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FAVENI

PÓS GRADUAÇÃO EM NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, CLÍNICA


E EDUCAÇÃO ESPECIAL

DIONATAN CARLOS ALVARENGA PEREIRA BARROSO

NEUROPSICOPEDAGOGIA, ESCOLA E FAMÍLIA


NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19

CARATINGA MG
2021
NEUROPSICOPEDAGOGIA, ESCOLA E FAMÍLIA NO
CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos
autorais.

RESUMO – O presente artigo discute a relação entre escola e família sob a guisa da
neurociências, mas estritamente, a despeito da neuropsicopedagogia, frente ao cenário
pandêmico da COVID-19. Para tanto, adotou-se o estudo de revisão bibliográfica na perspectiva
de compreender como a neuropsicopedagia poderia favorecer práticas de ensino-aprendizagem
eficazes em meio a um momento de encerramento das aulas presenciais e de instituição das
aulas de modo remoto. Obteve-se que este profissional tem papel fundamental no apontamento
de caminhos e possibilidades pedagógicas, favorecendo o debate entre alunos, família e escola
somando forças para com uma aprendizagem efetiva, pautada no conhecimento de como o
cérebro aprende e a importância dos contextos socioculturais neste processo dinâmico e
perpetuo. Permitindo, assim, a superação de problemas de aprendizagens e o fortalecimento da
elação família-escola.

