos modelos
e padrões.
Por esse motivo, não se pode mais definir família
apenas como a união entre pais e filhos, uma vez que a
tradicional cedeu lugar a diversas novas configurações,
levando em conta que elas estão se constituindo por livre
iniciativa dos indivíduos que, no entanto, ficam a mercê dos
efeitos jurídicos previstos pelo legislador brasileiro que, diga-
se de passagem, é extremamente relutante e vagaroso em
acompanhar as suas transformações ao longo do tempo, seja
por dogmas religiosos, seja por simples ineficácia
parlamentar.
A esse respeito, Venosa (2016) menciona que o
Código Civil de 2002 (considerado avançado para a época)
não se preocupou em trazer regramento jurídico para esses
novos núcleos familiares, tendo em vista as novas
modalidades de família que já estavam surgindo. E desse
modo, segundo ele, a legislação cível brasileira perdeu uma
grande chance de trazer inovação e amparo aos indivíduos
que dele necessitam, deixando o papel da definição familiar
muitas vezes por conta de outros agentes, como, por
exemplo, os tribunais por meio da jurisprudência.
Pode-se pensar, então, a configuração familiar como
um termo entre os arranjos e disposições dos membros que
compõem certo núcleo familiar. Sendo assim, as famílias têm
diversas configurações que variam desde as que reproduzem
51
o modelo tradicional definido pela consanguinidade e
parentesco, até as que coexistem nos dias atuais, como
estruturação jurídica e psíquica, com a regulação de novas
formas de relações sociofamiliares.
É importante asseverar que toda a sociedade possui
reflexo das mudanças realizadas no âmbito e no núcleo
familiar. Nesse sentido, um dos grandes desafios do Direito
é acompanhar as mudanças decorrentes até a aplicação
concreta da norma, para isso fazendo uso dos mecanismos
referentes à interpretação constitucional e infraconstitucional
das normas jurídicas adequando às necessidades da realidade
que os casos concretos demandam.
Um grande exemplo disso vem exposto nos
julgamentos da ADI n° 4277 e ADPF n° 132, propostas pelo
Procurador Geral da República, bem como pelo Governador
do Rio de Janeiro no STF. Precipuamente, as ações tiveram
início com o delinear de discussões envolvendo o não
reconhecimento de casais homoafetivos para que eles não
tivessem direito aos benefícios do INSS, por não constituir
uma relação de união estável. Porém, com o condão fático
muito além de uma discussão previdenciária, o STF foi
chamado a decidir sobre o reconhecimento da União Estável
entre pessoas do mesmo sexo, mesmo que no Código Civil
de 2002, em seu art. 1723, exponha in verbis: “Art. 1.723. É
reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.”
Instado a se manifestar, o Tribunal atribuiu
interpretação conforme a Constituição, ampliando as
hipóteses do art. 1723 a casais do mesmo sexo. Vale vistas
aos trechos da decisão proferida:
52
O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional
expressa ou implícita em sentido contrário, não se
presta como fator de desigual ação jurídica.
Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art.
3º da Constituição Federal, por colidir frontalmente
com o objetivo constitucional de promover o bem
de todos. Silêncio normativo da Carta Magna a
respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos
como saque da kelseniana norma geral negativa,
segundo a qual o que não estiver juridicamente
proibido, ou obrigado, está juridicamente
permitido. Reconhecimento do direito à preferência
sexual como direta emanação do princípio da
dignidade da pessoa humana: direito a auto-estima
no mais elevado ponto da consciência do indivíduo.
Direito à busca da felicidade. Salto normativo da
proibição do preconceito para a proclamação do
direito à liberdade sexual. O concreto uso da
sexualidade faz parte da autonomia da vontade das
pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos
planos da intimidade e da privacidade constitu-
cionalmente tuteladas. Autonomia da vontade.
Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO CONSTITU-
CIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA.
RECONHECIMENTO DE QUE A CONSTI-
TUIÇÃO FEDERAL NÃO EMPRESTA AO
SUBSTANTIVO FAMÍLIA NENHUM SIGNIFI-
CADO ORTODOXO OU DA PRÓPRIA
TÉCNICA JURÍDICA. A FAMÍLIA COMO
CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E PRIN-
CÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO
DE CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRE-
TAÇÃO NÃO-REDUCIONISTA. O caput do art.
226 confere à família, base da sociedade, especial
proteção do Estado. Ênfase constitucional à
instituição da família. Família em seu coloquial ou
proverbial significado de núcleo doméstico, pouco
importando se formal ou informalmente constituí-
da, ou se integrada por casais heteroafetivos ou por
pares homoafetivos. A CONSTITUIÇÃO DE
1988, AO UTILIZAR-SE DA EXPRESSÃO
FAMÍLIA, NÃO LIMITA SUA FORMAÇÃO A
53
CASAIS HETEROAFETIVOS NEM A
FORMALIDADE CARTORÁRIA, CELEBRA-
ÇÃO CIVIL OU LITURGIA RELIGIOSA.
FAMÍLIA COMO INSTITUIÇÃO PRIVADA
QUE, VOLUNTARIAMENTE CONSTITUÍDA
ENTRE PESSOAS ADULTAS, MANTÉM COM
O ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL UMA
NECESSÁRIA RELAÇÃO TRICOTÔMICA.
NÚCLEO FAMILIAR QUE É O PRINCIPAL
LÓCUS INSTITUCIONAL DE CONCREÇÃO
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS QUE A
PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DESIGNA POR
INTIMIDADE E VIDA PRIVADA (INCISO X
DO ART. 5º). [...] (STF - ADPF: 132 RJ, Relator:
Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento:
05/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-
2011 EMENT VOL-02607-01 PP-00001). (grifos
no original).
54
direito à felicidade dos indivíduos envolvidos na relação
familiar, bem como o de escolha e os novos laços que
compreendem a família. Este tipo de desdobramento
conceitual que a estruturação familiar atinge é fruto de uma
grande evolução concebida a partir da evolução da sociedade
em geral, destacando-se como marco político o advento da
Constituição Federal de 1988.
Observa-se que os tribunais vêm alcançando este
novo paradigma da configuração familiar. É válido citar
julgamento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, pelo qual
se discutia a paternidade socioafetiva:
55
Andrade, Data de Julgamento: 07/05/2013,
Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 16/05/2013).
56
longo do tempo. Estudos históricos, metodologicamente
delineados, demonstram que a família é uma instituição em
contínua mutação e que ao longo de sua construção histórica
não apresenta uma formação de caráter linear, o que
impossibilita que novos tipos familiares sejam considerados
de qualidade superior aos tipos familiares anteriores.
Pesquisas que se baseiam nas teses evolucionistas da família
revelam a existência de uma íntima relação entre os processos
econômicos e culturais de uma determinada época e a forma
de sua organização, conforme Araújo (2005).
Fazendo uma retrospectiva acerca da configuração
familiar, observa-se que, nas sociedades primitivas, um
período matriarcal antecedeu o período patriarcal. No
período matriarcal, a linha feminina determinava a filiação e
a poligamia era culturalmente aceita. Morgan (1871, apud
ARAÚJO, 2005) refere várias formas de ser família: a
consanguínea, envolvendo os avós, seus filhos, netos e bisnetos,
que deviam formar casais, com exclusão de matrimônio
apenas entre pais e filhos; a punaluana, que passa a admitir
casais não consanguíneos, determinando, quanto aos casais
consanguíneos, que irmãos e primos não podiam ter um
casamento comum; a sindiásmica, caracterizada por uniões
mais longas e pela existência de um par preferencial, com
contínua redução de casamentos entre parentes; e a
monogâmica, decorrente das mudanças na força econômica,
que passou a se concentrar nos homens, com predomínio do
pai, cujo fim era procriar, para que seus filhos se tornassem
herdeiros de suas riquezas. Na família monogâmica, a
fidelidade conjugal/monogamia era exigida apenas da
mulher, podendo o homem romper laços conjugais, bem
como praticar a infidelidade.
57
Diante dessa concepção, a monogamia não surgiu
como forma de caracterizar um matrimônio mais elevado,
mas como uma escravização da mulher pelo homem, com o
fim de preservar a transmissão de bens por herança,
caracterizando, pois, um matrimônio por conveniência.
Segalen (1999, apud ARAÚJO, 2005) não hierarquiza as
formas de ser família de ontem e de hoje, ressaltando apenas
que as diferenças existentes entre elas se devem às diferentes
circunstâncias que as envolvem.
O autor acima citado aponta que, com o movimento
de industrialização, que passou a ter a família como
participante ativa do processo de produção social, essa
instituição é forçada a modificar suas relações internas e
externas, permanecendo apenas como espaço de reprodução
biológica e onde se estabelecem vínculos afetivos, uma vez
que a reprodução social se dava fora da família. A Escola de
Chicago, porém, ignorou as consequências do racionalismo
econômico, concentrando-se na função afetiva da família,
que começa a perder não somente a função econômica, mas
também a função educadora, que passam a ser exercidas pelo
Estado. No contexto das relações sociais globais,
caracterizadas por uma maior divisão social do trabalho, é
possível compreender a família moderna, que passa a ter
diminuídas as suas funções de produção econômica familiar,
a partir do ingresso da mulher e do menor nas atividades de
produção de riquezas.
No Brasil, a partir do Código Civil de 1916, o
percurso do Direito de Família, do ponto de vista jurídico,
teve alguns marcos históricos que contribuíram efetivamente
para a construção das famílias brasileiras: a Lei do
reconhecimento de filhos ilegítimos, o Estatuto da Mulher
Casada, a Lei do Divórcio e a Constituição da República. No
58
longo processo de transformação, que teve início com a lenta
e gradual desvinculação de um regramento de origem
nitidamente religiosa, diversos arranjos familiares somente
recentemente tiveram seu reconhecimento formal. Como
consequência, o surgimento de novas situações familiares
vem desafiando o direito codificado, destacando-se as
diversas possibilidades de parentalidade resultantes do
avanço científico e médico que popularizou a utilização de
técnicas de reprodução assistida.
