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FASE SUCESSÓRIA – ABERTURA DA SUCESSÃO, VOCAÇÃO E AQUISIÇÃO

- A sucessão inicia-se com a morte do de cujus (artigos 2031.º, número 2 do artigo 2050.º e
2032.º e consolida-se com a aceitação da herança.
- Para efeitos jurídicos, a abertura da sucessão é o lugar do último domicílio do de cujus (Artigo
2031.º e 82.º CC).
- No cálculo da legítima deve-se atender ao valor dos bens à data da morte do de cujus –
Artigo 2162.º
- Vocação – chamamento à sucessão, feita pela lei ou o de cujus, no momento da sua morte,
das pessoas já designadas para suceder – Artigo 2032.º

 DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL-

1) REGRA GERAL do DIP Português

Artigo 62.º - A sucessão por morte é regulada pela lei pessoal, a lei da nacionalidade
do autor da sucessão. Esta era a regra fundamental para a determinação da lei
aplicável para regular de qualquer português falecido em Portugal ou fora de Portugal,
assim como de estrangeiro que falecesse em Portugal

2) REGULAMENTO SUCESSÓRIO EUROPEU


- REGULAMENTO (EU) Nº 650/2012 DO PE e do Conselho de 4 de Julho de 2012 – Veio
alterar a competência da lei aplicável em matéria de sucessões mortis causa e à
criação de um certificado sucessório Europeu
(Não se aplica ao Reino Unido, Irlanda e Dinamarca)

Aplica-se a óbitos ocorridos após 17 de Agosto de 2015 (data da entrada em vigor)

- Nas sucessões internacionais, a lei aplicável ao conjunto da sucessão é a da lei do


Estado onde o falecido tinha residência habitual no momento do óbito (Artigo 21.º)
- Se o autor da sucessão, excecionalmente tinha uma relação manifestamente mais
estreita com um país diferente do Estado e da sua residência habitual, então é
aplicável a lei desse estado (Critério da conexão mais estreita). Em virtude desta regra,
pode ser designada como lei aplicável a lei de um país que não seja Estado-Membro.
- O autor da sucessão pode escolher como lei para regular toda a sua sucessão, a lei do
estado que é nacional no momento em que faz a escolha ou no momento do óbito –
(Artigo 22.º). Se este tiver dupla nacionalidade, pode escolher qualquer uma das leis
desses Estados de que é nacional.

- Sempre que o falecido tenha feito uma disposição por morte antes de 17 de Agosto
de 2015, por força do regulamento e nos termos da lei que o falecido tivesse podido
escolher, considera-se que essa lei foi escolhida como lei aplicável à sucessão (número
4 do Artigo 83.º).
- Por aplicação da lei de um estado terceiro, entende-se a aplicação de normas
jurídicas em vigor nesse estado, incluindo as de direito internacional privado, na medida em
que aquelas regras remetam para:

a) Lei de um Estado-Membro; ou
b) Lei de outro Estado terceiro que aplicaria a sua própria lei
Consulta da lei sucessória de outro estado membro:
www.e-justice.europa.eu

SUCESSÃO LEGÍTIMA (Artigos 2131.º a 2155.º do CC)


a) GENERALIDADES – É uma das modalidades de sucessão legal e abre-se na falta
de sucessão testamentária (ou a existir a mesma não for válida), quanto à
parte que o de cujus pode dispor.
O de cujus não pode dispor da legítima (Artigo 2156.º e 2157.º) que é
obrigatoriamente atribuída aos herdeiros legitimários, que aliás, coincidem
com algumas das classes sucessíveis chamados à sucessão legítima.

b) CATEGORIA DOS HERDEIROS (Artigo 2132.º)


1. O cônjuge (o estado civil adquire-se pelo casamento (Art. 151.º do
CRCivil), o qual só tem direitos autónomos quando não existirem
descendentes ou ascendentes
2. Os parentes (descendentes e ascendentes em linha reta e colaterais
até 4º grau, sendo que a prioridade se mede pelos mais próximos, com
exceção dos irmãos que são chamados em conjunto com os
descendentes dos outros irmãos já falecidos e no exercício do direito
de representação);
3. Estado;

c) CLASSES SUCESSÍVEIS – Artigo 2133.º


1. Cônjuge e descendentes;
2. Cônjuge e ascendentes;
3. Cônjuge
4. Irmãos e seus descendentes
5. Outros colaterais até ao 4º grau
6. Estado

d) PRINCÍPIOS BÁSICOS
1. Preferência de Classe – Os herdeiros de cada uma das classes
preferem aos das classes seguintes (Artigo 2134.º)
2. Preferência do grau de parentesco dentro de cada classe – Dentro de
cada classe os parentes de grau mais próximo preferem aos de grau
mais afastado (2135.º) com exceção do que resulta do direito de
representação (2138.º).
3. Sucessão por Cabeça – Os parentes de cada classes sucedem em
partes iguais (2136.º), com as seguintes exceções:
- Se o cônjuge concorrer à herança com descendentes ou
ascendentes (Artigos 2139.º e 2142.º), nunca pode ter menos
que o quinhão de ¼ .
- Se irmãos germanos concorrerem com irmãos unilaterais –
consanguíneos ou uterinos (Artigo 2146.º)

4. Ineficácia do Chamamento – Os sucessíveis da mesma classe são


chamados simultaneamente à herança. Se não puderem (pré-falecimento) ou não quiserem
aceitar (repúdio) são chamados os imediatos sucessores (em direito de representação).
Se, algum ou alguns sucessíveis não puderem ou não quiserem aceitar a sua parte acrescerá à
dos outros sucessíveis da mesma classe que com eles concorram à herança – Direito de
acrescer dentro do mesmo título de vocação sucessória (Artigo 2137.º)

e) SUCESSÃO DO CÔNJUGE

1. Cônjuge Meeiro e Herdeiro


- Temos de separar o que é a meação e a herança. O património do de
cujus depende do regime de bens em que casou. Se o de cujus casou
sob o regime da comunhão geral, então, nos termos do artigo 1732.º
do CC, o património comum é constituído por todos os bens presentes
e futuros que não sejam excetuados por lei;
- O artigo 1733.º do CC prevê as categorias de bens incomunicáveis
(bens próprios do cônjuge titular);
- O artigo 1730.º do CC prevê que os cônjuges participam por metade
no ativo e no passivo da comunhão, sendo nula a convenção em
convenção em contrário;
- Cada cônjuge tem, por direito próprio, metade dos bens (meação
conjugal)
- Bens próprios de cada um dos cônjuges – Artigo 1722.º