PALAVRAS-CHAVE: Neuropsicopedagogia, Educação, Ensino Remoto, Família-


Escola.
1. INTRODUÇÃO
O novo século trouxe consigo uma gama infindável de possibilidades tecnológicas.
Avanços que permitiram aproximar pessoas dos lugares mais distantes e isolados da
terra, com apenas poucos cliques em um smartfone, por exemplo. No entanto, nos
últimos 2 anos, estas ferramentas e plataformas digitais usadas até aquele momento mais
como divertimento e ponto de encontros casuais, passaram a serem visadas como
essenciais diante do cenário atual forçado pelo vírus SARS COVID-19.
Nessa prospecção, o isolamento social, o encerramento das aulas presenciais em
escolas de todo o país e o receio da população diante de uma doença que pouco se
conhece a respeito, sobretudo qual seria o preço a ser pago pela cura, exigiu que a
sociedade como um todo vislumbrasse novos modos de interação social e execução de
tarefas impressindíveis, mediados pelas tecnologias digitais. Como reverbera Dalben
(2019, p. 14), “[...] aulas, encontros com os avós, com as pessoas queridas, amigos,
parentes? Só por meio desses instrumentos eletrônicos. Difícil! Muito difícil, uma
realidade que mexe com as crenças e as autoridades de todos.”
A escola, instituição que não é apenas parte da sociedade mas onde ela se
desenvolve habilidades sociais e intelectuais, onde crianças e jovens adquirem e
disseminam aspectos de sua personalidade e, por consequência, da formação cidadã,
foi fechada por tempo indeterminado (Portarias nº 188 e 454/GM/MS/2020). O ensino
presencial foi substituído pelo ensino remoto, a distância. Teve, portanto, que se
preocupar em alcançar seu público lá onde a realidade social acontece. Em suas casas.
As instituições educacionais brasileiras tiveram que superar tantas quantas foram
as dificuldades para dar aos seus aprendizes um ensino de qualidade e que lhes fizesse
sentido. Quer seja a falta de habilidades dos professores com a tecnologia, a falta de
acesso a ela por alunos em condições sociais vulneráveis, ou dada a necessidade de
que pais e responsáveis fossem os tutores presenciais das crianças e jovens em suas
atividades escolares (FACCI; SILVA; SOUZA, 2020; DALBEN, 2019).
Tais vicissitudes, sobretudo o isolamento social, trouxe a tona as problemáticas de
aprendizagem já evidenciadas no dia a dia da escola. Carecendo de maior apoio, Barrios-
Tao (2016) expõe que, os contextos socioculturais – as interações sociais – saudáveis
oportunizam o desenvolvimento de habilidades cognitivas para a superação de tais
problemas devido a capacidade plástica do cérebro. Facilidade em se adaptar em
situações e ambientes adversos e/ou fora da rotina comum. O que Vygotsky (2000)
discerniu como sendo o meio social o responsável pela formação do indivíduo, pois,
através da interação é que a verdadeira aprendizagem ocorre.
É nesse interim que as neurociências, sobretudo a neuropsicopedagogia
institucional emerge como ferramenta mui útil no enfrentamento a estas dificuldades.
Para Cardoso e Queiroz (2019), Pherez, Vargas e Jerez (2015); Barrios-Tao (2016); Pinto
(2014) e Bartozeck (2007) há intrínseca relação entre emotividade e desenvolvimento
cognitivo por estar reforçada pelas interações sociais positivas e/ou constrangedoras do
cotidiano. Logo, o neuroeducador deve se habilitar em visualizar as possibilidades de
prevenção e enfrentamento a tais situações, pois, através das neurociências e de boas
pedagogias educativas – somadas – se pode permitir excelentes experiências de
aprendizagem, mesmo na modalidade de ensino remoto.
Destarte, o presente artigo buscou responder as seguintes e importantes questões
acadêmicas: qual é o recorte socioeducacional vivenciado pela escola em tempo de
pandemia Covid-19? Como escola e família podem favorecer os alunos para a
continuidade dos estudos, ainda que de modo remoto? E qual a contribuição fundamental
da neuropsicopedagogia neste processo de retomada dos estudos, especialmente em
relação aos manejos de ensino aprendizagem e no fortalecimento da elação família-
escola?
Para tanto, utilizou-se da revisão de literatura – com base em Rother (2007) –
como método analítico, permeando as publicações recentes sobre como a escola, a
família e o aluno têm se proposto a enfrentar o desafio de estudar no modelo remoto. E,
além disso, perceber as importantes contribuições dos estudos neurocientíficos para a
educação como um todo.
Tal pesquisa detém sua relevância iminente, social e acadêmica. Esta por se tratar
de um assunto ainda pouco discernido e, com isso, por se fixar como fonte de pesquisa
e amadurecimento teórico-científico. A relevância social advém da contribuição no
contexto prático da escola ao possibilitar a reflexão das ações educativas a partir do
conhecimento das neurociências sob a guisa das formas de ensinar e aprender.
2. METODOLOGIA: revisão bibliográfica narrativa como forma de análise

O método de análise científica conhecido como revisão bibliográfica narrativa, por


facilitar a investigação por meio de pesquisas relevantes já existentes, permite apontar
novos caminhos para a boas práticas de serviços nas mais distintas áreas do
conhecimento. Isto permite dizer que não se preocupa em exaurir determinado tema,
mas, busca uma reflexão producente de pesquisas e escritos relevantes para uma leitura
consciente de um determinado recorte que se pretende investigar (ROTHER, 2007).
Rother (2007) confirma que esta é uma técnica adequada na fundamentação de
artigos, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de cursos, dentre outros.
Como fonte de pesquisa, utilizou-se as plataformas digitais disponíveis (Google,
Capes, Scielo, Lilacs, Revistas em Educação etc.), livros e revistas impressos. Como
parâmetro de busca optou-se pelos seguintes termos interrelacionados: “Família e
Escola”, “Neurociências e Neuropsicopedagogia”; e “Pandemia/Covid-19 e “Educação
em casa”. Os termos foram cruzados entre si para melhor recorte.
A busca revelou os poucos estudos relacionados ao lapso temporal 2009-2021
que vislumbrassem uma gama maior dos termos pesquisados. Por isso, priorizou-se
aqueles que se identificavam melhor com a temática aqui trabalhada. Num total de 22
documentos para fomento das discussões.
Assim, esta pesquisa visou trazer a luz as dificuldades e possibilidades
encontradas no cenário atual e dirimir quais as contribuições do neuropsicopedagogo
para a instituição escolar. Especificamente, como ele pode ajudar a comunidade escolar
a estabelecer ações assertivas de aprendizagem e, é claro, acolhimento das demandas
psicossociais de crianças e jovens estudantes ponderando meios eficazes de sanar
possíveis dificuldades.

3. NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO: uma relação de reciprocidade

Os estudos relativos à neurociência, área de estudo transdisciplinar porque


engloba distintos saberes em seu escopo de análise (neurologia, psicologia, biologia
entre tantas outras), têm se mostrado bastante contundentes para se entender como o
cérebro humano aprende. Como ele se adapta a situações novas do cotidiano e reserva
tais conhecimentos em sua memória, facilitando o acesso quando necessário
(BARTOSZECK, 2007).
Hoje é possível discernir que o cérebro é composto por mais de cem bilhões de
neurônios interligados entre si por suas extremidades, e esta relação se estende por todo
o corpo a partir do crânio e da medula espinal (LENT, 2001). Sãos essas conexões
sinápticas que permitem a assimilação de estímulos, geração de respostas (reflexos ou
incitação crítica e resposta ponderada) e armazenamento da experiência. Seja ela boa
ou má. Assim, em termos gerais, se dá a formação do caráter, da personalidade e dos
padrões de comportamento adotados pelos distintos humanos (CARDOSO; QUEIROZ,
2019).
Neste interim, é importante denotar que não se trata apenas de respostas
instintivas ou geradas por memória genética, mas, da capacidade de aprender e assimilar
novas experiências. Denotando a importância das relações interpessoais e a influência
cultural para o bom desenvolvimento cognitivo. Quanto mais favorável forem essas
relações do indivíduo com o meio no qual está inserido, tanto melhor tenderá seu
protagonismo de vida (PINTO, 2014). Logo, um lar acolhedor, afetuoso, de pais
interessados e cujo reforçamento da aprendizagem seja assertivo para com a criança;
uma cultura de bairro que favoreça o engajamento social e vislumbre o desenvolvimento
de uma comunidade como um todo; ambiente desafiador, mas não violento; e uma escola
que incita a curiosidade de seus alunos; são fatores de extrema importância para o
desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes.
Quer seja dentro de casa, quer no ambiente escolar ou outro lugar afim, o cérebro
está sempre aprendendo. O toque de uma mão sobre uma superfície quente ou fria
estimula que o cérebro responda; o atravessar de uma rua demanda uma resposta lógica
das estruturas mentais; e, porque não dizer: falar, pensar, gesticular, andar, dentre tantas
outras possibilidades; são advindas das funções neurológicas. Aliás, o processo de
aprender a andar e a falar demandam observação dos pares, treinamento, repetição
(tentativa e erro), adaptação e, por fim, maturação cognitiva para que se consiga fazê-los
(PIAGET, 1984; 2007). É aqui que se estabelece a relação cérebro, memória e
aprendizagem.
Se aplicada a educação, aos processos de ensino aprendizagem do contexto
escolar, a neurociência contribui profundamente para a compreensão de manejos
educativos eficazes para um público multifacetado, tal qual os alunos.
Neste viés, a neurociência como parte do construto psicopedagógico – ou seja,
como ponto de partida para a formulação de atividades escolares – se apresenta como
ferramenta compreensiva dos processos de aquisição do conhecimento pelos jovens
educandos. Permite que se contextualize os conteúdos a serem assimilados quer seja
pela modelação da linguagem pela qual são ensinados, quer seja pela técnica a ser
utilizada para isso (quadro, jogos, dinâmicas de grupo etc.), aperfeiçoando todo o modus
operandi educativo.

