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llr” pa “TONGA: os ~ primeira Guerra Mundial, « arma do arquive : hist Priedore, . on “Uma historia po : none As trincheiras da ciéncia .. éncia de Paz expertise na Conferéncia . on Uma pista Ill, O triunfo do cientista impotente e as vias alternativas 1920-1970 1. O descrédito das misses anteriores . A sobrevida dos papéis ultrapassados . 2s “A istria no mundo em ruinas”, © histories desarmadg. 25 Gise do histria: que popel social para ohistoriade ee Ip 2. As alternativas 225 A prolissionclizagio da pesquisa como saida ...._ — Um modelo: 0s gedgrafos na cidade ...... oh O historiador e © homem de acao segundo lucien Febvre e os Annales nascentes oa e mnesm Atestomunha € 0 UZ eccosen - 253 : vex, Diante desseeribunaly sa ribunal da Histéria, 3:0 engojamento ov a ciéncia: 1939-1968... reece ivis ea defesa designaram como tri fo pace! eae so 263 a RT Dy rere = ecm ered ma conteslagio da posicéio do historiador? .... seen 269 \testermunhas de um tipo peculi Se este OMG dO VIO aornrunntninnnn 1 266 sGitadosimucomparecersios © duplo sentido das controvérsias cio ficas ooo 273 verdade. Pot cl Diante da Alemanha ...... seeenetce 275 Nave tevhorizonteideolégico 277 tte teteeneeseeseseeseceneecnse 285 Uma historiografia mil tante depois de 19452 . 290 Concluséo: . a mr 2 ier pid, Cfetaciomene © 0 triunfo da arte pela arte .. a Rome Por baixo do historiador . seseeeseesenssere OZ © “historiador faumaturgo” seccnetesestseenteee STO deve do jri, em matérias que eScapam 3 com, vida nio foi demonstrada, Finalmente, essg exeeto 0 dossié de que no podem ter co, ‘estiveram envolvidos no processo de de aconselhar 0 PPC ica deste, n tudo, pevéneia jt sexperts examina reimenro, salvo aqueles que itpaea. Essex exert gue 130 30 CPEs i junas. aquilo de que nd0- foram tester! aoe tanto, nos primeiros das de novembro, segundo o ad. vogade de Paps, Jean-Mare Varraut, © proceso assamin 2 forma roa cotéquio de hstoriadores, Todas as variedades da tribo foram ae dadas as expressat! os Brandes especialistasestrangeiros, lou- serpee entcados por esa mesma razio, 0 figurdo recentemente en- Tonivado como especialista do periodo por suas expertises na matéria, ‘epecialistasreconhecidos cvjos trabalhos formam os estudantes, um testemunham, portant, terveante armado com sta ese, 0 historiador locale, finalmente, o his toriador académico: René Rémond, Robert Paxton, Philippe Burrin, Michel Berges, Jean-Pierre Azéma, Henri Amouroux, Marc-Olivier Baruch... na desordem, o leitor reconheceri os seus. E, nio fosse por sua recusa, os epoimentos de Henry Rousso, Maurice Raju e Denis Peschanski teriam vindo engrossar ainda mais 0 caldo desse coléquio, que 56 chegou a termo com os depoimentos de historiadores inti- Michel Berges ¢ Maurice Delarue, dor, coautor da t is tarde inval 1. Nesse momento ‘importincia de depoimentos de historiadores explica 108, fotos ¢ caricaturas coloquem em plena 3 que se tornou histori curso de instrugio (1985), costumam viver sombra dos arquivos: na pri jor ‘ou de Por fim, esse frum de historiadores, que toca na questio da snatureza de um processo que tem a hist6ria como material, se vé Gplicado ma imprensa de opiniio por aqueles euj auséncia em Bor- “jena permite que se expressem com foda liberdade: Michaél Marras, Denis Peschanski, Eberhard Jaéckel. Mas, consultando os difrios € emanirios, logo percebemos um mal-estar relacionado 4 ambigui- ade de um estatuto incerto. As recusas de testemunbar falam por Sj mesmas; Henry Rousto escreve a0 presidente do tribunal: “Nao Fondeno 0 processo, mas adoto a mesma atitude que adotei quando partes civis do processo Touvier me pediram para testemunhar. preencher as lacunas devidas certas “Aquilo que se espera dos historiadores ~ so fato de que os jurados nio viveram aquela época, restituindo um iu ver uma responsabilidade esmagadora’.* Sua carta contexto~é amet ¢ depois um liveo Ihe permitem recusar a aplicagio de seus trab ividuo singular, a sujeigo de sua pesquisa as regras do ques- utilizagio abusiva aum indi tionamento juridico e, por fim, a deformagio a de suas conclusdes num contexto que nio & 0 do mundo da pesquisa.* Mas se trata de uma evasio, de um simples fechamento covarde no calor confortivel das bibliotecas € dos arquivos? £ claro, muitos sio aqueles que nio podem jurar que testemu- rnhatio “sem édio",’ mas essa desculpa ainda nio foi invocada. Na realidade, o espaco dado aos historiadores instaura um duplo debate. 10 do processo, essa onipresenga inicial dos historiadores necessidade de remediar o deficit de experiéneia do jtiri que No a nio viven © periodo concernido, Os conhecimentos por vest entio a falta de compreensio daquele que istoriador é uma testemunha, A evidéncia 0 dos historiadores suprir vio viveu os fatos: 110 repete.”” A afirmagio si ae tenporneo por atures, esariam dotdos de compen bss pra compreenr aoma que dio que pensar ~ong, por exemplo do retorno dos emigrados em 1815, Noy Os advogados de Paul Touvier ¢ de Maurice Papon insisting too nese aspect, ¢ mus wets Com aumento seman de Henry Rousso sobre a auséncia de qualifica the como testemunhas. rica implica ' do processo Papon, os processos de Ki jo do caso de René Bou istoriadores da contempo- raneidade, especialistas, e/ou na Seg Masasqu ’4 ou como exper, eles também geram outras formas 9. No caso do processo Papon, 0 " resultado da expertise anulada em 1987, e, decerto ainda mais, a expertise feita fora do quadro judicial ~ mas amplamente considerada durante o proceso tracdes espetaculares do fendmeno. ‘em