O Código Civil de 1916 contemplava o matrimônio
como base da família na sociedade cristã moderna, devendo
o Direito de Família se ocupar das relações familiares que
compreendiam o casamento, o pátrio-poder, e tutela e a
curatela. A Constituição republicana de 1934 reconheceu e
consagrou o casamento civil, admitindo a celebração do
casamento religioso com efeitos civis, desde que cumpridos
os requisitos legais. Ao homem cabia a chefia da sociedade
conjugal e, nesta sociedade, a mulher ocupava uma posição
de inferioridade e incapacidade. A ausência da virgindade, ora
exigida, constituía causa de anulação do casamento. Por outro
lado, as relações sem casamento eram reprovadas moral,
social e civilmente, atingindo, consequentemente, os filhos
que delas eram frutos, que eram discriminados por sua
condição de ilegítimos.
Antes da Constituição de 1988, somente poderia ser
destinatária de proteção jurídica a família legítima constituída
pelo casamento civil. As relações informais entre homens e
mulheres, construídas à margem do casamento civil, então
denominadas concubinatos, por afrontarem a única forma
permitida de sua formação, não geravam direito algum.
Ocorre que, com a entrada em vigor da atual Constituição,
ela era fundada no companheirismo, ora denominada união
59
estável, passando a ser considerada uma forma legítima de
construção familiar. Assim, casamento e união estável
merecem igual proteção do Estado, uma vez que amor,
afeição e solidariedade dignificam a união entre homem e
mulher que se juntam para constituir uma família.
No panorama da Constituição de 1988, a filiação
brasileira está consagrada pelo princípio da paridade. Assim,
revogaram-se- as regras do Código Civil de 1916, bem como
leis que estabeleciam qualquer privilégio ou desigualdade em
virtude da filiação, não admitindo quaisquer denominações
discriminatórias relativas aos vínculos de filiação. Nesse
contexto, desapareceram os conceitos de filiação legítima e
ilegítima, pendente de vínculo matrimonial dos pais. Além de
admitir o reconhecimento dos filhos adulterinos, havidos
fora do matrimônio por qualquer dos cônjuges, a
Constituição também passou a admitir a possibilidade de
dissolução do vínculo matrimonial e a emancipação da
mulher casada.
Com o princípio constitucional da dignidade da
pessoa humana, a paternidade passa a ser vista sob a ótica de
sua concepção cultural, conquistando relevância social e
adquirindo valorização jurídica, passando a ser considerada
não somente a de origem biológica, mas também a que se
sustenta no vínculo afetivo. A paternidade real é cultural, não
biológica; é fruto das relações de sentimentos que vão sendo
cultivados e dos vínculos afetivos que se formam com a
convivência, como mostra Madaleno (2019).
Nessa perspectiva, as novas tendências do Direito de
Família brasileiro podem ser divididas em alguns planos,
conforme o autor acima citado, dentre os quais: 1) o amor, o
afeto, o aspecto emocional e a relevância destes para a busca
da autenticidade nas relações; 2) o princípio da paridade entre
60
cônjuges e companheiros; 3) a igualdade dos filhos de
qualquer natureza, incluindo os filhos adotivos; 4) o
reconhecimento e a proteção do concubinato; 5) a primazia
dos interessas da criança e do adolescente.
Desse modo, as relações afetivas vivenciadas dentro
do núcleo familiar, pela interação dos membros da família,
constituem força propulsora de valores na sociedade
contemporânea, possibilitando o surgimento de novas
relações sociais. Assim, a busca de relações afetivas estáveis e
livres revelada, nas formas de escolha do parceiro conjugal,
no rompimento de tal parceria e na possibilidade de uma
compor nova relação, corrobora a afirmação da
individualidade.
Na tentativa de compreender a atualização do
modelo familiar, em decorrência das novas circunstâncias,
convém destacar que a participação da mulher no mercado
de trabalho vem gerando uma espécie de vazio nas funções
de criação, educação e sustentação dos filhos, bem como uma
diminuição no tamanho da família, como uma forma de se
buscar diminuir as distâncias existentes entre os ganhos
salariais e os recursos necessários ao sustento do grupo
familiar. O novo modelo familiar também é caracterizado
pelo aumento das dissoluções de vínculos matrimoniais e
familiares, que leva não somente a novas recomposições de
estrutura familiar, como também ao crescente número de
pessoas vivendo sozinhas. (MADALENO, 2019).
Além disso, o autor aponta que a Constituição
brasileira de 1988 também elevou, à condição de entidade
familiar, a comunidade monoparental, formada por qualquer
um dos pais e seus descendentes, como, por exemplo, a
maternidade independente formada por mães solteiras, diante
do crescente número de tal modalidade de comunidade,
61
decorrente, por exemplo, das separações fáticas, dos
divórcios, de casos de viúvas que criam seus filhos sozinhas.
Assim, é possível reconhecer que as relações afetivas
vivenciadas dentro do núcleo familiar, pela interação dos
membros da família, constituem força propulsora de valores
nas sociedades contemporâneas, possibilitando o surgimento
de novas relações sociais. A busca de relações afetivas
estáveis e livres, revelada nas formas de escolha do parceiro
conjugal, no rompimento de tal parceria e na possibilidade de
uma compor nova relação corroboram a afirmação da
individualidade, conforme Araújo (2005).
É dessa forma que as instituições familiares na era
atual negam as estruturas uniformes, rígidas e hierarquizadas
do passado. As famílias na pós-modernidade são instituições
mais flexíveis e abertas, prevalecendo à inclusão sobre a
exclusão, ampliando a autonomia individual e valorizando a
realização pessoal do indivíduo. (MALUF, 2010).
Cabe salientar que, muito além de buscar a atual
configuração e conceituação de família, a missão que o
Direito busca hoje é encontrar algo totalmente contrário a
isso, explicando melhor, algo que fuja do conceitualismo que
se busca para definir um instituto tão vasto e indefinido
quanto o conceito da família hoje, afinal, como já dito,
existem diferentes óticas familiares. Entende-se que o direito
busca auferir um “não conceito de família”, pelo qual tudo que
se componha pelo afeto, pelos vínculos estabelecidos, bem como o direito
das pessoas de serem felizes pode ser considerado família.
Cumpre observar que, da mesma forma que a
concepção do que é família na atual conjuntura é algo
diversificado, também o faz a configuração familiar. Hoje em
dia, é perfeitamente possível casais do mesmo sexo, famílias
multiparentais, monoparentais, enfim, das mais diversas
62
formas que se podem atingir a estruturação do que é
considerado família, como apontados nos estudos de Venosa
(2016), Lôbo (2018), Madaleno (2019) e Dias (2018).
63
independentemente da origem, responsabilidade social e
moral pelos menores abandonados e facilidade legal para
adoção.
Para Venosa (2016), embora o Código Civil de 2002
procure fornecer uma nova compreensão do instituto família,
adaptada aos tempos atuais, revela-se incipiente a iniciativa de
evolução nesse sentido. Na esteira das diretrizes
constitucionais vigentes, a atual codificação civilista procura
estabelecer uma completa igualdade jurídica dos cônjuges e
dos companheiros, do homem e da mulher, ao tempo em que
contempla o princípio da igualdade jurídica de todos os
filhos, independentemente de sua origem.
Lôbo (2018) adverte que o atual Código Civil, apesar
de conter uma mudança de paradigma do enfoque
individualista para o da solidariedade social, ainda manteve
destacada presença dos interesses patrimoniais em
detrimento dos de natureza pessoal, em variados institutos do
Livro IV, dedicado ao direito de família, desprezando-se a
questão essencial da afetividade. Da mesma forma, defende
o autor, não resolveu o descompasso da legislação civilista
com o texto constitucional, visto que várias das normas
infraconstitucionais estão calcadas em paradigmas passados e
em desarmonia com os novos princípios constitucionais,
desencontrando-se com a concepção de família atual, que é
marcada por outros interesses de cunho pessoal ou humano,
tipificados pela pluralidade, solidariedade e afetividade, estes
dois últimos elementos aglutinadores e nucleares distintos
dos outrora existentes.
Assim, para além das famílias formadas
exclusivamente pelo casamento, há formatos outros que
também são reconhecidos como arranjos familiares, a
exemplo dos que são formados pela união estável ou por
64
pessoas do mesmo sexo (família homoafetiva), das famílias
monoparentais, das famílias provenientes do vínculo de
parentesco ascendente ou descendente, das famílias oriundas
do convívio entre parentes ou pessoas que não sejam
parentes, das famílias originadas em decorrência do
desfazimento de uniões anteriores e da criação de novos
vínculos e das famílias fundadas exclusivamente no afeto.
Por óbvio, como o processo legislativo não tem
acompanhado, no que diz respeito ao Direito de Família, a
evolução da sociedade brasileira, na qual se verifica a
existência dessa pluralidade de modelos familiares
multifacetados, na maioria das vezes ficando estes
desamparados pela legislação, observa-se um significativo
aumento da demanda nas Varas de Família que, ao tempo em
que sobrecarrega e congestiona o Poder Judiciário, faz com
que ele assuma um protagonismo cada vez mais acentuado
como agente regulador dos conflitos familiares, na medida
em que é nele que acabam desaguando as questões
controversas relacionadas ao Direito de Família.
Entretanto, de acordo com Lôbo (2018), nem sempre
os conflitos familiares necessitam ser solucionados
provocando-se a intervenção do Estado, mediante atuação de
um juiz togado. Segundo o autor, o processo judicial envolve
a questão da invasão da privacidade das relações familiares,
bem como da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas envolvidas, o que muitas vezes contribui
para o acirramento das diferenças existentes, contrapondo-se
as partes envolvidas em uma verdadeira disputa figadal, na
qual a lógica possível é tudo ou nada, certo ou errado,
inocente ou culpado. Cita o autor a Lei nº. 11.441/2007 como
sendo um avanço legislativo, na medida em que retirou a
exclusividade da intervenção judicial para o divórcio, quando
65
houver consenso entre os cônjuges quanto aos alimentos, à
partilha do patrimônio e à utilização ou não do prenome de
um pelo outro, dispensando-se, nesse caso, o processo
judicial, permitindo aos cônjuges que procedam ao divórcio
mediante tão somente a lavratura de escritura pública.
