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APRESENTAÇÃO

O objetivo de produzir este trabalho fundamentou-se na dificuldade que

os alunos do Curso de Letras encontram quando se deparam com o latim. É claro

que não são todos que sentem essa dificuldade, mas se observa, no decorrer do

curso, que o número daqueles que mantêm uma assimilação contínua, ou seja,

apresentam fácil aprendizado e conseguem resolver os exercícios propostos é

bastante reduzido.

É comum entre os professores que a essência dessa dificuldade nada mais

é que uma deficiência na língua portuguesa, mais precisamente no que diz

respeito à sintaxe. Ressalta-se que o latim é uma língua sintética, diferente do

português que é analítico.

Quanto a isso, valho-me das palavras do professor Tassilo Spalding 1

quando afirma que, no latim, uma idéia pode ser expressa por poucas palavras, o

que, geralmente, não acontece em português, como se pode observar na idéia

expressa em Ao que sabe compreender, pouca coisa basta. No latim, essa idéia

é expressa apenas por duas palavras: Intelligenti pauca. Aqui também está outro

fator que dificulta o aprendizado: não se tem a prática de uso do latim.

Todavia, independente dos obstáculos, o estudo do latim é maravilhoso,

possibilita conhecimento cultural e linguístico, além de desenvolver o intelecto.

Nesse sentido, imagino o professor de língua portuguesa que não tenha nenhuma

base de latim, nem de sua estrutura, nem de sua evolução. Pensando no ensino da

1 SPADING (1982).
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língua portuguesa, é inadmissível para um professor o desconhecimento do latim

e de suas modalidades.

Esse posicionamento está relacionado à falta de abrangência daquilo que

é fundamental para um professor: o conhecimento da disciplina que ministra. No

caso em questão, a língua portuguesa.

Em algumas conversas informais pelos corredores das universidades, nas

quais ainda se ensina a língua latina, observo que há uma dualidade de concepção:

uma que defende o ensino do latim; outra que não. Para minha satisfação, o

número daqueles que defendem o latim é bem maior.

Como professor de latim, mas também de língua portuguesa, adoto um

posicionamento de defensor do ensino do latim, não somente no ensino superior,

mas em todo o ensino fundamental e médio, já que considero, como falei, o latim

um meio para o desenvolvimento do intelecto. É, portanto, um conhecimento

imprescindível.

No entanto, é notório que, após o decreto estabelecido pela Lei 4.024/61,

o ensino do latim nas escolas brasileiras deixou de ser obrigatório. Nesse

contexto, torna-se evidente que grande parcela do povo brasileiro não teve o

latim como disciplina formadora, desconhecendo, de fato, o seu caráter

formador do pensamento lógico e crítico.

Já se passaram muitos anos sem o contato com o latim, a não ser nas

universidades; mesmo assim, nem todas; apenas nas que oferecem o curso de

Letras e, ressalta-se, não são todas. E aí surge uma pergunta: que professores

de português queremos ser/formar, se não conhecemos a origem da língua

portuguesa, se não sabemos o que é declinação, se não sabemos o que é flexão

de casos, se não sabemos o que é caso, se não conhecemos nem um pouco de


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latim: do seu apogeu como idioma nem das diversas mudanças fonético-

fonológicas e morfossintáticas que sofreu?

Como consequência dessa lei, vê-se que grande parte de professores de

língua portuguesa dos ensinos fundamental e médio, e até mesmo de

universidades, apresenta dificuldades na produção do texto (falado e escrito).

Isso pode, sim, ser relacionado à falta de conhecimento sobre a estrutura da

língua latina, fortemente fundamentada na sintaxe.

Às vezes o que acontece é que o ensino de língua portuguesa nas escolas,

segundo AZEREDO (2000), não apresenta nenhum esforço para o aluno, mais

parece um ensino voltado à didática do aprender dormindo e brincando,

transformando o ensino-aprendizagem em um acontecimento lúdico.

Nesse sentido, o professor José Carlos Azeredo afirma

contundentemente que:

exercitar o pensamento e promover o entendimento da natureza,


estrutura e funcionamento da língua é um objetivo de alta relevância
pedagógica e filosófica das aulas de português, sejam elas dadas a
futuros alunos de letras ou comunicação, história ou sociologia,
arquitetura ou medicina, tecnologia ou direito, pois todos os campos do
saber se estruturam simbolicamente e encontram na linguagem verbal
seu único meio universal de expressão. (AZEREDO, 2000)

Defendo o ensino do latim para melhor conhecimento da língua

portuguesa, melhor produtividade na leitura e escritura de texto, e,

principalmente, para o desenvolvimento do intelecto.

Entenda-se, aqui, por intelecto a abrangência tanto na formação da

inteligência como no melhor conhecimento da língua portuguesa: histórica e

linguisticamente falando. É, na verdade, a capacidade que o indivíduo tem em


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discernir, raciocinar, deduzir, refletir. Neste ponto, ressalto a importância do

latim que, segundo o professor Viaro2:

serve-nos de trampolim para mergulhos mais profundos na nossa visão


de mundo, no nosso modo de pensar, na nossa vida. Aquele que entende
bem a mensagem que o latim passa em seus textos se questionará melhor
e verá que antes de nossos valores, havia outros, muito distintos, mas
perfeitamente coerentes, que merecem nossa admiração e respeito.
Longe de ser retrógrado, o estudo do latim associado ao estudo da vida
social em Roma nos faz vislumbrar quanta coisa mudou e quanta coisa
ainda continua surpreendentemente do mesmo jeito que era, muitas
vezes apenas com os nomes trocados. Sim, porque o que se herdou do
Império Romano ao longo desses 27 séculos de uso do latim escrito não
foi pouco3.

Nesse contexto, portanto, o ensino do latim passa a ser uma questão

cultural, na qual todos deveriam ter a oportunidade de aprendê-lo. Se o

conhecimento é importante para a convivência em uma sociedade bastante

seletiva, qual o motivo de não se ensinar latim nas escolas? Por que se ensina

apenas em algumas universidades? E mais agravante ainda: esse ensino só

acontece no Curso de Letras e, dependendo da Universidade, dá-se em apenas 1

ano ou menos. Se se trata também de uma questão cultural, deveria ser

estendida a todos.

Portanto, este trabalho tem a finalidade de proporcionar ao iniciante de

latim a condição necessária para que possa ir mais além. Mas isso só será possível

se estiver comprometido com seu aprendizado, se for coerente com o seu

objetivo maior: ser professor de língua portuguesa e suas literaturas.

2
Professor da USP, em seu artigo sobre a importância do latim.
3
Excerto do artigo A importância do latim na atualidade, retirado do site: www.
Fflch.usp.Br/dlcv/lport/Mviaro018.pdf.
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UNIDADE I
UM POUCO DE HISTÓRIA

1.1 Roma antiga: o berço da língua portuguesa

Segundo Souto Maior (1966:137), a Itália é uma península européia que

penetra profundamente na parte central do Mar Mediterrâneo. Suas costas não

são muito favoráveis; grandes extensões eram antigamente impróprias para a

navegação em virtude de escarpas e bancos de areia, além da insalubridade. Em

compensação o solo era bem mais fértil do que o da Grécia.

A partir de 2000 a. C., povos de origem indo-européia, em migrações

sucessivas, deslocaram-se para o centro e para o sul da península, onde, mais

tarde, foram miscigenados em consequência das invasões dos etruscos, dos

gregos e dos gauleses. Esses povos de origem indo-européia ficaram conhecidos

como italiotas ou itálicos, e formavam vários núcleos de povoação: latinos,

samnitas, úmbrios, volscos e sabinos.

No século VIII a. C. encontravam-se os primitivos habitantes da antiga

Itália distribuídos da seguinte maneira: ao norte, os gauleses, espalhados pelo

Vale do Pó e nas costas ao norte do Mar Tirreno; ao centro, os etruscos e latinos

(zona ocidental); os sabinos e os úmbrios nas montanhas apeninas; os samnitas

nas costas do Mar Adriático; ao sul, os gregos, fixados em um conjunto de

colônias denominado Magna Grécia.

Enquanto o nível de vida das tribos italiotas era ainda muito rudimentar,

os gregos que começaram a colonizar o sul já apresentavam notável

desenvolvimento econômico e cultural. Nessa mesma época chegaram também os

etruscos, oriundos provavelmente da Ásia Menor, ocupando a planície a oeste do


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Tibre e que alcançaram nível cultural elevado. Embora usassem o alfabeto grego,

seu idioma continua, ainda hoje, quase desconhecido, pois dele se pode apenas

traduzir umas duzentas palavras, aproximadamente.

Distribuídos em doze cidades, os etruscos formavam uma confederação.

A partir de sua área de ocupação inicial, estenderam seus domínios para o sul,

até chegar às planícies do Lácio e de Campânia. Ao norte, expandiram-se em

direção ao vale do Pó. Ao sul chegaram a competir com os gregos, principalmente

depois de se aliarem aos fenícios de Cartago.

Quanto à fundação da cidade de Roma, há duas versões. A primeira

refere-se à conhecida Guerra de Tróia; a segunda, ao crescimento demográfico,

político, social e cultural da região central da Península Itálica.

Para a primeira versão, conserva-se a lenda da loba, na qual Enéas, um

jovem troiano, acorda sobressaltado após ter sonhado com a destruição de

Tróia. O jovem foge juntamente com seu pai e outros troianos e chega à Península

Itálica, na Região do Lácio (parte central da península). Casa-se com a filha do

rei de Alba Longa. Seus herdeiros herdaram-lhe o trono.

Um deles, Numitor, foi destronado por seu irmão Amúlio. Uma filha do rei

destronado, Rhea Silvia, teve dois filhos gêmeos, Rômulo e Remo, que foram

considerados filhos de Marte, deusa da guerra. Amúlio, temendo perder o poder,

ordenou que as crianças fossem abandonadas em uma cesta às margens do Rio

Tibre. Amamentados por uma loba e depois recolhidos por um casal de pastores,

os dois meninos ao crescerem repuseram seu velho avô no trono e mataram o

usurpador Amúlio.

Em seguida, retiraram-se de Alba Longa para fundar uma cidade no mesmo

local onde haviam sido encontrados pelo casal de pastores. Quando Rômulo
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traçava com um arado as muralhas da nova cidade, Remo saltou por cima dos

sulcos abertos, zombando da pretensão do irmão, sendo então morto por

Romulus que naquela ocasião teria dito: "o mesmo aconteça a todos que se

atreverem a pular sobre as muralhas de Roma". Perde-se, pois, na lenda a

verdadeira origem de Roma.

Na segunda versão, contudo, ocupando toda região do Lácio, os etruscos

conseguiram dar a essa região nova estrutura. Empregaram novas técnicas,

desconhecidas pelos latinos, e fizeram da agricultura a atividade econômica

predominante. Desenvolveram também atividades tipicamente urbanas como o

comércio e o artesanato, contribuindo para a transformação da aldeia em cidade.

As mudanças econômicas ocorridas nessa região conduziram a

transformações na organização social.

Com o surgimento da propriedade privada, a comunidade primitiva teve

fim e as famílias ligadas ao pater-família apropriaram-se das melhores terras,

formando uma aristocracia de patrícios (palavra cujo significado se aproxima de

"pai", ou pater em latim). Constituindo a camada social dominante, os patrícios

eram denominados gentes por estarem agrupados numa única unidade básica, o

gens ou clã. Os membros de gens reuniam-se em torno do mesmo chefe e

cultuavam o mesmo antepassado. Essa unidade compreendia os parentes pobres

ou clientes e os patrícios agrupavam-se em associações religiosas chamadas

cúrias.

Todos os que não pertenciam ao gens eram considerados plebeus. Em geral

a camada dos plebeus era formada por estrangeiros, comerciantes, artesãos e

pequenos proprietários de terras pouco férteis.


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Os plebeus que conseguiram enriquecer podiam reivindicar a condição de

clientes, desde que se colocassem sob a proteção legal de uma família patrícia.

Em troca, prestavam determinados serviços e adotavam o mesmo culto religioso

da família. Desse modo, conseguiram assegurar seu direito à propriedade

perante as leis. Tais plebeus que enriquecidos compunhas a clientela que,

dependendo da família patrícia, poderia tornar-se hereditária.

Havia, ainda, os escravos que, em pequeno número, limitavam-se aos

serviços domésticos ou a atender as necessidades pessoais dos patrícios.

Com toda essa estrutura essa região já era reconhecida como cidade: a

cidade de Roma.

Na figura 1, a seguir, pode-se observar como era a disposição dos povos

na Península Itálica do século VI a. C.

Figura 01. Distribuição dos povos na Península Itálica antiga do século VI a. C.

Fonte: adaptação de ILARI (2000, p. 43).


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1.2 Expansão romana

Os romanos levaram 230 anos para conquistar toda Itália. As primeiras

guerras tiveram um caráter diferente: a prosperidade de Roma atraía a cobiça

dos vizinhos e, para se defender, os romanos acabavam ocupando novos

territórios. Nessa fase inicial, foram vencidos os volscos e sabinos; as cidades

latinas foram tomadas em 338 a. C.

No outro lado do Rio Tibre estavam os etruscos, dominadores dos

romanoS durante vários séculos. Cinquenta anos depois da conquista das cidades

latinas, os romanos anexaram toda a Etrúria Meridional. Entretanto, a expansão

romana pelo continente foi interrompida pelos gauleses, que invadiram a

Península, atravessando a Etrúria, e saquearam Roma. Exigindo um resgate de

1.000 libras de ouro4, os gauleses retiraram-se depois5, pois ainda eram

seminômades.

Depois que os gauleses se retiraram de Roma, o passo seguinte foi a

conquista da fértil planície de Campânia. Mas a presença romana ao sul da

península alertou os gregos da Magna Grécia.

Os territórios conquistados pelos romanos na Itália não apresentavam

uma organização uniforme. Havia uma imensa variedade de culturas e sistemas

de governo, e em toda parte os romanos procuravam manter os vencidos unidos

numa confederação. Tentavam, assim, estabelecer uma ligação permanente entre

o Estado romano e o resto da Itália. Além disso, adotaram uma hábil política

diplomática, concedendo o direito de cidadania a muitos povos conquistados. A

4
Aproximadamente 360 quilos.
5
Segundo a tradição, no momento em que se pesava o resgate exigido, Breno, o chefe gaulês, colocou no
prato da balança uma pesada espada de ferro, aumentando assim o peso do tributo. Como os romanos
reclamassem, teria dito então o chefe bárbaro: Voe victis.' (Ai dos vencidos).
17

construção de um sistema de estradas também permitiu o rápido deslocamento

e a presença do seu forte exército em qualquer parte da Itália.

Nos meados do século IV a.C., os romanos expulsaram do sul do Lácio os

volscos e impuseram a hegemonia romana no Lácio, embora os samnitas

houvessem conseguido infligir à já poderosa Roma uma dura derrota. Cercadas

num desfiladeiro as tropas romanas foram submetidas a uma capitulação

vergonhosa, que consistiu na passagem de todos os seus soldados por baixo de

uma lança sustentada horizontalmente por duas outras fincadas verticalmente

no solo, sob as vaias e motejos do inimigo. Mais tarde, porém, os samnitas

converteram-se em aliados de Roma.

A supremacia romana no sul era obstada pelas colônias gregas que

constituíam a chamada Magna Grécia, cuja mais forte cidade era Tarento. Não

querendo ser englobada como mais uma conquista romana, Tarento pediu auxílio

a Pirro, rei do Epiro, para sua defesa. Na primavera do ano 280 a.C. chegou Pirro

à Itália com uma bem organizada infantaria, grande cavalaria e muitos elefantes

de combate. Os romanos foram vencidos nas primeiras batalhas, pois não sabiam

lutar contra os elefantes e sua cavalaria os temia. No ano seguinte o exército

romano voltou a encontrar-se no campo de batalha com as tropas de Pirro. Este,

apesar de vencedor, teve tão grandes perdas que, segundo a tradição, teria

exclamado : — "Com mais uma vitória destas, ficarei sem soldados"6.

6
Desse fato derivou-se a expressão vitória de Pirro, que por extensão significa um sucesso onde as perdas
são tão grandes que anulam o sabor da vitória.
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Compreendendo que a guerra com Roma seria muito prolongada, dirigiu-se

Pirro para a Sicília; ao regressar, foi vencido pelos romanos que não tiveram,

então, dificuldades para a conquista do sul da Itália.

A derrota de Pirro e seus aliados abriu aos romanos a possibilidade de

conquistar toda Itália, o que foi confirmado com a anexação da Etrúria, em 265

a.C., e a vitória sobre os gauleses da costa do Andriático. Toda a Península

Apenina ficou então sob o domínio de Roma.


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UNIDADE II
O IDIOMA LATINO

2.1 O latim

Segundo CARDOSO (2000:5), o latim era a língua falada no Lácio (latium),

região da Itália Central, onde, em meados do século VIII a. C., foi fundada a

cidade de Roma.

O latim originou-se de uma língua hipotética, denominada indo-europeu7,

reconstruída a partir de estudos comparativos das línguas conhecidas. Há

bastante tempo, observam-se as semelhanças que existem entre certas línguas.

No final do século XVIII, alguns linguistas observaram que algumas línguas

antigas da Europa e da Ásia, como o latim, o grego e o sânscrito, apresentavam

grandes semelhanças em suas gramáticas. Isso provavelmente indicava a

existência de uma língua primitiva comum a elas.

De acordo com GARCIA (2000:17), das épocas mais remotas, o latim

falado no Lácio sobrepõe-se aos outros dialetos itálicos como o osco, o umbro e

o etrusco. Todos eles originados do itálico, diretamente ligados ao indo-europeu.

O latim adquire características literárias somente a partir do século III a. C.,

por influência grega.

