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A TECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO EM FAVOR DA SEXTA ONDA RENOVATORIA

DE ACESSO A JUSTICA
Ep Wiatane Futont Carvanio!

JAIME LeOntDAS MIRANDA ALVES?

Resumo: Um dos t6picos mais proeminentes no direito constitucional e na seara processual civil é o direito ao acesso a justiga. Isso se da por
sua relevancia: o acesso a justica é metadireito que possibilita o gozo dos demais direitos. E dizer: nao ha Estado Democratico de Direito sem acesso &
justica. Utilizando-se da hermenéutica constitucional concretizadora, defende-se a tese de que um dos desafios para 0 acesso efetivo a justica é a falta de
conhecimento em direitos, especialmente dos grupos em situag&o de vulnerabilidade. Esse déficit informacional tem por consequéncia a
inacessibilidade da justiga e a educacgdo em direitos, missdo institucional da Defensoria Publica, que se apresenta como forma de
supera-lo, caracterizando-se como uma nova onda renovat6ria de acesso a justica. Um dos instrumentos 4 efetivagdo dessa nova onda (6°) de acesso a
justi¢a seria, entao, a tecnologia.

Palavras-chave: Acesso a Justiga; Educagéo em Direitos; Defensoria Publica; Direitos Humanos. Tecnologia.

Abstract: One of the most prominent topics in constitutional law and civil procedural matters is the right to access to justice. This is due to its relevance:
access to justice is a meta-law that enables the enjoyment of other rights. That is to say: there is no Democratic Rule of Law without access to justice. Using
the constitutional hermeneutics that materializes, the thesis is defended that one of the challenges for effective access to justice is the lack of knowledge of
rights, especially of vulnerable groups. This information deficit has as a consequence the inaccessibility of justice and education in rights, an
institutional mission of the Public Defender’s Office, which presents itself as a way to overcome it, characterized as a new renewal wave of access to
justice. One of the instruments to implement this new wave (6th) of access to justice would be, then, technology.

eywords: Access to Justice; Rights Education; Public defense; Human rights. Technology.

INTRODUCAO
Um dos t6picos mais proeminentes no direito constitucional e na seara processual civil refere-se as varias formas e
desafios que enfrenta 0 direito ao acesso a justica. Isso se da em razao de sua relevancia: 0 acesso a justica é metadireito,
ou direito-garantia, tendo em vista que possibilita o gozo dos demais direitos que circundam a esfera do individuo e da
coletividade. E dizer: nao ha Estado Democratico de Direito sem acesso & justica.

Nesse cotejo, um dos principais trabalhos concernentes a analise dos desdobramentos do acesso a justi¢a consiste na obra
Acesso a Justica (1988), de Bryant Garth e Mauro Cappelletti. No escrito, sao identificados os (trés) principais obstaculos ao
acesso a justiga, bem como apresentadas trés solucdes (as chamadas ondas renovatorias).

O primeiro obstaculo se refere aos aspectos econdmicos. Desta feita, 0 acesso a justica fora pensado em sua perspectiva
quantitativa, de justica para os pobres, com o desenvolvimento de institutos como a isencgao de custas e 0 fortalecimento
do sistema ptblico de presta¢ao e assisténcia juridica gratuita (por meio das Defensorias Publicas).

A segunda onda renovatoria refere-se aos avanc¢os na tutela coletiva e tem por objetivo a superacgdo de um obstáculo
cultural: a defesa de direitos cuja titularidade é indefinida ou, mesmo que definida, cuja tutela em jufzo nao se mostra
vantajosa sob uma Gtica individual.

Por fim, a terceira onda percebe a burocratizagao e o formalismo como 6bices ao acesso a justiga por trazer morosidade ao
processo judicial, propondo-se, com isso, a sua superacdo pelo desenvolvimento de um sistema multiportas.

De forma recente, novas ondas foram apontadas pela doutrina. Economides (2018) defende a existéncia de uma quarta
onda, que cuida da formacgao humanistica dos atores processuais, ao passo em que Roger (2019) leciona a existéncia de
uma quinta onda renovatoria referente a atuagao internacional.

Por meio da utilizacao da hermenéutica constitucional concretizadora aplicada ao artigo 134 da Constitui¢ao brasileira,
defende-se a tese de que um dos maiores desafios para 0 acesso efetivo a justica, atualmente, é a falta de conhecimento
dos individuos e da coletividade, especialmente dos grupos em situacao de vulnerabilidade, acerca de seus direitos. Esse
déficit de informagao tem por consequéncia justamente a inacessibilidade da justig¢a, na medida em que o individuo
sequer sabe da existéncia do direito nao exercido ou das condi¢Oes necessarias para obté-lo.

