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CERS CARREIRAS

JURÍDICAS

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 11
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 

Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 – Teoria Geral das Obrigações 

Capítulo 11 (você está aqui!) – Adimplemento, Extinção e



Transmissão das Obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie – Parte I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie – Parte II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Esse capítulo tem muita importância prática e também dentro do Direito Civil no

âmbito dos concursos públicos. Certamente, o examinador cobrará, em algum momento, o


que está nesse capítulo.

Não deixe de ler, principalmente, o tópico de jurisprudência comentada, pois como o

campo do adimplemento e inadimplemento é muito dinâmico, ele está em constante


transformação e adaptação pelos tribunais superiores.

Recomendamos o seguinte: leia primeiro tais artigos do Código Civil, ou, ao menos,

acompanhe a leitura do capítulo com a legislação ao lado, já que a maioria dos concursos de
Carreiras Jurídicas cobra a lei seca da lei. No entanto, conforme dito, não deixe, de jeito

nenhum, de dar atenção à jurisprudência do STJ. Alguns institutos usados no direito brasileiro,
como a teoria do adimplemento substancial, derivam do entendimento da STJ, e não da lei.

O capítulo é extenso, porém não traz conceitos de grande complexidade. Assim, mesmo

sendo grande, será lido rapidamente. Nele estudaremos basicamente o cumprimento e o


descumprimento das obrigações.

Vamos lá? Foco!

2
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 5

Capítulo 11 ................................................................................................................................................ 5

11. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ............................................................................................................ 5

11.1 Teoria do Pagamento ...................................................................................................................5

11.1.3.1 Condições Subjetivas do Pagamento .............................................................................7

11.1.3.2.3 Prova (quitação) do Pagamento .................................................................................. 13

11.1.3.2.4 Objeto do Pagamento .................................................................................................... 14

11.2 Formas Especiais de Pagamento .............................................................................................. 17

11.2.2 Pagamento Indireto ................................................................................................................. 20

11.3 Inadimplemento das obrigações (Responsabilidade civil contratual) ............................ 26

11.3.1.1 Inadimplemento Absoluto ............................................................................................. 27

11.3.1.1.1 Inadimplemento Absoluto FORTUITO......................................................................... 27

11.3.1.1.2 Inadimplemento absoluto CULPOSO .......................................................................... 28

11.3.1.2 Inadimplemento Relativo .................................................................................................... 30

11.3.2 Cláusula penal. .......................................................................................................................... 33

11.3.3 Arras...... ...................................................................................................................................... 39

11.3.4 Juros...... ...................................................................................................................................... 40

11.3.4.1 Anatocismo (juros capitalizados) ....................................................................................... 42

11.3.5 Comissão de Permanência ...................................................................................................... 43

11.4 Extinção das Obrigações .......................................................................................................... 44

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 45

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 52

GABARITO ............................................................................................................................................... 69

3
QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 70

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 71

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 73

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 76

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 94

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DIREITO CIVIL

Capítulo 11

Aluno, vamos continuar e acabar o estudo do Direito das Obrigações? Esse capítulo é
muito mais prático e dinâmico que o anterior, não desista!

Conforme vimos no capítulo anterior, as obrigações consistem no vínculo de direito,

que subordina determinada pessoa (devedor) em benefício de outra (credor) a dar-lhe alguma
coisa ou fazer ou, ainda, não fazer algo, com abordagem nos artigos 233 a 420 do Código
Civil. Nesse capítulo estudaremos do artigo 304 ao 420 e, principalmente, os julgados mais
relevantes do STJ a eles relacionados.

Recomendamos o seguinte: leia primeiro tais artigos do Código Civil, ou, ao menos,

acompanhe a leitura do capítulo com a legislação ao lado.

Mãos à obra!

11. Direito das Obrigações

11.1 Teoria do Pagamento

Pagamento significa, no Direito das Obrigações, adimplemento ou cumprimento


voluntário da prestação devida.

11.1.1 Natureza Jurídica do Pagamento

O pagamento é um fato jurídico. Porém, conforme vimos em capítulo anterior, a


doutrina diverge quanto á espécie de fato jurídico:

5
 Ato jurídico em sentido estrito: comportamento humano voluntário não negocial, cujo
efeito está previsto na lei.
 O pagamento enquanto fato jurídico é um ato negocial (Caio Mário é um dos
adeptos dessa linha de pensamento).

Recomendamos que não adote posição definitiva acerca do assunto. Devemos observar
o caso concreto para descobrir se o pagamento tem ou não natureza negocial.

Qual seria a utilidade de se reconhecer a natureza negocial do pagamento? É a


possibilidade de aplicação dos vícios do negócio jurídico.

11.1.2 “TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL” (Substancial


Performance)

A origem da teoria está no direito anglo saxônico do Século XVIII. A doutrina do

adimplemento substancial sustenta que a atividade do devedor, embora não haja sido perfeita,
aproximou-se substancialmente do resultado final esperado.

Para esta teoria, a luz do princípio da boa-fé, não se considera razoável resolver a

obrigação, quando a prestação, posto não adimplida de forma perfeita, fora substancialmente

atendida.

A despeito do que dispõe o art. 763 do CC, no contrato de seguro, é defensável,


para evitar injustiça, a aplicação da teoria do adimplemento substancial, pagando-se ao

segurado o valor da indenização devida, abatido o prêmio que ainda não havia sido pago. O
STJ inclusive, já́ aplicou a teoria para o contrato de alienação fiduciária de bens imóveis, Lei

9514/97 (REsp 415971/SP e 469577/SC).1

Ressalta-se que tal teoria tem sido aceita, mas a depender do caso concreto2.

Requisitos para a aplicação da teoria do adimplemento substancial:

1 Vide questão 2.
2 Vide jurisprudência comentada abaixo sobre teoria do inadimplemento substancial.
6
 Existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes;

 O pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do


negócio;

 Deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao


direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.

Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil: Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento
substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função

social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.

11.1.3 CONDIÇÕES DO PAGAMENTO

As condições (ou requisitos) são:

 Condições subjetivas do pagamento;


 Condições objetivas do pagamento.

 Condições Subjetivas do Pagamento

 Quem pode pagar

Art. 304. Qualquer INTERESSADO na extinção da dívida pode


pagá-lá, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes á
exoneração do devedor.

Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro NÃO


INTERESSADO, se o fizer em nome e á conta do devedor, salvo
oposição deste.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu


próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não
se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só́ terá́


direito ao reembolso no vencimento.
7
Em primeiro plano, o pagamento deve ser feito pelo devedor ou seu representante; no

entanto, o sistema brasileiro, admite que o pagamento possa ser feito também pelo terceiro
(interessado ou não interessado). Exemplo: qualquer um pode pagar uma conta de qualquer

um.

O terceiro interessado é aquele que se vincula juridicamente à obrigação, posto não


seja parte dela, como por exemplo: fiador ou avalista.

Ou seja, também poderá pagar o terceiro NÃO interessado, aquele desprovido de

interesse jurídico no cumprimento da obrigação.

Quais são os efeitos jurídicos que decorrem do pagamento feito pelo terceiro
interessado ou não? Afinal, o devedor pode se opor a pagamento feito por terceiro?

O terceiro interessado, a exemplo do fiador, ao efetuar o pagamento, sub-roga-se em

todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor originário. Por ter interesse jurídico,
tem muita força. Quando ele paga, ele assume a posição de credor originário. Com os

direitos, os privilégios, as garantias...

No caso do terceiro NÃO interessado, duas situações podem ocorrer, na forma dos arts
304 e 305 do CC:

 Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome, terá pelo menos direito
ao reembolso. Não se sub-roga em todos direitos e garantias por ventura existentes.
 Se o terceiro não interessado, todavia, pagar apenas em nome do devedor, não terá
direito a nada.

O devedor pode opor-se ao pagamento feito por terceiro?

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Nos termos do art. 306 do CC ẽ possível a oposição do pagamento, desde que o

devedor indique ter meios de satisfazer o credor. Também é possível a oposição, quando
há fundamento relevante, a exemplo da prescrição da dívida.

Em uma perspectiva civil constitucional, em respeito ao princípio da dignidade da

pessoa humana, é razoável entender-se que a preservação dos direitos da personalidade do


devedor justifica a oposição ao pagamento. Pode ser que o terceiro queira utilizar a dívida de

má-fé, como por exemplo, querer humilhar o devedor, por ser seu concorrente empresarial.

Pode então ser que o devedor se oponha ao pagamento de terceiro não interessado
com fundamento nos direitos de personalidade.

Pode, embora seja incomum, ainda se opor ao pagamento por terceiro interessado,

desde que justificadamente, como por exemplo, dívida prescrita.

 A quem se deve pagar 3

Em primeiro plano, o pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o


represente.

É juridicamente possível também, o pagamento feito a TERCEIRO, observando-se as

duas seguintes condições:

 O credor deverã ratificar o pagamento, ou, caso não o faça, poderá o devedor
demonstrar que o pagamento reverteu em proveito daquele.
 Também será considerado eficaz pagamento feito a terceiro nos termos do art. 309,
á luz da “Teoria da Aparência” no caso do credor putativo.

3 Vide questão 3.
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Teoria da Aparência

O que dá base principiológica a essa teoria, é o princípio da boa-fé. O credor putativo


parece ser credor, mas não é, o devedor de boa-fé incorrendo em erro escusável efetua o

pagamento a uma pessoa imaginando que ela é a credora, é um pagamento motivado pela
boa-fé a quem aparenta ser credor, mas não o é.

O que existe aqui é um pagamento feito de boa-fé, segundo o princípio da confiança, a

quem aparenta ser credor sem ser.

Exemplo: ex-representante de empresa de vendas por catálogo se faz de atual


representante, e na venda se apresenta como credor para o consumidor, que, com boa-fé

efetua o pagamento como costumava fazer, para receber após 15 dias os produtos.

 Condições Objetivas do Pagamento

As condições objetivas são:

 Tempo do pagamento;
 Lugar do pagamento;
 Prova (quitação) do pagamento;
 Objeto do pagamento.

 Tempo do Pagamento

Em regra, na forma do art. 331 e ss, o pagamento deve ser feito no VENCIMENTO da
dívida. Caso a obrigação não tenha vencimento certo, salvo norma especial em contrário, o
credor pode exigi-la de imediato.

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Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido
ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo
imediatamente.

Esse artigo configura o chamado Princípio da Satisfação Imediata, o qual está ligado
diretamente ao art. 397, § único:

Art. 397, Parãgrafo ũnico. Não havendo termo, a mora se


constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Seria a chamada mora ex persona (precisa dar ciência que está em mora). Diferente
da mora ex re, a qual é automática.

Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do


implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste
teve ciência o devedor.

No caso do mútuo de dinheiro, existe regra específica (artigo 592, II CC) no sentido de
que, não se estipulando um vencimento, o prazo mínimo para pagamento é de 30 dias.

O que o Código Civil prevê sobre o vencimento antecipado da dívida?

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de


vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em
execução por outro credor;

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III – se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do
débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor intimado, se negar a
reforçá-las.
Parágrafo Único. Nos casos desse artigo, se houver, no débito,
solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros
devedores solventes.

O Código Civil prevê além do artigo 333, outra hipótese de antecipação do vencimento
da dívida, previsto no artigo 133, no qual se dispõe que o prazo é uma benesse do devedor,

portanto, disponível para ele, desde que não gere prejuízo para o credor.

 Lugar do Pagamento4

Regra do direito brasileiro nos termos do art. 327, as dívidas são QUESĨVEIS
(querable), ou seja, o pagamento é feito no domicílio do devedor. (BIZU: Seu Barriga vai
até seu Madruga para cobrar a dívida).

Excepcionalmente, se o pagamento for feito no domicílio do próprio credor, as


dívidas são PORTÃVEIS (portable).

O que acontece se no título da obrigação houver dois ou mais lugares para o pagamento?

4 Vide questão 5.
12
Nesse caso, a escolha deverá ser feita pelo credor.

Não confundir aqui com o caso de obrigações genéricas e alternativas em que, não
sendo previamente determinada a escolha da prestação, esta caberá ao devedor.

Mais exceções quanto ao local de pagamento:

 Artigo 328, CC: se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações


relativas a este, o pagamento será feito no lugar onde é situado o bem.

 Artigo 329, CC: se ocorrer motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar
determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, desde que sem prejuízo para o
credor.

 Artigo 330, CC: o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir
renúncia do credor ao previsto no contrato (Princípio do venire contra factum
próprium: desdobramento da boa fé objetiva, evita que o credor, quebre o princípio
da confiança adotando comportamento contraditório.).

 Prova (quitação) do Pagamento

O ato jurídico que traduz a prova do pagamento é a QUITAÇÃO, regulada a partir


do art. 319 do CC. O recibo é o documento da quitação, o instrumento da quitação. A
quitação sempre poderá ser por instrumento particular (recibo).

Caso o credor se negue a dar a quitação, poderá o devedor ingressar com a


consignação em pagamento.

O que se entende por “presunções” de pagamento? Pressupõe-se que houve


quitação. Os artigos 322 a 324 do CC trazem as presunções relativas, as quais, admitem, prova
em contrário.

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Art. 322. “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a

quitação da última estabelece, atẽ prova em contrário, a

presunção de estarem solvidas as anteriores”5.

Quer dizer, pode-se não ter a quitação das anteriores, mas há a presunção que estão

pagas. Se paga março, presume-se pagas as de fevereiro, janeiro, até prova em contrário. O

ônus de provar o contrário ẽ do próprio credor.

Art. 323. “Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes
se presumem pagos”.

Como os juros são um bem acessório, gerado pelo capital, uma vez que este último foi
quitado, há uma presunção que os juros também o foram.

Art. 324. “A entrega do título ao devedor firma a presunçáo do


pagamento. Parágrafo único - Ficará sem efeito a quitaçáo
assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do
pagamento”.

 Objeto do Pagamento

REGRA 1: Nos termos do art. 313, o credor não é obrigado a receber prestação
diversa, ainda que mais valiosa. Regra da intangibilidade do objeto.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da


que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

REGRA 2: Luz do princípio da indivisibilidade, nos termos do art. 314, o credor não é
obrigado a receber nem o devedor a pagar por partes, se assim não se convencionou ou se a

lei permitir.

REGRA 3: O art. 315 consagra o princípio do nominalismo, segundo o qual, nas


obrigações pecuniárias o devedor libera-se pagando a mesma quantidade de moeda prevista

5 Vide questão 7.
14
no título da obrigação. Este princípio sobre certo aspecto utópico é relativizado pelos

mecanismos de correção monetária.

A variação cambial pode ser utilizada como ĩndice de correção monetãria?

A variaçáo cambial não pode ser utilizada como índice de correçáo monetária,

salvo em situaçóes excepcionais, como na hipótese do leasing (arrendamento mercantil) ou


quando houver autorizac̃ão especĩfica prevista em lei (vide Lei 8.880/94 art. 6º).

O salãrio mĩnimo pode ser utilizado como ĩndice de correção de pensão


alimentĩcia?

A rigor náo poderia (vedado pelo CC art. 1710 e pelo inciso IV, art. 7º da CRFB mais

Súmula vinculante no 4 do STF).

STF SŨMULA VINCULANTE No 4 Salvo nos casos previstos na


constituiçáo, o salãrio mĩnimo náo pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou
de empregado, nem ser substituído por decisáo judicial.

A despeito da polêmica, defende Maria Berenice Dias, com propriedade, amparada em

precedentes do próprio STF (RE 274897) a possibilidade de utilizac̃ão do salário mínimo


como critẽrio de correc̃ão de pensão alimentĩcia – hermenêutica social, aplicaçáo

no caso concreto.

