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Classificação Das Coisas: Autonomia Ou Individualidade e Economicidade para Suportar o Estatuto Permanente (Não
Classificação Das Coisas: Autonomia Ou Individualidade e Economicidade para Suportar o Estatuto Permanente (Não
O artigo 202.º do Código Civil diz-nos que “Coisa é tudo o que pode ser objeto de relações
jurídicas” mas a definição deste artigo é a de bens e não de coisas. Os objetos de relações
jurídicas (aquilo sobre que recaem o poder ou poderes que os diversos direitos conferem ao
seu titular) são as prestações (nos direitos de crédito), as pessoas ou bens incindíveis das
pessoas (nos direitos de personalidade a as coisas (nos direitos reais).
Isto quer dizer que há bens coisificáveis (que são coisas) e bens não coisificáveis (prestações,
as pessoas ou bens da personalidade, situações economicamente vantajosas não autónomas –
clientela ou aviamento do estabelecimento comercial e o fenómeno da coisificação de
direitos).
São coisas as entidades percetíveis pelos sentidos (corpóreas, ex: energia), mas
também aquelas de que nos apercebemos pela nossa inteligência ou sensibilidade
(incorpóreas, ex: ideia inventiva, uma sinfonia).
Tem de ter autonomia, ser distinta e independente de outras coisas (uma carta de um
baralho não é).
Tem de ter valor económico (ex: uma meia, uma abelha não tem)
1. Corpóreas/incorpóreas
2. Coisas imóveis (artigo 204.º) e móveis (tudo o que não for imóvel – artigo 205.º)
Coisas Imóveis:
a) Prédios rústicos e urbanos
b) Águas
c) As árvores, arbustos e frutos naturais enquanto ligados ao solo
d) Direitos inerentes aos imóveis
e) Partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos
Prédio Urbano – Edifício incorporado no solo + terrenos que lhe sirvam de logradouro.
Edifício – não é qualquer construção
Ex: um muro, uma parede, uma cerca, uma coluna, não são edifícios. Para serem, têm
de limitar o solo por todos os lados, inclusive o telhado. Tem de estar incorporado no
solo, unida ao solo com caráter de permanência por alicerces, colunas, estacas… Por
isso as casas pré-fabricadas podem não ser prédios urbanos.
Também os jardins, pátios, quintais anexos não são prédios rústicos autónomos.
Devem ter a mesma natureza do edifício a que estão ligados. E o mesmo vale para as piscinas:
ou são partes componentes de prédios urbanos ou de prédios rústicos.
Partes integrantes estão sujeitas ao mesmo regime das árvores e frutos. Assim, estando
ligadas ao prédio, acompanham toda a sorte de vicissitudes que recaem sobre o prédio. Se
o prédio for vendido, também é vendida a parte componente.
Por outro lado, não podem ser objeto de direitos reais autónomos enquanto forem partes
integrantes. São coisas móveis futuras. A sua venda só produz efeitos obrigacionais.
Quando separadas do prédio, produzem-se efeitos reais (número 2 do artigo 408.º -
Princípio da Atualidade).
Partes acessórias (Artigo 210.º) – São os móveis que, não constituindo partes integrantes
(nomeadamente porque não há a ligação material e permanente com o prédio), estão
afetadas de forma duradoura ao serviço ou ornamentação da coisa principal, que pode ser
móvel ou imóvel. Exemplo: O recheio duma casa, as molduras dos quadros, o computador
instalado num carro, etc.
Os negócios que tenham por objeto a coisa principal, não abrangem as coisas acessórias
(número 2 do artigo 210.º). Isto significa que não estão sujeitas as mesmas vicissitudes da
coisa principal (vendendo a casa não se inclui o recheio) e podem ser objeto de direitos
reais autónomos, mesmo que elas não tenham sido separadas da coisa principal.
Compostas: Constituídas por vários elementos que, embora combinados, não perderão a
sua individualidade e estão unidas por um critério de organização (exemplo: relógio,
estabelecimento comercial).
Quer dizer, se o negócio tiver por objeto uma coisa genérica é necessário a concentração, que
ocorre normalmente com a escolha por parte do devedor (geralmente o vendedor – artigo
539.º) para as coisas se tornarem certas e determinadas e poderem incidir sobre elas direitos
reais.
5 – Coisas CONSUMÍVEIS E NÃO CONSUMÍVEIS – Artigo 208.º
Consumíveis – Aquelas cujo uso regular importa a sua destruição ou alienação (não é
um critério meramente material mas também jurídico, até porque tudo depende do
uso regular que as partes fazem da coisa em cada relação jurídica (exemplo: livro para
livreiro, uma casa para uma sociedade de compra e venda.)
Não Consumíveis – Aquelas cujo uso regular não importa a sua destruição ou
alienação, mas pode provocar a sua deterioração, como é próprio de todas as coisas.
