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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
1. O CICLO DOCENTE 8
2. O PLANEJAMENTO DE ENSINO 10
3. O PROFESSOR EM SALA DE AULA 18
4. A AVALIAÇÃO 38
BIBLIOGRAFIA 50
ANEXOS
ANEXO 1 - Relações interpessoais em sala de aula 51
ANEXO 2 - O uso de recursos audiovisuais e o ensino de ciências 60
ANEXO 3 - Física no computador: o computador como uma ferramenta
no ensino e na aprendizagem das ciências físicas 72
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APRESENTAÇÃO
Essa estrutura é precedida de uma reflexão sobre o próprio ciclo docente e apresenta, ao
final, três anexos importantes: um sobre relações interpessoais em salas de aula e os outros sobre o
uso de audiovisuais e computadores no ensino, sem dúvida um assunto do momento dada a cada
vez maior presença de recursos dessa natureza e dos chamados “multimídia” nas salas de aula.
Acreditamos estar, dessa forma, contribuindo para a melhor formação de futuros
profissionais da educação e fugindo de um tecnicismo pueril, em favor de uma eficiência técnica
capaz de garantir, ao futuro professor, segurança no seu trabalho.
1. O CICLO DOCENTE
2. O PLANEJAMENTO DE ENSINO
atividades previstas. Na execução, sempre haverá o elemento não plenamente previsto. Às vezes, a
reação dos alunos ou as circunstâncias do ambiente exigirão adaptações e alterações no
planejamento. Isso é normal e não dispensa o planejamento, pois, uma das características do bom
planejamento deve ser a flexibilidade.
Avaliação e aperfeiçoamento do plano - Ao término da execução do que foi planejado,
passamos a avaliar o próprio plano com vistas ao replanejamento.
Nessa etapa, a avaliação adquire um sentido diferente da avaliação do ensino-
aprendizagem e um significado mais amplo. Isso porque, além de avaliar os resultados do ensino-
aprendizagem, procuramos avaliar a qualidade do nosso plano, a nossa eficiência como professor e
a eficiência do sistema escolar.
Representação e comunicação
• Descrever as transformações químicas em linguagens discursivas.
• Compreender os códigos e símbolos próprios da Química atual.
• Traduzir a linguagem discursiva em linguagem simbólica da Química e vice-versa. Utilizar
a representação simbólica das transformações químicas e reconhecer suas modificações ao longo do
tempo.
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Investigação e compreensão
• Compreender e utilizar conceitos químicos dentro de uma visão macroscópica (lógico-
empírica).
• Compreender os fatos químicos dentro de uma visão macroscópica (lógico-formal).
• Compreender dados quantitativos, estimativa e medidas, compreender relações
proporcionais presentes na Química (raciocínio proporcional).
• Reconhecer tendências e relações a partir de dados experimentais ou outros (classificação,
seriação e correspondência em Química).
• Selecionar e utilizar ideias e procedimentos científicos (leis, teorias, modelos) para a
resolução de problemas qualitativos e quantitativos em Química, identificando e acompanhando as
variáveis relevantes.
• Reconhecer ou propor a investigação de um problema relacionado à Química, selecionando
procedimentos experimentais pertinentes.
• Desenvolver conexões hipotético-lógicas que possibilitem previsões acerca das
transformações químicas.
Contextualização sócio-cultural
• Reconhecer aspectos químicos relevantes na interação individual e coletiva do ser humano
com o ambiente.
• Reconhecer o papel da Química no sistema produtivo, industrial e rural.
• Reconhecer as relações entre o desenvolvimento científico e tecnológico da Química e
aspectos sócio-político-culturais.
• Reconhecer os limites éticos e morais que podem estar envolvidos no desenvolvimento da
Química e da tecnologia.
Conteúdo - Refere-se à organização do conhecimento em si, com base nas suas próprias
regras. Abrange também as experiências educativas no campo do conhecimento, devidamente
selecionadas e organizadas pela escola.
O conteúdo é um instrumento básico para poder atingir os objetivos.
Em geral, os guias curriculares oficiais oferecem uma relação de conteúdos das várias
áreas que podem ser desenvolvidos em cada série. Pode-se selecionar o conteúdo com base nesses
guias. Não devemos esquecer, no entanto, de levar em conta a realidade da classe.
Outros cuidados que devem ser observados na seleção dos conteúdos:
● Fazer uma sondagem inicial para conhecer o nível e as características dos alunos.
● Estabelecer após a sondagem, os objetivos da disciplina e os objetivos gerais de cada um
dos capítulos ou unidades.
● Adequar as atividades a serem desenvolvidas com os objetivos estabelecidos e com o tempo
disponível.
● Descrever, de forma determinada, os métodos, as técnicas e os recursos a serem adotados.
● Prever as formas gerais de avaliação, bem como alguns critérios para o desenvolvimento das
atividades dos alunos.
