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Uma presa fácil – o serviço missionário na igreja (Parte I)

Eu não fui missionária na igreja Mórmon. Porém, tive muita proximidade desse trabalho por
ter me casado com um ex-missionário e também por ter sido uma pesquisadora da igreja por longos
dois anos da minha vida.
A obra missionária é o carro chefe do mormonismo. Você pergunta a uma pessoa: “conhece
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias?” A pessoa vai responder que não. Mas,
experimenta perguntar: “conhece uma dupla de rapazes que andam pra cima e pra baixo de
plaqueta, camisa branca e gravata?” “Sim! Os mórmons”. Os ex-missionários e as ex-missionárias
da igreja SUD costumam dizer que o tempo de serviço missionário são os melhores dois anos de
suas vidas. Assim, como os membros dizem o jargão “ser mórmon é ser feliz” kkkk.
Quando tive meu primeiro contato com os missionários mórmons e consequentemente, com
a igreja, aos 16 anos de idade, por incrível que pareça o Jornal O GLOBO tinha publicado uma
matéria com o seguinte título: “Não deixe os mórmons (missionários) entrarem em sua casa, pois
eles não sairão mais”, algo assim. Nós rimos desse título. Porém, o autor estava certo! Missionários
são treinados para, após um primeiro contato, não deixar a pessoa escapar. Primeiro, eles
apresentam uma versão hollywoodiana da história da igreja. Tudo casa. Não há espaço para
qualquer tipo de dúvida. Eles estão prontos para responderem tudo. Lembro que eles deixavam a
sensação de que aderir a essa nova religião seria algo muito leve. Sem muitos prejuízos dos meus
relacionamentos afetivos.
Se tem uma coisa que a igreja mórmon faz é propaganda enganosa. Se eles fossem sinceros
poderiam dizer: Preparados para nos dar quase todo seu tempo livre? Preparados para começarem a
semana cansados? Preparados para deixar sua família não-membro de lado e nos assumir como sua
nova família? Preparados para criar seus filhos da maneira que NÓS entendemos ser melhor pra
eles? Preparados para casarem com quem a gente quer que você case? Não tome decisões na sua
vida! Deixe que a gente tome por você. Escolha profissões que se ajustem bem aos interesses da
igreja. Cadê os médicos mórmons? Raridade! Você tem que dançar conforme a música deles. Casar
no tempo deles. Parar tudo para fazer missão, afinal é uma mandamento! Menos para quem é peixe
grande na seita. Já tem filhos? Não? Ué… o que está acontecendo?
Na doutrina mórmon, há uma hierarquia que diz que em primeiro lugar vem DEUS, segundo
a família e terceiro a igreja. MENTIRA! Primeiro, a igreja. Segundo, a igreja. Terceiro, a igreja.
Experimenta faltar a igreja um domingo e dizer que quer ficar com a sua família. Como isso é visto
por seus líderes? Eles te espremem até você sentir suas energias ruírem por aqueles corredores
frígidos de intermináveis reuniões e afazeres. Depois que você acorda e olha pra trás, vê o prejuízo
que foi ter levado isso tudo a sério. Muitas pessoas podem dizer: “mas, eu não senti nada disso”.
Então, você não levou essa brincadeira a sério. Tenho certeza que não tem como uma pessoa viver o
mormonismo sem sair com sequelas dele. Certeza!
Voltando aos meus tempos de pesquisadora, penso que fui uma presa fácil. Não estou
dizendo que os missionários são pessoas ruins, muito pelo contrário, são rapazes e moças, na
maioria das vezes maravilhosos, que são tão vítimas desse sistema perverso, que se transveste de
religião para propagar sua loucura e estilo de vida. Minha família tentou me alertar. Meus amigos
também. Mas, comprei a lógica de que se a igreja de Cristo foi perseguida, eu também seria.
Comprei a falácia que aquele modo de vida era o melhor para mim, mais elevado, mais especial.
Nesse caminho perdi muita coisa. Quantas festinhas organizei, passeios, quanto peso carreguei
subindo a ladeira “Professor Lacê” a pé para pessoas do mormonismo que não fiz por minha própria
família. Enfim, uma tristeza.

Sobre as coisas que ganhei…. Ao decidir publicar esses textos, recebo muitos comentários de
censura. Que deveria sair quieta do mormonismo, afinal ganhei muitas coisas ao longo da minha
caminhada nessa religião. É verdade. Ganhei muito. Amigos, casei com um excelente homem, mas
nem de longe, esses ganhos deveriam servir para me silenciar. Para abaixar minha crítica sobre um
sistema que, acredito eu, ser perverso com seus membros. A lógica do “Sê grato e fique quietinho”
não cola aqui não.

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