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JUSTIFICATIVA

A PEC 55 fora aprovada no Senado Federal no dia 13 de junho de 2013. Essa


emenda constitucional limita, pelo prazo de 20 anos, a taxa de expansão dos gastos
públicos anuais pela inflação do ano anterior. Com isso, foi adicionado à constituição
um teto para os gastos públicos que independe da situação e necessidade do país
(com algumas exceções que veremos ao longo desse projeto). O que parecia
comprometer a capacidade de realizar investimento público em diversas áreas
importantes, como saúde e educação. Veremos inicialmente o que diz a pec. sobre
esses cortes orçamentários, a partir desse trecho:

Art. 101. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos


Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte
exercícios financeiros, nos termos dos artigos. 102 a 109 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. (SITE SENADO, 2016)

Com os pressupostos de que há necessidade de equilibrar as contas


públicas, onde a base governista teve a percepção de que os gastos públicos
vinham crescendo de maneira “incontrolável”. Outra motivação para o corte é a ideia
de que a limitação faria com que a taxa de juros diminuísse o que alimentaria por
parte do setor privado a vontade se investir, retomando assim o crescimento
econômico. Inclusive importante salientar o papel da iniciativa privada na agenda
económica dos governistas nos últimos anos. Segundo essa base neoliberal sem
essas reformas, o Brasil prosseguiria em períodos longos de estagnação e altos
níveis de desemprego. Esse comentário de João Luiz Mascolo em um portal de
notícias, nos permite analisar a visão positiva em relação a Pec e a sua duração:

O Brasil sempre gasta mais do que precisa" […] "A gente tem muita
gordura no gasto. Se queimar essa gordura, está de bom tamanho. E
estamos partindo de uma base que não é assim tão pequena. Numa
situação tão complicada, crescer pela inflação, variável constante, não é
uma coisa tão apertada." […]"Ainda vamos ter um pico antes da dívida
começar a cair. Por isso a PEC é longa, tem uma inércia nessa conta. Ela
não vai trazer o déficit para zero em um ano. (G1, 2016)

Na visão dos entusiastas da limitação orçamentaria como a de Mascolo


o Brasil passava por uma pressão orçamentária devido ao gasto que segundo ele, é
maior do que o necessário. Indo além Mascolo concorda com a duração longa da
limitação orçamentaria, pois segundo o mesmo o problema com a dívida não seria
resolvido de um ano para o outro, e que em caso de necessidade em 10 anos, a
limitação poderia ser revista. Mas o que acham os opositores da PEC? Vejamos
esse outro comentário do economista Pedro Rossi descrito no mesmo portal:

A população pobre, que depende mais da seguridade social, da


saúde, da educação, vai ser prejudicada. A PEC é o plano de desmonte do
gasto social. Vamos ter que reduzir brutalmente os serviços sociais, o que
vai jogar o Brasil numa permanente desigualdade […] O Congresso não vai
poder moldar o tamanho do orçamento. Por consequência, a sociedade
também não. (G1, 2016)

Rossi está atentando ao fato de que esse corte orçamentário trará


dificuldades do estado em atender os direitos constitucionais, principalmente dos
mais pobres. A fome o desemprego, seguridade social e até mesmo a cultura ficaria
sufocada pela limitação. A rigidez, impossibilitando moldar o orçamento de acordo
com as necessidades poderá piorar ainda mais, em caso de uma piora da crise. E
tudo isso dentro de vinte anos de restrição, podendo fazer a revisão em dez anos. A
preocupação a ser investigada é qual seria a perda de capacidade de atender os
preceitos constitucionais que a Emenda Constitucional 96 poderá deixar para o
país?

