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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE ECONOMIA

Finanças Públicas

EXERCÍCIOS EXEMPLOS SOBRE RECEITAS PÚBLICAS DE TIPO IMPOSTOS

EXERCÍCIO 1 – CASO DE UM IMPOSTO UNITÁRIO NUM MERCADO DE


CONCORRÊNCIA PERFEITA

Para analisar os efeitos de um imposto unitário num mercado competitivo é necessário no


essencial, determinar: (i) o preço e a quantidade de equilíbrio antes de imposto (pela igualdade da
oferta e procura); (ii) a nova quantidade de equilíbrio pós-imposto e os preços para os
consumidores e produtores (por exemplo pela igualdade da nova oferta que incorpora o efeito do
imposto, com a procura); (iii) a receita fiscal e a sua incidência económica em consumidores e
produtores; e (iv) a ineficiência gerada pelo imposto através da medição da carga excedentária.

Considere que as funções de procura e oferta, num mercado competitivo sejam dadas por:

Procura: 𝑄𝑐 = 130 − 2𝑃, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑃 < 65

Oferta: 𝑄𝑝 = −20 + 4𝑃, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑃 > 10

Pretende-se que o especialista de Finanças Públicas:

a) Determine a incidência económica de curto prazo de um imposto unitário de $9 sobre os


consumidores e dos produtores. Comente os resultados a partir das elasticidades da oferta
e procura.
b) Calcule o valor aproximado da ineficiência gerada por este imposto.

Resposta da alínea a)

O preço de equilíbrio inicial (P0) é dado pela igualdade da oferta e procura:

1
𝑄𝑐 = 𝑄𝑝 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 130 − 2𝑃 = −20 + 4𝑃 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 − 𝑠𝑒 𝑃0 = 25

A quantidade de equilíbrio obtém-se substituindo na função procura (ou oferta) o preço inicial:

𝑄𝑐 = 130 − 2𝑃, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑄 = 130 − 2 ∗ 25 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 − 𝑠𝑒 𝑄 = 80

Uma forma de modelizar a introdução do imposto unitário é através de um deslocamento paralelo


para cima da função oferta (inversa) no montante de imposto. Na realidade, a função oferta
(inversa) mostra o preço unitário que os produtores deverão receber, em função de vários níveis
de output. A função oferta inversa é a soma de parte dos ramos ascendentes das curvas de custo
marginal de todas as empresas. Com a introdução do imposto unitário 𝑇𝑢 , é necessário adicionar
ao custo marginal privado de cada empresa o montante do imposto, pelo que a função oferta
individual de cada empresa desloca-se para cima do montante do imposto, o mesmo acontecendo
a oferta (inversa) de mercado.

As funções oferta e procura (inversa) determinam-se resolvendo-se em ordem a P:

Procura (inversa): 𝑄𝑐 = 130 − 2𝑃, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 2𝑃 = 130 − 𝑄 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 − 𝑠𝑒 𝑃 = 65 − 0.5𝑄

Oferta (inversa): 𝑄𝑝 = −20 + 4𝑃, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 4𝑃 = 𝑄 + 20 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 − 𝑠𝑒 𝑃 = 0.25𝑄 + 5

Adicionando-se 𝑇𝑢=9 à ordenada na origem da função oferta (inversa) obtém-se a nova função
oferta pós-imposto:

Oferta pós-imposto: 𝑃 = 0.25𝑄 + 5 + 𝑇𝑢 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑃 = 0.25𝑄 + 5 + 9, 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 − 𝑠𝑒 𝑃 =


0.25𝑄 + 14

Igualando-se a procura inversa, obtém-se nova quantidade de equilíbrio após imposto:

65-0.5Q=0.25Q+14 donde obtém-se Q=68

Verificou-se então uma redução na quantidade de equilíbrio de 80 para 68 unidades, sendo o novo
preço no consumidor obtido na função procura (inversa) para a nova quantidade:

𝑃𝑐 = 0.25𝑄 + 14, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑃𝑐 = 0.25 ∗ 68 + 14, 𝑜𝑏𝑡é𝑚 − 𝑠𝑒 𝑃𝑐 = 31

O preço no produtor, é o preço no consumidor menos o montante do imposto, ou seja:


𝑃𝑝 = 𝑃𝑐 − 𝑇𝑢 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑃𝑝 = 31 − 9 = 22

