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Centro Universitário UNA

UC Direito Processual Penal


Brad Braz Silva – 323112211
Bruno Menezes Rodrigues Gomes De Castro – 319230450
Guilherme Cerqueira dos anjos Franco – 320125076
Karine Ellen de Oliveira Alves - 323129273
Paola Mayara Pereira das Graças – 321220198
Ruan Ricardo Oliveira Saturnino – 323119587
Verônica Vitória da Costa Silva – 32313962
Victor Ventura de Souza Prata – 323115042

ACÓRDÃO

Belo Horizonte
2023
Brad Braz Silva – 323112211
Bruno Menezes Rodrigues Gomes De Castro – 319230450
Guilherme Cerqueira dos anjos Franco – 320125076
Karine Ellen de Oliveira Alves - 323129273
Paola Mayara Pereira das Graças – 321220198
Ruan Ricardo Oliveira Saturnino – 323119587
Verônica Vitória da Costa Silva – 32313962
Victor Ventura de Souza Prata – 323115042

ACÓRDÃO

Peça processual - Acordão referente à 2 fase da


3 Vara apresentada à Unidade Curricular
Direito Processual Penal, do curso de
Graduação em Direito do Centro Universitário
UNA, Unidade Linha Verde.
Professores: Eudson Justiniano e Galvão
Rabelo.
Belo Horizonte
2023
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO SIMPLES - RECURSO DA DEFESA –
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - INVIABILIDADE -
RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA -
DESCABIMENTO - MITIGAÇÃO DO REGIME PRISIONAL - INVIABILIDADE. -
Aplica-se o princípio da insignificância nos delitos patrimoniais quando observado, caso
a caso, "certos vetores, como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a
nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada" (HC n. 98.152/MG,
Rel. Ministro CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe 5/6/2009). - A habitualidade
delitiva do acusado em crimes patrimoniais afasta a aplicabilidade do princípio da
insignificância. Demonstrada a autoria e a materialidade delitiva, a condenação do agente
é medida que se impõe. - A confissão espontânea, para ser reconhecida como
circunstância atenuante da pena, deve ser feita sem ressalvas, de forma completa, o que
indubitavelmente não ocorreu no caso em comento. - Tratando-se de réu multirreincidente
e possuidor de maus antecedentes, inviável a mitigação do regime prisional para o aberto.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0024.22.016.459-4/001


APELANTE(S): EVERTON CRISTIANO DOS SANTOS
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a Xª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO.

DESA.
RELATORA
DESA.

VOTO

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ofereceu denúncia contra EVERTON


CRISTIANO DOS SANTOS, imputando-lhe a prática do crime tipificado no artigo 155,
caput, do Código Penal, narrando que "... No dia 17 de fevereiro de 2022, por volta das
23:00h, na Av. Presidente Antônio Carlos, nº 52, nesta capital, o denunciado subtraiu,
para si, 16 (dezesseis) pedaços de alumínio, pertencentes ao BRT Move São Francisco
Metropolitano. Consta dos autos que, no dia e local dos fatos, o denunciado adentrou no
referido transporte coletivo, com uma mochila e começou a retirar pedaços da cabine do
veículo, com um facão que levava na referida mochila. Os demais passageiros verificaram
a conduta suspeita do denunciado e foi acionada a GCM, por meio de denúncia anônima,
para verificar a situação. A guarnição da GCM, de posse dessas informações, dirigiu-se
ao local dos fatos, e encontrou o autor, abordando-o e encontrando os pedaços de alumínio
e o facão em sua mochila. Diante disso, o denunciado foi preso em flagrante delito"

A denúncia foi recebida, conforme ID 9105017993

Após instrução, foram apresentadas os memorias finais, pelo Ministério Público, pedindo
a condenação conforme a denúncia (ID 9548281536) e, pela defesa, requerendo a
absolvição (ID 9562182268)
A sentença foi publicada em XX.XX.2023, julgando procedente o pedido contido na
denúncia, condenando Everton Cristiano dos Santos pela prática do crime do art. 155,
caput, do Código Penal, às penas de um (01) ano e seis (06) meses de reclusão em regime
semiaberto e quinze (15) dias-multa.
Inconformado, Everton interpôs, através de Defensor Público, o presente recurso de
apelação, requerendo a absolvição aplicando-se o princípio da insignificância. Em caso
de entendimento diverso, requer a redução da pena-base para o mínimo legal, com o
reconhecimento da atenuante da confissão espontânea, e ainda, o cumprimento inicial da
pena em regime aberto.

Contrarrazões do Ministério Público, pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

O processo transcorreu nos termos do relatório da sentença, que ora adoto, tendo sido o
réu pessoalmente intimado.

Vistos e relatados, passo ao voto.

