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International Journal of Marketing, Communication and New Media

ISSN: 2182-9306. Vol 1, Nº 1, julho/dezembro 2013

A Relação entre Comunicação e Confiança no Ambiente de Trabalho:


Análise da Pesquisa “Melhores Empresas para Trabalhar”
The Relationship between Communication and Trust in the Workplace:
Analysis of Research "Best Companies to Work For"

Cibelli Maria Pinheiro de Almeida*

RESUMO
Embora existam estudos sobre a confiança no contexto das relações
interpessoais e organizacionais, pouco se tem visto sobre a relação entre
Confiança e Comunicação e sua influência na gestão das pessoas. O propósito
deste artigo direciona-se neste sentido, em refletir sobre a possível contribuição
da comunicação no processo de geração de confiança e da construção de um
melhor ambiente de trabalho (entendendo que as Relações Públicas
desempenham um papel crucial na construção dessas relações de confiança).
Partindo da revisão bibliográfica, e através da análise da pesquisa realizada pelo
Instituto Great Place to Work (GPTW) em 45 países, procura-se compreender a
relação entre Comunicação e Confiança. A pesquisa do GPTW avalia o nível de
confiança dos empregados em cinco dimensões: Credibilidade, Respeito,
Imparcialidade, Orgulho e Camaradagem; e na perspetiva da liderança, em nove
Práticas Culturais de gestão de pessoas. Propõe-se verificar a frequência e
dimensões de questões relacionadas com a comunicação, bem como analisar os
temas inerentes ao processo comunicativo no instrumento utilizado pelo Great
Place to Work, que definem o resultado para classificar e reconhecer “Uma
Melhor Empresa para Trabalhar”.
Palavras-Chave: Comunicação; Relações Públicas, Confiança; Gestão de
Pessoas.

* Universidade do Minho, Brasil. E-Mail: cibelli.almeida@gmail.com

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A Relação entre Comunicação e Confiança no Ambiente de Trabalho
Análise da Pesquisa “Melhores Empresas para Trabalhar”
Cibelli Maria Pinheiro de Almeida

ABSTRACT
Although there are studies on trust in the context of interpersonal and
organizational relations, little is seen regarding its relation to communication and
its role in people management. This paper aims to investigate the possible
contribution that communication has in the process of generating trust and in the
creation of a better work environment (understand that Public Relations plays a
crucial role in building these relations of trust). Based on a literature review, and
through the analysis of the research of the Great Places to Work (GPTW)
Institute conducted in 45 countries, it seeks to understand the relationship
between communication and trust. The research of GPTW assesses the level of
trust among employees in five dimensions: Credibility, Respect, Fairness, Pride
and Camaraderie; and through the leadership perspective, in nine cultural
practice areas of people management. This article aims to examine the frequency
and dimensions of issues related to communication as well as to analyze those
aspects that are inherent in the communication process of the tool employed by
the Great Place to Work Institute which define the results that are used to rate
and recognize "A Better Place to Work".
Keywords: Communication, Public Relations, Trust, People Management.

Received on: 2013.08.08


Approved on: 2013.10.09
Evaluated by a double blind review system

1. INTRODUÇÃO
A organização tem sido considerada um espaço de diálogo e de construção de
significado, e a comunicação o lugar e processo de humanização da organização nas
relações de trabalho (Kunsch, 2010). Porém, percebe-se que existe hoje uma realidade
paradoxal, ao mesmo tempo que as condições de trabalho avançam para um maior
incentivo e envolvimento do trabalhador, os princípios voltados para autonomia,

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cooperação e valorização do trabalhador não condizem com a conduta diária das


organizações (Oliveira & Paula, 2008: 13). O que ocorre muitas vezes é uma
comunicação baseada nos modelos tradicionais (taylorista) em contraposição aos
modelos considerados ideais (relações humanas). Considerando o modelo das relações
humanas um aspeto importante a ser ressaltado é o relacionamento entre gestores e
subordinados. A comunicação parece ser um dos elementos fundamentais para
desenvolver um ambiente de trabalho confiável, principalmente no que se refere à
relação entre gestor e subordinados.
Com o propósito de investigar esta relação entre a Comunicação e Confiança,
será analisado o instrumento utilizado pelo Great Place to Work, por entender que este é
um instituto credível representado em diversos países, e por ser um campo inovador em
termos de práticas organizacionais, que define a organização como um “excelente local
para trabalhar” a partir de seu ambiente de confiança, baseado em suas pesquisas
realizadas com os funcionários e consulta das práticas gerenciais das empresas
estudadas.
A pertinência deste tema apresenta-se à medida que se percebe o papel e a
importância da comunicação organizacional, mais especificamente da comunicação da
liderança, o que poderá indicar que, se uma organização ficar atenta ao seu processo de
comunicação e relacionamento interpessoal, principalmente nas relações hierárquicas,
talvez seja considerada e reconhecida como “Uma Melhor Empresa para Trabalhar”.
O que se pretende com este estudo é contribuir para uma maior reflexão sobre a
construção das relações de confiança no ambiente de trabalho, que podem ser
desenvolvidas através de políticas e práticas de comunicação da liderança, apoiado pelo
trabalho realizado das Relações Públicas.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Confiança no Contexto Organizacional