Fundamentação Teórica

Em uma situação onde o mundo, porem principalmente pensando na


conjuntura dos Estados Unidos, acontecia uma grande crise de um pós-guerra a
famosa crise de 29. Crise essa que se caracterizou por problemas de demanda
efetiva. No caso houve uma superprodução onde a população não consumia por
falta de renda, problema essa causado principalmente pelos altos níveis de
desemprego e a indústria por anos acreditou que toda oferta teria demanda
equivalente de toda a forma. Keynes nos anos 30 em seu livro A Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda responde de forma crítica esse pensamento, regido
por ideias de teóricos clássicos
Construir um modelo simples do sistema econômico discutido na
Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda de Keynes” com o intuito
de “ilustrar (i) as condições necessárias para o equilíbrio; (ii) as condições
necessárias para a estabilidade do equilíbrio; e (iii) o efeito, sobre o
emprego, das mudanças em certas variáveis. (MEADE, 1937: 98).
A ideia central de Keynes em sua critica era sobre a visão desses pensadores
que na época eram visões predominantes, sobre como a autorregulação do mercado
poderia aumentar os níveis de desemprego ao mesmo tempo que poderia sim
chegar ao pleno emprego. Sua critica se baseia em postulados das ideias
neoclássicos ao defender sua visão intervencionista do estado na economia: a
equivalência entre os salários e a produtividade marginal do mercado e que o
trabalhador só aceitaria o emprego em caso de que o salário compensaria o
trabalho. O que ocorre na verdade, como bem explica Keynes é que a determinação
do emprego não se dá pelo salário real, ou seja, de quanto o trabalhador escolhe
ganhar, e sim que são as empresas que definem o nível de emprego e por
subsequente os salários.
Keynes entendendo que flutuações em relação ao nível de emprego são
flutuações costumeiras dentro do sistema capitalista, define a ideia sobre a demanda
efetiva. Esse conceito explica que o nível de emprego depende da ideia de que
demanda efetiva que se representa pelo equilíbrio entre oferta agregada e demanda
agregada. A oferta agregada se diz respeito sobre a quantidade de bens e serviços
ofertados pelos capitalistas tendo em vista o capital disponível. Já a demanda
agregada é a soma de 4 componentes: O gasto do governo, o investimento privado,
o consumo e exportação liquida (exportação – importação).
A Demanda efetiva se realiza através de investimentos pois para ele seria
esse componente que determina o nível de emprego e esses investimentos
dependeria de que a taxa de lucro fosse maior do que a taxa de juros. Na verdade o
que determina o investimento é um conjunto dessa taxa de juros com a eficiência
marginal de capital, a EMC tem como definição a taxa de dedução que nas palavras
de Keynes: “tornaria o valor presente do fluxo de anuidades das rendas esperadas
desse capital (...) exatamente igual ao seu preço de oferta” (Teoria Geral , p. 115;
prop nº2). Os empresários ao especular o risco, ao depender desse risco os
mesmos optam por ter a preferência pela liquidez onde ocorre nesse modo o
investimento por ativos monetários ao invés de ativos líquidos (moeda). Nesse modo
em uma situação de crise, Keynes argumenta que essas políticas monetárias
referenciadas nessa visão clássica de autorregularão são completamente ineficazes.
Nesse sentido Keynes via por necessidade a intervenção do estado.
Novamente reiterando a ideia de que o emprego tem função elementar no
desenvolvimento do sistema. Para Keynes o estado deve realizar mais funções do
que propunha o liberalismo, no caso como dito por Adam Smith a defesa da
sociedade contra inimigos externos, a proteção dos indivíduos contra as ofensas
mútuas e a realização de obras públicas que não possam ser realizadas pela
iniciativa privada (BOBBIO, 1992). O Papel do estado para Keynes é que o estado
deve buscar através do gasto publico favorecer os investimentos por parte do setor
privado, pois é através do investimento privado que ela flui como dito anteriormente.