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DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OBJETIVA

 Venire contra factum proprium: consiste na vedação do comportamento

contraditório, uma vez que não é razoável admitir-se que uma pessoa pratica
determinado ato ou conjunto de atos e, sem seguida, realize conduta

diametralmente oposta.

 Supressio: consiste na perda (supressão) de um direito pela falta de seu exercício


por razoável lapso temporal. Assim, na tutela da confiança, um direito não exercido
durante determinado período, por conta desta inatividade, perderia sua eficácia, não

podendo mais ser exercitado. Nessa linha, à luz do princípio da boa-fé objetiva, o
comportamento de um dos sujeitos geraria no outro a convicção de que o direito

não seria mais exigido.

 Surrectio: é o outro lado da moeda da supressio. O instituto da surrectio se


configura no surgimento de um direito exigível, como decorrência lógica do

comportamento e uma das partes.

 Tu quoque: a aplicação do tu quoque se constata em situações em que se verifica


um comportamento que, rompendo com o valor da confiança, surpreende uma
das partes da relação negocial, colocando-a em situação de injusta desvantagem.
Um bom exemplo é a previsão do art. 180 do CC/2002, que estabelece que o
“menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou
se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.

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11.2 Formas Especiais de Pagamento

11.2.1 Pagamentos Diretos

 Pagamento em Consignação
Devedor deposita a coisa devida, liberando-se de obrigação líquida e certa. Se a
dívida for em dinheiro o depósito pode ser extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art.

890, §1º, CPC).

Contudo, se, em sede de ação consignatória, for constatada a insuficiência do depósito

realizado pelo devedor, o pedido será julgado improcedente, pois o pagamento parcial da
dívida não extingue o vínculo obrigacional, segundo tese fixada em sede de julgamento de
repercussão geral pelo STJ (Tema 967 – REsp 1.108.058-DF).

Ocorre nas seguintes hipóteses:

 Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;

 Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;

 Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou


residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;

 Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do


pagamento;

 Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a


consignação)

Há possibilidade de levantamento do depósito pelo devedor, a depender do momento


em que ele pretender realizar tal ato, em busca de retornar ao status quo ante. Assim:

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 Antes da aceitação ou impugnação do depósito: o devedor total liberdade para
levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu do seu patrimônio
jurídico.

 Depois da aceitação ou impugnação do depósito pelo credor: o depósito só


poderá ser levantado com a anuência do credor, que perderá a preferência e a
garantia que lhe competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e
co-devedores que não tenham anuído (art. 340).

 Julgado procedente o depósito: o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o


credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art. 339).

 Pagamento com Sub-rogação


Substituição na obrigação de uma pessoa por outra, com os mesmos ônus e

atributos (avalista que paga a dívida). A sub-rogação transfere ao novo credor todos os
direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor
principal e fiadores.

A sub-rogação acarreta, necessariamente, dois efeitos:

 Liberatório: pela extinção do débito em relação ao devedor original;

 Translativo: pela transferência da relação obrigacional para o novo credor.

São modalidades de sub-rogação:

 Sub-rogação legal/de pleno direito (pleno iure ou automática)

 É a sub-rogação do credor que paga a dívida do devedor comum (art. 346,


CC).

 Do adquirente do imóvel hipotecado que paga a dívida; bem como do terceiro


que paga a dívida para não perder o imóvel (afastar a evicção).

 Do pagamento por terceiro interessado na dívida. Ex.: fiador.

 Sub-rogação convencional (pagamento indireto) terceiro desinteressado

18
 Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere os seus direitos: aplicam-se as regras de cessão de crédito (art. 348,
CC). O devedor não precisa concordar, apenas ser notificado (eficácia).

 Quando terceira pessoa empresta dinheiro ao devedor para ele pagar a dívida
ficando convencionada a sub-rogação. Ex.: mútuo.

 Imputação do Pagamento
Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos, a

um só credor, tem o direito de escolher qual deles está pagando.

A indicação é realizada pelo devedor, pelo credor ou pela lei, sucessivamente nessa
ordem (favor in debitoris), sendo a ordem de imputação legal a seguinte:

 Juros precede capital.

 Dívida líquida e vencida primeiro.

 Dívida mais onerosa (maior custo de manutenção): de maior valor (em


regra).

Havendo igualdade total entre as dívidas, a imputação do pagamento será proporcional.

19
11.2.2 Pagamento Indireto

 Dação em Pagamento
Acordo de vontades entre credor e devedor, com o objetivo de extinguir a obrigação,

no qual o credor consente em receber coisa (móvel ou imóvel) diversa da originalmente


devida (artigo 356 CC).

Assim, é a entrega de uma coisa por outra, e não a substituição de uma obrigação

por outra. Em certas situações especiais, a dação é vedada pelo ordenamento, por se travestir
em cláusula comissória (art. 1428 do CC).

Não confundir a dação em pagamento (datio in solutum) com a datio pro solvendo,
também chamada de dação em função do pagamento, pois esta não satisfaz plenamente o

interesse do credor, mas sim facilitar o seu cumprimento.

Quais os requisitos da dação em pagamento?

 A existência de uma obrigação vencida;


 Consentimento do credor;
 Cumprimento de prestação diversa pelo devedor;
 Anumis solvendi – intenção de pagar.

20
 Novação6

Criação de obrigação nova e extinguindo a anterior, modificando o objeto (objetiva


ou real) ou substituindo uma das partes (subjetiva = ativa – substituição do credor; passiva –

substituição do devedor). Não podem ser objeto de novação as dívidas extintas ou nulas.

Trata-se de modo extintivo não satisfatório, tendo natureza jurídica negocial, não
podendo ser imposta por lei.

Assim, ocorre quando:

 Devedor contrai com credor nova obrigação para substituir a anteriormente


estabelecida;

 Quando novo devedor sucede ao antigo ou quando há substituição do


credor por outro, decorrente de nova obrigação.

São requisitos da novação:

 Obrigação anterior (novada): existência da antiga obrigação;

 Obrigação nova (novadora): totalmente nova;

 Animus novandi (vontade de realizar a novação): expresso ou tácito, mas


sempre inequívoco (art. 361, CC).

São modalidades da novação:

 Novação objetiva ou real: substituição da prestação;

 Novação subjetiva ativa: substituição do credor;

 Novação subjetiva passiva: substituição do devedor;

São espécies da novação:

 Delegação: acontece com o consentimento do antigo devedor.

 Expromissão: ocorre sem o consentimento do antigo devedor (art. 362, CC).


Possível.

6 Vide questões 1 e 6.
21
Caso ocorra a novação subjetiva por expromissão, mesmo sendo o novo devedor

insolvente, não tem o credor ação regressiva contra o primeiro devedor. Ocorrerá a novação
por expromissão (art. 362, do Código Civil) quando um terceiro assume a dívida do devedor

originário, substituindo-o no polo passivo da obrigação, sem o seu (do devedor)


consentimento, mas com a anuência do credor.

Na novação subjetiva, não basta a alteração dos personagens da relação jurídica,

devendo haver, ainda, a alteração simultânea da própria relação obrigacional, assim,


sempre exigirá a criação de uma nova relação obrigacional e extinção da originária.

São efeitos da novação:

 Liberatório: a extinção da primitiva obrigação, por meio de outra, criada para


substituí-la;

 Extinção dos acessórios e as garantias da dívida: exceto em caso de


aquiescência do terceiro fiador ou proprietário dos bens dados em garantia,
pois conforme o art. 366 do CC, importa exoneração do fiador a novação feita
sem seu consenso como devedor principal (art. 366);

Súmula 214 do STJ: “O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de

aditamento ao qual não anuiu”

 Em caso de obrigação é solidária, a novação concluída entre o credor e um


dos devedores exonera os demais, subsistindo as preferências e garantias do
crédito novado sobre os bens do devedor;

22
 Em caso de solidariedade ativa, extingue-se a dívida perante os demais
credores, devendo estes se entenderem com o credor operante;

 Em caso de obrigação indivisível, por impossibilidade da prestação parcial, a


novação acaba beneficiando os demais devedores;

 Em caso de novação objetiva, o perecimento do objeto não dá ao credor o


direito de perseguir o da antiga;

 A anulabilidade oponível à antiga obrigação não cabe após a novação (na


verdade, um dos principais préstimos da novação é justamente confirmar
obrigações anuláveis).

A novação é nova obrigação! Assim, extingue os acessórios e garantias da dívida


primitiva, salvo estipulação em sentido contrário. O mesmo ocorrerá com a fiança, na hipótese

de o fiador não ter concordado com a nova obrigação.

 Compensação7
Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras;
somente se compensam coisas fungíveis entre si. O art. 373, CC afirma que as dívidas podem

ter causas diferentes, o que não impede a compensação, exceto se:

 Se provier de esbulho, furto ou roubo.

 Se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos.

 Se uma for de coisa não suscetível de penhora.

7 Vide questão 4.
23
Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação,

ou seja, havendo prazo de moratória, não impedirá compensação. Outra impossibilidade de


compensação é quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia

prévia de uma delas.

O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

Modalidades de compensação:

 Quanto à extensão:

 Total: as duas dívidas são extintas.

 Parcial: uma dívida é extinta e a outra compensada.

 Quanto à origem:

 Legal: decorre da norma jurídica e ocorre ainda que uma das partes não
queira a extinção das dívidas. Ainda, não comporta compensação a obrigação

natural, retroage à data em que a situação de fato se configurou (eficácia ex


tunc). Assim, deve haver (art. 369 e 370, CC):

o Reciprocidade;

o Dívidas líquidas;

o Dívidas vencidas;

o Coisas fungíveis;

o Mesma qualidade).

 Convencional: decorre do acordo entre as partes, ou seja, não deve seguir os

rígidos requisitos da compensação legal, bastando a reciprocidade.

24
o Compensação judicial: decorre de decisão judicial constitutiva, pelo qual

o juiz estabelece que o crédito é liquidável, apesar de, originariamente,


ser ilíquido, contudo não é conhecível de ofício, possuindo, efeitos ex

tunc.

 Confusão
Incidência em uma mesma pessoa das qualidades de credor e devedor. De acordo

com art. 383, a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a
obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto

ao demais a solidariedade. Assim, a lei afirma que ocorre confusão parcial na solidariedade
ativa ou passiva. Ainda, cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus

acessórios, a obrigação anterior.

Ocorre a confusão imprópria quando se reúnem na mesma pessoa as condições de


garante e de sujeito (ativo ou passivo). Assim, ocorre quando:

 Unidade da relação obrigacional;

 Reunião, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor;

 Ausência de separação de patrimônios. (Se o crédito e o débito, ainda que

atinentes a mesma pessoa, estão posicionados em patrimônios distintos, não há


confusão)

 Remissão
A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo perdão do credor, que deve
ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa

ou tácita.

São características da remissão:

 Efeitos inter partes, não admitindo prejuízo de terceiros;

 Previsão legal, não se presume;

25
 Pode ser revogada unilateralmente, desde que não tenha ainda gerado um direito

contrário;

 Não pode ser acompanhado de prestação do devedor;

 Atinge somente as obrigações patrimoniais de caráter privado;

 Se concedido ao devedor principal, extingue a obrigação dos fiadores, libertando

as garantias reais;

 Havendo vários os devedores, a remissão concedida extingue a obrigação na parte


respectiva, contudo, sendo indivisível, os demais credores somente poderão exigir a

prestação com desconto da parte relativa ao remitente;

11.3 Inadimplemento das obrigações (Responsabilidade civil


contratual)

Os inadimplementos de obrigação geram a chamada responsabilidade civil


CONTRATUAL (decorre de um vínculo anterior). Nessa forma de responsabilidade (diferente
da aquiliana), basta ao credor demonstrar que a obrigação não foi cumprida

(descumprimento de um dever jurídico), recaindo sobre o devedor o ônus da prova da culpa


(da inexistência dela). Enquanto na responsabilidade extracontratual o credor deve mostrar a

existência de dolo ou culpa, na contratual esta é presumida, tendo o DEVEDOR que

demonstrar sua inexistência (ocorrência de caso fortuito ou forca maior).

26
11.3.1 Espécies de Inadimplemento

 Inadimplemento Absoluto
É o descumprimento total da obrigação. Desdobra-se em:

 Inadimplemento Absoluto FORTUITO

Deriva de fato não imputável ao devedor, decorrente de caso fortuito ou força maior
(art. 393).

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de

caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por


eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no

fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir.

Em geral, a consequência do descumprimento fortuito é a extinção da obrigação sem


perdas e danos.

Entretanto, em casos excepcionais, poderá o devedor assumir os efeitos decorrentes do

caso fortuito ou da força maior, como se dá nas obrigações decorrentes de contratos de


seguro (obrigações de garantia).

27
Fortuito interno – estando atrelado ao risco inerente ao dever de indenizar (ou em caso de
mora ou demais disposições legais) o fortuito não será excludente de responsabilidade. Neste

sentido, o Enunciado 443:

“O caso fortuito e a força maior somente serão considerados excludentes da responsabilidade


civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida.”

 Inadimplemento absoluto CULPOSO

Deriva de fato imputável ao devedor (culpa ou dolo), impondo-se a obrigação de pagar


perdas e danos, sem prejuízo de eventual tutela jurídica específica (art. 389). Nasce aqui a

responsabilidade civil contratual do devedor.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por


perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Há diferença entre culpa contratual e extracontratual? Segundo Arnaldo Rizzardo,


deixando de lado todas as teorizações, há sim distinção. Em se tratando de obrigações, a

culpa contratual é muito mais sensível, ou seja, requer menos requisitos do que a culpa
extracontratual. Aquela se contenta com a mera inadimplência, desde que não advindo de

caso fortuito ou força maior. Para fins do art. 389, não se cogita de correlação entre gravidade
da culpa e a reparação do dano. Está claro isso no art. 403 CC.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as

perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros


cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto
na lei processual.
28
O que se entende por PERDAS e DANOS?

As perdas e danos, nos termos do art. 402 do CC, consistem no prejuízo efetivo sofrido

pelo credor (dano emergente), compreendendo também aquilo que ele razoavelmente
deixou de lucrar (lucros cessantes). Pagar perdas e danos, portanto, significa indenizar a

vítima, restituindo o status quo ante.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as


perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Conforme se denota do artigo, existem exceções que limitam as perdas e danos.

A moderna doutrina tem entendido que o descumprimento de deveres anexos


decorrentes da boa-fé objetiva (violação positiva do contrato) determina responsabilidade civil

objetiva (ver enunciado 24 da 1ª Jornada de Direito Civil).

JDC 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no


art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos
constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.

Qual o regramento especial no inadimplemento nos contratos benéficos?

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o

contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem


NÃO favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

29
Art. 392 CC, primeira parte (contratos benéficos): há uma bipartição da relação jurídica

para fins de atribuição da responsabilidade:

1) Quem se beneficia – responde por culpa e dolo (exemplo: comodatário);

2) Quem não se beneficia – responde (como regra) só por dolo (exemplo: comodante) –

Inadimplemento nos contratos onerosos (art. 392 CC, parte final), por ser sinalagma, partes

contratantes em pé de igualdade, a mera inadimplência traz direito às perdas e danos.


Importante observar que, se ambas as partes infringiram o contrato, a cada uma reserva-se o

direito de pedir reparação, inclusive permitindo-se a compensação, embora a proposta seja de


difícil aplicação, forte no art. 476 CC.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes

de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do


outro.

 Inadimplemento Relativo8

O devedor será considerado em mora quando não efetuar o pagamento (se este não
é feito no tempo, lugar e forma convencionados). Por outro lado, se o credor se recusar a

recebê-lo no tempo e forma estabelecidos no contrato, constituir-se-á este em mora. Se


depois de constituída a mora, a prestação se tornar inútil ao credor, este poderá exigir a
satisfação por perdas e danos.