que a instrugio ia pela pi lc jliri sobre 0 caso de Paul Touvier, o cardeal Decourtray sar toda luz possivel, \dependéncia, sobre a ajuda concedida pela Igreja da Touvier durante os anos em que este viveu fora da Essa comissio, de que participam Francois Bédarida, Bernard Comte, * CHALANDON, Sog, LHtstoite pour témoin [A His 997 econo Jean-Pierre Azéma ¢ Yves Durand, é presidida por René Rémond Suas conclusdes sGo apresentadas em 1992 sob 6 4 Igri: relatrio da comisao histriainstituida pelo candeal Deournay® Dessa experiéncia de ipio e com fins priticos, jf que se trata de identificar 0 grau de responsabilidade da Igreja nas manobras que esconderam Paul Touvier da justiga de seu pais, 08 pacticipantes da comissio tiram conclusdes que langam tuma luz diferente sobre a significasio da atividade e da produgio do historiador. Frangois Bédarida, na véspera da publicagio, sublinha o cariter cexcepcional da empr ‘0 cardeal Decourtray se Jangou num cempreendimento sem precedentes”.A aventura é, segundo ee, uuna ex periéncia de laboratério para os historiadores.? Bédarida desvelaotriplo desafio ~ cientifico, civico e religioso ~ da investigagio e, sobretudo, revela uma verdadeiratransformagio da missio do historiador ao final >. Se 0 método é ah mge como inovador, a raridade esté em outro aspecto: sls de aul, esses lugares ond fc emis demonstra sn oven ‘A clivagem é aqui Eyer jiu oveato dad eam Jo saber. superada, ji que o teatro da acto se torna simultaneamente o d anne Ter ln yeronin co a Débat, 2.10, maio/our, 1992, p. 209-221 Plo, 1989, p97 (Ediio “Tradgia de Lowi © WEBER, Ma, a yocton dus brea A icls como voc own Quanto 20 caso Touvier ele 6 ais uma visio res : oriador que Se t spat ds miedo do historialon, de wm hitoritee 6 tora a ie ea em razio de sua exert Wistorica, De Gato, testemmmmha na quando do pros pars esclarecer 0 esso, 0 presidente do tribu jnrados, enguanto 2 2 sr pea deserevero sentido do engalaments da ‘al da historindor como exper R0 tribunal “Tensor de Paul Touvier invoea a auséncia de valor das provas historicas diante de um tribunal. Sem tirar ainda qual- a reycusio sabre o iso Touvier onto ave cle ema Nua a Soi nistoriadores citados acima. Cobertos de directo ji romada os dace Nemo ocupado por mio rempe postos-Chave da profissio aos tor, Rene Rémond cFrangois Bedaida através de artigos ¢ preficios, desenvolvem um discurso sobre 2 responsabilidade do ee etiados sobre sua fondo social, sobre sua atitude diante de uma “hensanda social que, muitas vezes em busca da identidade, solicita co historiador em detrimento da dimens pela verdade, Esa refesio acaba por att Per pasriador e a sua obra. Esses escritos ressoam como apologias pro domo da asvidade do historiador no seio do corpo social is quais sroaa eco wma sobrevalorizacio social do direito do historiador a manejar 0 glidio de uma justi tion, Dominique Kalifa langa como uma evidéncia: “A repressio da Comuna, 2 justiga de Vichy ou da guerra da Argélia tiraram como testemunba Milicia, Masa entrada tri E contesta jo universal de sua procura ibuir um papel considerével ica retrospectiva. No jornal Libéra- 4 proveito sobretudo do peso crescente das questdes de meméria € das fungdes de juiz atribuidas 20 historiador.”* Mas esse efeito da demanda social resulta também das pretenses dos historiadores segundo Gérard Noiriel: {schon coronene tnscomgem a “Bi de fixo comodo dems es etalver oroponents, ots de suci de Anne Brel a quem gradego- que Notes quem prego que esta cobrind o proceno pate ———_"=_—C—~™ enoucto storiador é antes de tudo um expert ou wm "uma parte dos historiadores do amo presente se esforga para confirmar esta image Bs Serve, que ndo se restringe & Franca, provoca um sen see ee compartilhado por um grande nGimero de PS se ndores do tempo presente, mal-estar que forma WIEST caraesea de um debate sobre 2 “fungio social do historiador Aideia de que w Juiz tonde ase difundi. Al corde com as apreciagSes de Gérard Noiriel, Embora nio cont nha pergunta 6a mesma que a dele: ajustificagio da atividade do jador estaria num momento de virada? (mi histor {A jusfcacao @ « operas historiogréfica ical ilustra a relagdo primordial gue o historiador, ‘om a legitimagio de sua atividade, al, Maftre & penser, formador da Esse desvio i como todo ator social, mantém ¢' Com sta justificativa para fazer parte do corpo soci boca da verdade, desmitificador, conselheiro dos principes, javentude, educador, defensor da patria no quando descreve os momentos de éxtase do cientsta, inteira~ mente aparrado 3 sua descoberta como Venus & sua presa, Max Weber dnio conclu que esta sejaafinalidade social da atividade: “Se estamos enquanto cientistas& altura de nossa tarefa, podemos entio obrigar © individuo a se dar conta do sentido diltimo de seus préprios atos, ou 40 menos ajudé-lo a tanto." Para compreender as transformagbes da cxctta da historia hoje, parto entio da hipétese de que ela mantém ‘uma relagio obscura, mas comprovada, com aquilo que os historiadores saramente evocam ao termo de sua atividade cientifica: a razio de ser jocial de sua atividade, Sob as denominacdes de “tarefa do historiador”, “missio do historiador”, “fungio social do historiador”, “papel social do historiador”, “responsabilidade do historiador” reside a ideia de que | este cumpre uma fiungio preciosa, especifica ¢ incomparavel, que nio licanas de Viehy. Pati cs “Om 000 0 STON LIER RON distingue nem o pesquisador nem 0 professor. E claro que a frp que escolhi se inspira num texto célebre de Lya 6 que, entre fal) Tnvoeadas para justficar a nogdo