Dessa maneira o estado deve agir na economia através de ajustes na


propensão marginal a consumir, auxiliando o setor privado realizando incentivos
para investimentos, nesse modo diminuindo as incertezas, para isso o estado pode
atuar na gerência de gastos públicos e operando sobre a taxa de juros e de
tributação. As politicas fiscais defendidas por Keynes em sua teoria acima de tudo
devem ser realocadas ao combate ao desemprego, os resultados econômicos com
toda sua importância aparecem como resultado dessas políticas de aumento da taxa
de emprego.
Podemos afirmar ao entrar dentro da teoria e estudar os Keynesianos que a
austeridade para eles, como Eleotério Prado conceitua em um de seus textos que:
“Os economistas keynesianos costumam classificar a austeridade como mero
produto de ideologia conservadora ou como decorrência desastrada de má teoria
econômica” (PRADO, 2017). Se perguntarem a estudiosos Keynesianos qual foi a
causa principal da grande depressão (e serviria também para outras crises de
demanda efetiva), eles afirmariam que a culpa deriva das políticas austeras.
Foram as políticas de austeridade que causaram a Grande
Recessão? Sem tais políticas não teria ocorrido a depressão ou a
estagnação das principais economias capitalistas? Se algo desse tipo
ocorreu, isso significa que as políticas dos governos “austeros” foram
apenas loucuras? Elas estavam inteiramente baseadas em mera ideologia e
em má teoria econômica? Para os keynesianos, a resposta é 'sim' para
todas essas perguntas. E eles dominam – como bem se sabe (MICHAEL
ROBERTS, 2017, p.1)

Durante o período da grande crise os teóricos liberais defendiam em uma


conjuntura de estabilidade da crise, foram as políticas fiscais austeras promovidas
por May que causou essa estabilidade, Keynes por sua vez ao negar a ideia de
rigidez fiscal como consequência daquele momento de equilíbrio, justifica que o que
trouxe realmente estabilidade foi na verdade a troca do padrão ouro, para o padrão
dólar como método de lastreamento da moeda.
Keynes entende que em período de crise os cortes nos gastos
governamentais só tende a aumentar a relação Dívida/PIB, Nessa situação o
governo deve atuar na função anticíclica no aspecto econômico, para tentar não
apenas na saída da crise ao melhorar a economia em estado de armadilha de
liquidez onde o juros nominal se aproxima do zero, e torna políticas monetárias
ineficazes, os autores econômicos responsáveis pelo investimento privado deixa de
aplicar seu dinheiro na economia. Dessa maneira o governo deve agir com politicas
fiscais expansionistas afim de aumentar o nível de emprego, consequentemente o
nível de consumo das famílias levando a um incremento da renda.
Levando esse caso para a situação do Brasil recente, onde vivemos uma
crise de estagflação, congelamento dos gastos públicos como argumento da
passividade dos investimentos por parte do setor privado, onde os empresários em
tese se sentiriam reprimidos em investir por uma ideia de que a relação dívida/pib
está demasiadamente alta ou seja, a ideia que no Brasil se gasta demais. Keynes
argumentaria que essa visão é equivocada e que o único modo de se sair desse
estado, é a partir da ação expansionista do governo no âmbito fiscal.
Kalecki assim como Keynes descreve sua teoria em sua obra Teoria da
economia dinâmica como resposta as teorias clássicas sobretudo, sobre a lei de
Say, onde é teorizado como dito anteriormente que o aumento da oferta, ou seja, do
aumento da produção levará o aumento do consumo e assim da renda. Ideia essa
reproduzida por vários autores clássicos como Mills, que em sua obra Commerce
Defended diz:
A produção de mercadorias é a causa universal e única que cria um
mercado para as mercadorias produzidas(...) A capacidade aquisitiva de
uma nação é medida exatamente, por sua produção anual, quanto mais se
aumenta a produção anual, mais se aumentará, por esse motivo, o mercado
nacional(...) A procura de uma nação é sempre igual à produção dessa
nação (MILL, 1808, descrito por M.DOBB)

O investimento aqui apareceria como consequência, das decisões do


capitalista e do dispêndio, o nível do dispêndio levaria ao nível prévio da renda e que
a identidade desses dois componentes (nível de renda e nível de dispêndio) devem
se manter em qualquer situação e tempo. Para Kalecki é o investimento que tem o
papel preponderante no nível de renda por si só.
É claro que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais
num período que no precedente, mas não podem decidir ganhar mais.
Portanto, são suas decisões quanto a investimento e consumo que
determinam os lucros e não vice-versa (KALECKI, 1954, p.46)

