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CERS Book - Direito Civil - Capítulo 11
CERS Book - Direito Civil - Capítulo 11
JURÍDICAS
CARREIRAS JURÍDICAS
DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 11
CAPÍTULOS
1
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Esse capítulo tem muita importância prática e também dentro do Direito Civil no
Recomendamos o seguinte: leia primeiro tais artigos do Código Civil, ou, ao menos,
acompanhe a leitura do capítulo com a legislação ao lado, já que a maioria dos concursos de
Carreiras Jurídicas cobra a lei seca da lei. No entanto, conforme dito, não deixe, de jeito
nenhum, de dar atenção à jurisprudência do STJ. Alguns institutos usados no direito brasileiro,
como a teoria do adimplemento substancial, derivam do entendimento da STJ, e não da lei.
O capítulo é extenso, porém não traz conceitos de grande complexidade. Assim, mesmo
2
SUMÁRIO
Capítulo 11 ................................................................................................................................................ 5
GABARITO ............................................................................................................................................... 69
3
QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 70
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 76
4
DIREITO CIVIL
Capítulo 11
Aluno, vamos continuar e acabar o estudo do Direito das Obrigações? Esse capítulo é
muito mais prático e dinâmico que o anterior, não desista!
que subordina determinada pessoa (devedor) em benefício de outra (credor) a dar-lhe alguma
coisa ou fazer ou, ainda, não fazer algo, com abordagem nos artigos 233 a 420 do Código
Civil. Nesse capítulo estudaremos do artigo 304 ao 420 e, principalmente, os julgados mais
relevantes do STJ a eles relacionados.
Recomendamos o seguinte: leia primeiro tais artigos do Código Civil, ou, ao menos,
Mãos à obra!
5
Ato jurídico em sentido estrito: comportamento humano voluntário não negocial, cujo
efeito está previsto na lei.
O pagamento enquanto fato jurídico é um ato negocial (Caio Mário é um dos
adeptos dessa linha de pensamento).
Recomendamos que não adote posição definitiva acerca do assunto. Devemos observar
o caso concreto para descobrir se o pagamento tem ou não natureza negocial.
adimplemento substancial sustenta que a atividade do devedor, embora não haja sido perfeita,
aproximou-se substancialmente do resultado final esperado.
Para esta teoria, a luz do princípio da boa-fé, não se considera razoável resolver a
obrigação, quando a prestação, posto não adimplida de forma perfeita, fora substancialmente
atendida.
segurado o valor da indenização devida, abatido o prêmio que ainda não havia sido pago. O
STJ inclusive, já́ aplicou a teoria para o contrato de alienação fiduciária de bens imóveis, Lei
Ressalta-se que tal teoria tem sido aceita, mas a depender do caso concreto2.
1 Vide questão 2.
2 Vide jurisprudência comentada abaixo sobre teoria do inadimplemento substancial.
6
Existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes;
Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil: Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento
substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função
entanto, o sistema brasileiro, admite que o pagamento possa ser feito também pelo terceiro
(interessado ou não interessado). Exemplo: qualquer um pode pagar uma conta de qualquer
um.
Quais são os efeitos jurídicos que decorrem do pagamento feito pelo terceiro
interessado ou não? Afinal, o devedor pode se opor a pagamento feito por terceiro?
todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor originário. Por ter interesse jurídico,
tem muita força. Quando ele paga, ele assume a posição de credor originário. Com os
No caso do terceiro NÃO interessado, duas situações podem ocorrer, na forma dos arts
304 e 305 do CC:
Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome, terá pelo menos direito
ao reembolso. Não se sub-roga em todos direitos e garantias por ventura existentes.
Se o terceiro não interessado, todavia, pagar apenas em nome do devedor, não terá
direito a nada.
8
Nos termos do art. 306 do CC ẽ possível a oposição do pagamento, desde que o
devedor indique ter meios de satisfazer o credor. Também é possível a oposição, quando
há fundamento relevante, a exemplo da prescrição da dívida.
má-fé, como por exemplo, querer humilhar o devedor, por ser seu concorrente empresarial.
Pode então ser que o devedor se oponha ao pagamento de terceiro não interessado
com fundamento nos direitos de personalidade.
Pode, embora seja incomum, ainda se opor ao pagamento por terceiro interessado,
O credor deverã ratificar o pagamento, ou, caso não o faça, poderá o devedor
demonstrar que o pagamento reverteu em proveito daquele.
Também será considerado eficaz pagamento feito a terceiro nos termos do art. 309,
á luz da “Teoria da Aparência” no caso do credor putativo.
3 Vide questão 3.
9
Teoria da Aparência
pagamento a uma pessoa imaginando que ela é a credora, é um pagamento motivado pela
boa-fé a quem aparenta ser credor, mas não o é.
efetua o pagamento como costumava fazer, para receber após 15 dias os produtos.
Tempo do pagamento;
Lugar do pagamento;
Prova (quitação) do pagamento;
Objeto do pagamento.
Tempo do Pagamento
Em regra, na forma do art. 331 e ss, o pagamento deve ser feito no VENCIMENTO da
dívida. Caso a obrigação não tenha vencimento certo, salvo norma especial em contrário, o
credor pode exigi-la de imediato.
10
Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido
ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo
imediatamente.
Esse artigo configura o chamado Princípio da Satisfação Imediata, o qual está ligado
diretamente ao art. 397, § único:
Seria a chamada mora ex persona (precisa dar ciência que está em mora). Diferente
da mora ex re, a qual é automática.
No caso do mútuo de dinheiro, existe regra específica (artigo 592, II CC) no sentido de
que, não se estipulando um vencimento, o prazo mínimo para pagamento é de 30 dias.
11
III – se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do
débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor intimado, se negar a
reforçá-las.
Parágrafo Único. Nos casos desse artigo, se houver, no débito,
solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros
devedores solventes.
O Código Civil prevê além do artigo 333, outra hipótese de antecipação do vencimento
da dívida, previsto no artigo 133, no qual se dispõe que o prazo é uma benesse do devedor,
portanto, disponível para ele, desde que não gere prejuízo para o credor.
Lugar do Pagamento4
Regra do direito brasileiro nos termos do art. 327, as dívidas são QUESĨVEIS
(querable), ou seja, o pagamento é feito no domicílio do devedor. (BIZU: Seu Barriga vai
até seu Madruga para cobrar a dívida).
O que acontece se no título da obrigação houver dois ou mais lugares para o pagamento?
4 Vide questão 5.
12
Nesse caso, a escolha deverá ser feita pelo credor.
Não confundir aqui com o caso de obrigações genéricas e alternativas em que, não
sendo previamente determinada a escolha da prestação, esta caberá ao devedor.
Artigo 329, CC: se ocorrer motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar
determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, desde que sem prejuízo para o
credor.
Artigo 330, CC: o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir
renúncia do credor ao previsto no contrato (Princípio do venire contra factum
próprium: desdobramento da boa fé objetiva, evita que o credor, quebre o princípio
da confiança adotando comportamento contraditório.).
13
Art. 322. “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a
Quer dizer, pode-se não ter a quitação das anteriores, mas há a presunção que estão
pagas. Se paga março, presume-se pagas as de fevereiro, janeiro, até prova em contrário. O
Art. 323. “Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes
se presumem pagos”.
Como os juros são um bem acessório, gerado pelo capital, uma vez que este último foi
quitado, há uma presunção que os juros também o foram.
Objeto do Pagamento
REGRA 1: Nos termos do art. 313, o credor não é obrigado a receber prestação
diversa, ainda que mais valiosa. Regra da intangibilidade do objeto.
REGRA 2: Luz do princípio da indivisibilidade, nos termos do art. 314, o credor não é
obrigado a receber nem o devedor a pagar por partes, se assim não se convencionou ou se a
lei permitir.
5 Vide questão 7.
14
no título da obrigação. Este princípio sobre certo aspecto utópico é relativizado pelos
A variaçáo cambial não pode ser utilizada como índice de correçáo monetária,
A rigor náo poderia (vedado pelo CC art. 1710 e pelo inciso IV, art. 7º da CRFB mais
no caso concreto.