As neurociências não propõem uma nova pedagogia e nem prometem solução


para as dificuldades da aprendizagem, mas ajudam a fundamentar a prática
pedagógica que já se realiza com sucesso e orientam ideias para intervenções,
demonstrando que estratégias de ensino que respeitam a forma como o cérebro
funciona tendem a ser mais eficientes (COSENZA E GUERRA, 2011, p.139; apud
AVELINO, 2019, p. 37).
Conforme apresenta Avelino (2019), conhecer os processos de neuropsicológicos
que envolvem o desenvolvimento cognitivo não substitui a boa pedagogia, mas, se
somam a ela para uma leitura compreensiva dos sujeitos do ensino. Como aponta
Vygotsky (1998), a aprendizagem se dá no meio social e não fora dele, logo, a
neurociência, a psicologia e a pedagogia – juntas, ou melhor dizendo, a
Neuropsicopedagogia – buscam, por meio da compreensão do funcionamento cerebral,
os recursos para a aprendizagem, considerando os métodos didáticos e avaliativos uma
interferência significativa nesse processo (Resol. SBNPp n° 04/2020; AVELINO, 2019).
Nesta perspectiva,

A neurociência por si só não pode fornecer o conhecimento necessário para


projetar abordagens eficazes para a educação e, portanto, a neurociência
educacional não consistirá em inserir técnicas baseadas no cérebro dentro da
sala de aula. Em vez disso, deve ser estabelecida uma relação recíproca entre a
prática educacional e a pesquisa sobre aprendizagem, o que é análogo à relação
entre medicina e biologia. Essa relação recíproca sustentará o fluxo contínuo de
informações bidirecionais necessárias para apoiar uma prática educacional
informada e baseada em pesquisa sobre o cérebro (OCDE, 2007; in BARRIOS-
TAO, 2016, p. 410).
Assim, no entendimento de Hernando Barrios-Tao (2016), não apenas os
profissionais especialista em neuropsicopedagogia, mas, toda comunidade escolar
(diretores, professores, pedagogos, pais e alunos), deveriam ter consciência do vínculo
existente entre educação, aprendizagem e os aspectos neuronais e biológicos da
formação da mente para que – desta forma – se possa contribuir com estratégias para
fortalecer tanto o entorno sociocultural que influenciam o desenvolvimento cognitivo
quanto, efetivamente, a prática educativa.

4. A FAMÍLIA E ESCOLA: um perfil do modelo atual da educação frente à pandemia


COVID-19
Ao se permear a influência sociocultural no desenvolvimento e aprendizagem de
crianças e adolescentes, sobretudo na prática escolar, é impreterível discutir a importante
contribuição da família e sua relação com a escola. Ainda mais se o assunto em pauta é
o atual cenário pandêmico, frente à COVID-19. Tal análise se objetiva a captar as
nuances de como a atual crise afeta o relacionamento escola/aluno/família, as mudanças
de rotina de aprendizagem e a coparticipação de pais ou responsáveis na execução de
tarefas educativas, sob supervisão e apoio das escolas, na modalidade ensino a
distância.
Para o pesquisador colombiano Barrios-Tao (2016), estudos que busquem
compreender a influência da cultura, da sociedade, família, na aprendizagem escolar não
são recentes. Estas preocupações já se encontravam presentes nos textos de Vygotsky,
Bandura, Piaget, entre tantos outros que, em suma, se debruçavam sobre como os
fatores sociais influenciam as emoções, o pensamento, a linguagem, o desenvolvimento
e/ou supressão de habilidades genéticas contribuindo para a formação do indivíduo.
Dada a plasticidade cerebral, até a idade avançada de vida. A julgar pelas
interações sociais feitas dia após dia (família, bairro, escola, trabalho etc.), o organismo
humano é capaz de se adaptar a ambientes de mudanças constantes. Isto significa dizer
que, aprender com as experiências é uma habilidade intrínseca a todo ser humano
independente da idade, cor, credo ou situação financeira (BARRIOS-TAO, 2016). Logo,
mesmo em situações difíceis como a que se enfrenta, em relação ao vírus Sars Covid-
19, é possível estabelecer um ambiente propício para aprendizagem, mesmo com
adaptações ao modo de ensino como as que se pode contemplar: ensino remoto,
plataformas digitais para postagem de atividades; videoaulas; aulas virtuais, interação
professor-aluno à distância, entre outras.
O cenário atual deixou mais evidente a importância da presença familiar no
ambiente escolar. Se antes era percebida (SOUZA, 2009) agora é uma inevitavel parte
do processo educativo. Com as diretrizes governamentais que orientavam, a partir de
fevereiro de 2020 (Portarias nº 188 e 454/GM/MS/2020), o isolamento social, medidas
sanitárias de proteção (Equipamentos de Proteção Individual - EPIs), encerramento das
aulas presenciais para evitar o contágio desmedido do vírus, por exemplo, crianças e
adolescentes passaram a conviver mais em casa sob a supervisão de seus entes
queridos.