Neste modo Kalecki apresenta sua teoria de demanda efetiva onde ele
denunciava a doutrina sobre o pensamento que excluía a superprodução,
considerava que o sistema era completamente capaz da plena utilização dos
recursos de produção desprezando as flutuações cíclicas considerando-as apenas
como fricções insignificantes ideia essa que se inspira na economia individual onde
é logica o pensamento que uma poupança maior é gerado a partir de um consumo
menor. Kalecki aqui chama a atenção de um outro componente que não fora falado
nem pelos clássicos e nem mesmo por Keynes que solidificam suas teorias de
demanda efetiva levando em conta o consumo e o investimento. Kalecki por sua vez
adiciona o nível de distribuição de renda como componente de alto destaque em sua
teoria. Kalecki enxerga que apesar da teoria de Keynes aparecer como algo análogo
ela peca em não ter uma base forte, essa fragilidade pode fazer com que autores
neoclássicos por exemplo os utilize como base e ao fazerem ajustes o trazem de
volta a lei de Say.
A considerar que que talvez a distribuição de renda não seja um fator tão
determinante como a da demanda efetiva de Keynes ou das teorias dos autores
clássicos, os mesmos consideram a distribuição de renda como algo que não se
altera, Kalecki diz que não é só por que o nível de distribuição da renda pelos
salários ter esse caráter mais inflexível, que ele é de fato rígido, não podendo ter
mudanças no nível de renda da classe trabalhadora por exemplo. Através de fatores
atribuídos de forma microeconômicas, no caso alterações nas condições de
concorrência onde aparece destacado o conceito de grau de monopólio, a
distribuição de renda pode sim se alterar, inclusive positivamente a favor dos
trabalhadores em relação ao poder de barganha com os empresários.
Não descartando a lei de Say, essa melhora nos salários atribuído ao poder
de barganha por exemplo, levaria a um decréscimo no nivél de lucro da capitalista.
Para Kalecki isso não ocorre, pois para ele o nível de renda tem alterações de
acordo com o gasto dos capitalistas em relação a investimento e a consumo dos
mesmos. Dessa maneira a única consequência que se ver a priori do aumento do
nível de salários do trabalhador é aumento da renda desses.
Para formular a teoria da distribuição de renda, Kalecki partiu de uma base
microeconômica, onde se focou na formação de preços e nas margens de lucro em
caráter de mercado de oligopólio (ou algo semelhante a oligopólio). Nessas
condições de mercado os preços de cada empresa são estabelecidos em direção
aos custos unitários, mais especificamente pelos custos direto unitários como as
matérias primas e os salários. Nesse modo a margem de lucro é estabelecida pela
relação entre esse custo direto unitário e o preço refletindo em poder de mercado de
cada empresa manifestando a pouca ou nula flexibilidade dos preços em caso de
rigidez nos custos diretos que pode ter como consequência uma grande
concorrência em relação aos preços pois aumenta a possibilidade de perda do
mercado para concorrentes potenciais e os efetivos, isso se não haver aumento do
nível das barreiras de mercado, isso é o aumento da dificuldade de novas empresas
entrarem nesse mesmo mercado.
Porém o poder de fixação de preços que se apresentam pelo grau de
monopólio, não aparece apenas nessa relação de concorrência entre as empresas,
mas também aparecem igualmente em relação aos trabalhadores. Ela espelha em
todo seu desdobramento a essência do processo de concorrência. Assim para
Kalecki o grau de monopólio aparece como uma complexa relação entre: uma