15
DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OBJETIVA
contraditório, uma vez que não é razoável admitir-se que uma pessoa pratica
determinado ato ou conjunto de atos e, sem seguida, realize conduta
diametralmente oposta.
podendo mais ser exercitado. Nessa linha, à luz do princípio da boa-fé objetiva, o
comportamento de um dos sujeitos geraria no outro a convicção de que o direito
16
11.2 Formas Especiais de Pagamento
Pagamento em Consignação
Devedor deposita a coisa devida, liberando-se de obrigação líquida e certa. Se a
dívida for em dinheiro o depósito pode ser extrajudicial (estabelecimento bancário oficial – art.
realizado pelo devedor, o pedido será julgado improcedente, pois o pagamento parcial da
dívida não extingue o vínculo obrigacional, segundo tese fixada em sede de julgamento de
repercussão geral pelo STJ (Tema 967 – REsp 1.108.058-DF).
Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;
17
Antes da aceitação ou impugnação do depósito: o devedor total liberdade para
levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu do seu patrimônio
jurídico.
atributos (avalista que paga a dívida). A sub-rogação transfere ao novo credor todos os
direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor
principal e fiadores.
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Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere os seus direitos: aplicam-se as regras de cessão de crédito (art. 348,
CC). O devedor não precisa concordar, apenas ser notificado (eficácia).
Quando terceira pessoa empresta dinheiro ao devedor para ele pagar a dívida
ficando convencionada a sub-rogação. Ex.: mútuo.
Imputação do Pagamento
Pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos, a
A indicação é realizada pelo devedor, pelo credor ou pela lei, sucessivamente nessa
ordem (favor in debitoris), sendo a ordem de imputação legal a seguinte:
19
11.2.2 Pagamento Indireto
Dação em Pagamento
Acordo de vontades entre credor e devedor, com o objetivo de extinguir a obrigação,
Assim, é a entrega de uma coisa por outra, e não a substituição de uma obrigação
por outra. Em certas situações especiais, a dação é vedada pelo ordenamento, por se travestir
em cláusula comissória (art. 1428 do CC).
Não confundir a dação em pagamento (datio in solutum) com a datio pro solvendo,
também chamada de dação em função do pagamento, pois esta não satisfaz plenamente o
20
Novação6
substituição do devedor). Não podem ser objeto de novação as dívidas extintas ou nulas.
Trata-se de modo extintivo não satisfatório, tendo natureza jurídica negocial, não
podendo ser imposta por lei.
6 Vide questões 1 e 6.
21
Caso ocorra a novação subjetiva por expromissão, mesmo sendo o novo devedor
insolvente, não tem o credor ação regressiva contra o primeiro devedor. Ocorrerá a novação
por expromissão (art. 362, do Código Civil) quando um terceiro assume a dívida do devedor
Súmula 214 do STJ: “O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
22
Em caso de solidariedade ativa, extingue-se a dívida perante os demais
credores, devendo estes se entenderem com o credor operante;
Compensação7
Duas ou mais pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras;
somente se compensam coisas fungíveis entre si. O art. 373, CC afirma que as dívidas podem
7 Vide questão 4.
23
Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação,
O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Modalidades de compensação:
Quanto à extensão:
Quanto à origem:
Legal: decorre da norma jurídica e ocorre ainda que uma das partes não
queira a extinção das dívidas. Ainda, não comporta compensação a obrigação
o Reciprocidade;
o Dívidas líquidas;
o Dívidas vencidas;
o Coisas fungíveis;
o Mesma qualidade).
24
o Compensação judicial: decorre de decisão judicial constitutiva, pelo qual
tunc.
Confusão
Incidência em uma mesma pessoa das qualidades de credor e devedor. De acordo
com art. 383, a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a
obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto
ao demais a solidariedade. Assim, a lei afirma que ocorre confusão parcial na solidariedade
ativa ou passiva. Ainda, cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus
Remissão
A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo perdão do credor, que deve
ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa
ou tácita.
25
Pode ser revogada unilateralmente, desde que não tenha ainda gerado um direito
contrário;
as garantias reais;
26
11.3.1 Espécies de Inadimplemento
Inadimplemento Absoluto
É o descumprimento total da obrigação. Desdobra-se em:
Deriva de fato não imputável ao devedor, decorrente de caso fortuito ou força maior
(art. 393).
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Fortuito interno – estando atrelado ao risco inerente ao dever de indenizar (ou em caso de
mora ou demais disposições legais) o fortuito não será excludente de responsabilidade. Neste
culpa contratual é muito mais sensível, ou seja, requer menos requisitos do que a culpa
extracontratual. Aquela se contenta com a mera inadimplência, desde que não advindo de
caso fortuito ou força maior. Para fins do art. 389, não se cogita de correlação entre gravidade
da culpa e a reparação do dano. Está claro isso no art. 403 CC.
As perdas e danos, nos termos do art. 402 do CC, consistem no prejuízo efetivo sofrido
pelo credor (dano emergente), compreendendo também aquilo que ele razoavelmente
deixou de lucrar (lucros cessantes). Pagar perdas e danos, portanto, significa indenizar a
29
Art. 392 CC, primeira parte (contratos benéficos): há uma bipartição da relação jurídica
2) Quem não se beneficia – responde (como regra) só por dolo (exemplo: comodante) –
Inadimplemento nos contratos onerosos (art. 392 CC, parte final), por ser sinalagma, partes
Inadimplemento Relativo8
O devedor será considerado em mora quando não efetuar o pagamento (se este não
é feito no tempo, lugar e forma convencionados). Por outro lado, se o credor se recusar a
8 Vide questão 9.
30
líquida com data determinada, de modo que não precisa ser notificado para
se constituir em mora, o mero não pagamento tempestivo configura a mora
automaticamente. Ex: dia do vencimento do aluguel.
Efeitos da Mora:
ficam ´custa do credor, mas não pode o devedor agir com dolo, como por
a conservação da coisa.
O credor deve aceitar o cumprimento da obrigação pelo valor que for mais
favorável ao devedor, se tiver havido oscilação do valor entre a data
31
Os juros de mora são contados desde a citação inicial (artigo 405 CC), devendo
observar, quanto às obrigações extracontratuais, a súmula 54 do STJ, que dispõe que “Os
juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
As perdas e danos serão apuradas pelo valor que compreendem além o que já era de
direito da parte, os que efetivamente deixou de ganhar9.
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE (será analisada de forma mais detida no próximo
capítulo, pois está relacionada com o tem da responsabilidade civil): “Segundo esta teoria, se
alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter
uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos
causados. Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima
perca a oportunidade de obter uma situação futura melhor.”
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça 10, a teoria da perda de uma chance,
para ser reconhecida, deve fazer com que o sujeito perca um direito que tinha chances atuais,
sérias e reais de êxito na situação futura esperada. Logo, a mera expectativa não possibilita
o seu reconhecimento.
9 Vide questão 2.
10 Estudaremos o leading case e outros julgados acerca da aplicação dessa teoria no Brasil no próximo capítulo.
32
11.3.2 Cláusula penal11
culposo do devedor. Por sua vez, a função coercitiva (de intimidação) intimida o devedor a
cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar
a multa convencional.
Neste caso, a cláusula não poderá ser exigida com a cumulação de indenização
suplementar decorrente da mora, pois esta já é a sua natureza, sendo enriquecimento ilícito a
perdas e danos?
ENTENDIMENTO DO STJ).
Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual
ou pena convencional.
principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista
em instrumento separado.
34
Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?
valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes (Info 651 –
julgado em sede de recurso repetitivo).
Porque o Min. Luis Felipe Salomão disse que, a depender do caso concreto, a parte poderá
demonstrar que sofreu algum dano especial, além daqueles regularmente esperados da
inadimplência, e que a cláusula penal moratória seria insuficiente para reparar esse dano.
Assim, nesses casos excepcionais, seria possível a cobrança tanto da cláusula penal moratória
Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o
inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?
NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com
obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como
punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e danos.
35
A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que
inadimplemento contratual.
MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória) (compensar o inadimplemento)
36
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal
para o caso de mora, ou em segurança especial Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal
de outra cláusula determinada, terá o credor o para o caso de total inadimplemento da
arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, obrigação, esta converter-se-á em alternativa a
juntamente com o desempenho da obrigação benefício do credor.
principal.
Este assunto foi cobrado pela CESPE em certame de 2019 para o cargo de Juiz Substituto do
TJ-SC. Vejamos:
A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o inadimplemento da obrigação
principal é denominada
A) multa penitencial.
B) cláusula penal.
C) perdas e danos.
D) arras penitenciais.