Nos primeiros dias de Pandemia, foi publicada pelo Ministério da Educação


(MEC) a Portaria nº 343, de 18 de março de 2020, que dispõe sobre “substituição
das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de
pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19” (Brasil, 2020). Outras decisões,
após esta primeira, foram tomadas pelo MEC em relação ao ensino remoto, que
vem se efetivando desde março no Brasil. Tais medidas estão sendo
necessárias, mas sabemos os problemas que estamos enfrentando em relação
a isso, desde a inabilidade dos professores de lidarem com as novas tecnologias
de ensino por meio digital, como o crescimento da desigualdade de apropriação
às informações, quando elevado número de estudantes não tem à disposição
equipamentos e internet que possibilitam ter acesso às aulas. Além dessas
questões objetivas, não podemos deixar de mencionar o comprometimento que
o ensino remoto traz na relação professor-aluno, quando partimos da ideia,
conforme propõe Vigotski (2001), de que existe uma unidade entre cognição e
afeto (FACCI; SILVA; SOUZA, 2020, p. 2)

De fato, a repentina mudança de um ensino presencial para aulas em meios


digitais, um plano estabelecido sem possibilidade de testes, sem precedentes, evidenciou
muitas dificuldades. Essencialmente, a dificuldade de acompanhar o aluno de perto e
monitorar seu aprendizado com qualidade. Aqui se estabeleceu a necessidade de um
acompanhamento familiar imbricado, pois, o que antes era delegado (quase que
exclusivamente a escola) passou a ser compartilhado por toda a nucleação. Pais tiveram
que readequar suas rotinas diárias e incentivar a participação ativa dos filhos às aulas
(DALBEN, 2019). Comunicarem-se mais com as escolas, com os professores, com os
próprios filhos.

A íntima relação entre a escola e a família está dada na íntima interdependência


entre elas, que a pandemia escancarou, mas que precisamos entender cada vez
mais para recriarmos nossas práticas. Hoje a escola foi transferida para a casa
das crianças e isso está trazendo muitos problemas para todos, mas é possível
encontrar o caminho da boa convivência. Quem sabe um caminho muito mais
promissor, capaz de favorecer muito mais aprendizagens para as crianças e
jovens, porque colado com o núcleo de valores do estudante, com aquilo que dá
referência aos estudantes para novas aprendizagens. Colado com os sentidos e
significados presentes no projeto de vida delineado pelo círculo familiar.
Precisamos de exercitar as palavrinhas mágicas e não termos medo de olhar
para frente. A escola precisa de reinventar o vivido, fazer diferente e buscar
oferecer o melhor (DALBEN, 2019, p. 28).

