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OPINIÃO OPINION 307

Difusão científica, comunicação e saúde

Diffusion of science, communication, and health

Maria Letícia Galluzzi Bizzo 1

1 Departamento de Nutrição Abstract The diffusion of science has been identified as an instrument and even as a social
Social e Aplicada, Instituto
movement capable of helping strengthen citizenship and improving the health of populations.
de Nutrição, Universidade
Federal do Rio de Janeiro. The article expounds on the integration of aspects involved in the diffusion of science based on
Av. Brigadeiro Trompowsky science itself, education, language, and communication, as well as an understanding and social
s/n, Bloco J, 2 o andar, sala 12,
control of science. The article discusses the role of those who produce knowledge in health sci-
Rio de Janeiro, RJ
21941-590, Brasil. ence as well as those who disseminate it, focusing on such loci as health institutions and schools.
galluzzi@ig.com.br The link between various fields of knowledge and practice highlight possibilities and obstacles
in the historical and social context.
Key words Communication; Health Education; Education; Professional-Patient Relations

Resumo A difusão científica vem sendo apontada como instrumento, e mesmo como movimen-
to social capaz de intermediar o fortalecimento da cidadania e a melhoria da saúde de popula-
ções. Propõe-se uma reflexão concernente à integração de aspectos envolvidos na difusão de
ciência em saúde, a partir de ponderações englobando ciência, educação, linguagem e comuni-
cação, bem como a compreensão e domínio públicos de ciência. São discutidos elementos rela-
cionados ao papel de quem gera e de quem difunde conhecimento científico em saúde, privile-
giando loci como a instituição de saúde e a escola. A articulação entre os distintos campos de sa-
ber e fazer envolvidos, revela possibilidades e entraves, potencializados pelo contexto histórico-
social.
Palavras-chave Comunicação; Educação em Saúde; Educação; Relação Profissional-Paciente