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b) CORRETA. A cláusula penal é uma multa contratual estabelecida pelas partes e um de seus
pena convencional. Pode ser uma cláusula do contrato ou um contrato acessório ao principal
em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga pela parte
contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação. É, portanto, um pacto acessório que
tem por objetivo evitar a ocorrência do inadimplemento, já que servirá como uma forma de
da obrigação. Elas poderão servir como confirmação da obrigação ou como penalidade pelo
desfazimento desta.
O objetivo do arras penitenciais não é ressarcir os prejuízos da parte afetada, mas sim
38
11.3.3 Arras12
É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes
oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o
cumprimento do contrato.
compensadas do valor a ser pago pela execução da prestação. Por outro lado, se
descumprido o contrato por parte de quem ofereceu as arras, a parte prejudicada poderá
O STJ entende que se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total
ajustado evidenciar que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode
11.3.4 Juros
juros das indenizações por atos ilícitos (que também são moratórios, conforme o
art. 398, CC). Os convencionais decorrem sa vontade, da manifestação das partes.
dispõe o art. 405, CC: “contam-se os juros de mora desde a citação inicial”.
Art. 406: “Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa
estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa
que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional”.
O STJ determinou, em seu informativo 510, que o juros mencionados no art. 406, CC
deve ser a taxa SELIC. Ademais, firmou que essa taxa não pode ter incidência conjunta com a
correção monetária, sob pena de bis in idem. Isso porque a taxa SELIC já é composta de juros
e correção monetária.
utilização do capital.
Exemplo: era para o devedor “X” pagar uma Exemplo: o devedor “X” pediu um
dívida ao banco no dia 10 de janeiro, no empréstimo ao banco. Este cobra de X, além
entanto, ele só conseguiu pagá-la no dia 20. do dinheiro de volta, um juros para ser
Juros de mora incidirão sobre esses 10 dias compensado por tal serviço, ou seja, por
de atraso (além dos juros remuneratórios). proporcionar o empréstimo.
Podem ser tanto legais (ex.: art. 398) quanto Podem ser tanto legais (ex.: juros legais do
contratuais (casos dos contratos de mútuo civil - art. 591 CC, perdas e danos -
financiamento, de cartão de crédito, etc.). art. 404 CC, juros na gestão de negócios - art.
41
869 CC; art. 1404 CC, etc.) quanto
contratuais.
chamados pelo banco, no caso de empréstimo, por exemplo, de “encargos básicos”) quanto
indenizatórios.
Outras denominações para capitalização de juros: juros sobre juros, juros compostos, juros
Ele é permitido? O art. 4º do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura) veda o anatocismo (“é
proibido contar juros sobre juros”), no entanto, tanto o STJ 14 , quanto o CC permitem a
capitalização anual de juros.
Veja o que dispõe o art. 591, CC: “destinando-se o mútuo a fins econômicos,
presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que
casos em que ocorre o anatocismo mensal (incide juros sobre juros mensalmente)? A
capitalização mensal de juros só não é proibida se o credor for instituição financeira,
conforme a MP 20.170/200115.
15 Art. 5º: “Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização
de juros com periodicidade inferior a um ano”.
16 Súmula 539, STJ.
17 Vide Súmula 541, STJ e julgados comentados acerca do tema juros.
43
Ademais, cabe destacar que a comissão de permanência, quando vigente, não podia ser
cumulada com praticamente nenhum encargo, como juros remuneratórios, etc (vide súmula
472 do STJ).
Usamos o verbo no passado porque, atualmente, tal valor não mais pode ser cobrado
pelos Bancos (sua EXTINÇÃO se deu pela Resolução 4.558 do Bacen, que entrou em vigor no
dia 01 de setembro de 2017).
No entanto, ressalta-se que ela continua a viger nos contratos em que foi instituída
antes da data de sua extinção, portanto, devemos ainda saber o texto das súmulas a ela
referentes (30, 294, 296, 472 do STJ).
44
QUADRO SINÓTICO
PAGAMENTO DIRETO
ocorrer:
1) Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome,
OBJETO: prestação.
ADIMPLEMENTO
O credor não é obrigado a receber prestação diversa, ainda que
mais valiosa (regra da intangibilidade do objeto). O credor também
não é obrigado a receber nem o devedor a pagar por partes
(princípio da indivisivilidade).
consignação em pagamento.
45
alternativas).
Art. 331, CC: (...) “não tendo sido ajustada época para o pagamento,
46
PAGAMENTO COM Substituição na obrigação de uma pessoa
SUB-ROGAÇÃO por outra, com os mesmos ônus e atributos
PAGAMENTO INDIRETO
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CONFUSÃO Incidência em uma mesma pessoa das
qualidades de credor e devedor.
expressa ou tácita.
honorários advocatícios.
contrato.
judicial ou extrajudicial.
MORA DO CREDOR
(ACCIPIENDI,
Recusa (do credor) em aceitar o
CREDITORIS)
cumprimento da obrigação.
48
CLÁUSULA PENAL
penal.
substituir.
49
cláusula penal.
ARRAS
50
de inadimplemento A comissão de permanência, quando vigente,
contratual enquanto o não podia ser cumulada com praticamente
51
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
A) exige a inequívoca intenção de novar, mas ela pode ser expressa ou tácita.
D) pode ser utilizada licitamente como meio de validar obrigações nulas ou extintas.
E) da obrigação principal não tem reflexos sobre as obrigações acessórias, tal como a fiança.
Comentário:
Gabarito: alternativa A.
A letra A está correta, de acordo com o art. 361, CC. Esse dispositivo dispõe que: “não
havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira”.
A letra B está errada pois, é possível a novação parcial. Depreendemos tal informação
da leitura do art. 364, CC: “a novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que
não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor,
a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi
parte na novação”.
52
A letra C está errada pois, conforme já abordado na explicação da alternativa A, um
dos requisitos da novação é a vontade de realizá-la (art. 361, CC). A mera modificação
unilateral da forma de cumprimento da obrigação não presume a vontade de novar, a
extintas”.
A letra E está errada, pois, conforme dispõe o art. 364, a novação, em regra, extingue
as obrigações acessórias. Lembre-se do princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o
principal).
Questão 2
(Banca própria – MPE-GO – Promotor de Justiça – 2019) De acordo com o clássico conceito
de Clóvis do Couto e Silva, adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão
próximo ao resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de
resolução, permitindo-lhe tão somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez
que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé (objetiva)”. (O Princípio da Boa-Fé
no Direito Brasileiro e Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo:
RT, 1980, p. 56). De acordo com o conceito doutrinário acima, assinale a alternativa correta:
brasileiro.
C) O uso da teoria do adimplemento substancial pode ser estimulado a ponto de preservar os
interesses do credor e do devedor, pois, a longo prazo, seus efeitos colaterais podem auxiliar
na manutenção dos custos da contratação.
53
D) Na Inglaterra, onde surgiu a teoria, os autores ingleses formularam dois requisitos para
Comentário:
Gabarito: alternativa A
1) Insignificância do inadimplemento;
54
3) Diligência do devedor no desempenho da sua obrigação, ainda que imperfeitamente,
Questão 3
a) feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que ele não era credor.
b) deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de
c) não vale quando cientemente feito ao credor incapaz de quitar, em nenhuma hipótese.
e) feito pelo devedor ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo, prejudicado o direito de regresso contra o credor.
Comentário:
A) INCORRETA. O erro da alternativa está na palavra “salvo”. De acordo com o art. 309, CC,
“o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não
era credor". Aqui, portanto, aplica-se a Teoria da Aparência. Credor putativo é a pessoa que
se apresenta com o título obrigacional, passando aos olhos de todos como sendo o
verdadeiro credor. A doutrina dá como exemplo o irmão gêmeo.
55
B) CORRETA. Trata-se do art. 308 do CC. Assim, além do credor originário, poderão, também,
C) INCORRETA. O erro está no trecho "em nenhuma hipótese”. Conforme o art. 310, CC, não
vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar
que em benefício dele efetivamente reverteu”.
Exemplo: provar que o pagamento chegou ao poder do seu representante ou, ainda que não
tenha acontecido isso, conseguir provar que a prestação acabou por aumentar o patrimônio
do incapaz.
de quitação, como, por exemplo, um office boy, salvo se as circunstâncias afastarem essa
presunção relativa, admitindo-se, assim, prova em contrário. O office boy não se trata de um
representante, é considerado um mandatário tácito do credor.