Assim, a mora será:

 Mora do devedor (Solvendi, Debitoris)

 Ex re: é também denominada de mora automática, depende de um fato


previsto em lei ou no contrato. Trata-se, assim, de uma obrigação positiva e

8 Vide questão 9.
30
líquida com data determinada, de modo que não precisa ser notificado para
se constituir em mora, o mero não pagamento tempestivo configura a mora
automaticamente. Ex: dia do vencimento do aluguel.

 Ex persona: é também denominada de mora pendente, depende de uma


providência do credor. Assim, exige a notificação do devedor, judicial ou
extrajudicial, para constituição da mora, pois não há data/termo certo para o
cumprimento da obrigação. Está prevista no parágrafo único, do art. 397, CC.
Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou
extrajudicial. Ex: comodato sem prazo – notificação com prazo de 30 dias.

 Efeitos da Mora:

o A responsabilidade civil do devedor pelos prejuízos causados ao credor


em virtude da mora (artigo 395, caput CC).

o A responsabilidade civil do devedor pela integridade da coisa devida, em


outras palavras, perpetuatio obligationis (artigo 399 CC)

 Mora do credor (Accipiendi, Creditoris): Recusa (do credor) em aceitar o

cumprimento da obrigação. Efeitos dessa mora:

 O devedor se isenta do ônus de conservação da coisa, exceto quando tenha


agido com dolo. Exemplo: o credor se recusa a receber o touro. As despesas

ficam ´custa do credor, mas não pode o devedor agir com dolo, como por

exemplo, deixar de alimentar o animal ou larga-lo pela rua.

 Cabe ao credor a obrigação de ressarcir as despesas feitas pelo devedor para

a conservação da coisa.

 O credor deve aceitar o cumprimento da obrigação pelo valor que for mais
favorável ao devedor, se tiver havido oscilação do valor entre a data

pactuada para o pagamento e a fata efetiva do pagamento. Exemplo: devedor


tem obrigação de dar um animal pelo preço de 10 mil reais. Se no dia da
efetivação do pagamento o mesmo animal estiver custando 15 mil, será esse

o valor que o credor deverá pagar.

31
Os juros de mora são contados desde a citação inicial (artigo 405 CC), devendo

observar, quanto às obrigações extracontratuais, a súmula 54 do STJ, que dispõe que “Os
juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade

extracontratual.” Analisaremos melhor o assunto do termo inicial dos juros no próximo


capítulo.

O devedor purgará a mora quando oferecer a importância cumulada com os


prejuízos causados. Por outro lado, será purgada pelo credor quando se oferecer a receber o

pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a data.

As perdas e danos serão apuradas pelo valor que compreendem além o que já era de
direito da parte, os que efetivamente deixou de ganhar9.

TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE (será analisada de forma mais detida no próximo

capítulo, pois está relacionada com o tem da responsabilidade civil): “Segundo esta teoria, se
alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter
uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos

causados. Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima
perca a oportunidade de obter uma situação futura melhor.”

De acordo com o Superior Tribunal de Justiça 10, a teoria da perda de uma chance,
para ser reconhecida, deve fazer com que o sujeito perca um direito que tinha chances atuais,

sérias e reais de êxito na situação futura esperada. Logo, a mera expectativa não possibilita

o seu reconhecimento.

9 Vide questão 2.
10 Estudaremos o leading case e outros julgados acerca da aplicação dessa teoria no Brasil no próximo capítulo.
32
11.3.2 Cláusula penal11

Também, chamada de pena convencional, trata-se de obrigação acessória que as


partes poderão estipular pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da obrigação

principal (inadimplemento absoluto) ou o retardamento (inadimplemento relativo) do seu


cumprimento.

Há duas funções, portanto, para a cláusula penal: intimidação ou ressarcimento.

A função ressarcitória serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento

culposo do devedor. Por sua vez, a função coercitiva (de intimidação) intimida o devedor a
cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar

a multa convencional.

 Cláusula penal moratória


É estipulada para sancionar o devedor quando houver mora no cumprimento da

obrigação ou pelo descumprimento de alguma cláusula isolada ou específica do contrato.


É mais simples e de valor menor. Neste caso, o credor poderá exigir o cumprimento da

obrigação e a cláusula moratória. Contudo, de acordo com novo entendimento do STJ em


2019, a regra é que essa cláusula não pode mais ser cumulada com perdas e danos.

Somente em situações excepcionais, nas quais, se comprove que o valor do montante da


multa moratória não é suficiente para cobrir o prejuízo, poderá haver a cumulação.

 Cláusula penal compensatória


As partes acordam que, no caso de inadimplemento total da obrigação, a parte
devedora será responsabilizada pelo pagamento da cláusula penal compensatória, que tem o

intuito exatamente de compensar o inadimplemento ou substituir o adimplemento quando


descumprida parcialmente a obrigação.

Neste caso, a cláusula não poderá ser exigida com a cumulação de indenização
suplementar decorrente da mora, pois esta já é a sua natureza, sendo enriquecimento ilícito a

11 Vide questões 7, 8 e 10.


33
“dupla cobrança”. Do mesmo modo, não poderá o credor exigir tanto o cumprimento da

obrigação inadimplida, como a cláusula compensatória.

Em um contrato no qual foi estipulada uma CLÁUSULA PENAL, caso haja o


inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as

perdas e danos?

 Se for cláusula penal MORATÓRIA: NÃO (com base em MUDANÇA DO

ENTENDIMENTO DO STJ).
 Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.

A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual

ou pena convencional.

 Natureza jurídica: trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação

principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista
em instrumento separado.

 Finalidades da cláusula penal: a cláusula penal possui duas finalidades:


 Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de
inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da
cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo,
a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no
momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do
contrato.

 Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a


cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente,

terá que pagar a multa convencional.

 Multa moratória = obrigação principal + multa.


 Multa compensatória = obrigação principal ou multa.

34
Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o

inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?

NÃO. Atenção: mudança do entendimento do STJ: A cláusula penal moratória tem a


finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em

valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes (Info 651 –
julgado em sede de recurso repetitivo).

Por que a tese fixada fala “em regra”?

Porque o Min. Luis Felipe Salomão disse que, a depender do caso concreto, a parte poderá
demonstrar que sofreu algum dano especial, além daqueles regularmente esperados da

inadimplência, e que a cláusula penal moratória seria insuficiente para reparar esse dano.

Assim, nesses casos excepcionais, seria possível a cobrança tanto da cláusula penal moratória

como também da indenização.

É o caso, por exemplo, da situação em que a cláusula penal moratória se mostre

objetivamente insuficiente, em vista do tempo em que veio a perdurar o descumprimento


contratual, a atrair a incidência do princípio da reparação integral, insculpido no art. 944 do
CC.

Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as

perdas e danos?

NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com

indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Enquanto a


cláusula penal moratória manifesta, com mais evidência, a característica de reforço do vínculo

obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como
punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e danos.

35
A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que

eventualmente decorram do inadimplemento total ou parcial da obrigação. Não é possível,


pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos decorrentes de

inadimplemento contratual.

Com efeito, se as próprias partes já acordaram previamente o valor que entendem

suficiente para recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se


pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma

justificativa – a recomposição de prejuízos.

Assim, importante lembrar:

MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória) (compensar o inadimplemento)

Estipulada para desestimular o devedor a


incorrer em mora ou para evitar que deixe de
Estipulada para servir como indenização no caso
cumprir determinada cláusula especial da
de total inadimplemento da obrigação principal
obrigação principal. É a cominação contratual de
(adimplemento absoluto).
uma multa para o caso de mora. (multa
contratual)
Funciona como punição pelo retardamento no
Funciona como uma prefixação das perdas e
cumprimento da obrigação ou pelo
danos.
inadimplemento de determinada cláusula.
Ex1: em uma promessa de compra e venda de
um apartamento, é estipulada multa para o caso Ex: em um contrato para que um cantor faça um
de atraso na entrega. Ex2: multa para o caso de show no réveillon, é estipulada uma multa de
o produtor de soja fornecer uma safra de 100 mil reais caso ele não se apresente.
qualidade inferior ao tipo “X”.

A cláusula penal moratória é cumulativa, ou


A cláusula penal compensatória não é
seja, o credor poderá exigir o cumprimento da
cumulativa. Assim, haverá uma alternativa para o
obrigação principal mais o valor da cláusula
credor: exigir o cumprimento da obrigação
penal (poderá exigir a substituição da soja
principal ou apenas o valor da cláusula penal.
inferior e ainda o valor da cláusula penal).

36
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal
para o caso de mora, ou em segurança especial Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal
de outra cláusula determinada, terá o credor o para o caso de total inadimplemento da
arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, obrigação, esta converter-se-á em alternativa a
juntamente com o desempenho da obrigação benefício do credor.
principal.

Este assunto foi cobrado pela CESPE em certame de 2019 para o cargo de Juiz Substituto do

TJ-SC. Vejamos:

A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o inadimplemento da obrigação

principal é denominada

A) multa penitencial.

B) cláusula penal.

C) perdas e danos.

D) arras penitenciais.

E) multa pura e simples.

O gabarito da questão é a letra B.

a) INCORRETA. A multa penitencial possui o caráter de pena, tem a finalidade de penalizar a

parte que resilir o contrato sem justos motivos.

37
b) CORRETA. A cláusula penal é uma multa contratual estabelecida pelas partes e um de seus

intuitos é justamente o de prefixar as perdas e danos.


A cláusula penal também é de chamada de multa convencional, multa contratual ou

pena convencional. Pode ser uma cláusula do contrato ou um contrato acessório ao principal
em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga pela parte

contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação. É, portanto, um pacto acessório que
tem por objetivo evitar a ocorrência do inadimplemento, já que servirá como uma forma de

COERÇÃO INDIRETA e de ANTECIPAÇÃO DE PERDAS E DANOS (ressarcimento).


c) INCORRETA. Conforme veremos no capítulo acerca da responsabilidade civil, as perdas e
danos não têm por objeto evitar o inadimplemento da obrigação principal.

 Dano Material (art. 402 do CC) – decorrentes de um prejuízo econômico


(patrimonial). Pode se manifestar por aquilo que se efetivamente perdeu (dano
emergente) ou por aquilo que se razoavelmente deixou de ganhar (lucro cessante).
 Dano Moral – refere-se aos danos não patrimoniais (danos internos e decorrentes da
personalidade da pessoa).
d) INCORRETA. Arras constitui o bem móvel ou dinheiro dado como "sinal" do cumprimento

da obrigação. Elas poderão servir como confirmação da obrigação ou como penalidade pelo
desfazimento desta.
O objetivo do arras penitenciais não é ressarcir os prejuízos da parte afetada, mas sim

representar uma pequena punição pelo descumprimento da outra.


e) INCORRETA. A multa simples possui o caráter de pena. A ideia aqui não é a de compensar

os prejuízos sofridos pelo credor, mas de penalizar o devedor.


Assim, a cláusula penal constitui prefixação da responsabilidade pela indenização

decorrente da inexecução culposa da obrigação, ao passo que a multa simples é constituída


de determinada importância, que deve ser paga em caso de infração de certos deveres. Não

tem a finalidade de promover o ressarcimento de danos, nem tem relação com o


inadimplemento contratual.

38
11.3.3 Arras12

É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes
oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o

cumprimento do contrato.

As arras podem ser dividias em arras confirmatórias e arras penitenciais.

 Arras confirmatórias: possuem uma tríplice função: confirmar o contrato que


passa a ser obrigatório, antecipar o pagamento e fixar, previamente, eventuais
perdas e danos. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar
maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima.

 Arras penitenciais: ocorrem sempre que as partes, no contrato preliminar


concederam-se o direito de se arrepender. Assumem, portanto, uma função de
pena pelo arrependimento injustificado de uma das partes. Nestes casos, as arras
terão função unicamente indenizatória, assim, quem as deu perdê-las-á em
benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente.

Em ambos os casos, não haverá direito a indenização suplementar.

Quando o contrato é cumprido integralmente, as arras poderão ser devolvidas ou

compensadas do valor a ser pago pela execução da prestação. Por outro lado, se
descumprido o contrato por parte de quem ofereceu as arras, a parte prejudicada poderá

retê-la em seu benefício.

Na eventualidade de o contrato ser descumprido por quem recebeu as arras, a parte

inadimplente deverá restitui-la, em dobro, a quem as pagou.

O STJ entende que se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total

ajustado evidenciar que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode

12 Vide questões 8 e 10.


39
declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras confirmatórias fosse, sendo

legítima a redução equitativa do valor a ser retido.13

11.3.4 Juros

O juro é um fruto civil que corresponde à remuneração devida ao credor em virtude da


utilização do seu capital. Os juros podem ser:

 Quanto à origem: convencionais ou legais (arts. 406 e 407, CC);


 São exemplos de juros legais: os moratórios, os processuais (art. 240, CPC), os

juros das indenizações por atos ilícitos (que também são moratórios, conforme o
art. 398, CC). Os convencionais decorrem sa vontade, da manifestação das partes.

 Se os juros forem convencionais, é necessário seu pedido quando da cobrança


judicial. Já se os juros forem legais e o juiz condenar o devedor ao seu
pagamento, mesmo sem o pedido do cedor, ele estará proferindo uma sentença

válida (art. 293, CC).


 Quanto à relação com o inadimplemento: moratórios ou compensatórios.

JUROS MORATÓRIOS: são uma penalização pela mora no cumprimento da


obrigação, um ressarcimento imputado pelo descumprimento PARCIAL da obrigação.
Incidem independentemente de alegação de prejuízo.

Como regra, são devidos desde a constituição em mora (mora ex re e ex persona) e

independem de alegação e prova do prejuízo. Estudaremos com detalhes os termos iniciais


para a incidência dos juros e correção monetária no próximo capítulo, mas já decore o que

dispõe o art. 405, CC: “contam-se os juros de mora desde a citação inicial”.

Atente-se ao que dispõe os artigos 406 e 407, CC:

 Art. 406: “Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa
estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa
que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional”.

13 Resp. 1.1513.259 - MS (veja o julgado comentado).


40
 Art. 407: “Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora
que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza,
uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento,
ou acordo entre as partes”.

O STJ determinou, em seu informativo 510, que o juros mencionados no art. 406, CC

deve ser a taxa SELIC. Ademais, firmou que essa taxa não pode ter incidência conjunta com a
correção monetária, sob pena de bis in idem. Isso porque a taxa SELIC já é composta de juros

e correção monetária.

JUROS COMPENSATÓRIOS: são os que representam a exata noção do instituto frutos


(compensam ou remuneram determinada pela utilização do seu capital por outrem). São

também aqueles incidentes sobre a verba indenizatória, nos casos de descumprimento


TOTAL da obrigação, sob a justificativa de que o credor a ser indenizado ficou privado da

utilização do capital.

Juros moratórios Juros compensatórios


Pagos pelo devedor para indenizar o atraso Pagos pelo devedor para remunerar o credor
no cumprimento da obrigação (art. 395, CC). por ter ficado um tempo sem o seu capital.

Exemplo: era para o devedor “X” pagar uma Exemplo: o devedor “X” pediu um
dívida ao banco no dia 10 de janeiro, no empréstimo ao banco. Este cobra de X, além
entanto, ele só conseguiu pagá-la no dia 20. do dinheiro de volta, um juros para ser
Juros de mora incidirão sobre esses 10 dias compensado por tal serviço, ou seja, por
de atraso (além dos juros remuneratórios). proporcionar o empréstimo.
Podem ser tanto legais (ex.: art. 398) quanto Podem ser tanto legais (ex.: juros legais do
contratuais (casos dos contratos de mútuo civil - art. 591 CC, perdas e danos -
financiamento, de cartão de crédito, etc.). art. 404 CC, juros na gestão de negócios - art.