Outro fato que vale a pena comentar é que a
judicialização dos conflitos familiares envolve demandas
judiciais, provenientes das relações familiares, que dizem
respeito não somente à separação conjugal, mas também
demandas outras que surgem após a ação de separação ou de
divórcio, como, por exemplo, questões relacionadas à guarda
dos filhos e ao patrimônio familiar, as quais muitas vezes não
satisfazem uma ou ambas as partes, podendo até mesmo
agravar a crise familiar que se instalou.
Nesse sentido, assevera Lôbo (2018), é que ganha
importância a mediação, instituto inserido no ordenamento
jurídico pátrio pela Lei nº. 13.140/2015, considerado um
instrumento valioso para a solução dos conflitos familiares
em questões que versem tanto sobre direitos disponíveis
quanto sobre direitos indisponíveis que admitam transação,
no qual o mediador se posiciona não na função de julgador,
mas com a responsabilidade de fazer com que os litigantes se
aproximem para que eles próprios possam alcançar o
consenso possível para a questão que se apresenta. Destaca
ainda o autor que a mediação supera a judicialização como
forma de resolução dos conflitos, no sentido de que ela está
relacionada à assunção de responsabilidades pelos envolvidos
em face das próprias decisões compartilhadas, tendendo a ser
mais duradouras e efetivas que as decisões judiciais que, ao
contrário, não têm o condão de encerrar os conflitos.
66
CONCLUSÃO
67
Como exemplo do que foi discutido, pode-se citar a
atual Constituição brasileira em relação à disciplina da União
Estável, ficando muitas das vezes na mão do julgador por
meio da jurisprudência a ampliação e reconhecimento das
novas modalidades e configurações familiares que a realidade
social atual impõe.
REFERÊNCIAS
68
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias.
22. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.
69
Alienação Parental
e suas consequências para o menor
70
genitor com a criança. O conceito legal trazido pela Lei
12.318/2010 em seu artigo 20 diz que: Considera-se ato de
alienação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento
ou à manutenção de vínculos com este. Já o segundo refere-
se a doença psicológica causada pela alienação, tornando a
segurança e a saúde emocional do menor uma doença
causada pela violência psicológica.
A Síndrome da Alienação Parental é manifestada
principalmente quando os genitores estão disputando a
custódia da criança, numa combinação entre a ação negativa
de um dos genitores e a própria atividade da criança que foi
influenciada em caluniar o genitor alvo. As causas para essa
crueldade são as mais variadas como inveja, ciúmes,
chantagem emocional contra o ex-cônjuge no intuito de fazer
com que ele desconsidere a separação por exemplo, entre
outros fatores.
Com o passar dos anos, algumas mudanças foram
acontecendo no que diz respeito as liberdades do homem e
da mulher. E com isso, os pensamentos sobre o estilo de vida
de um casal e a dinâmica familiar, foram sendo moldados para
a nova era. A partir desse pensamento, o homem,
principalmente, começou uma reivindicar o seu direito em
lutar pela guarda de seus filhos pleiteando a guarda conjunta,
ou a guarda unilateral a depender de cada caso, ou ajuste de
horários para visitas, entre outros motivos. Assim diz Maria
Berenice Dias:
A evolução dos costumes, que levou a mulher para
fora do lar, convocou o homem a participar das tarefas
71
domésticas e a assumir o cuidado com a prole. Assim, quando
da separação, o pai passou a reivindicar a guarda da prole, o
estabelecimento da guarda conjunta, a flexibilização de
horários e a intensificação das visitas.
Em 90% dos casos, são as mães que possuem a
guarda dos filhos e consequentemente quando se fala em
alienação parental, costumeiramente são elas que exercem
essa manipulação fazendo com que seus filhos tenham
pensamentos maléficos contra seus pais, como também
dificultam o convívio sadio entre pai e filho, acusam de abuso
sexual de maneira enganosa, ou até mesmo alegam falsas
agressões físicas e tudo isso com o escopo, segundo elas, de
proteger seus filhos do pai tóxico. Vale salientar que isso não
é uma regra, uma vez que a situação pode ser inversa, como
acontece em alguns casos, e será o pai quem exercerá essa
influência negativa contra a mãe.
Diante da evolução dos novos modelos de formação
familiar, essa nova era foi ficando cada vez mais consolidada,
e nessa perspectiva, as tarefas domésticas que antes eram
exercidas somente pela mãe, passou a ser de responsabilidade
do pai também, e a mãe que antes tinha o dever de cuidar dos
filhos, buscou sua independência financeira e foi alçar novos
rumos com o trabalho fora de casa.
Com isso as novas estruturas familiares foram sendo
moldadas e a evolução na criação dos filhos foi ficando cada
vez mais humana e centralizada na divisão das tarefas entre
pai e mãe. Como diz Rodrigo da Cunha Pereira:
A sociedade moderna tinha a ideia de que em caso de
dissolução da sociedade conjugal, a guarda dos filhos era
preferencialmente da mãe. Isso porque havia a noção de que
a mãe teria um instinto materno, que garantiria à criança um
desenvolvimento saudável, daí criou-se o mito de que a
72
mulher seria a mais apta a ficar com a guarda dos filhos.
Assim, consoante Pereira, “as concepções jurídicas e culturais
se misturavam”. (PEREIRA, 2004, p. 134).
Podemos dizer que o marco inicial da Síndrome da
Alienação Parental foi moldado nas mudanças que ocorreram
com a evolução da forma de constituição familiar. As
manipulações feitas pelos pais, mães para com seus filhos,
também foram seguindo as transformações culturais do que
hoje é denominado de família.
O divórcio em si já é uma situação que na maioria das
vezes ocasiona conflitos entre os cônjuges, e essa situação de
dor acaba resvalando nos filhos. O pai ou a mãe, quando
imbuídos de rancor e intolerância, consciente ou
inconscientemente, transforma seus filhos em moeda de
troca, tornando-os alvo de uma grande disputa de egos,
dificultando assim, o convívio com o ex-cônjuge e seu
desenvolvimento psicológico. Roberto Senise Lisboa, diz
sobre Alienação Parental:
Alienação parental é o ato de interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente, a fim de
que o menor seja induzido a repudiar o estabelecimento ou a
manutenção da relação com o seu genitor. (SENISE, 2012,
p.339).
Normalmente o ponto crucial dessa síndrome, é o
desacordo ou a não aceitação por um dos cônjuges em um
divórcio por exemplo. Os que estão envolvidos nesse
processo, acabam fazendo da separação uma verdadeira
guerra onde as desavenças são o ponto principal e a origem
de todo o desconforto familiar. O que ocorre é que um dos
genitores, transforma a situação da separação em um
verdadeiro campo minado em que o principal alvo atingido é
73
a criança que será instrumento de manipulação contra o ex-
cônjuge. Jorge Trindade diz:
A SAP (Síndrome de Alienação Parental) se
caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um
genitor, denominado cônjuge alienador, transforma a
consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e
estratégias de atuação, com o objetivo de impedir,
obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor,
denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais
que justifiquem essa condição. (TRINDADE, 2007, P.101).
Podemos definir uma diferença entra a Síndrome da
Alienação Parental e a Alienação Parental propriamente dita.
Diante da síndrome, a personalidade do menor é moldada
através das sequelas da alienação. A criança é utilizada como
instrumento para ferir o genitor e com isso a sua estrutura
psicológica é totalmente modificada, gerando assim, uma
agressividade na criação do menor e uma distorção da
personificação daquele que a criança tem como pai ou como
mãe. Segundo Maria Berenice Dias:
É preciso se ter presente que esta também é uma
forma de abuso que põe em risco a saúde emocional e
compromete o sadio desenvolvimento de uma criança. Ela
acaba passando por uma crise de lealdade, o que gera um
sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar que foi
cúmplice de uma grande injustiça.
O objetivo de toda essa manipulação exercida na
criança contra um dos genitores, é fazer com que o
psicológico do menor desenvolva um sentimento de repúdio
contra seu pai ou sua mãe e assim ter a vida social de todos
os envolvidos afetada de tal forma que tem como resultado
marcas e feridas incuráveis trazidas por essa síndrome. A
professora Priscila Fonseca diz:
74
“A síndrome da alienação parental não se confunde,
portanto, com a mera alienação parental. Aquela geralmente
é decorrente desta, ou seja, a alienação parental é o
afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo
outro, via de regra, o titular da custódia. A síndrome da
alienação parental, por seu turno, diz respeito às sequelas
emocionais e comportamentais de que vem a padecer a
criança vítima daquele alijamento. Assim, enquanto a
síndrome refere-se à conduta do filho que se recusa
terminante e obstinadamente a ter contato com um dos
progenitores, que já sofre as mazelas oriundas daquele
rompimento, a alienação parental relaciona-se com o
processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o
outro genitor da vida do filho”. (FONSECA, Síndrome da
Alienação Parental. Artigo).
A ação que é exercida por parte daquele que aliena, é
uma ação dolosa, aquela com intenção de prejudicar, de
causar dano a outrem e essa manipulação, não traz riscos
somente naquele momento, mas sim se perpetua por toda a
vida do menor e dos envolvidos. Assim diz Jussara Meireles:
Assim, se o filho é manipulado por um dos pais para
odiar o outro, aos poucos, suavemente se infiltrando nas suas
ideias, uma concepção errônea da realidade, essa alienação
pode atingir pontos tão críticos que a vítima do ódio, já em
desvantagem, não consegue revertê-la. (MEIRELLES, 2009,
p. 265.).
