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CERS CARREIRAS

JURÍDICAS

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 07
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 

Capítulo 7 (você está aqui!) – Teoria do ato, fato e negócio



jurídico

Capítulo 8 – Defeitos do Negócio Jurídico 

Capítulo 9 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 10 – Introdução, elementos e classificação das Obrigações 


Capítulo 11 - Transmissão, Adimplemento, Extinção e Inadimplemento

das Obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

O presente capítulo não é extenso. Ele tratará sobre dois temas relacionados:
principalmente, a Teoria do Ato, Fato e Negócio Jurídico e a Escada Ponteana, com foco nos

pontos mais incidentes nos certames por nós analisados.

Os assuntos doutrinários, como a escada ponteana e a diferença entre ato jurídico


stricto sensu, ato fato e negócio jurídico, não são considerados de fácil compreensão. Por isso,

é preciso que o aluno fique muito atento a eles, principalmente no estudo para a 2 a fase
(prova subjetiva) e para as provas orais.

Quanto aos artigos do Código Civil acerca dos negócios jurídicos, a atenção deve ser

redobrada no estudo para provas objetivas, pois seus detalhes costumam ser muito cobrados,
conforme veremos nos testes deste e dos próximos dois capítulos.

Não há diferenciação quanto à sua cobrança nos certames analisados. Percebeu-se que

o negócio jurídico, por estar na Parte Geral do Código Civil, é cobrado de maneira recorrente
e em todas as carreiras jurídicas. A cobrança resume-se mais à letra seca dos artigos do

Código Civil correspondentes. Portanto, é fundamental que o aluno acompanhe o presente


capítulo com a lei e sempre a leia e a releia.

Recomenda-se que o aluno revise antes do certame, principalmente, a parte do Código

Civil que se refere aos elementos acidentais do negócio jurídico.

Vamos então começar o estudo do negócio jurídico! Pegue seu vade mecum e mãos à
obra!

2
SUMÁRIO

Capítulo 7 .................................................................................................................................................. 4

7. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos .................................................................................................. 4

7.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico..................................................................................................................... 4

7.1.1 Fato Jurídico ............................................................................................................................................................ 4

7.1.2 Ato Jurídico .............................................................................................................................................................. 5

7.1.3 Escada Ponteana.................................................................................................................................................... 7

7.2 Negócio Jurídico.................................................................................................................................................... 9

7.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos ........................................................................................................ 11

7.2.2 Elementos do Negócio Jurídico ................................................................................................................... 12

7.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico ................................................................... 16

7.2.3.1 Condição ............................................................................................................................................................ 17

7.2.3.2 Termo................................................................................................................................................................... 19

7.2.3.3 Encargo ou Modo .......................................................................................................................................... 20

7.2.4 Manifestação de vontade .............................................................................................................................. 21

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 22

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 26

GABARITO ............................................................................................................................................... 38

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 39

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 40

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 42

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 43

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 47


3
DIREITO CIVIL

Capítulo 7

Apesar de o presente capítulo ser bastante teórico, ele contribuirá muito para a

compreensão de temas posteriores. Então, não deixe de fazer uma leitura atenta e gravar ao
menos a diferença entre os principais institutos, com destaque aos elementos acidentais do

negócio jurídico e à escada ponteana.

Estão prontos para estudar como o Direito trata fatos da vida real e em quais categorias
eles se inserem?

7. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos

7.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico

7.1.1 Fato Jurídico


O Fato Jurídico é um acontecimento para o qual uma norma jurídica, atribui um
efeito jurídico. Ou seja, há repercussão no mundo jurídico, existe conexão entre o fato
ocorrido e a lei. Este efeito, decorrente do fato, poderá ser: a aquisição; a conservação; a

transferência; a modificação; e a extinção de direitos.

O fato jurídico (em sentido amplo) costuma ser dividido em:

● Fato Jurídico Natural (ou em sentido estrito)1: Independe da vontade humana. E


se subdivide em:

1
Vide Questão 2
4
 Originário (o simples decurso do tempo os provoca, exemplos: o nascimento,
a morte, a maioridade, prescrição);
 Extraordinário (são os fatos do acaso, a exemplo do caso fortuito, ou força
maior, das tempestades e dos terremotos que ocasionem danos às pessoas).
● Fato Jurídico Humano ou Fato Jurígeno: Decorre de um ato humano (Ex:
reconhecimento da paternidade, um contrato, uma doação).

Ato Fato é um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento


humano em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração pelo autor.

Assim, a vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir efeitos normalmente. Em
outras palavras o Ato Fato é desprovido de voluntariedade e consciência em direção ao

resultado jurídico existente.

Exemplos: Criança de 5 anos indo comprar bala em um bar, ou criança que pesca um peixe e,

se torna dono do peixe, e, também, descobrimento de tesouro por alguém, sem querer.

7.1.2 Ato Jurídico


O ato é a ação humana e poderá ser lícito (aquele que cumpre o ordenamento
jurídico, sendo regido pelas regras do negócio jurídico) e ilícito (aquele que viole o

ordenamento jurídico, ou seja, todo aquele que viole direito e cause danos a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito).

Atenção aqui, pois há corrente doutrinária que entende que o Ato Ilícito não é ato

jurídico, pois para os autores adeptos a essa corrente, a licitude é um elemento do ato
jurídico. Ex: Flávio Tartuce, Pablo Stolze e Zeno Veloso.

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Da primeira corrente, a qual os atos ilícitos são considerados jurídicos, tem-se Pontes de

Miranda, Silvo Venosa e Moreira Alves.

O ATO LÍCITO LATO SENSU subdivide-se:

● Ato jurídico em sentido estrito: O ato jurídico em sentido estrito (meramente


lícito) é não negocial. Seus efeitos estão previstos em lei, não importando a
vontade das partes, não há a chamada autonomia privada. Ou seja, há uma
manifestação de vontade, mas os efeitos são gerados independentemente de
serem perseguidos diretamente pelo agente. Exemplos: ocupação de um imóvel,
pagamento de uma obrigação, a confissão ou reconhecimento espontâneo de filho.

● Negócio jurídico: é o ato que tem como consequência efeitos jurídicos desejados
pelas partes. É ato negocial. Estará presente a autonomia privada. O contrato é o
principal exemplo de um negócio jurídico.

A doutrina diverge quanto à natureza jurídica do pagamento. Tem autores que falam
que é negócio jurídico bilateral ou unilateral, ato jurídico, etc. Em concurso se recomenda que
considere como ato jurídico stricto sensu, pois no CC não se anula pagamento por vício do

negócio jurídico.

Sendo assim, o negócio jurídico é fato humano, voluntário, que tende a provocar efeitos

jurídicos por meio de determinado ato. Os efeitos são desejados pelas partes (é ato negocial).

Por sua vez, ATO ILÍCITO é todo comportamento humano que viola o ordenamento
jurídico (lei, moral, ordem pública e bons costumes), podendo ser civil, administrativo ou

penal. É regido pelos arts. 186 a 188 e tem relação direta com o instituto da responsabilidade
civil.

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Assim, o ato ilícito civil é caracterizado pela presença do dano ou abuso de direito,

conforme prevê o art. 186, caracterizando a regra da responsabilidade subjetiva. Sobre o


tema, trataremos de maneira mais aprofundada em capítulo posterior.