41
869 CC; art. 1404 CC, etc.) quanto
contratuais.

Como se vê, os juros compensatórios podem ser tanto os contratuais (normalmente

chamados pelo banco, no caso de empréstimo, por exemplo, de “encargos básicos”) quanto
indenizatórios.

 Anatocismo (juros capitalizados)

A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros são


calculados sobre os próprios juros devidos.

Outras denominações para capitalização de juros: juros sobre juros, juros compostos, juros

frugíferos. Normalmente os juros capitalizados estão presentes nos contratos de


financiamento bancário.

No anatocismo, ocorre a incorporação dos juros ao valor da dívida principal, sobre o


qual acaba incidindo novo encargo.

Assim, os juros compostos podem ser bastante prejudiciais ao devedor.

Ele é permitido? O art. 4º do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura) veda o anatocismo (“é

proibido contar juros sobre juros”), no entanto, tanto o STJ 14 , quanto o CC permitem a
capitalização anual de juros.

Veja o que dispõe o art. 591, CC: “destinando-se o mútuo a fins econômicos,
presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que

14 Veja a jurisprudência comentada acerca dos juros.


42
se refere o art. 406, permitida a capitalização anual”. Assim, em qualquer contrato é

permitida a capitalização de juros anual.

E quanto à capitalização de juros em períodos menores que a anual, por exemplo, os

casos em que ocorre o anatocismo mensal (incide juros sobre juros mensalmente)? A
capitalização mensal de juros só não é proibida se o credor for instituição financeira,

conforme a MP 20.170/200115.

Em suma, é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano

em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP


1.963-17/2000 (atual MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada 16.

Nos outros contratos é permitida a capitalização apenas anual, desde que


expressamente pactuada (de acordo com o STJ, tanto nos casos de capitalização anual

quanto de período inferior a um ano, deve ela ser expressamente pactuada17).

11.3.5 Comissão de Permanência

Conceito: consistia em um valor cobrado pelas instituições financeiras em caso de


inadimplemento contratual enquanto o devedor não quitar sua obrigação. Era um valor,

portanto, cobrado após o atraso, e, geralmente, incidia sobre os dias de atraso.

15 Art. 5º: “Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização
de juros com periodicidade inferior a um ano”.
16 Súmula 539, STJ.
17 Vide Súmula 541, STJ e julgados comentados acerca do tema juros.
43
Ademais, cabe destacar que a comissão de permanência, quando vigente, não podia ser

cumulada com praticamente nenhum encargo, como juros remuneratórios, etc (vide súmula
472 do STJ).

Usamos o verbo no passado porque, atualmente, tal valor não mais pode ser cobrado

pelos Bancos (sua EXTINÇÃO se deu pela Resolução 4.558 do Bacen, que entrou em vigor no
dia 01 de setembro de 2017).

No entanto, ressalta-se que ela continua a viger nos contratos em que foi instituída

antes da data de sua extinção, portanto, devemos ainda saber o texto das súmulas a ela
referentes (30, 294, 296, 472 do STJ).

11.4 Extinção das Obrigações

 Sem Pagamento: acontece nos casos de remissão (perdão), prescrição ou


decadência, advento do termo.

 Judicial: por meio de execução forçada – Ações judiciais (Processo Civil).

44
QUADRO SINÓTICO

PAGAMENTO DIRETO

PESSOAS ENVOLVIDAS: Solvens (é a pessoa que deve pagar) e


accipiens (é a pessoa que recebe).

No caso do terceiro NÃO interessado, duas situações podem

ocorrer:
1) Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome,

terá pelo menos direito ao reembolso. Não se sub-roga em


todos direitos e garantias por ventura existentes.
2) Se o terceiro não interessado, todavia, pagar apenas em

nome do devedor, não terá direito a nada.

OBJETO: prestação.
ADIMPLEMENTO
O credor não é obrigado a receber prestação diversa, ainda que
mais valiosa (regra da intangibilidade do objeto). O credor também
não é obrigado a receber nem o devedor a pagar por partes
(princípio da indivisivilidade).

PROVA: QUITAÇÃO.O recibo é o documento da quitação. Caso o


credor se negue a dar a quitação, poderá́ o devedor ingressar com a

consignação em pagamento.

LUGAR: Regra é no domicílio do devedor (quesível). Exceção é no


domicílio do credor (portável).

E se houver dois ou mais lugares para o pagamento? A escolha


deverá ser feita pelo credor (não confundir com obrigações

45
alternativas).

TEMPO: Vencimento fixado pelas partes.

Art. 331, CC: (...) “não tendo sido ajustada época para o pagamento,

pode o credor exigi-lo imediatamente”.

No caso do mútuo de dinheiro, existe regra específica (artigo 592, II


CC) no sentido de que, não se estipulando um vencimento, o prazo

mínimo para pagamento é de 30 dias.

Vencimento antecipado: Art. 333. Ao credor assistirá o direito de


cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou
marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de

concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados,


forem penhorados em execução por outro credor; III – se

cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito,


fidejussórias, ou reais, e o devedor intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo Único. Nos casos desse artigo, se houver, no débito,

solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros


devedores solventes.

FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO

Devedor deposita a coisa devida, liberando-


se de obrigação líquida e certa. Se a dívida
PAGAMENTO EM
for em dinheiro o depósito pode ser
CONSIGNAÇÃO
extrajudicial (estabelecimento bancário oficial

– art. 890, §1º, CPC).

46
PAGAMENTO COM Substituição na obrigação de uma pessoa
SUB-ROGAÇÃO por outra, com os mesmos ônus e atributos

(avalista que paga a dívida).

IMPUTAÇÃO DO Pessoa obrigada por dois ou mais débitos

PAGAMENTO da mesma natureza, líquidos e vencidos, a


um só credor, tem o direito de escolher qual

deles está pagando.

PAGAMENTO INDIRETO

Acordo de vontades entre credor e devedor,

com o objetivo de extinguir a obrigação, no


DAÇÃO EM
qual o credor consente em receber coisa
PAGAMENTO
(móvel ou imóvel) diversa da originalmente
devida.

Criação de obrigação nova e extinguindo a


anterior, modificando o objeto (objetiva ou

real) ou substituindo uma das partes


NOVAÇÃO (subjetiva = ativa - substituição do credor;

passiva - substituição do devedor). Não


podem ser objeto de novação as dívidas
extintas ou nulas.

Como é nova obrigação, são extintos os


acessórios e garantias da dívida primitiva.

Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo

credoras e devedoras umas das outras;


COMPENSAÇÃO
somente se compensam coisas fungíveis
entre si.

47
CONFUSÃO Incidência em uma mesma pessoa das
qualidades de credor e devedor.

A remissão é forma de pagamento indireto


efetivada pelo perdão do credor, que deve
REMISSÃO
ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode
ser total ou parcial. Além disso, pode ser

expressa ou tácita.

Não cumprida a obrigação, responderá o devedor pelas perdas e


danos decorrentes do inadimplemento, cumulado com juros e

honorários advocatícios.

Inadimplemento relativo: mora (quando o pagamento não é feito no


tempo, no lugar e forma convencionados).

Inadimplemento absoluto: descumprimento total da obrigação


(inadimplemento fortuito e inadimplemento culposo).

MORA DO DEVEDOR (SOLVENDI, DEBITORIS)

EX RE Também denominada de mora automática,


INADIMPLEMENTO
depende de um fato previsto em lei ou no

contrato.

EX PERSONA Também denominada de mora pendente,

depende de uma providência do credor.


Assim, exige a notificação do devedor,

judicial ou extrajudicial.

MORA DO CREDOR

(ACCIPIENDI,
Recusa (do credor) em aceitar o
CREDITORIS)
cumprimento da obrigação.

48
CLÁUSULA PENAL

Trata-se de obrigação acessória que as partes poderão estipular pena

ou multa destinada a evitar o inadimplemento da obrigação principal


ou o retardamento. Nenhuma das cláusulas penais pode ser

cumulada com perdas e danos.

 Multa moratória = obrigação principal + multa.


 Multa compensatória = obrigação principal ou multa.

CLÁUSULA PENAL É estipulada para sancionar o devedor

MORATÓRIA quando houver mora no cumprimento da


obrigação.

A cláusula penal moratória é cumulativa, ou

seja, o credor poderá exigir o cumprimento da


obrigação principal mais o valor da cláusula

penal.

As partes acordam que, no caso de


inadimplemento total da obrigação, a parte
CLÁUSULA PENAL
devedora será responsabilizada pelo
COMPENSATÓRIA
pagamento da cláusula penal
compensatória, que tem o intuito exatamente
de compensar o inadimplemento ou

substituir.

A cláusula penal compensatória não é


cumulativa. Assim, haverá uma alternativa

para o credor: exigir o cumprimento da


obrigação principal ou apenas o valor da

49
cláusula penal.

ARRAS

É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando


uma das partes oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem

móvel, com a finalidade de garantir o cumprimento do contrato. Não


haverá direito a indenização suplementar.

ARRAS Possuem uma tríplice função: confirmar o


CONFIRMATÓRIAS contrato que passa a ser obrigatório,
antecipar o pagamento e fixar, previamente,
eventuais perdas e danos.

ARRAS Ocorrem sempre que as partes concederam-


PENITENCIAIS se o direito de se arrepender.

Fruto civil que Juros Moratórios: pagos pelo devedor para


corresponde à indenizar o atraso no cumprimento da
remuneração devida obrigação (art. 395, CC).

ao credor em virtude Juros Remuneratórios: pagos pelo devedor


da utilização do seu para remunerar o credor por ter ficado um

JUROS capital. tempo sem o seu capital.


Os juros do no art. ANATOCISMO (juros sobre juros): é

406, CC deve ser a permitida a capitalização de juros com


taxa SELIC (STJ) periodicidade inferior a um ano em

contratos BANCÁRIOS, desde que


expressamente pactuada.

Valor cobrado pelas Sua EXTINÇÃO se deu pela Resolução 4.558


COMISSÃO DE
instituições do Bacen, que entrou em vigor no dia 01 de
PERMANÊNCIA
financeiras em caso setembro de 2017.

50
de inadimplemento A comissão de permanência, quando vigente,
contratual enquanto o não podia ser cumulada com praticamente

devedor não quitar nenhum encargo, como juros remuneratórios,


sua obrigação etc.

SEM PAGAMENTO Acontece nos casos de remissão (perdão),


prescrição ou decadência, advento do
EXTINÇÃO termo.

JUDICIAL Por meio de execução forçada.

51
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC – DPE-MA – Defensor Público – 2018): No direito das obrigações, a novação

A) exige a inequívoca intenção de novar, mas ela pode ser expressa ou tácita.

B) somente se configura caso se refira a todos os elementos da obrigação anterior, pois

inexiste novação parcial.

C) é presumida diante da modificação unilateral da forma de cumprimento da obrigação


originalmente estatuída.

D) pode ser utilizada licitamente como meio de validar obrigações nulas ou extintas.

E) da obrigação principal não tem reflexos sobre as obrigações acessórias, tal como a fiança.

Comentário:

Gabarito: alternativa A.

A letra A está correta, de acordo com o art. 361, CC. Esse dispositivo dispõe que: “não
havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira”.

Portanto, deve haver a vontade de realizar a novação da obrigação (animus novandi)


para que ela ocorra e tal vontade pode ser demonstrada de forma expressa ou tácita.

A letra B está errada pois, é possível a novação parcial. Depreendemos tal informação

da leitura do art. 364, CC: “a novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que
não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor,
a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi

parte na novação”.

52
A letra C está errada pois, conforme já abordado na explicação da alternativa A, um

dos requisitos da novação é a vontade de realizá-la (art. 361, CC). A mera modificação
unilateral da forma de cumprimento da obrigação não presume a vontade de novar, a

qual deve ser demonstrada de forma inequívoca.

A letra D está errada. O artigo 367, CC dispõe o contrário do afirmado: “salvo as


obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou

extintas”.

A letra E está errada, pois, conforme dispõe o art. 364, a novação, em regra, extingue
as obrigações acessórias. Lembre-se do princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o

principal).

Questão 2

(Banca própria – MPE-GO – Promotor de Justiça – 2019) De acordo com o clássico conceito
de Clóvis do Couto e Silva, adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão

próximo ao resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de
resolução, permitindo-lhe tão somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez
que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé (objetiva)”. (O Princípio da Boa-Fé

no Direito Brasileiro e Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo:
RT, 1980, p. 56). De acordo com o conceito doutrinário acima, assinale a alternativa correta:

A) Segundo jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça (STJ), não é possível


aplicar a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia

regidos pelo Decreto-Lei n. 911/69.


B) A teoria do adimplemento substancial está expressamente prevista no ordenamento jurídico

brasileiro.
C) O uso da teoria do adimplemento substancial pode ser estimulado a ponto de preservar os
interesses do credor e do devedor, pois, a longo prazo, seus efeitos colaterais podem auxiliar
na manutenção dos custos da contratação.

53
D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para

admitir a substantial performance: insignificância do inadimplemento e satisfação do interesse


creditório.

Comentário:

Gabarito: alternativa A

a) CORRETA. De acordo com o STJ, a teoria do adimplemento substancial não se aplica ao

contrato de alienação fiduciária regulado pelo Decreto-Lei 911/1969 (REsp 1.622.555-MG –


vide jurisprudência comentada). Um dos motivos para sua não utilização é o consequente
estimulo do não pagamento das últimas parcelas pelo devedor.

b) INCORRETA. Não há previsão expressa da teoria do adimplemento substancial no Código


Civil, sendo ela fruto da doutrina e jurisprudência.

Não confunda a Teoria do adimplemento substancial com a onerosidade excessiva! A

teoria do adimplemento substancial não tem previsão expressa na Lei. Já a Onerosidade


excessiva está prevista no artigo 478, CC.

c) INCORRETA. Na verdade, a análise do adimplemento substancial passa por dois filtros,

cumulativamente O primeiro deles é objetivo (medida econômica do descumprimento, dentro


da relação jurídica existente entre os envolvidos) e o segundo é subjetivo (comportamentos
das partes no processo contratual).

d) INCORRETA. A alternativa está incompleta. Realmente, a teoria da substantial performance


surgiu na Inglaterra, no entanto, ela possui três requisitos (sendo que um deles não foi
mencionado :

1) Insignificância do inadimplemento;

2) Satisfação do interesse creditório, como, por exemplo, 80% da obrigação;

54
3) Diligência do devedor no desempenho da sua obrigação, ainda que imperfeitamente,

como, por exemplo, sempre ter pago as parcelas em dia.

Questão 3

(FCC – TJ-MS – Juiz de Direito – 2020) O pagamento

a) feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que ele não era credor.

b) deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de

por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

c) não vale quando cientemente feito ao credor incapaz de quitar, em nenhuma hipótese.

d) autoriza-se a recebê-lo o portador da quitação, fato que origina presunção absoluta.

e) feito pelo devedor ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da

impugnação a ele oposta por terceiros, não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo, prejudicado o direito de regresso contra o credor.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra B. A questão baseia-se na letra seca da lei.

A) INCORRETA. O erro da alternativa está na palavra “salvo”. De acordo com o art. 309, CC,
“o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não
era credor". Aqui, portanto, aplica-se a Teoria da Aparência. Credor putativo é a pessoa que

se apresenta com o título obrigacional, passando aos olhos de todos como sendo o
verdadeiro credor. A doutrina dá como exemplo o irmão gêmeo.