Exemplo:
MARIA e MANUEL (Casados na Comunhão Geral)
Deixaram 3 filhos: António, Berto e Carlos
Valor dos bens: 1200
Meação de cada Cônjuge: 600
Herança a partilhar: 600
Quinhão hereditário de cada herdeiro de Maria: 150
Cônjuge tem 600 de meação e 150 de herança = 750
Exemplo:
MARIA e MANUEL (Casados na Comunhão de adquiridos)
Deixaram 3 filhos: António, Berto e Carlos
Valor dos bens comuns: 1200
Valor dos bens próprios de Maria: 400
Meação do cônjuge: 600
Herança a partilhar 600+400=1000
Quinhão hereditário de cada herdeiro de Maria: 250
Cônjuge tem 600 de meação e 250 de herança - 850

Exemplo:
MARIA e MANUEL (Separação de Bens)
Deixaram 3 filhos: António, Berto e Carlos
Não existem bens comuns
Valor dos bens próprios de Maria: 600
Não existe meação do cônjuge
Herança a partilhar 600
Quinhão hereditário de cada herdeiro de Maria: 150

Não faz parte do direito das sucessões o regime do apanágio do cônjuge sobrevivo (Artigos
2018.º e 2019.º do CC) que constitui um direito de alimentos do cônjuge sobrevivo, um
encargo da herança, suportado pelos herdeiros e legatários do de cujus, na proporção do
respetivo quinhão.

DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO
O cônjuge só é herdeiro se o casamento subsistir à data da morte do de cujus, logo, o cônjuge
não é chamada à sucessão se se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e
bens, por sentença já transitada em julgado ou a ser proferida ou a transitar em julgado
(porque a ação prossegue com os herdeiros) ou se o casamento vier a ser declarado nulo ou
anulado (pois neste caso o casamento até é inexistente).

f) SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DOS DESCENDENTES – (Artigos 2139.º a 2141.º)

A partilha faz-se por cabeça, mas está garantido ao cônjuge a quota mínima
de ¼ da herança;
Se existirem até 3 filhos, a herança será dividida em partes iguais (cônjuge e 3
filhos). Se existirem 4 ou mais, ¼ da herança é reservada ao cônjuge e o
remanescente (3/4) será dividido pelo número de filhos.
Os descendentes dos filhos (netos, bisnetos, etc.) que não puderem ou não
quiserem aceitar a herança, são chamados à herança em virtude do direito de
representação (2140.º e 2042.º), sendo a divisão feita por estirpe e não por
cabeça.

g) SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DOS ASCENDENTES (Artigo 2142.º)


- Só ocorre se o de cujus não deixa descendentes;
- A partilha não se faz por cabeça, porque ao cônjuge pertencem 2/3 e aos
ascendentes 1/3;
- Entre os ascendentes são apenas chamados os mais próximos (preferem os
pais aos avós);
- Na falta de cônjuge os ascendentes são chamados à totalidade da herança;
- Não funciona o direito de representação no caso dos ascendentes;
- Se algum ou alguns dos ascendentes não quiserem ou não puderem aceitar a
herança, a sua parte acresce à dos demais ascendentes, e se estes não
existirem acrescerá à do cônjuge sobrevivo (Artigo 2143.º);

h) SUCESSÃO DOS IRMÃOS E SEUS DESCENDENTES (Artigo 2145.º)


- Esta é a 3ª classe de sucessíveis;
- Só se aplica na falta de cônjuge, descendentes e ascendentes;
- A herança é dividida em partes iguais pelos irmãos vivos ou, também, pelos
falecidos quando estes tenham descendentes, chamados à sucessão por
direito de representação (artigo 2039.º a 2045.º).
- Concorrendo à sucessão irmãos germanos e consanguíneos ou uterinos, o
quinhão de cada um dos irmãos germanos ou seus descendentes é igual ao
dobro do quinhão de cada um dos outros (Artigo 2146.º)

i) SUCESSÃO DOS OUTROS COLATERAIS


- É a 4ª classe de sucessíveis;
- São chamados na falta de outros herdeiros das três classes anteriores;
- Parentes do de cujus até 4º grau (tios e primos do de cujus);

j) SUCESSÃO DO ESTADO
- O Estado é chamado na falta de qualquer sucessível das classes anteriores, e
opera-se por direito, sem necessidade de aceitação, não podendo o Estado
repudiar (Artigo 2154.º).
- Tem que ser reconhecida judicialmente a falta de outros sucessíveis
legítimos, para que a herança seja declarada vaga para o Estado (Artigo
2155.º).

k) SUCESSÃO DE FAMÍLIA ADOTIVA (Artigo 2133.º)


- Tem que se verificar os 2 tipos de adoção: plena e restrita.
- Na opção plena, o adotado adquire a situação de filho do adotante,
extinguindo-se as suas relações familiares naturais, integrando-se na família do
adotante de forma idêntica à filiação (Artigo 1986.º).
- Na adoção restrita, o adotado conserva todos os direitos e deveres em
relação à família natural e não tem direitos sucessórios equivalentes aos
direitos dos filhos naturais (Artigo 1994.º e 1996.º)
- Se o adotante falecer sem cônjuge e descendentes ou ascendentes, o
adotado restrito é chamado à sucessão (Número 2 do Artigo 1999.º)

SUCESSÃO LEGITIMÁRIA (Artigos 2156.º a 2167.º)


a) GENERALIDADES

- Recai sobre os bens que o de cujus não pode dispor, isto é, a quota
indisponível da legítima;
- É uma sucessão obrigatória ou imperativa, desde que o falecida tenha
deixado parentes chegados;
- Intangibilidade da legítima – Artigo 2156.º

b) HERDEIROS LEGITIMÁRIOS
Cônjuge, descendentes e ascendentes pela ordem prevista para a sucessão
legítima (Artigo 2157.º + 2131.º a 2136.º), isto é:
- Preferência de classe;
- Preferência de grau;
- Divisão por cabeça, e
- Representação de descendentes

c) CÁLCULO DA LEGÍTIMA (Artigo 2156.º)


- Legítima é a quota parte da herança que o de cujus não pode dispor e
que é deferida aos herdeiros legitimários;
- O de cujus não pode impor encargos sobre a legitima, nem designar os
bens que a devem preencher contra a vontade do herdeiro – Artigo 2163.º
- Para calcular o valor total da herança é necessário atender:
- Ao valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à
data da sua morte;
- Ao valor dos bens doados (embora não seja atendido o valor dos bens
doados que tivessem perecido em vida do de cujus por facto não
imputável ao donatário (Artigo 2162.º e 2112.º)
- Às despesas sujeitas à colação (corresponde a tudo a que falecido
tiver despendido gratuitamente a favor dos descendentes (Artigo
2110.º), e
- Às dívidas da herança;