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes”.

O art. 188, por sua vez, dispõe sobre os Excludentes de Responsabilidade:

“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo”.

7.1.3 Escada Ponteana

Plano de eficácia
Plano de
Plano de existência
validade

INEXISTENTE INVÁLIDO – NULO/ANULÁVEL INEFICAZ

Teoria divulgada no Brasil por F. C. Pontes de Miranda, explica os diferentes níveis de


um negócio jurídico, também de um ato ou fato jurídicos. O CC menciona apenas os planos

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da validade e da eficácia, no entanto a doutrina também trata do plano da existência, primeiro

plano a ser analisado.


O plano da existência é o plano do ser. Nele entram todos os fatos jurídicos lícitos ou
ilícitos. Um evento ocorre no mundo dos fatos. Para entrar no mundo jurídico, ele deve estar ,

de alguma forma, abstratamente previsto em alguma norma.


Ao sofrer a incidência da norma jurídica, o fato é transportado para o mundo jurídico,

ingressando no plano da existência. Como saber quanto do fato, ato ou negócio se mostra
relevante para o Direito? Por meio do SUPORTE FÁTICO, o qual delimita a extensão da

incidência da norma. O suporte fático não se confunde com a norma jurídica. Ele é um
conceito do mundo dos fatos, trata-se da hipótese fática abstratamente prevista,

condicionante da existência do fato jurídico.


Assim, apenas parte do fato do mundo dos fatos ingressa para o mundo jurídico. E a
existência desse fato constitui premissa de que decorrem todas as demais situações que

podem ocorrer no mundo jurídico.


É muito relevante saber que no plano da existência deve haver a presença dos

elementos mínimos do negócio jurídico, que são os agentes ou partes, o objeto, forma e
vontade.

Por sua vez, no plano da validade2 passa-se à análise, uma vez que haja expressão da
vontade humana nesse fato jurídico, do que é perfeito, isto é, que não tem qualquer vício

invalidante. Os atos jurídicos lícitos que não tem vontade como elemento (fato jurídico stricto
sensu, atos-fatos jurídicos e os fatos ilícitos), não estão sujeitos ao plano da validade, pois
não podem ser nulos ou anuláveis.

A nulidade ou anulabilidade (graus da invalidade) prendem-se à deficiência de


elementos complementares do suporte fático relacionados ao sujeito (capaz), ao objeto

(lícito, possível, determinável ou determinado) ou à forma (prescrita ou não defesa em lei)


do ato jurídico.

Por fim, o plano da eficácia é a parte do mundo jurídico onde os fatos jurídicos
produzem os seus efeitos. Este plano, do mesmo modo que o anterior, pressupõe que o fato

2
Vide questão 1
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jurídico tenha passado pelo plano da existência, contudo, não, essencialmente, pelo plano de

validade.
Isto, pois, os fatos jurídicos stricto sensu, ato fato jurídico e fatos ilícitos para que
tenham acesso ao plano da eficácia, bastam que existam.

Já, o ato jurídico válido, em regra, tem entrada imediata no plano da eficácia, com
exceção dos que mesmo válidos são ineficazes. Os atos anuláveis entram, de logo, na eficácia

e irradiam seus efeitos, mas interimisticamente (interimístico = provisórios que podem se


tornar definitivos), pois poderão ser desconstituídos caso sobrevenha a decretação de sua

anulabilidade. Os seus efeitos, contudo, podem se tornar definitivos, caso haja a sanação da
anulabilidade, inclusive pela decadência da pretensão anulatória.

Ademais, os atos nulos, em regra, não produzem sua plena eficácia. Acontece, no
entanto, que há casos, embora poucos, em que o ato jurídico nulo produz, plena e
definitivamente, efeitos jurídicos que lhe são atribuídos (exemplo: casamento putativo).

7.2 Negócio Jurídico3


Aprofundando o estudo sobre o negócio jurídico é preciso ter em mente que o mesmo
é uma declaração privada de vontade que visa a produzir determinado efeito jurídico,
relativo a direitos e obrigações. Assim, o negócio jurídico apresenta-se como uma norma

concreta estabelecida pelas partes. Sua característica primordial é que ele constitui um ato de
vontade que atua no sentido de obtenção de um fim pretendido.

Deste modo, no negócio jurídico temos uma declaração de vontade, emitida segundo

princípio de autonomia privada, pela qual o agente, nos limites da função social e da boa-
fé objetiva, disciplina efeitos jurídicos possíveis escolhidos segundo a sua própria liberdade

negocial.

3
Vide Questão 4, 5 e 7
9
Atualização legislativa em 2019: Os §1º e 2º do artigo 113 do CC foram incluídos pela

Lei 13.874/19, os quais dispõem:

“Artigo 113 (...)

§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do


negócio;

II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de


negócio;

III - corresponder à boa-fé;

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e

V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão


discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica
das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração.

§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de


preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei”.(grifamos)

Lembre-se que a declaração de vontade é elemento essencial do negócio jurídico, ou


seja, é seu pressuposto. A declaração de vontade, além de condição de validade, constitui

elemento do próprio conceito e, portanto, da própria existência do negócio jurídico.

Além disso, a vontade obrigatoriamente precisa ser manifestada. Esta exteriorização


pode se dar de forma expressa, quando assume a forma escrita ou a falada; ou de forma

tácita quando a declaração de vontade resultar apenas do comportamento do agente. Ambas


as formas (expressa e tácita) são reconhecidas pelo ordenamento jurídico como válidas.

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Há casos em que será necessária a forma expressa e, além disso, no modo escrito. Exemplos:
artigos. 108, 1806 do CC.

7.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos


Abordaremos as classificações consideradas mais importantes.

● Quanto ao número de partes e processos de formação:

 Unilaterais: O aperfeiçoamento do ato se dá com uma única manifestação de


vontade.

 Bilaterais: Há sempre a manifestação de duas vontades diferentes, porém


recíprocas, concordantes e coincidentes, sobre o mesmo objeto. Ex: os

contratos. Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em


simples (há vantagens para uma das partes e ônus para a outra, ex: o

comodato e a doação) e sinalagmáticos (haverá ônus e vantagens recíprocos,


ex: o aluguel e a compra e venda).
 Plurilaterais: manifestações de vontade emanadas de mais de duas posições

diferentes, mas que não são, propriamente, opostas, convergem sobre o


mesmo objeto. Exemplo: contrato de constituição de sociedade. Não é

necessária a presença de mais de dois lados.

Se o número de partes envolvidas for superior a duas, o negócio será plurilateral.

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● Quanto às partes e ao tempo em que produzem efeitos:

 Inter vivo: As consequências jurídicas ocorrem durante a vida dos


interessados (ex.: doação, troca, mandato, compra e venda, locação).
 Mortis causa: Regulam relações após a morte do sujeito, do declarante (ex.:
testamento, legado). Assim, a eficácia depende da morte, e esta compõe o
suporte fático.

● Quanto ao seu conteúdo:

 Patrimoniais: Originam direitos e obrigações de conteúdo econômico,

suscetíveis de aferição econômica. São obrigacionais os negócios jurídicos de


direito das obrigações e outros ramos, exceto os que não envolvam

atribuição patrimonial, exemplo: compra e venda, doação, locação.