Pode-se considerar que o latim apresenta cinco fases, a saber: (i) Período

proto-histórico (séc III – 240 a. C.), com as primeiras inscrições encontradas;

(ii) Período arcaico (240 – 81 a. C), com textos epigráficos e literários; (iii)

7
É uma ampla família linguística que engloba a maior parte das línguas européias antigas e atuais.
Tem este nome porque corresponde à região geográfica que se estende da Europa até a Índia
setentrional.
20

Período clássico (81 a. C – 17 d. C), quando a prosa e a poesia chegam ao apogeu;

(iv) Período pós-clássico (17 d. C. – século II d. C.), com poetas e prosadores não

originários da Itália, que já não seguem o modelo clássico; e (v) Período cristão

(século III d. C. – V d. C.), com textos de Santo Agostinho, Santo Ambrósio,

entre outros.

Com a Romanização, a Língua Latina expandiu-se por toda a Itália, na

Espanha, em Portugal (Lusitânia), no Norte da África, nas Gálias (França, Suíça,

Bélgica e regiões alemãs ao longo do Rio Reno), na Récia e no Nórico (Áustria),

na Dácia (Romênia), na Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia, País de Gales), na

Frísia (Holanda), na Dalmácia e na Ilíria (lugoslávia) e na Panonia (Hungria).

No século III a. C., o Latim começou a adquirir uma forma literária, que

se desenvolveu lentamente até o seu período de maior esplendor, no século l d.C.,

chamado idade de ouro. Os maiores literatos latinos dessa época foram:

• Marco Túlio Cícero ( 1 06 -43 a. C.). Foi político, filósofo, destacando-se como

um dos mais importantes oradores;

• Caio Júlio César (100-44 a. C.). Foi escritor e se destacou por ser um grande

general romano;

• Caio Crispo Salústio (87-35 a. C.). Foi historiador;

• Públio Vergílio Marão (70-19 a. C.). Foi um excelente poeta da literatura latina;

• Quinto Horácio Flaco (65-8 a. C.). Foi poeta lírico;

• Públio Ovídio Nasão (43 a. C. a 17 d. C.). Foi lírico.


21

2.2 O alfabeto latino: composição e pronúncia das letras

De acordo com GARCIA (2000:18), o alfabeto latino primitivo era

composto de 21 letras, ou seja, o mesmo alfabeto do português atual, não

figurando na fase inicial as letras J, V e Z, mas incluindo-se K e Z, como forma

de facilitar a escrita de palavras de origem grega. No latim, as letras I e U

apresentavam valores ora de consoante, ora de vogal, conforme o contexto

fônico do vocábulo. Por exemplo, o I e o U eram consideradas consoantes

quando precediam vogal, independente da posição. Nos demais casos, eram

vogais. Nesse sentido, era provável que se poderia encontra frese do tipo

Iesus Christus seruatum uenit (Jesus Cristo veio para salvar o mundo).

A letra K foi logo no início aceita, por influência do grego. Também por

essa mesma influência, a fim de facilitar as transcrições literárias, os latinos

começaram a empregar as letras Y e Z. Posteriormente, século XVI, foram

adicionadas ao alfabeto as letras J e V.

Ponto de discórdia entre os estudiosos é a pronúncia do latim. Para

GARCIA (2000:19), a pronúncia do latim sofreu variações no decorrer de sua

evolução. Entretanto, é a pronúncia da época clássica que se costuma ensinar

nas universidades. Para a mencionada autora, há três possíveis pronúncias do

latim clássico: (i) Eclesiástica, a mais difundida, na época do ensino do latim

no Brasil (até a década de 60), com forte acento italiano, por influência dos

padres da Igreja Católica; (ii) Tradicional, bastante usada pelos acadêmicos

de direito, uma pronúncia aportuguesada; (iii) Restaurada, adotada nas

universidades, resultados de profundos estudos embasados na linguística

comparativa.
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Na verdade, a pronúncia restaurada é fruto de estudos de gramática

comparativa, na área de linguística, quando linguistas tentaram construir uma

pronúncia do latim mais original, sendo, por isso, chamada de pronúncia

restaurada.

Ressalta-se que essas informações têm aqui apenas caráter ilustrativo,

pois não é objetivo do curso praticar a pronúncia. Para trabalhar o latim em

sala de aula, será necessário pronunciar algumas palavras latinas; desse modo,

será adotada a fonética das letras do português, observando-se algumas

considerações:

a) as vogais mantêm sempre seu som original, em qualquer posição que ocupem

no vocábulo, evitando-se pronunciar o “o” como “u” e o “e” como “i” no final das

palavras;

b) os ditongos “ae” (æ) e “oe” pronunciam-se como “e”;

c) a sílaba “ti”, quando não for tônica nem precedida por “s”, será pronunciada

como “ci”;

d) a letra “x” tem sempre o som de “ks”, como na palavra “fixo”;

e) o grupo “ch” tem sempre o som de “k”;

f) os conjuntos “qu” e “gu” pronunciam-se sempre como se houvesse um trema

no “u”;

g) o grupo “ph” tem o som de “f”.

Segundo ALMEIDA (1994:28), não se usam acentos gráficos em latim,

porém em alguns livros se usam os mesmos acentos do português, a fim de

facilitar a leitura. Como regra geral, atente-se para o fato de que não existem
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palavras oxítonas em latim, a não ser aquelas de uma sílaba só. Havendo dúvida,

deve-se consultar um dicionário.

No latim, as palavras têm o acento tônico ou na penúltima ou na

antepenúltima sílaba; em regra geral, não há palavras com acento na última

sílaba (oxítonas em português).

A sílaba que indica a posição do acento é a penúltima, isto é, se a

penúltima vogal (penúltima sílaba) de uma palavra latina trouxer o sinal ,

que se assemelha a meia lua (ă, ĕ, ǐ, ǒ, ǔ) o acento deverá recuar para a sílaba

anterior (proparoxítona).

Tomemos como exemplo a palavra agricŏla. A penúltima sílaba é cŏ; em

cima da vogal o vemos o sinal , chamado Bráquia, isto é, o sinal de vogal

breve. Isso indica que o acento tônico deve recuar para a sílaba anterior gri,

pronunciando-se agrícola.

Se a penúltima sílaba de uma palavra latina trouxer, ou seja, a penúltima

vogal apresentar o sinal , que se assemelha a um tracinho longo (ā, ē, ī, ō,

ū), o acento deverá cair nessa sílaba, como na palavra Penātes. A penúltima

sílaba é nā; em cima da vogal a vemos o sinal , chamado Mácron, isto é, o

sinal de vogal longa. Isso indica que o acento tônico deve recair sobre a sílaba

nā, pronunciando-se Penátes.

Para esse fenômeno de acentuação tônica em latim, dá-se o nome de

quantidade8, em que, se a penúltima for breve, o acento recairá para a sílaba

8 Era a maneira como a vogal era pronunciada, breve ou longa.


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anterior (palavra proparoxítona), se for longa, o acento recairá nela mesma

(palavras paroxítonas).

2.3 A estrutura morfossintática da língua latina

Segundo TARALLO (1990:145), as funções gramaticais no latim clássico

eram transparentes a ponto de se revelarem na própria forma, ou seja, era

por meio da terminação da palavra que se identificava o caso. Desta forma, as

relações sintáticas podiam ser estabelecidas sem se levar em consideração a

disposição das palavras na frase.

De acordo com CARDOSO (2003:11), seguindo as concepções dos

filólogos alemães Schlegel e Schleicher, o latim é classificado como língua

flexível, ou seja, línguas em cujas palavras existe um elemento significativo

ao qual podem ser agregados morfemas indicadores de categorias variáveis

(gênero, número, caso, grau, quando se tratar de nomes; tempo, modo, voz,

quando se tratar de verbos). Nessa classe de línguas as palavras se formam

mediante processos de derivação e composição e se articulam na frase, por

relações de dependência.

Vê-se, portanto, que o latim clássico fundamenta-se na morfossintaxe,

ou seja, é uma língua que apresenta variações na parte final de uma

determinada palavra. Essa variação de terminações recebe o nome de flexão

de caso, uma questão morfológica. No entanto, além da característica

morfológica que se pode observar na palavra, outra particularidade também é

evidente, já que as funções sintáticas no latim aparecem justamente nessas


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terminações, como se observa na palavra mulier, is que pode figurar em uma

frase com a forma mulieris ou mulierem. Neste caso, obtém-se a informação

a respeito do caso (morfologia) e da função que ambas palavras exerceriam

em uma frase (sintaxe): para a morfologia, o termo mulieris apresenta-se

como caso genitivo singular e função sintática de adjunto adnominal

restritivo, enquanto mulierem apresenta-se como caso acusativo singular e

função sintática de objeto direto.

Nesse contexto morfossintático, o latim clássico apresenta seis casos,

a saber: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo.

Percebe-se com o que foi explanado que a língua latina apresenta uma

estrutura fundamentada na morfologia e na sintaxe, a qual pode ser estudada,

levando-se em conta cinco itens: flexão, processo de declinação, mudança de

desinência, casos latinos, flexão de caso.

Entende-se por flexão a mudança que certas palavras sofrem em sua

parte final. Esse processo é muito importante na declinação de palavras e na

tradução de frases, pois é um dos pontos essenciais para o estudo do latim,

assim como o conhecimento sobre a análise sintática do português, é claro.

O segundo item é o processo de declinação. Ao se estudar o latim, deve-

se ter em mente que se trata de uma língua declinável, isto é, a parte final é

mutável e depende obrigatoriamente do caso e da função que a palavra exerce

na frase. Ressalta-se que esse processo de variação ocorre tanto nos nomes

quantos nos verbos, declinação e flexão, respectivamente.


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Quanto à mudança de desinência, o terceiro item deste tópico, deve-

se, primeiramente, atentar para o sentido do termo desinência. Entende-se

por desinência a parte final da palavra que varia de acordo com o caso que

exerce na frase. Nesse contexto, é necessário saber identificar o radical e,

é claro, a sua desinência, que dependerá exclusivamente da declinação que ela

(a palavra) pertence.

O quarto item refere-se aos casos latinos, em número de seis como já

foi mencionado, e correlacionam-se com as funções sintáticas da língua

portuguesa. Sendo assim, caso é também um termo sintático que apresenta

uma função dentro da frase, e sua estrutura morfológica altera quando altera

sua função.

Flexão de caso é o último item e consiste na variação que a palavra

latina sofre na última sílaba, de acordo com seu caso e sua função, inferindo-

se, assim, que a flexão de caso depende obrigatoriamente da análise que é

feita na frase: se, em português, um termo apresentar-se como sujeito, em

latim, deverá ser traduzido para o caso nominativo, por exemplo.

Concomitante à flexão dos casos, há em latim clássico a distribuição

dos nomes substantivos em cinco grupos, recebendo cada grupo o nome de

declinação que, por sua vez, é o conjunto de flexões de determinado grupo de

nomes.

Se cada grupo (ou declinação) possui seis casos, e uma palavra latina

pode ser declinada no singular e plural, infere-se que, na verdade, essa palavra

pode apresentar 12 estruturas formais: seis para o singular e seis para o


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plural, diferentemente do português que apresenta apenas duas

possibilidades (menino/meninos).

Fazendo uma comparação sintática entre os dois idiomas, pode-se

inferir que as funções sintáticas, no português, dependem de sua posição na

frase (analitismo); enquanto, no latim, dependem de sua terminação de caso

(sinteticismo). Assim sendo, pode-se estabelecer correlação sintática entre o

latim e o português, a partir do nome menino (puer, i) apresentado como

exemplo para análise.

F1: O menino está alegre. (sujeito) / Puer laetus est. (nominativo).


F2: O pai do menino é João. (adjunto adnominal restritivo) / Pueri pater Juhannes est (genitivo).
F3: João deu um presente ao menino. (objeto indireto) / Juhannes puero domum dedi. (dativo).
F4: João chamou o menino. (objeto direto) / Juhannes puerum voccavit. (acusativo).
F5: Ó menino, elogio tua sabedoria! (vocativo) / Puer, tuam sapientiam laudo! (vocativo).
F6: João passeou com o menino. (adj. adv. comp.) / Juhannes cum puero ambulavit. (ablativo).

Na Tabela 1, a seguir, observa-se que os casos latinos correlacionam-se

com as funções sintáticas do português.

Tabela 1. Correlação entre as funções sintáticas da língua portuguesa e os casos


latinos.

Função sintática Preposição Caso latino


Sujeito e Predicativo do sujeito ---- Nominativo
Adjunto adnominal restritivo de Genitivo
Objeto indireto e Complemento nominal para, a Dativo
Objeto direto ---- Acusativo
Vocativo ---- Vocativo
Adjunto adverbial per, cum, in Ablativo
Exercícios de observação e de análise
28

Analisando os dados abaixo (expressões latinas e traduções aproximadas


ao português), descubra a(s) regra(s) que está(ão) por trás das frases em latim
e, depois, de posse dessas informações, faça o que se pede nos itens a e b.

Frases no Latim e suas correspondências no Português:

1. Agricolas amo 1. Eu amo os agricultores


2. Agricolas amas 2. Tu amas (você ama) os agricultores
3. Agricolas amabat 3. Ele/ela amava os agricultores
4. Agricolis placemus 4. Nós agradamos aos agricultores
5. Agricolis placenta 5. Eles/elas agradam aos agricultores
6. Agricolas voco 6. Eu chamo os agricultores

7. Agricolas vocatis 7. Vós chamais (vocês chamam) os agricultores


8. Agricolas vocamus 8. Nós chamamos os agricultores
9. Agricolas celas 9. Tu escondes (você esconde) os agricultores

10. Agricolas celat 10. Ele/ela esconde os agricultores


11. Agricolas celatis 11. Vós escondeis (vocês escondem) os agricultores
12. Agricolas celant 12. Eles/elas escondem os agricultores

Observações:
a. A vogal temática do verbo amabat (F3) é ?.............; logo, o verbo pertence à
..............................................................
b. Por que há distinção entre as formas de agricola, ae em F2 e F4?........................
c. Os verbos de F1 e F4 pertencem a mesma conjugação? ...........................................
d. Os verbos de F1 e F4 têm a mesma função sintática?................................................
e. Onde estão os pronomes nas frases latinas?................................................................
f. Os verbos de F1 e F10 pertencem a mesma conjugação? ..........................................
g.: O que indica a diferença nas formas dos verbos de F1 e F3? .................................

a. Traduzir para o português


29

1. Agricolas celamus ...................................................................................................................


2. Agricolas vocas ........................................................................................................................

b. Versar para o latim:

1. Eu escondo os agricultores ...........................................................................................................


2. Vocês amam os agricultores .........................................................................................................
3. Eles/elas chamam os agricultores ...............................................................................................
4. Ele/ela chama os agricultores ......................................................................................................

Análise de texto latino – morfossintaxe

Apud Agricolam

Aemilius, poeta urbanus, Petrum, amicum rusticum, visitat. Vita rustica Aemilium
valde delectat, sed “vita urbana ardua minus est”, ita Petrus censet. Poeta amicum
laudat, quia laboriosus agricola est. Etiam fundum Laudat, ubi ferae periculosae
umbrosas silvas habitant et muscae innumerae vitae molestam faciunt. Nocte mirificae
stellae lunaque plena caelum iliuminant; mane Phoebus terram calidam facit, itaque vita
undique trepidat.

1. Procure formas semelhantes entre as palavras do texto.


...............................................................................................................................................................
...............................................................................................................................................................

2. O que muda e o que permanece inalterado nessas formas?


...............................................................................................................................................................
...............................................................................................................................................................

3. Na segunda linha aparece a frase “ita Petrus censet”. Observe as palavras “Petrus” e
“Censet”. Quem representa o nome? Quem representa o verbo?
...............................................................................................................................................................
...............................................................................................................................................................

4. Compare Aemelius/visitat, Vita/delectat e Poeta/laudat. Qual é a relação


morfossintática existente entre elas?
...............................................................................................................................................................
...............................................................................................................................................................
5. Qual é a ordem dessas palavras na frase?
................................................................................................................................................................
30

................................................................................................................................................................

Observe as traduções das frases latinas, depois preencha as lacunas:

Latim Português

1. Puellae servam amant. As meninas amam a serva.

2. Puella servas amat. A menina ama a serva.

3. Luna viam iluminat. A lua ilumina o caminho.

4. Luna viam iluminabat. A lua iluminava o caminho.

5. Domina filiae pupam dat. A senhora da a boneca à filha.

6. Domina filiis pupam dabit. A senhora dará a boneca às filhas.

7. Domina filiis pupam dabat. A senhora dava a boneca às filhas.

8. Serva dominae filiam vocat. A serva chama a filha da senhora.

9. Servae dominarum filias vocant. As servas chamam as filhas das senhoras.

10. ............................ filias ................................ As senhoras amam as filhas.

11. Agricola terram amat. .................................... ama ...........................................

12. Poeta poesias recitabat. ............................... ................................. as poesia.

13. Poetae poesiam recitabant. ................................. recitavam ...................................

14. ..................... reginae .................... laudat A menina elogia a terra da rainha.

15. Reginae filia servam vocat. A filha ............................. chama ................................

16. Magistrae discipulis historias narrant. .............................. narram historias ..........................

17. Discipula magistrae historiam narrabit . ....................... à mestra ....................... ......................

18. .......................................................................... A menina narra a história do poeta à mestra.

19. .......................................................................... As meninas amavam as servas.

20. Domina servae filiam vocat. .........................................................................................

21. Servae filia reginam laudabat. .........................................................................................

UNIDADE III
31

GRUPO DE SUBSTANTIVOS E SISTEMA VERBAL

De acordo com ILARI (2000:88), o latim clássico apresentava grande

flexibilidade na morfologia nominal dos substantivos, em razão da possibilidade

de variação na parte final das palavras. Essa variação chamava-se, na verdade,

variação de caso, ou seja, a terminação da palavra indicava a função que

desempenhava na frase e podia figurar em número de seis: nominativo, genitivo,

dativo, acusativo, vocativo e ablativo9.