Conheço do recurso, pois previsto em lei, cabível, adequado e presente o interesse


recursal, bem como foram obedecidas às formalidades devidas à sua admissibilidade e ao
seu processamento.

Ao exame dos autos, verifico que não se implementou nenhum prazo prescricional.
Também não vislumbro qualquer nulidade que deva ser declarada, de ofício, bem como
não há preliminares a serem enfrentadas. Assim, passo ao exame do mérito.

A materialidade está demonstrada pelo auto de prisão em flagrante (ID9105018003), auto


de apreensão (ID9105018003), ficha de acompanhamento de vestígios (ID9105018003),
e pelo Boletim de ocorrência (ID 9105018008). Da mesma forma, comprovada a autoria,
a qual não é matéria do recurso defensivo.

De acordo com o que se depreende dos autos, no dia e momento dos fatos, o apelante,
visando à subtração patrimonial, adentrou no transporte público e, portando de uma faca
e uma mochila, começou a subtrair algumas barras de ferro. Todavia, os passageiros,
estranhando toda a situação, acionaram a guarda municipal. Assim, tendo estes abordado
o apelante, o encontrou com as barras subtraídas e com uma arma branca em sua mochila,
lavrando o auto de apreensão em flagrante delito.

Este é o retrato dos autos.

Data máxima vênia, ouso divergir do entendimento da defesa, eis que não se trata, de
“crime de bagatela”
Primeiramente, cumpre considerar que o princípio da insignificância surgiu como
instrumento de interpretação restritiva do tipo penal e, dessa forma, conforme a dogmática
moderna, sustenta que os tipos penais não devem ser considerados apenas em seu aspecto
formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente, em seu conteúdo material,
de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico tutelado pela
norma penal.

Nesse sentido, ensina Guilherme de Souza Nucci:

[...] Lembremos que a utilização do princípio da insignificância, por se


tratar de causa supralegal de exclusão da tipicidade, submete-se,
naturalmente, à política criminal do Estado, na hipótese sob a ótica do
Judiciário. Logo, inexistem regras fixas para essa avaliação. Deve-se
analisar cada caso individualmente. Nas palavras do Ministro Cezar
Peluso: A indagação sobre a conveniência ou não de proteção penal ao
bem jurídico de que cuida a hipótese seria matéria de política criminal
(STJ - HC 88.077-RS, 2ª T., 31.10.2006). [...] (NUCCI, Guilherme de
Souza. Manual de direito penal: Parte Geral - Parte Especial - 4. ed.
Editora RT, São Paulo, 2008, p. 690).

Assim, para se considerar que a conduta do agente não resultou em perigo concreto e
relevante, de modo a lesionar ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado pela norma
penal, é preciso conjugar a inexistência de dano ao patrimônio com a nenhuma
periculosidade social da ação e o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do seu
comportamento, o que, com a devida vênia, não está presente na espécie.

Tal princípio deve incidir sobre a magnitude do injusto em sua inteireza, ou seja, tanto no
desvalor da ação quanto no desvalor do resultado, sendo que aquele pode ser constatado,
entre outros dados, na vida pregressa do agente e nas circunstâncias do delito.

Dessa forma, para aplicação do mencionado princípio, é necessário o preenchimento de


requisitos objetivos e subjetivos, considerando-se pois o valor da coisa, a vida pregressa
do apelante e a censurabilidade de sua conduta.

A aplicação da benesse requer cautela, não devendo ser concedida indiscriminadamente,


pois não visa à impunidade daqueles que fazem do crime sua profissão. Diante disso, sua
incidência depende da análise pormenorizada dos autos. Caso contrário, estar-se-ia
autorizando a realização de práticas ilícitas de forma reiterada, em clara ofensa ao
ordenamento jurídico penal pátrio.

A propósito, o excelso Supremo Tribunal Federal, por sua vez, fixou os parâmetros de
aplicação da benesse, a saber:
a. mínima ofensividade da conduta do agente
b. ausência de periculosidade social da ação
c. reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente
d. inexpressividade da lesão ao bem juridicamente tutelado.

No presente caso, conquanto seja possível inferir, mesmo na ausência de laudo de


avaliação indireta, que a "res furtiva" seja de pequeno valor, em razão de sua natureza -
materiais de alumínio de transporte público -, não se cogita a absolvição por atipicidade
material da conduta, mediante a aplicação do princípio da insignificância, vez que o
apelante é reincidente específico, possuindo péssimos antecedentes, ostentando cinco
(05) condenações anteriores transitadas em julgado.