de “dever social” op e Albere de Mun, o historiaas futuro marechs, autoridades i a0 lado de Eugine Melchior de Vogi emblemitico da época: Ernest Lavisse. Nesse texto, exboga um quadro edificante das aptidées do off Se existe um quadto, na acepeio militar do termo, capa povorers deers na ago mai ala Qo os cutest 6 primeiro a se compenetrar da necessidade e da urgéncia do ais franceses tle é, portanto, um maravilhoso agente de agio social. [.] ude faz dele umm justiceiro, confére-Ihe o papel de irbiteo ideal. Ele tem valor de exemplo, pacifica as relaes de classe pelo laco que estabeleceu com as camadas inferiores, ‘marechal! Contudo, esse titulo nao brilha por sua ori pois do artigo do militar, 20 menos dois outros livros submeteram 4 critica a interagio do cientista com seu entorno social evocando seu €,no infcio dos anos 1970, o de Joseph Ben-David.” assim como uma I, mostram de que mai jtura atenta de Esses ilustres preceden uma reflexio semi mcr censio transcendente da missio ndo a ica ares jiografia exaustiva. A d ma de referéncias deste livs trigdo de um lu ‘eo debate, hoje recorrente, jeaba descambando para uma com do histor smo como ator social. ” paul Ricceur outrora de que somos papel do historiador, ist, do estudioso, varia mesmo que seus procedimentos ¢ or vormas de sua arte possam permanecer idénticos. E esse papel Por eres fagaz engendra seus efeitos proprios, a ponto de modificar 2s beces epistemolégicas e deontologicas da empreitada historiadora. © 10 se bascia nessa hipétese de trabalho. ‘nio da historiografia francesa, a onipresenga rentava Charles Seignobos se impée. Ao final de suas Doze ligGes sobre a histiria, Antoine Prost consagra um inteiro a uma¢*fungio social ambigua” ¢ designa a missio do historiado®: superar 0 desafio da sentimental febre comemorativa presente li ara ficar no dot de uma questdo que i 1, 200, p. 648-699. (Edicio nas: Ed, ‘© pve soci 00 stoHADOK OA AEN de explicagio para prepara, ao descrever a crise da hse” ‘¢ transformé-la em tentativa racional amanhi! Gérard Noiriel, por sta ¥o% © ria, faz do questionamento da fun¢o social do himorador 0 fone onde concepgdes antagénicas da historia s¢ 6 entamns a “finery eat seoisye eapliizamente no sndice analitico do livro, Pap, | ele, distinguir o historiador do jomnalists distinguir suas fangseq ee de investimento dos historiadores q, | sociais; esclarecer os lugares de inv contemporaneidade equivale a avaliar suas resPostas A demanda so, | Sai? Todo 0 trabalho de Gérard Noiriel legitima histéria come dade de saber apoiada sobre uma tradicio ¢ portadora de um, asledade especie, Sua reletura acenta de Apologia da hitéria de. tonsa aque ponto Mare Bloch associa constantemente ajustificacig pelo reconhecimento do grupo dos pares € a justificagio do trabalho pelo piblico (ensino), ja que a his I das contas, deve per. mitir viver melhor. 2 Num registro diferente, ‘din ntimero inteiro da revista Diagéne sobre a responsabilidade social do historiador se abre com um artigo de Francois Bédarida sobre o gssunto.2" E um dos balangos mais bem informados e mais sintéticos sobre a historiografia francesa dos dois iltimos séculos se fecha com sequéncia que se tornou clissica. A descrigio * Ost Aiea nin us LS 1%6,p.318:06 Eb bi Dustin sina Ta de Gur oto de Pees Teter, Blo Hor Auténtica, 2009), , * Bee Herzen * NOIRIEL, Gd url“ se Sabres »caTiNet ss ey BEDARIDA, Foot Pri ns ishitorene pon [Pi hierar respons Dig 68 (Ls Rope sa eho). at iden woe ire et le style [Georges Duby, 20 eon de Christian Delacroix estabelece legitimamente a ligagio entre essas hipotecas que agem sobre a justificagao do papel social do historia dor2* A posigao cética de Paul Veyne, para quem a imparcialidade do historiador 56 se realiza com a condigao de “'jé nfo se propor fim hlgum exceto o de saber por saber" parece tnica hoje. Essa justificagio através de um papel, ¢ a responsabilidade que decorre dele, nio comporta apenas serviddes, também implica prer~ rogativas; quando Henry Rousso invalida de antemio as abordagens dos nao historiadores no que diz respeito a Vichy, ele 0 faz em nome Go oficio, da ética e da responsabilidade do historiador na difusio dos Saberes e dos conhecimentos e de sua avaliagio cientifica” O papel social do historiador parece justificar uma atividade a priori inail, gra- tuita, que nada se distinguiria daquela do antiquério, do colecionador reconhecida uma fungio. Este livro pretende, portanto, apreender e reunir os sintomas convergentes que trazem a luz a estreita relagio existente entre a |justificagao e a produgio dos historiadores. Basta nascerem “Os en~ ‘contros da histéria em Blois”, no outono de 1998, ¢ a questio do papel do historiador se impée para justificar a empreitada, No quadro da investigagio, pouco importam os arcanos dessa criagio, a sede de prestigio de Jack Lang, seu gosto sincero pela hist6ria ¢, finalmente, a concorréncia com o festival dos geégrafos em Saint-Dié; verifica-se que uma das questées primordiais colocadas 20 conselheito cientifico permanente dos encontros, o historiador da antiguidade Maurice Sartre, reconduz 4 questio: “A criagio do festival de histéria propor- cionaré aos historiadores a oportunidade de afirmar para o grande {mand Colin, 2000. iaemolegie, Pare: Le Sexi (1-04. 