E) INCORRETA, pois o direito de regresso não é prejudicado. Veja o texto do art. 312, CC: "se
o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão
56
Questão 4
a) Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem
b) Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o
credor dele lhe dever
c) O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever, mas o fiador pode
Comentário:
57
A) CORRETA. A alternativa contempla o que prevê o art. 378 do CC: “quando as duas dívidas
não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas
necessárias à operação”.
B) CORRETA. A alternativa está correta, pois é a previsão contida no art. 376, CC: “obrigando-
se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe
dever”.
pretendendo compensá-la com o que lhe deve o credor de terceiro, por faltar o requisito da
reciprocidade.
A título de exemplo, se um tutor deve ao credor e o credor deve ao tutelado, não pode
o tutor pretender compensar a sua dívida com a dívida que o credor tem para com o
tutelado.
C) CORRETA. A alternativa está correta, de acordo com a inteligência do art. 371, CC: “o
devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.”
Conforme já dito, em regra, a compensação só pode ser oposta pelo devedor ao
próprio credor, ou seja, entre pessoas que são entre si, reciprocamente, credora e devedora
uma da outra. Todavia, com base no artigo 371 do CC, admite-se que o fiador possa realizar
a compensação de sua dívida decorrente de fiança com aquela que o credor tiver para com o
afiançado.
D) INCORRETA. A alternativa está incorreta, pois estabelece o CC, em seu artigo 369, que a
compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Senão vejamos:
58
Dessa forma, podemos citar como requisitos da compensação legal:
II) Liquidez das dívidas: a dívida é líquida quando é certa, quanto à sua existência, e
determinada, quanto à sua quantia, isto é, quando consta o que é devido e quanto é
sentença reconhece a dívida, fica ipso facto declarada a compensação, que retroage ao
tempo do vencimento respectivo;
III) Exigibilidade das dívidas: se a compensação equivale ao pagamento e este só pode ser
exigido quando a dívida estiver vencida, também a compensação só se pode operar entre
IV) coisas fungíveis: só se pode compensar coisas fungíveis, ou seja, aquelas que podem ser
substituídas por outras de mesma espécie, qualidade e quantidade.
Questão 5
(Instituto Consulplan – MPE-SC – Promotor de Justiça – 2019) Nos termos do Código Civil,
obrigação ou das circunstâncias. Designados dois ou mais lugares, cabe ao devedor escolher
entre eles.
c) Certo
e) Errado
59
Comentário:
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre
eles”.
Divida quesível é aquela que deve ser paga no domicílio do devedor, tornando-se
este o competente para a promoção da ação de consignação em pagamento.
Podem as partes estipular que o pagamento ocorrera em local designado pelo
credor (normalmente, no domicilio deste), convertendo-se a obrigação em
dívida portável.
Questão 6
60
Tanto no caso de assunção de dívida quanto no caso de novação de dívida, enquanto a
obrigação original não for totalmente adimplida, o devedor originário manterá sua
responsabilidade com o credor e a obrigação permanecerá inalterada.
c) Certo
e) Errado
Comentário:
Leia os dois dispositivos do Código Civil que colacionamos abaixo, o art. 299 diz
respeito à assunção de dívida (forma de transmissão da obrigação estudada no capítulo
Portanto, diferente do que afirma o item, o devedor originário não manterá sua
responsabilidade com o credor.
61
Questão 7
(CESPE – STM – Analista Judiciário - Área Judiciária – 2018) De acordo com o Código Civil e
c) Certo
e) Errado
Comentário:
Vejamos o art. 322 do CC: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação
da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores."
Exemplo: o locatário está devendo os alugueis referentes aos meses de janeiro à julho e
vai até a imobiliária, com um cheque, recebendo desta um recibo referente ao mês de julho.
Desta forma, há a presunção de que os meses anteriores também foram pagos. Caso não
tenham sido, como estamos diante de presunção relativa, poderá o locador provar o
contrário. Percebe-se que ocorre a inversão do ônus da prova, ou seja, ao invés do
62
locatário provar o pagamento de todos os alugueis atrasados, deverá o locador provar
Lembre-se sempre:
Questão 8
6 (seis) parcelas de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a Thais. Depois de pagos o sinal e duas
parcelas, Miguel deixa de executar a sua parte do contrato.
b) Thais não pode pedir indenização suplementar, ainda que prove que teve maior prejuízo.
c) Thais pode exigir a execução do contrato, com as perdas e os danos, valendo a moto como
o mínimo da indenização.
Comentário:
63
Essa questão é muito interessante pois traz um caso prático que abrange o assunto
arras (casos práticos são muito cobrados pela VUNESP).
O gabarito é a LETRA C.
Conforme estudamos, as arras ou sinal significam a entrega de dinheiro ou de outro
bem móvel como garantia de firmar um negócio e fazer com que o contrato seja cumprido,
tal qual, por exemplo, o penhor.
arrependimento, ou seja, se convencionarem uma pena que deverá ser cumprida pela parte
que se valer da faculdade do arrependimento.
Neste caso, tem-se que as arras (sinal) entregues por Miguel tiveram caráter
confirmatório, visto que a moto tinha o condão de confirmar, garantir o contrato e o
pagamento das demais parcelas, além do fato de que Thais e Miguel firmaram no contrato
uma cláusula de não arrependimento, o que exclui a possibilidade de arras penitenciais.
Pelo exposto, deve ser assinalada é a letra C, pois, conforme previsão do artigo 419 do
CC, como houve inadimplência por parte de Miguel, Thais poderá exigir a execução do
contrato, com as perdas e danos, valendo a moto como o mínimo da indenização.
“Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior
prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir
a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da
indenização”.
Questão 9
(FCC – TJ-MS – Juiz de Direito – 2020) Quanto à mora e às perdas e danos, é correto afirmar:
64
a) A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.
Comentário:
a) CORRETA. Veja que a presente alternativa reproduz o art. 400, CC: “A mora do credor
estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o
pagamento e o da sua efetivação”.
b) ERRADA. Pelo contrário, o art. 396, CC determina que: “NÃO havendo fato ou omissão
imputável ao devedor, não incorre este em mora”. Portanto, se houver fato ou omissão do
devedor, ele incorrerá em mora.
65
c) ERRADA. Não é a partir do ajuizamento da ação, e sim desde o dia em que praticou o
ato ilícito que se considera o devedor em mora. Isso está no artigo 398 do CC e é muito
importante, inclusive para provas de sentença cível: “art. 398. Nas obrigações provenientes de
d) ERRADA. Desconfie das alternativas que trazem expressões como “em qualquer caso”. De
acordo com o art. 399: “o devedor em mora responde pela impossibilidade da
e) ERRADA. O erro da questão está na palavra “salvo”. Veja o que dispõe o art. 403, C: “ainda
lei processual”.
Questão 10
b) não podem ser cumuladas as cláusulas que preveem a retenção do sinal com a multa
moratória, por serem um bis in idem.
66
c) o comprador pode reter o sinal, mas não poderá pedir indenização suplementar, mesmo se
provar maior prejuízo, valendo o valor do sinal como indenização pré-fixada.
d) a multa moratória não pode ser reduzida equitativamente pelo juiz, mesmo que se
demonstre que é manifestamente excessiva, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio
Comentário:
A) INCORRETA. O art. 412, CC impõe uma limitação à clausula penal (pena convencional), que
é não ser superior ao valor da obrigação principal (justamente o contrário do que determina
a alternativa).
penal moratória já faz, configurando verdadeiro “bis in idem". Seria lícito à parte retê-las
caso a outra que as deu não cumprisse a obrigação, desfazendo-se, assim, o contrato (art. 418
C) INCORRETA. O legislador, no art. 419, CC, permite a indenização suplementar (“a parte
inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como
taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e
danos, valendo as arras como o mínimo da indenização"). Portanto, as arras representam o
mínimo de indenização, sendo possível a reparação integral do prejuízo.
67
D) INCORRETA. O art. 413, CC dispõe que “a penalidade deve ser reduzida eqüitativamente
68
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - A
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 - ERRADO
Questão 6 - ERRADO
Questão 7 - ERRADO
Questão 8 - C
Questão 9 - A
Questão 10 - B
69
QUESTÃO DESAFIO
Pedro e Cláudia decidiram se casar em 2015, porém, como não tinham muito dinheiro,
decidiram que a melhor opção seria adquirir um imóvel na planta. Assim, celebraram um
contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com a construtora XXX. A
cláusula de número 10 previa que a construtora entregaria o apartamento no dia 01/01/2018,
podendo prorrogar a entrega para 01/07/2018 (prazo de tolerância). Ocorre que a construtora,
por mora imputável unicamente a ela, somente entregou o imóvel em 01/01/2020.