VALOR DA LEGÍTIMA:
½ - Legítima do cônjuge, se concorrer sem descendentes nem
ascendentes;
2/3 – Legítima de cônjuge e descendentes;
½ - Legítima de um único filho, sem cônjuge sobrevivo;
2/3 – Legítima de 2 ou mais filhos, sem cônjuge sobrevivo;
2/3 – Legítima de cônjuge em concurso com ascendentes;
½ - Legítima de pais;
1/3 – Legítima dos ascendentes em segundo grau e seguintes;
d) LEGADO EM SUBSTITUIÇÃO DA LEGÍTIMA (Artigo 2165.º)
- Não há verdadeiramente uma violação do princípio da intangibilidade
(inatacabilidade) da legítima, porquanto, se trata de uma proposta feita ao
herdeiro, o qual ou aceita a legitima e perde o direito ao legado ou aceita
o legado e perde o direito à legítima.
Assim, se o herdeiro aceita o legado, por sua vontade, repudia a legítima.
Na falta de manifestação em contrário, entende-se que o herdeiro aceitou
o legado.
O valor do legado não pode atingir a legítima dos demais herdeiros, caso
contrário, está sujeita a redução.

e) LEGADO POR CONTA DA LEGÍTIMA (Artigo 2163.º à contrario sensu)


- O autor da sucessão, em testamento, pode designar os bens que vão
preencher a legítima do herdeiro;
- O herdeiro não perde a qualidade de herdeiro e mantém o direito a
preencher a sua legítima com outros bens da herança suficientes para
preencher totalmente o seu quinhão.
- O herdeiro pode sempre aceitar ou repudiar

f) REDUÇÃO DE LIBERALIDADES (Artigo 2168.º a 2178.º)


- Ação de redução por inoficiosidade – para que os herdeiros possam
defender a sua legítima e evitar que os seus direitos e expectativas sejam
afetados.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA (Artigos 2179.º e seguintes do CC)


a) TESTAMENTO

- Ato unilateral e irrevogável pelo qual uma pessoa dispõe para depois da morte, de
todos os seus bens ou parte deles;
- Também admite disposições de caráter não patrimonial:
- A forma do funeral
- Destino do seu cadáver (doação do corpo para a ciência)
- Designação de tutor a filho menor (1928.º/1 e 2)
- Deserdação (quando possível – Artigos 2166.º e 2167.º)
- Perfilhação (Art. 1853.º alínea b))
- Revogação expressa de anterior testamento (Art. 2312.º)
- Reabilitação de indigno (Artigo 2038.º), etc…

b) CARATERÍSTICAS
- Ato jurídico unilateral, pessoal, singular, não receptício, formal, revogável e mortis
causa;
- São proibidos testamentos “de mão comum” (Artigo 2181.º), porém existe uma
exceção;
- Ato solene/formal porque reveste a forma prevista nos artigos 2204.º e seguintes e
2210.º e seguintes;
- Os notários devem remeter à Conservatória dos Registos Centrais a informação dos
testamentos, etc. que hajam sido lavrados no mês anterior (Artigo 187.º e 202.º do
Código do Notariado);
- O testador não pode renunciar à faculdade de revogar, no todo ou em parte, o seu
testamento (Artigo 2311.º);
- Ato livremente revogável até ao último momento da vida do testador (Artigo
2179.º);
- A revogação pode ser expressa, caso haja declaração do testador noutro
testamento ou numa escritura de revogação de testamento (artigo 2312.º) ou pode
ser tácita, quando não há uma manifestação clara e expressa de revogar, mas esta
advém da incompatibilidade da última manifestação de vontade do testador com as
anteriores (Artigo 2313.º).
- Se existirem dois testamentos com a mesma data, e não se souber qual o primeiro
e último, havendo disposições contraditórias, e só quanto a estas, as mesmas têm-
se por não escritas (número 2 do artigo 2313.º);
- As disposições testamentárias estão sujeitas a caducidade nos termos do artigo
2317.º (Fica um prazo ou estabelecer a verificação de certa situação para que um
direito possa ser exercido).

c) CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA
- Podem testar todas as pessoas com capacidade jurídica, logo, só não pode testar
quem a lei declara incapaz de o fazer (Artigo 67.º e 2188.º).

1) INCAPACIDADE TESTAMENTÁRIA (Artigos 2189.º e 2190.º)


- Têm incapacidade testamentária os menores não emancipados e maiores
acompanhados, apenas nos casos em que a sentença de acompanhamento assim o
determine;

2) CAPACIDADE PASSIVA – INDISPONIBILIDADE RELATIVA


- Faculdade de receber bens ou direitos por testamento;
- Existem situações em que as pessoas não podem ser
contempladas em testamento pelo testador em virtude de especial e
próxima relação que mantém com o testador (Exemplo: médicos,
notários, etc – Artigos 2192.º e 2198.º)
- Indisponibilidade relativa: Acompanhante ou administrador
legal, médicos, enfermeiros, sacerdotes, cúmplice de testador
adúltero;

3) FALTA E VÍCIOS DA VONTADE (Artigos 2199.º e 2203.º)


- Incapacidade acidental – O testador tem de de compreender
o sentido e alcance da sua declaração de vontade. Se não estiver,
mesmo que temporariamente, o testamento é nulo;
Exemplo: Testamento feito por testador temporariamente
privado das suas faculdades em virtude de droga ou álcool;
- Simulação – Está-se a fazer parecer como real, uma declaração
de vontade que não o é.
Exemplo: António deixa a Carlos, para que este, depois da sua
morte os entregue a Fernanda, sua enfermeira, a qual não poderia
beneficiar no testamento;

- Erro, Dolo e Coaçção – O testamento é anulável, nos termos


gerais, exceto se da interpretação do testamento não conseguirmos
concluir que o beneficiário do testamento era outra pessoa que aquela
que foi indicada. Nesse caso, a disposição é válida.

D) FORMAS DO TESTAMENTO (ARTIGOS 2204.º e 2223.º)

Formas comuns:
- Público
- Cerrado

Formas especiais:
- Testamentos militares
- Testamentos feitos a bordo de navio
- Testamentos feitos a bordo de aeronaves, etc.