55
B) CORRETA. Trata-se do art. 308 do CC. Assim, além do credor originário, poderão, também,

receber o pagamento o representante legal (do absolutamente e do relativamente incapaz), o


judicial (inventariante, sindico) ou o convencional (mandatário).

C) INCORRETA. O erro está no trecho "em nenhuma hipótese”. Conforme o art. 310, CC, não

vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar
que em benefício dele efetivamente reverteu”.

Se o credor não tinha ciência, sem culpa, da incapacidade do credor, o cumprimento

será válido, independentemente de comprovação de que foi revertido em proveito ao incapaz;


contudo, se tinha ciência da incapacidade, surgirão duas opções para ele: pagar

novamente, já que o primeiro pagamento foi considerado inválido, ou provar que o


pagamento realizado foi revertido, no todo ou em parte, em proveito do incapaz.

Exemplo: provar que o pagamento chegou ao poder do seu representante ou, ainda que não
tenha acontecido isso, conseguir provar que a prestação acabou por aumentar o patrimônio

do incapaz.

D) INCORRETA. A presunção não é absoluta, esse é o erro da alternativa. A presunção é


relativa, por ser possível realizar provas em contrário para ilidi-la. Assim determina o art.

311, CC: “considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as


circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”.

Assim, está autorizado a receber o pagamento a pessoa munida com o documento

de quitação, como, por exemplo, um office boy, salvo se as circunstâncias afastarem essa
presunção relativa, admitindo-se, assim, prova em contrário. O office boy não se trata de um
representante, é considerado um mandatário tácito do credor.

E) INCORRETA, pois o direito de regresso não é prejudicado. Veja o texto do art. 312, CC: "se
o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão

constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor".

56
Questão 4

(IBFC – Prefeitura de Divinópolis-MG – Procurador do Município – 2018) Relativamente à


compensação, assinale a alternativa incorreta:

a) Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem

dedução das despesas necessárias à operação

b) Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o
credor dele lhe dever

c) O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever, mas o fiador pode

compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado

d) A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vincendas e de coisas fungíveis

Comentário:

O gabarito da questão é a LETRA D, que é a alternativa incorreta.

O examinador explora, na presente questão, o conhecimento do candidato acerca da

compensação, conceituada como um encontro de créditos entre duas pessoas ao mesmo


tempo credoras e devedoras, uma da outra, a fim de extinguir total ou parcialmente as dívidas

até a concorrente quantia.


A compensação pode ser legal, convencional ou judicial:
 Legal: quando determinada em lei, não podendo ser recusada por uma das partes.
 Convencional: se resulta de contrato entre as partes, e assim depende do acordo seu
modo de ser, sua extensão e efeitos.
 Judicial: quando é resultante de reconvenção.

57
A) CORRETA. A alternativa contempla o que prevê o art. 378 do CC: “quando as duas dívidas

não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas
necessárias à operação”.

A regra geral prevê que o pagamento se dará no domicílio do devedor. Assim, se os


devedores forem obrigados a pagar fora de seu domicílio, compensam-se as dívidas,

reduzindo-se precipuamente as despesas necessárias à operação.

B) CORRETA. A alternativa está correta, pois é a previsão contida no art. 376, CC: “obrigando-
se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe
dever”.

A compensação, em regra, só pode ser oposta pelo próprio devedor ao próprio


credor. Aquele que se obriga em favor de terceiro não se pode eximir de sua obrigação,

pretendendo compensá-la com o que lhe deve o credor de terceiro, por faltar o requisito da
reciprocidade.

A título de exemplo, se um tutor deve ao credor e o credor deve ao tutelado, não pode
o tutor pretender compensar a sua dívida com a dívida que o credor tem para com o

tutelado.

C) CORRETA. A alternativa está correta, de acordo com a inteligência do art. 371, CC: “o

devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.”
Conforme já dito, em regra, a compensação só pode ser oposta pelo devedor ao
próprio credor, ou seja, entre pessoas que são entre si, reciprocamente, credora e devedora

uma da outra. Todavia, com base no artigo 371 do CC, admite-se que o fiador possa realizar
a compensação de sua dívida decorrente de fiança com aquela que o credor tiver para com o

afiançado.

D) INCORRETA. A alternativa está incorreta, pois estabelece o CC, em seu artigo 369, que a
compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Senão vejamos:

58
Dessa forma, podemos citar como requisitos da compensação legal:

I) Reciprocidade de dívidas: as partes devem ser concomitantemente credoras e devedoras


umas das outras;

II) Liquidez das dívidas: a dívida é líquida quando é certa, quanto à sua existência, e
determinada, quanto à sua quantia, isto é, quando consta o que é devido e quanto é

devido. Assim, é que a contestação da dívida em juízo retira-lhe o requisito de liquidez,


porque a certeza da sua existência depende da sentença que decidir o pleito. Mas, se a

sentença reconhece a dívida, fica ipso facto declarada a compensação, que retroage ao
tempo do vencimento respectivo;

III) Exigibilidade das dívidas: se a compensação equivale ao pagamento e este só pode ser
exigido quando a dívida estiver vencida, também a compensação só se pode operar entre

dívidas vencidas, e não vincendas, que são as dívidas a vencer;

IV) coisas fungíveis: só se pode compensar coisas fungíveis, ou seja, aquelas que podem ser
substituídas por outras de mesma espécie, qualidade e quantidade.

Questão 5

(Instituto Consulplan – MPE-SC – Promotor de Justiça – 2019) Nos termos do Código Civil,

quanto ao lugar do pagamento, efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se


as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da

obrigação ou das circunstâncias. Designados dois ou mais lugares, cabe ao devedor escolher
entre eles.

c) Certo

e) Errado

59
Comentário:

O gabarito da questão é a letra E - ERRADO. Isso porque se designados dois ou mais


lugares, cabe ao CREDOR escolher entre eles (e não o devedor).

O item cobra a literalidade do art. 327, § único, CC:

“Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes


convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da

obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre
eles”.

O sistema civil tem como regra a quesibilidade das dívidas.

 Divida quesível é aquela que deve ser paga no domicílio do devedor, tornando-se
este o competente para a promoção da ação de consignação em pagamento.
 Podem as partes estipular que o pagamento ocorrera em local designado pelo
credor (normalmente, no domicilio deste), convertendo-se a obrigação em
dívida portável.

A lei, a natureza da obrigação e as circunstancias podem igualmente interferir no lugar


do pagamento, como no caso da lei de locações que determinar ser local do pagamento

onde se encontrar o imóvel (art. 23, I - ressalvada estipulação em contrário).

Questão 6

(CESPE – Prefeitura de Boa Vista-RR – Procurador do Município – 2019) Acerca de


responsabilidade civil, de negócio jurídico e de transmissão e extinção de obrigações, julgue o
item seguinte.

60
Tanto no caso de assunção de dívida quanto no caso de novação de dívida, enquanto a

obrigação original não for totalmente adimplida, o devedor originário manterá sua
responsabilidade com o credor e a obrigação permanecerá inalterada.

c) Certo

e) Errado

Comentário:

O item está errado.

Leia os dois dispositivos do Código Civil que colacionamos abaixo, o art. 299 diz
respeito à assunção de dívida (forma de transmissão da obrigação estudada no capítulo

anterio) e o art. 360 refere-se ao instituto da novação:

 Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento


expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo
da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
 Art. 360. Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a
anterior;
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo,
ficando o devedor quite com este.

Na assunção de dívida, quando o terceiro assume a obrigação, com o consentimento


expresso do credor, o devedor originário fica exonerado da obrigação. Na novação uma
nova obrigação é criada, substituindo a anterior. O devedor originário fica exonerado do

cumprimento da obrigação original.

Portanto, diferente do que afirma o item, o devedor originário não manterá sua
responsabilidade com o credor.

61
Questão 7

(CESPE – STM – Analista Judiciário - Área Judiciária – 2018) De acordo com o Código Civil e

considerando o entendimento doutrinário acerca das pessoas naturais, das obrigações e da


prescrição e decadência, julgue o item a seguir.

Nas obrigações de prestações sucessivas, a quitação da última parcela acarreta a presunção

absoluta de que as anteriores foram pagas.

c) Certo

e) Errado

Comentário:

O item encontra-se ERRADO. Isso porque a quitação da última parcela acarreta a

presunção relativa (e não absoluta) de que as anteriores foram pagas.

Vejamos o art. 322 do CC: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação
da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores."

Pela leitura desse dispositivo percebemos que a presunção de pagamento de todas as


parcelas é relativa, ou seja, "iuris tantum", admitindo prova em contrário.

Exemplo: o locatário está devendo os alugueis referentes aos meses de janeiro à julho e

vai até a imobiliária, com um cheque, recebendo desta um recibo referente ao mês de julho.
Desta forma, há a presunção de que os meses anteriores também foram pagos. Caso não

tenham sido, como estamos diante de presunção relativa, poderá o locador provar o
contrário. Percebe-se que ocorre a inversão do ônus da prova, ou seja, ao invés do

62
locatário provar o pagamento de todos os alugueis atrasados, deverá o locador provar

que não os recebeu integralmente.

Lembre-se sempre:

 PRESUNÇÃO IURIS TANTUM = PRESUNÇÃO RELATIVA = ADMITE-SE PROVA EM


CONTRÁRIO
 PRESUNÇÃO IURIS ET DE IURE = PRESUNÇÃO ABSOLUTA = NÃO SE ADMITE PROVA
EM CONTRÁRIO

Questão 8

(VUNESP – Prefeitura de Itapevi - SP – Procurador do Município – 2019) Miguel e Thais

firmaram um contrato de compra e venda de um automóvel, sem direito de arrependimento,


no qual restou estipulado que, além da entrega de uma moto, a título de sinal, Miguel pagaria

6 (seis) parcelas de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a Thais. Depois de pagos o sinal e duas
parcelas, Miguel deixa de executar a sua parte do contrato.

Diante do caso hipotético, assinale a alternativa correta.

a) O sinal dado por Miguel tem função unicamente indenizatória.

b) Thais não pode pedir indenização suplementar, ainda que prove que teve maior prejuízo.

c) Thais pode exigir a execução do contrato, com as perdas e os danos, valendo a moto como

o mínimo da indenização.

d) Miguel pode exigir a devolução da moto com juros e atualização monetária.

e) Thais apenas pode reter a moto e ter o contrato por desfeito.

Comentário:

63
Essa questão é muito interessante pois traz um caso prático que abrange o assunto
arras (casos práticos são muito cobrados pela VUNESP).

O gabarito é a LETRA C.
Conforme estudamos, as arras ou sinal significam a entrega de dinheiro ou de outro

bem móvel como garantia de firmar um negócio e fazer com que o contrato seja cumprido,
tal qual, por exemplo, o penhor.

Existem dois tipos de arras: as confirmatórias, que têm a função de confirmar o


contrato, torná-lo obrigatório após a entrega do sinal, traduzindo um princípio de
pagamento; e as penitenciais, que existirão somente se as partes estipularem o direito de

arrependimento, ou seja, se convencionarem uma pena que deverá ser cumprida pela parte
que se valer da faculdade do arrependimento.

Neste caso, tem-se que as arras (sinal) entregues por Miguel tiveram caráter
confirmatório, visto que a moto tinha o condão de confirmar, garantir o contrato e o

pagamento das demais parcelas, além do fato de que Thais e Miguel firmaram no contrato
uma cláusula de não arrependimento, o que exclui a possibilidade de arras penitenciais.

Assim, considerando que o contrato já estava garantido pela entrega do sinal, no


momento em que Miguel deixou de cumprir com o acordado, efetuando apenas duas parcelas
das seis que eram previstas, nasce para Thais o direito de exigir a execução deste contrato.

Pelo exposto, deve ser assinalada é a letra C, pois, conforme previsão do artigo 419 do
CC, como houve inadimplência por parte de Miguel, Thais poderá exigir a execução do
contrato, com as perdas e danos, valendo a moto como o mínimo da indenização.
 “Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior
prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir
a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da
indenização”.

Questão 9
(FCC – TJ-MS – Juiz de Direito – 2020) Quanto à mora e às perdas e danos, é correto afirmar:

64
a) A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da

coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la e sujeita-o a


recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia

estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

b) Havendo fato ou omissão imputável ao devedor, este não incorre em mora.

c) Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora a partir do


ajuizamento da ação indenizatória correspondente.

d) O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, salvo, em qualquer caso,


se essa impossibilidade resultar de caso fortuito ou força maior.

e) Salvo se a inexecução resultar de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os

prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.

Comentário:

A letra A é o gabarito da questão, que se baseia inteiramente na letra seca da lei.

a) CORRETA. Veja que a presente alternativa reproduz o art. 400, CC: “A mora do credor

subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o


credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela

estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o
pagamento e o da sua efetivação”.

b) ERRADA. Pelo contrário, o art. 396, CC determina que: “NÃO havendo fato ou omissão

imputável ao devedor, não incorre este em mora”. Portanto, se houver fato ou omissão do
devedor, ele incorrerá em mora.

65
c) ERRADA. Não é a partir do ajuizamento da ação, e sim desde o dia em que praticou o

ato ilícito que se considera o devedor em mora. Isso está no artigo 398 do CC e é muito
importante, inclusive para provas de sentença cível: “art. 398. Nas obrigações provenientes de

ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou”.

d) ERRADA. Desconfie das alternativas que trazem expressões como “em qualquer caso”. De
acordo com o art. 399: “o devedor em mora responde pela impossibilidade da

prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se


estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria
ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada”.

e) ERRADA. O erro da questão está na palavra “salvo”. Veja o que dispõe o art. 403, C: “ainda

que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos


efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na

lei processual”.

Questão 10

(VUNESP – Prefeitura de Ribeirão Preto - SP – Procurador do Município – 2019) Em um


contrato de compra e venda, mediante pagamento a prazo, sem direito de arrependimento, o
comprador deu ao vendedor um sinal de 30% do valor do bem comprado. Também foi
estipulado que, se o comprador atrasasse o valor das prestações por mais de 90 dias, além da
retenção do sinal de 30% do valor do bem comprado, seria penalizado com o pagamento de
uma multa moratória equivalente a 110% do valor do contrato.

Acerca do contrato hipotético descrito, é correto afirmar que

a) a multa moratória pode ser superior ao valor da obrigação principal.

b) não podem ser cumuladas as cláusulas que preveem a retenção do sinal com a multa
moratória, por serem um bis in idem.

66
c) o comprador pode reter o sinal, mas não poderá pedir indenização suplementar, mesmo se
provar maior prejuízo, valendo o valor do sinal como indenização pré-fixada.

d) a multa moratória não pode ser reduzida equitativamente pelo juiz, mesmo que se
demonstre que é manifestamente excessiva, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio

e) para exigir a multa moratória, é necessário que o comprador alegue prejuízo.

Comentário:

A letra B é o gabarito da questão.

A) INCORRETA. O art. 412, CC impõe uma limitação à clausula penal (pena convencional), que

é não ser superior ao valor da obrigação principal (justamente o contrário do que determina
a alternativa).

B) CORRETA. A multa moratória é uma das espécies de cláusula penal, destinada a

assegurar o cumprimento de outra cláusula ou evitar a mora (art. 411, CC).

Se forem retidas as arras confirmatórias, elas perderão a sua finalidade, ou seja, a de


confirmação do contrato, e assumirão natureza indenizatória, função esta que a cláusula

penal moratória já faz, configurando verdadeiro “bis in idem". Seria lícito à parte retê-las
caso a outra que as deu não cumprisse a obrigação, desfazendo-se, assim, o contrato (art. 418

do CC). Contudo, dando-se continuidade, o credor receberá a multa moratória, permanecendo,


pois, a obrigação de restitui-las ou computa-las ao devedor na prestação devida, se do
mesmo gênero da principal, conforme determina o art. 417, CC.