Ressalta-se, aqui, que o termo terminação difere do sentido de desinência,

pois, segundo CARDOSO (2000:24), trata-se da parte final da palavra latina,

podendo conter a vogal de ligação, a vogal temática e a própria desinência,

dependendo do caso.

Quando se estuda os nomes substantivos latinos, deve-se ressaltar dois

pontos: o primeiro diz respeito à morfologia; o segundo, à sintaxe.

Em se tratando da morfologia, de acordo com CARDOSO (2000:18), o

sistema morfológico latino é bastante complexo, pois os nomes substantivos são

passíveis de modificações em sua parte final, ou seja, ao radical da palavra

podem ser acrescentados afixos, vogais temáticas e vogais de ligação, como se

observa na palavra agricolae (ao agricultor / do agricultor), a qual apresenta o

radical agricol agregado à desinência ae, formando, assim, a palavra agricolae

(referente a agricultor).

Os nomes substantivos flexionam-se de acordo com o gênero e número,

isto é, podem figurar como substantivos masculinos, femininos ou neutros,

9
A palavra podia apresentar seis casos diferentes, mas cada caso era flexionado no singular e plural, o
que permite inferir que uma palavra latina poderia ser grafada de 12 maneiras.
32

conforme se observa nas palavras puellam f.; puer m. e bellum n., (uma/a

menina, o/ó menino e a/ó guerra), em que as consoantes f, m e n representam os

gêneros feminino, masculino e neutro, respectivamente. Podem também aparecer

no singular ou plural, como em puerum (um/o menino) ou pueros (uns/os meninos).

Outro ponto do estudo dos nomes substantivos diz respeito à sintaxe; no

entanto, acredita-se que seja melhor se adotar a nomenclatura morfossintaxe,

porque aborda não somente a função que determinada palavra exerce na frase,

mas também como se grafa essa mesma palavra, ou seja, uma questão

morfológica.

Os substantivos são divididos em cinco grupos, distintos uns dos outros

pela terminação do caso genitivo singular: luna, ae (lua); gener, i (genro);

animal, is (animal); fructus, us (fruto) e spes, ei (esperança). Na verdade, essa

divisão ocorreu em virtude de um grupo de filólogos latinos passar a analisar a

ocorrência dessas terminações de caso nos substantivos, as quais se

diferenciavam no caso genitivo singular, como se observa nos exemplos

anteriormente citados.

Sendo assim, para que essa análise possa ser melhor assimilada, faz-se,

aqui, uma ilustração de como, possivelmente, os latinos chegaram a essa divisão.

Observe:

Imaginemos um universo de nomes substantivos e dentro dele figurassem

diversos nomes, diferenciados entre si pela terminação do caso do genitivo

singular, independentemente da terminação do nominativo singular. Passou-se,

então, à analise de cada grupo individualmente, ou seja, fixou-se a atenção no

grupo de nomes substantivos que apresentavam a forma -ae como terminação de

caso do genitivo singular. Neste grupo de palavras, o nominativo singular sempre


33

apresentava o tema -a. Isto quer dizer que um determinado grupo de palavras

apresentava a terminação do nominativo e genitivo singular em -a e -ae,

respectivamente, como em umbra, ae; avaritia, ae; mensa, ae etc. Este grupo

recebeu, por convenção, a denominação de primeira declinação latina.

Passou-se à análise de um segundo grupo, o qual apresentava como

terminação de caso genitivo singular a vogal -i. Esse grupo passou a ser

denominado de segunda declinação latina.

Todavia, diferentemente da primeira declinação, que apresentava apenas

uma terminação possível para o caso nominativo singular (-a), os substantivos

pertencentes à segunda declinação apresentavam quatro terminações para esse

caso: -us, -er, -ir e -um como nos nomes servus, i; puer, i; vir, i; caelum, i

etc.

Terminada a convenção dos nomes de segunda declinação, os estudiosos

latinos passaram, então, a analisar um terceiro grupo de substantivos, de

terminação no caso genitivo singular em -is. No entanto, esse grupo apresentava

uma certa complexidade, pois o nominativo singular poderia apresentar inúmeras

terminações, como x, as, ns, e, ar, al, o, is, or, io, entre outras, não podendo,

portanto, fixar as terminações para o caso nominativo singular. Neste ponto,

ressalta-se ALMEIDA (1994:65) que atribui às terminações do nominativo

singular a denominação de várias terminações, por serem tão variadas.

Seguindo esse raciocínio, analisou-se o restante dos nomes substantivos

que apresentavam a terminação do caso genitivo singular em -us e -es, chamados

então de quarta e quinta declinações, respectivamente. Os nomes da quarta

apresentavam o genitivo singular em -us; os da quinta, em -ei, como nas palavras

fructus, us; manus, us; spes, ei; res, ei; dies, ei etc.
34

Nessa concepção, infere-se que o caso genitivo tem a finalidade de indicar

a que declinação pertence uma palavra latina, assim como é, por meio dele, que

se conhece o radical da palavra, usado na declinação.

3.1 Primeira declinação latina: -ae

Vimos, segundo CARDOSO (2000:23), que os nomes substantivos possuem

um radical, que contém um significado básico, e a ele podem ser acrescentados

afixos, vogal temática (determina a declinação) ou vogal de ligação.

À primeira declinação correspondem os substantivos de tema em -a. Vê-

se, portanto, que a primeira declinação latina abrange as palavras terminadas em

-a no nominativo singular, cuja terminação do genitivo singular é -ae. Todavia,

isto não se aplica somente aos substantivos, mas também aos adjetivos, numerais

e particípios passados dos verbos. Porém, nesta unidade, ver-se-á apenas a

classe dos nomes substantivos.

Ressalta-se que a maioria das palavras da primeira declinação é do gênero

feminino, havendo algumas do gênero masculino e nenhuma do gênero neutro. Na

Tabela 2 a seguir, observam-se as desinências e seus respectivos casos.

Tabela 2. Desinências correspondentes à primeira declinação latina e seus


respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo a æ
Genitivo æ arum
Dativo æ is
35

Acusativo am as
Vocativo a æ
Ablativo a is

Ao se analisar a tabela acima, pode-se inferir que uma determinada

palavra da primeira declinação poderá ser flexionada de 12 maneiras (seis no

singular e seis no plural) e apresentará, agregadas ao seu radical, as

desinências acima mencionadas. Ou seja, sabendo-se qual é o radical da

palavra, pode-se decliná-la sem maiores problemas. Observe a palavra abaixo

tomada como forma de ilustração: Prudentia, ae f.: prudência, em que:

a) Prudentia representa o nominativo singular;

b) -ae representa a desinência do genitivo singular e, portanto, a declinação a

qual pertence a palavra;

c) f. representa o gênero da palavra; no caso, a palavra é feminina.

Agora, observe os passos que devem ser seguidos para se declinar uma
palavra latina:

1) Olhar o vocabulário para identificar a declinação;


2) Relacionar os casos latinos na posição vertical;
3) A posição de nominativo singular deve ser preenchida pela forma que está
antes da vírgula;
4) A posição de genitivo singular deve ser preenchida pela forma que está antes
da vírgula, menos a terminação -a, acrescida da terminação -ae que indica o caso
genitivo;
5) Retirar a terminação do genitivo singular (-ae) para encontrar o radical;
6) Ao radical encontrado, que deverá ser grafado nos demais casos restantes,
no singular e plural, acrescentar as terminações de acordo com o caso, bastando,
para isso, olhar a Tabela 2.
36

Observe, agora, a palavra prudentia, ae f. declinada na língua latina:

Caso Singular Plural


Nominativo Prudentia Prudentiae
Genitivo Prudentiae Prudentiarum
Dativo Prudentiae Prudentiis
Acusativo Prudentiam Prudentias
Vocativo Prudentia Prudentiae
Ablativo Prudentia Prudentiis

Com a finalidade de fixar as informações a respeito de declinação, decline

as palavras abaixo:

Regina, ae f.= rainha Patientia, ae f.= paciência

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Ancilla, ae f.= criada Laetitia, ae f.= alegria

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
37

Aquila, ae f.= águia Via, ae f.= via, caminho

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

3.1.1 Particularidades da primeira declinação

Ao aluno cabe ressaltar que os gêneros dos nomes substantivos latinos

nem sempre correspondem ao que eles são em português: a palavra combate,

p.e., é do gênero masculino, em português; já em latim é pugna, ae f., do gênero

feminino. Esta informação é importantíssima, pois, no emprego de nomes

adjetivos que fazem referência a um nome substantivo, há tendência a

raciocinar no idioma português. Por isso, a atenção e concentração são

fundamentais.

Como já foi mencionado anteriormente, na primeira declinação, com a

terminação -a no nominativo singular e -ae no genitivo singular, a maioria das

palavras é do gênero feminino. Porém, há também palavras do gênero masculino

terminadas também em -a, como: incola, ae m.: habitante; nauta, ae m.:

marinheiro; agricola, ae m.: agricultor; pöeta, ae m.: poeta etc.

Segundo GARCIA (2000: 34), existem também nomes substantivos da

primeira declinação que só figuram na forma plural, ou seja, não têm singular.

Sendo assim, caso não se encontre uma palavra com as terminações -a, -ae

(nominativo e gentivo) no vocabulário, deve-se procurar pelas terminações -ae,

-arum, a qual deverá, portanto, ser declinada no plural. Dessa forma,


38

relacionam-se algumas palavras com esta particularidade: nuptiæ, arum f.:

núpcias; divitiæ, arum f.: riquezas; Athenae, arum f. :Atenas (a cidade grega);

tenebrae, arum f.: trevas etc.

Existem ainda, nesta declinação, nomes substantivos que apresentam um

significado no singular e outro no plural (ALMEIDA, 1994:33), conforme se

observa a seguir: angustia, ae f.: brevidade / angustiae, arum f.: desfiladeiros;

cera, ae f.: cera / cerae, arum f.: tábuas escritas; copia, ae f.: abundância /

copiae, arum f.: tropas; fortuna, ae f.: sorte / fortunae, arum f.: bens etc.

3.1.2 Colocação das palavras na frase latina

Para o linguista Fernando Tarallo, mencionado na Unidade II deste

trabalho, as funções gramaticais no latim clássico eram transparentes a ponto

de se revelarem na própria forma, ou seja, as palavras não eram obrigadas a

manterem um posicionamento fixo na frase, pois suas funções eram

identificadas pelas terminações que apresentavam.

No entanto, isso não pode ser considerado como definitivo, pois as

palavras da língua latina apresentam, sim, uma disposição definida, conforme

comenta a professora Janete Garcia:

como as desinências de caso, alterando a morfologia das palavras,


indicam as funções sintáticas, poderíamos concluir que, em qualquer
ordem que se coloquem estas palavras, o resultado será o mesmo.
Entretanto, esta tendência a considerar a ordenação das palavras em
latim como livre é errônea. A ordem das palavras em latim é uma
ordem natural própria da índole da língua. (GARCIA, 2000:30)

Levando em consideração essa afirmação, deve-se adotar, para uma

tradução de frases ao latim, a disposição das palavras abaixo:


39

nominativo dativo acusativo ablativo verbo

A bola preta representa o caso genitivo. Ressalta-se, aqui, que este caso

sempre faz referência a um outro termo da frase latina, podendo, por isso,

aparecer junto ao nominativo, ao dativo, ao acusativo ou junto ao ablativo. E, na

tradução, o caso genitivo vem sempre à frente do nome a que se refere.

Em conformidade com o quadro acima ilustrado, faz-se referência a

ALMEIDA (1994:41), o qual indica a disposição das palavras na frase latina, como

se observa a seguir:

a) O latim costuma colocar o verbo na posição final.


b) O caso dativo vem antes do acusativo.
c) O caso genitivo vem antes do nome a que se refere.

3.1.3 Procedimentos de tradução de frases

Quando se leva em consideração a tradução de frases da língua portuguesa

para a latina, deve-se observar que, diferentemente do português, o latim não

apresenta artigos, definidos nem indefinidos. Por exemplo, na frase a lua ilumina

o caminho dos marinheiros, deve-se traduzir ao latim apenas os substantivos lua,

caminho e marinheiros, assim como a forma verbal ilumina. Os artigos que figuram

na frase não devem ser levados em conta.

Assim como acontece com os artigos de uma frase na língua portuguesa,

ao ser traduzida ao latim, que desaparecem, o mesmo acontece com certas

preposições. No entanto, algumas preposições serão traduzidas quando


40

acompanharem os casos acusativo e ablativo, e isso em certas situações apenas,

conforme se observa nas frases a seguir:

A filha do Antônio passeou no campo – Antonii filia in agro ambullavit.


Antônio passeou com a criada da rainha – Antonius cum reginae ancilla ambullavit.
Antônio enfeitou a rainha com flores – Antonius reginam flore ornavit.

Quando se trata da tradução de frases do português ao latim, deve-se

atentar para alguns pontos:

a) Fazer a análise morfossintática da frase;


b) Relacionar a função sintática encontrada com o caso latino;
c) Observar o vocabulário para identificar a declinação e o sentido da palavra;
d) Isolar o radical;
e) Declinar as palavras e flexionar o verbo.
f) Identificar as desinências correspondentes com os casos latinos;
g) Traduzir a frase.

Agora, levando-se em conta a tradução de uma frase da língua latina para

o português, deve-se atentar para o fato de que a língua portuguesa usa artigos

e preposições e, portanto, devem figurar na frase portuguesa. Outro fator

imprescindível é Identificar a forma verbal, pois, se estiver no singular, o

nominativo também estará no singular; se estiver flexionada no plural, o

nominativo estará no plural. Além disso, deve-se eliminar da função de nominativo

(função sujeito) toda palavra que não apresentar a terminação de caso nominativo

(singular/plural). E, por último, identificar a regência do verbo; o verbo pede

complemento direto ou indireto, ou não pede nenhum complemento?

Ao se tomar esses cuidados, não se terá nenhuma dificuldade na tradução

das frases, seja do latim para o português, seja do português para o latim.
41

Atividade: prática de tradução

Procedimentos a serem seguidos (itens 1 a 5):

1. Fazer análise morfossintática das frases.

a. A lua ilumina a igreja.


b. A menina dava água ao habitante.
c. A serva da rainha elogia o agricultor.
d. Os poetas narravam as histórias dos marinheiros à senhora.
e. Anunciamos a vitória aos habitantes da ilha.

2. Relacionar a função sintática encontrada nas frases acima com o caso latino.

3. Observar o vocabulário para identificar a declinação e o sentido da palavra


nas frases.

4. Isolar o Radical de cada palavra e agregar a ele as desinências


correspondentes aos casos observados.

5. Ordenar as palavras na frase de acordo com a ordem latina.

Vocabulário:
Aqua, ae f.: água Historia, ae f.: história Nauta, ae m.: marinheiro Serva, ae f.: serva
Agrícola, ae m.: agricultor Incola, ae f.: habitante Puella, ae f.: menina Victoria, ae f.:
Domina, ae f.: senhora Insula, ae f.: ilha Poeta, ae m.: poeta vitória
Ecclesia, ae f.: igreja Luna, ae f.: lua Regina, ae f.: rainha

Do, as, dedi, datum, are: dar Illustro, as, avi, atum, are: iluminar
Laudo, as, avi, atum, are: elogiar Narro, as, avi, atum, are: narrar
Nuntio, as, avi, atum, are: anunciar

3.1.4 Diferença de quantidade


42

Quando se tem como objetivo o estudo da quantidade latina, tem-se, na

verdade, que se levar em conta o processo de evolução dos fonemas vocálicos do

latim para o português, de forma que se possa entender com mais facilidade o

que seja a quantidade no latim.

As vogais, no latim clássico, eram pronunciadas de acordo com sua

quantidade, uma questão puramente fonológica, ou seja, apenas usada para a

distinção da pronúncia vocálica nas palavras, mas que acarretava, também, em

uma diferenciação semântica, pois o sentido da palavra mudava, como se observa

em lŭto (lodo) e lūto (amarelo); ou, ainda, fazia a distinção entre o caso

nominativo e o caso ablativo no singular: breve para o nominativo (rosă) e longa

para o ablativo (rosā). Neste ponto, faz-se referência ao linguista Fernando

Tarallo que afirma:

no latim clássico, a quantidade da vogal tinha função distintiva: assim,


distinguiam-se o nominativo e o ablativo da primeira declinação, por
exemplo, através da quantidade da vogal, breve para o caso nominativo
e longa para o caso ablativo. (TARALLO, 1990:94-95)

Entende-se, portanto, a quantidade latina como a maneira que as vogais

eram pronunciadas, podendo ser breves ou longas. As vogais breves eram

marcadas com o sinal ( ), denominado bráquia, ou com o sinal (−), denominado

mácron. Para ilustrar a diferença de quantidade das vogais no latim em palavras

de primeira declinação, usa-se mensa, ae (mesa), a seguir:

Casos Singular Plural

Nominativo mensă (a mesa) mensae (as mesas)


Genitivo mensae (da mesa) mensarum (das mesas)
Dativo mensae (à mesa) mensis (às mesas)
Acusativo mensam (a mesa) mensas (as mesas)
43

Vocativo mensa ( ó mesa) mensae (ó mesas)


Ablativo mensā (pela mesa) mensis (pelas mesas)

Atenção: observar atentamente o caso para o qual a palavra portuguesa será


traduzida para que não ocorra erro de tradução (referindo-se à quantidade
latina).

3.2 Sistema verbal latino – noções

Segundo ILARI (2000:96), o verbo em latim clássico era uma palavra

particularmente rica, dotada de uma grande variedade de desinências, o que

levou os linguistas a considerá-lo uma palavra por excelência.

Para CÂMARA JR. (1976:125), o sistema verbal latino, assim como no

português, apresenta uma flexão simultânea orientada em dois sentidos: de um

lado serve para indicar o sujeito do verbo, isto é, o falante, o ouvinte ou outro

ser; de outro lado, designa certas características que acompanham

obrigatoriamente, dentro da língua, a significação intrínseca da forma verbal,

como o singular ou plural.