Podemos então definir que quando o filho sofre
abusos psicológicos por parte de um dos genitores que
normalmente é aquele que detém a guarda, a essa conduta
podemos chamar de alienação parental. Já a síndrome da
alienação parental é tudo aquilo que se transforma numa
sequela, modificando a personalidade da criança após todos
75
os atos negativos contra aquele que se tornou alvo do cônjuge
abusador. São alguns exemplos desses abusos o fato de fazer
a criança escolher entre ficar com a mãe ou com o pai
ameaçando-a das consequências pela escolha errada, ou fazer
com ela ignore a outra pessoa, dificultar a visita de quem não
detém a guarda, manipular o psicológico da criança até o
ponto que ela comece a ter o mesmo discurso do cônjuge
abusador, entre outros atos maléficos ao convívio do menor
e ao seu desenvolvimento psíquico e físico.
Através desses atos, a criança acaba perdendo o
referencial de família e por consequência as suas relações
sociais acabam sendo afetadas ocasionando uma instabilidade
em seu emocional. Vale salientar, que a causa da síndrome
não é a separação ou o divórcio em si, pois a origem principal
está na pessoa que não aceita a nova realidade que se perfaz
no rompimento dos laços matrimoniais, o divórcio ou a
separação de fato, é apenas o ponta pé de todo o desconforto
familiar e manipulação do alienador.
Quando a situação de alienação parental é
judicializada e chega até o Poder Judiciário, o juiz determina
que as visitas entre genitor e filho sejam suspensas diante da
gravidade do fato. É determinado que sejam realizados
estudos psicossociais para que seja averiguada a veracidade
do que foi dito. O processo é moroso e com isso a
convivência entre o genitor que está sofrendo a alienação e
seu filho acaba sendo afetada e o distanciamento entre pai ou
mãe e filho é inevitável, surgindo sequelas graves devido a
cessação das visitas.
A alienação parental não é um processo exercido
somente pelo pai ou pela mãe, mas pode acontecer também
por outros membros da família como os avós, tios, irmãos, o
que resulta numa grande dificuldade na relação familiar de um
76
modo geral. Podemos dizer que o alienador pode ser, além
dos genitores, uma pessoa que tenha autoridade, guarda ou
vigilância sobre o adolescente ou a criança. Já o genitor
alienado é o pai ou a mãe a quem o ataque está sendo
direcionado.
Quando o detentor da guarda, e aqui estamos falando
no caso de abuso cometido por aquele que detém a guarda
do menor, percebe que conseguiu gerar na criança um
sentimento de repúdio e ódio pelo outro genitor, ele percebe
também que acabou deixando a criança com um sentimento
de culpa, uma vez que ela passa a ter a ideia de que se voltar
a se relacionar com o outro genitor, está cometendo um erro
ou até mesmo uma traição com aquele com quem reside.
A síndrome da alienação parental uma vez instalada
na criança, ele acaba se transformando numa espécie de
protetor ou defensor do alienador e a partir desse momento,
a criança passa a ter o mesmo discurso de ódio sobre aquele
ex-cônjuge alvo que está sofrendo os abusos.
A Lei 12.318/2010 (Lei da Alienação Parental), traz
os atos que podem ser reconhecidos pela perícia ou até
mesmo pelo juiz e que caracterizam a alienação parental.
Segundo o art 2º da citada lei são eles:
Realizar campanha de desqualificação da conduta do
genitor no exercício da paternidade ou maternidade; dificultar
o exercício da autoridade parental; dificultar contato de
criança ou adolescente com genitor; dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; omitir
deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço; apresentar falsa denúncia contra
genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou
77
adolescente; mudar o domicílio para local distante, sem
justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós.
O simples indício do ato, já é motivo suficiente para
restar caracterizado tal abuso, não havendo necessidade de
provas concretas da alienação, posto a gravidade da situação.
Uma das medidas adotadas e trazidas pela lei de Alienação
Parental é a advertência, uma medida branda, mas que pode
ser convertida numa pena mais severa que seria a suspensão
do poder familiar para o alienador. Nesse caso, não há um
prazo mínimo legal estipulado, isso significa dizer que a
suspensão pode perdurar até a plena capacidade civil do
adolescente.
O legislador se mostrou atento e preocupado com o
menor diante de tantas mudanças no contexto social e
familiar. Em sendo a parte mais fragilizada da situação no
caso de alienação parental, a criança se encontra em constante
transformação do seu cotidiano e consequentemente das
mudanças psicológicas naturais de sua evolução. Assim diz o
artigo 3º da Lei 12.318/2010:
A prática de ato de alienação parental fere direito
fundamental da criança ou do adolescente de convivência
familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações
com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral
contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de
tutela ou guarda.
A violência que é gerada pela alienação parental
tendo como atitudes negativas do alienador com seu filho e
consequentemente com quem sofre o abuso, gera um
desenvolvimento desproporcional da criança quando ela
78
pratica ações como querer se manter distante do pai ou da
mãe, acusar injustificadamente, injuriar, lançar para com seu
pai ou sua mãe discursos de ódio, isso gera um sentimento
em que o amor familiar vai se distanciando e seu
desenvolvimento saudável vai ficando cada vez mais
comprometido.
Algumas transformações no Código Civil foram
feitas no intuito de minimizar toda a violência física e
psicológica cometida contra o menor, bem como assegurar
seus direitos e punir aquele que comete tamanha crueldade
contra o filho e o outro genitor.
A guarda compartilhada foi uma das mudanças
instituídas no Código Civil e que acaba gerando uma
diferença considerável na vida do menor, em casos onde se
evidencie que sua possibilidade é saudável para todos os
envolvidos. O instituto da guarda compartilhada, veio como
uma forma de tentar, a princípio, apaziguar o momento após
o divórcio, já que esse pode ser o marco inicial para aquele
que não aceita a nova realidade e com isso se utiliza da
alienação parental para atingir quem propõe a separação e
consequentemente seu próprio filho.
Dessa maneira, a alienação parental deve ser
duramente combatida posto que é praticado um abuso moral
contra a criança ou o adolescente, as relações familiares são
afetadas em todos os sentidos, o amor entre os envolvidos
acaba sendo substituído pelo rancor e pelo ódio, bem como
fere o direito de uma convivência familiar saudável. Não
devemos esquecer que a proteção integral oferecida pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, deve ser ampliada no
intuito de coibir esse comportamento tão nocivo ao menor.
Assim diz a nossa carta magna (Constituição Federal) em seu
artigo 227:
79
É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
REFERÊNCIAS
http://www.mariaberenice.com.br/uploads/Síndrome da
Alienação Parental: O que é isso?
80
O princípio da eficiência como reflexo do
Gerencialismo
81
infralegais, estruturando-se no modelo dedutivo e analisando
o objeto sob o enfoque qualitativo.
INTRODUÇÃO
82
Na Constituição Política do Império, de 1824, o art.
99 ilustra este período: “A Pessoa do Imperador é inviolável,
e Sagrada: Elle não está sujeito a responsabilidade alguma”
[sic]11. O modelo patrimonialista, assim denominado,
caracterizava-se pela falta de distinção entre res publica (coisa
do povo) e res principis (coisa do príncipe).
Com o constitucionalismo democrático a lei (que é a
expressão da vontade popular) passou a delimitar o poder
estatal, condicionando-o ao atendimento obrigatório dos
parâmetros legais. E este poder foi fracionado, tripartido, em
um sistema de pesos e contrapesos (checks and balances) onde
cada ente é incumbido do controle e fiscalização dos demais.
Fruto dessa evolução, o modelo burocrático surgiu
como uma maneira de podar os excessos do patrimonialismo.
Os atos públicos praticados neste regime haurem
legitimidade das normas racionalmente definidas, isto é,
concebidas segundo um procedimento formal e impessoal.
A administração pública burocrática funciona
independentemente da vontade dos administradores, porque
se desenvolve, em tese, com base no profissionalismo
(estruturação de planos de carreira ligados à meritocracia), na
impessoalidade (distanciamento da interpretação e do arbítrio
pessoais) e no formalismo (utilização de rotinas e processos
padronizados).
No Brasil, as reformas burocráticas se iniciaram a
partir do final da década de 1930, em que o governo federal
fomentou a aceleração da industrialização, por meio de
crescentes intervenções nos setores de bens e serviços. “O
83
Estado foi o próprio financiador do desenvolvimento
industrial, em certos setores da economia, em face da
iniciativa privada não ter suportabilidade financeira para
investimentos de tal jaez” [sic]12. E, para acompanhar o
crescimento econômico, fez-se necessário remodelar o
aparato administrativo.
A Constituição de 1937 previa no art. 67 um órgão
investido desta missão, cuja criação se deu por força do
Decreto-Lei nº 579 de 1938. O Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP) e as Comissões
de Eficiência, instituídas em cada Ministério, formavam um
sistema de aperfeiçoamento dos entes públicos.
Conquanto se predisponha a minimizar os efeitos
negativos de seu predecessor, a implantação da burocracia
também suscitou disfunções ou aspectos indesejáveis. O
excesso de formalidades levou à ineficiência da máquina
pública, porque obcecada pelo controle dos atos dos gestores
e, portanto, autorreferente. Perdeu-se a noção de que o
serviço público deve ser voltado para a satisfação das
necessidades dos cidadãos, o que, por si só, já desvirtua
qualquer propósito de existência do Estado.
Na segunda metade do século XX, após a crise
petrolífera da década de 70, operou-se mais uma grande
inovação. As abordagens estruturalistas, com conceitos mais
precisos, do ponto de vista científico, promoveram uma
recontextualização nas grandes organizações. O foco foi
paulatinamente redirecionado e os intermináveis formulários
cederam espaço para a gestão centrada no resultado, que
mitigou o excessivo controle burocrático com o objetivo de
84
conferir fluidez à estrutura. Resgatou-se, por assim dizer, o
afã de servir a sociedade.