Em que pese a caréncia informacional na area seja geral, a populagao em situacao de vulnerabilidade enfrenta a problematica
com maior intensidade. Destaca-se, assim, a missao institucional da Defensoria Publica em promover a difusdo e a conscientiza
¢ao dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento juridico (art. 4°, I da LC80/94) como forma de superar 0 obstaculo da
falta de informacao e conhecimento.
O problema que a pesquisa se prop6e a investigar € se serve a tecnologia como instrumento concretizador dessa nova
onda renovatoria. O objetivo geral é analisar, justamente, a relacgdo entre a educagao em direitos humanos pela
Defensoria Publica e a tecnologia (geral), a partir da retomada das ondas renovatorias de acesso a justica (objetivo
especifico), da analise do perfil constitucional da Defensoria Publica (objetivo especifico) e da concatenagao dos meios
concretos de efetivacao do acesso a justica por meio da tecnologia (objetivo especifico).

Para tanto, elegeu-se a pesquisa bibliografica, de ordem qualitativa e, bem assim, a perspectiva juridico-filos6fica da
hermenéutica constitucional concretizadora.

1. AEDUCACAO EM DIREITOS: OBRIGACAO CONSTITUCIONAL ;


IMPOSTA A DEFENSORIA PUBLICA COMO NOVA ONDA DE ACESSO
A JUSTICA
A educagao em direitos se traduz como uma fungao institucional da Defensoria Publica e meio de concretizacao do
acesso a justi¢a. O embasamento legal para tanto, repetidas vezes mencionado ao longo deste artigo, é 0 art. 4°, III, da Lei
Complementar 80/94, com redacao dada pela LC 132/09, que expresamente versa que cabe a Defensoria Publica
“promover a difusao e a conscientizacao dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento juridico”. Todavia, em que pese
a mencao mais explicita venha da legislagado infraconstitucional, é fato que a propria Lei Maior também destinou a
Defensoria Publica a fungao de educagao em direitos.

O caput do art. 134, desde a sua versao original, redigida pela assembleia constituinte de 1988, prevé que cabe a
Defensoria a “orientagao juridica” aos necessitados. Por certo que a expressdo “orientagao juridica” faz referéncia 4
educacao em direitos, na medida em que o juridicamente orientado esta recebendo informagoes sobre aquilo que lhe é
devido.

Todavia, progredindo naconcretiza¢ao dos direitos das pessoas em situacao de vulnerabilidade, a Emenda Constitucional
80/2014 alterou a redagdo do art. 134 da CREB, acrescentando que também é mister da Defensoria Publica a ‘promogao
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, dos direitos dos necessitados’, tanto individual quanto coletivamente.

A ideia de promover os direitos humanos em todos os graus nao apenas € compativel com a obrigacgao de educar a
populagdo em direitos como também expressa um comando constitucional de fazé-lo. Promover algo é, por defini¢gao,
dar-Ihe impulso e propaganda.

Nesse sentido, os proprios Capelletti e Garth reconhecem que é pressuposto do acesso a justiga que as pessoas conhecam
seus direitos e percebam que tém direitos a ter direitos (1988, pp. 21 e 22).

Dessa maneira, a fungao publica da Defensoria de educar em direitos os seus assistidos nao se reveste de carater solidario e nem
optativo, mas configura-se como obrigacao tanto quanto qualquer outra fungao institucional prevista na lei de regéncia.
Em que pese nao se descuide o papel de outros atores e instituigdes oficiais na dispersao de conhecimento em direitos, € a
Defensoria Publica que o legislador expressamente confiou essa funcao, em compatibilidade com o sistema constitucional
estabelecido para a instituigao.

Esse munus imposto a Defensoria tem razao de ser. Como entidade de representa¢ao e orientacao juridica das parcelas da
populacao que estao em situagao de maior vulnerabilidade, a divulgacao prévia de direitos pode permitir nado apenas a
rapida reparacgdo, mas também impedir a violagao de direitos. Exemplo simpl6rio é a educagado do regime
previdencidrio a comunidades tradicionais e agricultores familiares, que podem, desde cedo, saber que tipo de
documentagao devem produzir e guardar, bem como quais precaugdes devem tomar para que tenham seu direito 4
aposentadoria assegurado no tempo oportuno.