1971), 1978, Prawe (As correntes historias + VEYNE, Pa 51 Ediczo br Balter e Maria Aw 1996) » CONAN, frie: ROUSSO, Heney. Vichy, an pase qu ne pase pe (Vichy, um passado que nfo pasta) Pais Fayard, 1994 Comment 2 HESTEAMADOE: OA CATEDSA AQ TESS (© meet SOC DO HSTOSADOE: dade atwal?”2" A resposta de Maurice Sa to; hesta entre a dentincia dos penn '® a tig so da historia como preparagio pay, og spel na socie' valéncias da da historia oficial ¢ a celeb dos da palavra democritica. confrontos regulad “Nao ha ditadura onde a histéria seja livre. AO contritio, Estados democriticos, a pesquisa histérica suscita debate ¢ contre, vvenia e participa a seu modo do debate democritico."” E, meig cto, © processo Papon, a polémica sobre 0 Livro negro do comunisns ‘ova comemoragio do centendrio do caso Dreyfus se impem con, ccemplos. © historiador parece aqui reduzido a0 papel de antidorg 105 maus usos da histéria ou ao de pedagogo das regras da cidade, 4 cespecificidade de seu papel social se apaga totalmente quando se trata de presidir ao batismo de uma empreitada que celebra as virtudes ¢ S . 1 Hoje: a encomenda e a expertise, ‘em nome do interesse geral, em nome dos interesses particulares pablico seu Pa (© festival pode assim se tornar a oportunidade de reffetir sobre o lugar da histéria em nossas sociedades modernas. Mesmo que muitas vezes seja desagradivel, é preciso de vez em quando se olhar no espelho":"” © medo das responsabilidades inerentes a0 sucesso d discurso dos historiadores é justificado? ° ess de hin nes de 1. Inveng&o do historiador expert a dialética passado/presente faz do historiador um par- ‘cipante privilegiado do espago social. Na medida em que a historia do tempo presente que ele produz é mais do que outras ‘uma transerigo em resposta a uma necessidade, ele testemunha, na sociedade onde esti situado, de uma visio do devir, no ponto articulagio do passado e do presente, €, por isso, projeta uma vvisio do mundo. Daf uma pesada responsabilidade na formacio da consciéncia hist6rica de seus contemporineos. Pois a demanda de histéria que nos assalta coloca mais do que nunca a questo: para que servem os historiadores?[..J E assim que se desenvolveu. hoje em dia uma corrente que tende a reconhecer aos historia~ dores do tempo presente um estatuto uma fungio de experts, como se péde constatar no caso Touvier, jé que, pela primeira vez, vimos historiadores serem chamados para a barra de um tribunal a fim de darem mostras de sua expertise. Se € verdade que com uma maneira dessas de fazer hist6ria, sendo a margem, ‘40 menos em pleno vento, os riscos corridos so consideraveis, a situagdo exige que se pratique com discernimento a dialética —quase se poderia dizer a ascese — cara a Norbert Elias, a saber, © duplo processo engajamento/distanciamento. A esse prego, a fungio social engendra uma nova identidade historiadora, na qual podemos ver a0 mesmo tempo o efeito da mudanga de aradigma e 0 fruto da reconquista do par passado/present * BEDARIDA, Francois. La dialectique passé/présent et Ia pratique historienne [A di pasado/presente ea iador). In: BEDARIDA, Frang Hist ete Sotj Chalandon (08 judiciais de crimes contra tem coberto continuamente os casos judiciais aa a Barbie ao de Maurice Papo. Num, sobre o testemunho do historiades manidade, do proceso de KI dezena de anos, 0 olhar do jon ° evoluiu como um barémetro da justificago social e corporativa desgs novo papel assumido por ele. Em 1987, 0 texto do jornalista repercure ‘a em varias vozes, 0 desfi sa risada, essa queda no ridfculo vem com as “tes. eresse geral” ~ terminologia que causa perplexidade hoje! E € Chalandon que sublinha o risco dessas testemunhas que indo sio testemunhas: Hoje, pela primeira vez na Franca, somos confrontados com um, crime de um tipo particular. Contra a humanidade. E & por isso que homens e mulheres sem relago nem com os fatos nem com aquele que os cometeu vem depor diante desta corte. Estio ali para definir 0 quadro geral, 0 ambiente em que os crimes de ue Barbie é acusado foram cometidos. Mas 0s riscos qu 10 de testemunha representa sio perceptiveis. Das 1mos 4 Histéria. Do softimento, passamos as palavras. pa E vem entio 0 retrato cruel do homem notavel que foi Léon Poliakov: Léon Poliakov, “Apenas usar notas ‘Phisoron en France 1945-1995 [A historia © oc de his (MSH, 1995, 75-85, es, em todos os pessoas de cepa ger avisa o presidente Cerdini2® Sete anos depois, no auge do processo Touvier, depois dos depoi- ‘mentos de René Rémond e de Francois Bédarida, Robert Paxton, que derrubou as visbes conciliadoras de Vichy,” depde no tribunal: tudo: mudou: “A sala é estudiosa, séria, a0 contrério de certo piblico que ‘costuma frequentar os tribunais. As pessoas splesmente escutam, prestam verdadeira atengio. Para além do processo que segue seu curso, €a Historia que esté sendo dita”.™ Entio vem o ataque de Trémolet de Villers, 0 advogado de defesa de Touvier, que recusa a qualidade de testemunhas aos historiadores e, diante do sereno noste-ameticano, reduz 0 trabalho desses a mera opiniio. “E a Histéria que fila”, sete anos antes a Hist6ria nio passava de palavras diante da verdade das historias singulares; o historiador era ridiculo; agora se tornou sereno, firme, quando nio irénico diante das agressses da defesa. Por certo, entre Léon Poliakov desfiando suas citagdes e a atitude altaneira de um Robert Paxton, podemos ver apenas a opiniio de um dia, mas se trata de uma curva que se delineia sob a pena do cronista. Do erudito zombado @ autoridade detentora da verdade, o deslocamento do olhar sobre os historiadores encontra um eco na maneira como os historiadores se apoderam de lugares e de modos de expertise inusitados até entio. Quando Serge Klarsfeld (Le Mondd) revela a presenga na Secretaria de Estado dos Ex-Combatentes de um arquivo judeu que, a0 que tudo ‘Oma soca po stones deve