 Extrapatrimoniais ou pessoais: São aqueles relacionados aos direitos

personalíssimos e ao direito da família. Apresentam conteúdo não

econômico. Exemplo: adoção e casamento.

● Quanto à forma:

 Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei (ex.: testamento;


negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou

renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o

maior salário mínimo vigente no País – artigo 108 do CC).

 Não formais (não solenes): Não exigem solenidades ou forma especial (a


forma é livre). Podem, por exemplo, ser efetivados de forma verbal. Para

tanto, observe:

7.2.2 Elementos do Negócio Jurídico


O negócio jurídico para ser válido requer (art. 104, do CC):

● Manifestação de vontade livre e de boa-fé;

● Agente capaz e legitimado,

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● Objeto lícito, possível,

● Determinado ou determinável e

● Observada a forma para o cumprimento do ato, nos termos da lei (forma


prescrita ou não defesa em lei).

Assim, para a validade do ato, o Código Civil exige agente capaz. Tal capacidade deve
ser aferida no momento do ato, ou seja, a pessoa nesse momento deve ser dotada de

consciência e vontade. Além disso, deve ser reconhecida por lei como apta a exercer por si
mesma os atos da vida civil.

As pessoas absolutamente incapazes serão representadas pelos seus representantes


legais e as

relativamente incapazes serão assistidas. Assim, será nulo o ato praticado diretamente
por pessoa absolutamente incapaz e anulável o realizado por pessoa relativamente incapaz.

A parte não poderá se valer da incapacidade relativa do outro para se beneficiar,

salvo se for indivisível e se tratar de objeto do direito ou coisa comum.

Em segundo lugar o Código Civil estabelece que o objeto seja possível, afastando,

deste modo, os negócios que tiverem prestações tanto fisicamente quanto juridicamente
impossíveis.

A impossibilidade, a que se refere o legislador, pode ser absoluta, ou seja, comum a

todas as pessoas, ou pode ser relativa, alcançando apenas o agente.

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Nos termos do artigo 106 do CC, a impossibilidade inicial do objeto não invalida o

negócio jurídico se ela for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele
estiver subordinado. Exemplo: vender o carro antes do dinheiro ser entregue.

O objeto também deve ser determinado, ou ao menos determinável, e lícito.

A licitude do objeto é regulada pela forma negativa, ou seja, chegamos à compreensão

do objeto lícito pelo conceito que temos de ilicitude.

A lei impõe limitações ao objeto do negócio, que não gozará de proteção legal quando
for contrário às leis de ordem pública, ou aos bons costumes. A sanção quanto ao objeto

inidôneo, conforme art. 166, inciso II, é a nulidade do ato.

Por fim, é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à forma prescrita
ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A regra é que a forma seja livre, como

dispõe o artigo 107 do CC.

Ademais, importante observar que a manifestação de vontade é elemento essencial


do negócio jurídico e subsiste (mantém-se) mesmo que a pessoa que a manifestou tenha

feito reserva mental.

Reserva mental 4 é uma declaração não querida em seu conteúdo, tendo por objetivo
enganar o destinatário, sendo que a vontade declarada não coincide com a vontade real do

declarante. O declarante oculta a sua verdadeira intenção.

Superada essa análise, partiremos para o estudo de alguns pontos importantes:

4
Vide Questão 10
14
● O silêncio importa anuência, ou seja, a concordância, mas são duas as condições
necessárias: as circunstâncias ou os usos assim devem autorizar; e a declaração de
vontade na forma expressa não pode ser necessária. (art. 111 do CC);

● Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do


que ao sentido literal da linguagem, ou seja, a intenção dos contratantes prevalece
sobre o sentido literal do texto (art. 112 do CC);

● Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do


lugar de sua celebração (art. 113 do CC);

● Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente5. Os


negócios jurídicos benéficos (ou gratuitos) são aqueles nos quais uma das partes
obtém benefícios sem qualquer contraprestação, apenas uma das partes aufere
benefício enquanto a outra parte assume a obrigação (exemplo: a doação pura).
Este tipo de negócio jurídico, assim como a renúncia, deve ser interpretado
estritamente, ou seja, no momento da interpretação o magistrado deve restringir-se
ao alcance da lei, portanto, sem ampliá-la. (art. 114 do CC).

● Se não há vontade (há coação física, por exemplo) o negócio é inexistente. Porém,
se há vontade, mas esta não é totalmente livre, pois houve coação moral, então o
negócio é inválido. Em outras palavras, com a coação física não existe vontade, e,
consequentemente, o negócio não existe, porém a coação moral embaralha a plena
vontade (ela existe, mas não é válida), nesse caso o negócio é inválido.

5
Vide Questão 8
15
O art. 108, do CC, dispõe sobre a necessidade de escritura pública para a validade de
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de

direitos reais sobre imóveis de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).

Mas a promessa de compra e venda não precisa de escritura pública, podendo ser
celebrada por instrumento particular. Os negócios garantidos por alienação fiduciária de

imóveis também não exigem escritura pública, nem a aquisição de imóveis pelo SFH.

7.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico


Os elementos acidentais fazem parte do plano da eficácia, podendo ou não ocorrer.
Estes elementos são facultativos, porém uma vez inseridos no negócio, passam a integrá-lo,
tornando-se, de certa forma, essenciais. São chamados de facultativos (acidentais, acessórios),

16
porque tecnicamente o negócio pode sobreviver sem eles.

Em nosso Código Civil, temos três modalidades de elementos acidentais: condição,

termo e encargo (modo).

7.2.3.1 Condição6
Seu conceito encontra-se no art. 121 do CC: “Art. 121 Considera-se condição a cláusula

que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico
a evento futuro e incerto.”

Da leitura desse artigo temos que a condição deve referir-se a fato futuro. Fato

passado ou presente não pode constituir-se em condição. Também deve relacionar-se a fato
incerto. A condição é elemento da vontade e somente opera porque os interessados no

negócio jurídico assim desejaram, deste modo, no negócio jurídico não há condição derivada
de lei. Sendo assim, enquanto a condição não se realizar, os efeitos do ato não podem ser

ainda exigidos.

A eficácia do negócio jurídico dependerá da condição. Porém, há certos atos que não
admitem condição (são denominados atos puros), como, por exemplo, no caso dos direitos

de família e direitos personalíssimos. Assim, o casamento, o reconhecimento de filho, a


adoção, dentre outros, não admitem condição.

Ademais, há determinadas condições que invalidam os negócios jurídicos. Elas

encontram-se previstas no art. 123 do CC:

I. Condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II. Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III. Condições incompreensíveis ou contraditórias.

É importante registrar, ainda, que a condição é classificada quanto ao modo de atuação


em: condição suspensiva e condição resolutiva.

6
Vide Questão 3, 6 e 9
17
● Condição suspensiva (art. 125 e 126 CC): ocorre quando as partes protelam a

eficácia do negócio jurídico. Este só terá sua eficácia após o implemento de uma
condição, um acontecimento futuro e incerto. A condição suspensiva deverá
atender ao art. 123, inciso I, ou seja, ela não pode ser fisicamente ou juridicamente

impossível, porque se o for o negócio será nulo. Enquanto ainda não verificada a
condição, não há direito e obrigações recíprocos. E, ademais, a condição suspensiva

suspende a exigibilidade e a aquisição do direito.