E preciso, todavia, escapar de uma visio tutelar, segundo a qual ao iniciado nas ciencias juridicas cabe 0 monopolio do
conhecimento. Em outros termos, se faz necessario que a Defensoria Publica possibilite meios de vascularizar a
educacgdo em direitos, até o ponto em que ele se reproduza de forma quase independente. Sobre isso, Ferreira de Moraes
faz relevante sintese dessa obriga¢ao institucional ao rememorar que cabe “mais do que educar e conscientizar as pessoas
carentes, tem a Defensoria Publica a fungao de orientar e estimular iderangas e agentes comunitarios, objetivando
multiplicar o conhecimento” (2009, p. 411).

Assim, a educagao em direitos nao consiste apenas em levar 0 conhecimento jurídico badsico as pessoas, mas sim em
prover a orientagdo necessaria para que os lideres e agentes comunitarios possam desenvolver uma cultura de educagao
em direitos, replicando o conhecimento. Esse tipo de atuagaéo, que pode ser concretizado por ciclos de debates, palestras
e até cursos especificamente criados com esse fim, tem a tendéncia de promover uma verdadeira transformag¢ao social,
afastando a educagao em direitos da faceta da caridade e a consolidando como expressao de direito.

Dessa forma, ha um reconhecimento normativo e doutrinario, nacional e internacional, de que nao ha acesso a justi¢a sem educacao
em direitos. Ademais, a Constituicao Federal brasileira e a legislagao de regéncia impée as Defensoria Publicas e aos
defensores e defensoras uma obriga¢ao - um verdadeiro dever funcional – de educar a populacao carente de seus direitos.
Sob este viés, as defensorias publicas brasileiras passaram a agir proativamente a fim de cumprir com tal mister. Exemplo
é a promulgacao do Decreto 39.321 do Governo do Distrito Federal, que “dispde sobre a promogao e difusao da educagao
em direitos nas escolas puiblicas de ensino médio do Distrito Federal, mediante programas, projetos e outras agdes,
articuladas e interdisciplinares, entre a Secretaria de Estado de Educagao do Distrito Federal (SEEDF) e a Defensoria Publica
do Distrito Federal (DPDF)”.

A normativa vanguardista do Distrito Federal, j4 em seu segundo artigo, se presta a tentar uma definicdo legal da
educacao em direitos, dispondo que “consiste na conscientizagao dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento
juridico”.

A tentativa de definigao, fungao primordialmente doutrinaria, se revela acertada, todavia, insuficiente, na medida em que
a educacao em direitos nao se limita na conscientizacao da popula¢ao, mas se trata de verdadeira difusao - quantitativa e
qualitativa - dos direitos, da forma de exercé-los e dos entes qualificados a promové-los.

Nessa toada, a Defensoria Publica é instituigdo que tem 0 dever de se mostrar ao assistido, orientando-o juridicamente da forma
mais acessivel 0 possivel.

A instrumentalizagado dessa educagao em direitos pode se dar de formas diversas. O ja mencionado decreto distrital, por
exemplo, regula a educacdo prestada diretamente nas escolas, a adolescentes de escolas publicas, por meio de uma
formacao secular promovida por parceria entre 0 executivo distrital e a Defensoria Publica do DF. Palestras voltadas a
grupos a vulnerabilizados e populagoes tradicionais também sao instrumentos valiosos, assim como cartilhas informativas a
serem distribufdas as pessoas carentes. Recentemente, a Defensoria Publica da Uniao editou, por seu Grupo de Trabalho de
Politicas Etnorraciais, a cartilha “Politica de Cotas Raciais”, voltada ao ptblico leigo para, em seus termos “apresentar informagOes
acerca do sistema de cotas implementado no Brasil, abordando 0 assunto como politica de reparagdao e nao como favor
social ou governamental”’.

Cartilhas similares foram produzidas e distribufdas por outros Grupos de Trabalho da Defensoria Publica da Unido, para
instrugaéo sobre temas tais como trafico de pessoas e direitos das comunidades tradicionais.

Assim, medidas como cartilhas e educagao em escolas, nao obstante louvaveis, ainda pecam em instruir a parcela da populacao que
esta mais alijada de seus direitos: pessoas em situagao de miséria extrema, nao alfabetizados, comunidades tradicionais sem acesso a
educacao formal, etc.