1) Testamentos Públicos (Todos os feitos por notário - Artigo 2205.º)


- Aplica-se o formalismo previsto no artigo 46.º do Código do Notariado, com
exceção dos artigos 54.º a 58.º e números 1 e 2 do artigo 59.º;
- É necessária a intervenção, ainda, de 2 testemunhas (Artigos 67.º e 68.º do CN);
- Livro de testamentos públicos (Artigo 11.º alínea a) e n.º 1 do artigo 7.º do CN);
- Livro de testamentos cerrados (Artigo 15.º alínea d) e n.º 1 do artigo 7.º do CN);

2) Testamentos Cerrados (Artigos 2206.º e seguintes do CC e 106.º do CN)

- Testamento que é escrito e assinado pelo testador ou por outa pessoa, a seu rogo,
ou escrito por outra pessoa a rogo do testador e por este assinado.
- É um testamento fechado e lacrado pelo Notário, a quem é apresentado, o qual,
sem ler o seu conteúdo verifica a sua validade formal e procede à sua aprovação, e é
neste instrumento de aprovação que o Notário tem de consignar a razão por que o
testador não assinou o testamento, se tal ocorrer;
d) LEGADOS

1) Distinção entre herdeiro e legatário

- O art. 2030.º auxilia na interpretação quando distingue que o herdeiro


sucede na totalidade ou numa quota do património do de cujus e o legatário
sucede em bens ou valores determinados.
- A relevância desta distinção assenta nas seguintes disposições:
o Direito de exigir partilha (número 1 do art. 2101.º) - só cabe ao herdeiro e
não ao legatário;
o Direito de Acrescer (art. 2301.º, número 1) – Se algum dos herdeiros for
Instituído numa quota dos bens, seja ou não conjunta a instituição, e algum
deles não quiser ou não puder aceitar a herança, a sua parte acrescerá à parte
dos outros herdeiros instituídos
o Direito de preferência na Venda dos bens da Herança (art. 2130.º, nº 1) – Só
têm os co-herdeiros
o Responsabilidade pelos encargos da herança (art. 2068.º e 2265.º) – os
herdeiros/ a herança. Porém existe a excepção prevista no art. 2277.º
No fundo, é como se o herdeiro fosse titular da herança e o legatário um
simples credor para receber os bens que lhe foram deixados

2) Espécies de Legados (Artigos 2249.º e 2280.º)

- O mais frequente é o legado de usufruto (número 4 do artigo 2030.º e 2258.º),


que pode abranger determinado bem ou uma quota da herança.
- O legado pode ser feito a várias pessoas simultânea e sucessivamente (Artigos
1440.º, 1441.º e 1442.º)

3) Âmbito do legado (Artigos 2269.º e seguintes)

- O testador pode deixar esclarecido no testamento qual a extensão do legado,


porém, na sua falta, entende-se que o legado abrange as benfeitorias e partes
integrantes.
- Se a coisa legada estiver onerada com alguma servidão ou outro encargo
inerente, como por exemplo, um contrato de arrendamento, o mesmo passa para
o legatário.

4) Cumprimento do Legado

- Compete a todos os herdeiros o cumprimento do legado, porém, o testador pode


impor a algum herdeiro ou legatário o seu cumprimento.
- Os casos que a lei prevê são:
a) Obrigação de prestação (Artigo 2265.º)
b) Legado de Coisa Genérica (Artigo 2266.º)
c) Legados alternativos (Artigo 2267.º e 543.º) – A escolha fica a cargo do
herdeiro onerado com o cumprimento.
d) Transmissão do direito de escolha (Artigo 2268.º)
e) Entrega do Legado – (Artigo 2270.º) – deve ser feita no local onde a coisa
legada se encontrava à data do óbito do testador e no prazo de um ano a contar
dessa data;
f) Legado de Prestação Periódica (Artigo 2273.º)
g) Legado deixado a um menor (Artigo 2274.º)
h) Despesas (Artigo 2275.º) – Ficam a cargo de quem tem de satisfazê-lo;
i) Encargos com impostos ao legatário (Artigo 2276.º) – O legatário responde
pelo seu cumprimento, até ao valor da coisa legada.
j) Pagamento dos Encargos da Herança (Artigo 2277.º) – São feitos pelos
legatários na proporção dos seus legados;
k) Herança insuficiente para o pagamento dos legados (Artigo 2278.º) – Os
legados, aqui, são então pagos rateadamente, isto é, proporcionalmente com
exceção dos remuneratórios, que são considerados como dívida da herança
l) Reivindicação da Coisa Legada (Artigo 2279.º) – A coisa tem de ser
determinada e certa.

5) Aceitação e Repúdio do Legado (2050.º e seguintes e 2062.º e seguintes)


- Aplica-se aos legatários o regime de aceitação e repúdio – Artigo 2249.º
- Só após a aceitação do legado e da sua entrega é que o legatário pode ser
considerado proprietário e possuidor.

e) SUBSTITUIÇÃO

- Não obstante “vocação” seja o chamamento à sucessão, feito por lei ou por
vontade do de cujus, no momento da sua morte das pessoas já designadas para
suceder, há casos em que a sucessão é indireta e os bens do falecido não transitam
imediatamente para o seus sucessores definitivos, mas sim para outros que o de
cujus designa. Existem 3 tipos:
1) Substituição direta (Artigos 2281.º a 2285.º)
- O testador pode indicar outra pessoa ao herdeiro instituído para
o caso deste não poder ou não querer aceitar a herança.
- Afasta o direito de acrescer e de representação (no âmbito da
quota disponível)
- Exemplo: Instituo herdeiro da Quota disponível o Manuel. Se o
Manuel não quiser ou não poder aceitar a minha herança, instituo
herdeiro da Quota Disponível o Joaquim.
2) Substituição Fideicomissária (Artigos 2286.º a 2296.º)
- Tem lugar quando o testador impõe ao herdeiro instituído o
encargo de conservar a herança para que esta reverta, por sua
morte, a favor de outrem (Artigo 2286.º e 2291.º)
- Fiduciário – É o herdeiro encarregado do encargo (de conservar a
herança).
- Fideicomissário – É o beneficiário da substituição
- Só é possível num único grau (Artigo 2288.º). Mesmo que tal
substituição esteja prevista, entende-se como não escrita e não
afeta a validade da primeira substituição
- Exemplo: Lego por conta da quota disponível a Maria, o bem
imóvel X, com o encargo de o conservar, após a sua morte, para a
respetiva filha Joaquina.
- Existem situações em que a lei considera como disposições
fideicomissárias, uma vez que são fideicomissos irregulares (Artigo
2295.º)

3) Substituição Pupilar e Quase-Pupilar (Artigos 2297.º a 2300.º)


- É a solução para obviar a eventual incapacidade de testar dos
herdeiros ou dos legatários instituídos pelo testador. A situação de
incapacidade decorre de uma sentença de acompanhamento.
- Exemplo: Manuel, Pai de David, a quem decretada a medida de
acompanhamento por sentença proferida em … pelo Tribunal
Judicial da Comarca de Lisboa, no âmbito do processo de Maior
Acompanhado nº 5, de cinco anos de idade, institui único herdeiro
de seu referido filho a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS

“Acordo entre nubentes destinado a fixar o regime de bens” – Pereira Coelho

“Acordo entre nubentes destinado a fixar a lei aplicável ao seu regime matrimonial, e/ou o seu
regime de bens e ainda, querendo, renunciar reciprocamente à condição de herdeiro
legitimário” – Maria dos Anjos Barreiros

A condição de eficácia deste contrato, acessório do contrato de casamento, é a válida


celebração de casamento.