Esta mudança, entendida por alguns como radical, em relação ao modelo de


ensino e na forma como escola e família se relacionava – ao que parece – oportuniza o
redesenho das formas de ensinar e aprender. Exige mudanças nas relações entre pais e
mestres. Como expõe Dalben (2019, p. 29), “[...] se antes essa questão era um detalhe
contratual [...]. Se antes estávamos cobertos por uma porta que dava autonomia total ao
professor ou professora dentro de sala, hoje as salas estão escancaradas [...] Não temos
saída: nem as famílias, nem as escolas”. Portanto, o momento é propício para o diálogo
que a tanto se buscava, para a aproximação entre as duas instituições, escola e família,
cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de crianças e jovens. Isto porque “tanto a
família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo”
(PAROLIM, 2003, p. 99; apud SOUZA, 2009, p. 18).

5. A NEUROPSICOPEDAGOGIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES AOS PROCESSOS


DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL
O cenário atual, a disseminação em massa da Covid-19 no intervalo 2020/2021 no
Brasil, causou comoção nas instituições escolares. Restrições, encerramento das aulas
presenciais, planejamentos e efetivação de aulas mediadas pelas tecnologias digitais.
Materiais de estudos virtuais e impressos. Tudo às pressas e no improviso (SÁ;
NARCISO; e NARCISO, 2020).