Dessa maneira, a educagao em direitos pelas Defensoria Publicas, como nova onda de acesso a justica, concretiza-se por
uma difusdo: a) dispersa o suficiente para alcangar a populacao especialmente vulnerabilizada; b) profunda o bastante
para dar a conhecer os direitos humanos e fundamentais basicos, a forma de aprendé-los e os entes e instituigdes
responsaveis por concretiza-los; c) em linguagem compreensivel para o grupo a qual se destina.

Essa difusao, necessariamente, tem de trazer, minimamente: a) a divulgacgao de quais sa0 Os Orgaos aptos a atuar no
caso de violacao de direitos; b) a melhor forma de contatar os Orgaos que tem atribuigao/competéncia para atuar no caso;
c) um programa de capacitacao de lideres/agentes comunitdrios que possam replicar 0 conhecimento.

Na medidaem que a educacao em direitos pela Defensoria Publica alcangar tais patamares minimos, ha de ser classificada
como uma nova onda de acesso a justi¢a.

2, ATECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO EFETIVADOR DA EDUCACAO EM DIREITOS HUMANOS PELA


DEFENSORIA PUBLICA

A tecnologia de massa surge no contexto contemporaneo, em que a informagao é bem de consumo e, portanto, possuidor
de valor econémico.

Ademais, € nessa conjectura que os direitos se enumeram e multiplicam, com ou sem concretude fatica. Bobbio (2004, p.
93) ensina que nunca se propagou tao rapidamente quanto hoje em dia a ideia dos direitos do homem, e € sob este viés que
as Constituigdes ditas democraticas nado cabe somente estabelecer rols de direitos fundamentais, mas também os instrumentos para
os assegurar.
Dito de outra forma, a previsao do direito existe, assim como Orgaos e instrumentos supostamente aptos para concretiza-los,
porém, falta o conhecimento dos indivfduos, especialmente dos grupos vulneraveis, acerca destes mesmos direitos. Em
outros termos, a norma agendi existe, mas o problema, hoje, esta no facultas agendi. Ainda que existem mecanismos
efetivos de concretizacao desses direitos, estes nao sao reclamados porquanto desconhecidos. E nessa seara que surge a
compreensio da Defensoria Publica enquanto nova (6*) onda renovatoria de acesso a justica e que a tecnologia se mostra
como instrumento valioso para auxiliar a instituigao a redesenhar o que se entende por acesso 4 justi¢a.

E preciso, porém, ter cautela. Franklyn Roger (2019) rememora que a falta de infraestrutura e acesso dos proprios
assistidos e cidadaos brasileiros 4 infraestrutura basica podem servir como empecilho para a utilizacao da tecnologia pelas
Defensorias Publicas.

Em seus dizeres:

Nao é admissivel que um pais queira implementar tecnologias e funcionalidades que possam ser utilizadas no cotidiano
do servico publico e da propria Defensoria Publica como forma de facilitagao de seu ptiblico-alvo se nao ha uma
infraestrutura basica e segura. Do contrario, viveremos sempre com um servi¢o avangado que nao sera utilizado em sua
plenitude.

Assim, € preciso cuidar de uma tecnologia que sirva para integrar — nao segregar ainda mais - a populagao ja
vulnerabilizada. Nesse sentido, exemplos praticos seriam em protocolos integrados de atendimento, compartimentaliza¢ao
de teses exitosas nas redes, atendimento de assistidos impedidos de comparecer a Defensoria Publica por videoconferéncia
— sempre se mantendo a possibilidade de atendimento presencial, caso seja a vontade do assistido.

Nesse contexto é que Aratijo (2012) informa, inclusive, que a tecnologia no ensino é instrumento a favor da justica
social? e Pinto e Santos (2017) afirmam que a tecnologia deve, a fim de garantir 0 acesso a justica, promover uma
restruturagao do Poder Judiciario*. No mesmo sentido, Paiva (2010) aponta a informatica como o futuro da Justiga e
Vidonho Junior (2010) comenta acerca dos novos meios virtuais de acesso a informacao juridica. Para Gotti (2018) a
informatica — forg¢a matriz por tras da revolucdo 4.0 -, voltada para o aperfeicoamento das pessoas, deve ser 0 ponto de
destaque da justiga social’.