● Condição resolutiva (artigo 127 e 128 CC): É quando se subordina a ineficácia do


negócio jurídico a um evento futuro e incerto. Enquanto este evento não ocorrer,
vigorará o negócio jurídico. Além disso, uma vez verificada a condição, se extingue
o direito que a ela se opõe. Assim, essa condição desfaz os efeitos jurídicos que

estavam sendo produzidos pelo negócio.

Condição puramente potestativa – depende de mero capricho, sujeitando todo o efeito do

ato ao arbítrio exclusivo de uma das partes. Portanto, é ilícita, visto que se caracteriza como
abuso de poder econômico e/ou desrespeito ao princípio da boa-fé objetiva, acarretando o

desaparecimento de qualquer vínculo volitivo entre as partes.

Condição simplesmente potestativa – são admitidas pois não dependem apenas da


manifestação de vontade de uma das partes, mas também de algum acontecimento ou

circunstância exterior que escapa ao seu controle, não caracterizando qualquer forma de
abuso de poder.

Excepcionalmente, o ordenamento jurídico admite, situações em que a vontade

exclusiva de uma das partes prevalece interferindo na eficácia jurídica do negócio jurídico,
como por exemplo, o direito de arrependimento, previsto no artigo. 49 do CDC.

18
7.2.3.2 Termo
O momento de início ou do fim da eficácia do negócio e que será determinado pelas
partes ou fixada pelo agente. Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do

qual se pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no qual se
encerra a produção de efeitos dos negócios jurídicos. Assim, o termo inicial suspende a
eficácia de um negócio até a sua ocorrência, enquanto o termo final resolve seus efeitos.

O termo se aproxima muito das condições suspensivas e resolutivas. A diferença entre


os dois institutos, é que o termo é modalidade do negócio jurídico que tem por escopo
suspender a execução ou o efeito de uma obrigação, até um momento determinado, ou o

advento de um evento futuro e certo. Já a condição se refere a evento futuro e incerto,


desse modo, o implemento da condição pode vir a falhar e o direito nunca vir a se consumar.

Apesar de o termo ser sempre certo, o momento de sua ocorrência pode ser

indeterminado (incerto). É por isso que surge a denominação de termo certo (determinado) e
termo incerto (indeterminado). A obrigação a termo certo constitui o devedor em mora,

enquanto a de termo incerto, necessita de interpelação do devedor.

No termo inicial, não se impede a aquisição de seu direito, apenas se retarda seu
exercício. O que se depreende é que a existência do termo inicial suspende o exercício, ou

seja, o exercício ficará suspenso até a ocorrência do termo (ele ainda não ocorreu). Lembrando
que a aquisição (parte final do artigo) é imediata (artigo 131 CC). O direito que se adquire a

termo surge no momento do negócio jurídico, pois não há uma pendência (é diferente de
condição), aqui o evento é futuro e certo.

Existem atos que não admitem a colocação de termo, como nos casos de direitos de

personalidade, nas relações de família e nos direitos que, por sua própria natureza, requerem
execução imediata. Portanto, não se admite termo: a emancipação, o casamento, a adoção, o

reconhecimento de filho, a aceitação ou a renúncia.

Por fim, vale ressaltar o artigo 135 do CC, o qual dispõe que ao termo inicial e final,
aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.

19
7.2.3.3 Encargo ou Modo
É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida, ou melhor é um ônus. Por
exemplo, quando uma mãe dá um dinheiro de presente a um filho, mas diz que ele precisa

usar parte dele para comprar material escolar. Obs.: Geralmente o encargo é colocado em
doações, mas nada impede que se refira a qualquer ato de índole gratuita (liberalidades).

Desse modo, podemos perceber que o encargo apresenta–se como cláusula acessória

às liberalidades, quer estabelecendo uma finalidade ao objeto do negócio, quer impondo


uma obrigação ao favorecido, em benefício do instituidor, ou de terceiros, ou mesmo da
coletividade. Porém, não deve o encargo se configurar em contraprestação, ou seja, não

pode ser visto como contrapartida ao benefício concedido. Se o encargo não for cumprido a
liberalidade poderá ser revogada.

O encargo, assim como ocorre na condição, deve estar em obrigação lícita e possível.

De acordo com o art.137 do CC, a ilicitude ou impossibilidade do encargo torna-o não escrito,
exceto se for determinante da liberalidade e, neste caso, será inválido o negócio jurídico.

Também se o ato é fisicamente irrealizável, tem-se por não escrito.

Ademais, importante registrar que o não cumprimento do encargo poderá resolver a


liberalidade, mas a posteriori. O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do direito.

CONDIÇÃO SUSPENSIVA
TERMO “QUANDO” ENCARGO “PARA QUE”
“SE”

Suspende a aquisição e Suspende o exercício, Não suspende a

o exercício do direito. mas não a aquisição do aquisição nem o

20
Não tem direito direito. Tem direito exercício do direito. Tem

adquirido. adquirido. direito adquirido.

7.2.4 Manifestação de vontade

Levando-se em conta a boa-fé que deve reger os negócios jurídicos, a manifestação de


vontade deve também ser interpretada observando a finalidade a que se destina o
negócio. Assim, ela subsistirá ainda que o autor haja feito reserva mental de não querer o

que manifestou, salvo se o destinatário do ato tinha consciência disto (artigo 110 CC).

O Código deixou claro que, quanto à manifestação de vontade, prevalecerá a vontade

real do agente, devendo a atenção ser voltada mais à intenção do agente, do que às palavras
literais expressas. No que diz respeito ao silêncio, ele será considerado como anuência se, as

circunstâncias autorizarem e a anuência expressa não for necessária.

IMPORTANTE, pois isso despenca nas provas objetivas: serão interpretados de forma

restritiva os negócios jurídicos benéficos e a renúncia.

21
QUADRO SINÓPTICO

TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO JURÍDICO


 Fato jurídico natural (ou em sentido estrito)
 Originário: o simples decurso do tempo os provoca, ex: morte.
FATO JURÍDICO  Extraordinário: são os fatos do acaso, ex: terremoto.
 Fato Jurídico Humano ou Fato Jurígeno: ato humano.

É um fato jurídico onde há um ato humano em que não há qualquer


Ato Fato Jurídico vontade, ou essa não fora levada em consideração pelo autor.
A vontade não integra o suporte fático.
Pode ser lícito ou ilícito.
O ato jurídico LÍCITO lato sensu subdivide-se em:
 Ato jurídico em sentido estrito: efeitos estão previstos em lei.
ATO JURÍDICO  Negócio jurídico: tem como consequência efeitos jurídicos
desejados pelas partes. Existe autonomia privada.