De acordo com ALMEIDA (1994:203-204), conjugar um verbo é

flexioná-lo em todas as pessoas, números, modos, tempos e vozes. Sendo as

pessoas consideradas as pessoas gramaticais do sujeito, ou seja, ego (P1), tu

(P2), ille (P3), nos (P4), vos (P5) e illi (P6)10.

Quanto ao número, os verbos podem figurar no singular ou plural, de

acordo com o número do sujeito. Ressalta-se que se o sujeito estiver no

10
P1, P2, P3, P4, P5, P6 indicam as pessoas do discurso: eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas.
44

singular, o verbo deverá ser empregado no singular; se estiver no plural, deverá

ir para o plural.

Levando-se em consideração o modo, o sistema verbal latino apresenta

quatro modos verbais: o indicativo (Id), o subjuntivo (Sb), o imperativo (Ip) e o

infinitivo (If). Na verdade, o modo é a maneira como o enunciador realiza a ação

expressa pelo verbo.

Para a questão do tempo, no sistema verbal latino, faz-se necessário

observar o que diz Zélia Cardoso:

os tempos verbais agrupam-se em dois blocos, cada um dos quais


indicador de um aspecto do enunciado verbal: o infectum (não feito) e
o perfectum (feito, realizado). Ao infectum prendem-se os tempos
verbais que indicam ações ou procedimentos gerais, não concluídos ou
em prosseguimento: o presente, o imperfeito e o futuro imperfeito. Ao
perfectum prendem-se os tempos que indicam ações ou procedimentos
concluídos, realizados: o perfeito, o mais-que-perfeito, o futuro
perfeito. (CARDOSO, 2000:65)

Para efeito de didática, adotam-se, neste trabalho, as abreviações que

indicam os tempos dos verbos, como Pr para presente; Pt para pretérito, sendo

Pt1 (pretérito imperfeito), Pt2 (pretérito perfeito) e Pt3 (pretérito mais-que-

perfeito); Ft para futuro, sendo Ft1 (futuro imperfeito) e Ft2 (futuro

perfeito).

No que diz respeito às vozes, o sistema verbal latino, tal qual o

português, apresentava o emprego de duas vozes: a ativa e a passiva. Neste

ponto, ressalta-se o linguista Joaquim Mattoso Câmara Jr., que afirma:

a expressão do verbo se faz essencialmente na voz ativa. A inversão


dessa relação entre sujeito e verbo foi, desde o indo-europeu
primitivo, uma estrutura secundária, chamada voz passiva, que o latim
possuía, mas desapareceu das línguas românicas como processo
flexional. (CÂMARA JR., 1976: 125)
45

Analisando o que diz Câmara Júnior, a forma que não passou ao português

foi a sintética, ou seja, aquela em que a terminação da forma verbal indicava

não somente a pessoa, o número, mas também a voz do verbo.

No estudo do sistema verbal latino, assim como ocorre no português, os

verbos flexionavam-se de acordo com os enunciadores do discurso, número,

modo, tempo e vozes. Com relação à voz ativa em latim, p.e., o sujeito pratica a

ação do verbo, enquanto, na voz passiva, o sujeito é paciente, ou seja, sofre

ação verbal, assim como ocorre no português. Entretanto, no latim, a voz passiva

podia ser representada de duas maneiras: por uma locução verbal ou por uma

forma sintética, forma única; já em português, a passividade é representada

apenas por uma locução verbal: verbo auxiliar + particípio passado do verbo

principal.

Com relação à voz do verbo, é importante observarmos que DNP é quem

faz a distinção entre ativa e passiva. Vejamos:

Voz ativa

Infectum Perfectum
Pr Pt1 Ft1 Pt2 Pt3
o, m, o ø, m
s sti s
t t
mus mus
tis stis tis
nt nt
46

Voz Passiva

Infectum Perfectum
Pr Pt1 Ft1 Pt2 Pt3
r -tus sum -tus eram
ris -tus es -tus eras
tur -tus est -tus erat
mur -ti, ae, a sumus -ti, ae, a eramus
mini -ti, ae, a estis -ti, ae, a eratis
ntur -ti, ae, a sunt -ti, ae, a erant

3.2.1 Verbos primitivos e derivados

Os dicionários latinos oferecem a forma completa dos verbos (Porto, as,

avi, atum, are), ou seja, com as formas dos tempos primitivos do presente, do

perfeito, do supino e do infinitivo. Essa forma do verbo, em latim, possibilita

não somente a identificação dos tempos primitivos como a sua conjugação.

Portanto, a consulta dos verbos nos dicionários deve ser feita tendo como base

de informação essas formas. Nessas formas primitivas do verbo, pelas quais

também é possível verificar se o verbo tem conjugação regular ou não, ainda é

possível compor os seus diversos tempos conjugáveis (tempos derivados).

Os verbos latinos apresentam-se de forma completa nos dicionários, na

seguinte forma: Porto, as, avi, atum, are.

Em latim, essa forma completa, tem um significado. O radical do verbo é

port (significado básico), obtido a partir da primeira forma, com exceção da

desinência número-pessoal -o. Vejamos:


47

Vê-se, portanto, que os tempos primitivos são os tempos fundamentais e

somente a partir deles é que se pode formar os demais tempos latinos, assim

como ocorre no português, guardando, é claro, suas diferenças. Uma vez

descobertos os tempos primitivos de quaisquer verbos em discussão, fica bem

mais fácil sua conjugação.

Diferentemente do português, como já fora mencionado, o latim

apresenta quatro conjugações: primeira em -are; segunda em -ere; terceira

também em -ere e quarta em -ire. Quatro são os tempos primitivos da voz ativa.

Sobre isso, o professor Napoleão ilustra o quadro, a seguir:

Conjugação
1ª 2ª 3ª 4ª
1ª pess. sing. do ind. pres. Amo Deleo Lego Capio Audio
2ª pess. sing. do ind. pres. Amas Deles Legis Capis Audis
1ª pess. sing. do ind. perf. Amavi Devei Legi Cepi Audivi
Supino Amatum Deletum Lectum Captum Auditum
Infinitivo Amare Delere Legere Capere Audire

Fonte: ALMEIDA (1994, p. 208).

Levando-se em consideração o exposto acima, considerando o verbo

trabalhar que aparece na seguinte sequência em latim: laboro, as, laboravi,

laboratum, laborare; o verbo responder com sua forma completa: respondeo,

es, respondi, responsum, respondere; e, por último, o verbo eleger que, em


48

latim, vem assim: eligo, is, elegi, electum, eligere, façamos uma análise de cada

forma verbal para observar quais as informações que se podem obter delas:

• Verbo laboro, as, laboravi, laboratum, laborare: trabalhar

1.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que


significa............................................;
2.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que significa
.........................................................;
1.ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo: ............................, que significa
...............................................................................................................................;
Supino:.............................., que significa ..............................................................;
Infinitivo:............................., que significa ..............................................................

Com os devidos preenchimentos das lacunas, vê-se que se trata de um

verbo regular da primeira conjugação, pois não houve nenhuma alteração no

radical labor. Aliás, os verbos da primeira conjugação, na sua grande maioria, são

de conjugação regular e apresentam a terminação do perfeito geralmente em -

avi.

• Verbo respondeo, es, respondi, responsum, respondere

1.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que


significa...........................................................;
2.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que significa
........................................................................;
1.ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo: ............................, que significa
...............................................................................................................................;
Supino:.............................., que significa ..............................................................;
Infinitivo:............................., que significa ..............................................................
49

Vê-se, agora, que o radical respond sofre alteração na forma do supino

(respons), o que permite inferir que se trata de um verbo irregular.

• Verbo eligo, is, elegi, electum, eligere

1.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que


significa...............................................;
2.ª pessoa do presente do indicativo: ........................., que significa
............................................................;
1.ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo: ............................, que significa
...............................................................................................................................;
Supino:.............................., que significa ..............................................................;
Infinitivo:............................., que significa ..............................................................

Também, nesse verbo, o radical sofre alteração no supino, indicando que

se trata de um verbo irregular, tal qual o verbo respondere.

Levando-se em conta os verbos respondere e elegere, obtemos algumas

considerações: (i) como já analisado, são verbos irregulares, por apresentarem

alterados os radicais respond e elig nos tempos primitivos do supino; (ii) o verbo

respondere pertence à segunda conjugação (ēre), pois a segunda pessoa do

presente do indicativo é es; (iii) o verbo eligere pertence à terceira conjugação

(ĕre), pois na segunda pessoa aparece a terminação is;

Outra informação (em razão da quantidade da terminação do infinitivo),

o verbo respondere é considerado paroxítono, enquanto eligere é proparoxítono.

3.2.2 Derivação a partir dos tempos primitivos


50

Assim como no português, guardando suas respectivas distinções, o

sistema verbal latino apresenta tempos primitivos dos quais se originam

outros tempos. Neste ponto, faz-se referência a Rodolfo Ilari que diz:

associados a sufixos modo-temporais e desinências número-pessoais


específicas, os temas do presente e do perfeito davam origem na voz
ativa a um número alentado de formas estritamente verbais e a um
número menor de formas nominais (nomes e adjetivos verbais); do
tema do supino derivavam algumas formas nominais (ILARI,
2000:97).

Sendo assim, pode-se ilustrar esse processo de derivação do seguinte

modo:

a) Do tema de P2 do presente do indicativo (Pr Id)11 derivam: o imperfeito (Pt1), o futuro do

presente (Ft2), o particípio presente (Pa Pr) e o gerúndio (Gr);

b) Do tema de P1 do presente do indicativo (Pr Id) deriva: o presente do subjuntivo (Pr Sb).

b) Da forma de P1 do perfeito (Pt2 Id) derivam: os mais-que-perfeitos do indicativo (Pt3 Id) e

do subjuntivo (Pt3 Sb), o futuro anterior (Ft2), também conhecido como futuro perfeito, o

perfeito do subjuntivo (Pt2 Sb) e o infinitivo passado (If Pt).

c) Da forma de P1 (sem a desinência um) do supino derivam: os particípios passado e futuro.

Para efeito de fixação, tomemos como exemplo o verbo Porto, as, avi,

atum, are: portare, de forma que seja observado todo o processo de derivação

a partir de tempos primitivos do sistema verbal latino. Observe:

1) Presente do indicativo (Pr Id): tempo primitivo do Infectum.

11
Fazendo-se analogia às nomenclaturas usadas na morfologia portuguesa em SILVA & KOCH
(2002).
51

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port Ø Ø o
P2 Port a Ø s
P3 Port a Ø t
P4 Port a Ø mus
P5 Port a Ø tis
P6 Port a Ø nt

Observe que em P1, na posição da vogal temática, o Pr Id apresenta

alomorfe zero (Ø) em razão da contração com a desinência número-pessoal -o,

e também a desinência modo-temporal é sempre Ø em todas as pessoas, pois se

trata do presente. Quanto às desinências número-pessoais, tem-se como

padrão as do presente do indicativo: o, s, t, mus, tis e nt.

Derivações a partir do tema de P2 Pr Id: port + a (porta)

a) Imperfeito do indicativo (Pt1 Id): acrescenta-se ao tema de P2 Pr Id, a DMT

-BA:

Pessoa Rad VT DMT DNP


52

P1 Port a ba m
P2 Port a ba s
P3 Port a ba t
P4 Port a ba mus
P5 Port a ba tis
P6 Port a ba nt

Observa-se que há uma mudança na DNP de P1 para -m, o que é

considerado alomorfia, já que o padrão seria P1 igual a -o.

b) Presente do subjuntivo (Pr Sb): agrega-se ao tema de P1 Pr Id, a DMT -e:

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port Ø e M
P2 Port Ø e s
P3 Port Ø e t
P4 Port Ø e mus
P5 Port Ø e tis
P6 Port Ø e nt

Observa-se que a posição da VT é sempre Ø (alomorfe zero), pois o

subjuntivo deriva do tema de P1 (port + Ø) e ocorre também alomorfia na DNP

de P1. Observe que a desinência que indica o modo do subjuntivo é –e.

c) Futuro imperfeito (Ft1): acrescenta-se ao tema de P2 Pr Id, a DMT -BI com

alomorfes12 em P1 (-B) e P6 (-BU):

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a b o

12
Entenda-se como anomalias que ocorrem nas desinências do sistema verbal latino, assim como
no português SILVA & KOCH (2002).
53

P2 Port a bi s
P3 Port a bi t
P4 Port a bi mus
P5 Port a bi tis
P6 Port a bu nt

Observa-se que a DNP de P1 volta a ser padrão e que a desinência modo-

temporal que indica o tempo futuro imperfeito apresenta duas alomorfias (-b e

-bu)

d) Particípio presente (Pa Pr): ao tema de P2 Pr Id, acrescenta-se a terminação

-NS para o nominativo e -NT para os demais casos. Neste ponto, ressalta-

se GARCIA (2000:121), que afirma ser o particípio presente um adjetivo

verbal, seguindo, nesse caso, a declinação dos adjetivos de segunda classe

uniforme13 (terceira declinação). Faz-se, a seguir, a declinação desse tipo

de derivado do presente, tendo como exemplo o verbo Amare, a seguir:

Caso Sing. Plural


Nominativo Amans Amantes
Genitivo Amantis Amantium
Dativo Amanti Amantibus
Acusativo Amantem Amantes
vocativo Amans Amantes
Ablativo Amante (i) Amantibus

13
Apresenta uma única forma para os três gêneros: masculino, feminino e neutro.
54

Em se tratando do caso ablativo, quando predominar o traço verbal, usa-

se a desinência -e, como se observa em a domina amante nautam (pela senhora

que está amando o marinheiro); quando predominar o traço adjetival, usa-se -i,

como em a domina amanti nautam (pela senhora que ama o marinheiro, neste

caso amante).

2) Perfeito indicativo (Pt2 Id): tempo primitivo que se forma com o acréscimo

da desinência do perfeito -AVI ao radical port- para formar P1 e as demais

flexões.

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a vi Ø
P2 Port a vi sti
P3 Port a vi t
P4 Port a vi mus
P5 Port a vi stis
P6 Port a veru nt

Observa-se que a DMT do perfeito é VI com uma alomorfia em P6 (veru),

assim como na DNP de P1 (Ø), P2 (sti) e P5 (stis).

Derivações a partir da forma de P1 Pt2 Id final: port + a + vi (portavi)

a) Mais-que-perfeito do indicativo (Pt3 Id): elimina-se a vogal i final da forma

portavi de P1 e acrescenta-se -ERA, ou seja, a DMT passa a ser -VERA:

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a vera m
55

P2 Port a vera s
P3 Port a vera t
P4 Port a vera mus
P5 Port a vera tis
P6 Port a vera nt

Observe que as desinências de número-pessoal voltam ao padrão, com

exceção de P1 (-m).

b) Mais-que-perfeito do subjuntivo (Pt3 Sb): agrega-se a desinência -SSE à

forma portavi de P1, ou seja, a DMT passa a ser -VISSE:

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a visse m
P2 Port a visse s
P3 Port a visse t
P4 Port a visse mus
P5 Port a visse tis
P6 Port a visse nt

c) Futuro anterior (Ft2): elimina-se a vogal i final da forma portavi de P1 e

acrescenta-se -ERI, ou seja, a DMT passa a ser VERI, com variação em P1 (-

ER):

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a ver O
P2 Port a veri S
P3 Port a veri T
P4 Port a veri Mus
56

P5 Port a veri Tis


P6 Port a veri NT

Observa-se que há alomorfia na DMT de P1 (ver) e a DNP de P1 volta a

ser padrão.

d) Perfeito do subjuntivo (Pt2 Sb): elimina-se a vogal i final da forma portavi

de P1 e acrescenta-se -ERI, ou seja, a DMT passa a ser VERI:

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a veri m
P2 Port a veri s
P3 Port a veri t
P4 Port a veri mus
P5 Port a veri tis
P6 Port a veri NT

Observe que, neste tempo, as únicas diferenças com o Ft2 ocorrem nas

DMT e DNP de P1 (-veri e -m, respectivamente).

e) Infinitivo passado (If Pt): à forma de P1 Pt2 Id acrescenta-se a desinência

–SSE:

Portavisse, que quer dizer ter levado.

3) Supino: tempo primitivo. É um substantivo verbal ativo declinado apenas em

três casos: o acusativo, o dativo e o ablativo. A forma de acusativo (-um) é usada


57

com verbos de movimento pra expressar finalidade (GARCIA, 2000:126).

Observe o emprego dessa forma verbal, a seguir:

Achiles inquit: Victum Hectorem veni (Aquiles disse: vim para vencer Heitor)

Hector pugnatum cum Achile venit (Heitor veio para lutar com Aquiles)

Já a terminação -u é empregada com o dativo e ablativo e apresenta um

sentido implícito de passividade. Segundo ALMEIDA (1994: 206), essa

terminação do supino também indica finalidade, mas é empregada com certos

adjetivos, como se observa nas frases abaixo:

Língua facilis discitu (língua fácil de aprender / de ser aprendida)

Leo, facilis vinctu (Leão, fácil de vencer / de ser vencido)

Derivações do supino

a) Particípio passado (Pa Pt): origina-se da forma do supino portatum (menos a

desinência do acusativo -um). À forma portat-, acrescentam-se as desinências

que indicam o particípio: -us, -a, -um.

Portatus, a , um (levado): declina-se como os adjetivos de primeira classe

terminados em us, a, um, como magnus, a, um.

b) Particípio futuro (Pa Ft): origina-se também da forma do supino portatum

(menos a desinência do acusativo -um). À forma portat-, acrescentam-se as

desinências -urus, -ura, -urum. Portaturus, a, um.

Esse tipo de verbo, segundo ALMEIDA (1994:205), tem duas formas:

uma para a vos ativa; outra para a passiva.