ser o famigerado arquivo Tulard da chefia de pot g vo esencal da perseguisao racial, Jack Lang ony. Paris, ferrament esate sobre sua devoluo. B certo que Ren: i Jack Lang como presidente do Conselh, ta de missio situa 0 problema “ey, Mas, ag lema colocado poderia ter limitady . comissio “Rémond” se organiza indica, ‘uma comissio émond é indicado por Superior dos Arquivos € que a cart u nae \eiaco aplicivel e aos problemas t6cnico passo que a natureza do prob earquivistas, @ comissio a juristas segundo um modelo completamente diferente. Sea presenga de Jean Kan, ento presidente do Conselho Representativo das Instituigges Judaicas da Franca (CRIR), serve de alibi a uma decisio eventual. mente desprovada por alguns dos filhos das vitimas, se as presencas sucessvas de Chantal Bonazzi e Paule-René Bazin coincidem com a dimensio técnica da questi, os dois historiadores associados nig tém autoridade especitica para tratar do problema da conserva¢o dos arquivos, tampouco qualidades juridicas para tratar da aplicagio da legislagZo sobre os arquivos. Ora, a resposta de René Rémond logo ion pide ie om nome da ciéncia, remete a0 caso Ti pee ee uve como uma evidéncia o fato de Presidente do Conselho Super conduziu o relatério Touvier +, René Rémond apresenta * REMOND, Rent, “te, von, er, len, elatrn resco 20 nstonoen ever clissico sobre a atitude a adotar quando a liberdade € os privilégios violar as regtas democriticas definidas no quadro académicos vm a mais da Repiiblica Francesa. Nesse caso, 0s historiadores nio esto bem situados que outra pessoa qualquer para julgar. E, no entanto, quatro dos seis membros dessa comissio chamada a “langar luz sobre o racismo € o negacionismo que puderam encontrar expressio no seio da Universidade de Lyon III”"” sic historiadores,** ea presidéncia cabe go ditetor do Instituto de Histéria do Tempo Presente, Henry Rousso. ‘A tradugio da expertise necesséria em termos de competéncia historica me parece decorrer desse mesmo sucesso do discurso historiador do prestigio recente de seus praticantes nos campos de exercicio que estavam fora do alcance da corporagio hé nem bem trinta anos. Além disso, ela implica 0 reconhecimento da legitimidade desse papel pelos historiadores que os desempenham. Pois o principio que quer que o professor universitirio seja juiz de seus pares no implicava um recurso necessirio aos historiadores, j4 que os acusados tinham se apoderado de uma matéria histérica sem pertencer 4 profissio. A esse segundo exemplo de solicitacao piblica se acrescenta um caso de solicitagZo privada em que, de novo, o jurista ¢ a via judicial cedem lugar 4 hist6ria e aos historiadores. Revoltados com a descrigo feita por Thierry Wolton® de Pierre Cot como um agente soviético, 0s descendentes do ministro da Avia¢io da Frente Popular preferem solicitar uma investigagio a uma comissio de historiadores a processar © autor por difamacio.” Preferem, portanto, estatuir sobre o fundo a le, 12.2002, p, 13: 3 yo 2002, p. 20 ™ Além de Henry Rows, expec rmhém: BERTRAND, tvs. Le négatona [O negacionismo esti sendo. tf raion, I fe fpaminsdocmn Lyon li Liberation tt ee as. Rapport de ls 8 de Pere Cot avec les autores ida para examinar a matureza das its. Paris: B&Cie, 1995. “Essay astergoes 54 gue a obra de Thiery Wott, aS precisdes indispenc<éup ry Wolton, desti- de Pierre Cota ‘nada 20 grande pablico, nio cont foe ng EDEL Ce de provas reconheciveis pela instancia judicial, q,. P°™8a ‘al, eles escoyp, M8 nal da historia, formado pelos historiadores, em yee Moy homens, administrado pelos juizes. Mas, diferentens de bung honra que estatufam ainda sobre 0s casos de Resist’ Sina anos 1980, recorem a historia legitimada pela Una ings origem da solicitacio, um interesse privado, difere i wets, Se, (ama instituigio) ou do arquivo judaico (0 Estado), te ea Tovig curso €idéntico. A expertise administrativa, judicianiy, Fv vet? Ore, dieta das testemunhas, € preferida a expertise histériea 9 8 modalidades materiais da investigagio escapam a6 lehoy ct" abundam as precisdes sobre as motivagées das escolhas, ” Satay __ A sepunda questio que a descricao de Francois Bédarid & saber se 0 caso francés ¢ excepcional. Basta a evocacio dyno history norte-americana desde meados dos anos 1970 para demos © contrario. No caso dos Estados Unidos, além da solicitagao can de autoesclarecimento, hi o recurso judicial a lista de arian Fs historiadores. Contudo, podemos nos perguntat se a significagio d; expertise & da mesma natureza, Pois, nos trés casos franceses oy : S¢ pronuncia sem contrapartida autorizada, ali onde os adversivig aes ei ee ce ae 0 at ca ars vo em que elementos de controvérsia sdo resolvidos pela decisio final. Legitimidade do expert 7 ee de expertise 6 aparece aqui como prolongamento da a me cientifica. A anélise da comissio Cot ilustra muito bem essa f mn zo entre a competéncia cientifica e a competéncia do expert; verge Berstein ~ professor do Instituto de Estudos Politicos (IEP) pede Tir Won fante a passagem de um fendmeno a0 out tn RICGUR, Pl Hive coor et Ben rique [Hi 30 odo HEME ar de Paris ~* esta presente por ser autor de uma tese sobre o Partido Radical; Robert Frank — ex-diretor do Instituto de Histéria do ‘Tempo Presente (IHTP) do Centro Nacional da Pesquisa Cientifica (CNRS), professor na universidade de Paris I Sorbonne -, de uma tese sobre o rearmamento francés na época da Frente Popular; Sabi- ne Jansen, também professora, por estar preparando uma tese sobre Pierre Cot; Nicolas Werth, professor e pesquisador do CNRS, enquanto especialista na URS ¢ nas