Teoria divulgada no Brasil por F. C. Pontes de Miranda


ESCADA PONTEANA
PLANO DA EXISTÊNCIA: plano do ser.
Presença dos elementos mínimos do negócio jurídico: agentes ou
Plano da existência
partes, o objeto, forma e vontade.
 Analisa se os elementos não têm qualquer vicio invalidante.
 Os atos jurídicos lícitos que não tem vontade como elemento não
estão sujeitos ao plano da validade, pois não podem ser nulos ou
anuláveis.
Plano da validade
 A nulidade ou anulabilidade indicam a deficiência de elementos
complementares do suporte fático relacionados ao sujeito (capaz), ao
objeto (lícito, possível, determinável ou determinado) ou à forma
(prescrita ou não defesa em lei) do ato jurídico.
 Pressupõe que o fato tenha passado pelo plano da existência,
contudo, não, essencialmente, pelo plano de validade. Por exemplo:
o ato fato jurídico para tenham eficácia, basta que exista.
Plano da eficácia
 Os atos anuláveis entram, de logo, na eficácia e irradiam seus efeitos,
mas provisoriamente, pois poderão ser desconstituídos caso
sobrevenha a decretação de sua anulabilidade.

22
 Os atos nulos, em regra, não produzem sua plena eficácia.
 Há poucos casos, no entanto, que o ato jurídico nulo produz,
plena e definitivamente, efeitos jurídicos que lhe são atribuídos
(exemplo: casamento putativo).
 Constitui um ato de vontade que atua no sentido de obtenção de
um fim pretendido.
 Importante! Incidência do princípio de autonomia privada. As
NEGÓCIO JURDICO
partes disciplinam efeitos jurídicos possíveis escolhidos segundo a
sua própria liberdade negocial.

● Quanto ao número de partes e processos de formação:

 Unilaterais: única manifestação de vontade.


 Bilaterais: manifestação de duas vontades diferentes, porém
recíprocas, concordantes. Ex: os contratos.
Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em:
o simples (vantagens para uma das partes e ônus para a
outra, ex: doação) e
o sinalagmáticos (ônus e vantagens recíprocos, ex: aluguel).
 Plurilaterais: manifestações de vontade emanadas de mais de
duas posições diferentes. Ex: constituição de sociedade.
Classificação dos
● Quanto às partes e ao tempo em que produzem efeitos:
negócios jurídicos

 Inter vivos: consequências jurídicas ocorrem durante a vida


dos interessados (ex.: doação, troca, mandato, compra e
venda).

 Mortis causa: regulam relações após a morte do declarante


(ex.: testamento). Assim, a eficácia depende da morte.

 Quanto ao seu conteúdo:


 Patrimoniais: Originam direitos e obrigações de conteúdo
econômico. Exemplos: compra e venda, doação, locação.
 Extrapatrimoniais ou pessoais: relacionados aos direitos
personalíssimos e ao direito da família. Exemplo: adoção.

 Quanto à forma:
 Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei
(ex.: testamento, etc).
 Não formais (não solenes): Não exigem forma especial (a

23
forma é livre). Podem ser efetivados de forma verbal.

O negócio jurídico para ser válido requer (art. 104, do CC):

 Manifestação de vontade livre e de boa-fé;


 Agente capaz e legitimado,
 Objeto lícito, possível, determinado ou determinável e
Elementos do Negócio
 Observada a forma para o cumprimento do ato, nos termos
Jurídico
da lei (forma prescrita ou não defesa em lei).

Obs.: é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à


forma prescrita ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A
regra é que a forma seja livre, como dispõe o artigo 107 do CC.
 Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
 Se não há vontade (há coação física, por exemplo) o negócio é
inexistente. Porém, se há vontade, mas esta não é totalmente livre,
Pontos relevantes acerca
pois houve coação moral, então o negócio é inválido.
dos negócios jurídicos
 é necessária escritura pública para a validade de negócios
jurídicos que visem à transferência de direitos reais sobre imóveis
de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).
Fazem parte do plano da eficácia e são facultativos. Porém uma vez
inseridos no negócio, passam a integrá-lo.

CONDIÇÕES
Há CONDIÇÕES que sempre invalidam os negócios jurídicos:
 Condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;
 Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
 Condições incompreensíveis ou contraditórias.

ELEMENTOS ACIDENTAIS Diferenças entre condição suspensiva e resolutivas:

DO NEGÓCIO JURÍDICO  Condição suspensiva: negócio só terá eficácia após o


implemento de uma condição (acontecimento FUTURO e
INCERTO). A condição suspensiva suspende a exigibilidade e a
aquisição do direito.
 Condição resolutiva: quando se subordina a ineficácia do
negócio jurídico a um evento FUTURO e INCERTO.
Enquanto esse evento não ocorrer, vigorará o negócio jurídico.

24
 Condição puramente potestativa - sujeita o efeito do ato ao arbítrio
exclusivo de uma das partes. É ilícita.
 Condição simplesmente potestativa – são admitidas pois não
dependem apenas da manifestação de vontade de uma das partes.

TERMO
Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do qual se
pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no
qual se encerra a produção de efeitos.
O direito que se adquire a termo surge no momento do negócio
jurídico, pois aqui o evento é futuro e certo.

ENGARGO ou MODO
É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida (é um ônus).
Porém, não deve o encargo se configurar em contraprestação,
IMPORTANTE: O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do
direito.
A manifestação subsistirá ainda que o autor haja feito reserva mental
de não querer o que manifestou.
Silêncio: será considerado como anuência se, as circunstâncias
Manifestação da vontade autorizarem e a anuência expressa não for necessária.

IMPORTANTE! Serão interpretados de forma restritiva os negócios


jurídicos benéficos e a renúncia (muito incidente em prova!)

25
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(AJURI - 2018 - Desenvolve - RR - Advogado) Assinale a alternativa que NÃO pode ser
considerada um requisito para a validade do negócio jurídico.

a) Agente capaz.

b) Licitude do objeto.

c) Negociações preliminares.

d) Objeto determinado ou determinável.

e) Possibilidade física ou jurídica do objeto.

Comentário:

A alternativa a ser assinalada é a letra C.

De acordo com o art. 104, CC, negociações preliminares não são requisitos de validade

de um negócio jurídico.

“Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei”.

Um mnemônico usado é a palavra EVE: E - existência; V - validade; E - eficácia

26
Questão 2

(CESPE - 2017 - DPE-AL - Defensor Público) Se, após uma tempestade, uma árvore cair sobre

um veículo e causar danos a alguém, esse evento será classificado como


a) ato fato jurídico.
b) ato unilateral.

c) negócio jurídico.
d) fato jurídico em sentido estrito.

e) ato jurídico em sentido estrito.

Comentário:

A alternativa a ser assinalada é a letra D.

Lembre-se que o fato jurídico é o acontecimento independente da vontade


humana que produz efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos. No caso
narrado não há nenhuma intervenção humana.

Questão 3

(CESPE - 2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Município) Acerca de ato e


negócio jurídicos e de obrigações e contratos, julgue o item que se segue.

Não constitui condição a cláusula que subordina os efeitos de um negócio jurídico à aquisição
da maioridade da outra parte.

a) Certo

b) Errado

27
Comentário:

O item está CERTO. Assim, deve o aluno assinalar a letra A.

A questão pede uma interpretação da letra da lei. É desta forma que se apresentam

muitas das questões sobre condição e termo. Por isso, o aluno deve conhecer bem o conceito
de tais institutos.

Conforme o art. 121, CC, considera-se condição a cláusula que, derivando

exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro
e incerto.