Desse modo, pergunta-se: Em que consiste essa multa contratual? Ela pode ser cumulada com
lucros cessantes?
70
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
De acordo com o art. 408 do CC: “Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde
que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.” Assim, a cláusula
penal consiste em uma obrigação de natureza acessória, que busca garantir o cumprimento da
obrigação principal, bem como fixar, antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de
descumprimento.
O doutrinador Silvio de Salvo Venosa fala das duas faces da cláusula penal, vejamos: “de um
lado, possui a finalidade de indenização prévia de perdas e danos, de outro, a de penalizar,
punir o devedor moroso. Trata-se basilarmente, como decorre da própria denominação, de
uma modalidade de pena. Assim, as funções destacadas da cláusula penal são estimular o
devedor a cumprir a obrigação e prefixar as perdas e danos em razão do inadimplemento
parcial ou total. A doutrina discute qual dessas duas funções é preponderante, o que nos
parece irrelevante. ” (Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia
Rodrigues. – 4. ed., – São Paulo: Atlas, 2019, p. 935).
O STJ, mudando o seu entendimento, passou a entender que não é possível a cumulação de
cláusula penal, seja ela moratória ou compensatória (art. 409 do CC), com indenização por
perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Nesse sentido, vejamos a
decisão:
71
CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O
VALOR DAS PERDAS E DANOS. PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL, TOMANDO-SE EM CONTA O
PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA. CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES. INVIABILIDADE. 1. A
tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.
2. No caso concreto, recurso especial não provido. ” (REsp 1498484/DF, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/05/2019, DJe 25/06/2019) (Informativo
651).
72
LEGISLAÇÃO COMPILADA
ADIMPLEMENTO
INADIMPLEMENTO
Código Civil: arts. 389 a 420 (os arts. 402 a 405 serão estudados de forma mais
específica no próximo capítulo, referente ao instituto da responsabilidade civil).
Artigos mais relevantes: 410, 412 e 416.
Súmulas
Súmula Vinculante 7
A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a
taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.
A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não dispensa a prévia interpelação para
constituir em mora o devedor.
O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
73
A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação
do valor do débito.
Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de
mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.
Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de
inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratado.
No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a
notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.
A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.
A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.
A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do Código Civil não se aplica às hipóteses de
compensação tributária.
A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios
e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.
É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.
74
A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança dataxa efetiva anual contratada.
Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, os índices de correção monetária.
75
JURISPRUDÊNCIA
STJ. 2ª Seção. REsp 1639259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 639).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 972/STJ. DIREITO BANCÁRIO. DESPESA DE PRÉ-GRAVAME.
VALIDADE NOS CONTRATOS CELEBRADOS ATÉ 25/02/2011. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA. VENDA
CASADA. OCORRÊNCIA. RESTRIÇÃO À ESCOLHA DA SEGURADORA. ANALOGIA COM O ENTENDIMENTO DA
SÚMULA 473/STJ. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. NÃO OCORRÊNCIA. ENCARGOS ACESSÓRIOS. 1.
DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos bancários celebrados a partir de 30/04/2008, com instituições
financeiras ou equiparadas, seja diretamente, seja por intermédio de correspondente bancário, no âmbito das
relações de consumo. 2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 2.1 - Abusividade da
cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da despesa com o registro do pré-gravame, em contratos
celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula
pactuada no período anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva . 2.2 - Nos
contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com a instituição
financeira ou com seguradora por ela indicada. 2.3 - A abusividade de encargos acessórios do contrato não
descaracteriza a mora. 3. CASO CONCRETO. 3.1. Aplicação da tese 2.1 para declarar válida a cláusula referente
ao ressarcimento da despesa com o registro do pré-gravame, condenando-se porém a instituição financeira a
restituir o indébito em virtude da ausência de comprovação da efetiva prestação do serviço. 3.2. Aplicação da
tese 2.2 para declarar a ocorrência de venda casada no que tange ao seguro de proteção financeira. 3.3. Validade
da cláusula de ressarcimento de despesa com registro do contrato, nos termos da tese firmada no julgamento do
Tema 958/STJ, tendo havido comprovação da prestação do serviço. 3.4. Ausência de interesse recursal no que
tange à despesa com serviços prestados por terceiro. 4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NESSA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO”. (negritamos)
Comentário:
O STJ pacificou, em sede de recurso repetitivo, que “a abusividade de encargos
acessórios do contrato não descaracteriza a mora”.
Por exemplo, se apenas a correção monetária fixada pelo credor for abusiva e o
devedor atrasar o pagamento, ele estará de qualquer forma em mora, incidindo as possíveis
punições pelo seu atrado no adimplemento da sua obrigação.
76
Atente-se, o referido julgado refere-se apenas aos encargos acessórios. Se houver o
reconhecimento de abusividade, pelo credor, de encargos essenciais impostos ao devedor,
haverá a descaracterização da mora, já que afastará a “culpa” do devedor pelo atraso (STJ. 2ª
Seção. REsp 1061530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2008).
JUROS
Muitos julgados acerca dos juros dizem respeito ao termo inicial de sua incidência. Conforme destacado
durante o capítulo, tal assunto será estudado com maiores detalhes no capítulo 12. Portanto, juntaremos os
julgados do STJ sobre a partir de quando incidem os juros apenas no próximo capítulo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1720656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. COMPRA E VENDA A PRAZO. EMPRESA DO COMÉRCIO VAREJISTA.
INSTITUIÇÃO NÃO FINANCEIRA. ART. 2º DA LEI 6.463/77. EQUIPARAÇÃO. INVIABILIDADE. JUROS
REMUNERATÓRIOS/COMPENSATÓRIOS. COBRANÇA. LIMITES. ARTS. 406 C/C 591 DO CC/02. SUBMISSÃO.
DESPROVIMENTO. 1. Cuida-se de ação revisional de cláusulas contratuais de pacto firmado para a aquisição
de mercadorias com pagamento em prestações, cujas parcelas contariam com a incidência de juros
remuneratórios superiores a 1% ao mês. 2. Recurso especial interposto em: 04/08/2017; conclusão ao Gabinete
em: 02/02/2018; aplicação do CPC/15. 3. O propósito recursal consiste em determinar se é possível à instituição
não financeira - dedicada ao comércio varejista em geral - estipular, em suas vendas a crédito, pagas em
prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano, de acordo com as taxas médias de
mercado. 4. A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil de
2002 é excepcional e deve ser interpretada restritivamente. 5. Apenas às instituições financeiras, submetidas à
regulação, controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal.
Súmula 596/STF e precedente da 2ª Seção. 6. A previsão do art. 2º da Lei 6.463/77 faz referência a um sistema
obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia da atuação do varejista como instituição
financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e
fiscalização do Ministério da Fazenda. 8. Após a Lei 4.595/64, o art. 2º da Lei 6.463/77 passou a não mais
encontrar suporte fático apto a sua incidência, sendo, pois, ineficaz, não podendo ser interpretado
extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não autorizando a cobrança
de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita. 9. Na hipótese concreta, o contrato é regido pelas disposições do
Código Civil e não pelos regulamentos do CMN e do BACEN, haja vista a ora recorrente não ser uma instituição
financeira. Assim, os juros remuneratórios devem observar os limites do art. 406 c/c art. 591 do CC/02. 10.
Recurso especial não provido.” (negritamos)
77
Comentário:
É pacífico que somente as instituições financeiras, fiscalizadas pelo Conselho
Monetário Nacional, podem cobrar juros acima do permitido pela lei.
Nesse julgado o STJ firmou que o varejista não pode ser equiparado a instituição
financeira, termo que deve ser interpretado de forma restritiva. Portanto, os comerciantes
varejistas submetem-se ao teto legal para a fixação de juros, não podendo impor juros maior
que 1% ao mês (limite do CC – uma das correntes).
De acordo com o art. 581, CC, nos contratos regidos pelo CC, os juros cobrados não
podem ser superiores à taxa de juros legal prevista no art. 406. Há duas correntes acerca do
tema, uma diz que o percentual do art. 406, CC é 1% (com base no art. 161, §1º, CTN),
enquanto a outra sustenta ser a taxa SELIC, que é a corrente que prevalece, conforme vimos
na leitura sobre o tema juros (REsp 1403005/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/04/2017, DJe 11/04/2017).