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O conhecimento científico pode ser formaliza- uma figura, a cognição exige um contexto; essa
do e objetivado para a comunicação, uma for- exigência torna impossível localizar de modo
ma de difusão científica ( Targino, 1997) que preciso o significado do significante, e nem o
pode se dar na educação em saúde em institui- significado de palavras pode ser entendido iso-
ções de cuidados à saúde, na escola (por exem- ladamente de uma linguagem, uma comunida-
plo, no ensino de ciências) ou por outros ca- de ou um mundo (Dennett, 1991). A esse res-
nais. Embora o conteúdo da comunicação para peito, tanto o relativismo cognitivo quanto o
difusão científica em saúde demande precisão, relativismo epistemológico trazem luz sobre a
profundidade, explanação de mecanismos de questão (Davidson, 1990) e reflexões para a
doença e metabólicos, clareza, estilo conversa- prática da difusão científica. A essência pater-
cional e atualidade científica, quase como via nalista do modelo de educação em saúde, pre-
de regra esse conjunto de requisitos está pouco dominante entre nós, conta com o pouco ques-
presente (Boyd, 1987). Ganha realce a necessi- tionamento da população, em parte devido à
dade de se darem a conhecer os mecanismos baixa escolaridade (Sampaio, 2000). Conhe-
de prevenção, instalação, atuação e tratamento cendo melhor suas próprias condições de saú-
das doenças. Fourez (1995) denomina isto de de (incluídas causas e conseqüências), o indi-
“caixa preta”, ou seja, defende a necessidade de víduo poderia atuar como agente do próprio
se desvendarem, na educação e comunicação desenvolvimento, e não como receptor passivo
científicas, os mecanismos pelos quais os even- de ajuda, pois a mera prescrição de comporta-
tos de saúde e doença ocorrem. Saber o como mentos ou atitudes torna os indivíduos mais
e o porquê, exemplificados através de modelos, dependentes, por vezes com perda da própria
seria essencial para a alfabetização em ciência. autonomia (Rice & Candeias, 1989). A supera-
Donaldson (1976) explica que, numa situa- ção desse modelo paternalista e informativo
ção que demande uma compreensão normal, implicaria em adotar um processo comunica-
pode-se utilizar o conhecimento do mundo à cional bidirecional em lugar do unidirecional,
nossa volta, mas quando é necessário pensar transpondo o direito puro e simples à informa-
logicamente, é preciso uma compreensão ana- ção e atingindo inclusive as decisões sobre o
lítica que requer a formação de suposições. A tratamento (Caprara & Franco, 1999).
prescrição de “receitas” não favorece a comu- Evidencia-se no contexto de saúde o pa-
nicação; obstaculiza o diálogo, a reflexão e a ciente reproduzindo o discurso médico, sem
negociação que um processo comunicacional por vezes compreender seu significado (Mar-
genuíno poderia compreender (Fourez, 1997). tins, 1991); nessa relação profissional de saú-
Nesse sentido, as tentativas de educação para a de-paciente há uma tendência a buscar uma
saúde baseiam-se em métodos transmissionais proteção mágica que justifica a submissão ab-
(Sampaio, 2000) e exógenos ao sujeito (Don- soluta ao tratamento invasivo e agressivo: re-
neys, 1991). A educação pode pontificar-se por gressão, infantilização, submissão e dependên-
ações tecnocráticas, ou, ao contrário, por mo- cia surgem nessa tentativa do paciente de do-
delos de comunicação favorecedores do inter- minar a doença (Canella, 1989). Em contrapon-
câmbio e da auto-gestão (Saviani, 1988), refle- to, a ausência ou insegurança quanto a conhe-
xão que pode ser extrapolada para a difusão cimentos e cuidados de saúde contribui para
científica em saúde, seja sob a ótica do ensino sentimentos de incapacidade, abandono e an-
de ciências nas escolas, seja na atenção primá- siedade (Seligman, 1975). Em nossa sociedade,
ria em instituições de saúde. Essa educação chega-se a observar uma deseducação científi-
veio se caracterizando por ênfases que passam ca promovida pela mídia (Candlish, 1996), es-
do foco quase exclusivo nos processos biológi- pecialmente na área de alimentação e saúde,
cos das doenças ao foco no comportamento in- sendo mesmo denominada de “educação pa-
dividual, marcado por recomendações de con- ra a doença” (F. Lefèvre, 1980, comunicação pes-
dutas apropriadas e desvinculado do contexto soal). “Nota-se, não raro, que uma descoberta no
sócio-econômico e de outras intrincadas inter- campo da Biologia, da Psicologia e da Sociolo-
relações, que muitas vezes são a causa direta gia, ao invés de funcionar como subsídio aos
ou indireta da doença (Lima, 2000). A reflexão propósitos da didática, acaba transformando-
sobre essa realidade auxilia na tomada de se em um fim em si” (Nérici, 1989:23) notando-
consciência das condições e no engajamento se que a articulação entre o saber médico-bio-
em transformá-la. lógico e a pedagogia não tem sido bem-sucedi-
A compreensão tácita não pode ser reduzi- da (Sampaio, 2000). Entre as sociedades indíge-
da à sua articulação explícita, porque ela pode nas, a educação valoriza o conhecimento do cor-
ser articulada por um número indeterminado po (Pilletti, 1991) mas em nossa sociedade, o
de sistemas de linguagem: quando se observa ensino formal de ciências, nas escolas particu-