Nos estudos da teoria organizacional, especialistas têm ressaltado a importância
das relações de confiança na gestão de pessoas em contraposição aos modelos
mecanicistas e baseados no controle. Diversas abordagens são apresentadas sobre o
tema confiança e analisado a partir de diferentes perspetivas: económica, sociológica e
psicológica, como citam Mariotti e Souza (2005) sobre estudos na área e suas

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correlações: confiança e desenvolvimento socioeconómico (Fukuyama, 1995),


confiança e sistemas sociais (Luhmann, 1979), confiança e troca económica (Seta,
1974). Nas investigações científicas os níveis de análise da confiança mais comuns,
destacados por Oliveira e Tamayo (2008), são:

Quadro 1 – Níveis de Análise da Confiança abordados pelos autores

DIMENSÃO AUTORES
Nas Relações Interpessoais Bacchmann (2001); Costa (2000); Jeffrier (2000);
Kramer (1999); Laner e Bacchmann (1996); Lewicki
e Buncker (1996); McAllister (1995).
Nas Equipas de Trabalho Valle-Lima, Machado e Castro (2002).
Entre Unidades Organizacionais e Crummings e Bromiley (1996).
entre organizações
Relações com Comportamento de Pillai (1999).
Cidadania Organizacional
Relações com Satisfações, Valores Armstrong e Yee (2001).
Pessoais e antecipações de interações
futuras entre clientes
Desenvolvimento de Escalas Johnson-George e Swap (1982); Lundassen (2002);
Seligson e Rennó (2000).

Fonte: Araújo e Tamayo, 2008.

Geralmente o enfoque destes estudos são direcionados para duas vertentes: a


confiança interpessoal e/ou institucional:

“...no caso da confiança geral (ou interpessoal) são consideradas


as perspetivas dos psicólogos e teóricos da personalidade, que
focalizam tanto as diferenças individuais quanto os fatores
contextuais que moldam a prontidão para confiar. No caso da
confiança institucional, as perspetivas vêm de sociólogos e
economistas, que têm considerado a confiança sob o prisma
institucional, podendo ser analisada tanto como um fenômeno

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dentro das organizações, como entre instituições, ou ainda,


como confiança em indivíduos colocados nessas instituições”
(Drummond, 2007: 14-16).

A definição de confiança no aspeto interpessoal refere-se às expetativas que se


têm em relação ao comportamento do outro, ou seja, “a confiança é a expectativa
positiva de que outra pessoa não agirá de maneira oportunista – seja por palavras, ações
ou decisões” (Robbins, 2009: 169).

“...confiança é abordada como uma aceitação antecipada e


voluntária de um investimento de risco, pela abdicação de
mecanismos contratuais explicítos de segurança e controle
contra comportamentos oportunistas, na expectativa de que a
outra parte não agirá de forma oportunista” (Zanine, 2007: 12).

Quer interpessoal ou institucional, autores abordam a confiança considerando


inúmeras definições e dimensões, conforme listam Tzafrir e Dolan (2004: 115-132):

Quadro 2 – Dimensões da Confiança segundo autores

AUTORES DIMENSÃO
Kee & Knox, 1970 Competência, motivos
Jennings, 1971 Lealdade, acessibilidade, disponibilidade, previsibilidade.
Gabarró, 1978 Integridade, motivos, a consistência do comportamento, a
abertura, discrição, competência interpessoal, senso de
negócios, julgamento.
Cook & Wall, 1980 Fé em intenções, a confiança na capacidade.
Johnson-George & Swap, 1982 Confiança.
Rempel & Holmes, 1986 Previsibilidade, confiabilidade, fé.
Butler, 1991 Disponibilidade, competência, consistência, discrição,
lealdade, integridade, lealdade, abertura, cumprimento da
promessa, receptividade.
Mishra & Mishra, 1994 Abertura, competência, carinho, confiabilidade.

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Mayer, Davis, & Schoorman, Capacidade, benevolência, integridade.


1995
Cummings & Bromiley, 1996 Manter compromissos, negociar honestamente, evitando
aproveitar-se excessivamente.
Mishra, 1996 Competência, transparência, confiabilidade, preocupação.
Clark & Payne, 1997 Integridade, competência, comportamento consistente,
lealdade, franqueza, respeito.
Doney & Cannon, 1997 Benevolência, credibilidade.
Shockley-Zalabak, Ellis, & Abertura, competência e honestidade, preocupação com os
Winograd, 2000 empregados, confiabilidade, identificação.

Fonte: Tzafrir e Dolan, 2004

Tratando-se da perspetiva institucional, as autoras Mariotti e Souza (2005)


afirmam que os estudos são geralmente voltados para a confiança inter e intra-
organizacional e são citados em várias áreas, como: administração, liderança,
comunicação, teoria dos jogos, relações de trabalho, dentre outras. No âmbito intra-
organizacional a confiança pode ser compreendida como Estratégica, Pessoal e
Organizacional, conforme proposta por Galford e Drapeau (2003):
 Confiança Estratégica: confiança em que as decisões tomadas pelos
responsáveis sejam as corretas.
 Confiança Pessoal: confiança dos subordinados em seus gestores.
 Confiança Organizacional: confiança na própria empresa e não apenas na
pessoa.