empresa, seus concorrentes, seus fornecedores e os trabalhadores. Essa relação
deve ser vista no ponto de vista dinâmico onde se apresenta o caráter de mark-up,
ou seja, a forma que os preços se modificam em relação ao comportamento dos
custos primários.
Nesse sentido, no modo que se mostra o conceito do nível de monopólio não
apenas como concorrência entre empresas, também se apresenta o atrito entre os
trabalhadores e os capitalistas. A partir disso mostra-se o processo que cumpre o
processo de distribuição de renda entre o lucro dos donos dos meios de produção e
os salários dos trabalhadores. Pode se dizer que para Kalecki essa discussão não
se apresenta de forma secundaria para o mesmo, e sim se transforma em uma
discussão primordial em sua teoria da demanda efetiva e assim acaba por exprimir
as relações dentro do sistema econômico capitalista.
Essa discussão sobre a distribuição de renda para Kalecki é a forma como ele
consegue introduzir as classes sociais na analise aparecendo como componentes
fundamentais dentro de uma relação de concorrência e produção. Porém outra
forma que Kalecki introduz a discussão sobre as classes dentro de sua teoria se faz
pela ideia da capacidade de cada classe consumir e investir ou seja na efetuação de
seus gastos. Kalecki no entanto não tem a pretensão de realizar definição das
classes e sim fazer um estudo de comportamento entre eles, que facilitaria assim a
analise da teoria da demanda efetiva.
Em relação a ideia de como a classe trabalhadora realiza seus gastos,
Kalecki fala sobre a incapacidade do trabalhador em poupar. Ele exclui a
possibilidade de que o trabalhador gaste mais do que sua renda o permite, assim
endividando-os. Pois para ele isso aparece de forma mais qualitativa, isso é mais
uma questão individual ou até mesmo uma exceção a regra. O que ele tenta
explicitar em relação a realização do gasto inclusive da baixa propensão a poupar do
trabalhador é sobre a “autonomia” do gasto em relação a renda. Mesmo que se
eliminasse essa autonomia do gasto, e que fosse julgado fosse a qualidade do
gasto, analisando a possibilidade de poupar através do salário do trabalhador, da
mesma forma se tornaria desigual em relação ao gasto e o lucro agregado dos
capitalistas.
O resultante de determinados lucros e salários e assim a renda agregada se
dá pelas variáveis de renda pelo gasto, investimento e consumo dos capitalistas e
consumo da classe trabalhadora, considerando que a distribuição de renda e a
proporção do salário gasto ao consumir já esteja “dada”. Kalecki deixa de forma
clara como se dá o lucro dos capitalistas, que é através do consumo e investimento,
da mesma forma o nível dos salários e da produção.
Na hipótese de que os salários são iguais ao consumo dos
trabalhadores, este não pode ir além ou fica aquém do montante de
salários. Com as despesas dos capitalistas não há essa limitação. Eles
podem aumentar, no período seguinte, seu consumo ou suas aplicações em
investimento além de sua renda atua, utilizando-se de crédito ou de suas
próprias reservas monetárias. podem também gastar em consumo e
investimento menos do que sua renda atual, para pagar dívidas ou ampliar
suas reservas. Mas, se gastarem mais ou gastarem menos, a igualdade
acima nos mostra claramente que a renda dos capitalistas como um todo
deve aumentar ou diminuir devem aumentar ou diminuir exatamente quanto
aumentaram ou diminuíram suas despesas. A produção global deve se
elevar-se até o nível no qual [dada a distribuição de renda] a renda obtida
pelos capitalistas dessa produção se iguala à sua ampliada despesa em
consumo e investimento. (KALECKI, Theory of business Cycles, P. 76)