58

O particípio futuro ativo é traduzido por uma oração relativa em tempo

futuro e apresenta a terminação -us, -a, -um, sendo declinado como um adjetivo

de primeira classe.

Homo mulieribus pacem portaturus: o homem que vai levar paz às mulheres.
Homines morituri: os homens que morrerão (irão morrer).

O particípio futuro passivo, chamado também de gerundivo, segundo

GARCIA (2000:123), é derivado do tema de P2 Pr Id (porta-), acrescentando-

se a desinência -nd e a terminação -us, -a, -um. Este particípio segue também a

declinação dos adjetivos de primeira classe. Sua tradução para o português

corresponde a uma oração relativa.

Equus portandus: o cavalo que deverá ser levado.


Puer et pulla portandi: o menino e a menina deverão ser levados.

4) Infinitivo: tempo primitivo.

Portare

a) Imperativo: para formar o imperativo, basta retirar a desinência -RE:

portare: porta - re
porta: leva tu
portate: levais vós

c) Imperfeito do subjuntivo: à forma do infinitivo, acrescentar as desinência


59

número-pessoais -m, -s, -t, -mus,- tis e -nt:

Pessoa Rad VT DMT DNP


P1 Port a re m
P2 Port a re s
P3 Port a re t
P4 Port a re mus
P5 Port a re tis
P6 Port a re NT

Corresponde a se eu trabalhasse.

3.2.2. Primeira conjugação latina: -āre

Dando prosseguimento ao estudo do sistema verbal latino, neste sub-

item será abordada a primeira conjugação, a qual é representada pela

terminação -are do infinitivo, nas duas vozes. Diferentemente do português,

que apresenta três conjugações (-ar, -er e -ir), o latim apresenta quatro

conjugações, a saber: - āre, -ēre, -ĕre e -īre.

Na voz ativa, como já foi mencionado, o sujeito pratica a ação do verbo.

Ressalta-se que, assim como nas declinações de nomes substantivos existem

desinências e radicais, existem também desinências e radicais nos verbos.

Uma vez descoberto o radical do verbo, que é sempre obtido da primeira

pessoa do singular do presente do indicativo, fora a desinência número-pessoal

-o, para verbos da primeira conjugação, pode-se conjugar, recorrendo-se, para

isso, a alguns procedimentos.

Assim como ocorre em português, para se conjugar um verbo latino na

voz ativa, basta acrescentar ao radical a vogal temática, a desinência modo-

temporal e as desinências número-pessoal -o, -s, -t, -mus, -tis, -nt,


60

consideradas padrão para a flexão latina, ou seja, toda alteração em qualquer

DNP14 será considerada alomorfia. Caso o sujeito seja paciente, é necessário

empregarmos as desinências número-pessoal que indicam a voz passiva, ou seja,

-r, -ris, -tur, -mur, -mini, -ntur, se infectum. Para a voz passiva do perfectum,

há uma maneira diferente de undicar a passividade do sujeito, o que fica para

um momento mais adiante.

Para se entender de forma mais clara a flexão do verbo em latim, tem-

se a forma verbal vocco, -as, -avi, -atum, -are, que será flexionada no

presente do indicativo em P3, como segue abaixo:

1º passo: encontra-se o radical do verbo em questão eliminando-se a desinência

número-pessoal da forma de P1 Pr Id -o (lê-se primeira pessoa do singular do

presente do indicativo): vocc-o

2º passo: para formar P3, faz-se necessário acrescentar a vogal temática –a

do verbo em questão, neste caso, de primeira conjugação, ao radical já

encontrado, formando, assim, o tema: vocc + a: vocca.

3º passo: após a junção da vogal temática ao radical, deve-se acrescentar a

desinência modo-temporal, a qual indicará o modo e o tempo na qual deve ser

flexionada a forma verbal: vocca + Ø (alomorfe zero porque é tempo presente;

seria -BA se fosse imperfeito; -BI se fosse futuro imperfeito etc.).

14
DNP significa desinência número-pessoal que representa tanto o enunciador quanto o número
de enunciadores.
61

4º passo: para finalizar a flexão do verbo falta apenas acrescentar a

desinência número-pessoal que, como P3 representa a terceira pessoa do

singular, é -t: vocca + t: voccat (ele/ela chama).

Vê-se, portanto, que, na flexão do verbo na voz ativa, tem-se que levar

em consideração esses quatro fatores: o enunciador, o modo-tempo, a

conjugação e, é lógico, o verbo.

Agora, como se escreve em latim sois chamados ou fôreis chamados?

No latim, assim como no português, diferentemente da voz ativa, a voz

passiva caracteriza-se pela passividade do sujeito, ou seja, o sujeito sofre a

ação do verbo, que é praticada por um termo denominado agente da passiva,

mas, em determinadas situações de uso da língua, a passividade do verbo não o

explicita, como em O jogo foi paralisado.

Nessa particularidade do verbo em latim, faz-se necessário observar

que, como já foi anteriormente mencionado, diferentemente do que ocorre em

português, o verbo que indica passividade do sujeito em latim pode apresentar-

se de duas maneiras possíveis – dependendo do tempo no qual é empregado –,

isto é, na forma sintética ou na analítica: características do idioma. Na forma

sintética, encontra-se tanto sua desinência pessoal como sua forma passiva.

Para GARCIA (2000:131), a forma passiva pode ser formada de duas

maneiras. A primeira, do infectum, faz-se pela simples substituição das

desinências número-pessoais da voz ativa (-o, -s, -t, -mus, -tis e -nt) pelas da

voz passiva, -r, -ris, -tur, -mur, -mini, -ntur, quando o verbo pertencer ao

presente ou ao seus derivados. Por exemplo, à primeira pessoa do presente do


62

indicativo do verbo chamar, acrescenta-se a desinência r, a qual indica a

passividade da voz (sou chamado): vocco + r: voccor (sou chamado).

Para a formação da passividade das outras pessoas, basta fazer a

substituição das terminações restantes, no caso -s, -t, -mus, -tis e -nt,

pertencentes à voz ativa, pelas da voz passiva. Lembre-se de que, nessa

primeira conjugação latina, os verbos sempre têm a DNP –o, em P1.

A segunda maneira, do perfectum, para representar em latim a voz

passiva consiste em empregar uma locução verbal (formas compostas) quando o

verbo for perfeito ou um de seus derivados. Por exemplo, P1 Pt2 Id do verbo

chamar é representada na voz passiva da seguinte forma: a forma composta é

voccatus, a, um + o verbo auxiliar ESSE no presente: voccatus, -a, -um sum,

em que as terminações -us, -a, -um correspondem aos gêneros masculino,

feminino e neutro, respectivamente, e a forma do auxiliar sum segue um

determinado padrão, como se observa a seguir:

Se o verbo estiver no:

a) Perfeito (Pt2): usa-se o auxiliar no presente (Pr).


Ele foi chamado / voccatus est. (-us porque é masculino)
Ela foi chamada / voccata est. (-a porque é feminino)

b) Mais-que-perfeito (Pt3): usa-se o auxiliar no imperfeito (Pt1).


Foras chamado / voccatus eras.

c) Futuro perfeito (Ft2): usa-se o auxiliar no futuro imperfeito (Ft1).


Terá chamado / voccatus erit.
63

Como forma de exercitar a flexão do verbo latino, conjugar os verbos a

seguir no presente, imperfeito, futuro imperfeito, perfeito e mais-que-

perfeito do modo indicativo das vozes ativa e passiva.

Laudo, as, avi, atum, are: laudare (louvar/elogiar)

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Imperfeito Rad VL DMT DNP
Rad VL DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP

Voz passiva

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Imperfeito Rad VL DMT DNP
Rad VL DMT DNP
64

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito

Servo, as, avi, atum, are: servare (salvar)


Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Imperfeito Rad VL DMT DNP
Rad VL DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP
65

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito

Amo, as, avi, atum, are: amare (amar)

Voz ativa
66

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Imperfeito Rad VL DMT DNP
Rad VL DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP Rad VL DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito


67

Exercícios de tradução – primeira declinação e primeira conjugação

1) Traduzir para o latim.

a) Os marinheiros comunicam a vitória aos habitantes.


..................................................................................................................................
b) A vigilância dos marinheiros salva a pátria.
..................................................................................................................................
c) A rainha passeia com as criadas
..................................................................................................................................
d) Os habitantes dão água aos marinheiros.
..................................................................................................................................

Vocabulário:

Ancilla,ae f.: criada Nauta, ae m.: marinheiro Regina,ae f.: rainha


Aqua,ae f.: água Nauta,ae m.: marinheiro Vigilantia,ae f.= vigilância
Cum prep. + ablat.: com Pátria,ae f.: pátria Victoria, ae f.: vitória
Incola,ae m.= habitante
Ambulo, as, avi, atum, are: ambulare (passear) Nuntio, as, avi, atum, are: nuntiare (comunicar)
Do, as, avi, atum, are: care (dar) Servo, as, avi, atum, are: servare (salvar)

2) Traduzir para o português.

a) Poetae Graciae linguam amant.


68

..............................................................................................................................................
b) Coronae reginas ornant.
...............................................................................................................................................
c) Patriae gloriam do.
..................................................................................................................................
d) Patriae gloriam laudamus.
..................................................................................................................................
e) Aquae insulas circundant.
..................................................................................................................................

Vocabulário:

Aqua, ae f.: água Insula, ae f.: ilha Poeta, ae m.: poeta


Corona, ae f.: coroa Gloria, ae f.: glória Regina, ae f.: rainha
Amo, as, avi, atum, are: amare (amar) Orno, as, avi, atum, are: ornare (enfeitar)
Do, as, avi, atum, are: dare (dar) Laudo, as, avi, atum, are: laudare (louvar)
Cincundo, as, avi, atum, are: cincundare (circundar)

3) Tradução de texto Diciplulae sedulae et pigrae15 para o português:

Magistra puellis poetarum sententias dictat. Postea, discipulae sedulae


magistrae sententias recitant. Discipulae pigrae magistrae sententias ignorant.
Magistra sedulas laudat et pigras castigat. Sempronia Sylviae pupam dat, quia
diligenter laborat. Discipulae Semproniam comiter laudant.

.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................

Vocabulário:

Comiter adv.: delicadamente Postea adv.: em seguida Setentia, ae: sentença

15
Adaptação de Ronai (1945, p. 20)
69

Discipula, ae f.: discípula Pigra, ae: preguiçosa Sedulus, a, um: cuidadoso


Diligenter adv.: deligentemente Pupa, ae: boneca Sempronia, ae f.: Semprônia
Et conj.: e Poeta, ae m.: poeta Sylvia, ae f.: Sílvia
Magistra, ae f.: mestra Quia (conj.): porque
Castigo, as, avi, atum, are: castigare (catigar) Ignoro, as, avi, atum, are: ignorare (ignorar)
Do, as, avi, atum, are: dare (dar) Laboro, as, avi, atum, are: laborare (trabalhar)
Dicto, as, avi, are: dictare (ditar) Laudo, as, avi, atu, are: laudare (louvar)

UNIDADE IV
GRUPO DE SUBSTANTIVOS DE SEGUNDA DECLINAÇÃO E SISTEMA
VERBAL DE SEGUNDA CONJUGAÇÃO
70

Nesta quarta unidade, será trabalhado o segundo grupo de nomes

substantivos, o qual apresenta a desinência do genitivo singular igual a -i, assim

como os verbos de segunda conjugação, com desinência do infinitivo impessoal

em -ēre.

4.1. Segunda declinação latina: -i

Como já foi explicado, deu-se o nome de segunda declinação ao grupo de

nomes substantivos que apresentava a terminação do nominativo singular em -us,

-er, -ir e -um e desinência do genitivo singular em -i. Portanto, já podemos

identificar em um dicionário uma palavra latina pertencente à segunda

declinação, basta, para isso, observar e identificar a desinência do genitivo

singular que é -i.

Comparando-se a segunda com a primeira declinação, faz-se necessário

ressaltar algumas diferenças.

Diferentemente dos nomes da primeira declinação que apresentavam

apenas a terminação -a no nominativo singular, os nomes da segunda figuravam

com quatro terminações diferentes entre si, sendo a maioria nomes masculinos.

Apenas nomes terminados em -us apresentavam-se tanto no masculino quanto no

feminino.

Outra distinção entre as duas declinações está na categoria de gênero: na

primeira, figuravam apenas nomes femininos e masculinos, enquanto, na segunda,

outra categoria poderia fazer parte do um enunciado, a de gênero neutro. Sendo

assim, ilustram-se, a seguir, alguns nomes da segunda declinação latina:

Amicus, i m.: amigo Humus, i f.: terra Triunvir, i m.: triunviro Caelum, i n.: céu
Abyssus, i f.: abismo Puer, i m.: menino Vir, i m.: varão Bellum, i n.: guerra
71

O processo de declinação dos nomes que têm a desinência -i no genitivo

singular segue o de nomes da primeira declinação, ou seja, é necessário isolar o

radical da palavra e acrescentar as desinências de caso. No entanto, há de se

ressaltar que, nos nomes terminados em -er no nominativo singular, o genitivo

pode apresentar duas terminações distintas: uma, em que figura apenas a

desinência -i; outra, que aparece a sílaba final do genitivo singular. Pode-se,

portanto, dividir esse grupo de nomes substantivos em grupo A e grupo B.

Os do grupo A são aqueles em que a formação do genitivo singular se faz

com a junção do radical a sua desinência, que, por sua vez, aparece apenas com a

vogal -i, como nas palavras socer, i m. (sogro) e puer, i m. (menino). O genitivo

singular é representado por soceri e pueri, respectivamente. Observa-se, nesses

exemplos, a permanência do fonema e da terminação -er (socer+i; puer+i).

A seguir, a palavra socer, i m. (sogro) é usada para ilustrar a declinação

dos nomes substantivos terminados em -er do grupo A:

Caso Singular Plural


Nominativo Socer Soceri
Genitivo Soceri Socerum
Dativo Socero Soceris
Acusativo Socerum Soceros
Vocativo Socer Soceri
Ablativo Socero Soceris

Observa-se, no exemplo acima, que o fonema -e do nominativo singular não

sofreu Síncope16, permanecendo, assim, no radical da palavra.

16Metaplasmos por subtração é a subtração de fonema no interior do vocábulo (COUTINHO,


1976:148).
72

Agora, para a formação do genitivo singular, a desinência -i agrega-se

diretamente ao radical socer, formando a palavra soceri. Após a formação do

genitivo singular, isola-se o radical que servirá para formar as demais palavras

de acordo com o caso.

Vê-se, portanto, que não há nenhuma dificuldade em declinar uma palavra

desse grupo.

Os do grupo B são aqueles em que a formação do genitivo singular se faz

de forma diferente. Ao invés de apresentar somente a desinência -i, aparece

toda a sílaba final do genitivo singular, como nas palavras magister, tri m.

(mestre) e líber, bri m. (livro). Essa terminação do genitivo singular indica que

houve Síncope do fonema -e, da terminação -er. Por exemplo, na palavra

magister, o genitivo singular é formado da seguinte maneira: (i) há perda do

fonema -e da terminação –er (magist(e)r); (ii) à forma magistr (radical),

acrescenta-se a desinência -i, formando-se, assim, magistri.

Nessas condições, vê-se que a terminação -tri indica tão somente que

ocorreu a queda do fonema -e, da terminação -er. Para que haja maior facilidade

de identificação, a terminação do genitivo singular desse grupo de nomes traz

sempre a sílaba final da palavra.

Declina-se a palavra ager, gri m. (campo), a seguir, para efeito de

ilustração dos nomes substantivos terminados em -er do grupo B.

Caso Singular Plural


Nominativo Ager Agri
Genitivo Agri Agrorum
Dativo Agro Agris
73

Acusativo Agrum Agros


Vocativo Ager Agri
Ablativo Agro Agris

Na Tabela 3 a seguir, observam-se as desinências da segunda declinação

e seus respectivos casos.

Tabela 3. Desinências correspondentes à segunda declinação latina e seus


respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo us – er – ir – um i–i–i–a
Genitivo I orum
Dativo o is
Acusativo um os – os – os – a
Vocativo e – er – ir - um i–i–i-a
Ablativo o is

Para efeito de exercício e fixação do que foi explanado acima, você deve

declinar as palavras, a seguir, observando a categoria de gênero:

Dominus, i m.: senhor Fluvius, i m.: rio


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Nuntius, i m.: mensageiro Meritum, i n.: mérito


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
74

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Aegyptus, i f.: Egito Vir, i m.: varão


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

4.2. Particularidades da segunda declinação latina

Primeiramente falaremos dos nomes dessa declinação que terminam em -

us. Esses nomes podem ser masculinos e femininos, mas com predominância dos

nomes masculinos.

ALMEIDA (1994:44) afirma que, com exceção de alguns nomes de árvores,

ilha, alguns países e cidades, as palavras terminadas em -us são masculinas.

Segundo GARCIA (2000:51), para essa terminação, há casos em que

palavras da segunda apresentam formas idênticas às da primeira declinação nos

casos dativo e ablativo plural, como nas palavras animus, i m. (ânimo, disposição,

espírito) e anima, ae f. (alma). Nesse caso, quando houver ambiguidade, deve-

se substituir a desinência -is da palavra feminina por -abus.

Ao olharmos a Tabela 3 observamos que nomes terminados em -us formam

o vocativo singular em -e. No entanto, há quatro nomes latinos da segunda

declinação em -us que formam o vocativo singular de forma diferente: os nomes

Deus, i m. (Deus), chorus, i m. (coro) e agnus, i m. (cordeiro) apresentam o


75

vocativo singular em -us, ou seja, a forma desses nomes é idêntica à do seu

nominativo singular; outro nome que deve ser evidenciado é filius, i m. (filho),

porque apresenta o vocativo singular igual ao seu radical (fili-).