A nota característica do modelo gerencial é a
importação de técnicas e ferramentas do setor privado para a
aplicação no campo da gestão pública, pois, segundo o
pressuposto taylorista, gestão é igual em toda e qualquer
organização, independentemente do seu contexto e
natureza13.
Há, portanto, um forte viés neoliberal com a crença
em um aparelho estatal mínimo e enxuto. Longe de ser uma
negação, o gerencialismo é, na verdade, uma superação
dialética do molde anterior, porque incorpora vários de seus
critérios (meritocracia, impessoalidade, racionalidade etc.).
Trata-se de uma evolução no plano conceitual14, pois foi o
modo de enxergar os serviços públicos que se modificou.
Nasceu a New Public Management enquanto resposta política à
crise do Estado-Providência (que estava fora de controle e
representava uma fonte de desperdício de recursos)15.
Assim, a administração gerencial se calca na
equiparação do usuário de um serviço público a um cliente
de organização privada. Para tanto, prima por atingir algumas
metas: transparência, decorrente da necessidade de motivar
as decisões e do livre acesso da população às informações;
85
responsabilidade (accountability), que determina a submissão
do Estado à fiscalização e controle interno e externo;
descentralização, por meio de delegação de funções com
finalidade de garantir celeridade aos procedimentos;
participação social, em que o administrador busca do
administrado soluções e novos pontos de vista (pois a
democratização da gestão infunde mais legitimidade nas
ações); competição administrada, em que se fomenta uma
pretensa concorrência pela utilização dos serviços prestados;
e eficiência, que é o ponto-chave deste artigo.
A doutrina credita tradicionalmente ao Decreto-Lei
nº 200 de 1967 a inauguração da reforma gerencial brasileira.
O objetivo principal foi descentralizar as atribuições das
entidades públicas, com a criação de autarquias, fundações e
empresas estatais (empresas públicas e sociedades de
economia mista). Obviamente, o legislador, ao garantir maior
autonomia aos entes da Administração Indireta, ambicionava
tornar a gestão mais especializada, técnica e, portanto, ágil.
Em 1995 foi estabelecido o Plano Diretor de
Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), que enfocava o
controle dos resultados – em contraposição ao controle de
processos – além de mais uma etapa na descentralização:
surgiram as Agências Reguladoras (Agências Autônomas, nos
termos do próprio Plano16) como instrumentos para fiscalizar
e disciplinar os serviços prestados, além do setor público não-
estatal17 (organizações sociais e organizações da sociedade
86
civil de interesse público), fruto de um crescente ciclo de
terceirização (que as corporações privadas nomeiam de
outsourcing).
Dois dos principais consectários do PDRAE são o
implemento da Lei de Responsabilidade Fiscal e a Emenda
Constitucional nº 19/9818. A Lei Complementar nº 101 de
2000 – LRF – estabeleceu normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, como
consta ipsis litteris em seu cabeçalho. E a Emenda
Constitucional nº 19 de 1998 foi a instrumentalização das
mudanças da reforma administrativa iniciada em 1995.
Ferramentas como o contrato de gestão e o acesso dos
usuários aos registros e informações das entidades públicas
foram elevados ao mais alto status jurídico. Ademais, insculpiu
a eficiência entre os preceitos reitores da administração
pública, que será aclarada no tópico seguinte.
EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA
87
orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
da administração federal, bem como da aplicação de recursos
públicos por entidades de direito privado”; e do art. 144, §7º,
que irroga a uma lei a disciplina da organização e
funcionamento das entidades prestadoras de segurança
pública “de maneira a garantir a eficiência de suas atividades”.
Ademais, não era um conceito estranho à doutrina
especializada. Hely Lopes Meirelles colacionou o dever de
eficiência como inerente ao múnus público, entronizando-o
como “o mais moderno princípio da função administrativa,
que já não se contenta em ser desempenhada apenas com
legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço
público e satisfatório atendimento das necessidades da
comunidade e de seus membros”19. Correspondia, portanto,
ao dever de boa administração desenvolvido pela doutrina
italiana.
Apesar de o supramencionado Decreto-Lei nº 200 de
1967 trazer ferramentas relacionáveis direta ou indiretamente
à eficiência, foi a Emenda Constitucional nº 19 de 1998 que
a incrementou no rol de princípios gerais da administração
pública. O Texto Máximo passou a albergar um dos mais
proeminentes preceitos do gerencialismo.
Esta inclusão foi curiosamente rechaçada por ilustres
administrativistas brasileiros; alguns pela desconfiança
quanto à índole neoliberal20 da reforma operada; outros pela
imprecisão do termo, pois no direito comparado, denomina-
88
se boa administração (Itália), eficácia (Espanha), não-
burocratização (Portugal), etc.; por fim, relatam que é um
palavra morta, inócua, sem que se modifique a mentalidade
dos governantes21.
Contudo, a Lei Máxima não se refere a boa
administração; e neste caso não parece haver vantagem
substancial em adotar as preferências doutrinárias, nacionais
ou estrangeiras, em detrimento do texto constitucional. Deve
haver, portanto, no mínimo, uma consequência simbólica
para eficiência ter sido positivada na Constituição e não ter
permanecido na gama de preceitos reconhecidos ou
implícitos. Simbólica no sentido de que põe às claras a
decisão legítima do constituinte de privilegiá-la como um dos
critérios centrais na prestação dos serviços públicos.
Princípios são normas jurídicas com alto teor de
generalidade e abstração que subjazem e conformam o
ordenamento jurídico e todos os comandos legais que o
compõem. Além de possuir uma textura aberta, eficiência
transporta um conceito jurídico indeterminado, que só pode
ser moldado diante da situação fática, mas que pode sofrer
influências semânticas de padrões morais, sociais, culturais,
políticos, geográficos, dentre outros22.
Como um norte hermenêutico, a eficiência pode ser
enxergada como um dos “fundamentos filosóficos do Direito
público moderno, inserindo-se em temáticas como a da
89
legitimidade do poder e da governabilidade”23, pois uma
democracia representativa precisa conter mecanismos que
facultem ao cidadão uma defesa contra atos ineficientes ou
negligentes, pois ambos afrontam os objetivos pretendidos
pela lei.
Isto posto, não se pode negar a positividade e a
validade jurídica do princípio sob o argumento de que seu
conteúdo se abebera originalmente de saberes extrajurídicos
(administração de empresas ou economia). A Ciência do
Direito não é autopoiética, apartada da realidade humana ou
do “mundo da vida” (no dizer husserliano). A dogmática se
vale, a fortiori, de reflexões produzidas no seio da zetética para
construir seus significados.
No mínimo, procedendo a uma análise literal, a
cabeça do art. 37 ordena a sua observância à administração
pública direta e indireta de qualquer instância. Pessoas
jurídicas de direito público políticas (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), pessoas jurídicas de direito público
administrativas (autarquias, fundações públicas e consórcios
públicos), pessoas jurídicas de direito privado estatais
(empresas públicas, sociedades de economia mista e
consórcios públicos privados), pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos, serviços sociais
autônomos e entidades do terceiro setor que desenvolvam
atividades correlatas à função administrativa estão, todos eles,
90
submetidos ao dever de eficiência24, seja pelo critério
orgânico (formal), seja pelo funcional (material), no caso dos
entes privados.
Deve-se buscar a solução ótima na concretização da
finalidade pública. Mas como saber qual o patamar ótimo?
Ou ainda, qual o conteúdo material da eficiência? Eficiência
administrativa é tão abstrata quanto moralidade. Como
nenhuma acepção específica foi indicada pelo constituinte,
cabe aos intérpretes a importante tarefa de perquirir o seu
significado, propondo sentidos que serão mais ou menos
aceitos, conquistando maior ou menor consenso ou
possibilidade de aplicação.
Para Afonso da Silva, “eficiência não é um conceito
jurídico, mas econômico; não qualifica normas; qualifica
atividades”25. Cuida-se da busca por conseguir: maior output
(resultado) com o mesmo input (recursos); mesmo output com
menos input; ou ainda os dois esforços combinados26, que é a
relação custo-benefício. Envolve necessariamente um trade
off, situação onde as escolhas são conflitantes. Quando um
administrador escolhe adotar menor custo na produção de
91
determinado bem, aceita imprimir menor qualidade neste
produto27.
É óbvio que essa definição possui perfeita
aplicabilidade nas empresas privadas, mas não é suficiente
para abarcar as contingências dos órgãos governamentais.
Naquelas, predominam aspectos financeiros e,
principalmente, a maximização do lucro, ao passo que nestas
devem sobrelevar as necessidades dos cidadãos e o interesse
público.
No ramo privado, a insatisfação (percepção da falta
de qualidade) dos clientes faz com que procurem outro
produto, serviço, marca, empresa etc.; no espaço público,
quase nunca há essa possibilidade: o utente do serviço
público é, por vezes, obrigado a utilizá-lo como única
alternativa. Por isso, eficiência administrativa não pode ser só
uma proporção matemática entre recursos e resultados, uma
mera economicidade (que é apenas um de seus atributos).
No domínio do direito, deve-se ampliar os
horizontes. Distingue-se de seus cognatos da seguinte
maneira: eficácia diz respeito aos meios e instrumentos
empregados pelos agentes na execução de seus deveres;
efetividade é aferição dos resultados obtidos28. Eficiência
congloba estes dois aspectos, a par de outros comandos. Por
isso se fala em pluridimensionalidade.
92
Operando-se uma dissecação, é possível identificar
quatro atributos da eficiência administrativa: racionalização,
produtividade, economicidade e celeridade29. O primeiro se
refere às ferramentas, expedientes e processos utilizados no
desempenho da função administrativa, que devem ser
lógicos, compreensíveis, aptos a cumprirem sua finalidade, e
com vistas a eliminar erros e imprecisões. Produtividade, por
sua vez, aponta para a geração de vantagem ou valor. O foco
é o benefício gerado para o destinatário (equivale a
efetividade). O resultado deve ser ótimo; o bem ou serviço
deve ser prestado com qualidade.