Diferente da condição, o termo subordina o negócio jurídico a evento futuro e certo.

Como a aquisição da maioridade da outra parte é um evento futuro e certo, pois

tem dia certo para acontecer (dia do aniversário), não constitui condição a cláusula que
subordina os efeitos de um negócio jurídico à aquisição da maioridade da outra parte.

Questão 4

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Itapevi - SP - Procurador do Município) No que diz respeito às


disposições gerais do negócio jurídico, é correto afirmar que

a) a renúncia ao negócio jurídico interpreta-se estritamente.

b) os negócios jurídicos benéficos interpretam-se amplamente.

c) quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de


vontade expressa, o silêncio importa em negativa.

d) em regra, a validade da declaração da vontade depende de forma especial.

e) em regra, a capacidade relativa de uma das partes deve ser invocada pela outra em

benefício próprio, sob pena de prescrição.

28
Comentário:

a) Correta. É a alternativa a ser assinalada. De acordo com o artigo 114 do Código Civil,

a renúncia deve ser interpretada estritamente, ou seja, de forma a restringir a interpretação


do texto que foge aos limites daqueles desejados pelo legislador.

b) Incorreta. Por se tratarem de um negócio onde apenas uma das partes aufere vantagem,

os negócios jurídicos benéficos devem se interpretados estritamente. Essa resposta também


está no art. 114, CC.

c) Incorreta. Ao contrário do que afirma a alternativa, o silêncio nesses casos importa em

anuência, ou seja, concordância da parte.

Art. 111, CC: “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o


autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.

d) Incorreta. Em regra, vigora-se no direito brasileiro a liberdade das formas, considerando

válidos todos os meios de exteriorização da vontade. Todavia, as declarações de vontade


dependerão de forma especial quando a lei expressamente exigir.

Art. 107, CC: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir”.

e) Incorreta. A capacidade do agente é um dos requisitos essenciais para validade do


negócio jurídico. Assim, quando há um agente incapaz relativamente, esta condição não pode
ser invocada pela outra parte em benefício próprio. Conforme a doutrina, a incapacidade

relativa é uma exceção pessoal, podendo ser alegada apenas pela parte por quem
a aproveita.

Art. 105, CC: “A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela
outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste
caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”.

29
Questão 5

(AOCP - 2016 - Prefeitura de Juiz de Fora - MG – Procurador do Município) De acordo com as


disposições contidas no Código Civil relativas aos Negócios Jurídicos, assinale a alternativa

correta

a) Os negócios jurídicos benéficos interpretam-se extensivamente.

b) Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados as condições juridicamente


impossíveis, quando resolutivas.

c) Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a

execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

d) São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, ainda que este seja acidental.

e) A escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,

transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a vinte
vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Comentário:

a) Incorreta. Pelo contrário, conforme o art. 114, CC, os negócios jurídicos benéficos

interpretam-se estritamente.

b) Incorreta. As condições impossíveis apenas invalidam os negócios jurídicos se suspensivas,


conforme o art. 123, I, do CC.

“Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:


I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas”.

c) Correta. A alternativa reproduz exatamente o que dispõe o art. 134 do CC: “Os negócios

jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser
feita em lugar diverso ou depender de tempo”.

30
d) Incorreta. O dolo acidental não enseja a anulação do negócio jurídico, gerando apenas a

obrigação de perdas e danos, de acordo com o art. 146, CC.

Art. 146, CC: “O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental
quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo”.

e) Incorreta. O correto não é “vinte vezes o maior salário mínimo” e sim “trinta vezes o maior
salário mínimo”.

Art. 108, CC. “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia
de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo
vigente no País”.

Questão 6

(CESPE - 2018 - TJ-CE - Juiz Substituto) Elemento acidental do negócio jurídico, a condição

possui, entre outras, as seguintes características:

a) impositividade e certeza.

b) acessoriedade e voluntariedade.

c) legalidade e futuridade.

d) involuntariedade e incerteza.

e) legalidade e brevidade.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra B. Trata-se de uma questão interessantíssima, vejamos


a explicação.

31
Não se trata de impositividade e certeza (letra A), já que, na forma do art. 121 do

Código Civil, considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade


das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Verifica-se,
assim, que a condição não é impositiva (cogente), posto que deriva da vontade das partes,

não sendo cláusula aplicável ex lege. Também não é certa a condição, posto que se refere a
evento futuro e incerto.

Trata-se, de um instituto acessório e voluntário. O termo “acessoriedade” pode ser

interpretado como desnecessário à validade do principal. A voluntariedade, por sua vez,


decorre do art. 121, já comentado na alternativa anterior.

A letra C está incorreta por causa da característica “legalidade”. As condições não estão
previstas em lei, e por dois motivos: (i) dependem da vontade das partes, (ii) não é possível
que o legislador preveja toda e qualquer condição possível de estabelecimento.

A letra D está incorreta por causa da característica “involuntariedade”. Já vimos que a

condição é uma cláusula voluntária, ou seja, depende da vontade das partes.

Por fim, sobre a letra E, a condição é breve (transitória) nas hipóteses em que ela
efetivamente se verifica; não havendo condição, ela se extingue junto com o próprio negócio

jurídico a qual integra. No entanto, como explicado anteriormente, as condições não estão
previstas em lei.

Questão 7

(Banca própria - 2017 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Assinale a alternativa que indica
corretamente uma disposição legalmente fixada para os negócios jurídicos.

a) Nas declarações de vontade, é imperativa a observância do sentido literal da linguagem

utilizada, sendo subsidiária a intenção da parte.

b) A validade da declaração de vontade não depende de forma especial, senão quando houver
expressa exigência legal nesse sentido.

32
c) A incapacidade relativa de uma das partes pode ser invocada pela parte interessada apenas

quando for em benefício próprio.

d) A impossibilidade inicial do objeto do negócio leva sempre à invalidade.

e) A escritura pública não é essencial para a validade de nenhum negócio jurídico, bastando às
partes a existência de instrumento particular.

Comentário:

Veja que a questão cobra apenas a letra da lei.

a) Incorreta. Pelo contrário, a intenção das partes prevalece em relação ao sentido literal da
linguagem, conforme o art. 112, CC.

Art. 112, CC: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.

b) Correta. A alternativa é exatamente o que está disposto no art. 107, CC.

Art. 107, CC. “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir”.

c) Incorreta. Conforme o Art. 105, CC, a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser

invocada pela outra parte em benefício próprio.

Art. 105, CC: “A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela
outra em benefício próprio, nem aproveita aos cointeressados capazes, salvo se,
neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”.

d) Incorreta. Fique atento quando a alternativa trouxer a palavra “sempre”, pois não é sempre
que a impossibilidade inicial do objeto invalida o negócio jurídico. Conforme o art. 106, CC, “a

impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se


cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado”.

33
e) Incorreta. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à

validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou


renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.

Questão 8

(Itame - 2020 - Câmara de Caldazinha - GO - Advogado) Sobre a interpretação dos negócios


jurídicos segundo o Código Civil Brasileiro, podemos afirmar:

a) As partes deverão se limitar às regras de interpretação previstas em lei.

b) As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, desde que em obediência


àquelas previstas em lei.

c) As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas

e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.

d) A interpretação somente poderá ser feita por terceiro eleito entre as partes, de forma
imparcial.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra C, que repete exatamente o art 113, §2º, CC: As partes
poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de

integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.