Para uma melhor compreensão e resumo sobre o tema, a figura a seguir


representa o campo de estudo da literatura sobre confiança, sua abordagem e níveis de
análise:

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Figura 1- Campo de Estudo da Literatura sobre Confiança

Fonte: Elaboração própria,2013.

Será considerado para este estudo, dentro da perspetiva intraorganizacional, a


Confiança Pessoal, ou seja, a confiança entre gestores e subordinados de uma
organização. Nessa direção, caminhando para uma abordagem mais específica,
apresentaremos a seguir a relação entre Comunicação e Confiança para construção de
um bom ambiente de trabalho, entendendo que o que caracteriza um ótimo lugar para o
trabalho é o nível de confiança entre gestores e colaboradores (Levering, 1990).

2.2. A Relação entre Confiança e Comunicação

Vive-se nas empresas um novo ambiente em que a transformação da natureza


das relações de trabalho é constante, de um sistema de produção baseado na coerção, no
autoritarismo e no controle excessivo, como diz o ditado popular “manda quem pode e
obedece quem tem juízo”, para uma sociedade do conhecimento que tem como premissa
a busca pelo consenso através de uma relação de confiança mútua.
Do latim, a palavra confiança (cum + fides) que significa fé conjunta, é o fruto
das relações entre as pessoas, fundamentada em princípios e valores. Autores
apresentam várias definições sobre o tema, como no quadro proposto por Tzafrir e
Dolan (2004):

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Quadro 3 – Definições sobre confiança segundo autores

AUTORES DEFINIÇÃO
Griffin, 1967 Dependência das características de um objeto, a ocorrência de um evento, ou o
comportamento de uma pessoa, a fim de alcançar um objetivo desejado, mas
incerto em uma arriscada situação.
Rotter, 1967 Uma expetativa realizada por um indivíduo ou um grupo que a palavra, promessa,
ou verbal ou declaração por escrito de outro indivíduo ou grupo pode ser
invocado.
Driscoll, 1978 A crença de que os tomadores de decisão produzirão resultados favoráveis à sua
pessoa interesses, sem qualquer influência por parte da pessoa.
Frost, Stimpson, & Expetativa de um indivíduo que o comportamento (verbal ou não verbal) de outro
Maughan, 1978 indivíduo ou grupo de indivíduos seria altruísta e pessoalmente benéfico para ele
ou ela mesma.
Larzelere & À medida que uma pessoa acredita que outra pessoa (ou pessoas) a ser
Huston, 1980 benevolente e honesta.
Lewis & Weigert, A realização de um curso de ação arriscada na expectativa confiante de que todas
1985 as pessoas envolvidas na ação irão agir com competência e obedientemente.
Zucker, 1986 Um conjunto de expectativas compartilhadas por todos os envolvidos em uma
troca.
Bradach & Eccles, Um tipo de expectativa que alivia o medo de que o parceiro de troca atuará
1989 oportunista.
Fukuyama, 1995 As expectativas que surgem dentro de uma comunidade que não haverá
honestidade e comportamento cooperativo, com base em normas comuns sobre a
parte de outros membros dessa comunidade.
Mayer, Davis, & A vontade de um partido a ser vulnerável às ações de outra parte, com base na
Schoorman, 1995 expectativa de que a outra parte irá executar uma determinada ação importante
para o cedente, independentemente da capacidade do partido do primeiro para
monitorar ou de controle que outra parte.
Currall & Judge, Dependência comportamental de um indivíduo em uma outra pessoa em uma
1995 condição de risco.
Hosmer, 1995 A dependência por uma pessoa, grupo ou empresa em um dever voluntariamente
aceite na parte de outra pessoa, grupo ou empresa para reconhecer e proteger os
direitos e interesses de todos os outros envolvidos em um esforço comum ou troca
económica.
Robinson, 1996 Expectativas de alguém, suposições ou crenças sobre a probabilidade de que outro
o futuro ações serão benéficas, favoráveis, ou pelo menos não prejudicar, para
seus próprios interesses.
Doney & Cannon, Credibilidade percebida e a benevolência de um alvo de confiança.
1997
Clark & Payne, Um estado de espírito de trustors específicos para administradores específicos.
1997
Zand, 1997 A vontade de aumentar a sua vulnerabilidade a uma outra pessoa cujo
comportamento você não pode controlar, em uma situação em que seu benefício
potencial é muito menos do que o seu potencial perda se a abusos outra pessoa a
vulnerabilidade de seu.
Rousseau, Sitkin, Um estado psicológico compreendendo a intenção de aceitar a vulnerabilidade
Burt & Camerer, com base em expectativas positivas das intenções ou comportamentos de outra
1998 pessoa.

Fonte: Tzafrir e Dolan (2004).

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De acordo com a definição de Rotter (1967, citado por Tzafrir e Dolan, 2004), a
confiança apresenta-se como uma expetativa de pessoas ou grupos em relação à
comunicação – palavras ou promessas verbais ou escritas. Sendo assim, para atender a
tais expetativas e construir uma relação de confiança, alguns elementos comunicativos
são necessários, como afirma Zanini (2007): “é fundamental que o estilo de gestão das
empresas contenha alguns elementos ‘construtores’ das relações de confiança, tais como:
integridade, consistência, transparência na comunicação” (Zanini 2007: 102).
Outros autores corroboram com a ideia da confiança relacionada com o tema
comunicação, como destaca Finuras (2013):

Quadro 4 – Definições sobre confiança relacionado à comunicação


Autor(es) Ideias-chave
Rosemberg (1956) Confiança está ligada ao fato de alguém manter a sua
palavra.
Schurr e Ozanne (1985) A confiança é uma crença de que a palavra ou promessa
do confiabilizado é segura e que cumprirá as suas
obrigações no relacionamento de troca definido com o
ato de confiar.