Economicidade, que é um dos aspectos mais levados
em consideração pelos administrativistas, significa a
proporção entre o produto final e os fatores empregados na
produção. É relação de custo para a realização do bem ou
serviço e o benefício para o usuário, ou seja, eficácia dos
meios. Nessa acepção, possui similitudes com o conceito de
eficiência econômica (maior output com menor input: custo-
benefício).
A celeridade é o último e um dos mais relevantes
aspectos, citado inclusive em posteriores reformas do texto
constitucional. Aqui, o foco é o tempo, pois um serviço
extemporâneo pode tornar inútil ou impossível o resultado,
diminuindo-lhe a relação custo-benefício30.
93
A partir da Emenda Constitucional nº 45 de 2004,
tradicionalmente denominada de reforma do Judiciário,
eficiência enquanto celeridade passou a ser, inclusive, direito
fundamental inserto no inciso LXXVIII do art. 5º: “a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”. Não é apenas duração razoável
do processo judicial. Celeridade deve ser observada na
tramitação de processos administrativos também.
Como se trata de princípio geral, eficiência também
configura um critério de medição do comportamento
gerencial. Porquanto, os controles administrativo (interno,
operacionalizado pelos próprios órgãos) e legislativo são
reconhecidos pela Constituição Federal nos arts. 70 e 74. O
controle judicial, por outro turno, padece de certa celeuma
doutrinária, que deve ser enfrentada em pesquisa própria,
pois extrapola os objetivos aqui colimados.
Por fim, releva notar uma importante observação
formulada por Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Não apenas o
modo de atuação do agente público deve ser eficiente
(melhor desempenho possível das atribuições com o objetivo
de produzir os melhores resultados); a maneira de estruturar
e regulamentar os órgãos da Administração Pública também
deve seguir o mandamento, porque isto reflete diretamente
na qualidade da prestação do serviço público31. É evidente,
portanto, que o princípio não orienta unicamente os serviços
voltados para a coletividade, mas também se aplica aos
serviços internos das entidades investidas do ofício
administrativo.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
95
É certo que uma administração ineficiente jamais foi
aceitável. Nos limites da lei, as atividades estatais devem ser
sempre exercidas em nome do povo, do qual dimana todo e
qualquer poder. Eficiência administrativa é, portanto, mais
uma instância de concretização do Estado Democrático de
Direito.
REFERÊNCIAS
96
SPINK, Peter (Org.). Reforma do estado e administração
pública gerencial. 7ª ed. (4ª reimp.), Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2009.
97
NOHARA, Irene P. Reforma administrativa e burocracia:
impacto da eficiência na configuração do direito
administrativo brasileiro. São Paulo: Atlas, 2012.
98
Missão constitucional
da Polícia Militar do Brasil
99
especializados, assim como das disposições normativas que
disciplinam a matéria.
INTRODUÇÃO
100
Por isso, algumas correntes de pensamento mais
extremas, como o positivismo jurídico de Hans Kelsen,
definem o Estado como um mero feixe de normas. Não mais
que isso, uma vez que sua Teoria Pura do Direito almejou
expurgar a ciência de quaisquer elementos reputados como
extrajurídicos. E a Constituição, por sua vez, também é
enxergada como a mais importante das regras que
integralizam o ordenamento jurídico, e ainda assim, nada
mais que uma norma33 . Em última análise, segundo essa
concepção, não são apenas definições mutuamente
imbricadas, mas sinônimas. Nada obstante a presente
pesquisa adotar uma postura menos extremada, evidencia-se
a importância recíproca que estes termos exercem entre si.
O art. 1º da Constituição Federal de 1988,
paralelamente ao princípio republicano e ao federalismo,
declara que a República Federativa do Brasil se configura
como Estado Democrático de Direito. Esse conceito reúne
elementos de dois construtos políticos que o precederam: o
Estado de Direito e o ideal democrático.
O primeiro destes, em sua formulação clássica,
fundava-se tão somente na generalidade e amplitude das leis,
o que, por si só, já era uma conquista importante sobre o
Absolutismo e os privilégios e desigualdades abissais do qual
decorriam. Eventualmente, este modelo desembocou numa
concepção meramente formal, autorreferente, no sentido de
que apontava para a ordem jurídica que lhe conformava, e
esta não se dirigia a nenhum conteúdo material específico,
mas se limitava a embasar o Estado. Como apenas o direito
positivo, neutro, desvinculado de qualquer valor ético, era
101
considerado Direito, passou-se a albergar qualquer ordem
jurídica que se adequasse a seus moldes formais. Governos
totalitários e ditatoriais são considerados, de acordo com esse
modo de ver, Estados de Direito34 tão válidos quanto as
democracias contemporâneas.
Para se distanciar dessa pretensa neutralidade
valorativa e resgatar o conceito de Estado, que com sua
deformação acarretou (ou agravou) inúmeras injustiças, os
movimentos sociais, posteriormente acolhidos nos textos
constitucionais, passaram a enfatizar a justiça material, em
contraposição à isonomia puramente formal. Estruturouse o
Estado Social de Direito. O termo “social” significou uma
tentativa de correção da falta de conteúdo nas leis e do
individualismo característico do liberalismo clássico. O
enunciado legal deveria, portanto, apontar para os chamados
direitos positivos, isto é, que demandam uma ação direta dos
entes públicos, como instrumentos para a realização da
justiça social.
Entretanto, ainda que o Estado Social de Direito
tenha em sua essência a finalidade da realização do bem-estar
geral e da garantia dos direitos sociais, essa construção
apresenta ainda grande ambiguidade. “Social” é uma palavra
sujeita a muitas e muito variadas interpretações. Cada
ideologia traz consigo a sua própria visão do que infunde este
conceito. Conforme observa Paulo Bonavides, “o Estado
social se compadece com regimes políticos antagônicos,
como sejam a democracia, o fascismo e o nacional-
socialismo”35 .
102
Por isso, tornou-se impositiva a esquematização do
Estado Democrático de Direito. A democracia, como fruto
da necessidade da realização de determinados valores
consagrados globalmente (igualdade, liberdade, dignidade da
pessoa humana e pluralismo político), é uma formulação bem
mais abrangente que Estado de Direito. Nessa esteira,
Afonso da Silva assevera:
103
ferramentas da democracia. Assim, seus traços marcantes são:
legalidade, princípio democrático e um sistema de direitos
fundamentais calcados na igualdade material.
A respeito desse sistema, o Estado Democrático de
Direito apresenta em seu bojo um núcleo normativo
irrestringível formado pelos direitos fundamentais. Inserto
neste rol, encontra-se a segurança. A Constituição de 1988
consagrou tal prerrogativa como um dos baldrames do
ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que a inscreveu no
conjunto de direitos e garantias fundamentais. Desta feita,
sacramentou-se em cláusula pétrea, que não pode sofrer
reformas no sentido de restringir seu âmbito de aplicação.
Ademais, conforme aduz Souza Neto:
104
jurídico perfeito e da coisa julgada. Esses mecanismos
consistem no impedimento da desconstituição dos efeitos já
produzidos de forma válida e legal.
A previsibilidade, por sua vez, é garantida através da
legalidade. Assim, segurança enquanto previsibilidade da
atuação, quer seja estatal ou particular, consiste na
possibilidade de saber com antecedência as consequências de
seus atos, além de limitar as intervenções das entidades
públicas (sobre sua propriedade ou liberdade) às fronteiras
demarcadas na lei.
Quanto à ausência de perigos ou redução de riscos,
ponto que concerne ao aparelho de segurança pública por
excelência, este subprincípio determina que “o Estado tem o
dever de garantir a incolumidade das pessoas e do patrimônio
(art. 144) através da atividade de prevenção, vigilância e
repressão de condutas delituosas”39 . Obviamente, é este
terceiro aspecto que interessa aos objetivos deste artigo.
Com este dispositivo constitucional, as autoridades
administrativas se predispõem a preservar um ambiente de
tranquilidade que permita a todos os cidadãos o
desenvolvimento livre de suas potencialidades. Isto se perfaz
por meio das chamadas instituições de segurança pública,
destinadas a “empreender ações e oferecer estímulos
positivos para que os cidadãos possam conviver, trabalhar,
produzir e usufruir o lazer”40 .
As entidades incumbidas dessa função promovem
suas ações no sentido de inibir, prevenir ou reprimir os fatos
delituosos que transtornem a ordem coletiva ou atentem
contra a integridade das pessoas ou de seu patrimônio.
Ibidem, p. 488
39
40CÂMARA, Paulo S. Defesa social e segurança pública. 2000, p. 3.
Disponível em: . Acesso em: 3 jan. 2019.
105
“Segurança pública é manutenção da ordem pública
interna”41. O objetivo é evitar perturbações no tecido social;
em as havendo, os agentes estatais se prontificam a
restabelecer a normalidade.
Dessarte, este direito guarda íntima relação com
dignidade humana, que é um dos alicerces da República
Federativa do Brasil, ex vi do art. 1º, III, da Constituição
Cidadã, e, portanto, amolda-se ao cerne axiológico do
ordenamento jurídico. Como corolário, os entes públicos
existem em função das pessoas, que devem ser vistas sempre
como um fim em si mesmo.
Enquanto essencial ao desenvolvimento pleno das
potencialidades humanas, a segurança interfere diretamente
nas garantias que compõem a dignidade, visto que esta se
demonstra como postulado multidimensional,
compreendendo um sentido negativo e outro positivo.
106
A Lei Fundamental dedica o Capítulo III do Título V
exclusivamente ao tema, definindo segurança pública como
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. E, no
inciso V do art. 144, estão enunciadas as polícias militares e a
elas é conferido o mister de polícia ostensiva e preservação
da ordem pública.
107
Filocre defende que “segurança pública é a ausência de
perturbação, garantia da ordem”44. O Manual Prático de
Abordagem, Imobilização e Uso de Arma de Fogo, elaborado
pela Polícia Militar de Alagoas no ano de 2004, define a
preservação desta ordem como:
108
estabelece a Constituição da República Federativa
do Brasil47.