Para o nome Deus, i, sua declinação deve ser ressaltada, porque

diferentemente dos outros nomes terminados em -us, no nominativo singular,

esse nome se declina de maneira diferente no plural. Vejamos, a seguir:

Caso Singular Plural


Nominativo Deus Di / Dii
Genitivo Dei Deorum / Deum
Dativo Deo Dis / Diis
Acusativo Deum Deos
Vocativo Deus Di / Dii
Ablativo Deo Dis / Diis

Outra particularidade desse grupo é com relação a nomes próprios

terminados em ius. Segundo ALMEIDA (1994:47), esta particularidade diz

respeito à quantidade latina17, ou seja, quando o nome apresenta o i breve (ĭ) no

nominativo, tal como na palavra Caĭus, i m. (Caio), o vocativo singular apresenta

a terminação -i, igual ao próprio radical: Cai

Quando o nome apresenta o i longo (ī) no nominativo singular, tal como em

Darīus, i m. (Darío), o vocativo singular apresenta a terminação -e, igual à

desinência do vocativo singular da Tabela 3: Darīe.

17 Maneira como as vogais eram pronunciadas.


76

ALMEIDA (1994:45) afirma que, assim como na primeira declinação, há

palavras da segunda que podem apresentar um significado diferente quando

estão no plural: Vejamos, a seguir, alguns exemplos:

Auxilium, i n.= auxílio – Auxilia, orum (s.n)= auxiliares


Castrum,i (s.n)= castelo – Castra, orum n.= acampamento
Ludus, i m.= jogo – Ludi, orum m.= espetáculo público
Impendimentum, i n.= impendimento – Impendimenta, orum n.= bagagens

Outras há, à semelhança do que se viu na primeira declinação, que só se

usam no plural:

Arma, orum n.: armas Liberi, orum m.: meninos Argi, orum (s.m): Argos

Como forma de trabalhar a teoria, vocês devem traduzir as frases abaixo,

enfatizando a atenção para a categoria de gênero das palavras, assim como sua

declinação.

1) Traduzir para o português.

a) Magistrorum libri scholae pueros iuvant.


....................................................................................................................................
b) Agricolae in heri agris laborabunt.
....................................................................................................................................
c) Bellum inter graecos et troianos mumdum modificavit.
....................................................................................................................................

Vocabulário:

Agricola, ae m: agricultor Inter prep. + ac.: entre Liber, bri m.: livro
Ager, i m.: campo Graecus, i m.: grego Puer, i m.: menino
Bellum, i n.: guerra Mundus, i m.: mundo Schola, ae f.: escola
Herus, i m.: patrão Magister, tri m.: mestre Troianus, i m.: troiano
77

Iuvo, as, iuvi, iutum, are: ajudar Laboro, as, avi, atum, are: trabalhar
Modifico, as, avi, atum, are: modificar

2) Traduzir para o latim.

a) O estudo do latim ajuda o aluno de português.


....................................................................................................................................
b) A riqueza do mundo sempre ajudará os povos.
....................................................................................................................................
c) Os escritos dos poetas elogiavam as rainhas.
....................................................................................................................................
Vocábulo:

Alumnus, i m.: aluno Lusus, i m.: português Scriptum, i: escrito


Divitiae, arum f.: riquezas Mundus, i m.: mundo Poeta, ae m.: poeta
Studium, i n.: estudo Populus, i m.: povo Regina, ae f.: rainha
Latium, i n.: latim
Iuvo, as, iuvi, iutum, are: ajudar Laudo, as, avi, atum, are: elogiar / louvar
Modifico, as, avi, atum, are: modificar

4) Prática de análise: leia o texto Nautarum naviculae thesaurus com atenção


para resolver as propostas abaixo:

1. Identificar os casos latinos das palavras usadas no texto.

2. Identificar o tempo das formas verbais usados no texto.

3. Fazer a tradução do texto.

1 Nautarum naviculae thesaurus


2 Puellae ab aquis cum nautis navigant qui insulam bannant, sed aquae
3 tranquilae nic securae non sunt. Procella aquas turbavit, sed navicula non
4 naufragavit. Deinde nautae puellaeque ad insulam remeaverunt. Tunc piratas
5 vident. Piratae appropinquant et nautorum thesaurum raptant. Nautae cum
78

6 piratis pugnaverunt. Pirata parvam puellam vulnerat. Nautae rebellaverunt et


7 piratas fugaverunt.
8 Nautae parvam puellam curant, tamen thesaurum non servaverunt. Piratae
9 naviculas abbordant et ab aquis thesaurum apportant.
10 Nautae et liberi laudant et bono deo dant.

Vocabulário:

Ab prep.+abl.: pelo (s), Etiam conj.: também Nilus, i m.: Nilo Sed conj.: mas
pela(s) Fluvius, i m.: rio Odracus, i m.: Odraco Tranquilus, a, um:
Ad prep.+acus.: para a, a Gratia, ae f.: graça Puer, i m.: menino tranqüilo Securus, a,
Aqua, ae f.: água Insula, ae f.: ilha Puella, ae f.: mernina um: seguro
Alius, a, um: outro Liberi, orum m.: meninos Parvus, a, um: pequeno Tunc adv.: então
Bonus, a, um: bom Nautae, ae m.: marinheiro Procella, ae f.: tempestade Tjhesaurus, i m.:
Cum prep. + abl.: com Non adv.: não Pirata, ae m.: pirata tesouro
Deinde adv.: em seguida Navicula, ae f.: embarcação Qui pron.: que Tamen conj.:
Deus, i m.: Deus Nic conj.: nem Que conj.: e entretanto
Et conj.: e

Approprinquo, as, avi, atum, are: aproximar-se Naufrago, as, avi, atum, are: naufragar
Abbordo, as, avi, atum, are: abordar Pugno, as, avi, atum, are: lutar
Apporto, as, avi, atum,a re: conduzir Remeavo, as, avi, atum, are: retornar
Baano, as, avi, atum, are: banhar Rebellavo, as, avi, atum, are: rebelar-se
Castigo, as, avi, atum, are: castigar Rapto,as, avi, atum, are: roubar
Curo, as, avi, atum, are: curar Sum, es, fui, ----, esse: ser / estar
Do, as, dedi, atum, are: dar Servo, as, avi, atum, are: salvar
Fugo, as, avi, atum,are: afugentar Turbo, as, avi, atum,are: turvar
Laudo, as,a vi, atum,are: louvar Vídeo, es, vidi, ictum, ere: ver
Navigo, as, avi, atum, are: navergar Vulnero, as, avi, atum, are: ferir

4.2. Segunda conjugação latina: ēre

Observou-se que, no sistema verbal latino de primeira conjugação, há

poucas alterações desinenciais. Na verdade, isso ocorre apenas nas DMT e DNT,

em razão da mudança de tempo ou pessoa do discurso. No entanto, para quem

entendeu os procedimentos que devem ser tomados para a flexão verbal, não

haverá nenhum problema na flexão de verbos da segunda conjugação.

Viu-se que para a primeira conjugação o que realmente deve mudar é o

radical do verbo. Isto é claro, porque, quando se muda o verbo (significado),

muda-se o radical. Nesse sentido, considera-se que as posições de vogal


79

temática, desinência modo-temporal e desinência número-pessoal permanecem

inalteradas, de acordo com o tempo em que se está conjugando o verbo. Isto

quer dizer que, para o tempo presente, por exemplo, a posição da vogal temática

será sempre ocupada pelo alomorfe Ø, independente da conjugação: uma

característica do tempo presente. Levando-se em conta o pretérito imperfeito

(PT1), deve-se usar na posição da DMT a desinência -ba. Isso mostra que,

memorizando as desinências de um verbo de uma determinada conjugação, o que

mudará é somente o radical do verbo.

Nesse sentido, as particularidades da primeira conjugação fazer-se-ão

presentes na segunda conjugação.

Quando se analisa verbos da segunda conjugação, observa-se que pouca

diferença existe entre eles e os da primeira. Primeiramente, o aluno deve

observar que os verbos da segunda terminam sempre em -eo em P1 Pr Id: placeo,

fulgeo, moveo, doceo etc. A característica principal desses verbos está na vogal

temática -e, que aparece também em P2 Pr Id (-es) e If (-ere), levando-se em

consideração a forma completa do verbo em latim.

Para efeito de melhor compreensão do que foi exposto acima, usa-se o

verbo deleo, es, evi, etum, ere: delere (destruir), nos tempos já estudados.

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
del e Ø o Rad VT DMT DNP del e b m
del e Ø s del e ba m del e bi s
del e Ø t del e ba s del e bi t
80

del e Ø mus del e ba t del e bi mus


del e Ø tis del e ba mus del e bi tis
del e Ø nt del e ba tis del e bu nt
del e ba nt

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
del e vi Ø del e vera m
del e vi sti del e vera s
del e vi t del e vera t
del e vi mus del e vera mus
del e vi stis del e vera tis
del e veru nt del e vera nt

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
del e Ø or del e ba r del e b or
del e Ø ris del e ba ris del e be ris
del e Ø tur del e ba tur del e bi tur
del e Ø mur del e ba mur del e bi mur
del e Ø mini del e ba mini del e bi mini
del e Ø ntur del e ba ntur del e bu ntur

Para exercitar a segunda conjugação, flexionar os verbos abaixo nos

tempos estudados.

Moneo, es, monui, monitum, ere: (advertir)

Voz ativa
81

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
82

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito

Maneo, es, mansi, mansum, ere: (ficar)

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
83

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito

Jubeo, es, jussui, jussum, ere: (mandar)


84

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
85

Perfeito Mais-que-perfeito Futuro perfeito

Agora você deverá traduzir as frases abaixo como forma de praticar o

que foi exposto até aqui. As frases apresentarão palavras da primeira e da

segunda declinação, assim como verbos da primeira e da segunda conjugação.

Além disso, você deverá fazer a tradução do texto do item 3. Não se preocupe

quanto a isso. Lembre-se de que um texto nada mais é que frases articuladas.

Portanto, acredito que não haverá muita complexidade na tradução. Não se

esqueça de que o latim possui uma ordem sintática que deve ser respeitada.

1) Traduzir para o latim:

a) Deus dará disposição aos alunos.


...................................................................................................................................
b) A lua brilhou no céu.
....................................................................................................................................
c) As palavras de Deus advertem os habitantes da ilha.
....................................................................................................................................
d) Os lobos sujam as águas dos riachos e dos rios.
....................................................................................................................................
e) Agradaremos aos senhores do campo.
....................................................................................................................................
86

Vocabulário:

Animus, i m.: disposição Deus, i m.: Deus Hortus, i m.: jardim Luna, ae f.: lua
Aqua, ae f.: água Dominus, i m.: senhor Incola, ae m.: habitante Rivus, i m.: riacho
Alumnus, i m.: alunos Equus, i m.: cavalo Insula, ae f.: ilha Servus, i: criados
Amicus, i m.: amigo Fluvius, i m.: rio Impius, i: ímpio Verbum, i n.: palavra
Ager, gri m.: campo Filius, i m.: filho In prep.+abl.: em
Caelum, i n.: céu Herus, i m.: patrão Lupus, i m: lobo
Do, as, dedi, atum, are: dare (dar) Recuso, as, avi, atum, are: recusare (recusare)
Moneo, es, monui, monitum, ere: (dvertir) Placeo, es, placui, placitum, ere: (agradar)
Inquino, as, avi, atum, are: inquinare (sujar) Fulgeo, es, fulsi, ---, ere: brilhar

2) Traduzir para o português.

a) Ancilla herorum servos accusat.


....................................................................................................................................
b) Inter heros et servos concordiam praedicant.
....................................................................................................................................
c) Agricolarum equos et asnos verberatis.
...................................................................................................................................
d) Reginae filii prudentiam existimanus.
....................................................................................................................................
e) Deuervorum filiis et filiabus prudentiam et patientiam dat.
...................................................................................................................................
Vocabulário:

Ancilla, ae f.: criada Deus, i: Deus Inter prep.+ Ac.: entre


Asinus, i: burro Equus, i m.: cavalo Prutendia, ae f.: prudência
Agricola, ae m.: agricultor Filius, i m.: filho Patientia, ae: paciência
Concordia, ae f.: concórdia Filia, ae f.: filha Regina, ae f.: rainha
Et conj.: e Herus, i m.: patrão Servus, i m.: criado
Existimo, as, avi, atum, are: existimare (apreciar) Praedico, as, avi, atum, are: praedicare (gabar)
Verbero, as, avi, atum, are: verberare (surrar, açoitar) Accuso, as, avi, atum, are: accusare (acusar)
87

3) Tradução de texto para o português.

1 Verba volant, scripta manent18


Quintus Horatius Flaccus Orbilii scholam frequentat. Puer parvus
magistri praecepta observat, semper diligenter discit. Quintus collegis
exemplo est1. Magister bono discipulo librum dono dat2. Flaccus olim
5 magnus poeta erit.
Orbilius saepe disciplulis proverbia dictat. Pueri proverbia
describunt, quia “verba volant, scripta manent”. Ecce primum
proverbium: avarum irritat, non satiat pecúnia.
1. exemplo est: serve de exemplo.
10 2. dono dat: dá de presente.
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................

Vocabulário:

Avarus, i n.: avarento Ecce adv.: eis Primus, a, um.: primeiro


Collega, ae: m. colega Líber, bri m.: livro Puer, i m.: menino
Describunt: descreverão Magnus, a, um: grande Parvus, a, um: pequeno
Donum, i n.: presente, dom Magister, i m.: mestre Poeta, ae m.: poeta
Discipulus, i m.: discípulo Non adv.: não Quintus: Quinto
Diligenter adv.: diligentemente Orbilius, i m.: Orbílio Schola, se f.: escola
Discit: aprende Olim adv.: um dia Saepe adv.: muitas vezes
Flaccus, i m.: Flaco Parvus, a, um: pequeno Semper adv.: sempre
Hoartius, i m.: Horácio Praeceptum, i n.: preceito Verbum, i n.: palavra
Exemplum, i n.: exemplo Proverbium, i n.: provérbio Scriptum, i n.: escrito
Erit :será Pecúnia, ae f.: dinheiro
Satio,as, avi, atum, are: satiare (saciar) Observo, as, avi, atum, are: observare
Maneo, es, si, sum, ere: mere (ficar) Irrito, as, avi, atum, are: irritare (irritar)
Frequento, as, avi, atum, are: frequentare (frequenter) Volo, as, avi, atum, are: volare (voar)

18 Adaptação de Ronai (1945, p. 43).


88

4) Quanto ao texto, pede-se:

a. Qual o tempo e a conjugação do verbo frequentat (linha 02)?


...................................................................................................................................................
b. Qual o caso da palavra scholam (linha 02)?
..................................................................................................................................................
c. Qual a função sintática da palavra discípulo (linha 03)?
..................................................................................................................................................
d. Como ficaria a frase Quintus Horatius Flaccus Orbilii scholam frequentat
se o verbo fosse empregado no tempo perfeito do indicativo latino?
......................................................................................................... .........................................
...................................................................................................................................................
89

UNIDADE V
GRUPO DE ADJETIVOS, VERBO ESSE E AGENTE DA PASSIVA

Segundo CARDOSO (2000, p. 43), os adjetivos são palavras que servem

para qualificar ou caracterizar os substantivos. Assim acontece em português,

assim acontece em latim.

Como elemento modificador do substantivo, servindo-lhe de atributo

(adjunto adnominal ou aposto), predicativo do sujeito, o adjetivo, via de regra,

concorda com o substantivo em gênero, número e caso.

Os adjetivos declinam-se como substantivos de primeira, segunda ou

terceira declinação.

Segundo ALMEIDA (1994, p. 49), os nomes adjetivos, em latim,

distribuem-se em dois grupos: (i) de primeira classe e (ii) de segunda classe.

Nesta unidade, estudaremos os do primeiro grupo, cuja característica

principal é que são declinados pela primeira e segunda declinações.

5.1. Adjetivos de primeira classe

Os adjetivos deste grupo sempre apresentam as terminações -us, -a e

-um, -er, -ra, -rum, e também -ur, -ra, -um, em que as terminações -us, -er

e -ur se referem a um nome substantivo do gênero masculino, -a, a um nome

substantivo do gênero feminino e -um, a um nome substantivo do gênero

neutro.

Ressalta-se que os adjetivos concordam com o substantivo em gênero,

número e caso. Isso quer dizer que, se a palavra a qual o adjetivo está se
90

referindo for um substantivo feminino, o adjetivo deverá ser declinado

também no feminino, observando o caso e o número dessa palavra. Vejamos

um exemplo: uma menina alta veio à aula de vôlei. Quando se quer traduzir a

expressão menina alta ao latim, deve-se levar em conta o seguinte:

a) Primeiramente, identifica-se o substantivo, observando seu gênero,

número e caso;

b) Como menina é uma palavra feminina, em latim (puella, ae f.), o adjetivo

alto (altus, a, um) deverá ser declinado pela terminação -a,

c) Como menina está no singular, o adjetivo alto obrigatoriamente deverá

aparecer no singular;

d) Como menina está no caso nominativo, o adjetivo alto deverá também

ser grafado no nominativo.

Ressalta-se que os nomes adjetivos sempre apresentam as três

terminações do nominativo singular: uma para o masculino, uma para o feminino

e outra para o neutro.

Altus: masculino Alta: feminino Altum: neutro

O masculino e o neutro seguem a segunda declinação, e o feminino segue

a primeira.

Altus, i Alta, ae Altum, i


2ª 1ª 2ª

Para efeito de exercício, declinar os adjetivos abaixo relacionados:


91

Bonus, a, um (bom)

Singular masculino feminino neutro


Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
Ablativo .............................. .............................. ..............................
Plural masculino feminino neutro
Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
ablativo .............................. .............................. ..............................