STJ. 4ª Turma. REsp 1634958-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/08/2019 (Info 655).
78
investimento destinados preponderantemente à aplicação em direitos creditórios e em títulos representativos
desses direitos, originários de operações realizadas nos segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário, de
hipotecas, de arrendamento mercantil e de prestação de serviços, bem como nas demais modalidades de
investimento admitidas na referida regulamentação. 3. O FIDC opera no mercado financeiro (vertente mercado
de capitais) mediante a securitização de recebíveis, por meio da qual determinado fluxo de caixa futuro é
utilizado como lastro para a emissão de valores mobiliários colocados à disposição de investidores.
Consoante a legislação e a normatização infralegal de regência, um FIDC pode adquirir direitos creditórios por
meio de dois atos formais: o endosso, cuja disciplina depende do título de crédito adquirido, e a cessão civil
ordinária de crédito, disciplinada nos arts. 286-298 do CC, pro soluto ou pro solvendo. 4. O art. 17, parágrafo
único, da Lei n. 4.595/1964, estabelece que se consideram instituições financeiras, para os efeitos da
legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como atividade principal ou
acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em
moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. E o art. 18, § 1º, do
mesmo Diploma legal esclarece que também se subordinam às disposições e à disciplina dessa lei, no que
for aplicável, as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade
relacionada com a compra e a venda de ações e de quaisquer outros títulos, realizando nos mercados
financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras. 5.
O mercado financeiro abrange o de capitais, e a operação dos FIDCs, por envolver a captação de poupança
popular mediante a emissão e a subscrição de cotas (valor mobiliário) para concessão de crédito, é
inequivocamente de instituição financeira, bastante assemelhada ao desconto ou redesconto bancário,
anotando a doutrina especializada que a criação dessa modalidade de fundo de investimento deu-se com o fito
de que outras instituições pudessem exercitar tarefa tipicamente bancária. 6. Por um lado, o principal efeito da
cessão, a teor do art. 287 do CC, é transferir o crédito para o cessionário, acompanhado de todos os acessórios.
Por outro lado, como necessidade decorrente do incremento das relações econômicas pela própria
funcionalidade do crédito - bem patrimonial, em regra, disponível - e pela necessidade econômico-social de
permitir o seu melhor aproveitamento mediante utilização simultânea por vários sujeitos, operou-se a
denominada objetivação da cessão de crédito, facilitando a substituição da posição do credor e tutelando a
confiança. 7. A tese sufragada pelo acórdão recorrido acerca da incidência da limitação de juros da Lei da Usura
ignora a natureza de entidade do mercado financeiro dos FIDCs, conduz ao enriquecimento sem causa do cedido
e vai na contramão da evolução do Direito, que busca conferir objetivação à regular cessão de crédito, conforme
se extrai da teleologia do art. art. 29, § 1º, da Lei n. 10.931/2004. 8. Recurso especial parcialmente provido .”
(negritamos)
Comentário:
Conforme dissemos no julgado acima, é pacífico que somente as entidades
consideradas instituições financeiras podem cobrar juros acima do permitido pela lei.
79
Nesse julgado o STJ firmou que os Fundos de Investimento em Direito Creditório -
FIDCs amoldam-se à definição legal de instituição financeira e não se sujeitam à
incidência da limitação de juros da Lei da Usura ou do Código Civil.
Assim, se o FIDC for cessionário de título de crédito de um banco, ele pode cobrar a
mesma taxa de juros porque esse fundo se amolda à definição legal de instituição financeira.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1843073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020
(Info 669).
Comentário:
De acordo com o art. 354, CC: “Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á
primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o
credor passar a quitação por conta do capital”.
Imagine que “X” deve treze mil reais ao banco, sendo dez mil a dívida principal e três
mil de juros. Conforme a regra geral, o pagamento dessa dívida recairá primeiro sobre os
juros.
O STJ dispôs que essa regra deve ser aplicada a todos os contratos, se não houver
disposição das partes em contrário.
80
No caso, tratava-se de um contrato diferido (pagamento em parcelas). Firmou-se que,
também nesse contrato, o pagamento recairá primeiro sobre os juros.
Essa conclusão se deu para proteger o devedor de uma oneração descabida, já que se
não fossem pagos primeiro os juros, incidiriam juros sobre tais juros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.740.260-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/06/2018 (Info
629)
Comentário:
A mera notícia de decisão judicial determinando a indisponibilidade forçada dos bens
do réu, no cerne de outro processo, com objeto e partes distintas, não possui o condão de
81
interromper a incidência dos juros moratórios. Mesmo se os processos forem conexos, o
bloqueio dos bens do devedor no outro processo não leva à suspensão de cobrança dos
juros moratórios.
STJ, 2ª Seção. REsp 973827-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/6/2012 (Info 500).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÕES REVISIONAL E DE BUSCA E APREENSÃO
CONVERTIDA EM DEPÓSITO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. DECRETO 22.626/1933 MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. MORA. CARACTERIZAÇÃO. 1. A capitalização de juros vedada pelo Decreto
22.626/1933 (Lei de Usura) em intervalo inferior a um ano é permitida pela Medida Provisória 2.170-
36/2001, desde que expressamente pactuada, tem por pressuposto a circunstância de os juros devidos e já
vencidos serem, periodicamente, incorporados ao valor principal. Os juros não pagos são incorporados ao capital
e sobre eles passam a incidir novos juros. 2. Por outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática financeira,
de "taxa de juros simples" e "taxa de juros compostos", métodos usados na formação da taxa de juros
contratada, prévios ao início do cumprimento do contrato. A mera circunstância de estar pactuada taxa efetiva e
taxa nominal de juros não implica capitalização de juros, mas apenas processo de formação da taxa de juros pelo
método composto, o que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933. 3. Teses para os efeitos do art. 543-C do
CPC: - "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após
31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde
que expressamente pactuada." - "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de
forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da
mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". 4. Segundo o entendimento
pacificado na 2ª Seção, a comissão de permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos
remuneratórios ou moratórios. 5. É lícita a cobrança dos encargos da mora quando caracterizado o estado de
inadimplência, que decorre da falta de demonstração da abusividade das cláusulas contratuais questionadas. 6.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido.” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ solidificou a regra de que a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano é vedada. Também solidificou a exceção: é permitida a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos bancários
celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.
82
STJ. 2ª Seção. REsp 1388972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 8/2/2017 (recurso repetitivo)
(Info 599).
Comentário:
Nesse julgado, o STJ deixou o assunto ainda mais claro, determinando que seja qual for
a periodicidade dos juros sobre juros (anual, mensal, etc), deve haver expressa previsão
contratual para que ela seja válida.
O disposto no art. 591,CC não faz que a capitalização anual de juros seja
automática (ela também deve vir prevista no contrato).
STJ. 2ª Seção. REsp 1498484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo - Info 651)
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EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA.
ATRASO NA ENTREGA. NOVEL LEI N. 13.786/2018. CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES ANTERIORMENTE À
SUA VIGÊNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. CONTRATO DE ADESÃO. CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA
MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O VALOR DAS PERDAS E DANOS. PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL,
TOMANDO-SE EM CONTA O PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA. CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES.
INVIABILIDADE. 1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida
em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. 2. No caso concreto, recurso
especial não provido.” (negritamos)
Comentário:
Aluno, o tema de recurso repetitivo grifado na ementa acima é muito importante, pois,
com ele, houve uma mudança no entendimento do STJ.
Nele, o STJ firmou que a cláusula penal moratória não pode ser cumulada com os
lucros cessantes no valor do locativo do imóvel. Isso porque ambos têm natureza
indenizatória pelo adimplemento tardio da obrigação.