Posicionamentos anteriores tiveram que ser revistos. Se antes as crianças não


podiam ficar brincando com os celulares dos pais, agora? Não existe outra forma
para que as coisas aconteçam. Todos colados nos celulares. Aulas, encontros
com os avós, com as pessoas queridas, amigos, parentes? Só por meio desses
instrumentos eletrônicos. Difícil! Muito difícil, uma realidade que mexe com as
crenças e as autoridades de todos. Difícil porque nem todos detêm habilidades
para manusear estas tecnologias (DALBEN, 2019, p. 14)
É neste recorte temporal que os profissionais técnicos relacionados a educação
devem e precisam cumprir seu papel. Especificamente psicólogos, pedagogos,
neuropsicopedagogos, educadores, de modo a auxiliar no estabelecimento de meios
termos entre as necessidades individuais – caso a caso – e a busca por métodos de
ensino que de fato agreguem valor psicossocial e intelectual as crianças e jovens
estudantes (AVELINO, 2019; SERRA; 2004).
Se, na educação, a psicologia cognitiva se preocupa com as relações entre
emotividade e aprendizagem, contribuindo “com elementos que ajudam na reflexão sobre
a compreensão da criança como um ser ativo, que elabora e verifica hipóteses e constrói
conhecimento” (PATRÍCIO; MORANDO, 2015, p. 53). Se, somado a esta, a
psicopedagogia “atua, ela pretende, primeiramente, prevenir situações de dificuldades de
aprendizagem e/ou de adaptação ao ambiente escolar ou profissional” (SERRA, 2004,
p.7). E, se as neurociências, no mesmo contexto, permitem “o conhecimento acerca do
SNC (sistema nervoso central) e suas implicações na esfera escolar”, facilitando que o
professor compreenda e redirecione “o olhar para o aluno e entendê-lo como sujeito
único, respeitando sua subjetividade” contribuindo para novas práticas educativas
(CARDOSO; QUEIROZ, 2019, p. 46). A Neuropsicopedagogia, na escola, deve centrar-
se no diálogo entre o desenvolvimento de habilidades cognitivas, estimulação
sociocultural e ferramentas criativas de ensino-aprendizagem (PHEREZ; VARGAS;
JEREZ, 2015).
Neste entendimento, profissionais neuropsicopedagogos e educadores que alçam
mão dos conhecimentos neurocientíficos para determinar manejos educativos, têm papel
fundamental na construção de uma pedagogia endereçada a suprir a falta do espaço
físico, o distanciamento social e as inabilidades tecnológicas, ou mesmo a falta deste
recurso, evidenciadas pela covid-19.
É tarefa do neuroeducador, portanto, estudar os caminhos para personalizar o
processo de ensino-aprendizagem de tal forma que se desperte mais a curiosidade dos
alunos – mesmo a distância – buscando maneiras de desenvolver a criatividade na
execução de tarefas, a atenção e as condições emocionais (PHEREZ; VARGAS; JEREZ,
2015). Esta, aspecto fundamental a ser trabalhado pelo neuropsicopedagogo nas
instituições escolares, e/ou na clínica.
Para Pherez, Vargas e Jerez “estudos demonstram que os processos emocionais
são inseparáveis dos cognitivos”, portanto, sugerem que as ações de aprendizagem
possibilitem boas e prazerosas experiências de ensino. Pois, “os sentimentos e as
emoções têm lugar cativo nos processos de aquisição do conhecimento e a motivação
permite a capacidade de prestar atenção” e, por conseguinte, de aprender. “Quando os
sentimentos são ignorados podem sabotar a aprendizagem, a memória de trabalho e a
atenção” (2018, p. 154).
A este respeito, a neuropsicopedagogia pode favorecer e fortalecer a aproximação
entre família e escola. Dialogar com os alunos, ouvir professores e pais de forma a
apontar caminhos e dinâmicas que ocasionem bons encontros pedagógicos.
Em abril de 2020 o The World Bank (Banco Mundial, 2020), instituição financeira
que auxilia países do mundo a fora a desenvolverem estratégias de enfrentamento a
situações calamitosas, orientou pesquisas sobre as possibilidades que o Brasil tem – em
relação a outros países (europeus, americanos, africanos, asiáticos e demais) – para a
retomada das aulas de forma segura e consistente, na modalidade EAD. Notadamente,
se vislumbrou a necessidade de escola, família, alunos e nação se unirem com vistas a
criar possibilidades, vencerem barreiras e prosseguirem rumo a aquisição do
conhecimento.
Se para Vygotsky (2000), o homem é um ser social por natureza e é através das
experiências sociais que eles se fortalecem, forjando-se cidadãos capazes, o momento
atual muito tem a ensinar. Com o apoio de profissionais habilitados tanto na área da
pedagogia quanto das neurociências, professores dedicados compondo a instituição de
ensino – somados ao apoio substancial e proativo de pais e responsáveis – e, claro, a
presença do aluno (quem protagoniza a aprendizagem) é possível construir uma
educação de qualidade em tempos difíceis.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caráter sanitário emergencial, determinado pela covid-19, a extrema importância
das relações escola e família serem cada vez mais imbricadas, visando maior
engajamento em prol de crianças e adolescentes e seu desenvolvimento psicossocial e
intelectual. Essencialmente, que uma é indissociável da outra. E que, nesta pandemia,
todas as adaptações realizadas tanto por uma como pela outra têm exigido que as estas
instituições dialoguem mais entre si, clareando dúvidas e sugerindo mudanças para a
boa prática pedagógica.
Neste contexto, também foi possível observar que os conhecimentos trazidos
pelos estudos em neurociências podem favorecer a construção de caminhos de
aprendizagens mais eficazes, isto, a partir de um olhar de como o cérebro aprende e
quais as influências intrínsecas e/ou extrínsecas à sala de aula podem contribuir ou inibir
a aquisição do conhecimento em crianças e adolescentes. Assim, compreender a íntima
relação entre estados emocionais e processos cognitivos complexos.
Logo, a presença do neuropsicopedagogo nesta interrelação pode favorecer o
debate, captar problemáticas e sugerir caminhos para melhor efetividade dos processos
de ensino-aprendizagem. A partir da escuta qualificada de professores, pais e alunos a
despeito das dinâmicas pedagógicas ou mesmo das dificuldades intrínsecas sobre o
período de isolamento social – o afastamento físico da escola e dos colegas –, as
adaptações e convivências por mais tempo em casa. Todas as informações úteis para
que este profissional, bem como educadores orientados pelo conhecimento das
neurociências, possa somar forças para enfrentar o momento atual com bastante
qualidade e produtividade acadêmica.

7. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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