Magnus, a, um (grande)

Singular masculino feminino neutro


Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
Ablativo .............................. .............................. ..............................
Plural masculino feminino neutro
Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
ablativo .............................. .............................. ..............................
92

Pulcher, ra, um, a, um (lindo)

Singular masculino feminino neutro


Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
Ablativo .............................. .............................. ..............................
Plural masculino feminino neutro
Nominativo .............................. .............................. ..............................
Genitivo .............................. .............................. ..............................
Dativo .............................. .............................. ..............................
Acusativo .............................. .............................. ..............................
Vocativo .............................. .............................. ..............................
ablativo .............................. .............................. ..............................

Observe que os adjetivos de primeira classe são sempre triformes, ou

seja, uma forma para cada gênero (masc., fem., neutro). Portanto, para

sabermos se uma palavra latina é adjetivo de 1ª classe, basta observarmos

essas terminações.

De acordo com ALMEIDA (1994:51), tal como no português, o adjetivo

latino concorda com o substantivo a que se refere, isto é, em latim o adjetivo

deve ir para o gênero, para o número e para o caso do substantivo com que se

relaciona. Além disso, deve ser é colocado ordinariamente depois do

substantivo. No entanto, se o adjetivo vier antes do substantivo e este estiver

regendo um genitivo, coloca-se o adjetivo em primeiro lugar, em seguida o

genitivo e por último o substantivo. Por exemplo, a frase A piedosa filha da


93

rainha traduz-se por Pia reginae filia, em que Pius, a, um (piedosa) é o

adjetivo, filia, ae f. (filha) é o substantivo que antecede o caso genitivo Regina,

ae f. (rainha).

Agora, como forma de exercitar, apresentam-se algumas frases

simples para tradução:

1) Traduzir para o português:

a) Herus gratus, heri grati, hero grato.


....................................................................................................................................................
b) Parvi equi, parvum equum, parvis equis.
...................................................................................................................................................
c) magnae gallinae, magnarum galinarum.
..................................................................................................................................................

Vocabulário:

Equus, i m.: cavalo Gallina, ae f.: galinha Magnus, a, um: grande


Gratus, a, um: grato Herus, i m.: patrão Parvus, a, um: pequeno

5.2. Verbo ESSE (SUM)

Segundo CARDOSO (2000:89), o verbo ESSE não se enquadra em

nenhuma das conjugações. Por sua própria significação (ser, estar. Haver) e

por ser muito antigo na língua, apresenta várias peculiaridades.

Para ALMEIDA (1994: 53), não há idioma no mundo em que esse verbo

não seja irregular; é irregular, portanto, também em latim, mas a

irregularidade do presente do indicativo está somente no radical.


94

De acordo com GARCIA (2003:158), o verbo ESSE, pelo seu frequente

uso conseguiu, em grande parte, escapar das ações analógicas, mantendo sua

estrutura complexa.

Assim como no português, o verbo ESSE aparece com bastante

frequência em frases com estrutura latina em S + PS + VL, em que o S

significa sujeito, o PS, predicativo do sujeito e o VL, verbo de ligação.

Flexão do verbo ESSE no modo indicativo:

Presente Perfeito Pret. Imperf. Fut. Imperf. Pret. M-Q-P

Sum Fui Eram Ero Fueram

Es Fuisti Eras Eris Fueras

Est Fuit Erat Erit Fuerat

Sumus Fuimus Eramus Erimus Fueramus

Estis Fuistis Eratis Eritis Fueratis

Sunt Fuerunt Erant Erunt Fuerant

Assim como ocorre no português, o verbo ESSE é um verbo de ligação

e seu complemento é um predicativo do sujeito, podendo ser um substantivo

ou um adjetivo.

Santiago é bacana (bacana: adjetivo)

Santiago é a base da família. (base: substantivo)

Em uma frase latina que obedece à estrutura S + PS + VL, se o

predicativo for constituído por um nome adjetivo, deve concordar com o nome
95

que está na posição de nominativo, ou melhor, que exerce a função de caso

nominativo, em gênero, número e caso. Se o nome for masculino, o adjetivo

será masculino; se o nome for feminino, o adjetivo será feminino também; se

o nome for neutro, o adjetivo será neutro também. O mesmo ocorre com o

número e com o caso. Por exemplo:

Maria est bona. Exemplum est bonum. Paulus est bonus.


Fluvius et rivius sunt boni. Maria et Paulus sunt boni.

Agora, se o predicativo é constituído por nome substantivo, este

apresenta gênero próprio e, muitas vezes, não pode variar em número; dessa

forma, só deve concordar com o nome no caso nominativo da frase em CASO,

apenas. Nesse sentido, tanto faz dizer:

Nailson é o sustento da casa.


Helen é o sustento da casa.
Nailson e Helen são o sustento da casa.

Observa-se nos exemplos acima que o substantivo sustento não varia

nem em gênero nem em número.

Para ALMEIDA (1994:55), quando o predicativo se refere a seres

animados de gênero diferente, prevalece o masculino: Volicus et vilica sunt

expediti (o caseiro e a caseira são expeditos). Se referentes a seres

inanimados de gênero diferente, o predicativo vai para o neutro plural: lecus

et sella sunt lígnea (a cama e a cadeira são de madeira).

Agora, como forma de exercitar a tradução de frases que apresentam

nomes da primeira e segunda declinação, assim como adjetivos de primeira


96

classe, verbos de primeira conjugação e verbo de ligação, apresentamos, a

seguir, um exercício de fixação:

Exercícios:

1) Traduzir para o português.

a) Veri amici pauci sunt.


...............................................................................................................................................
b) Poetae parcas agricolarum mensas laudant.
..............................................................................................................................................
c) Pugnae ruinarum magnarum causa sunt.
.............................................................................................................................................
d) Agricolarum modestam vitam amo.
............................................................................................................................................

Vocabulário:

Amicus, i m.: amigo Poeta, ae m.: poeta Agricola, ae m.: agricultor


Parcus, a, um: humilde, simples Magnus, a, um: grande Mensa, ae f.: mesa
Paucus, a, um: pouco Modestia, ae f.: medesta Pugna, ae f.: luta, combate
Verus, a, um: verdadeiro Ruina, ae f.: ruína
Causa, ae f.: causa Vita, ae f.: vida
Laudo, as, avi, atum, are: louvar, elogiar
Sum, es, fui, esse: ser,estar
Amo, as, avi, atum, are: amar

2) Traduzir para o latim.

a) As mesas de muitos senhores são humildes.


....................................................................................................................................................
b) Os verdadeiros amigos são tesouro para a pátria.
....................................................................................................................................................
97

c) Os romanos foram discípulos dos gregos.


....................................................................................................................................................
d) O lobo devora o cordeiro.
....................................................................................................................................................

Vocabulário:

Amicus, i m.: amigo Discipulus, i m.: discípulo Multus, a, um: muito Patria, ae f.: pátria
Agnus, i m.: Cordeiro Graecus, i m.: grego Mensa, ae f.: mesa Parcus, a, um: humilde
Dominus, i m.: senhor Lupus , i m.: lobo Thesaurus, i m.: tesouro Romanus, i m.: romano

Devoro, as, avi, atum, are: devorare Sum, es, fui,----, esse: ser, estar
(devorar)

5.3. Agente da voz passiva

Sabemos que o sujeito de um verbo é aquele que pratica a ação expressa

pelo verbo. Quando o sujeito pratica a ação, o verbo está na voz ativa.

Vejamos agora um caso em que o sujeito, em vez de praticar, recebe a

ação do verbo: o cão foi batido pelo carro.

Estamos, dessa forma, vendo um caso em que o sujeito recebe, sofre a

ação do verbo em vez de praticá-la. Quando o sujeito recebe a ação do verbo,

dizemos que o verbo está na voz passiva.

Observando a frase tida como exemplo, como se analisa o termo pelo

carro. Esse termo recebe o nome de agente da passiva, ou seja, é o termo da

oração que pratica a ação do verbo. O agente da passiva geralmente aparece

com preposição (per+o=pelo; per+a=pela).

Na tradução de uma frase na voz passiva do português para o latim, o

sujeito da frase vai para o caso nominativo; o verbo coloca-se em uma forma
98

especial para indicar passividade; e o agente da passiva vai para o ablativo,

levando-se em consideração algumas particularidades:

1) Quando o agente da passiva é ser inanimado, basta ir para o ablativo simples.

2) Quando é pessoa ou qualquer ser animado, ou considerado animado pelo

autor, além de ir para o ablativo deve ser antecedido por preposição (a ou ab).

a) Preposição a: quando a palavra começa por consoante.

b) Preposição ab: quando a palavra começa por vogal ou pela consoante h.

Vejamos alguns exemplos de frases na voz passiva:

Aquiles foi morto por Paris.


Heitor foi vencido por Aquiles.
O mundo é iluminado pelo sol.
Os troianos foram sacrificados por Agamenon.

Agora, façamos o exercício a seguir para fixar o que foi abordado neste

subitem:

1) Traduzir para o latim.

a) Os maus são castigados pela consciência.


....................................................................................................................................................
b) O troiano será capturado pelo grego.
....................................................................................................................................................
c) O bom aluno é estimado pelos mestres.
....................................................................................................................................................

Vocabulário:
99

Alumnus, i m.: aluno Magister, tri m.: Populus, i m.: povo


Bonus, a, um: bom mestre Romanus, i m.: romano
Conscientia, ae f.: consciência: Malus, i m.: mau Troianus, i m.: troiano
Graecus, i m.: grego Nerus, i m.: Nero
Capto, as, avi, atum, are: capturado Existimo, as, avi, atum, are: estimar
Castigo, as, avi, atum, are: castigar

UNIDADE VI
GRAUPO DE SUBSTANTIVOS DA TERCEIRA DECLINAÇÃO

Neste grupo de substantivos, observa-se grande variedade de

terminações e abrange maior número de palavras para as três categorias de


100

gênero: masculino, feminino e neutro. Este grupo recebe o nome de terceira

declinação latina. Nesta declinação as palavras podem aparecer no nominativo

singular em -or, -er, -us, -os, -io, -es, -as, -is, -ex, -em, consoante, entre outras,

ou seja, há uma variedade enorme de terminações, mas que possui a terminação

do genitivo singular -is como característica comum. Pode-se observar melhor, no

quadro abaixo, a diversidade de terminação dessa declinação.

Arbor, oris f.: árvore Frater, tris m.: irmão Mos, oris m.: costume Rete, is n.: rede

Amor, oris m.: amor Grex, gis m.: rebanho Nugax, cis m.: louco Sitis, is f.: sede

Belles, ites m.: guerreiro Hiems, mis f.: inverno Os, oris n.: boca Tapes, etis f.: tapete

Canis, is m.: cão Illisio, onis f.: luta Pacto, onis f.: pacto Urbs, bis f.: cidade

Ditio, onis m.: império Judex, cis m.: juiz Plebs, plebis f.: plebe Vanitas, atis f.: vaidade

Eques, itis m.: cavaleiro Leo, onis m.: leão Questio, onis f.: questão Zetima, atis f.: problema

6.1 Terceira declinação latina: -is

Nas duas primeiras declinações, não há nenhuma preocupação em se

formar o genitivo singular, o que não se observa na terceira declinação. Quanto

a isso, recorre-se à professora Janete Melasso que afirma:

no estudo da 3ª declinação, a simples retirada da desinência casual nem


sempre permite que se encontre, imediatamente, o radical da palavra
e o consequente enunciado (em nominativo singular) que o dicionário
apresenta. Isso se deve às transformações fonéticas que se deram
nessas palavras (GARCIA, 2000:72).

Se, para as duas declinações já estudadas, é simples formar o genitivo

singular com a simples retirada da desinência do nominativo singular; nesta

terceira declinação, é praticamente impossível estabelecer uma regra. Portanto,

não sendo conhecida a palavra, a única alternativa é consultar o dicionário.


101

Pelo quadro acima ilustrado, pode-se observar a variedade de que se

compõe a terceira declinação. Sugiro, como exercício de fixação das desinências,

que se declinem alguma delas em todos os casos, no singular e no plural, seguindo

os mesmos procedimentos já usados para a primeira e segunda declinação. É

claro que se deve dar mais atenção para a formação do genitivo singular.

No entanto, antes de se declinar uma palavra da terceira declinação, é

necessário comentar sobre nomes parissílabos e nomes imparissílabos.

Os nomes parissílabos são aqueles que apresentam mesmo número de

sílaba no nominativo e genitivo singular, como se observa na palavra nubes, is f.

(nuvem), em que o número de sílabas é 2, tanto para o nominativo quanto para o

genitivo singular: nu – bes: 2 (nom.) / nu – bis : 2 (gen.)

Os nomes imparissílabos são aqueles que apresentam número de sílaba

diferente para o nominativo e genitivo singular. Por exemplo, na palavra rex,

regis m. (rei) observa-se que o nominativo (rex) apresenta apenas uma sílaba,

enquanto o genitivo, duas (re-gis).

Já que agora se pode distinguir entre palavras parissílabas e

imparissílabas, para que serve esse conhecimento?

Na verdade, a perfeita formação do genitivo plural de uma palavra

(masc./fem.) da terceira declinação só é possível se o aluno souber fazer essa

distinção. Se a palavra for parissílaba seu genitivo plural apresentará a

terminação -ium. Caso a palavra seja imparissílaba, o aluno deverá observar

atentamente o radical: se no final do radical aparecer somente uma consoante,

o genitivo plural deverá ser formado com -um; se aparecerem duas ou mais

consoantes, usa-se a terminação -ium. Por exemplo, na palavra nox, noctis f.

(noite), observa-se que se trata de uma palavra imparissílaba, pois o número de


102

sílaba entre o nominativo e o genitivo singular é diferente. Nesse caso, o aluno

deverá observar se o radical da palavra termina com uma, duas ou mais

consoantes. Nox, noctis apresenta o radical com duas consoantes e faz,

portanto, o genitivo plural com a terminação -ium (noctium).

Na palavra rex, regis m. (rei), o radical termina com uma consoante

apenas. Portanto, seu genitivo plural apresentará a terminação –um (regum).

Ressalta-se que a maioria das palavras da terceira declinação é a que

apresenta maior complexidade, maior quantidade e variedade de palavras e

também a que comporta mais exceções. Quer dizer que os nomes da terceira

declinação devem ser estudados quase de um em um ou de grupo em grupo, por

causa dessa variedade de terminações. Na Tabela 4, a seguir, ilustram-se as

desinências e seus respectivos casos.

Tabela 4. Desinências correspondentes à terceira declinação latina e seus


respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo VT es
Genitivo is um / ium
Dativo i ibus
Acusativo em es
Vocativo VT es
Ablativo e ibus
103

Ao se analisar a tabela acima, pode-se inferir que o nominativo singular

apresenta as letras VT em razão da variedade de terminações das palavras da

terceira declinação. O vocativo não apresenta nenhuma dificuldade, porque é

sempre igual ao nominativo e o genitivo plural pode ser empregado com duas

terminações (-um e -ium).

Com a finalidade de fixar as informações a respeito dessa declinação,

decline as palavras a seguir:

Pastor, oris m.: pastor Mulier, is f.: mulher


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Homo, inis m.: homem Victor, oris m.: vencedor


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Plebs, plebis f.: plebe Os, oris n.: boca


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Agora, como forma de exercitar a análise e tradução, faça o que se

pede:
104

1) Traduzir para o latim.

a) Os bons costumes dos alunos são elogiados pelo professor.


................................................................................................................................
b) Os perfumes e as cores das flores são variados.
.................................................................................................................................
c) Os escritores romanos louvavam os costumes dos germanos.
................................................................................................................................

Vocabulário:

Alumnus, i m.: aluno Germanus, i m.: germano Scriptor, oris m.: escritor
Bonus, a, um: bom Mos, moris m.: costume Varius, a, um: variado
Color, oris m.: cor Odor, oris m.: perfume Romanus, a, um: romano
Flos, floris m.: flor Preceptor, oris m.:
professor
Laudo, as, avi, atum, are: elogiar

2) Traduzir para o português.

a) Hector cum Achile pugnavit.


..............................................................................................................................................

b) Graeciae precptores a romanis voccabant.


..............................................................................................................................................
c) Regum romanorum castros deleverunt.
..............................................................................................................................................

Vocabulário:

Achile, is m.: Aquiles Cum prep+abl.: com Graecia, ae f.: Grécia


Altare, is m.: altar Castrum, I n.: castelo Rex, Regis m.: rei
Bonus, a, um: bom Hector, oris m.: Heitor Romanus, a, um: romano
105

Laudo, as, avi, atum, are: elogiar Pugno, as, avi, atum, are: lutar
Vocco, as, avi, atum, are: chamar

6.2 Particularidades da terceira declinação latina

Observa-se, ao se estudar a terceira declinação, que certos nomes

apresentam nominativo singular com terminação em -ter. Esses nomes, na

formação do genitivo singular, perdem o e da terminação, igualmente aos

nomes da segunda declinação de terminação também em -er do grupo B. Nesse

caso, isso ocorrerá na formação de todos os demais casos.

Para a formação do genitivo plural, haverá uma exceção, pois, mesmo

apresentando duas consoantes no final do radical (tr), a desinência do genitivo

plural de tais nomes será sempre -um.

Pater, patris Mater, matris Frater, fratris Accipiter, accipitris

Segundo ALMEIDA (1994: 70), há nesta declinação um nome terminado

em TER bastante irregular: juppiter, is (júpiter), cujo genitivo singular é jovis.

Essa palavra é declinada somente no singular.

Nominativo Juppiter
Genitivo Jovis
Dativo Jovi
Acusativo Jovem
Vocativo Juppiter
Ablativo Jovi
106

Conhecendo as desinências e algumas particularidades da terceira

declinação latina, faça a tradução das frases abaixo:

1) Traduzir para o latim.

a) As noites de inverno são compridas.