Imagine que a construtora atrasa a entrega de um imóvel. Ela será obrigada a pagar
apenas a cláusula penal, já que seria punida duas vezes se tivesse que também pagar os
lucros cessantes ao comprador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613, STJ)
EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE PROMESSA DE
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL C/C PEDIDO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA. ARRAS. NATUREZA
INDENIZATÓRIA. CUMULAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DAS ARRAS. JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO. 1. Ação ajuizada em 03/07/2014. Recurso especial interposto em 27/04/2016 e
distribuído em 01/12/2016. 2. Inexistentes os vícios de omissão, contradição, obscuridade ou erro material no
acórdão recorrido, não se caracteriza a violação do art. 1.022 do CPC/2015. 3. A cláusula penal compensatória
constitui pacto acessório, de natureza pessoal, por meio do qual os contratantes, com o objetivo de
estimular o integral cumprimento da avença, determinam previamente uma penalidade a ser imposta àquele
que der causa à inexecução, total ou parcial, do contrato. Funciona, ainda, como fixação prévia de perdas e
danos, que dispensa a comprovação de prejuízo pela parte inocente pelo inadimplemento contratual. 4. De outro
turno, as arras consistem na quantia ou bem móvel entregue por um dos contratantes ao outro, por ocasião
da celebração do contrato, como sinal de garantia do negócio. Apresentam natureza real e têm por
finalidades: a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o ajuste (caráter confirmatório); b)
84
servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo gênero da obrigação principal); c) prefixar o montante
das perdas e danos devidos pelo descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de arrependimento,
se expressamente estipulado pelas partes (caráter indenizatório). 5. Do regramento constante dos arts. 417 a 420
do CC/02, verifica-se que a função indenizatória das arras se faz presente não apenas quando há o lícito
arrependimento do negócio, mas principalmente quando ocorre a inexecução do contrato. 6. De acordo com o
art. 418 do CC/02, mesmo que as arras tenham sido entregues com vistas a reforçar o vínculo contratual,
tornando-o irretratável, elas atuarão como indenização prefixada em favor da parte "inocente" pelo
inadimplemento, a qual poderá reter a quantia ou bem, se os tiver recebido, ou, se for quem os deu, poderá
exigir a respectiva devolução, mais o equivalente. 7. Evidenciada a natureza indenizatória das arras na hipótese
de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a sua cumulação com a cláusula penal compensatória, sob
pena de violação do princípio do non bis in idem (proibição da dupla condenação a mesmo título). 8. Se
previstas cumulativamente, deve prevalecer a pena de perda das arras, as quais, por força do disposto no art.
419 do CC, valem como "taxa mínima" de indenização pela inexecução do contrato. 9. Os juros moratórios, na
hipótese de resolução do compromisso de compra e venda de imóvel por iniciativa dos promitentes
compradores, devem incidir a partir da data do trânsito em julgado, posto que inexiste mora anterior do
promitente vendedor. Precedentes. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente
provido.” (negritamos)
Comentário:
Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras
com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem.
Exemplo: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma
incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar
80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi
obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal
compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a
incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. Suponhamos que,
após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, João perderá
apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória.
Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal
compensatória.
Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas
reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal.
85
STJ. 3ª Turma. REsp 1513259-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 16/2/2016 (Info
577).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL RURAL. CONTRATO PRELIMINAR. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA E INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO TANTUM
DEVOLUTUM, QUANTUM APPELLATUM. NÃO OCORRÊNCIA. VALIDADE DO ATO JURÍDICO. REQUISITOS.
SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. CONFISSÃO. INVALIDADE. SÚMULA N. 284 DO STF. AÇÃO RESCISÓRIA. REQUISITOS. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. ARRAS E SINAL. PECULIARIDADE DO CASO. PAGAMENTO INICIAL REALIZADO EM
MONTANTE CONSIDERÁVEL. PERDA EM PROL DO VENDEDOR. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM
CAUSA. NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO DO VALOR. 1. Afasta-se a alegada violação do art. 535 do CPC quando o
acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa,
congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 2. O recurso especial não é via própria para
rever questão referente à validade de ato jurídico, se, para tanto, for necessário interpretar cláusulas contratuais e
reexaminar elementos fáticos. Aplicação das Súmulas n. 5 e 7 do STJ. 3. Se o Tribunal a quo, atento aos fatos, à
causa de pedir e ao pedido, resolve a controvérsia dentro desses parâmetros, não incorre em julgamento extra
petita. Assim, evidenciado que o órgão julgador ateve-se aos limites das matérias que foram objeto de
impugnação no recurso, não há ofensa ao princípio tantum devolutum, quantum appellatum. 4. É inadmissível o
recurso especial quando a fundamentação que lhe dá suporte não guarda relação de pertinência com o
conteúdo do acórdão recorrido. Aplicação da Súmula n. 284 do STF. 5. Aplica-se a Súmula n. 282 do STF quando
as questões suscitadas no recurso especial não tenham sido debatidas no acórdão recorrido nem, a respeito,
tenham sido opostos embargos declaratórios. 6. O comprador que dá causa à rescisão do contrato perde o
valor do sinal em prol do vendedor. Esse entendimento, todavia, pode ser flexibilizado se ficar evidenciado
que a diferença entre o valor inicial pago e o preço final do negócio é elevado, hipótese em que deve ser
autorizada a redução do valor a ser retido pelo vendedor e determinada a devolução do restante para evitar
o enriquecimento sem causa. Aplicação do Enunciado n. 165 das Jornadas de Direito Civil do CJF. 7. Recurso
especial parcialmente conhecido e provido em parte.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com este julgado, o magistrado deve analisar o caso concreto. Se constatar
que houve uma desproporção entre as arras confirmatórias e o preço total da mercadoria,
o juiz pode determinar que não seja retida a totalidade do sinal em favor do credor, sob
pena de enriquecimento sem causa. Isso significa que se o juiz constatar que as arras
confirmatórias são de valor muito alto, pode fazer com que o devedor receba parte delas de
volta no caso de descumprimento contratual.
86
Assim, o STJ firmou uma flexibilização ao que dispõe o início do art. 418, CC,
permitindo a retenção apenas parcial das arras.
STJ. 3ª Turma. REsp 1723690-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 06/08/2019 (Info
653)
Comentário:
É válida a cláusula penal que prevê a perda integral dos valores pagos em contrato
de compromisso de compra e venda firmado entre particulares.
Para a caracterização do vício de lesão, exige-se a presença simultânea de:
a) elemento objetivo (desproporção das prestações); e
b) elemento subjetivo (a inexperiência ou a premente necessidade).
Os dois elementos devem ser aferidos no caso concreto.
Tratando-se de negócio jurídico bilateral celebrado de forma voluntária entre
particulares, é imprescindível a comprovação dos elementos subjetivos, sendo inadmissível a
presunção nesse sentido. O mero interesse econômico em resguardar o patrimônio investido
87
em determinado negócio jurídico não configura premente necessidade para o fim do art. 157
do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1200105-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012 (Info
500).
Comentário:
Trouxemos esse julgado de 2012 para demonstrar como o STJ vem aplicando a teoria
do adimplemento substancial. Nos próximos dois julgados, veremos duas hipóteses em que
ela não é aplicada.
Veja que o devedor, no caso trazido, pagou quase todas as parcelas (30 de 36). O STJ
decidiu que quando o descumprimento é ínfimo, não cabe a extinção contratual. Por isso,
no caso, não foi deferida a reintegração da posse.
88
A Teoria do adimplemento substancial (substantial performance) tem sua origem no
direito anglo saxônico do século XVIII. Ela sustenta que a atividade do devedor, embora não
haja sido perfeita, aproximou-se substancialmente do resultado final esperado (a mora não
é relevante). Essa teoria corrobora com a baliza da eticidade que guia o Código Civil, pois
evidencia os princípios da função social e da boa-fé objetiva.
STJ. 4ª Turma. HC 439973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 16/08/2018 (Info 632).
EMENTA: “HABEAS CORPUS. DIREITO DE FAMÍLIA. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. NÃO INCIDÊNCIA.
DÉBITO ALIMENTAR INCONTROVERSO. SÚMULA N. 309/STJ. PRISÃO CIVIL. LEGITIMIDADE. PAGAMENTO PARCIAL
DA DÍVIDA. REVOGAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL. NÃO CABIMENTO. IRRELEVÂNCIA DO DÉBITO. EXAME NA
VIA ESTREITA DO WRIT. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Teoria do Adimplemento Substancial, de aplicação estrita no
âmbito do direito contratual, somente nas hipóteses em que a parcela inadimplida revela-se de escassa
importância, não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver
controvérsias relacionadas a obrigações de natureza alimentar. 2. O pagamento parcial da obrigação
alimentar não afasta a possibilidade da prisão civil. Precedentes. 3. O sistema jurídico tem mecanismos por
meio dos quais o devedor pode justificar o eventual inadimplemento parcial da obrigação (CPC/2015, art. 528) e,
outrossim, pleitear a revisão do valor da prestação alimentar (L. 5.478/1968, art. 15; CC/2002, art. 1.699). 4. A ação
de Habeas Corpus não é a seara adequada para aferir a relevância do débito alimentar parcialmente adimplido, o
que só pode ser realizado a partir de uma profunda incursão em elementos de prova, ou ainda demandando
dilação probatória, procedimentos incompatíveis com a via estreita do remédio constitucional. 5. Ordem
denegada.” (negritamos)
Comentário:
O STJ firmou que a teoria do inadimplemento substancial não se aplica às contendas
de direito de família em que há a cobrança de alimentos.