Nota-se por esse trecho primeiramente que Kalecki não cita a


poupança, trata o montante de lucros e o gasto dos capitalistas de forma idêntica
derivadas de simples hipóteses de consumo integral dos salarios e de uma
economia fechada sem governo. Kalecki exemplifica a confusão por exemplo de
Keynes e os Keynesianos em relação a poupança e as maneiras diferentes
capitalistas mantem os seus saldos correntes, em relação como o investimento pode
surgir para os capitalistas tanto como o que não é gasto na aquisição de bens de
consumo e o investimento que é gasto pelo seu próprio bem estar através de
mudanças de ativo e passivo.
Kalecki também dá ênfase sobre a particularidade do gasto do capitalista. Ele
considera que ao ignorar-se essa particularidade, traspõe nessa alheação da
distribuição funcional da renda através da ideia de “função consumo” que encobre a
determinação do lucro pelo investimento, que para Kalecki é algo indispensável para
se analisar a dinâmica. O que ele conclui com todos esses conceitos é que existe
sim uma separação entre as classes inclusive em relação da demanda efetiva. E
nesse sentido salienta que o gasto dos capitalistas é de fato autônomos pelo fato de
que os capitalistas investem. Diferentemente do gasto dos trabalhadores.

Concluindo a demanda efetiva em Kalecki, para ele o gasto do capitalista é


apontado como função dos lucros, e os salários do trabalhador são absorvidos pelo
consumo dos mesmos. Ou seja, se apresentam como variáveis dependentes, a
única variável que se mostra independente é o investimento. Porém dependendo
das condições e dentro de certo limite o gasto do capitalista também poderá se
apresentar como um gasto autônomo. A mesma exceção pode se apresentar em
relação ao consumo dos salários, que dependendo do salário, não necessariamente
o gasto consumirá toda a renda do assalariado. Contando com essas estruturas
tanto os capitalistas tanto os trabalhadores podem se apresentar em um mesmo
setor de bens de consumo.
Em relação ao investimento, em seu maior nível se comporta de forma
dependente em relação as expectativas de rentabilidade. Dando possibilidade em
gerar maiores margens de variação em relação a nível de renda tendo em vista sua
relação contraditória com o comportamento de consumo. Essa dependência se dá
pelo sistema de crédito que permite que o investimento possa se pagar, ou seja
autofinanciar em um determinado tempo. Mas o que o investimento mais se
diferencia de outros componentes, é o seu potencial de criação de uma nova
capacidade produtiva. É essa característica do investimento que se fundamenta a
diferenciação entre classes, fazendo com que como diz Kalecki que os capitalistas
sejam “donos de seu destino”.
Kalecki acredita que para dissolver as flutuações do nível de renda e emprego
deve se estabilizar os investimentos, e que essa variação surge da variação dos
lucros extraídos. Porem na visão do mesmo um regime de pleno emprego financiado
pelo governo traria aos lucros do capitalista, estabilidade a médio e longo prazo que
só se deterioraria por elementos extraordinários a longo prazo como, aumento da
população, variação no investimento privado no segmento tecnológico. Kalecki
também menciona em relação ao papel do estado que os governos controlem os
fluxos de investimento privado através do controle sobre a taxa de juros, imposto
sobre a de taxa de lucro do capitalista se adequando assim a determinada economia
a estabilidade dos lucros.
Em um artigo chamado os três caminhos para o pleno emprego Kalecki
descreve como o dispêndio do governo, estimulo do setor público para investimento
privado e a distribuição de renda podem de maneira distintas ou de forma conjunta
torne o pleno emprego não apenas fator quantitativo em uma economia, mas
também fator qualitativo. Em relação ao dispêndio do governo poderá ser na forma
de subsídios ao consumo popular, podendo ser feito através da manutenção de
preços baixos para produtos de subsistência.
Os Investimentos públicos, seriam investimentos que não fizessem
concorrência com investimentos privados, porem ajudaria no desenvolvimento do
estado e da população como: construção de escolas, rodovias e hospitais. As
decisões tanto de dispêndio e de investimento devem contar com um principio de
prioridades sociais. Kalecki não se opõe ao uso de déficit fiscal, para ele em uma
economia que não se alcançou o pleno emprego essa economia poderá sim
trabalhar dentro do déficit. O financiamento dos investimentos não poderá ser
realizado segundo ele através no aumento dos impostos.
Para estimular os investimentos privados, o estado deveria reduzir a taxa de
juros ou renda ou conceder subsídios. O gasto público gera demanda efetiva de
forma direta e o estimulo através do subsidio de forma indireta a demanda efetiva ao
depender se a reação dos empresários será negativa ou positiva, assim não
considera um caminho efetivo. Porem considera a redução da taxa de juros por
exemplo um caminho mais seguro, pois leva a um aumento da rentabilidade liquida.
Já o terceiro caminho, a distribuição de renda, sendo mais especifico a
distribuição da renda dos mais ricos para os mais pobres, geraria uma maior
propensão a consumir da população sobretudo dos mais pobres, essa distribuição
ocorreria através da cobrança de impostos progressivos através de um imposto
“modificado” em relação a renda bruta da empresa.

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