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larmente, apresenta seu eixo deslocado do con- O método científico tradicional inclui os
texto da existência da vida (Ribeiro et al., 1997). movimentos de pergunta, hipótese, experimen-
A educação representaria uma herança re- to e resposta (Bhargava, 1995). Porém o dinâ-
cebida por cada geração em relação ao patri- mico surgimento de novos conhecimentos re-
mônio científico-cultural da humanidade (Fou- quer contínuas mudanças na forma como se
rez, 1997); entretanto, os modelos científicos ensina ciências (Lannes et al., 1998). A falha na
de ensino de ciências, aí contidos os conteúdos articulação entre saúde e educação é, em par-
de saúde, não estão representados nesse con- te, responsável pelo não reconhecimento pú-
junto, sequer de maneira minimamente satis- blico de ciência como um bem a serviço do es-
fatória. Os objetivos dessa educação científica tado de saúde (Sampaio, 2000). Postula-se que
já foram definidos como “ensinar ciência de uma modificação nos paradigmas da chamada
modo relevante e democrático; tomar o contexto “medicina científica” conferiria maior impor-
como fonte para o ensino de ciência; propiciar a tância à educação e promoção dos valores da
formação do espírito científico” (Vale, 1996:15), vida (Fourez, 1995). Em recomendações da co-
ou “desenvolvimento do pensamento lógico e vi- munidade científica americana para a política
vência do método científico” (Martins, 1990:48), de ensino de ciências, destacam-se, dentre os
e as diretrizes propostas para a educação cien- conteúdos propostos como relevantes, a saúde
tífica na escola como: compreender como as física e o desenvolvimento e funcionamento do
teorias científicas são geradas, incluindo o uso organismo humano (Rutherford, 1999). Esse
de modelos explicativos; desenvolver uma com- enfoque não se concentraria sobre um indiví-
preensão das idéias científicas-chaves; com- duo “abstrato”, separado da realidade afetiva e
preender como o cientista trabalha; compreen- social em que vive, mas sobre uma pessoa inte-
der como as evidências científicas são geradas grada ao seu meio (Fourez, 1995). Considera-
e avaliadas; vivenciar processos práticos; ad- ções epistemológicas apontam as possibilida-
quirir certas habilidades experimentais; desen- des de fusão do pensamento positivista – com
volver a capacidade de observação e manipu- seus fatos objetivos, estabelecidos e quantifica-
lação científica; avaliar evidências na tomada dos – com o senso de que o mundo social é ati-
de decisões e solucionar problemas; aprender vamente construído por seres humanos, e aí os
algumas coisas sozinho; alimentar a curiosi- conhecimentos de saúde (Milburn, 1997). Nes-
dade e estar motivado a manter interesse em se sentido, os estudos populacionais de saúde
ciência; compreender a natureza não-definiti- têm contribuído muito pouco, inclusive para
va do conhecimento científico; entender os va- as políticas e o estado de saúde das popula-
lores sociais envolvidos, inclusive as implica- ções, particularmente nos países em desenvol-
ções éticas da ciência (Association for Science vimento, e muitas recomendações apontam pa-
Education, 1998). Não obstante, mesmo nos ra a necessidade de os estudos de pesquisa apli-
países desenvolvidos, critica-se a falta de rele- cada disponibilizarem as informações científi-
vância para os alunos do modelo de educação cas e manterem canais de comunicação perma-
em ciências (Morgan, 1993). nente com a população (Tollman & Zwi, 2000).
Das políticas governamentais às práticas na Tanto na área de educação quanto na de
sala de aula, dos cientistas aos planejadores, saúde, o enfoque predominantemente curativo
das instituições de ensino à sociedade como em detrimento do preventivo, a ausência de in-
um todo, todos têm sido culpabilizados pelas tegração entre os educadores e os membros da
deficiências (Ribeiro, 1964). Um fórum mun- comunidade, a falta de abordagens multidisci-
dial clarificou uma aspiração generalizada de plinares, o ceticismo dos profissionais em tra-
tornar essa educação mais ligada à vida do dia- balhar de forma participativa com a comuni-
a-dia (Fourez, 1997). Aponta-se, no Brasil, a ne- dade e a falta de qualificação desses profissio-
cessidade de uma ampla alfabetização científi- nais são entraves à comunicação no âmbito da
ca da sociedade (Rutherford, 1999); no entan- difusão científica e educação em saúde (Rice &
to, nota-se que, paradoxalmente, recai sobre os Candeias, 1989). Como tem se evidenciado ca-
países com menor participação na geração de da vez mais problemático para as instituições
ciência a responsabilidade por educar um de saúde atender à demanda crescente em ní-
maior contingente de jovens (Lannes et al., vel de assistência primária, mostra-se patente
1998). Particularmente entre os jovens consta- a necessidade do fortalecimento do relaciona-
ta-se uma compreensão pobre de ciência; para mento entre o sistema formal de saúde e a co-
Candlish (1996), compreender ciência implica munidade (Rice & Candeias, 1989). A ausência
não só em entender como a ciência é funda- de um sistema de vigilância de saúde da popu-
mentada e regida, mas igualmente como o lação eficiente somente reforça a necessidade
cientista trabalha e pensa. de difusão científica.