2
Este Pp pode também ser obtido através da substituição directa de 68 unidades na nova função
oferta inversa.
A receita fiscal (RF) será então o montante do imposto unitário vezes a nova quantidade de
equilíbrio.
𝑅𝑇 = 𝑇𝑢 ∗ 𝑄𝑡 = (𝑃𝑐 − 𝑃𝑝) ∗ 𝑄𝑡, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒𝑒 𝑠𝑒 𝑜𝑏𝑡é𝑚 𝑅𝑇 = (31 − 22) ∗ 68 = 612
Visto que o preço inicial era de $25 e o novo preço para o consumidor é de $31 e para o produtor
$22, facilmente se verifica que das $9 por unidade do bem os consumidores suportam $6 (31-25)
e os produtores suportam $3 (25-22). Em termos globais a incidência económica nos consumidores
é dada por 𝐼𝐶:
𝐼𝑐 = (𝑃𝑐 − 𝑃0) ∗ 𝑄𝑡 = 6 ∗ 68 = 408
A incidência económica nos produtores é dada por 𝐼𝑝:
𝐼𝑝 = (𝑃0 − 𝑃𝑝) ∗ 𝑄𝑡 = 3 ∗ 68 = 204
Verifica-se então que a incidência é duas vezes maior nos consumidores do que nos produtores, e
isso deve-se às elasticidades da procura (𝜀𝑐) e da oferta (𝜀𝑝). De facto, a elasticidade da procura
no ponto de equilíbrio inicial é dada por:
25 5
𝜀𝑐 = (−2) ∗ =−
80 8
Por outro lado, a elasticidade da oferta no ponto de equilíbrio inicial é dado por:
25 5
𝜀𝑝 = (4) ∗ =
80 4
𝐼𝑐 𝜀𝑝
Pelo que se verifica que 𝐼𝑝 = ou seja, o rácio da incidência económica nos consumidores e nos
𝜀𝑐
produtores é igual ao rácio das elasticidades da oferta e da procura em módulo. Verifica-se então
que o imposto recaí efetivamente sobre quem tem a função mais rígida.

Resposta da alínea b)
O imposto gera, pois, uma ineficiência, que pode ser medida pela carga excedentária (CE) do
imposto, isto é, a diferença entre, por um lado, o valor da redução dos excedentes do consumidor
e produtor e, por outro a receita fiscal. Essa diferença pode ser aproximada como se segue:
1 1
𝐶𝐸 = (𝑃𝑐 − 𝑃𝑝) ∗ (𝑄0 − 𝑄𝑡) ∗ , 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑡é𝑚 − 𝑠𝑒 𝐶𝐸 = 9 ∗ (80 − 68) ∗ = 54
2 2
Trata-se de um valor aproximado da carga excedentária (ineficiência do imposto), pois dever-se-
ia ter usado a nova quantidade na função da procura compensada (Qt na procura “hicksiana”) e
não na função procura “normal”(Qt na procura “marshaliana”). É, contudo, uma boa aproximação
se o efeito-rendimento do imposto for desprezível.

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EXERCICÍCIO 2 – CASO DE IMPOSTO UNITÁRIO E AD VALOREM EM MERCADOS
MONOPOLISTA
Num mercado monopolista em que opera apenas uma empresa, o equilíbrio é dado pela condição
de maximização de lucro para a empresa. Seja RT a receita total e CT o custo total, RMg a receita
marginal e CM o custo marginal. Note-se que a função procura inversa P=P(Q) expressa a receita
média da empresa (RMe). Tem-se pois que a receita total é dada por:
𝑅𝑇 = 𝑅𝑀𝑒 ∗ 𝑄, 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑅𝑇 = 𝑃(𝑄) ∗ 𝑄
ə𝑅𝑇
A receita marginal é dada por 𝑅𝑀𝑔 = ə𝑄

ə𝐶𝑇
Do mesmo modo o custo marginal é dado por: 𝐶𝑀𝑔 =
ə𝑄

A maximização do lucro é dado pela quantidade que satisfaz:


𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔
O efeito de um imposto unitário 𝑇𝑢 é o de afectar a receita média e marginal do monopolista no
montante do imposto. Assim ter-se-á uma receita marginal líquida de imposto RMgL:
ə𝑅𝑇
𝑅𝑀𝑔𝐿 = − 𝑇𝑢 e a condição de equilíbrio pós-imposto unitário:
ə𝑄