1) PRINCÍPIOS

a) Liberdade de Estipulação

(1) – Os nubentes podem livremente fixar um dos regimes de bens previstos no


Código Civil ou o que lhes aprouver dentro dos limites da lei. (Artigo 1698.º CC)
(2) – Os nubentes podem livremente designar a lei aplicável ao regime
matrimonial desde que essa lei seja uma das seguintes: (Artigo 22.º do
Regulamento (EU) 2016/1103 do Conselho, de 24 de Junho de 2015 (a partir de
29/01/2019).
- Lei do Estado da residência habitual dos nubentes, ou de um deles, no
momento em que for concluído o acordo, ou
- Lei de um Estado da nacionalidade de qualquer dos nubentes no momento da
conclusão do acordo;

RESTRIÇÕES

(1) – Regulamentação da sucessão hereditária dos cônjuges ou de terceiro, salvos


pactos sucessórios admitidos em convenções antenupciais (Artigo 1700.º do CC na
redação dada pela Lei 48/2018, de 14/08).
- Instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário em favor de qualquer dos
esposados, feita pelo outro esposado ou por terceiro;
- Instituição de herdeiro ou nomeação de legatário em favor de terceiro, feita por
qualquer dos esposados;
- A renúncia recíproca à condição de herdeiro legitimário do outro cônjuge.

(2) A alteração dos direitos e deveres paternais ou conjugais;


(3) Regras sobre administração e disposição de bens;
(4) Estipulação da comunicabilidade dos bens identificados na lei como
incomunicáveis (Artigo 1735.º CC);
b) PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE (Artigo 1714.º CC)
(1) Vigora a partir da celebração do casamento. Até lá a convenção é revogável e
modificável (Artigo 1712.º).
(2) Aplica-se a qualquer dos regimes de bens (convencionais e supletivo)
(3) Não impede as doações entre casados (Artigo 1761.º), dação em cumprimento
entre cônjuges (número 3 do artigo 1714.º) e procuração ao outo cônjuge para
administração de bens alínea g) do número 2 do artigo 1678.º).

Exceções:
(1) Revogação de Pactos Sucessórios quando legalmente admitidos;
(2) Simples Separação Judicial de Bens;
(3) Separação Judicial de Pessoas e Bens;
(4) Alteração da lei aplicável ao regime matrimonial desde que essa lei seja uma
das seguintes (a partir de 29/01/2019) – Artigo 22.º do Regulamento (EU)
2016/1103 do Conselho, de 24 de Junho de 2015:
- Lei do Estado da residência habitual dos cônjuges, ou de um deles, no
momento que for concluído o acordo, ou;
- Lei do Estado da nacionalidade de qualquer dos cônjuges no momento da
conclusão do acordo.
(O regulamento, por ser hierarquicamente superior ao Código Civil, veio permitir a
possibilidade de alteração da escolha da lei aplicável. Se a lei escolhida permitir
alterar, durante o casamento, o regime de bens, então este princípio fica
excecionado).

Objetivo:
(1) Evitar o eventual ascendente de um cônjuge sobre o outro após o casamento;
(2) Proteger terceiros evitando que legitimas expectativas desde quanto aos bens
do casal, responsáveis pelas dívidas dos cônjuges;

2) LEI APLICÁVEL (A partir de 29 de Janeiro de 2019)

(a) Regra geral, para situações sem elemento transfronteiriço – Lei da nacionalidade
dos Nubentes ao tempo da celebração do casamento – Artigo 53.º/1;
(b) Regra geral, para situações com elemento transfronteiriço – Artigo 26.º do
Regulamento (EU) 2016/1103 do Conselho, de 24 de Junho de 2015. Aqui, na ausência
de escolha de lei, estabelece o Regulamento a hierarquia dos factores que determinam
a lei aplicável;
(1) A primeira residência habitual comum dos cônjuges depois da celebração do
casamento (solução muito diferente prevista no n.º2 do artigo 53.º do CC), ou, na falta
desta,
(2) Da nacionalidade comum dos cônjuges no momento da celebração do
casamento. Este critério não pode ser aplicado se os cônjuges tiverem mais que uma
nacionalidade comum, ou, na falta desta,
(3) A lei do Estado com o qual os cônjuges tenham em conjunto uma ligação mais
estreita no momento da celebração do casamento.
3) REQUISITOS

a) Consentimento validamente prestado, pelo que, se aplicam as regras gerais quanto


a falta de vontade ou eventual vício na formação da vontade (divergência entre a
vontade real e a declarada).
b) Termo e condição são cláusulas admissíveis (Artigo 1713.º)
c) Capacidade jurídica: Têm capacidade para celebrar convenções antenupciais os que
têm capacidade para casar (Artigo 1708.º e 1601.º)

4) FORMA

a) Escritura Pública ou auto assinado junto da Conservatória do Registo Civil (Artigo


1710.º do CC e 189.º do CRCivil)
b) Registo na Conservatória do Registo Civil – (Artigo 1711 do CC, 1.º/1/e), 190.º e
191.º do CRCivil)
c) Requisitos formais da lei do Estado-membro no qual os cônjuges ou nubentes têm
a sua residência habitual à data da celebração da convenção (Artigo 25.º do
Regulamento (EU) 2016/1103 do Conselho, de 24 de Junho de 2015.
* Parecer do Conselho Consultivo do IRN no CC 114/2018 STJ-CC
* Parecer do Conselho Consultivo do IRN no CC 84/2018 STJSRT-CC
RELAÇÕES PATRIMONIAIS ENTRE OS CÔNJUGES

Situação jurídica dos bens que os cônjuges possuem no momento da celebração do casamento
ou que por eles sejam adquiridos após a sua celebração.

Os efeitos patrimoniais estão na dependência da vontade dos nubentes, até à celebração do


casamento (e desde 29/01/2019, em algumas circunstâncias, também dos cônjuges) que
podem escolher o regime de bens e podem “modelar os efeitos patrimoniais em função dos
seus interesses”.
Estes efeitos afetam quer as relações recíprocas, quer as relações entre os cônjuges e
terceiros, indicando quem pode e deve administrar os bens do casal, como e quando podem
ser os bens próprios e comuns ser alienados e onerados, o regime de dívidas, etc.
Este conjunto de regras que definem as relações patrimoniais entre os cônjuges denominam-
se regimes de bens.