Trata-se da expressão do princípio do pacta sunt servanda. Esse brocardo latino que
significa ‘os pactos assumidos devem ser respeitados’ ou mesmo ‘os contratos assinados

devem ser cumpridos’". Já vimos em capítulo anterior que sua força diminuiu no CC de 2002,
no entanto, ele foi apenas mitigado, continuando a ser um importante princípio do Direito
Civil.

34
Questão 9

(CESPE - 2017 - PGE-SE - Procurador do Estado) Assinale a opção que apresenta o conceito

de condição, no âmbito dos negócios jurídicos.

a) Cláusula que sujeita o negócio ao emprego das técnicas de domínio do devedor.

b) Cláusula que submete a eficácia do negócio jurídico a determinado acontecimento.

c) Acontecimento futuro e certo que suspende a eficácia de um negócio jurídico.

d) Imposição de obrigação ao beneficiário de determinada liberalidade.

e) Cláusula que visa eliminar um risco que pesa sobre o credor.

Comentário:

Lembre-se que a condição, se presente, sempre se localiza no plano da eficácia. Tendo


isso em mente, conseguimos eliminar as alternativas A, D e E, que estão erradas.

Conforme o art. 121, a condição subordina o efeito de um negócio jurídico a um

acontecimento futuro e incerto. Assim, incorreta a alternativa C.

Nos restou o gabarito da questão, que é a alternativa B: a condição é uma cláusula que
submete a eficácia do negócio jurídico a determinado acontecimento.

Questão 10

(CESPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) No que concerne ao tratamento dado
pelo Código Civil aos bens e aos negócios jurídicos, julgue os itens a seguir.

35
I - O Código Civil classifica os bens públicos como de uso comum, de uso especial e

dominicais. Entre esses, apenas os dominicais estão sujeitos a usucapião, por seguirem o
regime de direito privado.

II - Exceto se houver manifestação das partes em sentido contrário, o negócio jurídico

realizado quanto ao bem principal inclui as pertenças, essenciais ou não essenciais, e os


acessórios.

III - Situação hipotética: Marcela e Marina realizaram determinado negócio jurídico em que a

declaração de vontade emitida por Marina era diversa de sua real intenção. Assertiva: A
reserva mental somente torna inválido o negócio jurídico se dela possuir conhecimento a
destinatária Marcela.

Assinale a opção correta

A) Apenas o item II está certo.

B) Apenas o item III está certo.

C) Apenas os itens I e II estão certos.

D) Apenas os itens I e III estão certos.

E) Todos os itens estão certos.

Comentário:

A questão cobrou nos dois primeiros itens a letra seca da lei, no último item, sua

adequação ao caso concreto.

I - Incorreta. Conforme vimos no capítulo 6, os bens públicos são classificados em: bens de
uso comum, de uso especial e dominicais, porém, nenhum bem público está sujeito a
usucapião.

36
Lembre-se do art. 102, CC e da Súmula 340 do STF:

Art.102, CC: “Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião”.


Súmula 340 do STF: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os
demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”.

II - Incorreta. De acordo com o art. 94, CC, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem

principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de


vontade, ou das circunstâncias do caso.

III - Correta. De acordo com o art. 110, CC, “a manifestação de vontade subsiste ainda que o

seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento”. Quando o destinatário conhece o blefe, o ato não não pode

subsistir, uma vez que ambas as partes estavam sabendo que não havia intenção de produzir
efeitos jurídicos.

Assim, como apenas o item III está correto, o gabarito é a letra B.

37
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - D

Questão 3 - A

Questão 4 - A

Questão 5 - C

Questão 6 - B

Questão 7 - B

Questão 8 - C

Questão 9 - B

Questão 10 - B

38
QUESTÃO DESAFIO

Joaquim é dono de uma grande fazenda no Estado da Bahia e, em


razão de um problema de saúde da sua mãe, se vê obrigado a
vendê-la o mais rápido possível. Assim, Joaquim coloca à venda a
fazenda avaliada em R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) por
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), visando obter, de forma
rápida, valores necessários para o pagamento do tratamento de
saúde da sua mãe. Desse modo, pergunta-se: Caso um comprador
decida adquirir esse imóvel, mesmo sem a intenção de auferir um
ganho exagerado na compra e nem causar prejuízo ao vendedor,
apenas aproveitando o que considera um excelente negócio, esse
negócio jurídico é válido? Fundamente. Ademais, esse negócio
jurídico pode ser convalidado?
Responda em até 5 linhas

39
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

De acordo com o art. 157 do CC, trata-se de um negócio jurídico com eivado pelo

vício da lesão, o que torna o negócio jurídico anulável. Quanto à possibilidade de


convalidação, o § 2º do art. 157 do CC prevê a sua possibilidade caso o comprador
concorde em suplementar o valor anteriormente pago.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Negócio jurídico anulável.

O art. 157 do CC fundamenta a ocorrência da lesão, vejamos: “Ocorre a lesão quando


uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.” Nesses termos, a lesão
caracteriza-se pela conjugação de dois elementos. O primeiro, de natureza subjetiva, é o
constrangimento à vontade da parte declarante derivada de premente necessidade ou
inexperiência. É chamada dolo de aproveitamento. O segundo, de natureza objetiva, é a
desproporção manifesta entre a obrigação assumida pela parte declarante e a prestação
oposta, já que uma parte haverá de ter um lucro exagerado em detrimento do outro.

Ademais, o respeitável doutrinador Silvio de Salvo Venosa nos ensina o momento em

que se observado o requisito objetivo da lesão: “A desproporção das prestações deve ser
aferida no momento de contratar. Quando surge posteriormente ao negócio, é irrelevante,

pois, nessa hipótese, estaríamos no campo da cláusula rebus sic stantibus (teoria da
imprevisão). A desproporção do preço deve ser apurada pela técnica pericial, devidamente

ponderada pelo julgador.” (Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia

Rodrigues. – 4. ed., – São Paulo: Atlas, 2019, p. 471).

 Art. 157, § 2º, do CC.

De acordo com o art. 157, § 2º, do CC: “Não se decretará a anulação do negócio, se for

oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do


40
proveito.” Sobre essa possibilidade de convalidação do negócio jurídico, o professor Fábio

Ulhoa Coelho aduz: “se partir dela uma proposta de proporcionalização das prestações
negociais – por meio de suficiente suplemento do devido ou redução do proveito –,
importando esta no reequilíbrio do negócio jurídico, preservar-se-á sua validade. Nessa

hipótese, deveras, desaparecido o elemento objetivo, descaracteriza-se a lesão.” (Coelho, Fábio


Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral I, volume 1 – 2. ed. – São Paulo: Thomson Reuters

Brasil, 2020, p. 212).

Assim, a menos que o comprador concorde em pagar os R$ 4.500.000,00 (quatro


milhões e quinhentos mil reais) pelo imóvel, o negócio é anulado. Retornará o bem ao

patrimônio de Joaquim, que deve restituir os R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ao


comprador.