Fonte: Adaptado de Finuras (2013).

Percebe-se, então, que a presença ou falta de confiança está relacionada


diretamente com a comunicação e o relacionamento entre as pessoas.
São vários os fatores que influenciam a geração de confiança, sendo o primeiro
listado por Bartolomé, a comunicação, que entende por “manter os subordinados
informados, oferecendo feedbacks adequados, explicando decisões e políticas, sendo
franco...”. Estes são os elementos que afetam o desenvolvimento da confiança e da
franqueza: comunicação, apoio, respeito, justiça, previsibilidade e competência
(Bartolomé 1999: 7).
Fernandes (2008) e Novelli et al (2006) citando Reina e Reina (1999), também
apresentam alguns fatores componentes da confiança interpessoal no ambiente de
trabalho. Após realizar uma pesquisa com 125 líderes, entre gestores, supervisores e
profissionais de recursos humanos de 67 empresas localizadas nos Estados Unidos e

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Canadá, identificaram duas naturezas de confiança interpessoal que pode ser encontrada
no ambiente de trabalho: a transacional e a transformadora. A primeira possui
elementos contributivos para desenvolver relações confiáveis e a segunda refere-se a dar
e receber confiança baseada em experiências anteriores. Apresentamos um resumo
destes componentes:

Quadro 5 – Elementos Componentes da Confiança Interpessoal

Contratual Comunicação Competência


Consistência e Contribuição para Respeito às

TRANSACIONAL confiabilidade nos desenvolver ambientes de habilidades e aos


indivíduos para trabalho seguros e conhecimentos dos
honrar os seus produtivos, através do demais.
compromissos. compartilhamento de
informações.

Convicção Coragem Compaixão Responsabilidade


para com o grupo
Postura para Promoção da Abertura, Atitude de
manutenção de autonomia honestidade contribuir para
TRANSFORMADORA
acordos e do outro, e diálogo, construção de um
coerência entre delegação de postura para ambiente de
discurso e prática. responsabili se colocar no cooperação e
dades e lugar do solidariedade.
expressão de outro.
valores.

Fonte: Adaptado de Reina e Reina (1999 Apud, Fernandes, 2008 e Novelli, 2006.

Observando o aspeto transacional, a comunicação é tida como elemento


contributivo para o desenvolvimento de ambientes de trabalho seguros e produtivos,
através de comportamentos como: compartilhar informação, dizer a verdade, admitir
erros, dar e receber feedback, manter confidencialidade, falar e agir com bons
propósitos (Fernandes, 2008).
São também apresentadas algumas variáveis necessárias em termos de
comportamento individual no modelo de gestão por confiança (GpC) proposto por
Gasalla (2007), como por exemplo, a comunicação com clareza e veracidade (Navarro

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& Gasalla, 2007: 82-94).


Um dos elementos básicos que fundamentam o conceito de confiança é a
abertura, ou seja, transmitir informações relevantes de forma aberta (Robbins, 2009:
169). Portanto, são considerados aspetos contributivos para a construção da confiança:
a abertura da comunicação, a partilha e fornecimento de informações aos colaboradores
para que participem das decisões (Sousa, 2008; citando Gilber e Tang,1998).
Outros autores também elegeram em suas pesquisas como critério de práticas
gerenciais confiáveis a comunicação aberta com os empregados (Drummond, 2007: 91,
citando estudos conduzidos por Korsgaard et. al, 2002). O estudo demonstrou que
quando havia desentendimentos entre gerentes e empregados, os gerentes tiveram
menos culpa quando se comunicaram de maneira aberta e demonstraram preocupação
com os empregados. Neste ponto a responsabilidade do gestor na promoção da abertura
de comunicação é fundamental, “para que a comunicação seja efetiva e auxilie o
desempenho de todos os funcionários da empresa, cabe ao executivo criar um ambiente
aberto para a comunicação, para diminuir os ruídos e aumentar o entendimento”
(Limonge, 2007: 147). Mas, apesar dos líderes se auto denominarem honestos, íntegros,
verdadeiros, corretos nas suas posturas e na forma de comunicar, pesquisas demonstram
que a maioria dos empregados não acreditam que a direção da empresa seja honesta,
nem se comunica honestamente. Algumas posturas como: comportamentos fingidos,
como dar voltas, reter informações, ser ambíguo, bajular, não se posicionar, simular,
distorcer a comunicação para manipular pensamentos, sentimentos ou ações de outras
pessoas, estes e outros diminuem a confiança (Covey, 2008: 63). Tais comportamentos
não geram credibilidade na fonte, e “a fonte deve ser digna de fé, de confiança, ser
verdadeira” (França e Leite, 2007: 34).