REGIMES DE BENS
(Estatuto que regula as relações patrimoniais entre cônjuges e entre estes e terceiros – José
João Gonçalves Proença)

A lei prevê três regimes tipo:


(1) Comunhão de adquiridos – Artigo 1721.º
(2) Comunhão Geral – Artigo 1732.º e
(3) Separação de Bens – Artigo 1735.º

Príncipio Geral – Liberdade de estipulação – Artigo 1698.º

Desvios:
(a) Imperatividade absoluta – Artigo 1720.º
- Quando falte processo preliminar de publicações junto de autoridade nacional e
- Quando um ou ambos os cônjuges tenham, no momento da celebração do
casamento, mais de 60 anos

(b) Imperatividade Relativa – Artigo 1699.º


- Não é possível a adoção do regime da comunhão geral de bens quando à data do
casamento já existam filhos cônjuges ainda que maiores ou menores emancipados, também
não podendo ser estipulada a comunicabilidade dos bens que a lei considera como próprios de
cada cônjuge.
(c) Regime Supletivo – Artigo 1717.º
- Na falta, ineficácia, nulidade ou caducidade da manifestação de vontade dos cônjuges
vigora o regime da comunhão de adquiridos.

1. Comunhão de adquiridos (Artigos 1721.º e seguintes)


a) Regime legal supletivo, quer por falta de convenção, quer nos casos de invalidade, ineficácia
ou caducidade da convenção;
b) Carateriza-se pela existência de bens próprios (Artigos 1722.º e 1723.º) e de bens comuns
(Artigo 1724.º).
“Os bens comuns consubstanciam uma massa patrimonial dotada de autonomia, de que são
titulares, unitariamente, ambos os cônjuges (Teoria da Propriedade Colectiva), José João
Gonçalves de Proença, in Direito da Família, 4o Edição, Universidade Lusíada Editora, pag. 254.

2. COMUNHÃO GERAL DE BENS (Artigos 1732.º e seguintes)


a) Neste regime, em princípio, todos os bens são considerados comuns;
b) Desde a entrada em vigor do atual código civil (1 de Junho de 1967), este regime só vigora
em Portugal, se for o convencionado pelas partes. Até aquela data, vigorou o então Código
Civil de Seabra, segundo o qual o regime supletivo era o da comunhão geral de bens.
c) Bens excetuados da comunhão (Artigo 1733.º)
1) Bens doados ou deixados com cláusula de incomunicabilidade;
2) Bens doados ou deixados com cláusula de reversão ou fideicomissária a favor de um
dos cônjuges (Artigo 2286.º);
3) O usufruto, o uso e habitação e demais direitos estritamente pessoais;
4) Entre outros os bens doados por um dos cônjuges ao outro cônjuge;
5) Outros bens que os cônjuges tenham convencionado na Convenção antenupcial;

3. SEPARAÇÃO DE BENS (Artigos 1735.º e seguintes)

a) Cada um dos cônjuges conserva o domínio e fruição de todos os bens presentes e


futuros, podendo dispor deles livremente;
b) Vigora quer como regime estipulado, quer como regime imposto por lei;
c) Nada impede que os cônjuges adquiram bens em compropriedade, e sujeitos a essas
regras (Artigo 1403.º do CC)
ADMINISTRAÇÃO DOS BENS

1) Atos de Administração dos Bens

a) Regras gerais
- Bens próprios são administrados pelos cônjuges a quem pertencem (administração
disjunta) – Artigo 1678.º
- Bens comuns são administrados por ambos os cônjuges (Administração conjunta) –
Artigos 1678.º/2 e 1699.º

b) Exceções – Artigo 1678.º/2


(1) – Determinados bens próprios de um dos cônjuges podem ser administrados pelo
outro:
- Instrumentos de trabalho (Artigo 1678.º/2/e)
- Impossibilidade efetiva e duradoura do cônjuge titular dos bens de os administrar
(incapaz ou em prisão) – Artigo 1678.º/1/f)
- Administração conferida por mandato – Artigo 1678.º/1/g)

(2) – Determinados bens comuns, podem ser administrados apenas por um dos
cônjuges.
- Os proventos do trabalho, direitos de autor, bens comuns levados para o casal por
um dos cônjuges, bens comuns adquiridos gratuitamente por um dos cônjuges, são
administrados por quem os produziu, ou por cuja mão integram o património comum do
casal.
- Cada um dos cônjuges pode praticar atos de gestão ordinária (conservação) de
bens comuns (Artigo 1678.º/3/1.ª parte)
- Providências administrativas urgentes quando o outo cônjuge estiver impedido de
o fazer e o retardamento resultar graves prejuízos – Artigo 1979.º
- Qualquer dos cônjuges pode fazer movimentos bancários – Artigo 1680.º

c) Estatuto do Cônjuge Administrador – Artigo 1681.º


- Em princípio não é obrigado a prestar contas, mas responde pelos atos/danos
praticados em prejuízo do casal ou do outro cônjuge;
- Na administração por mandato, são aplicáveis as regras deste contrato – Artigos
1681.º/2 e 1157.º e seguintes (nomeadamente a prestação de contas prevista na alínea d)
do artigo 1161.º);
- Na administração de facto sem base legal ou mandato, e com oposição expressa
do outro cônjuge, o cônjuge administrador responde como possuidor de má fé – Artigo
1681.º/3, 1271.º e 1275.º.

2) ATOS DE DISPOSIÇÃO E ONERAÇÃO DE BENS


Também aqui é importante destrinçar entre bens móveis e imóveis.
- Bens móveis (Artigo 1682.º)
(1) – Comuns – Só podem ser alienados ou onerados com o consentimento de ambos os
cônjuges, exceto se se tratar de ato de administração ordinária.
Exemplo: Atividade de compra e venda de veículos, de frutos, etc.

(2) – Próprios – Podem ser livremente alineados ou onerados pelo cônjuge titular, exceto
se forem utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na vida do lar ou como
instrumento comum de trabalho.

- Bens Imóveis (Artigo 1682.º-A)


Neste caso importa distinguir consoante o regime de bens dos cônjuges.
(1) Regimes da Comunhão Geral ou Adquiridos
- É sempre necessário o consentimento de ambos os cônjuges;

(2) Regime da Separação de Bens


- Apenas é necessário o consentimento de ambos os cônjuges os atos de disposição ou
oneração do bem imóvel que constitua casa de morada de família do casal.

3) PRESTAÇÃO DE CONSENTIMENTO CONJUGAL (Artigo 1684.º)


- Regime:
(1) Tem de ser prestado para cada um dos atos a que se destina, e
(2) Não pode ser conferido em termos gerais

Forma: A forma do consentimento deve obedecer à forma exigida para a celebração do


contrato de mandato (Artigo 1684.º/2, 262.º/2, 116.º e seguintes do Código do
Notariado).

4) EXEMPLOS:

a) Declaração prestada em escritura:


“E pelo Outorgante foi dito: Que pela presente escritura presta o necessário
consentimento a seu cônjuge para o ato acima exarado.”

b) Instrumento
- Suprimento Judicial (1684.º/3) e artigo 1000.º e seguintes do CPC
O Consentimento pode ser judicialmente suprido havendo recusa injusta ou
impossibilidade, por qualquer causa, de o prestar.