Como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça "...Nos casos de delitos patrimoniais,
a Terceira Seção desta Corte, no julgamento dos EREsp n. 221.999/RS, estabeleceu a
tese de que a reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da
insignificância, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, o aplicador do
direito verificar que a medida é socialmente recomendável. (...)". (STJ - AgRg no HC
601.321/SC, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 20/04/2021,
DJe 30/04/2021 - grifei)

No caso em análise, tenho que não estão presentes os requisitos do "reduzido grau de
reprovação do comportamento" e "nenhuma periculosidade social da ação", o que
inviabiliza a aplicação do "princípio da insignificância", demonstrando a necessidade de
intervenção do direito penal. Pensamento diferente, neste caso concreto, incentivaria a
desordem e a criminalidade, diminuindo a credibilidade da justiça.

Destarte, deve ser mantida a condenação de Everton Cristiano dos Santos pela prática do
crime do artigo 155, caput, Código Penal.

No tocante à pena, requer a douta defesa a redução da pena, clamando pelo


reconhecimento da atenuante da confissão espontânea.
Na primeira fase, a pena-base foi fixada em um (01) ano de reclusão e quatro (04) meses
e quinze (15) dias-multa, em razão da análise negativa dos antecedentes. Tendo um
aumento de quatro da pena-base, valor que se mostra justa, não merecendo qualquer
alteração.
Na segunda fase, há o reconhecimento da agravante da reincidência, de acordo com o art.
61, I do CP, eis que o autor apresenta diversas condenações anteriores, servindo uma para
a exasperação da pena-base, e as demais utilizadas nesta fase da dosimetria. Aumentando,
fixando, portanto, a pena em um (01) ano de reclusão e seis (06) meses e quinze (15) dias-
multa.
Entretanto, a defesa pede o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea.

Contudo, sem razão.

Realmente a confissão é parcial, e sequer teve o condão de conduzir, ou sequer, auxiliar


na investigação da conduta criminosa, eis que em perante ao juízo o apelante fez uso do
seu direito de permanecer em silêncio.

Sabe-se que faz jus à atenuante da confissão espontânea o acusado que confessa
espontaneamente a autoria do crime, auxiliando o julgador na formação do seu
convencimento.

In casu, verifica-se que Everton, inicialmente, negou a autoria delitiva na presença da


Autoridade Policial, vindo a confirmar ao mesmo, tempos depois, ao passo que em Juízo
preferiu permanecer em silêncio

A confissão do agente para afins de atenuação da reprimenda deve ser feita de forma
plena, ou seja, deve o mesmo assumir a imputação que lhe é feita em sua integralidade.

Desse modo, no caso em testilha, o apelante apesar de admitir a prática do delito, não
auxiliou em nada a formação do Julgador, eis que em audiência permaneceu silente, pelo
que não é de lhe ser reconhecida a atenuante prevista no art. 65, inc. III, "d", do Código
Penal.

Ademais, o acervo probatório é claro, contundente e suficiente para a incriminação do


apelante, sendo ele inclusive filmado pelas câmeras de segurança, e, portanto, a admissão
dos fatos, data venia, em nada corroborou para a sua condenação.

A propósito:

STF: "(...) A confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista
no art. 65, III, 'd', do CP (HC 74148, Relator(a): Min. Carlos Velloso, Segunda Turma,
julgado em 17/12/1996) [...] Deveras, a confissão da autoria do delito contrasta com
a tese de legítima defesa putativa sustentada desde a pronúncia e, por isso, restou
corretamente rejeitada na segunda votação..." (HC 103172, Relator(a): LUIZ FUX,
Primeira Turma, julgado em 10/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-187
DIVULG 23-09-2013 PUBLIC 24-09-2013).
De mais a mais, melhor sorte não socorre à defesa, quanto ao pleito de regime menos
gravoso.

É que, não obstante a pena fixada seja inferior a quatro anos, há circunstância judicial
desfavorável (antecedentes) e o réu é multireincidente, possuindo nada menos que cinco
(05) condenações anteriores transitadas em julgado, o que evidencia maior periculosidade
e lesividade da conduta e, por conseguinte, nos termos do disposto no artigo 33, § 3º, do
Código Penal, reclamam a imposição do regime semiaberto, nos termos fixados na
sentença, de forma a assegurar que a pena atinja os seus reais objetivos, quais sejam: a
expiação do crime cometido, meio de neutralização da atividade criminosa potencial e,
ainda, ensejo para recuperação social do réu.

Do mesmo modo, considerando a multireincidência do apelante e as várias condenações


por crimes contra o patrimônio, incabível a substituição da pena privativa de liberdade
por restritivas de direitos ou o "Sursis", em razão do expresso óbice legal previsto,
respectivamente, no artigo 44, I, e 77, ambos do Código Penal.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso, mantendo a pena em um (01) ano de
reclusão e seis (06) meses de reclusão, em regime semiaberto e quinze (15) dias-multa.
Custas nos termos definidos na sentença.

DES. (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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