“A credibilidade da fonte expressa a confiança e a fé que o


receptor tem nas palavras e nas ações de quem comunica alguma
coisa. O nível de credibilidade que o receptor atribui ao
comunicador afeta diretamente os pontos de vista e reações do
primeiro em relação às palavras, ideias e ações do segundo.
Assim, a maneira como os subordinados recebem a
comunicação de seus superiores é afetada pelo que pensam deles”
(Mussak, 2010:186).

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Neste sentido, a conduta do gestor perante seus subordinados pode gerar ou não
a confiança, pois “a confiança é consequência de todas as ações e comportamentos
acumulados de um líder” (Bennis, 2008: 86). Comportamentos destes estão diretamente
relacionados com a comunicação.
Conclui-se com isto que, através da comunicação as relações humanas existem e
se desenvolvem, e se possibilita estabelecer uma relação de confiança ou não, pois a
confiança, segundo a literatura, é uma das bases da interação social (Luhmann, 1979). A
concepção da confiança como interação social é também creditada por Reed (2001), “a
confiança é um indicador de que a interação social poderá ser estabelecida e mantida ao
longo do tempo” (Oliveira & Tamayo, 2008: 97). Portanto, sem a comunicação, não
seria possível estabelecer as relações entre as pessoas, quaisquer que sejam as relações,
comerciais, de trabalho, afetivas (Pimenta, 2004: 20), inclusive as relações de confiança.
Entendemos ainda que, no âmbito organizacional, as Relações Públicas desempenha um
papel fundamental na construção dessas relações de confiança, pois a razão de ser das
Relações Públicas é promover os relacionamentos com as pessoas, buscando a
compreensão mútua e a conquista de credibilidade (França, 2006: 4-6), “siendo
justamente las relaciones públicas la estratégia concreta que permite lograr esta
confianza” (Boiry, 1998: 37). Sendo assim, o trabalho das Relações Públicas numa
organização poderá servir de apoio aos gestores na criação de um ambiente de confiança.
Louis Salleron (1951), ao definir Relações Públicas, destaca exatamente esta atividade e
papel:

“As Relações Públicas são, inicialmente, o conjunto de meios


utilizados pela empresa para criar um clima de confiança junto
ao seu pessoal, junto aos grupos com os quais se acham ligadas
e, comumente, junto ao público em geral, tendo em vista
proteger sua atividade e favorecer seu desenvolvimento.”
(Andrade, 1983: 41)

Por fim, compreendemos a partir deste estudo que, a fonte da confiança na


organização é o gestor, e as atitudes de comunicação que geram confiança, basicamente
são: falar a verdade, cumprir promessas, informar e agir com clareza e transparência,

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estabelecer o diálogo franco e sincero, dentre outros aspectos que constroem a


confiabilidade interna na relação entre gestores e subordinados. E ainda, que o
desenvolvimento de uma política de comunicação promovido pelas Relações Públicas
poderá ser capaz de estabelecer e manter relações de confiança na gestão organizacional.
A figura a seguir representa este entendimento:

Figura 2 - Relação entre Confiança e Comunicação

PROCESSO: ESTRATÉGIA:
CONFIANÇA FONTE: Comunicação Relações
Gestor Publicas
• Partillhar
informação, • Política de
• Comportamen comunicação
tos e atitudes • Abertura
• Clareza capaz de
relacionadas à estabelecer e
comunicação • Feedback manter relações de
• Falar a verdade confiança
• Transparência
• Coerência entre
discurso e prática.

Fonte: Elaboração própria, 2013

2.3. O Ambiente de Confiança


Considerando, como já foi analisado na literatura, a comunicação como um dos
elementos contributivos para desenvolver um ambiente de trabalho confiável,
principalmente no que se refere à relação entre gestores e subordinados, analisaremos
então, o Instrumento de Pesquisa do Great Place to Work, que classificam e
reconhecem “As Melhores Empresas para Trabalhar” no mundo, procurando perceber a
presença da comunicação nas questões dessa pesquisa.

2.3.1. Great Place to Work – As Melhores Empresas para Trabalhar

O Great Place to Work (GPTW), fundado em 1980 nos Estados Unidos por

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Robert Levering e Amy Lyman, é uma consultoria de pesquisa e gestão, especialista em


ambiente de trabalho, com sede nos Estados Unidos e escritórios afiliados em diversos
países ao redor do mundo. Tem apoiado as organizações para que adotem
comportamentos que levem à criação de um excelente lugar para trabalhar, tendo como
principal fator a confiança entre líderes e liderados. Para o GPTW (2013)1, a confiança
deve estar presente em todas às relações e num bom ambiente de trabalho, e só existem
cooperação e colaboração das pessoas quando há confiança, o que pode resultar na
melhoria dos relacionamentos, e consequentemente numa maior produtividade:

“Trust is the defining principle of great workplaces – created


through management’s credibility, the respect with which
employees feel they are treated, and the extent to which
employees expect to be treated fairly. The degree of pride and
levels of authentic connection and camaraderie employees feel
with one are additional essential components” (GPTW,
http://www.greatplacetowork.net/our-approach/what-is-a-great-
workplace).