C) INCORRETA. O legislador, no art. 419, CC, permite a indenização suplementar (“a parte
inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como
taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e
danos, valendo as arras como o mínimo da indenização"). Portanto, as arras representam o
mínimo de indenização, sendo possível a reparação integral do prejuízo.

67
D) INCORRETA. O art. 413, CC dispõe que “a penalidade deve ser reduzida eqüitativamente

pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da


penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do

negócio". Trata-se de uma disposição de ordem pública, podendo a redução ser


determinada de ofício pelo juiz.

E) INCORRETA. Uma das vantagens da multa moratória é justamente a do credor não

precisar provar prejuízo. Basta, somente, a prova do inadimplemento da obrigação. Nesse


sentido, é a redação do art. 416, CC: “Para exigir a pena convencional, não é necessário que o

credor alegue prejuízo".

68
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - A

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - ERRADO

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - C

Questão 9 - A

Questão 10 - B

69
QUESTÃO DESAFIO

Pedro e Cláudia decidiram se casar em 2015, porém, como não tinham muito dinheiro,
decidiram que a melhor opção seria adquirir um imóvel na planta. Assim, celebraram um
contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com a construtora XXX. A
cláusula de número 10 previa que a construtora entregaria o apartamento no dia 01/01/2018,
podendo prorrogar a entrega para 01/07/2018 (prazo de tolerância). Ocorre que a construtora,
por mora imputável unicamente a ela, somente entregou o imóvel em 01/01/2020.

Diante disso, Pedro e Cláudia ajuizaram ação pedindo a condenação da construtora ao


pagamento da multa de 1% ao mês previsto no contrato e a condenação por lucros cessantes,
correspondente à quantia que o adquirente poderia obter se estivesse alugando o imóvel.

Desse modo, pergunta-se: Em que consiste essa multa contratual? Ela pode ser cumulada com
lucros cessantes?

70
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

A multa contratual é uma cláusula penal moratória. Já quanto à possibilidade de cumulação, o


STJ decidiu que não é possível, já que a cláusula penal moratória já serve para indenizar os
prejuízos que a parte sofreu. Assim, se ocorresse essa cumulação, configurar-se-ia um “bis in
idem”.

Critério 01 (0,5) – Cláusula penal moratória.

De acordo com o art. 408 do CC: “Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde
que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.” Assim, a cláusula
penal consiste em uma obrigação de natureza acessória, que busca garantir o cumprimento da
obrigação principal, bem como fixar, antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de
descumprimento.

O doutrinador Silvio de Salvo Venosa fala das duas faces da cláusula penal, vejamos: “de um
lado, possui a finalidade de indenização prévia de perdas e danos, de outro, a de penalizar,
punir o devedor moroso. Trata-se basilarmente, como decorre da própria denominação, de
uma modalidade de pena. Assim, as funções destacadas da cláusula penal são estimular o
devedor a cumprir a obrigação e prefixar as perdas e danos em razão do inadimplemento
parcial ou total. A doutrina discute qual dessas duas funções é preponderante, o que nos
parece irrelevante. ” (Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia
Rodrigues. – 4. ed., – São Paulo: Atlas, 2019, p. 935).

Critério 02 (0,5) – Não pode ser cumulada com lucros cessantes.

O STJ, mudando o seu entendimento, passou a entender que não é possível a cumulação de
cláusula penal, seja ela moratória ou compensatória (art. 409 do CC), com indenização por
perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Nesse sentido, vejamos a
decisão:

“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA


PLANTA. ATRASO NA ENTREGA. NOVEL LEI N. 13.786/2018. CONTRATO FIRMADO ENTRE AS
PARTES ANTERIORMENTE À SUA VIGÊNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. CONTRATO DE ADESÃO.

71
CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O
VALOR DAS PERDAS E DANOS. PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL, TOMANDO-SE EM CONTA O
PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA. CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES. INVIABILIDADE. 1. A
tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.
2. No caso concreto, recurso especial não provido. ” (REsp 1498484/DF, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/05/2019, DJe 25/06/2019) (Informativo
651).

72
LEGISLAÇÃO COMPILADA

ADIMPLEMENTO

 Código Civil: arts. 304 a 388.


Artigos mais relevantes: 319, 330, 362, 371 e 369.

INADIMPLEMENTO

 Código Civil: arts. 389 a 420 (os arts. 402 a 405 serão estudados de forma mais
específica no próximo capítulo, referente ao instituto da responsabilidade civil).
Artigos mais relevantes: 410, 412 e 416.

Súmulas

 Súmula Vinculante 7

A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a
taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.

 Súmula 30, STJ

A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.

 Súmula 54, STJ

Os juros moratorios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

 Súmula 76, STJ

A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não dispensa a prévia interpelação para
constituir em mora o devedor.

 Súmula 72, STJ

A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

 Súmula 214, STJ

O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

 Súmula 245, STJ

73
A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação
do valor do débito.

 Súmula 294, STJ

Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de
mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.

 Súmula 296, STJ

Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de
inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratado.

 Súmula 369, STJ

No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a
notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.

 Súmula 380, STJ

A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.

 Súmula 382, STJ

A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

 Súmula 464, STJ

A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do Código Civil não se aplica às hipóteses de
compensação tributária.

 Súmula 472, STJ

A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios
e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.

 Súmula 539, STJ:

É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.

 Súmula 541, STJ:

74
A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança dataxa efetiva anual contratada.

 Súmula 562, STF

Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, os índices de correção monetária.

75
JURISPRUDÊNCIA

INADIMPLEMENTO RELATIVO - MORA

 STJ. 2ª Seção. REsp 1639259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 639).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 972/STJ. DIREITO BANCÁRIO. DESPESA DE PRÉ-GRAVAME.
VALIDADE NOS CONTRATOS CELEBRADOS ATÉ 25/02/2011. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA. VENDA
CASADA. OCORRÊNCIA. RESTRIÇÃO À ESCOLHA DA SEGURADORA. ANALOGIA COM O ENTENDIMENTO DA
SÚMULA 473/STJ. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. NÃO OCORRÊNCIA. ENCARGOS ACESSÓRIOS. 1.
DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos bancários celebrados a partir de 30/04/2008, com instituições
financeiras ou equiparadas, seja diretamente, seja por intermédio de correspondente bancário, no âmbito das
relações de consumo. 2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 2.1 - Abusividade da
cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da despesa com o registro do pré-gravame, em contratos
celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula
pactuada no período anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva . 2.2 - Nos
contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com a instituição
financeira ou com seguradora por ela indicada. 2.3 - A abusividade de encargos acessórios do contrato não
descaracteriza a mora. 3. CASO CONCRETO. 3.1. Aplicação da tese 2.1 para declarar válida a cláusula referente
ao ressarcimento da despesa com o registro do pré-gravame, condenando-se porém a instituição financeira a
restituir o indébito em virtude da ausência de comprovação da efetiva prestação do serviço. 3.2. Aplicação da
tese 2.2 para declarar a ocorrência de venda casada no que tange ao seguro de proteção financeira. 3.3. Validade
da cláusula de ressarcimento de despesa com registro do contrato, nos termos da tese firmada no julgamento do
Tema 958/STJ, tendo havido comprovação da prestação do serviço. 3.4. Ausência de interesse recursal no que
tange à despesa com serviços prestados por terceiro. 4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NESSA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO”. (negritamos)

Comentário:
O STJ pacificou, em sede de recurso repetitivo, que “a abusividade de encargos
acessórios do contrato não descaracteriza a mora”.
Por exemplo, se apenas a correção monetária fixada pelo credor for abusiva e o
devedor atrasar o pagamento, ele estará de qualquer forma em mora, incidindo as possíveis
punições pelo seu atrado no adimplemento da sua obrigação.

76
Atente-se, o referido julgado refere-se apenas aos encargos acessórios. Se houver o
reconhecimento de abusividade, pelo credor, de encargos essenciais impostos ao devedor,
haverá a descaracterização da mora, já que afastará a “culpa” do devedor pelo atraso (STJ. 2ª
Seção. REsp 1061530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2008).

JUROS

Muitos julgados acerca dos juros dizem respeito ao termo inicial de sua incidência. Conforme destacado
durante o capítulo, tal assunto será estudado com maiores detalhes no capítulo 12. Portanto, juntaremos os
julgados do STJ sobre a partir de quando incidem os juros apenas no próximo capítulo.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1720656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. COMPRA E VENDA A PRAZO. EMPRESA DO COMÉRCIO VAREJISTA.
INSTITUIÇÃO NÃO FINANCEIRA. ART. 2º DA LEI 6.463/77. EQUIPARAÇÃO. INVIABILIDADE. JUROS
REMUNERATÓRIOS/COMPENSATÓRIOS. COBRANÇA. LIMITES. ARTS. 406 C/C 591 DO CC/02. SUBMISSÃO.
DESPROVIMENTO. 1. Cuida-se de ação revisional de cláusulas contratuais de pacto firmado para a aquisição
de mercadorias com pagamento em prestações, cujas parcelas contariam com a incidência de juros
remuneratórios superiores a 1% ao mês. 2. Recurso especial interposto em: 04/08/2017; conclusão ao Gabinete
em: 02/02/2018; aplicação do CPC/15. 3. O propósito recursal consiste em determinar se é possível à instituição
não financeira - dedicada ao comércio varejista em geral - estipular, em suas vendas a crédito, pagas em
prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano, de acordo com as taxas médias de
mercado. 4. A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil de
2002 é excepcional e deve ser interpretada restritivamente. 5. Apenas às instituições financeiras, submetidas à
regulação, controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal.
Súmula 596/STF e precedente da 2ª Seção. 6. A previsão do art. 2º da Lei 6.463/77 faz referência a um sistema
obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia da atuação do varejista como instituição
financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e
fiscalização do Ministério da Fazenda. 8. Após a Lei 4.595/64, o art. 2º da Lei 6.463/77 passou a não mais
encontrar suporte fático apto a sua incidência, sendo, pois, ineficaz, não podendo ser interpretado
extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não autorizando a cobrança
de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita. 9. Na hipótese concreta, o contrato é regido pelas disposições do
Código Civil e não pelos regulamentos do CMN e do BACEN, haja vista a ora recorrente não ser uma instituição
financeira. Assim, os juros remuneratórios devem observar os limites do art. 406 c/c art. 591 do CC/02. 10.
Recurso especial não provido.” (negritamos)

77
Comentário:
É pacífico que somente as instituições financeiras, fiscalizadas pelo Conselho
Monetário Nacional, podem cobrar juros acima do permitido pela lei.
Nesse julgado o STJ firmou que o varejista não pode ser equiparado a instituição
financeira, termo que deve ser interpretado de forma restritiva. Portanto, os comerciantes
varejistas submetem-se ao teto legal para a fixação de juros, não podendo impor juros maior
que 1% ao mês (limite do CC – uma das correntes).
De acordo com o art. 581, CC, nos contratos regidos pelo CC, os juros cobrados não
podem ser superiores à taxa de juros legal prevista no art. 406. Há duas correntes acerca do
tema, uma diz que o percentual do art. 406, CC é 1% (com base no art. 161, §1º, CTN),
enquanto a outra sustenta ser a taxa SELIC, que é a corrente que prevalece, conforme vimos
na leitura sobre o tema juros (REsp 1403005/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/04/2017, DJe 11/04/2017).

 STJ. 4ª Turma. REsp 1634958-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/08/2019 (Info 655).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS.


OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. VALOR MOBILIÁRIO. DEFINIÇÃO LEGAL QUE SE AJUSTA À DINÂMICA DO MERCADO.
SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS. CESSÃO DE CRÉDITO EMPREGADO COMO LASTRO NA EMISSÃO DE TÍTULOS
OU VALORES MOBILIÁRIOS. MERCADO FINANCEIRO. BANCÁRIO, MONETÁRIO, CAMBIAL E DE CAPITAIS.
ABRANGÊNCIA. OPERAÇÃO DO FUNDO DE INVESTIMENTO. CAPTAÇÃO DE POUPANÇA POPULAR MEDIANTE
EMISSÃO E SUBSCRIÇÃO DE VALOR MOBILIÁRIO E ADMINISTRAÇÃO POR INSTITUIÇÃO FINANCEIRA OU
EQUIPARADA. NÃO RECONHECIMENTO COMO INSTITUIÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO. INVIABILIDADE.
OBJETIVAÇÃO DO CRÉDITO, COM RECONHECIMENTO COMO ENTIDADE PATRIMONIAL PASSÍVEL DE
TRANSMISSÃO. RECONHECIMENTO PELO DIREITO INTERNO E COMPARADO. CESSÃO DE CRÉDITO POR CASA
BANCÁRIA. JUROS, CONFORME PROPICIADO PELA AVENÇA BANCÁRIA. ABRANGÊNCIA. 1. Com a edição da
MP n. 1.637/1998, convertida na Lei n. 10.198/2001, houve a introdução no ordenamento jurídico de
conceituação, próxima à do direito americano, estabelecendo que se constituem valores mobiliários os títulos ou
contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração - inclusive
resultante de prestação de serviços -, cujos rendimentos advenham do esforço do empreendedor ou de terceiros.
A definição de valor mobiliário se ajusta à dinâmica do mercado, pois abrange os negócios oferecidos ao público,
em que o investidor aplica seus recursos na expectativa de obter lucro em empreendimento administrado pelo
ofertante ou por terceiro. 2. Os Fundos de Investimento em Direito Creditório - FIDCs foram criados por
deliberação do CMN, conforme Resolução n. 2.907/2001, que estabelece, no art. 1º, I, a autorização para a
constituição e o funcionamento, nos termos da regulamentação a ser estabelecida pela CVM, de fundos de

78
investimento destinados preponderantemente à aplicação em direitos creditórios e em títulos representativos
desses direitos, originários de operações realizadas nos segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário, de
hipotecas, de arrendamento mercantil e de prestação de serviços, bem como nas demais modalidades de
investimento admitidas na referida regulamentação. 3. O FIDC opera no mercado financeiro (vertente mercado
de capitais) mediante a securitização de recebíveis, por meio da qual determinado fluxo de caixa futuro é
utilizado como lastro para a emissão de valores mobiliários colocados à disposição de investidores.
Consoante a legislação e a normatização infralegal de regência, um FIDC pode adquirir direitos creditórios por
meio de dois atos formais: o endosso, cuja disciplina depende do título de crédito adquirido, e a cessão civil
ordinária de crédito, disciplinada nos arts. 286-298 do CC, pro soluto ou pro solvendo. 4. O art. 17, parágrafo
único, da Lei n. 4.595/1964, estabelece que se consideram instituições financeiras, para os efeitos da
legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como atividade principal ou
acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em
moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. E o art. 18, § 1º, do
mesmo Diploma legal esclarece que também se subordinam às disposições e à disciplina dessa lei, no que
for aplicável, as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade
relacionada com a compra e a venda de ações e de quaisquer outros títulos, realizando nos mercados
financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras. 5.
O mercado financeiro abrange o de capitais, e a operação dos FIDCs, por envolver a captação de poupança
popular mediante a emissão e a subscrição de cotas (valor mobiliário) para concessão de crédito, é
inequivocamente de instituição financeira, bastante assemelhada ao desconto ou redesconto bancário,
anotando a doutrina especializada que a criação dessa modalidade de fundo de investimento deu-se com o fito
de que outras instituições pudessem exercitar tarefa tipicamente bancária. 6. Por um lado, o principal efeito da
cessão, a teor do art. 287 do CC, é transferir o crédito para o cessionário, acompanhado de todos os acessórios.
Por outro lado, como necessidade decorrente do incremento das relações econômicas pela própria
funcionalidade do crédito - bem patrimonial, em regra, disponível - e pela necessidade econômico-social de
permitir o seu melhor aproveitamento mediante utilização simultânea por vários sujeitos, operou-se a
denominada objetivação da cessão de crédito, facilitando a substituição da posição do credor e tutelando a
confiança. 7. A tese sufragada pelo acórdão recorrido acerca da incidência da limitação de juros da Lei da Usura
ignora a natureza de entidade do mercado financeiro dos FIDCs, conduz ao enriquecimento sem causa do cedido
e vai na contramão da evolução do Direito, que busca conferir objetivação à regular cessão de crédito, conforme
se extrai da teleologia do art. art. 29, § 1º, da Lei n. 10.931/2004. 8. Recurso especial parcialmente provido .”
(negritamos)

Comentário:
Conforme dissemos no julgado acima, é pacífico que somente as entidades
consideradas instituições financeiras podem cobrar juros acima do permitido pela lei.