109
saibam, de antemão, como guiar-se na realização
de seus interesses48.
110
e pudessem abrigar os indivíduos de uma conduta
arbitrária e imprevisível da parte dos governantes.
Tinha-se em vista alcançar um estado geral de
confiança e certeza na ação dos titulares do poder,
evitando-se assim a dúvida, a intranquilidade, a
desconfiança e a suspeição, tão usuais onde o poder
é absoluto, onde o governo se acha dotado de uma
vontade pessoal soberana ou se reputa legibus
solutus e onde, enfim, as regras de convivência não
foram previamente elaboradas nem reconhecidas 50.
111
particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na
Administração Pública só é permitido fazer o que a
lei autoriza. A lei, para o particular, significa “pode
fazer assim”; para o administrador significa “deve
fazer assim”52.
112
CONSIDERAÇÕES FINAIS
113
do ordenamento jurídico e consequentemente pela
reafirmação dos valores sagrados. Segundo, porque sua
conduta se baseia única e exclusivamente nestas mesmas
normas. Como detém o monopólio legítimo da violência (no
sentido weberiano54), suas ações não podem, em hipótese
alguma, se desviar das pautas legais, sob pena de elas mesmas,
constituírem atentado à ordem pública e ao Estado
Democrático de Direito.
O interesse público que a Polícia Militar se destina a
salvaguardar e, portanto, a diretriz finalística de todos os seus
atos é a realização da justiça social. Em última análise, é a
perpetuação da democracia. Nesse mister, por sua essência,
as instituições castrenses estão entre as mais democráticas
organizações existentes.
REFERÊNCIAS
114
BARROS, Marcelo. Políticas Públicas de Segurança no Brasil:
Mito ou Realidade? In: RATTON, José Luiz (Coord.);
BARROS, Marcelo. Polícia, Democracia e Sociedade. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
BOLZAN DE MORAIS, José Luis e STRECK, Lenio L.
Comentário ao artigo 1º, caput. In: CANOTILHO, J.J.
Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.;
STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição
do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
115
GRANGEIRO BISNETO, Sebastião. O papel da Polícia
Militar de Alagoas na efetivação do direito fundamental
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Maceió.
Curso de Formação de Oficiais. Polícia Militar de Alagoas,
2015.
116
Mulheres e vulnerabilidade:
encarceramento em massa nos Estados
Unidos e no Brasil
117
humanidade como uma contundente contradição que se
reproduz também no cárcere.
Em relação à mulher, verifica-se inconformidade na
estrutura do cárcere, especialmente quando o direito à
maternidade não é preservado, transcendendo a pena para os
filhos, como se evidencia nos Estados Unidos e no Brasil.
Nesse contexto, há dados que revelam o
superencarceramento de mulheres nas prisões desses países,
em sua maioria em decorrência do tráfico de drogas, sendo
os delitos cometidos por elas geralmente praticados sem
violência física. Esse aumento no número de crimes
cometidos por mulheres pode estar ligado a fatores como o
aumento da desigualdade social e a fragilidade do Estado de
Direito ao fazer cumprir as leis, pela imperativa sociedade
patriarcal em funcionamento, reforçando o desejo de punição
com fins de repressão das condutas delitivas do sujeito
feminino.
É sabido que as mulheres infratoras são marcadas,
em sua maioria, pela exclusão social e pela opressão intra e
extramuros do cárcere, reforçando a seletividade penal, que
impacta grupos sociais mais vulneráveis e, portanto, mais
sujeitos à violência institucional. Essa exclusão tem como
base estruturante a posição que a mulher ocupa na divisão
social e sexual do trabalho no âmbito da sociedade patriarcal,
refletida nas práticas punitivas mais acentuadas para reprimi-
las.
Em síntese, este estudo visa promover reflexões
sobre o encarceramento em massa de mulheres, seus
conflitos e antagonismos, tecendo críticas sobre a
criminalização e o aprisionamento sem condenação à luz da
criminologia crítica, recuperando elementos do tempo
histórico para analisar o contexto contemporâneo do Brasil e
dos Estados Unidos, países que concentram um grande
encarceramento de mulheres.
118
A MULHER QUE DELINQUE NO TEMPO
HISTÓRICO: CRÍTICAS AO POSITIVISMO
119
inferior ao homem, dada a sua falta de capacidade para
entender os perigos da vida em sociedade. Sendo incapazes
de avaliar suas próprias ações, representavam menor perigo à
sociedade, fato este notoriamente usado nos discursos dos
magistrados da época para atenuar as consequências da
delinquência feminina. Explicava-se a baixa criminalidade da
mulher pelos fatores biológicos ou pela associação entre
crime e loucura.
Por isso, o tratamento recomendado às mulheres
delinquentes poderia ser diferenciado, como serem
destinadas aos manicômios criminais. Havia uma
desproporção na aplicação das penas, já que o critério
norteador da defesa das mulheres nos tribunais era biológico,
não se levando em conta a condição de desigualdade social
em relação aos homens, a sociedade patriarcal e o sexismo, as
atitudes discriminatórias em função do sexo. É sabido que ao
interpretar os crimes cometidos pelas mulheres como fruto
da sua incapacidade mental, colocou-se a mulher durante
séculos como um ser secundário na história da sociedade,
portanto distante de uma percepção mais totalizante das
desigualdades sociais, culturais e econômicas construídas pela
sociedade entre os sexos. O tratamento dado à mulher era
piedoso ou cortês em razão de sua condição de inferioridade;
isso, por sua vez, contribuiu para a construção sócio-histórica
do sujeito masculino como dotado de razão, força e poder.
Conforme Lombroso e Ferrero (2010), as mulheres
que delinquem são degeneradas, pois violam as regras sociais
de sua condição feminina. Assim, são perigosas quando
comparadas aos homens e, por isso, devem ser consideradas
como “monstros”, uma vez que cometem duplamente a
infração das leis biológicas e morais. As mulheres
delinquentes teriam características da criminalidade
120
masculina e as piores características femininas: rancor,
falsidade e astúcia, sendo, portanto, distintas das mulheres
consideradas normais, que são reservadas, maternais e dóceis.
Ainda, segundo Lombroso e Ferrero (2010), as mulheres
delinquentes não são maternais, mas sexuais, porque a
maternidade e a sexualidade se excluem.
Apenas no século XX a criminologia avança na
compreensão dos crimes e dos sujeitos que os praticam,
porque estão imbricados com relações sociais complexas de
que fazem parte homens e mulheres. O jurista argentino Raúl
Zaffaroni (2017), no seu livro Em busca das penas perdidas,
desmistifica as relações construídas pela sociedade em torno
do poder punitivo que legitima a seletividade penal e aguça a
análise da crise do discurso jurídico-penal.
Sabe-se que há mudanças significativas na sociedade
e que ela não é a mesma desde sua gênese; os crimes também
não são mais os mesmos, e tampouco a criminalidade é a
mesma. Nesse contexto de mudanças produzidas no
processo histórico, La Torre (2017, p. 91) tece uma análise
criteriosa sobre o direito: “Es certo que la criminalidade tiene
hoy otras manifestaciones y outros contenidos, que nuestras
sociedades han cambiado y que en un futuro continuarán
haciéndolo y que sobre los futuros câmbios tendrá que
pronunciarse el ordenamiento penal”.
Por isso, a questão criminal e a questão de gênero
fazem parte do aprisionamento, do qual as mulheres se
acham em condição de aguçada vulnerabilidade no decorrer
do tempo histórico, ainda que um patamar de direitos
protetivos à pessoa humana faça parte do cenário nacional e
internacioal.
121
CRIME E ENCARCERAMENTO DE MULHE-
RES: ALGUMAS PECULIARIDADES
122
justiça daquelas cujos estilos de vida não estavam de acordo
com as regras morais da sociedade da época.
Desde o século XIX ocorre a luta pela reforma dos
presídios, no sentido da criação de uma equipe de
profissionais para atuar na prisão; da capacitação dos
funcionários para que se ocupassem em “corrigir” os
condenados, e em especial, as mulheres; de aumentar o
número de prisões e melhorar as condições no espaço da
custódia; de fornecer uma adequada assistência pós-cárcere e,
por fim, da criação de asilos provisórios para os condenados
que conseguiam a liberdade (idem).
Em relação aos crimes cometidos por mulheres, há
tipologias específicas em relação ao contexto fático e às
determinações sociais, históricas e econômicas: crimes
cometidos por paixões, pequenos furtos e maus-tratos a
idosos e crianças etc. A literatura traz muitos escritos sobre
essa temática, entre eles os escritos da socióloga Carol Smart
(1976), no final da década de 1970, com reflexões densas
sobre mulheres e criminalidade.
Contemporaneamente, Davis (2018), analisa a
criminalização e a violenta sexualização da vida nos sistemas
prisionais, tecendo críticas às punições públicas pela classe,
pelo gênero e pela raça. Essa autora, recuperou elementos
históricos da Europa e, especialmente, dos Estado Unidos
relacionado à ascensão do capitalismo ao surgimento da
prisão (DAVIS, 2018, p. 46). Continua a referida autora,
destacando que o gênero estrutura o sistema prisional e que
nele há um conjunto de violências que mantém as práticas
punitivas e patriarcais, portanto ultrapassadas e obsoletas,
porque se acredita que por meio das prisões femininas as
mulheres “criminosas” podem se regenerar.
123
As mulheres no cárcere também foram objeto de
estudo na obra pioneira, no Brasil, da socióloga Julita
Lemgruber (1999), escrita na década de 1970, que recuperou
a gênese da prisão de mulheres no Brasil e a relação das
primeiras penitenciárias com os ensinamentos religiosos
cristãos e morais, no contexto de ascensão do capitalismo
brasileiro.