2.3.2. Breve História do GPTW

Em 1981 um editor de Nova York pediu a dois jornalistas de negócios – Robert


Levering e Milton Moskowitz – para escreverem um livro chamado “As 100 Melhores
Empresas para Trabalhar na América”. Embora eles não acreditassem que poderiam
encontrar 100 empresas qualificadas, concordaram e iniciaram uma viagem que durou
mais de 25 anos de pesquisa. Descobriram que um excelente ambiente de trabalho não
era um conjunto normativo de benefícios dos empregados, programas e práticas, mas a
construção de relacionamentos de alta qualidade no local de trabalho – relações
caracterizadas pela confiança, orgulho e camaradagem. O papel da confiança no
ambiente de trabalho tornou-se central para a publicação do livro “A Great Place to
Work: What Makes Some Employers So Good-And Most So Bad”.

1
Sobre as melhores práticas das organizações consultar o livro – “Transformando a Cultura do Ambiente de Trabalho
– A Perspectiva do Great Place to Work Institute, 25 primeiros anos, organizado por Robert Levering – Primavera
Editorial, 2010.
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O Quadro Timeline abaixo apresenta os principais acontecimentos do GPTW:

Quadro 5 – Timeline – Principais Acontecimentos Great Place to Work


Ano Fato

1981 Começa a pesquisa para As 100 Melhores Empresas para Trabalhar nos EUA.
1984 Publicada a lista "100 Melhores Empresas para Trabalhar" nos Estados Unidos.
1988 Publicado o livro: A Great Place to Work: What makes some employers so
good — and most so bad.
1991 Fundado o Instituto Great Place to Work®
1992 Desenvolvido Great Place to Work Trust Index ©.
1992 Realização da primeira pesquisa na Golden Grain, fabricante de massas nos
Estados Unidos.
1997 Fortune se une ao Instituto para produzir uma lista anual das Melhores
Empresas para Trabalhar nos Estados Unidos.
1997 É publicada, no Brasil, a primeira lista das Melhores Empresas para Trabalhar
do Great Place to Work.
1997 Great Place to Work abre unidades e publica listas no Brasil e na Coreia.
2001 Great Place to Work é escalado pela União Europeia para produzir “100
Melhores Empresas para Trabalhar na Europa”.
2003 Expansão para 15 países na Europa e 6 na América Latina.
2006 Great Place to Work Brasil estabelece parceria com a revista ÉPOCA para
publicação das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil.
2010 Aberta a primeira unidade no Oriente Médio (Emirados Árabes Unidos).
2011 Aberta primeira unidade na África (Nigéria).
2011 É publicada a primeira lista das Melhores Empresas Multinacionais para
Trabalhar no mundo.
.
Fonte: adaptado do site: http://gptwbr.nonprofitsoapbox.com/sobre-nos/nossa-
historia/cronograma-do-great-place-to-workr

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A Relação entre Comunicação e Confiança no Ambiente de Trabalho
Análise da Pesquisa “Melhores Empresas para Trabalhar”
Cibelli Maria Pinheiro de Almeida

Atualmente as listas de Melhores Empresas para Trabalhar são produzidas em 45


países, trabalha com mais de 5.500 organizações, representando mais de 10 milhões de
empregados, o que torna a maior pesquisa anual de cultura de ambiente de trabalho no
mundo.

2.3.3. A Metodologia do GPTW

O Great Place to Work estuda e identifica as “Melhores Empresas para


Trabalhar” através de uma pesquisa realizada com os funcionários e uma avaliação dos
empregadores para entender o que torna um ambiente de trabalho excelente.
Conduz mundialmente a pesquisa “Melhores Empresas para Trabalhar”, cujo
resultado é baseado na avaliação do nível de confiança dos funcionários em cinco
dimensões: Credibilidade, Respeito, Imparcialidade, Orgulho e Camaradagem.

Quadro 6 – Dimensões e Perspectivas dos Funcionários

DIMENSÕES COMO ELAS ATUAM NO AMBIENTE DE TRABALHO


Comunicação informativa e acessível
Credibilidade Competência na condução de pessoas e negócios
Integridade e consistência na condução da visão
Apoio para desenvolvimento profissional
Respeito Reconhecimento
Envolvimento em decisões relevantes
Equidade e equilíbrio no reconhecimento
Imparcialidade Ausência de favoritismo
Justiça no tratamento
Orgulho do trabalho realizado individualmente
Orgulho Orgulho do trabalho realizado coletivamente
Orgulho da imagem e atuação da empresa na comunidade e mercado
Espaço para ser espontâneo
Camaradagem Ambiente amigável e hospitaleiro
Sentimento de “família” ou “equipe”

Fonte: GPTW, 2013

O Great Place to Work, portanto, avalia as empresas nestas duas perspetivas:


funcionários e lideranças.
Em relação à perspetiva dos funcionários é utilizado um instrumento
denominado TRUST INDEX © Employee Survey, questionário composto por 60
perguntas, das quais duas são abertas e as demais fechadas. Das 58 perguntas fechadas,

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Cibelli Maria Pinheiro de Almeida

catorze são na dimensão Credibilidade, treze na dimensão Respeito, doze na dimensão