𝑅𝑀𝑔𝐿 = 𝐶𝑀𝑔
No caso de um imposto “ad valorem” em mercado monopolista (ou concorrencial) o preço para o
consumidor é o preço para o produtor majorado do imposto, sendo este dado pelo produto da taxa
“ad valorem” pelo preço no produtor. Assim:
𝑃𝑝
𝑃𝑝(1 + 𝑇𝑎𝑣) = 𝑃𝑐 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑃𝑝 = 1+𝑇𝑎𝑣 ; Neste caso a receita total líquida de
𝑃
imposto será dada por: 𝑅𝑇𝐿 = 𝑅𝑀𝑒𝐿 ∗ 𝑄 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑠𝑒 𝑜𝑏𝑡é𝑚 𝑅𝑇𝐿 = 1+𝑡𝑎𝑣 ∗ 𝑄

EXEMPLO:
Considere uma empresa monopolista cuja a função custo total é dado pela expressão:
𝑄3 7𝑄 2
𝐶𝑇 = − + 15𝑄 + 5 e defronta uma procura (inversa) relativamente ao seu produto dada
3 2
7
pela expressão: 𝑃 = 31 − 2 𝑄

Pretende-se que o especialista de Finanças Pública determine o equilíbrio do monopolista:


a) Inicial (sem imposto);
b) Com imposto unitário de $7; e
c) Com imposto ad valorem de 51,85%. E

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d) Com uma licença de exploração de $10.

Resposta da alínea a)
O equilíbrio inicial do monopolista é dada pela igualdade entre o custo e receita marginais
ə𝐶𝑇
𝐶𝑀𝑔 = = 𝑄 2 − 7𝑄 + 15
ə𝑄
7
A receita total é dada por 𝑅𝑇 = 𝑃 ∗ 𝑄 = 31𝑄 − 2 𝑄 2 , pelo que a receita marginal é dada por:

ə𝑅𝑇
𝑅𝑀𝑔 = = 31 − 7𝑄
ə𝑄

𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎 31 − 7𝑄 = 𝑄 2 − 7𝑄 + 15, 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑄 2 = 16 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑄 =


4 𝑜𝑢 𝑄 = −4. Economicamente, a solução só poderá ser Q=4.
7 7
Substituindo Q, temos 𝑃 = 31 − 2 𝑄, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑃 = 31 − 2 ∗ 4 = 17

Resposta da alínea b)
Com um imposto unitário de $7, a receita marginal para esse montante decrescerá nesse montante:
𝑅𝑀𝑔𝐿 = 𝑅𝑀𝑔 − 𝑇𝑢 = 31 − 7𝑄 − 7 = 24 − 7𝑄 , pelo que o equilíbrio sera dado por:
𝑅𝑀𝑔𝐿 = 𝐶𝑀𝑔 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 24 − 7𝑄 = 𝑄 2 − 7𝑄 + 15, 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎 𝑄 2 = 9, 𝑜𝑢 𝑄 = 3 𝑜𝑢 𝑄
= −3
A solução com sentido económico é Q=3 substituindo encontramos o preço para o consumidor:
7
𝑃 = 31 − ∗ 3 = 20.5
2
O preço para o monopolista liquido do imposto será então:
𝑃 = 20,5 − 𝑇𝑢 = 20.5 − 7 = 13.5
Resposta para alínea c)
Com um imposto ad valorem de 51,85%, uma forma de resolver este exercício seria calcular o
preço liquido para o monopolista:
7
𝑃𝑐 31 − 2 𝑄
𝑃𝑝(1 + 𝑇𝑎𝑣) = 𝑃𝑐 𝑑𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎 𝑃𝑝 = =
1 + 𝑡𝑎𝑣 1 + 0.5185

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Resolvendo temos que Pp=20.41488-2.304906Q e a partir daqui, determinar a receita total e
marginal e igualar esta ao custo marginal e obter a nova quantidade.
Note-se contudo, que a taxa escolhida é T=0.5185 é aproximadamente igual ao rácio entre o preço
para o consumidor (P=20.5) e o preço liquido para o monopolista com imposto unitário da alínea
anterior (P=13.5). Isto significa que a quantidade de equilíbrio e os preços para o consumidor e o
monopolista serão os mesmos da alínea anterior.

Resposta da alínea d)
Uma licença de exploração funciona como um imposto lump-sum não alterando pois, as condições
marginais de funcionamento do monopolista, pelo que o equilíbrio será o mesmo da alínea a).

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