- Falta de Suprimento do Consentimento


(1) Os actos praticados sem o consentimento de ambos os cônjuges, quando exigível, são
anuláveis, nos 6 meses subsequentes ao conhecimento do ato, mas só dentro do prazo de
3 anos após a celebração – 1687.º/1
(2) A alienação de bens próprios do outro cônjuge sem o seu consentimento, quando
necessário, está sujeita ao regime da alienação de bem alheio (Artigo 1687.º/4 e 892.º do
CC), gerando nulidade!

- Registo (Artigo 1687.º)


(a) A alienação ou oneração de bens próprios ou comuns estão sujeitas ao regime geral do
registo;
(b) A alienação de bens móveis sem consentimento do outro cônjuge, não submetida a
registo é inoponível a terceiros de boa-fé.

Menção na escritura: “Adverti os outorgantes que a presente escritura é anulável por falta
de consentimento do cônjuge do primeiro outorgante.”

DOAÇÕES

1. CARATERÍSTICAS GERAIS DO CONTRATO DE DOAÇÃO

a) Noção – Artigo 940.º do CC – Transmissão gratuita de bens, por espírito de


liberalidade, ou a assunção gratuita de uma obrigação de outrem. Não constitui
doação a renúncia de direitos ou o repúdio de herança ou legado, ou tão pouco
donativos conforme usos sociais por falta do espírito de liberdade.

b) Caraterísticas essenciais:
(1) Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento;
(2) Diminuição do Património do doador (daí que as doações não podem abranger
bens futuros – Artigo 942.º/1, não são dações o comodato, nem a prestação de
serviços gratuitos, pois nestes casos não existe diminuição do património do doador).
(3) Gratuitidade – Não existe qualquer contrapartida pecuniária pela transmissão da
propriedade ou da assunção da obrigação;
(4) Não sinalagmático – Só surgem obrigações para uma das partes (doador);
(5) Só pode haver doação de bens presentes;
(6) As doações em princípio são sempre em vida. As doações por morte só são
válidas se revestirem a forma de testamento.

c) Forma – Artigo 947.º


- A doação de bens imóveis está sujeita a forma especial (escritura pública ou DPA
– Artigo 2.º/1/al. a) do CRPredial.
- A doação de bens móveis com tradição da coisa não carece de forma, e sem
tradição da coisa carece de documento escrito.

d) Capacidade
- Ativa:
(1) Equiparação à capacidade contratual geral (Artigo 67.º do CC)
(2) Nem os incapazes nem os seus legais representantes podem fazer
doações, nem mesmo com autorização judicial (Artigos 949.º/2 e 1937.º alínea
a)).
(3) É regulada pelo estado em que o doador se encontrar ao tempo da
doação.

- Passiva:
(1) Fixada no momento da aceitação;
(2) Equiparação à capacidade contratual geral (Artigo 67.º do CC)
(3) Ato de mera administração
(4) Lei estabelece situações de indisponibilidade e não de incapacidade;
Exemplos: Doações puras ou a incapazes sem encargos não carecem de
aceitação – Artigo 951.º/2
Doações a nascituros e concepturos – Artigo 952.º

2. REGIME FISCAL DAS DOAÇÕES

- Incidência Objetiva – Transmissão gratuita do direito de propriedade – Artigo 1.º/1 e 2 do


Código do Imposto Selo (CIS)
- Incidência subjetiva – O imposto é devido pelos beneficiários – Artigo 2.º/2 alínea b) do CIS

- O encargo do imposto é do adquirente do bem (Artigo 3.º/3 alínea a) do CIS


- O imposto é devido sempre que os bens estejam situados em Portugal (Artigo 4.º/3) do CIS
- São isentos de Imposto Selo, quando este constitua seu encargo o cônjuge (e não futuro
cônjuge ou nubente), descendentes e ascendentes e unidos de facto, nas transmissões
gratuitas de que forem beneficiários.
- A competência para a liquidação do Imposto é da DGCI (Artigo 25.º/1 do CIS)
- Prazo para a participação do Imposto de Selo é de 90 dias (Artigo 26.º/3 do CIS)
- O pedido de liquidação é instruído, entre outros com a certidão da escritura de doação
(Artigo 25.º/6 do CIS)
- Taxa de Imposto de Selo por aquisição gratuita – 10% - (Verba 1.2 TGIS)
- Aquisição onerosa ou por doação do direito de propriedade sobre imóveis (…) sobre o valor:
0,8% - Verba 1.1 da TGIS
DOAÇÕES PARA CASAMENTO

1. REGIME
- Aplica-se subsidiariamente o regime geral do contrato de doação.
- Trata-se de um regime especial face ao regime geral

2. CARATERÍSTICAS
- O donatário tem de ser um ou ambos os esposados (Artigo 1753.º)
- O doador pode ser o outro esposado ou um terceiro (Artigo 1754.º)
- É condição de eficácia a celebração do casamento, salvo estipulação em contrário
(Artigo 1755.º/1)
- Podem ser realizadas entre vivos (Artigo 1755.º/1), como
- Podem ser realizadas mortis causa (Artigo 1755.º/2 e 1701.º a 1703.º)
(1) – implica a derrogação do princípio geral da proibição das doações por morte
(Artigo 946.º)
(2) Implica a derrogação do princípio geral da proibição de doações de bens
futuros (Artigo 942.º)
- Este tipo de doações está sujeita a redução por inoficiosidade nos termos gerais
(Artigo 1759.º)
- Os bens doados por um esposado ao outro têm a natureza de bens próprios do
donatário, seja qual for o regime de bens, salvo convenção em contrário (Artigo
1757.º)
- As doações entre esposados (e não de 3.º aos esposados) não são revogáveis por
mútuo consentimento, depois do casamento (Artigo 1758.º)

3. FORMA
- Só podem ser feitas nas convenções antenupciais (Artigo 1756.º/2)
(1) – A sua inobservância face às doações por morte origina a nulidade – Artigo
946.º/2;
(2) A sua inobservância face às doações entre vivos origina a inaplicabilidade do
regime específico das doações para casamento;

4. EFEITOS
- Nas doações entre vivos os efeitos apenas se produzem a partir da celebração do
casamento, porém admite estipulação em contrário – 1755.º/1
- Nas doações mortis causa os efeitos apenas se produzem com a morte do doador
(Artigo 1753.º, 1701.º e 1703.º);

5. CAUSAS DE EXTINÇÃO
- Caducidade – Artigo 1760.º
(1) – Se o casamento não for celebrado dentro de um ano ou, tendo-o sido, vier a ser
declarado nulo ou anulado;
(2) Se ocorrer divórcio ou separação judicial de pessoas e bens, tenha a doação sido
feita por ambos os esposados ou de 3º a qualquer um dos esposados;

*Porquanto a declaração de culpa do cônjuge (art. 1787o do CC) sido revogada no


nosso ordenamento jurídico pela Lei 61/2008, de 31-10
*Parecer Proc.: C.P. 17/2014 STJ-CC

DOAÇÕES ENTRE CASADOS


(ARTIGOS 1761.º a 1766.º)

1. REGIME
- Aplica-se subsidiariamente o regime geral do contrato de doação (mas não se
aplica, por exemplo os artigos 978.º e 979.º).
- Trata-se de um regime especial face ao regime geral.