novas fontes moscovitas que ‘estavam na origem do caso. “A segunda decisio ‘yisava a colocagio em pratica da primeira: a consulta de um fundo de arquivos requer certa familiaridade com esse tipo de fontes assim como um conhecimento profundo do perfodo Para compor 0 grupo René Rémond se reconhece perfeitamente nessa logica, 20 longo de toda sua apresentagio do grupo de do incessantemente certa distincia em relagio @ sna-se em demonstrar que sua compreensio de historiador vale mais que a do solictante. Ali onde o cout! ocura unicamente a materialidade dos fatos revelados jvos inéditos, 0 historiador de oficio decide se bes de agir secretas e ocultas dos homens. desacreditar 0 senso comum, em afi jéncia dos “amadores ccreditar que dos arquivos de experts, que ele reivindica trabalho. E, toman solicitagio inicial, obsti dos mortais pi pela abertura de arqui interrogar sobre as £3 Essa atitude consiste em a verdade do oficio diante da inexperi de que consiste em 3 mar ela revela a ingenuida sonados ai sio os indicados no caro Mg Rapport del comin pi3 onelse pss mene w emOND Ren etal eo ee Pa: ad 1932 “© Rémond eal: (1992 P27 31 histércos, redigida em 1898,46 Thierry Wolton por desobedi com uma fangio cfvica ¢ uma fungio ética. Mesmo se nio se trata de modo algum, através desse apelo a expertise cientifica, de erigir 0 historiador em dugure oficial da cidade, deve-se sublinhar que essa tomada da palavra em resposta aos questionamentos do momento, com a condigio de se exercer na observincia estrita das regras do. oficio, & perfeitamente legitima ¢ propicia 4 historia sua espessura significante"” No decotrer do processo Touvier, Trémolet de Villers nao deixou de explorar a falha, recusando 0 depoimento de Frangois Bédarida, jimpréprio ao lugar onde foi proferido. Por nao ter sido previsto, 0 ataque teve uma forga perturbadora. Contudo, a logica inversa triunfa nos escritos dos porta-vozes autorizados da hist6ria contemporinea 3 francesa; quanto mais o historiador trabalha para se tornar reconhe~ keido no meio académico, o que & sempre accitivel no quadro da arte ppela arte, mais sua pritica de expert seré requisitada. Quanto mais ele finge acreditar que realizar expertise, ou testemunhar, nio é mais que ‘estudar num novo lugar de expressio, mais sua arte parece acima da confusio da batalha e, por via de consequéncia, Gti. O deslocamento do terreno da ciéncia ‘Algunshistoriadores, cuja pros satisfaz esse uso social de sua arte, figurariam portanto como experts. Enquanto os especalistas no faziam mais que trocar enunciados inofensivos,lidose julgados tio somente por seus pares, nio & dificil compreender que 0 eco das lutas cienti- ficas nio tenha superado 0 horizonte de revistas com uma tiragem ‘xima de quatro mil exemplates. Quando a posigio dominante, no territ6rio confinado da academia, legitima a superioridade no campo 33 mento seu sentid a por sua Oe apenas do. c2mPO acaelE ico, Pois os anitemas io excloem TTT cial mais 20 0 dg je wm recon ‘que formulo a hipsrese implicam a perda d di crédito Bearer du existdaca de uma eg Co fi irons de cero po Ses Bs dramas de Vichy, manag A novidade nfo rece 28 BAS Téa como atbittos: Alguns cag convocio dos grossonn oT Ngo de pubbicidade ou, antes, desenvolidos ai EEA 2 ide das visas historiogifica F pepato da expert histérica eg ‘cas na ordem “mundana” astra munca come #77 CF * repeido a0 tribunal da hist6ria miscurg Scrces. Os historiadores “experts” conan “Jor com o de policial ou de procurador” See roves academies seria suplantadss pelas vas polémicas eres Newaconfusio, que Gérard Noiiel denuncis 20 mesmo ‘Tape que participa dla, jé que escolhe 3 vezes © Le Monde para crs bisria academics, 0s debaces historiogrificos instauram Jone poplars hstrcos em praga pblica prverder 4 exaustvidede, a publicagio de Les Aven des enissbes dos arquivos), de Karel Bartosek, as controvér- ce psolre a censura aque teria sido submetida Annie Lacroix-Riz,** Ieuasos suscitados pela mesa-redonda entre os his- Ioriudows © os Aubrac e 0 esbogo de polémicas piblicas, entravado por smea;as judiciais, a propésivo do preficio de Stéphane Courtois 20 Lino nq do comunimo encheram as colunas de virios grandes jornais com uma prosa que mesclava 0 quasc judicial, a opiniao € os argumentos da céncia, © Ese recurso 0 cos processos¢ 08 His08 FO dinam “o ofico de historia o_ ## }@©3=———. Quer se erate do processo post-mortem intentado por Karel Bastoe sek a Artur London" ou dis questbes susitadas pelo livro de Gérard Chauvy sobre Raymer 5 as consequéncias sto semelhantes: ‘ama parte da corpora tende resolver, numa coluna ou duas, diverg rtigos eruditos tém dificuldade em resolver no regi se deménio nio se aposta apenas da historia: os debates ram nesse terreno. A questio geifica nd Aubrac, .ci0 dos historiadores se entredilacera ¢ pre~ {ancias de interpreta¢ao stro que grossos 2 académico. Es tcondmicos e sociol6gicos a preceder jeria antes a de compreender a irrupcio da polémica historio, ia. Nio hi diivida de que existe uma demanda da parte da ‘oncebida por Laurent Joffrin para o onsagrada na midi jimprensa: a mesa-redonda foi c Jornal Libération; Annette Lévy-Willard suscita a pigina © pelo mesmo jornal a0 caso do Zyklon B francés. Tomando o lugar Jos 6rgios profissionais, ela intervém: “Pedimos portanto a Robert Paxton [..] que analisasse o texto de Annie Lacroix-Riz, Assim como a Hervé Joly, pesquisador do CNRS, que trabalhou sobre os mesmos rquivos que a historiadora sem chegar a mesmas conclusbes".