41
LEGISLAÇÃO COMPILADA

FATO, ATO E NEGÓCIO JURÍDICO

 Código Civil: art. 104 a 137


 Atenção especial para o artigo 113, no qual houve a adição de parágrafos em 2019.

Não há súmulas correspondentes aos assuntos estudados.

42
JURISPRUDÊNCIA

Aluno, conforme já mencionado, o presente capítulo é bastante doutrinário. Por isso, há

abaixo apenas dois julgados que demonstram sua aplicação prática. Não deixe de lê-los, para
compreender melhor os temas estudados.

Escada Ponteana

 STJ, 4ª Turma, REsp 1190372/DF, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2015, publicado
em 27/10/2015)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA. TRADIÇÃO DO VEÍCULO. CONTRATO DE NATUREZA REAL. REQUISITO DE VALIDADE DO
NEGÓCIO JURÍDICO. ESCADA PONTEANA. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO. NEGLIGÊNCIA DA PARTE
AUTORA. MÁ-FÉ DA EMPRESA ALIENANTE. MATÉRIAS QUE DEMANDAM REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
VEDAÇÃO AO COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO. VALIDADE DO CONTRATO. REGISTRO EM CARTÓRIO.
ANOTAÇÃO NO CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEÍCULO. NECESSIDADE APENAS PARA PRESERVAR DIREITOS DE
TERCEIRO. SÚMULA 83/STJ. MORA DO DEVEDOR. NOTIFICAÇÃO PESSOAL. DESNECESSIDADE. ALEGAÇÃO DE
VULNERABILIDADE E CABIMENTO DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Não há falar em violação ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido resolve todas as questões
pertinentes ao litígio, tornando-se dispensável que venha a examinar todos os argumentos trazidos pelas partes.
2. Em negócio de alienação fiduciária em garantia, por se tratar de contrato de natureza real, a tradição constitui
requisito de validade do negócio jurídico. 3. A análise da pretensão recursal sobre a alegada ausência dos
elementos essenciais do contrato, negligência da parte autora e má-fé da empresa alienante demandaria a
alteração das premissas fático-probatórias estabelecidas pelo acórdão recorrido, com o revolvimento das provas
carreadas aos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da Súmula 7/STJ. 4.
Impõe-se, no caso, a aplicação da máxima venire contra factum proprium, tendo em vista que parte recorrente
primeiro anuiu ao prosseguimento do contrato e, em seguida, de modo oposto ao primeiro comportamento,
questionou sua validade e existência. 5. A exigência de registro do contrato de alienação fiduciária em
garantia no cartório de título e documentos e a respectiva anotação do gravame no órgão de trânsito não
constitui requisito de validade do negócio, tendo apenas o condão de torna-lo eficaz perante terceiros. 6.
Nos casos envolvendo contrato de alienação fiduciária, a mora deve ser comprovada por meio de notificação
extrajudicial realizada por intermédio do cartório de títulos e documentos, a ser entregue no domicílio do
devedor, sendo dispensada sua notificação pessoal. 7. A alegação de vulnerabilidade e da presença dos requisitos
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necessários ao deferimento da inversão do ônus da prova encontram óbice na Súmula 7/STJ. 8. Recurso especial
não provido” (negritamos).

Comentário:
No julgado acima, temos um exemplo de julgado em que é usado o termo “escada
ponteana” pelo STJ, mais especificamente, pelo relator do caso Min. Luis Felipe Salomão.
O tema desse julgado (que segue um entendimento há anos adotado pelo STJ) tornou-
se uma jurisprudência em tese do STJ, acerca do direito notarial e registral.
A tese fixada foi a seguinte: “a exigência de registro do contrato de alienação fiduciária
em garantia no cartório de título e documentos e a respectiva anotação do gravame no órgão
de trânsito não constituem requisitos de validade do negócio, tendo apenas o condão de
torná-lo eficaz perante terceiros”.
Veja que o STJ trata exatamente da “escada ponteana” que estudamos no presente
capítulo. Portanto, apesar de o tema ser bastante teórico, ele também é relevante na prática.
Ainda iremos analisar a alienação fiduciária de forma mais aprofundada, mas já é
importante saber que o se não houver seu registro no cartório, tal contrato continua valendo
entre as partes. O registro desse contrato, portanto, não é um requisito de validade.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1099480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 562)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - PROCEDIMENTO DE DÚVIDA SUSCITADO PELO OFICIAL DO CARTÓRIO DE


REGISTRO DE IMÓVEIS - DISCUSSÃO SOBRE A INTERPRETAÇÃO DO ART. 108 DO CC - PROCEDÊNCIA DA
DÚVIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS - ENTENDIMENTO PELA NECESSIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA PARA
REGISTRO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL CUJO VALOR DA AVALIAÇÃO PELO FISCO FOI
SUPERIOR A TRINTA SALÁRIOS MÍNIMOS, AINDA QUE O VALOR DO NEGÓCIO DECLARADO PELAS PARTES
TENHA SIDO INFERIOR. INSURGÊNCIA DA EMPRESA REQUERENTE DO REGISTRO. Hipótese em que o Oficial do
Cartório de Registro de Imóveis suscitou dúvida ao Poder Judiciário, referente à interpretação do art. 108 do CC.
O oficial cartorário e a empresa requerente do registro divergem quanto ao valor a ser considerado para fins de
incidência da regra legal em questão: para aquele, a escritura de compra e venda deve ser feita por instrumento
público, já que o fisco municipal avaliou o imóvel em valor superior a 30 (trinta) salários mínimos; para esta, a
escritura de compra e venda pode ser feita por instrumento particular, pois o valor do negócio declarado pelas
partes no contrato foi inferior a 30 (trinta) salários mínimos. As instâncias ordinárias entenderam que o valor a ser
considerado, para fins de aferição da necessidade de escritura pública no caso concreto, não deve ser aquele
declarado pelas partes, mas o da avaliação realizada pelo fisco, destacadamente quando o propósito dos
interessados e a finalidade precípua do instrumento é a transferência de propriedade do bem, e não apenas o de

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retratar uma mera transação. 1. A interpretação dada ao art. 108 do CC pelas instâncias ordinárias é mais
consentânea com a finalidade da referida norma, que é justamente conferir maior segurança jurídica aos
negócios que envolvem a transferência da titularidade de bens imóveis. 2. O art. 108 do CC se refere ao valor
do imóvel, e não ao preço do negócio. Assim, havendo disparidade entre ambos, é aquele que deve ser levado
em conta para efeito de aplicação da ressalva prevista na parte final desse dispositivo legal. 3. A avaliação feita
pela Fazenda Pública para atribuição do valor venal do imóvel é baseada em critérios objetivos previstos em
lei, refletindo, de forma muito mais consentânea com a realidade do mercado imobiliário, o verdadeiro valor do
imóvel objeto do negócio. 4. Recurso especial desprovido” (negritamos).

Comentário:
Durante o presente capítulo estudamos, além de outros dispositivos, o art. 108, CC.
Lembre-se de sua redação: “não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País”.
Como saber se o imóvel vale ou não mais do que 30 vezes o maior salário mínimo
vigente no país? Conforme o STJ, deve-se levar em conta o valor venal do imóvel calculado
pelo Fisco e não o preço do imóvel atribuído pelas partes.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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