Imparcialidade, oito na dimensão Orgulho, dez na dimensão Camaradagem e uma
questão geral. Este instrumento é aplicado manual ou virtualmente com os funcionários,
e tem como objetivo levantar as opiniões, atitudes e perceções sobre o nível de
confiança entre funcionários e gestores. São também coletados comentários a partir das
questões abertas presentes na pesquisa, que fornecem perceções dos funcionários sobre
o que faz a empresa ter um excelente ambiente de trabalho e o que poderia ser feito para
torná-lo ainda melhor (GPTW, 2013).
O processo para a realização dessa pesquisa consiste em: 1) aplicar o
questionário em papel; 2) aplicar o questionário online; 3) classificar e comunicar os
ganhadores; 4) reconhecer os ganhadores através de um evento de premiação e
publicação local (revista e jornal); e por último, 5) disponibilizar para as empresas o
sumário executivo com os resultados, assim como oferecer serviços adicionais.
Alguns cuidados são tomados na aplicação do questionário, como: não reunir os
colaboradores para responder a pesquisa; não influenciar os colaboradores nas
respostas; não recolher as respostas dos colaboradores; não disponibilizar colaboradores
da empresa para tirar dúvidas; disponibilizar caixa dos correios na empresa;
disponibilizar quiosques com computadores; fazer comunicados intermediários (GPTW,
2013).
Na perspetiva da liderança, a avaliação considera nove práticas culturais de
gestão de pessoas, são elas:
1) As empresas atingem seus objetivos quando: Inspiram seus colaboradores,
Falam a verdade com todos e Escutam com sinceridade.
2) As Pessoas dão o melhor de si, quando: Agradecem pelo bom trabalho,
Desenvolve-as pessoal e profissionalmente e Cuidam individualmente de cada
uma delas.
3) O Trabalho em equipa acontece quando: Contratamos com foco na cultura,
Celebramos as conquistas e Compartilhamos os resultados.
Tais práticas conduzem a um ambiente de confiança:

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Cibelli Maria Pinheiro de Almeida

Figura 3 – Práticas Culturais de Gestão de Pessoas das Empresas

Fonte: GPTW, 2013

4. A Relação entre Comunicação e Confiança na Pesquisa do GPTW

3. ANÁLISE DE RESULTADOS
Para análise do Instrumento de Pesquisa do GPTW, denominado TRUST
INDEX © Employee Survey, foram considerada as cinco dimensões na perspetiva dos
funcionários e as perguntas feitas em cada dimensão destas. Por razões de
confidencialidade o questionário não será apresentado na íntegra, apenas as questões
relacionadas com o tema comunicação para melhor entendimento sobre os
percentuais/frequência presentes neste instrumento:

Quadro 7. Questões sobre Comunicação na Pesquisa do GPTW de acordo com as Dimensões

Dimensão Questões relativas à Comunicação Temas abordados


1) Os chefes me mantêm informado Informação
sobre assuntos importantes e sobre mudanças na
empresa
Credibilidade 2) Os chefes deixam claras suas Clareza
expectativas
3) Posso fazer qualquer pergunta Abertura e Feedback
razoável aos chefes e obter respostas diretas
4) É fácil se aproximar dos chefes e é Abertura e Diálogo
também fácil falar com eles
5) Os chefes cumprem o que prometem Verdade
6) Os chefes agem de acordo com o que Coerência
falam.

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1) Os chefes agradecem o bom trabalho e Feedback


o esforço extra
2) Os chefes reconhecem erros não Transparência
Respeito intencionais como parte do negócio
3) Os chefes incentivam ideias e Abertura e Diálogo
sugestões e as levam em consideração de forma
sincera
4) As pessoas são encorajadas a Abertura e Diálogo
equilibrar sua vida profissional e pessoal.
1) Se eu for tratado injustamente, acredito Saber ouvir
Imparcialidade que serei ouvido e acabarei recebendo um
tratamento justo.
Orgulho 1) Tenho orgulho de contar a outras pessoas que Clareza
trabalho aqui
1) Quando se entra nesta empresa, fazem você Informação
se sentir bem-vindo
Camaradagem 2) Quando as pessoas mudam de função ou de
área, a empresa faz com que se sintam
rapidamente "em casa".

Fonte: Elaboração própria, 2013.

No quadro a seguir são demonstrados os percentuais e a frequência das questões


que tratam sobre Comunicação presentes no instrumento utilizado pelo GPTW:

Quadro 8. Presença da Comunicação na Pesquisa do GPTW de acordo com as Dimensões.

TOTAL DIMENSÃO FREQUÊNCIA PERCENTAGEM


QUESTÕES
14 CREDIBILIDADE 6 42,8%
13 RESPEITO 4 30,7%
12 IMPARCIALIDADE 1 8,3%
8 ORGULHO 1 12,5%
10 CAMARADAGEM 1 10%

Fonte: Elaboração própria, 2013.