Tal teoria tem aplicação restrita ao âmbito do direito contratual, não incidindo,
portanto, nos vínculos jurídicos familiares. Ademais, há no CPC dispositivo que expressamente
autoriza a cobrança e inclusive a prisão civil do devedor, no caso de dever as últimas parcelas.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599).
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EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO,
COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA REGIDO PELO DECRETO-LEI 911/69. INCONTROVERSO
INADIMPLEMENTO DAS QUATRO ÚLTIMAS PARCELAS (DE UM TOTAL DE 48). EXTINÇÃO DA AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO (OU DETERMINAÇÃO PARA ADITAMENTO DA INICIAL, PARA TRANSMUDÁ-LA EM AÇÃO EXECUTIVA
OU DE COBRANÇA), A PRETEXTO DA APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
DESCABIMENTO. 1. ABSOLUTA INCOMPATIBILIDADE DA CITADA TEORIA COM OS TERMOS DA LEI ESPECIAL DE
REGÊNCIA. RECONHECIMENTO. 2. REMANCIPAÇÃO DO BEM AO DEVEDOR CONDICIONADA AO PAGAMENTO
DA INTEGRALIDADE DA DÍVIDA, ASSIM COMPREENDIDA COMO OS DÉBITOS VENCIDOS, VINCENDOS E
ENCARGOS APRESENTADOS PELO CREDOR, CONFORME ENTENDIMENTO CONSOLIDADO DA SEGUNDA SEÇÃO,
SOB O RITO DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS (REsp n. 1.418.593/MS). 3. INTERESSE DE AGIR
EVIDENCIADO, COM A UTILIZAÇÃO DA VIA JUDICIAL ELEITA PELA LEI DE REGÊNCIA COMO SENDO A MAIS
IDÔNEA E EFICAZ PARA O PROPÓSITO DE COMPELIR O DEVEDOR A CUMPRIR COM A SUA OBRIGAÇÃO
(AGORA, POR ELE REPUTADA ÍNFIMA), SOB PENA DE CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE NAS MÃOS DO
CREDOR FIDUCIÁRIO. 4. DESVIRTUAMENTO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL, CONSIDERADA A
SUA FINALIDADE E A BOA-FÉ DOS CONTRATANTES, A ENSEJAR O ENFRAQUECIMENTO DO INSTITUTO DA
GARANTIA FIDUCIÁRIA. VERIFICAÇÃO. 5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A incidência subsidiária do Código
Civil, notadamente as normas gerais, em relação à propriedade/titularidade fiduciária sobre bens que não sejam
móveis infugíveis, regulada por leis especiais, é excepcional, somente se afigurando possível no caso em que o
regramento específico apresentar lacunas e a solução ofertada pela "lei geral" não se contrapuser às
especificidades do instituto regulado pela lei especial (ut Art. 1.368-A, introduzido pela Lei n. 10931/2004). 1.1
Além de o Decreto-Lei n. 911/1969 não tecer qualquer restrição à utilização da ação de busca e apreensão em
razão da extensão da mora ou da proporção do inadimplemento, é expresso em exigir a quitação integral do
débito como condição imprescindível para que o bem alienado fiduciariamente seja remancipado. Em seus
termos, para que o bem possa ser restituído ao devedor, livre de ônus, não basta que ele quite quase toda a
dívida; é insuficiente que pague substancialmente o débito; é necessário, para esse efeito, que quite
integralmente a dívida pendente. 2. Afigura-se, pois, de todo incongruente inviabilizar a utilização da ação de
busca e apreensão na hipótese em que o inadimplemento revela-se incontroverso desimportando sua extensão,
se de pouca monta ou se de expressão considerável , quando a lei especial de regência expressamente
condiciona a possibilidade de o bem ficar com o devedor fiduciário ao pagamento da integralidade da dívida
pendente. Compreensão diversa desborda, a um só tempo, do diploma legal exclusivamente aplicável à questão
em análise (Decreto-Lei n. 911/1969), e, por via transversa, da própria orientação firmada pela Segunda Seção,
por ocasião do julgamento do citado Resp n. 1.418.593/MS, representativo da controvérsia, segundo a qual a
restituição do bem ao devedor fiduciante é condicionada ao pagamento, no prazo de cinco dias contados da
execução da liminar de busca e apreensão, da integralidade da dívida pendente, assim compreendida como as
parcelas vencidas e não pagas, as parcelas vincendas e os encargos, segundo os valores apresentados pelo
credor fiduciário na inicial. 3. Impor-se ao credor a preterição da ação de busca e apreensão (prevista em lei,
90
segundo a garantia fiduciária a ele conferida) por outra via judicial, evidentemente menos eficaz, denota absoluto
descompasso com o sistema processual. Inadequado, pois, extinguir ou obstar a medida de busca e
apreensão corretamente ajuizada, para que o credor, sem poder se valer de garantia fiduciária dada (a qual,
diante do inadimplemento, conferia-lhe, na verdade, a condição de proprietário do bem), intente ação executiva
ou de cobrança, para só então adentrar no patrimônio do devedor, por meio de constrição judicial que
poderá, quem sabe (respeitada o ordem legal), recair sobre esse mesmo bem (naturalmente, se o devedor, até lá,
não tiver dele se desfeito). 4. A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo precípuo impedir que o
credor resolva a relação contratual em razão de inadimplemento de ínfima parcela da obrigação. A via judicial
para esse fim é a ação de resolução contratual. Diversamente, o credor fiduciário, quando promove ação de
busca e apreensão, de modo algum pretende extinguir a relação contratual. Vale-se da ação de busca e
apreensão com o propósito imediato de dar cumprimento aos termos do contrato, na medida em que se
utiliza da garantia fiduciária ajustada para compelir o devedor fiduciante a dar cumprimento às obrigações
faltantes, assumidas contratualmente (e agora, por ele, reputadas ínfimas). A consolidação da propriedade
fiduciária nas mãos do credor apresenta-se como consequência da renitência do devedor fiduciante de honrar
seu dever contratual, e não como objetivo imediato da ação. E, note-se que, mesmo nesse caso, a extinção do
contrato dá-se pelo cumprimento da obrigação, ainda que de modo compulsório, por meio da garantia fiduciária
ajustada. 4.1 É questionável, se não inadequado, supor que a boa-fé contratual estaria ao lado de devedor
fiduciante que deixa de pagar uma ou até algumas parcelas por ele reputadas ínfimas mas certamente de
expressão considerável, na ótica do credor, que já cumpriu integralmente a sua obrigação, e, instado extra e
judicialmente para honrar o seu dever contratual, deixa de fazê-lo, a despeito de ter a mais absoluta ciência dos
gravosos consectários legais advindos da propriedade fiduciária. A aplicação da teoria do adimplemento
substancial, para obstar a utilização da ação de busca e apreensão, nesse contexto, é um incentivo ao
inadimplemento das últimas parcelas contratuais, com o nítido propósito de desestimular o credor - numa
avaliação de custo-benefício - de satisfazer seu crédito por outras vias judiciais, menos eficazes, o que, a
toda evidência, aparta-se da boa-fé contratual propugnada. 4.2. A propriedade fiduciária, concebida pelo
legislador justamente para conferir segurança jurídica às concessões de crédito, essencial ao
desenvolvimento da economia nacional, resta comprometida pela aplicação deturpada da teoria do
adimplemento substancial. 5. Recurso Especial provido.” (negritamos)
Comentário:
O STJ firmou que a teoria do inadimplemento substancial não se aplica aos
contratos de alienação fiduciária regidos pelo Decreto-Lei 911/69.
O DL 911 trata da alienação fiduciária de bens móveis fungíveis e infungíveis, sendo o
credor uma instituição financeira. Iremos estudar tal contrato em capítulo posterior, referente
aos contratos em espécie.
91
MAPA MENTAL
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93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos – 10. ed. –
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JusPodivm, 2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - 14. ed. - São Paulo: Saraiva,
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