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Com a disseminação da AIDS, a partir da so. O indivíduo educa-se sempre para determi-
década de 80, a preocupação em realizar ações nada situação, por meio de uns tantos recursos
educativas mais realísticas provocou uma ex- técnicos, materiais e humanos que a sociedade
plosão no desenvolvimento de novos materiais lhe prepara” (Ribeiro, 1964:72). Instrumentos e
educativos, alguns dos quais mostrando clara- técnicas podem auxiliar a mediar situações e
mente uma tendência em construir modelos conceitos no ensino de saúde com ganhos efe-
de comunicação mais profícuos (Sampaio, tivos (L’Abbatte, 1997). Isto requer profissio-
2000). Rotineiramente, entretanto, pacientes nais treinados (Fourez, 1997), porém no Brasil,
em geral e seus familiares avaliam a comunica- a insuficiência de treinamento e recursos gera
ção científica em saúde como excessivamente professores apáticos (Martins, 1990) para pro-
técnica, de linguagem incompreensível, muito piciar sensibilização, motivação ou um verda-
geral e desprovida de discussão acerca do pro- deiro enlace comunicacional. Nascem os “si-
cesso das doenças (Cowles & Rodgers, 1997). lêncios” na comunicação, tanto por parte de
Segundo Mannheim (1974:145), “a ciência tem quem “ensina”, quanto de quem “aprende”: si-
um estilo de pensamento não-democrático”: “a lêncio de dificuldade de comunicação, silêncio
ciência manipula as coisas e se recusa a habitá- de desinteresse, silêncio de resistência e blo-
las” (Abril Cultural, 1980:193). Porém, a atua- queio emocional, silêncio de desconfiança, as-
ção no mundo e a interpretação dos estímulos, sim como gestos e sinais da comunicação não-
exigem uma participação individual e interna. verbal que traduzem esse contexto (Castilho,
A abordagem pode perfeitamente se dar em 1998).
linguagem não-técnica; a teoria da relatividade Cada situação requer a invenção de um
elaborada por Einstein, por exemplo, é com- modelo de ensino. A didática literalmente sig-
posta por complicadas equações matemáticas, nifica “a arte de ensinar” (Nérici, 1989:23); co-
mas suas idéias são simples, tendo sido Eins- mo tem servido à comunicação e difusão de
tein um dos cientistas que mais se voltaram pa- ciência? Para Dürkheim (1978), hoje a ciência
ra a questão da difusão científica (Bizzocchi, ocupa o lugar outrora preenchido pela arte. Os
1999). A Internet tende a se tornar um dos prin- primeiros educadores foram os poetas, come-
cipais veículos de informação científica nos çando por Homero, e a educação clássica da
países desenvolvidos e nas classes mais privile- Grécia e Roma antigas destacou-se pelo cará-
giadas do terceiro mundo (Bizzocchi, 1999), mas ter humano; a separação da escola em relação
nisto o contraste social entre os vários “brasis” à vida do dia-a-dia principiou apenas na Idade
impõe uma profunda lacuna (Targino, 1997). Média (476-1453), tornando-se a própria ativi-
Um dos grandes desafios da ciência é ser dade de ensinar especializada (Martins, 1990).
amplamente difundida, sem perder a precisão; A evolução das civilizações acompanhou-se da
porém, o rigor científico não precisa ser sinô- apropriação e domínio do conhecimento por
nimo de hermetismo na difusão de ciência, distintos grupos: técnicas de cultivo, sobrevi-
pois o jargão científico torna praticamente im- vência, cura de doenças; dicotomizaram-se o
possível ao leigo decodificar um texto científi- saber erudito e o popular, o caráter humanísti-
co; “o que interessa ao público leigo não são os co quase que se dissipou. Com a ascenção da
textos científicos, mas as idéias que eles contêm” sociedade burguesa ocidental, a ciência passou
(Bizzocchi, 1999:31). A linguagem não precisa a ser cooptada pelo poder econômico (Boyd,
ser uma barreira à divulgação das idéias, pode 1987). A abrangente sabedoria da Renascença
ser uma ponte. Apesar disso, o modelo de co- foi trocada pela pesquisa especializada, restrita
municação vigente já foi denunciado como às universidades e não mais difundida (Bizzoc-
meio de “interpor a fala do especialista entre a chi, 1999), instalando-se um saber-objeto, uma
experiência real de cada um e sua vida. Essa fa- elitização que dogmatizou a comunicação e
la gera o sentimento individual e coletivo da acesso à ciência, autorizando uma dominação
incompetência. Essas falas científicas têm por nascida da não-comunicação. Com o positivis-
finalidade tornar a realidade controlável, pre- mo do século XIX, o conceito de utilidade da
visível, determinando o que cada um de nós de- ciência para alcance da satisfação material do
ve ser para, simplesmente, poder ser” (Chauí, ser humano relegou a pesquisa básica a segun-
1983:58). do plano (Bizzocchi, 1999). Com a Revolução
Dado que a sensibilização e a “estimula- Industrial, a burguesia “modernizou” a escola:
ção” são requisitos à adequação da abordagem, a ênfase no saber literário e na filosofia foi
embora admitindo-se que toda educação é substituída pelas chamadas “disciplinas cientí-
uma auto-educação, evidencia-se que a socie- ficas” (Pilletti, 1991), cabendo pensar no por-
dade “cria o clima, proporciona os meios e de- quê da substituição em detrimento de uma
termina os objetivos e a orientação desse proces- “comunhão”. “É uma pena que tantos cientistas