Pelo resultado apresentado, verifica-se que a frequência de questões relacionadas


com a comunicação na pesquisa do GPTW apresenta-se elevada em perguntas relativas
às dimensões credibilidade (42,8%) e respeito (30,7%), atributos estes de grande
influência na geração de confiança.
Quanto à análise de temas ligados à comunicação presentes nas perguntas,

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apresentam-se os assuntos já descritos na literatura como relevantes para o


desenvolvimento da confiança, destacando-se: compartilhamento de informações,
clareza e abertura na comunicação, falar a verdade, agir com coerência entre o discurso
e a prática, dar feedback, transparência na comunicação.
Sobre a perspetiva da liderança, para analisar as práticas culturais de gestão de
pessoas, o Great Place to Work desenvolve um trabalho de consultoria voltado para
atender a lacuna entre a cultura que a empresa pretende criar e a experiência dos
funcionários. A metodologia é construída com base nos resultados da pesquisa Trust
Index © Employee Survey, e pressupõe uma auditoria da cultura, análise e inventário
das políticas, práticas, programas e comportamentos de gestão que formam a base da
cultura organizacional.
Pela limitação de acesso às informações, não é objetivo deste estudo aprofundar
a análise nesta perspetiva, mas apenas identificar dentro dos critérios definidos como
práticas culturais de gestão quais estão relacionados diretamente à Comunicação,
corroborando com a ideia de que o ambiente de confiança é construído a partir da
comunicação.
Para o Great Place to Work são consideradas boas práticas culturais quando uma
organização atinge seus objetivos com pessoas que dão o melhor de si, individualmente,
e juntas como uma família/equipe em um ambiente de confiança.
Considerando as nove práticas culturais definidas pelo GPTW, observa-se no quadro
apresentado que as três primeiras relativas ao atingimento dos objetivos da organização
tratam especificamente de processos comunicativos, assim como uma das práticas
individuais (agradecer) e uma referente ao trabalho em equipe (compartilhar).
Quadro 9.
As Práticas Culturais de Gestão de Pessoas e a Presença da Comunicação na Avaliação

PRINCÍPIOS PRÁTICAS FREQUÊNCIA PERCENTAGEM

Atinge os seus Inspirando seus colaboradores


objetivos Falando a verdade com todos 3 100%
Escutando com sinceridade
Pessoas que dão
o melhor de si Agradecendo o bom trabalho 1 ≅67%

Trabalham em equipa
Compartilhando os resultados 1 ≅67%
Fonte: Elaboração própria baseada na avaliação do GPTW, 2013

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Pelo resultado exposto, verifica-se que os itens avaliados que se referem aos
objetivos da empresa estão diretamente ligados à comunicação, o que demonstra a
importância da comunicação na gestão de pessoas, principalmente no que se refere à
contribuição para os resultados organizacionais, tema este que poderá ser debatido em
outros estudos.

4. CONCLUSÔES
Em conclusão, permite-se observar a relação e contribuição da comunicação
para geração de confiança no ambiente de trabalho, demonstrado pela literatura e
analisado mediante a pesquisa mundial do Instituto Great Place to Work.
Se, de facto, o instrumento utilizado pelo GPTW é válido para definir que uma
organização é um melhor local para trabalhar (melhor no sentido de ambiente confiável),
tendo como base a pesquisa realizada com os funcionários e a consulta das práticas
gerenciais, é possível afirmar que o gestor pode ser ou não fonte de confiança para seus
subordinados através de um processo eficaz de comunicação, pelo qual a confiança se
estabelece.
Entende-se ainda que, quando as relações não são baseadas na confiança, faz-se
necessário estabelecer formas de controle, o que implica em aumento de custos e menor
produtividade. Quanto menos se confia, mais se controla e mais custo a empresa tem,
custos com absenteísmo, retrabalho, com questões trabalhistas e comportamentais,
custos com turnover e com a não retenção de talentos, dentre outros custos provenientes
dos meios que se criam para controlar pessoas e processos, o que impactam diretamente
nos resultados financeiros da organização. Existem pesquisas que indicam que entre
20% a 30% dos custos de uma empresa estão ligados a formas direta ou indireta de
controle e vigilância (Navarro & Gasalla. 2007: 35). Apesar de não ser objeto desse
estudo relacionar o tema confiança e comunicação aos resultados organizacionais, é
importante ressaltar que existem vários estudos que reconhecem a confiança como
elemento estratégico nas organizações (Simões, 2010), o que pode ser alvo de
investigações futuras nas consideradas “melhores empresas para trabalhar”.
Em última instância, a partir do resultado deste trabalho, é possível afirmar que,
uma organização que está atenta à comunicação e relacionamento interpessoal,
especialmente nas relações hierárquicas, pode ser considerada “Uma Melhor Empresa

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para Trabalhar”.
Por fim, percebe-se, a grande importância de trabalhar a comunicação no
contexto organizacional, especialmente no sentido relacional2, e o fundamental papel
das Relações Públicas na elaboração de políticas e estratégias para geração de confiança
no ambiente de trabalho, pois “a presença das relações de confiança entre os membros
de uma empresa pode aumentar de forma significativa a eficiência organizacional”
(Zanine, 2007: 5). Apesar de se ter esta compreensão, criar um ambiente de confiança
nas organizações, através da comunicação, exige esforço e vontade da liderança
(Pinheiro & Tourinho, 2012: 50). Por esta razão destacamos o trabalho e apoio das
Relações Públicas neste processo, pois “eso son las relaciones públicas: construir, día a
día, unas relaciones de confianza. “No es más que eso, pero tambíem es todo eso”
(Boiry, 1998: 34).

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How to cite this article:

Almeida, C. (2013). A Relação entre Comunicação e Confiança no Ambiente de Trabalho: Análise da Pesquisa
“Melhores Empresas para Trabalhar. International Journal of Marketing, Communication and New Media.
Online, Vol.1, nº 1, p. 62-86. Disponível em http://u3isjournal.isvouga.pt/index.php/ijmcnm

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