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ATITUDES PARA COM CRISTO

João 6:66-71 Esta é uma passagem animada pela tragédia, porque nele está o princípio do fim.
Houve um momento em que parecia que as pessoas iriam em massa a Jesus. Quando esteve
em Jerusalém para a Páscoa muitos viram seus milagres e creram em seu nome (2:23). Tantos
eram os que iam para ser batizados por seus discípulos que chegaram a constituir uma
moléstia 4:1-3). Em Samaria tinham acontecido coisas maravilhosas (4:1,39, 45). Na Galiléia no
dia anterior a multidão o tinha seguido (6:2). Mas agora as coisas tinham mudado de tom; de
agora em diante o ódio iria aumentar até culminar na cruz. João nos introduz no último ato da
tragédia. Circunstâncias como estas são as que revelam o coração dos homens e os mostram
tal qual são. E nesta ocasião se davam três atitudes diferentes para Jesus. (1) Abandono.
Houve aqueles que lhe deu as costas e não voltaram a segui-lo. Agruparam-se a seu redor e
agora começavam a abandoná-lo. Afastavam-se por diferentes razões. Alguns viam com toda
clareza para onde se dirigia Jesus. Não era possível desafiar desse modo às autoridades e ao
poder constituído e sair ileso. Dirigia-se ao desastre e eles se retiravam a tempo. Eram pessoas
que estavam acostumados a estar onde esquentava o Sol. Tem-se dito que a prova de fogo de
um exército é a maneira como luta quando está cansado. Os que se afastaram teriam seguido
a Jesus enquanto sua carreira ascendia mas quando viram a primeira sombra da cruz,
desapareceram.

João (William Barclay) 250 Havia aqueles que se afastavam porque os atemorizava o desafio e
a ordem que Jesus tinha dado. Fundamentalmente, seu ponto de vista era que se
aproximaram de Jesus para obter algo dele; quando se tratou de sofrer por Ele e de lhe
entregar algo, desapareceram. Quando o fato de segui-lo era algo romântico e agradável,
estavam dispostos a fazê-lo; quando o caminho se tornou acidentado e duro, abandonaram-
no. Em realidade, tinham pensado em ser discípulos por razões muito egoístas. Não há
ninguém que possa nos dar tanto como Jesus mas, sem dúvida alguma, se nos aproximarmos
dele com o único propósito de receber sem dar nada, em seguida lhe daremos as costas.
Aquele que quer seguir a Jesus deve sempre ter em mente que no caminho de Jesus sempre
há uma cruz. (2) Deterioração. Em quem mais vemos esta deterioração é em Judas. Jesus deve
ter visto nele um homem a quem podia usar para seu propósito. Mas Judas, que poderia
haver-se convertido em herói, converteu-se em vilão. E aquele que poderia ter sido um santo
se converteu no próprio nome da vergonha. Há uma história terrível a respeito da experiência
de um pintor que estava pintando a Santa Ceia. Era um quadro grande e levou muitos anos
concluí-lo. Saiu a procurar um modelo para o rosto de Cristo, e encontrou um jovem de uma
beleza e pureza tão transcendente que o usou para pintar a Jesus. O quadro foi adiantado
pouco a pouco e um a um foi pintando os discípulos. Chegou o dia em que precisou um
modelo para Judas cujo rosto tinha deixado para o final. Saiu para buscá-lo nos bairros mais
pobres da cidade, onde havia todos os vícios e perversões. Por fim encontrou um homem com
uma cara tão depravada e viciosa que o escolheu como modelo para o rosto de Judas. Quando
estava por terminar a figura, o homem lhe disse: "Você me pintou antes". "Por certo que não",
respondeu o pintor. "Sim", respondeu o homem, "e a última vez fui seu modelo para Cristo".
Os anos tinham arruinado a esse homem. A vida sempre envolve um perigo terrível. Os anos
podem ser cruéis. Podem fazer desaparecer nossos ideais, nosso entusiasmo, nossos sonhos e
lealdades. Podem nos

João (William Barclay) 251 deixar com uma vida que diminuiu em vez de crescer. Podem nos
deixar um coração mesquinho, cujo amor por Deus não cresceu. A vida pode fazer perder a
beleza. Deus nos livre disso! (3) Decisão. Esta é a versão que João nos dá da grande confissão
de Pedro que nos outros Evangelhos aparece na Cesaréia de Filipe (Marcos 8:27; Mateus
16:13; Lucas 9:18). Uma situação como esta evocou a lealdade no coração de Pedro. Para
Pedro, o fato concreto era que não havia nenhum outro a quem acudir. Para ele o único que
tinha as palavras de vida era Jesus. Agora, devemos assinalar uma coisa. A lealdade de Pedro
se baseava em uma relação pessoal com Jesus Cristo. Havia muitas coisas que Pedro não
compreendia, estava tão intrigado e surpreso como qualquer dos outros. Mas em Jesus havia
algo pelo qual estava disposto a morrer. Em última instância, o cristianismo não é uma
filosofia que aceitamos; não é uma teoria a qual nos aderimos; não é uma elaboração do
pensamento; não é algo que se alcança intelectualmente. É uma resposta pessoal a Jesus
Cristo. É a resposta do coração ao magnetismo de Jesus. É uma lealdade e um amor que o
homem entrega porque seu coração não lhe permite agir de outro modo.

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