® A controvérsia académica € instituida aqui sob encomenda no espago pliblico, Esse crescente uso abusivo, ou a responsabilidade cada vez maior da prosa dos historiadores cientificos, tem por corolério uma interrogagio tacita, ou explicita, sobre o papel social do historiador «seus efeitos sobre a profissio histérica ie tempo, os dois episddios citados, se numa conjuntura memorial andlo- lidade de uma ‘Associados num curto lapso Bartosek e Aubrac, inscrevem- ga. A abertura dos arquivos no Leste oferece a possi Albin Mich ps Le groupe Ugine 0 imsticida, mas noo forneceu x08 " : ‘wee S00 00 MEFORADOR: 94 CAEDAA AO TROUNAL, gigantesca revisio da histéria “oficial”,** logo transformad, indo a justica esbarra no flee série de processos pessoais qua dos eae paralelamente, a persisténcia de um passadg mee passa mantém no centro dos debates a historia da Segunda Ga Mundial na Franga. A propésito da Resistencia, a lenda douraga obstaculizado 0 trabalho de verdade, condigio necessatia pars verdadeira meméria da guerra.*” Lidos na escala dos debates nacionais, repensados como o ip arismos ou uma ofensiva con TA uy king episédio da luta contra 0s cota o a antifascismo.™ esses debates sucessivos extio relacionados aos gin dos protagonistas. Alexandre Adler ilustra isso de modo litico: Se 0 ques guer pial do sentient mora, sg Ga vont cltva, + gues inpledom dos indivi Sbandono dos facot © 0 pogrom tangulo,engunnco¢ ees daa rc eo ara adds open ass tmulheres euvados, dbrados, jf conformads com onan g previo potano, no fin dor Bins, que todos seredaenrne Jean Moulin era um espiio.” Raymond Aubrac um ety do estalnimo, € A rmfsio de Artut London wna anh pilhéria de tecnocratas. Pretendo substituir essa logica do complé politico, que alguns ia denunciam com persisténcia, por outra grade de leitura: uma pets. pectiva comum aos campos presentes, a que 0s leva invocar tio s0- | mente sua qualidade de historiadores. Para tanto, é preciso tapar os jo que designao estado do consenso da ds sss det itr fal” quando ve revels caducs. menos Nie endoto de modo: ‘um momento deter {ue chamemos “ai ROUSSO, Henry. Le Syme de Vichy [A sindrome de Vichy]. Paris: Le Se Para sermos completos, ea conjuncursh Foret, Le Patt dine iaion [0 pasade td por Seéph Paris: Fayaed, 1997 Aluso 4 Wolton (1993). ADLER, Alexandre. P17, Nomesmo registro, sempre peopésito de Bartosek, vero texto: MARCOU, ‘contre? [Ou contr?) Le Monde,24-25 nov. 1996: “Triste época esta em que vives, 2 stéricaavang a cacetadasdevida necessidade perversa ded a pmanidade deve sobretudo ~20 menos por enquanto~ @ firm do fsciem rd equesetorna tudo @ que € dominant! ‘ae save 36 Gd} SITIVO ouvidos, ignorar de propésito os relatos que ambos fazem sobre os arcanos das negociardes editoriais, as pressdes escandalosas exercidas sobre fulano ou ciclano,* jé que a histria secreta das publicagdes pertence de pleno direito a esse tipo de polémica. A propésito do ‘caso Bartosek, Jacques Amalric evoca as negociagSes entre a fumilia London, a editora Seuil ¢ Karel Bartosek. Henry Rousso evoca as Jutas de influéncia © a chantagem emocional: “Praticamente todos 98 historiadores préximos da famflia Aubrac convidados para a mesa-redonda ficaram calados durante o encontro; entio por que declarar depois, sob pressio, que este tinha sido um escindalo?".* ‘Mas essas consideragdes e as confidéncias de um protagonista nos fecham na légica do certo ou errado quando nosso esforgo é 0 de compreender o sentido do fendmeno. $6 conta aqui o que foi pu- blicamente pronunciado e devidamente assinado a rosto descoberto, sem medo da ingenuidade aparente da escolha. © caso London, que se tornou o caso Bartosek, ocupa as colunas da imprensa difria nacional” de 6 de novembro de 1996 até o fim do ano; no coracio da polémica figuram as revelagées que o autor extrai de sta consulta aos arquivos tchecos: a filiagao secreta de Raymond wi Ld ee BOC BARTOSER, area Casandra 7 “Aubtac a0 PCF, 0 catiter fabricado da Confssio de Arcur ua manipulagdo pelo PCF, 0 uso do Partido Comunista Er ial Lae 0G interesse desse verdadeiro fap Partido Comunista Tchecos: “ hee ive 5. in, com seus quinze textos, deriva de diversos 8°21" Contionto poi” ca iba aparencia de ceneis, por cerTO, 0 GUE MIS impr, nuiflado sob a aparent is boa parte dos atores envolvidosm, & sua dimensio passional, pos os = tama relagdo facima com esa histra que ainda SNBra Acreaanet aasrcasone de evs filhos pertencer 3 e8 FEBistFO, asim com, ae ee ‘embora seja hoje um historiador, Permanecege pei aga exit as Lette act © COMPaD i Prime mao de deportacto para Mauthausen, 2quele Para Que, | duror da Confsdo sempre se chamara Gérard. - rsa Karel Bartsek, que se apresenta tanto como vitima quan, dor, Artur London permanece 0 instrumento de yp auime qu ooprimiy, Paras vite e cinco historiadoresenvolig, are multas vezes o mesmo. O passado comunista, uma familia jug, esiwente e velha frequentadora das brigadas internacionais, a fig, da Hungeia em 1956... ion, como histori E, no entanto, o debate oculta essa dimensio a nip ser, is veres, para defender Kare] Bartosek ou Artur London; os his. toriadores transformam obstinadamente 0 debate piiblico em campo cientifico fechado. E com curiosidade que nos pegamos imaginando que 0s letores do Le Monde, mais de um milhio de pessoas, desco- briram, no dia 23 de novembro de 1996, uma peti¢io cujo objetivo exclusivo era a defesa ¢ a ilustragio das qualidades profissionais de um historiador: Algumas eriticasfeitas 20 livro de nosso colega Karel Barto: sek, Les Aveux des archives, nos levam a intervir publicamente¢ a evocar os principios que fundam nossa atividade profissional edo o0 nstemcon emer |] em fungio dessas consideragdes, os signatirios querem tue o livro de Karel Bartosek, Les Aveux des archi= sublinhar jortante que traz uma verdadeira ves, & uma obra muito imp contribuigio a0 conhecimento histérico.