............................................................................................................................................
b) Os procedimentos dos homens é condenado pelo rei.
............................................................................................................................................
c) As asas dos gaviões são variadas.
............................................................................................................................................
Vocabulário:

Ala, ae f.: asa Longus, a ,um: comprido Rex, Regis m.: rei
Accipiter, is m.: gavião Mores, morum m.: procedimentos Varius, a, um: variado
Hiems, hiemis f.: inverno Nox, noctis f.: noite
Damno, as, avi, atum, are: damnare (condenar) Sunt, es, fui, ---, esse: ser/estar

6.3 Neutros da terceira declinação latina

Os substantivos neutros apresentam distinção quando comparados aos

nomes masculinos e femininos. Os casos nominativo, vocativo e acusativo

apresentam-se iguais em forma no singular, ou seja, a forma que aparecer no

nominativo será igual às do acusativo e vocativo. No plural também são iguais,

com terminação -ia ou -a, dependendo do tipo de nome neutro. Nesse sentido,

para completo estudo dos nomes neutros da terceira declinação, devemos dividi-

los em dois grupos: grupos A e B.

a) Grupo A: nomes neutros terminados em AR-E-AL;


107

b) Grupo B: nomes neutros especiais que não apresentam as terminações

de nominativo singular dos nomes do grupo A.

6.3.1 Neutros do grupo A

Os neutros da terceira declinação terminados em -ar -e ou -al fazem

o ablativo singular em -i, além de apresentar a forma do nominativo singular

igual no acusativo e vocativo. Outra característica desses neutros que foge à

regra geral é sua terminação do genitivo plural que é em -ium.

Na Tabela 5, a seguir, ilustram-se as desinências dos nomes neutros do

grupo A.

Tabela 5. Desinências dos nomes neutros do grupo A correspondentes à


terceira declinação latina e seus respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo VT ia
Genitivo is ium
Dativo i ibus
Acusativo VT ia
Vocativo VT ia
Ablativo i ibus

Mare, is n.: mar Exemplar, is n.: exemplar


........................................................... ...........................................................
108

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Animal, is n.: animal Calcar, aris n.: espora


.......................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

6.1.2 Neutros do grupo B

Os neutros do grupo B da terceira declinação não apresentam as

terminações do nominativo singular em -ar -e ou -al. Esses neutros fazem o

ablativo singular em -e. Igualmente aos neutros do grupo A apresentam as

formas iguais no nominativo, acusativo e vocativo. A formação do genitivo

plural é em -um.

Na Tabela 6, a seguir, ilustram-se as desinências dos nomes neutros do

grupo B.
109

Tabela 6. Desinências dos nomes neutros do grupo B correspondentes à


terceira declinação latina e seus respectivos casos.

Casos Flexão de número


latinos Singular Plural
Nominativo VT a
Genitivo is um
Dativo i ibus
Acusativo VT a
Vocativo VT a
Ablativo e ibus

Iter, itineris n.: itinerário Corpus, oris n.: corpo


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Ônus, oneris n.: encargo Omen, ominis n.: presságio


.......................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Ver, veris n.: primavera Robur, oris n.: força


.......................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
110

........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

6.4 Outras particularidades da terceira declinação

Já foi comentado que a terceira declinação apresenta diversas

particularidades. Vejamos algumas delas segundo ALMEIDA (1994:77).

1. Certos nomes da terceira declinação têm o acusativo em -im e o ablativo em

-i. Esses nomes são os seguintes:

a) nomes próprios geográficos em is, como Tiberis, is (Tibre); Neapolis, is

(Nápolis); Tripolis, is (Trípoli).

b) os seguintes nomes comuns:

Sitis, is f.: sede Tussis, is f.: tosse Vis, viris f.: força Febris, is f.: febre

2. Genitivo plural irregular:

a) alguns nomes há na 3ª declinação que no genitivo plural fogem da regra

geral apresentada. São eles:

Canis, is m.: canum Panis, is m.: panum Senex, senis m.:– senum Juvenis, is m.:- juvenum

b) alguns nomes imparissílabos com uma consoante no radical têm o genitivo

plural em ium (exceção). São eles:

Dos, dotis – dotium Nix, nivis – nivium Lis, litis – litium Mus, muris - murium
111

c) alguns nomes que só se usam no plural. São eles:

Fores, forium – porta Furfures, um – farelo Preces, cum – preces Verbera, rum - surra

Exercícios:

1) Traduzir para o português:

a) Senes tussi vexantur.


...............................................................................................................................................
b) Fidorum canum custodia agricolis cara est.
...............................................................................................................................................
c) Murium et glirium foramina parva sunt.
...............................................................................................................................................

Vocabulário:

Canis, is m.: cão Foramen, is n.: buraco Parvus, a, um: pequeno


Custodia, ae f.: guarda Fidus, a, um: fiel Tussis, is f.: tosse
Carus, a, um: caro Mus, muris m.: rato Senex, senis m.: velho
Vexo, as, avi, atum, are: vexare Sunt, es, fui, ---, esse: ser/estar
(atormentar)

2) Traduzir para o latim.

a) os agricultores cansados matam a sede.


...............................................................................................................................................
b) Antônio desejava Roma e Nápoles.
...............................................................................................................................................
c) Muitas vezes os soldados são atormentados pela fome e pela sede.
...............................................................................................................................................

Vocabulário:
112

Fessus, a, um: cansados Miles, militis m.: soldado Roma, ae f.: Roma
Fames, is f.: fome Neapolis, is f.: Nápoles Sitis, is f.: sede
Seape: muitas vezes
Sedo, as, avi, atum, are: matar Vexo, are: atormentar
Desidero, as, avi, atum, are: desejar

UNIDADE VII
GRUPO DE SUBSTANTIVOS DE QUARTA E QUINTA DECLINAÇÃO E
SISTEMA VERBAL DE TERCEIRA CONJUGAÇÃO LATINA (VOZ ATIVA
E PASSIVA)
Assim como nas declinações já mencionadas, em que se suas

particularidades foram estudadas, principalmente no que diz respeito à

declinação, passaremos a observar as duas últimas declinações latinas: a

quarta e a quinta.
113

7.1. Quarta declinação latina: us

Nos nomes pertencentes à quarta declinação, observa-se que há

palavras pertencentes aos gêneros masculino, feminino e neutro, em que os

nomes masculinos e femininos apresentam sempre a terminação -us no

nominativo singular, enquanto, para os nomes neutros, a terminação é -u. A

terminação do genitivo singular é sempre -us. Sendo assim, na Tabela 7, a

seguir, podemos conferir as desinências que pertencem aos nomes masculinos

e femininos da quarta declinação latina e seus respectivos casos.

Tabela 7. Desinências correspondentes aos nomes masculinos e femininos da

quarta declinação latina e seus respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo us us
Genitivo us uum
Dativo ui ibus
Acusativo um us
Vocativo us us
Ablativo u ibus

Ao se analisar a tabela acima, observa-se que existe algo em comum

com a terceira declinação, o que pode proporcionar um problema de

interpretação, assim como ocorre entre a primeira e a segunda declinação. No

caso da quarta declinação, a terminação do dativo e ablativo plural é -ibus, o

que graficamente é igual à terceira declinação nos mesmos casos. Em razão

de se evitar a ambiguidade, para os nomes da quarta declinação, adota-se a

terminação -ubus. Essa particularidade pode ser observada quando usamos em


114

um texto qualquer palavras de terceira declinação par, tis f.(parte) e palavras

de quarta declinação partus, us m. (parto). Por exemplo, na frase

Observa-se que a grafia partibus é igual para ambas as palavras.

Nesse caso, a fim de evitar a ambiguidade, usa-se a terminação -ubus para

nomes da quarta declinação.

Agora, na Tabela 8, a seguir, observam-se as desinências dos nomes

neutros da quarta declinação latina.

Tabela 8. Desinências correspondentes aos nomes neutros da quarta

declinação latina e seus respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo u ua
Genitivo us uum
Dativo ui ibus
Acusativo u ua
Vocativo u ua
Ablativo u ibus

Observa-se que os nomes neutros geralmente têm o singular invariável,

com exceção do genitivo e do dativo singular que terminam em -us e -ui,

respectivamente.

Segundo GARCIA (2000:96), a quarta declinação pode ser considerada

variante da segunda, pois há palavras que se declinam por uma ou por outra.

Na verdade, esse fato começou a evidenciar-se no momento em que o latim


115

entrou em decadência e começou a perder sua estabilidade morfológica

(CARDOSO, 2000:41).

Com a finalidade de exercitar a declinação de palavras pertencentes à

quarta declinação, declinar as palavras a seguir:

Quaercus, us f.: carvalho Lacus, us m.: lago


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Partus, us m.: parto Manus, us f.: mão


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

Genu, us n.: joelho Cornu, us n.: corno, chifre


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
116

Outra exceção dos nomes da quarta declinação que, na verdade, é uma

anomalia aparece apenas no nome Iesus, us m. (Jesus), que é declinado apenas

no singular, como se observa abaixo:

Nominativo Iesus
Genitivo Iesus
Dativo Iesui
Acusativo Iesum
Vocativo Iesus
Ablativo Iesu

Passemos agora à quinta declinação latina. É a quinta declinação a mais

pobre de todas em número de palavras.

7.2. Quinta declinação latina: -ei

Apresenta apenas palavras femininas. As que aparecem no masculino são

dies, ei (dia) e meridies, ei (meio-dia) quando significam período de 24 horas;

quando indicarem dia marcado serão femininas.

As palavras deste grupo que apresentam declinação completa são dies, ei

(dia) e res, ei (coisa). As outras palavras ou têm apenas singular ou, no plural,

apresentam apenas os casos nominativo, acusativo e vocativo.

Algumas palavras da quinta, pelas questões evolutivas do latim, passaram

a figurar na primeira e na terceira declinação. Na Tabela 9, a seguir,

apresentam-se as desinências da quinta declinação e seus respectivos casos.


117

Tabela 9. Desinências correspondentes aos nomes da quinta declinação latina

e seus respectivos casos.

Flexão de número
Casos latinos
Singular Plural
Nominativo es es
Genitivo ei erum
Dativo ei ebus
Acusativo em es
Vocativo es es
Ablativo e ebus

Como forma de exercitar a declinação deste grupo de palavras, declinar

as palavras a seguir:

Materies ,ei f.: madeira Res, ei f.: coisa


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
............................................................ ...........................................................
............................................................ ............................................................
............................................................ ............................................................

Plebes, ei f.: plebe Fides, ei m.: fé


........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................
........................................................... ...........................................................

7.3. Terceira conjugação latina: ĕre


118

Já se sabe que o verbo em latim se apresenta de forma completa, ou

seja, com cinco formas: duas para o presente, uma para o perfeito, uma para

o supino e uma para o infinitivo.

Para se flexionar um verbo da terceira, basta seguir os passos já vistos

na primeira conjugação.

No entanto, quanto à terceira conjugação latina, faz-se necessário ressaltar

algumas características: (i) Diferentemente da primeira e segunda conjugação,

que apresentam na DMT a terminação -ba, os verbos da terceira apresentam na

DMT a terminação -eba; (ii) Apresentam a vogal temática apenas na forma do

infinitivo (ĕre), ou seja, não aparece nas demais flexões.

Segundo ALMEIDA (1994:), a terceira conjugação apresenta

diferenças mais pronunciadas. Em primeiro lugar devemos saber que o

infinitivo termina também em ere (como os verbos da 2ª), mas essa

terminação nunca pode ser acentuada. Na 2ª conjugação, o ere do infinitivo é

acentuado (ēre), mas na 3ª o ere é sempre átono (ĕre).

Já que a terminação do infinitivo -ere é igual para os verbos de segunda

e terceira conjugação, como fazer a distinção entre eles? Isso é bastante

fácil: basta observar P1 Pr Id; pois os verbos da segunda sempre apresentam

a terminação -eo (vogal temática e DNP), ao contrário dos verbos da terceira

que apresentam somente a DNP -o.

Se observarmos atentamente a forma completa dos verbos em questão,

será fácil concluir que P2 Pr Id são também diferentes entre si. Os verbos de

segunda conjugação apresentam sempre a terminação -es (vogal temática e

DNP), enquanto os da terceira apresentam -is (vogal de ligação e DNP), como

se observa em Places (Placere) e Capis (Capere).


119

Como já se observou na primeira e segunda conjugação todo o

procedimento para se conjugar um verbo, não haverá problemas para se

flexionar um verbo da terceira conjugação. É evidente que antes de qualquer

coisa é preciso fazer a distinção dos verbos, de acordo com sua conjugação,

para que as desinências correspondentes ao verbo sejam empregadas.de

forma adequada.

Baseando-se nessas informações, ilustra-se, a seguir, o verbo lego,is,

legi, lectum, ere: legere (ler), conjugado nos tempos até aqui estudados.

Voz ativa

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
Leg Ø Ø o Leg Ø eba m Leg Ø a m
Leg i Ø s Leg Ø eba s Leg Ø e s
Leg i Ø t Leg Ø eba t Leg Ø e t
Leg i Ø mus Leg Ø eba mus Leg Ø e mus
Leg i Ø tis Leg Ø eba tis Leg Ø e tis
Leg u Ø nt Leg Ø eba nt Leg Ø e nt

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
Leg Ø i Ø Leg Ø era m
Leg Ø i sti Leg Ø era s
Leg Ø i t Leg Ø era t
Leg Ø i mus Leg Ø era mus
Leg Ø i stis Leg Ø era tis
Leg Ø eru nt Leg Ø era nt
120

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
Leg Ø Ø or Leg Ø eba r Leg Ø a r
Leg i Ø ris Leg Ø eba ris Leg Ø e ris
Leg i Ø tur Leg Ø eba tur Leg Ø e tur
Leg i Ø mur Leg Ø eba mur Leg Ø e mur
Leg i Ø mini Leg Ø eba mini Leg Ø e mini
Leg u Ø ntur Leg Ø eba ntur Leg Ø e ntur

É importante ressaltar que, além de verbos que apresentam tema em

consoante, como é o caso de legĕre (lego, legere: ler), a terceira conjugação

apresenta também verbos com tema em i (venio, venere: vir/chegar) e em u

(tribuo, tibere: atribuir)

Nesse ponto, ressalta-se o que o professor Antônio Martinez Rezende

fala:

As vogais i e u, que aparecem no verbo de tema em consoante, são


chamadas de LIGAÇÂO, pois são necessárias para a junção do tema
(em consoante) com as desinências, que também são começadas por
consoante.
As vogais u(terceira pessoa do plural dos temas em i e em u) e i do
tema em u (tribu-) são chamadas EUFÔNICAS, pois teoricamente
não desempenham aquele mesmo papel de ligar duas consoantes
(REZENDE, 2003:51).

Para exercitar a conjugação dos verbos de terceira conjugação,

flexionar os verbos abaixo nos tempos estudados.

Rego, is, rexi, rectum, ere: (reger / dirigir)


121

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
122

Capio, is, cepi, captum, ere: (agarrar / prender)

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
123

Tribuo, is, tribui, tributum, ere: (atribuir / dar)


Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
124

7.4. Quarta conjugação latina: ire

Se o aluno pode encontrar certa dificuldade em distinguir um verbo

latino de segunda e de terceira conjugação em razão da terminação do

infinitivo -ere, idênticas na morfologia, ou fazer a distinção entre um verbo

de primeira e outro de terceira pela terminação da P1 Pr Id, em razão da

mesma terminação -o, para ambos, isso não acontecerá com os verbos da

quarta conjugação.

É extremamente fácil identificar um verbo da quarta conjugação, pois

o infinitivo termina sempre em -ire, mesmo que possa apresentar em P1 Pr Id

a terminação -io.

Diferentemente dos verbos de terceira conjugação, os da quarta

apresentam a vogal temática –i, característica dessa conjugação e que se

conserva em todas as formas verbais.

Assim como a segunda conjugação segue o padrão da primeira, a quarta

seguirá o padrão da terceira. Isto quer dizer que a DMT do pretérito

imperfeito será –eba, e a do futuro imperfeito será -e, com alomorfia em P1

(-a).

Segue abaixo o verbo audio ,is, audivi, itum, ire: audire conjugado

nos tempos já estudados.


125

Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
aud i Ø o Rad VT DMT DNP aud i a m
aud i Ø s aud i eba m aud i e s
aud i Ø t aud i eba s aud i e t
aud i Ø mus aud i eba t aud i e mus
aud i Ø tis aud i eba mus aud i e tis
aud i Ø nt aud i eba tis aud i e nt
aud i eba nt

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
aud i vi aud i vera m
aud i vi aud i vera s
aud i vi aud i vera t
aud i vi aud i vera mus
aud i vi aud i vera tis
aud i veru aud i vera nt

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
126

aud i Ø or Rad VT DMT DNP aud i a r


aud i Ø ris aud i eba a aud i e ris
aud i Ø tur aud i eba ris aud i e tur
aud i Ø mur aud i eba tur aud i e mur
aud i Ø mini aud i eba mur aud i e mini
aud i Ø ntur aud i eba mini aud i e ntur
aud i eba ntur

Para exercitar a conjugação dos verbos de quarta conjugação,

flexionar os verbos abaixo nos tempos estudados.

Aperio, is, aperui, apertum, ire: (abrir)

Voz ativa

Presente Petérito Imperfeito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP
127

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Exeo, is, exii, itum, ire: (sair)


Voz ativa

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Perfeito Mais-que-perfeito
128

Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP

Salio, is, salui, saltum, ire: (saltar)


Voz ativa
Presente Pretérito Futuro Imperfeito
Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
129

Perfeito Mais-que-perfeito
Rad VT DMT DNP Rad VT DMT DNP

Voz passiva (somente os derivados do presente)

Presente Pretérito Futuro Imperfeito


Rad VT DMT DNP Imperfeito Rad VT DMT DNP
Rad VT DMT DNP
130

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, N. M. de. Gramática latina. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994.

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www.fflch.usp.br/dlcv/lport/MViaro018.pdf. A importância do latim na

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