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tenham uma relação de trabalho tão pobre com mente úteis, do domínio das técnicas de ação
as humanidades” (Arnold, 1997:211). social, enfim, de todo este verdadeiro universo
Se a educação varia com o tempo e o meio cultural que constitui o conjunto dos conheci-
(Targino, 1997), parece, entretanto, prevalecer mentos que o homem moderno domina” ( Tos-
um aspecto comum: inculcar idéias, sentimen- cano, 1984:13). Nesse sentido, a ciência seria
tos e práticas (Pilletti, 1991). Na visão de Dür- um requisito fundamental: “A escola será tanto
kheim, não é possível postular uma educação mais eficiente quanto mais estiver aberta às
ideal (Dürkheim, 1978), pois ela toma a forma condições do país e do mundo em que vivemos.
da estrutura das sociedades. Imagina-se que os O interesse pelos problemas atuais que afligem
homens de cada tempo organizam a sociedade a humanidade não poderá deixar de existir
voluntária e conscientemente para realizar fins dentro da escola, na medida em que esta preten-
determinados. A própria trajetória da educa- de formar pessoas para atuarem de forma cons-
ção no Brasil ganhou contornos diversos ao trutiva na solução desses problemas; a civiliza-
longo do tempo: no Brasil-Colônia, norteou-se ção é instigada a superar o desafio da busca pe-
pelos interesses da metrópole; no Império, a lo conhecimento, pela democracia e pela educa-
economia agro-exportadora não suscitou ao ção universal, num caráter interdependente”
Estado criar um sistema escolar; no período in- (Rutherford, 1999:856). Deixando de lado tudo
dustrial da República, os interesses por mão- o que a educação tem sido, poderíamos inda-
de-obra especializada direcionaram a política gar o que ela deve ser (Targino, 1997).
educacional; finalmente, chegou-se ao modelo Numa meta-análise, a função social da ciên-
capitalista, que fez a democratização do ensi- cia na produção de conhecimento seria neces-
no superior e a profissionalização do 2 o grau, sária ao desenvolvimento da sociedade (Vale,
porém com objetivos e formas discutíveis (Mar- 1996). Mas os caminhos da ciência são dese-
tins, 1990). Na atual sociedade capitalista, por nhados quase que exclusivamente pelos inte-
exemplo, predomina a orientação individualis- resses dos cientistas, induzindo a pensar que a
ta na educação (Pilletti, 1991). Analisados sob forma como vêem o mundo seria a única cor-
este prisma, os sistemas educativos sempre pa- reta ou possível (Fourez, 1997). As comunida-
recem erros, totais ou parciais. A história do des científicas são responsáveis pela sua pró-
magistério brasileiro tem sofrido interferências pria perpetuação, por meio do treinamento dos
que afetam a qualidade desse ensino: a seleti- novos cientistas, e são as únicas aceitas pelos
vidade negativa (tornou-se um campo profis- seus membros como árbitros de sua prática.
sional que em geral atrai “sobras” de outros); Em seu interior a comunicação é relativamente
remuneração deficiente, desmotivação docen- suficiente, mas fora dela é escassa, dado o alto
te, insuficiente reciclagem e atualização (Mar- grau de especialização e de diferenciação de
tins, 1990). A qualidade dos conteúdos e da co- sua linguagem (Khün, 1991), dificultando a co-
municação é afetada. municação das idéias científicas. Não obstan-
Mesmo levando-se em conta que a educa- te, sustenta-se que a educação científica da so-
ção pode exercer papéis diferentes dentro da ciedade deve ser suscitada pela academia (Ru-
sociedade (Luckesi, 1986), sua finalidade espe- therford, 1999). Nos países desenvolvidos, há
cífica seria a de pôr à disposição o patrimônio projetos de estreita cooperação entre cientistas
cultural da humanidade; pressupõe-se que es- e educadores no âmbito da difusão científica
se patrimônio, no que tem de mais importante, (Lannes et al., 1998) e no Brasil, ressalta-se o
esteja concentrado nos currículos escolares, papel da universidade na educação continua-
mas estes geralmente não incluem as experiên- da dos professores de Segundo Grau (Ramos,
cias humanas mais significativas, e sim frag- 1990/1991). Todavia, a universidade brasileira
mentos, muitas vezes desconexos, dessas expe- é qualificada como indiferente às preocupa-
riências (Pilletti, 1991), num obstáculo adicio- ções da comunidade, com raras exceções (Tar-
nal à comunicação. Para a sociologia da educa- gino, 1997). Chauí (1983:62), aponta que “a
ção, os comportamentos familiares desempe- universidade está estruturada de tal forma que
nham um papel determinante na socialização, sua função é dar a conhecer para que não se
mas não são os modelos de referência mais im- possa pensar; adquirir e reproduzir para não
portantes na educação propriamente dita, ha- criar; consumir, em lugar de realizar o traba-
vendo um papel crucial da escola (Bizzocchi, lho da reflexão”, denunciando um modo de
1999). “São as instituições educacionais, através comunicação restritivo, reforçado por um se-
de todas as suas manifestações concretas, que gundo plano ameaçador: “a educação em ciên-
estabelecem e regulamentam os mecanismos de cia é por vezes um tema que intimida mais os
transferência cultural, de especialização de hie- especialistas do que a ciência em si mesma”
rarquias, das formas de conhecimento social- (Chauí, 1983:59).