Esta noção tem interesse para o usufruto de coisas consumíveis (Artigo 1451.º), porque aí
o usufrutuário pode consumir as cosias ou aliená-las, devendo restituir no fim do usufruto
o seu valor ou outras coisas do mesmo género. No entanto, a propriedade das coisas não
se transfere para o usufrutuário (Número 2 do Artigo 1451.º)
Atenção que a divisibilidade das coisas importa muitas vezes a alteração da sua substância e
diminui o seu valor, mas fá-lo de forma proporcional. O que interessa é que as coisas divididas
possam continuar a exercer a mesma função e a terem o mesmo uso e que o valor das partes
recomponha o valor do todo. Mas essas partes têm de ser autónomas e da mesma natureza.
A indivisibilidade das coisas pode resultar da lei (Ex: artigo 1376.º e 1546.º), ou da vontade das
partes (artigo 1412.º), ou da natureza da própria coisa (um animal, anel com pedras preciosas).
O requisito “não alterar a forma e substância” tem de ser entendido com base numa ideia
económica e não reprodutiva, quer dizer, temos de olhar à forma normal de exploração da
coisa: a extração de minério de uma mina ou de pedra de uma pedreira, apesar de afetar a
substância da coisa, porque ela não produz mais pedra ou metais, é uma colheita de frutos
porque este é o método normal de exploração da mina ou pedreira. Isto também vale para os
despojos de animais nas universalidades de facto (rebanhos). Embora não sejam de criação
periódica e alterem a substância da coisa no sentido naturalístico (porque com a morte de
elementos do rebanho fica menor), eles devem ser considerados frutos porque o critério a ter
em conta é um critério jurídico de exploração da coisa e não um critério naturalístico de
reprodução. Assim, entende-se o porquê de a lei os considerar frutos (Número 3 do Artigo
212.º).
Os FRUTOS podem ser:
BENFEITORIAS – (Artigo 216.º) – São as despesas feitas para conservar ou melhorar a coisa.
Podem classificar-se em:
Coisas ALHEIAS – São as coisas existentes, mas que não estão na esfera de disponibilidade
do disponente e ele não tem uma legítima expectativa de vir a adquiri-las e não comunica
isso ao adquirente. O disponente faz-se passar por dono delas.
Coisas INEXISTENTES – São coisas que ainda não existem e o disponente não comunica isso
à outra parte.
Esta distinção é importante porque:
1) Os negócios sobre coisas inexistentes são nulos porque o seu objeto é indeterminado
e indeterminável (Artigo 280.º)
2) Venda de coisas futuras é válida, mas só produz efeitos obrigacionais (Número 2 do
artigo 408.º). Quando a coisa se tornar presente, o comprador adquire
automaticamente o direito de propriedade. Isto também vale para qualquer alienação
onerosa de direitos sobre coisas futuras, por força do artigo 939.º. Assim, um usufruto
oneroso sobre um bem futuro é válido, mas só produz efeitos obrigacionais até que o
titular da coisa se torne proprietário.
3) Doação de coisas futuras – Proibida pelo artigo 942.º e, portanto, nula devido ao
artigo 294.º. Qualquer alienação gratuita de direitos sobre coisas futuras, por força
do artigo 940.º que inclui na noção de doação a disposição de coisas e direitos.
4) Venda de coisa alheia – NULA (Artigo 892.º). É uma nulidade atípica, porque o
vendedor não pode opô-la ao comprador de boa fé e porque o negócio pode
convalidar-se se o vendedor adquirir por algum modo a propriedade da coisa. O
mesmo vale para a alienação onerosa de direitos alheios (Artigo 939.º)
5) Doação de bens alheios – NULA (Artigo 956.º). Mas também o doador não pode opô-
la ao donatário de boa fé. Porém, não há qualquer possibilidade de convalidação do
contrato, mesmo que o doador adquira a coisa.
Exceções:
Todos os direitos reais têm uma tendência para a consolidação num direito
mais espesso ou mais próximo do pleno, o que de certa forma revela a
conceção hierarquizante dos direitos reais.
Esta elasticidade não é atributo apenas do direito de propriedade, mas de
outros direitos reais menores que tenham uma amplitude de poderes
suficiente para permitir um aproveitamento mais restrito em termos de
direitos reais. É o que acontece com o usufruto, com o direito de superfície e
com o direito real de habitação periódica.
Trata-se de casos em que não basta o título para se constituírem direitos reais,
sendo necessário um modo, isto é, o registo constitutivo ou a entrega da coisa, etc.
Efeitos do registo
1. O efeito automático do registo é a presunção de titularidade do direito em nome de
quem ele está registado. Está consagrado no artigo 7.º.
É uma presunção ilidível porque, em regra, as presunções são ilidíveis (Artigo 349.º).
Esta é uma garantia absoluta que o adquirente tem e não uma mera presunção
relativa (como a do artigo 7.º do CRP), que pode ser afastada por prova em contrário.