79
Nesse julgado o STJ firmou que os Fundos de Investimento em Direito Creditório -
FIDCs amoldam-se à definição legal de instituição financeira e não se sujeitam à
incidência da limitação de juros da Lei da Usura ou do Código Civil.
Assim, se o FIDC for cessionário de título de crédito de um banco, ele pode cobrar a
mesma taxa de juros porque esse fundo se amolda à definição legal de instituição financeira.

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1843073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020
(Info 669).

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE, POIS AUSENTE ÓBICE CONTRATUAL. ACÓRDÃO EM HARMONIA
COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA 83/STJ, AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1.
Consoante a jurisprudência do STJ, a imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que,
via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas, como o discutido nos
autos (abertura de crédito em conta-corrente/cheque especial), porquanto "objetiva diminuir a oneração do
devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o
valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. É admitida a utilização do
instituto quando o contrato não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel.
Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019). 2. O Supremo Tribunal Federal,
"ao julgar o mérito do RE n.º 592.377/RS (tema em repercussão geral n.º 33), em acórdão transitado em
17/04/2015, firmou o entendimento no sentido de que o art. 5.º da Medida Provisória n.º 2.170-36/2001 não
padece de inconstitucionalidade, na medida em que preenche os requisitos exigidos no art. 62 da Constituição da
República" (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial,
julgado em 7/10/2015, DJe 10/11/2015). 3. Agravo interno desprovido.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com o art. 354, CC: “Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á
primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o
credor passar a quitação por conta do capital”.
Imagine que “X” deve treze mil reais ao banco, sendo dez mil a dívida principal e três
mil de juros. Conforme a regra geral, o pagamento dessa dívida recairá primeiro sobre os
juros.
O STJ dispôs que essa regra deve ser aplicada a todos os contratos, se não houver
disposição das partes em contrário.

80
No caso, tratava-se de um contrato diferido (pagamento em parcelas). Firmou-se que,
também nesse contrato, o pagamento recairá primeiro sobre os juros.
Essa conclusão se deu para proteger o devedor de uma oneração descabida, já que se
não fossem pagos primeiro os juros, incidiriam juros sobre tais juros.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.740.260-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/06/2018 (Info
629)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ADVOGADO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. FRAUDE. ALVARÁS JUDICIAIS. LEVANTAMENTO. APROPRIAÇÃO INDEVIDA. JUROS MORATÓRIOS. TERMO
FINAL. BLOQUEIO DOS BENS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. REDUÇÃO.
INVIABILIDADE. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial
relacionado com uma série de demandas indenizatórias cíveis ajuizadas por antigos clientes do escritório de
advocacia do recorrente, Maurício Dal Agnol. 2. No caso concreto, as instâncias ordinárias consignaram que o
recorrente desrespeitou os limites de seu mandato ao reter indevidamente quantias que pertenciam à recorrida,
na condição de seu advogado, realizando o levantamento de alvarás judiciais sem efetuar os respectivos repasses.
3. A prática de ato ilícito por parte de advogado contra sua própria clientela, aproveitando-se da relação de
confiança para causar prejuízos a quem lhe contratou na expectativa de ser representado com lealdade e boa-fé,
importa em séria violação do ordenamento jurídico e dos deveres ético-sociais que regem o exercício da
advocacia, a extrapolar o simples descumprimento contratual e impor o dever de reparação pelos danos materiais
e morais causados. 4. A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens
do réu, no cerne de outro processo, com objeto e partes distintas, não possui o condão de interromper a
incidência dos juros moratórios. O bloqueio judicial dos bens é medida constritiva de natureza preventiva
que não se confunde com a sistemática do depósito judicial em garantia. 5. Inexiste fundamento jurídico
para a interrupção da mora antes do efetivo pagamento da indenização, pois a ninguém é dado se
beneficiar da própria torpeza. 6. A divergência jurisprudencial pressupõe a existência de similitude fática entre
os arestos confrontados, o que não ocorre na espécie. 7. Inviável reapreciar as conclusões do acórdão recorrido
no tocante à configuração do dano moral, à sua quantificação e à ocorrência de sucumbência mínima da autora,
por demandar a reapreciação do conjunto fático-probatório, procedimento vedado pela Súmula nº 7/STJ,
consoante iterativa jurisprudência desta Corte Superior. 8. O montante fixado a título de indenização por danos
morais (R$ 10.000,00 - dez mil reais) não se mostra irrisório ou abusivo ante o quadro fático delineado na
origem. 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido .” (negritamos)

Comentário:
A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens
do réu, no cerne de outro processo, com objeto e partes distintas, não possui o condão de

81
interromper a incidência dos juros moratórios. Mesmo se os processos forem conexos, o
bloqueio dos bens do devedor no outro processo não leva à suspensão de cobrança dos
juros moratórios.

 STJ, 2ª Seção. REsp 973827-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/6/2012 (Info 500).

EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÕES REVISIONAL E DE BUSCA E APREENSÃO
CONVERTIDA EM DEPÓSITO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. DECRETO 22.626/1933 MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. MORA. CARACTERIZAÇÃO. 1. A capitalização de juros vedada pelo Decreto
22.626/1933 (Lei de Usura) em intervalo inferior a um ano é permitida pela Medida Provisória 2.170-
36/2001, desde que expressamente pactuada, tem por pressuposto a circunstância de os juros devidos e já
vencidos serem, periodicamente, incorporados ao valor principal. Os juros não pagos são incorporados ao capital
e sobre eles passam a incidir novos juros. 2. Por outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática financeira,
de "taxa de juros simples" e "taxa de juros compostos", métodos usados na formação da taxa de juros
contratada, prévios ao início do cumprimento do contrato. A mera circunstância de estar pactuada taxa efetiva e
taxa nominal de juros não implica capitalização de juros, mas apenas processo de formação da taxa de juros pelo
método composto, o que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933. 3. Teses para os efeitos do art. 543-C do
CPC: - "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após
31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde
que expressamente pactuada." - "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de
forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da
mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". 4. Segundo o entendimento
pacificado na 2ª Seção, a comissão de permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos
remuneratórios ou moratórios. 5. É lícita a cobrança dos encargos da mora quando caracterizado o estado de
inadimplência, que decorre da falta de demonstração da abusividade das cláusulas contratuais questionadas. 6.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado o STJ solidificou a regra de que a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano é vedada. Também solidificou a exceção: é permitida a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos bancários
celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.

82
 STJ. 2ª Seção. REsp 1388972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 8/2/2017 (recurso repetitivo)
(Info 599).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA - ARTIGO 1036 E SEGUINTES DO CPC/2015


- AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS - PROCEDÊNCIA DA DEMANDA ANTE A ABUSIVIDADE DE
COBRANÇA DE ENCARGOS - INSURGÊNCIA DA CASA BANCÁRIA VOLTADA À PRETENSÃO DE COBRANÇA DA
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS 1. Para fins dos arts. 1036 e seguintes do CPC/2015. 1.1 A cobrança de juros
capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver expressa pactuação. 2. Caso concreto: 2.1
Quanto aos contratos exibidos, a inversão da premissa firmada no acórdão atacado acerca da ausência de
pactuação do encargo capitalização de juros em qualquer periodicidade demandaria a reanálise de matéria fática
e dos termos dos contratos, providências vedadas nesta esfera recursal extraordinária, em virtude dos óbices
contidos nos Enunciados 5 e 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 2.2 Relativamente aos pactos não
exibidos, verifica-se ter o Tribunal a quo determinado a sua apresentação, tendo o banco-réu, ora insurgente,
deixado de colacionar aos autos os contratos, motivo pelo qual lhe foi aplicada a penalidade constante do artigo
359 do CPC/73 (atual 400 do NCPC), sendo tido como verdadeiros os fatos que a autora pretendia provar com a
referida documentação, qual seja, não pactuação dos encargos cobrados. 2.3 Segundo a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, é possível tanto a compensação de créditos quanto a devolução da quantia paga
indevidamente, independentemente de comprovação de erro no pagamento, em obediência ao princípio que
veda o enriquecimento ilícito. Inteligência da Súmula 322/STJ. 2.4 Embargos de declaração manifestados com
notório propósito de prequestionamento não tem caráter protelatório. Inteligência da súmula 98/STJ. 2.5 Recurso
especial parcialmente provido apenas ara afastar a multa imposta pelo Tribunal a quo .” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado, o STJ deixou o assunto ainda mais claro, determinando que seja qual for
a periodicidade dos juros sobre juros (anual, mensal, etc), deve haver expressa previsão
contratual para que ela seja válida.
O disposto no art. 591,CC não faz que a capitalização anual de juros seja
automática (ela também deve vir prevista no contrato).

ARRAS e CLÁUSULA PENAL

 STJ. 2ª Seção. REsp 1498484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo - Info 651)

83
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA.
ATRASO NA ENTREGA. NOVEL LEI N. 13.786/2018. CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES ANTERIORMENTE À
SUA VIGÊNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. CONTRATO DE ADESÃO. CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA
MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O VALOR DAS PERDAS E DANOS. PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL,
TOMANDO-SE EM CONTA O PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA. CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES.
INVIABILIDADE. 1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida
em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. 2. No caso concreto, recurso
especial não provido.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, o tema de recurso repetitivo grifado na ementa acima é muito importante, pois,
com ele, houve uma mudança no entendimento do STJ.
Nele, o STJ firmou que a cláusula penal moratória não pode ser cumulada com os
lucros cessantes no valor do locativo do imóvel. Isso porque ambos têm natureza
indenizatória pelo adimplemento tardio da obrigação.
Imagine que a construtora atrasa a entrega de um imóvel. Ela será obrigada a pagar
apenas a cláusula penal, já que seria punida duas vezes se tivesse que também pagar os
lucros cessantes ao comprador.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613, STJ)

EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE PROMESSA DE
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL C/C PEDIDO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA. ARRAS. NATUREZA
INDENIZATÓRIA. CUMULAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DAS ARRAS. JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO. 1. Ação ajuizada em 03/07/2014. Recurso especial interposto em 27/04/2016 e
distribuído em 01/12/2016. 2. Inexistentes os vícios de omissão, contradição, obscuridade ou erro material no
acórdão recorrido, não se caracteriza a violação do art. 1.022 do CPC/2015. 3. A cláusula penal compensatória
constitui pacto acessório, de natureza pessoal, por meio do qual os contratantes, com o objetivo de
estimular o integral cumprimento da avença, determinam previamente uma penalidade a ser imposta àquele
que der causa à inexecução, total ou parcial, do contrato. Funciona, ainda, como fixação prévia de perdas e
danos, que dispensa a comprovação de prejuízo pela parte inocente pelo inadimplemento contratual. 4. De outro
turno, as arras consistem na quantia ou bem móvel entregue por um dos contratantes ao outro, por ocasião
da celebração do contrato, como sinal de garantia do negócio. Apresentam natureza real e têm por
finalidades: a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o ajuste (caráter confirmatório); b)

84
servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo gênero da obrigação principal); c) prefixar o montante
das perdas e danos devidos pelo descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de arrependimento,
se expressamente estipulado pelas partes (caráter indenizatório). 5. Do regramento constante dos arts. 417 a 420
do CC/02, verifica-se que a função indenizatória das arras se faz presente não apenas quando há o lícito
arrependimento do negócio, mas principalmente quando ocorre a inexecução do contrato. 6. De acordo com o
art. 418 do CC/02, mesmo que as arras tenham sido entregues com vistas a reforçar o vínculo contratual,
tornando-o irretratável, elas atuarão como indenização prefixada em favor da parte "inocente" pelo
inadimplemento, a qual poderá reter a quantia ou bem, se os tiver recebido, ou, se for quem os deu, poderá
exigir a respectiva devolução, mais o equivalente. 7. Evidenciada a natureza indenizatória das arras na hipótese
de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a sua cumulação com a cláusula penal compensatória, sob
pena de violação do princípio do non bis in idem (proibição da dupla condenação a mesmo título). 8. Se
previstas cumulativamente, deve prevalecer a pena de perda das arras, as quais, por força do disposto no art.
419 do CC, valem como "taxa mínima" de indenização pela inexecução do contrato. 9. Os juros moratórios, na
hipótese de resolução do compromisso de compra e venda de imóvel por iniciativa dos promitentes
compradores, devem incidir a partir da data do trânsito em julgado, posto que inexiste mora anterior do
promitente vendedor. Precedentes. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente
provido.” (negritamos)

Comentário:
Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras
com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem.
Exemplo: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma
incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar
80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi
obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal
compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a
incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. Suponhamos que,
após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, João perderá
apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória.
Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal
compensatória.
Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas
reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal.

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 STJ. 3ª Turma. REsp 1513259-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 16/2/2016 (Info
577).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL RURAL. CONTRATO PRELIMINAR. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA E INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO TANTUM
DEVOLUTUM, QUANTUM APPELLATUM. NÃO OCORRÊNCIA. VALIDADE DO ATO JURÍDICO. REQUISITOS.
SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. CONFISSÃO. INVALIDADE. SÚMULA N. 284 DO STF. AÇÃO RESCISÓRIA. REQUISITOS. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. ARRAS E SINAL. PECULIARIDADE DO CASO. PAGAMENTO INICIAL REALIZADO EM
MONTANTE CONSIDERÁVEL. PERDA EM PROL DO VENDEDOR. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM
CAUSA. NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO DO VALOR. 1. Afasta-se a alegada violação do art. 535 do CPC quando o
acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa,
congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 2. O recurso especial não é via própria para
rever questão referente à validade de ato jurídico, se, para tanto, for necessário interpretar cláusulas contratuais e
reexaminar elementos fáticos. Aplicação das Súmulas n. 5 e 7 do STJ. 3. Se o Tribunal a quo, atento aos fatos, à
causa de pedir e ao pedido, resolve a controvérsia dentro desses parâmetros, não incorre em julgamento extra
petita. Assim, evidenciado que o órgão julgador ateve-se aos limites das matérias que foram objeto de
impugnação no recurso, não há ofensa ao princípio tantum devolutum, quantum appellatum. 4. É inadmissível o
recurso especial quando a fundamentação que lhe dá suporte não guarda relação de pertinência com o
conteúdo do acórdão recorrido. Aplicação da Súmula n. 284 do STF. 5. Aplica-se a Súmula n. 282 do STF quando
as questões suscitadas no recurso especial não tenham sido debatidas no acórdão recorrido nem, a respeito,
tenham sido opostos embargos declaratórios. 6. O comprador que dá causa à rescisão do contrato perde o
valor do sinal em prol do vendedor. Esse entendimento, todavia, pode ser flexibilizado se ficar evidenciado
que a diferença entre o valor inicial pago e o preço final do negócio é elevado, hipótese em que deve ser
autorizada a redução do valor a ser retido pelo vendedor e determinada a devolução do restante para evitar
o enriquecimento sem causa. Aplicação do Enunciado n. 165 das Jornadas de Direito Civil do CJF. 7. Recurso
especial parcialmente conhecido e provido em parte.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com este julgado, o magistrado deve analisar o caso concreto. Se constatar
que houve uma desproporção entre as arras confirmatórias e o preço total da mercadoria,
o juiz pode determinar que não seja retida a totalidade do sinal em favor do credor, sob
pena de enriquecimento sem causa. Isso significa que se o juiz constatar que as arras
confirmatórias são de valor muito alto, pode fazer com que o devedor receba parte delas de
volta no caso de descumprimento contratual.