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Não há participação da comunidade cientí- científica se justifica” (Bizzocchi, 1999:29). Os


fica nas políticas de educação em ciências, e a historiadores de ciência ressaltam como o co-
falta de verbas e o tamanho reduzido dessa co- nhecimento científico foi mantido distante da
munidade contribuem para obstaculizar ini- sociedade pelos próprios cientistas, para res-
ciativas (Lannes et al., 1998). Questiona-se o guardar seu status social; a ciência sedimen-
peso social que essa comunidade possui para tou-se longe da sociedade, guardando a histó-
influenciar as políticas de ensino e pesquisa, e ria das idéias científicas uma enorme distância
o ensino e comunicação de ciência no país. Por da sociologia do comportamento coletivo (Coo-
outro lado é sublinhado o fato de que os recur- ter & Pumfrey, 1994). No contexto brasileiro,
sos destinados à ciência provêm do Estado ou questiona-se mesmo a quem servem as pes-
do grande capital privado, questionando-se se quisas (Chauí, 1983).
essas instituições têm genuíno interesse na di- A alfabetização em ciência é tomada como
fusão científica (Bizzocchi, 1999). Pouco se sa- uma contribuição à democracia, ao socializar o
be acerca de como as crenças dos leigos e da conhecimento científico de forma a encorajar
sociedade se relacionam com as dos cientistas o debate público e dificultar a centralização de
(Cooter & Pumfrey, 1994), mas “a idéia de que a decisões nas mãos de tecnocratas, e é tomada
ciência é monolítica, incompreensível, despro- como humanística, ao auxiliar que cada indiví-
vida de alma, e basicamente má para nós, for- duo aproveite todo o seu potencial, inclusive
ma o núcleo de um paradoxo central dos nosso biológico (Fourez, 1997), sendo tida como ins-
tempos: a ciência se tornou menos popular e trumento de melhoria da qualidade de vida
mais temida, apesar de sua influência e relação (Ribeiro et al., 1997). Fourez (1997) chega a de-
intrínseca com a nossa vida e atividades quoti- fini-la como um movimento social. Implicaria
dianas; menos perseguida e acalentada, embora em conferir aos indivíduos: certa autonomia;
cada vez mais essencial à base da educação de uma certa capacidade de comunicação; algu-
todos os seres humanos” (Gould, 1998:812). mas formas de lidar com situações específicas
A crítica da ciência nasce até dos meios e de negociar; isto inclui o pensar em ciências
científicos: quando examinamos a ciência con- e o agir em saúde. Para ele, o conhecimento
temporânea, dificilmente podemos vê-la como útil deve ser traduzido para as representações
instrumento de libertação e, muito menos, co- da vida quotidiana, inclusive para a tomada de
mo um pensamento criador que nos torna mais decisões – abarcando resoluções que afetam a
reais e mais ativos. Pelo contrário, condição e saúde dos indivíduos, servindo à autonomia e
fruto do “progresso”, a ciência tornou-se pode- ao manejo de situações (Fourez, 1997).
roso elemento de intimidação sócio-política, A democratização do conhecimento cientí-
através da noção de competência. “Poderíamos fico conferiria um dado poder, ao fornecer co-
resumir a noção de competência no seguinte re- nhecimento do qual a sociedade pode se servir
frão: não é qualquer um que pode dizer qual- (Bacon, 1984; Bizzocchi, 1999). Por conheci-
quer coisa a qualquer outro em qualquer lugar mento não se entenderia um puro arquiva-
e sob qualquer circunstância” (Chauí, 1983:58). mento de informações, mas “uma compreensão