Mais especificamente quanto a educagdo em direitos, repisa-se, espeque na doutrina de Santos (2019), a necessidade de a
Defensoria Publica se utilizar dessa porta virtual que a tecnologia proporciona a fim de aumentar o alcance e a qualidade
das informag6es que chegam aos seus assistidos, de toda sorte a mitigar a vulnerabilidade informacional. Forma eficaz de fazé-lo
seria pulverizando virtualmente materiais de educa¢ao em direitos a multiplicadores em regides isoladas, v.g, ONGs,
servidores publicos e lideres comunitarios.

CONCLUSAO
Por todo 0 exposto, conclui-se que 0 acesso a justiga é um metadireito multifacetado, que obriga 0 Estado a tomar medidas
proativas que resultem na remogao de obstaculos entre o cidadao e a concretiza¢ao de seus direitos.

Na obra classica de Garth e Cappeletti, trés ondas renovatérias foram propostas como modo de se eliminar a maioria dos
obstaculos até entao identificados. Entretanto, com o passar do tempo, novos desafios foram surgindo, bem como outros
diagnoésticos foram feitos sobre 0 tema.

E por isso que hoje alguns doutrinadores sugerem novas ondas renovatérias em adicao aquelas propostas por Garth e
Cappeletti, como os nominalmente citados por este artigo, a saber, Economides, que prega por uma formacao humanistica
dos atores processuais, e Roger, que vé na jurisdi¢do internacional uma quinta onda renovatéria de acesso a justica.
Somando-se a tais propostas, este artigo debrugou-se sobre a educa¢ao em direitos, a fim de demonstrar que nao ha
Estado democratico de direito sem a devida dispersdo a popula¢gao de um conhecimento acerca dos direitos que lhe
pertencem.

A educacgao em direitos se mostra, portanto, como indispensavel para a concretizacao do acesso a justica, na medida em
que os individuos nao apenas passam a conhecer quais sao seus direitos, mas também as maneiras adequadas de os exigir
ou de té-los reparados, se for o caso.

E nesse contexto que se faz vital analisar a fun¢ao constitucional da Defensoria Publica de representar judicial e
extrajudicialmente as pessoas em situagdo de vulnerabilidade.

O redesenho constitucional da Defensoria Publica a partir da CF 88 e, especialmente, apds a promulgacao das Emendas
Constitucionais 45/2004 e 80/2014, Ihe garantiu independéncia e autonomia financeira e orcamentdaria para o
cumprimento de seus deveres funcionais. Assim, a Defensoria passou a se constituir verdadeiro Orgéo extrapoder, sem
submissao a qualquer um dos poderes na separagao classica trifasica de Montesquieu.

Nessa medida, imbu(fda de tais prerrogativas, salta aos olhos a obrigacao constitucional da Defensoria Publica de prover
a populacao brasileira a adequada educa¢ao em direitos, conforme expressa previsaio na Lei Complementar 80/94.

A educagao em direitos, de obrigacao da Defensoria, pode se classificar como nova onda renovatoria de acesso a justi¢a, contanto
que se mostre: a) dispersa 0 suficiente para alcan¢ar a populacao especialmente vulnerabilizada; b) profunda o bastante
para dar a conhecer os direitos humanos e fundamentais basicos, a forma de aprendé-los e os entes e instituicdes
responsaveis por concretizd-los; c) em linguagem compreensivel para o grupo a qual se destina.

Tal dispersao de conhecimento tem de trazer, minimamente, a) a divulgacado de quais sao Os 6rgaos aptos a atuar no
caso de violagao de direitos; b) a melhor forma de contatar os orgaos que tem atribuicao/competéncia para atuar no caso;
c) um programa de capacitagao de lideres/agentes comunitdrios que possam replicar o conhecimento.

Uma vez mantida uma estrutura institucional que permita a realizagao de um programa de educagdéo em direitos nesses
moldes, ha de se esperar uma profunda mudanga social, resultando em um instrumento valioso de concretiza¢ao do acesso
a justica

Cabe a Defensoria Publica, portanto, pensar em praticas de educacgao em direitos humanos utilizando-se de instrumentos
tecnoldégicos, de sorte a encurtar os espagos e reduzir o tempo de compartilhamento da informagao.

Diante de todo o exposto, valendo-se da hermenéutica constitucional concretizadora, pode-se compreender que a
tecnologia é instrumento habil para a efetivagdo da sexta onda renovatoria de acesso a justiga, de modo que cabe aos
membros e servidores da Defensoria Publica otimizar os recursos tecnol6gicos, aproximando-se (ainda que de forma
virtual) do assistido na missao de educar em direitos humanos e, com isso, reduzir as diversas formas de vulnerabilidade.

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