86
Assim, o STJ firmou uma flexibilização ao que dispõe o início do art. 418, CC,
permitindo a retenção apenas parcial das arras.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1723690-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 06/08/2019 (Info
653)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL ENTRE


PARTICULARES. RESCISÃO DO CONTRATO. VALORES PAGOS. PERDA INTEGRAL. PREVISÃO EM CLÁUSULA PENAL.
VALIDADE. NEGÓCIO JURÍDICO. AUSÊNCIA DE VÍCIOS. PROPOSIÇÃO DO PROMITENTE COMPRADOR. ALEGAÇÃO
DE INVALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO. 1. Recurso especial
interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados
Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a discutir a validade de cláusula penal que prevê a
perda integral dos valores pagos em contrato de compromisso de compra e venda firmado entre
particulares. 3. Para a caracterização do vício de lesão, exige-se a presença simultânea de elemento objetivo - a
desproporção das prestações - e subjetivo - a inexperiência ou a premente necessidade, que devem ser aferidos
no caso concreto. 4. Tratando-se de negócio jurídico bilateral celebrado de forma voluntária entre particulares, é
imprescindível a comprovação dos elementos subjetivos, sendo inadmissível a presunção nesse sentido. 5. O
mero interesse econômico em resguardar o patrimônio investido em determinado negócio jurídico não configura
premente necessidade para o fim do art. 157 do Código Civil. 6. Na hipótese em apreço, a cláusula penal
questionada foi proposta pelos próprios recorrentes, que não comprovaram a inexperiência ou premente
necessidade, motivo pelo qual a pretensão de anulação configura comportamento contraditório, vedado
pelo princípio da boa-fé objetiva. 7. Recurso especial não provido.” (negritamos)

Comentário:
É válida a cláusula penal que prevê a perda integral dos valores pagos em contrato
de compromisso de compra e venda firmado entre particulares.
Para a caracterização do vício de lesão, exige-se a presença simultânea de:
a) elemento objetivo (desproporção das prestações); e
b) elemento subjetivo (a inexperiência ou a premente necessidade).
Os dois elementos devem ser aferidos no caso concreto.
Tratando-se de negócio jurídico bilateral celebrado de forma voluntária entre
particulares, é imprescindível a comprovação dos elementos subjetivos, sendo inadmissível a
presunção nesse sentido. O mero interesse econômico em resguardar o patrimônio investido

87
em determinado negócio jurídico não configura premente necessidade para o fim do art. 157
do Código Civil.

TEORIA DO INADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL

 STJ. 3ª Turma. REsp 1200105-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012 (Info
500).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. LEASING. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. CARRETAS. EMBARGOS


INFRINGENTES. TEMPESTIVIDADE. MANEJO ANTERIOR DE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA A DECISÃO.
CORRETO O CONHECIMENTO DOS EMBARGOS INFRINGENTES. INOCORRÊNCIA DE AFRONTA AO PRINCÍPIO DA
UNIRRECORRIBILIDADE. APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL E DA EXCEÇÃO DE
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. Ação de reintegração de posse de 135 carretas, objeto de contrato de
"leasing", após o pagamento de 30 das 36 parcelas ajustadas. Processo extinto pelo juízo de primeiro grau,
sendo provida a apelação pelo Tribunal de Justiça, julgando procedente a demanda. Interposição de embargos
declaratórios, que foram rejeitados, com um voto vencido que mantinha a sentença, com determinação de
imediato cumprimento do julgado. Antes da publicação do acórdão dos embargos declaratórios, com a
determinação de imediata reintegração de posse, a parte demandada extraiu cópia integral do processo e
impetrou mandado de segurança. Determinação de renovação da publicação do acórdão dos embargos
declaratórios para correção do resultado do julgamento. Após a nova publicação do acórdão, interposição de
embargos infringentes, com fundamento no voto vencido dos embargos declaratórios. Inocorrência de violação
do princípio da unirecorribilidade, em face da utilização do mandado de segurança com natureza cautelar para
agregação de efeito suspensivo a recurso ainda não interposto por falta de publicação do acórdão.
Tempestividade dos embargos infringentes, pois interpostos após a nova publicação do acórdão recorrido.
Correta a decisão do tribunal de origem, com aplicação da teoria do adimplemento substancial. Doutrina e
jurisprudência acerca do tema. O reexame de matéria fática e contratual esbarra nos óbices das súmulas 05 e
07/STJ. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.” (negritamos)

Comentário:
Trouxemos esse julgado de 2012 para demonstrar como o STJ vem aplicando a teoria
do adimplemento substancial. Nos próximos dois julgados, veremos duas hipóteses em que
ela não é aplicada.
Veja que o devedor, no caso trazido, pagou quase todas as parcelas (30 de 36). O STJ
decidiu que quando o descumprimento é ínfimo, não cabe a extinção contratual. Por isso,
no caso, não foi deferida a reintegração da posse.

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A Teoria do adimplemento substancial (substantial performance) tem sua origem no
direito anglo saxônico do século XVIII. Ela sustenta que a atividade do devedor, embora não
haja sido perfeita, aproximou-se substancialmente do resultado final esperado (a mora não
é relevante). Essa teoria corrobora com a baliza da eticidade que guia o Código Civil, pois
evidencia os princípios da função social e da boa-fé objetiva.

 STJ. 4ª Turma. HC 439973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 16/08/2018 (Info 632).

EMENTA: “HABEAS CORPUS. DIREITO DE FAMÍLIA. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. NÃO INCIDÊNCIA.
DÉBITO ALIMENTAR INCONTROVERSO. SÚMULA N. 309/STJ. PRISÃO CIVIL. LEGITIMIDADE. PAGAMENTO PARCIAL
DA DÍVIDA. REVOGAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL. NÃO CABIMENTO. IRRELEVÂNCIA DO DÉBITO. EXAME NA
VIA ESTREITA DO WRIT. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Teoria do Adimplemento Substancial, de aplicação estrita no
âmbito do direito contratual, somente nas hipóteses em que a parcela inadimplida revela-se de escassa
importância, não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver
controvérsias relacionadas a obrigações de natureza alimentar. 2. O pagamento parcial da obrigação
alimentar não afasta a possibilidade da prisão civil. Precedentes. 3. O sistema jurídico tem mecanismos por
meio dos quais o devedor pode justificar o eventual inadimplemento parcial da obrigação (CPC/2015, art. 528) e,
outrossim, pleitear a revisão do valor da prestação alimentar (L. 5.478/1968, art. 15; CC/2002, art. 1.699). 4. A ação
de Habeas Corpus não é a seara adequada para aferir a relevância do débito alimentar parcialmente adimplido, o
que só pode ser realizado a partir de uma profunda incursão em elementos de prova, ou ainda demandando
dilação probatória, procedimentos incompatíveis com a via estreita do remédio constitucional. 5. Ordem
denegada.” (negritamos)

Comentário:
O STJ firmou que a teoria do inadimplemento substancial não se aplica às contendas
de direito de família em que há a cobrança de alimentos.
Tal teoria tem aplicação restrita ao âmbito do direito contratual, não incidindo,
portanto, nos vínculos jurídicos familiares. Ademais, há no CPC dispositivo que expressamente
autoriza a cobrança e inclusive a prisão civil do devedor, no caso de dever as últimas parcelas.

 STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599).

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EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO,
COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA REGIDO PELO DECRETO-LEI 911/69. INCONTROVERSO
INADIMPLEMENTO DAS QUATRO ÚLTIMAS PARCELAS (DE UM TOTAL DE 48). EXTINÇÃO DA AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO (OU DETERMINAÇÃO PARA ADITAMENTO DA INICIAL, PARA TRANSMUDÁ-LA EM AÇÃO EXECUTIVA
OU DE COBRANÇA), A PRETEXTO DA APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
DESCABIMENTO. 1. ABSOLUTA INCOMPATIBILIDADE DA CITADA TEORIA COM OS TERMOS DA LEI ESPECIAL DE
REGÊNCIA. RECONHECIMENTO. 2. REMANCIPAÇÃO DO BEM AO DEVEDOR CONDICIONADA AO PAGAMENTO
DA INTEGRALIDADE DA DÍVIDA, ASSIM COMPREENDIDA COMO OS DÉBITOS VENCIDOS, VINCENDOS E
ENCARGOS APRESENTADOS PELO CREDOR, CONFORME ENTENDIMENTO CONSOLIDADO DA SEGUNDA SEÇÃO,
SOB O RITO DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS (REsp n. 1.418.593/MS). 3. INTERESSE DE AGIR
EVIDENCIADO, COM A UTILIZAÇÃO DA VIA JUDICIAL ELEITA PELA LEI DE REGÊNCIA COMO SENDO A MAIS
IDÔNEA E EFICAZ PARA O PROPÓSITO DE COMPELIR O DEVEDOR A CUMPRIR COM A SUA OBRIGAÇÃO
(AGORA, POR ELE REPUTADA ÍNFIMA), SOB PENA DE CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE NAS MÃOS DO
CREDOR FIDUCIÁRIO. 4. DESVIRTUAMENTO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL, CONSIDERADA A
SUA FINALIDADE E A BOA-FÉ DOS CONTRATANTES, A ENSEJAR O ENFRAQUECIMENTO DO INSTITUTO DA
GARANTIA FIDUCIÁRIA. VERIFICAÇÃO. 5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A incidência subsidiária do Código
Civil, notadamente as normas gerais, em relação à propriedade/titularidade fiduciária sobre bens que não sejam
móveis infugíveis, regulada por leis especiais, é excepcional, somente se afigurando possível no caso em que o
regramento específico apresentar lacunas e a solução ofertada pela "lei geral" não se contrapuser às
especificidades do instituto regulado pela lei especial (ut Art. 1.368-A, introduzido pela Lei n. 10931/2004). 1.1
Além de o Decreto-Lei n. 911/1969 não tecer qualquer restrição à utilização da ação de busca e apreensão em
razão da extensão da mora ou da proporção do inadimplemento, é expresso em exigir a quitação integral do
débito como condição imprescindível para que o bem alienado fiduciariamente seja remancipado. Em seus
termos, para que o bem possa ser restituído ao devedor, livre de ônus, não basta que ele quite quase toda a
dívida; é insuficiente que pague substancialmente o débito; é necessário, para esse efeito, que quite
integralmente a dívida pendente. 2. Afigura-se, pois, de todo incongruente inviabilizar a utilização da ação de
busca e apreensão na hipótese em que o inadimplemento revela-se incontroverso desimportando sua extensão,
se de pouca monta ou se de expressão considerável , quando a lei especial de regência expressamente
condiciona a possibilidade de o bem ficar com o devedor fiduciário ao pagamento da integralidade da dívida
pendente. Compreensão diversa desborda, a um só tempo, do diploma legal exclusivamente aplicável à questão
em análise (Decreto-Lei n. 911/1969), e, por via transversa, da própria orientação firmada pela Segunda Seção,
por ocasião do julgamento do citado Resp n. 1.418.593/MS, representativo da controvérsia, segundo a qual a
restituição do bem ao devedor fiduciante é condicionada ao pagamento, no prazo de cinco dias contados da
execução da liminar de busca e apreensão, da integralidade da dívida pendente, assim compreendida como as
parcelas vencidas e não pagas, as parcelas vincendas e os encargos, segundo os valores apresentados pelo
credor fiduciário na inicial. 3. Impor-se ao credor a preterição da ação de busca e apreensão (prevista em lei,
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segundo a garantia fiduciária a ele conferida) por outra via judicial, evidentemente menos eficaz, denota absoluto
descompasso com o sistema processual. Inadequado, pois, extinguir ou obstar a medida de busca e
apreensão corretamente ajuizada, para que o credor, sem poder se valer de garantia fiduciária dada (a qual,
diante do inadimplemento, conferia-lhe, na verdade, a condição de proprietário do bem), intente ação executiva
ou de cobrança, para só então adentrar no patrimônio do devedor, por meio de constrição judicial que
poderá, quem sabe (respeitada o ordem legal), recair sobre esse mesmo bem (naturalmente, se o devedor, até lá,
não tiver dele se desfeito). 4. A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo precípuo impedir que o
credor resolva a relação contratual em razão de inadimplemento de ínfima parcela da obrigação. A via judicial
para esse fim é a ação de resolução contratual. Diversamente, o credor fiduciário, quando promove ação de
busca e apreensão, de modo algum pretende extinguir a relação contratual. Vale-se da ação de busca e
apreensão com o propósito imediato de dar cumprimento aos termos do contrato, na medida em que se
utiliza da garantia fiduciária ajustada para compelir o devedor fiduciante a dar cumprimento às obrigações
faltantes, assumidas contratualmente (e agora, por ele, reputadas ínfimas). A consolidação da propriedade
fiduciária nas mãos do credor apresenta-se como consequência da renitência do devedor fiduciante de honrar
seu dever contratual, e não como objetivo imediato da ação. E, note-se que, mesmo nesse caso, a extinção do
contrato dá-se pelo cumprimento da obrigação, ainda que de modo compulsório, por meio da garantia fiduciária
ajustada. 4.1 É questionável, se não inadequado, supor que a boa-fé contratual estaria ao lado de devedor
fiduciante que deixa de pagar uma ou até algumas parcelas por ele reputadas ínfimas mas certamente de
expressão considerável, na ótica do credor, que já cumpriu integralmente a sua obrigação, e, instado extra e
judicialmente para honrar o seu dever contratual, deixa de fazê-lo, a despeito de ter a mais absoluta ciência dos
gravosos consectários legais advindos da propriedade fiduciária. A aplicação da teoria do adimplemento
substancial, para obstar a utilização da ação de busca e apreensão, nesse contexto, é um incentivo ao
inadimplemento das últimas parcelas contratuais, com o nítido propósito de desestimular o credor - numa
avaliação de custo-benefício - de satisfazer seu crédito por outras vias judiciais, menos eficazes, o que, a
toda evidência, aparta-se da boa-fé contratual propugnada. 4.2. A propriedade fiduciária, concebida pelo
legislador justamente para conferir segurança jurídica às concessões de crédito, essencial ao
desenvolvimento da economia nacional, resta comprometida pela aplicação deturpada da teoria do
adimplemento substancial. 5. Recurso Especial provido.” (negritamos)

Comentário:
O STJ firmou que a teoria do inadimplemento substancial não se aplica aos
contratos de alienação fiduciária regidos pelo Decreto-Lei 911/69.
O DL 911 trata da alienação fiduciária de bens móveis fungíveis e infungíveis, sendo o
credor uma instituição financeira. Iremos estudar tal contrato em capítulo posterior, referente
aos contratos em espécie.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos – 10. ed. –
São Paulo: Atlas, 2010.

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - 14. ed. - São Paulo: Saraiva,
2017.

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