Khün (1991), analisando as origens e pro- ordenada do mundo, que dá poder de ação ade-
pósitos da ciência, valorizou as decisões (mui- quado e eficaz” (Luckesi, 1986:30). “Confere um
tas vezes não-intencionais, não-racionais, mas verdadeiro conhecimento, no sentido de que a
nascidas também do acaso ou da irracionalida- representação do mundo por ele fornecido per-
de) pelas quais uma disciplina toma sua forma. mite agir. A vulgarização científica traz impli-
Uma ciência nasce em uma rede de interesses cações sócio-políticas importantes. Se o conjun-
que posteriormente é fácil analisar (Fourez, to da população não entende nada de ciência,
1995). Mas a construção de seus paradigmas, será pouco capaz de participar dos debates rela-
de seu conjunto de regras e das representações tivos às decisões que lhe dizem respeito. Mas se a
mentais e culturais que regem seu surgimento, vulgarização científica der às pessoas conheci-
não são culturalmente neutros. Feyerabend mentos suficientemente práticos para que elas
(1975) refere-se à ciência como “a religião dos possam ponderar sobre as decisões com melhor
cientistas”, e sugere um mesmo modus operan- conhecimento de causa, essa vulgarização é
di entre as transformações científicas e as reli- uma transmissão de poder” (Fourez, 1995:221);
giosas: retórica, carisma e apelo, gerando um seria o “poder transformador” do conhecimen-
modelo comunicacional controverso. “Os inte- to ( Vale, 1996). Saber significaria um aumen-
lectuais, com a elitização da ciência, termina- to nas potencialidades sociais e econômicas
ram isolados, inatingíveis, desconectados do (Fourez, 1997); “o mundo inteiro vem sendo,
contexto social e não compreendidos pela co- atualmente, empolgado por mudanças tão rá-
munidade em benefício da qual a atividade pidas, que o atraso cultural se transforma em

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verdadeira crise” (Lenhard, 1981:50). O desven- Os resultados científicos permanecem à


damento da realidade é citado como um ins- margem da vida, ou são apresentados como
trumento de conquista da cidadania por dar verdades absolutas. No entanto, são apenas mo-
suporte a decisões. delos, construídos por e para seres humanos,
Os conteúdos não só são necessários para a com o objetivo de lidar com a realidade (Fou-
formalização da mente, mas possuem um valor rez, 1997), seja qual for o sentido que se queira
em si mesmos; são o resultado do esforço da dar a esta. Se numa pretensa difusão científica
humanidade em compreender o mundo e ca- “o que me é dado sob a aparência de saber não é
racterizados como um direito individual (Luc- sequer o próprio saber, mas sua caricatura ba-
kesi, 1986). Se, de um lado, os próprios cientis- nalizada e vulgarizada; recebo, sob a forma de
tas pontuam a superioridade da qualidade dos informação, uma versão degradada de um sa-
conteúdos e da abordagem sobre a quantidade ber que desconheço tanto no nível de sua pro-
no ensino de ciências (Rutherford, 1999), de dução quanto no de seu consumo” (Chauí, 1983:
outro, as críticas a esse ensino se referem a ex- 59), talvez o caminho não esteja em meramen-
cesso de conteúdo, predomínio de atividades te condenar conceitos e práticas antigos, mas,
de memorização sobre as de compreensão, em ponderando os percursos que a história
centralização excessiva em livros-textos, ina- construiu, inventar um novo modelo de criar e
dequação à realidade e ao contexto social e pro- comunicar ciência para a saúde do homem.
fissionais mal-treinados (Ribeiro, 1964).

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