** [Na verdade, assim que 0 debate escapou aos autores de resenhas € centre os quais conto Pierre Daix, a disputa foi transposta pans o terreno da ciéncia, Alexandee Adler, em seu artigo LHlsioie P fesiomac, retoma entio o titulo de um panfleto célebre de Julien Gracq ¢ denuncia, misturando tudo, os erros de método que teriam Jevado Karel Bartosek a se enganar sobre o sentido de uma missiva de Jacques Duclos a Klement Gottwald, entio néimero 1 do Partido Comunista Teheco, € a estigmatizar a “cumplicidade” objetiva de “gli onde um historiador mais comedido vera 0 rastro ia e dificil entre o filésofo e Laurent Casano- fe Adler seja 30s préximos, Jean-Paul Sartre ‘de uma discussio animad: ya’, Embora 0 objetivo do ataque virulento de Alexandre politico, parece-Ihe essencial desacreditar as pretensSes cientificas do Jutor e da escola historica a que esté ligado. Assim, ndo causa surpresa Gescobris a resposta, to agressiva quanto 0 ataque, de Marc Lazar, aque, nas piginas do Le Monde, celebra a cientificidade reconhecida da revista Communisme, ja que € dela que se trata, para melhor revelar as imprecisbes metodologicas de um adversirio que nio praticaria mais as regras do oficio de historiador desde 1978" ‘Sem me meter nos bastidores desse combate feroz, aponto em Marc Lazar o recurso aos icones da profissio, no lugar dos herdis e santos da ‘boa causa evocados por Alexandre Adler. Ali onde este invoca os espf- ritos de Jean Moulin, Raymond Aubrac e Artur London, Marc Lazar cita as grandes figuras das cincias humanas, Max Weber e, sobretudo, Mare Bloch, duas vezes. Marc Bloch, resposta ideal jé que emblema da Ita contra o fascismo ¢ portador do discurso hist6rico veridico diante das desilusdes da derrota em 1940, Essas duas retoricas tentam, cada uma a seu modo, articular o hist Prangois Bédard em “Ler Aubrac ees histories pV Daniel Cordier em "Les Aubrac ees histories" pviL rn Bougesrd, Universidade da Breanhs ine, Les Aubrac tes hisoriens(Os Aubrace os istoriadores) 1997. ¥ bem como Laurent Douzou e Maurice Agu Rousse em “Les Aubrac et les historiens Raymond Aubrae. Etou aqui "Estou agui a pedido do Libération edo idval. De fat, nfo considero que & fem nome de wma ‘comunidade’ 08 cot ‘ou Laurent Douzou: “Estou aqui de anuite bon grado, 2 titalO Bédarida, ex-participante do movimento iante da hervicizagio de uma Resist ha perspectiva, o que confere da lista de argumentos exposea, e886 POND em lo que situa Gérard Chauvy fon lade dos historiadores sacramentados”. Evoe: ando a adesig 2 Fegtts precisas¢ teorizadas hi mais de um século (todo historada, ee aia somibra de Gabriel Monod, de Charles-Victor Langlois harles Seignobos), ele aperta o né: 0 pertencimento i comuni, dade se funds na aceitacio desse corpo de regras. © debate recolnes Em Gauss portanto, o que faz.com que um historiador se reconheys come tal e reconhe 'f2 05 outros como historiadores, Ora, 0 texto de 25 de julho denuncia a mesa-r ido as regras candnicas do off cometido faltas éticas, assedian uma estratégia da sus da metodologia. Aq) edonda precisamente por ter inftin- cio. Alguns dos participantes teriam lo as testemunhas e as submetendoa Peita injustficével nos planos da deontologia ¢ Ish © descrédito metodologico se associa 4 pu- blicidade de circunsea ¢ balango: 0 da Resisténcia ao dever da verdade, fardo do historiador. As custas (© rt 008 20 sORA20H 4 COE Ao rn, Henry Rousto sobre exse epis6dio, que suscitava o se agudo no seio de seu laboratrio, confirma ess anne novidadeabsouta do cso reside nea publicidade doe att historiadores, publicidade que engendra uma nova ponyas tama modifieacio da a¢io do historiador no corpo soci, recusa a qualguer reagio corporativa a um assunto gue ordem da moral pessoal. Ao final dees dot ats que sbalaram omicrocoxme dy, adores, a epetcio dos mesmos termos pelos protagonins inanidade das declaragdes de inten¢lo, Por tris das palavens "aa “verdad, “esponsablidade” “funsio" Se econderiam orto ua retriea destinadaafze triunfra causa do momento, Dene Henry Rousso e Frangois Bédarida na posigio de deprecisfons® ote corporativsa a propésio dos Aubrac, quando set mere nt recorriam a essa sem pudores para defender Karel Bartosek oben surpresa se ignoramos que Denis Peschanski faz 0 mesmo ping em sentido inverso, Para superar aitonia, 0 cetcismo desengenain temos que sepaat os fos desse emaranhado, aceitar que a5justifinySs, revelam, mais que uma manipulagio, a expresso de uma verdate Para todos os atores desses psicodramas historiogrificos, a Hise. tla e 05 Historiadores existem como entidade, A historia existtia en primeiro lugar como um corpo de regras critics, batizado “método" Parece até que estamos relendo os artigos dos protagonistas do cao Dreyfus. A favor de Bartosek ou de London, partidérios dos Aubrac da desmitificagio, todos unidos reivindicam o respeito pelo métode “Mas hi regras a respeitar, ue sio a condigio da verdade, essa verdade para a qual trabalhamos. Na realidade, so simplesmente as regras do Inétodo eritico: regras rigorosas e bem testadas”™ B Laurent Dowzou zetoma o mesmo refrio: “O conhecimento da historia s6 progredits 20 Prego de um labor obstinado, paciente e autenticamente respeitador 4s regras mais elementares da pritica e da ética historiador:

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