Nessas obras, a narrativa das autoras se encontra
quando tecem críticas à sociedade patriarcal, à sociedade
capitalista e à condição de vulnerabilidade da mulher na
sociedade e no no cárcere, no tocante às desigualdades de
gênero, de classe e de raça que se perpetuam no tempo
histórico seja na Europa, nos Estados Unidos ou mesmo no
Brasil, como se verifica a seguir.
124
estão com os dados incompletos. Entre os países com maior
população carcerária estão os Estados Unidos, a China e o
Brasil. (WALMSLEY, 2018, tradução nossa).
A quarta edição da World Female Prisonment List, de
2017, expõe o número de mulheres e meninas mantidas em
instituições penais em 221 sistemas prisionais em países
independentes e territórios dependentes. Os números
incluem presos provisórios/detentos em prisão preventiva e
aqueles que foram condenados e sentenciados. A lista
também mostra a porcentagem de mulheres e meninas dentro
de cada população carcerária nacional e o número de
mulheres e meninas presas por 100 mil da população nacional
(a taxa de população carcerária feminina).
Há poucos países em que os números não estão
disponíveis (Cuba, Eritreia, Coreia do Norte, Somália e
Uzbequistão), e os da China estão incompletos. Essa lista
mostra que mais de 714 mil mulheres e meninas são mantidas
em instituições penais em todo o mundo, seja como
prisioneiras, presas provisórias ou condenadas e
sentenciadas. Os dados da população carcerária mundial
explicitam onde se acha a maior concentração dessa
população:
125
nos dois anos e caíram substancialmente no México, na
Federação Russa, na Tailândia e no Vietnã, todavia ainda
revelam indicadores elevados. Ainda que o índice geal de
mulheres presas no mundo seja baixo em relação aos
homens, a quarta edição do World Female Imprisonment List
(WFIL), 2017, afirma que houve o crescimento de 53% da
população carcerária feminina em todos os continentes desde
2000. Nota-se ainda que o encarceramento de mulheres foi
três vezes maior no continente americano e, de forma geral,
tem aumentado significativamente quando comparado ao
encarceramento de homens, ainda que o encarceramento
masculino seja, em números absolutos, mais elevado.
126
nos EUA. Mais alarmante ainda é o fato de que muitas dessas
mulheres estão encarceradas sem condenação, porque
aproximadamente 60% das mulheres em prisão não foram
condenadas por crime e aguardam julgamento (KAJSTURA,
2019, tradução nossa).
Nos Estados Unidos, ficam detidas porque não
podem pagar a fiança. Outro aspecto preocupante nas
carceragens é o acesso restrito à família, ligações telefônicas
pagas por elas, sistema de cartas que muitas vezes não é
permitido, refletindo no afastamento da mãe do contato com
a família e com seus filhos, na maioria das vezes. As clamadas
telefônicas são caras e as comunicações de forma geral são
restritas, porque algumas prisões não permitem cartas,
somente cartões postais. Dessa forma, “Isso é especialmente
preocupante, dado que 80% das mulheres nas prisões são
mães, e a maioria delas é a cuidadora principal de seus filhos.
Assim, as crianças são particularmente suscetíveis ao efeito
dominó dos fardos colocados sobre as mulheres
encarceradas”. (KAJSTURA, 2017, tradução nossa).
Ainda que os determinantes ético-racial e sexual
sejam pouco analisados nos documentos sobre mulheres
encarceradas e que o maior percentual de mulheres presas
nos EUA seja de mulheres brancas, verifica-se que as
mulheres negras e lésbicas ou bissexuais estão mais
vulneráveis ao encarceramento pela sua condição social, além
de ter penas mais endurecidas. Verifica-se também que nem
sempre as mulheres encarceradas são condenadas pelas
infrações cometidas, porque aproximadamente um quarto
das mulheres encarceradas não são condenadas, quando são
julgadas. (KAJSTURA, 2019, tradução nossa).
É alarmante o crescimento do encarceramento nos
EUA, tanto de homens quanto de muheres tem uma relação
127
direta com o que o sociológo Wacquant, em Prisões da miséria,
denomina de “tolerância zero”. Segundo o autor, no pós-
guerra, os Estados Unidos e outros países como o Reino
Unido e a Nova Zelância reduziram seus gastos sociais e
estimularam o trabalho flexível e a instalação do programa de
trabalho forçado (workfare) para os beneficiários da ajuda
social. A derrocada do Estado-providência provocou o
dumping social, implicando maiores taxas de pobreza,
segregação societária e insegurança social, o que alimentou a
criminalidade. Sendo assim:
128
resposta ao tratamento da miséria. Esse mesmo Estado revela
uma assistência deficitária, muitas vezes realizada por firmas
contratadas, uma vez que o Estado neoliberal levou à
privatização dos presídios e da assistência aos encarcerados,
o que inclui a tutela sobre suas mulheres e filhos
(WACQUANT, 2014, p. 64).
O mercado do tráfico de drogas vem crescendo
demasiadamente e faz vítimas as mulheres e meninas, além
de homens e meninos que, pela falta de condições de trabalho
e políticas sociais protetivas de seguridade social, acabam à
mercê desse mercado em franca expansão em todo o mundo.
Há, portanto, traços de gênero, etnia e classe justificadores da
inserção forçada desses segmentos no mundo do tráfico de
drogas, no qual as mulheres e crianças são mais vulneráveis.
É, portanto, nesse contexto de elevada globalização
da economia, desemprego estrutural e criminalização da
pobreza, que as mulheres são encarceradas, partícipes de um
processo judicial que desde o começo é recortado pelo viés
de gênero, etnia e classe social. Da abordagem policial à
sentença e, posteriormente, à reclusão, as mulheres são
vítimas de discriminação e parte de um quantitativo que vem
crescendo, cujo perfil é o de mulheres jovens, em sua maioria
de 19 a 33 anos, em idade produtiva para o trabalho, com
baixa escolaridade, negras e mães solteiras, que respondem
pelo tráfico de drogas (pequena quantidade de drogas,
geralmente) (INFOPEN, 2018).
Há, portanto, causas estruturais que explicam o
porquê de tantas mulheres estarem aprisionadas em razão da
guerra ao tráfico de drogas. As mulheres são assistidas pelo
sistema de justiça, que carrega as marcas do patriarcado de
controle social dos corpos femininos, reiterando que o crime
129
é um fato social porque agrega concepções de hierarquia
entre homens e mulheres.
Há, no Brasil, 726.712 pessoas privadas de liberdade.
Aproximadamente 40% das pessoas presas no Brasil, em
julho de 2016, não haviam sido julgadas e condenadas. No
total, 38% da população condenada cumpre pena em regime
fechado; 32% das vagas existentes destinam-se aos presos
sem condenação; 55% da população prisional é composta por
jovens com menos de 29 anos, segundo o Estatuto da
Juventude; 64% da população prisional é composta por
pessoas negras; 17% da população prisional não teve acesso
ao ensino médio (INFOPEN, 2017).
A população carcerária feminina no Brasil
corresponde a 42.355 mulheres, em 2016. Há um déficit de
vagas: 15.326, isso porque, nos espaços com capacidade para
dez mulheres, encontram-se custodiadas 16. Entre 2000 e
2016, a taxa de aprisionamento de mulheres aumentou 455%;
45% das mulheres presas não haviam sido julgadas e
condenadas. Os dados revelam que 74% das unidades
prisionais destinam-se aos homens; a arquitetura prisional e
os serviços penais não foram planejados para o público
feminino, sendo posteriormente adaptados para a custódia de
mulheres. São, por isso, incapazes de observar as
especificidades das necessidades cotidianas dos espaços e
serviços destinados às mulheres (INFOPEN, 2018).
A população prisional feminina é composta por 55%
de jovens de 18 até 29 anos; 62% por mulheres negras; 66%
não acessaram o ensino médio, tendo concluído, no máximo,
o ensino fundamental; apenas 15% concluíram o ensino
médio; 62% cometeram crimes relacionados ao tráfico de
drogas (INFOPEN, 2018).
130
Essa concepção de mulher criminosa como mulher
desviada das suas funções sociais recupera elementos do
positivismo lombrosiano, de que ela se desvia dos padrões de
normalidade e que, por isso, pode suportar um sistema
criminal ostensivo. Por outro lado, desconstrói a tese de que
a maternidade estaria vinculada às características dóceis da
mulher e que, portanto, essa mulher não estaria apta para o
crime.
Verifica-se, dessa forma, que embora os homens
constituam a maioria dos prisioneiros no mundo, as mulheres
passaram a ocupar os estabelecimentos prisionais
especialmente na última década, punidas com penas mais
severas, muitas vezes antes do julgamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
131
A omissão em prover condições mais adequadas à
mulher no cárcere revela os nexos com uma cultura patriarcal;
nesta, o lugar da mulher é de subalternidade. A partir disso,
se discriminam, penalizam e excluem as mulheres infratoras
antes mesmo da sentença; elas passam a ser esquecidas,
renegadas e odiadas por suas famílias e pela sociedade, numa
retórica histórica que se reproduz ao longo dos séculos
desafiando as conquistas civilizatórias.
Esse controle através do aprisionamento, não se faz
sem uso da violência para assegurar a reprodução do capital,
por isso o encarceramento em massa não acontece somente
nos países subdesenvolvidos, mas afeta principalmente a
população pelas questões de raça, gênero e classe social, a
exemplo dos Estados Unidos e do Brasil. O uso desse
controle pelo Estado, principalmente ligado à “tolerância
zero às drogas”, soma-se à violência institucionalizada nos
estabelecimentos penais como uma mediação no contexto do
desenvolvimento capitalista, que sempre recorreu ao uso da
força policial para conter os mais vulneráveis e nesse grupo
estão as mulheres.
REFERÊNCIAS
132
GRAZIOSI, M. Infirmitas sexus: la mujer en el imaginário.
Nueva Doctrina Penal, Buenos Aires, 1999.
133
WACQUANT, Loïc. As prisões da Miséria. Tradução:
André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2014.
134
WWW.PHILLOSACADEMY.COM
135