2. CARATERÍSTICAS
- Livre revogabilidade e somente pelo cônjuge doador (Artigo 1765.º)
- O doador não pode renunciar ao direito de revogar a doação (Artigo 1765.º)

3. OBJETIVO
- Reforço da situação patrimonial do cônjuge para além da que resultaria da
sucessão hereditária, daí que, tendo uma função testamentária, também aqui se
equipara o princípio da livre revogabilidade (Artigo 2187.º e 2311.º)

4. LIMITAÇÕES
(1) É proibida a doação entre cônjuges se entre eles vigorar imperativamente o
regime da separação de bens (artigo 1762.º do CC) – para obstar à possibilidade
de se tornear a imposição da separação de bens e fazer a transferência de bens
entre os patrimónios próprios dos cônjuges;
(2) A doação de coisa móvel, mesmo que acompanhada da tradição da coisa,
carece sempre de forma escrita (artigo 1763.º);
(3) Não são possíveis doações recíprocas no mesmo ato (1763.º/2), o que está em
harmonia com a proibição de testamento de “mão comum” (Artigo 2181.º)
(4) Só podem ser doados bens próprios do doador, os quais não se comunicam,
independentemente do regime de bens (Artigo 1764.º)

5. CAUSAS DE EXTINÇÃO
(1) Revogação – Artigo 1765.º
(2) Caducidade – Artigo 1766.º
- Falecendo o donatário antes do doador, exceto se este confirmar a doação nos 3
meses subsequentes ao óbito;
- Se o casamento vier a ser declarado nulo ou anulado, e
- Ocorrendo divórcio ou separação judicial de pessoas e bens;

*Parecer Proc.: C.P. 17/2014 STJ-CC


* Parecer Proc. no RP 38/2012 SJC-CT

DIVÓRCIO E SEPARAÇÃO – EFEITOS PATRIMONIAIS E PARTILHA

As relações patrimoniais entre os cônjuges cessam pela dissolução, declaração de


nulidade ou anulabilidade do casamento e pela separação judicial de pessoas e
bens (Artigo 1688.º e 1795.º-A)
As relações podem-se:
- Modificar, através da simples separação judicial de bens ou separação judicial de
pessoas e bens (mas não extingue o casamento), ou
- Extinguir, através do divórcio, por morte ou declaração de anulabilidade ou
nulidade do casamento.

1. SEPARAÇÃO JUDICIAL DE PESSOAS E BENS (Artigo 1794.º e 1795.º-D)


- Não dissolve o casamento;
- Extinguem-se os deveres de coabitação e assistência;
- Extinguem-se as relações patrimoniais entre os cônjuges, nas mesmas
circunstâncias que o divórcio – Artigo 1795.º-A;
- Pode haver reconciliação;

2. SIMPLES SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS (Artigos 1767.º e seguintes)


- Tem caráter litigioso e pode ser requerida por qualquer um dos cônjuges
quando estiver em perigo perder o que é seu pela má administração do outro
cônjuge;
- Tem por efeitos patrimoniais a passagem a vigorar entre os cônjuges o
regime da separação de bens (qualquer que fosse o regime anterior),
procedendo-se à partilha dos bens comuns como se o casamento tivesse sido
dissolvido (Artigo 1770.º/1)
- A partilha pode ser feita extrajudicialmente ou através de processo de
inventário (Artigo 1170.º/2)
- É irrevogável (Artigo 1771.º)

3. DIVÓRCIO
- Efeitos:
(1) Cessam quer as relações pessoais como as relações patrimoniais
entre os cônjuges e tem os mesmos efeitos que a dissolução por morte (Artigo
1688.º);
(2) Os efeitos do divórcio produzem-se a partir da data do trânsito em
julgado da respetiva sentença/decisão, mas retroagem à data da propositura
da ação (artigo 1789.º/1)
(3) Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no
processo, qualquer deles pode requerer que os efeitos do divórcio retroajam à
data que a sentença fixará em que a separação tenha começado;
(4) Os efeitos patrimoniais do divórcio só podem ser opostos a
terceiros a partir da data do registo da sentença;
(5) A Lei 61/2008, de 31 de Outubro, veio revogar o artigo 1787.º do
Código Civil, e assim terminar com o conceito de “culpa” de qualquer dos
cônjuges no divórcio, extinguindo, assim, o conceito e as consequências do
divórcio-sanção.

- Partilha:
(1) Cessando as relações patrimoniais entre os cônjuges, estes ou os
seus herdeiros recebem os seus próprios (que nem vão à partilha) e a sua
meação nos bens comuns, conferindo cada um deles o que dever a este
património (Artigo 1689.º/1);
(2) Havendo passivo a liquidar, são pagas em primeiro lugar as
dívidas comunicáveis até ao valor do património comum, e só depois as
restantes;
(3) Os créditos de cada um dos cônjuges sobre o outro são pagos
pela meação do cônjuge devedor no património comum. Não existindo bens
comuns, ou sendo estes insuficientes, respondem dos bens próprios do
cônjuge devedor;
(4) Na partilha nenhum dos cônjuges pode receber mais do que
receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da
comunhão de adquiridos.
* Parecer no 20/2009 SJC-CT
* Parecer Proc. no C.P. 90/2009 SJC
* Acórdão TRP Processo no 124/10.6TBOAZ.P1

4. REGIME FISCAL
- Incidência objetiva – Aquisição, a título oneroso do direito de propriedade
(sobre imóveis) – Artigo 2.º, n.º1 CIMT
- Não é aplicável a liquidação de IMT no excesso da quota parte se a mesma
resultar de ato de partilha por efeito de dissolução do casamento que não
tenha sido celebrado sob o regime da separação de bens (Artigo 2.º, número
5, alínea c));
- A liquidação do IMT é da iniciativa dos interessados, no Serviço de Finanças
do domicílio ou sede do sujeito passivo (Artigo 19.º e al. c) do n.º2 do artigo
21.º do CIMT).
- Serve de base à liquidação os instrumentos legais de divisão, e deve ser pago
no prazo de 30 dias a contar da liquidação (Artigo 36.º/7 do CIMT) e (Artigo
23.º)
- O imposto de selo incide sobre todos os atos e contratos previstos na Tabela
Geral (Artigo 1.º/1 do CIS)
- Aquisição onerosa ou por doação do direito de propriedade sobre bens
imóveis (…) sobre o valor de 0,8%;

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