● Utilização de material ilustrativo, tais como jornais, revistas, cartazes, experimentos, etc.
que permitem introduzir o tema.
● Aula expositiva com a mesma finalidade.
c) Integração - Nesta etapa, os alunos deverão chegar a uma síntese dos temas
abordados na unidade. Isso poderá ser alcançado através das seguintes atividades:
● Organização de resumos.
● Relatório oral que sintetize os aspectos mais importantes da unidade.
CONCEITO DE APRENDIZAGEM
No quadro abaixo, podemos perceber a evolução de nossa compreensão sobre a
aprendizagem.
ONTEM HOJE
O importante era ensinar. O fundamental é aprender.
O mestre era o dono da cadeira (catedrático) O professor é o orientador da aprendizagem.
A aula era uma lição de sapiência. A aula é uma busca do conhecimento a dois.
O aluno era um paciente, impaciente (às vezes, O aluno é um pesquisador ativo da realidade.
impertinente)
O professor se afirmava durante a aula. Professor e aluno realizam, se realizando.
confiança em relação a ele próprio e à escola. Para consumar este objetivo o professor precisa ser
hábil no estabelecimento dos contatos iniciais, a fim de não despertar oposição nem resistências
prematuras.
Requer-se dele, naturalidade, segurança e, por que não, uma certa dose de humor.
Obtida a adesão dos alunos, o professor inicia a sua atividade de direção, propriamente
dita. O apelo inicial tendo sido percebido, cabe agora mantê-lo à tona, bem como revitalizá-lo
através do desdobramento didático da matéria. O professor nesta segunda fase precisa assumir
atitude atuante, porém não “esmagadora”; o que se deseja é mais a insinuação do que a afirmação,
já que esta deve ser oriunda da elaboração intelectual do aluno, sob a orientação do professor.
Em suma, o exercício da direção do ensino exige: espontaneidade, tato, firmeza de
atitude, coerência de conduta e desprendimento.
Um esquema de aprendizagem
O processo ensino-aprendizagem se inicia pela percepção pelo aluno da existência de
uma situação de impasses. Em outras palavras, para alguém aprender é necessário que sinta, de
forma categórica, a existência de um problema que precisa ser resolvido.
Esse reconhecimento perceptivo deve ser em tal intensidade que o aluno se mobilize no
sentido de eliminar o impasse, recuperando o equilíbrio através da descoberta (ou redescoberta) de
uma resposta eficaz.
O processo de aproximação, manejado pelo professor deve ser o responsável pela
formação de uma expectativa altamente favorável à percepção do todo situacional. Nessa
aproximação devem ser ultrapassados todos os fatores bloqueadores ou inibidores, a começar pelas
próprias eficiências de comunicação do professor.
Cabe acrescentar que a percepção depende, principalmente, da organização através da
qual os dados do problema são fornecidos.
A não percepção corresponde à impossibilidade da aprendizagem e é, muitas vezes,
causada por uma organização do conhecimento em que se dá destaque a um determinado aspecto
secundário que, automaticamente, dissimula outro aspecto que precisava ser realçado. O exemplo
típico desse fato é o “problema dos patinhos”: “Dois patinhos passam por debaixo da ponte na
frente de dois patinhos; dois patinhos atrás de dois patinhos e dois patinhos no meio de dois
patinhos. Quantos patinhos passaram?” Nesta formulação, se dá ênfase ao elemento “par”, em
detrimento do elemento “fila indiana”, que facilitaria a resolução.
Obtida a percepção, o aluno acompanha o professor na exploração do problema até que,
após situações naturais (e saudáveis) de pequenos encontros e desencontros intelectuais, o aluno,
em determinado momento capital, vislumbra a solução, se antecipando ao professor que,
“estrategicamente”, se deixa ficar, a fim de permitir ao aluno a euforia pelo passo intelectual dado
sozinho...
Resumindo, apresentamos o esquema de processamento intelectual da aprendizagem:
Princípios da aprendizagem
Os princípios valem como verdadeiras recomendações didáticas que visam os seguintes
pontos: melhorar a comunicação, com evidente aperfeiçoamento da percepção, e garantir a fixação
dos resultados da aprendizagem. São os seguintes:
1. Princípio do tônus emocional - A atuação do professor deve ser intensa no sentido
de se transformar em fator de incentivo. O professor deve dar um colorido afetivo a sua relação
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com os alunos, a fim de obter o engajamento deles na situação de ensino. Este princípio se realiza
através de uma aula motivadora, dramatizada, exemplificada e dialogada.
A atenção para este princípio propicia a criação de uma “atmosfera de entendimento”,
reforçada por uma afetividade crescente, responsável por um clima de confiança e respeito
recíprocos.
2. Princípio da preparação - Este princípio adverte ao professor para a necessidade de
estar, constantemente, verificando se os alunos estão aparelhados, física, intelectual, psicológica e
culturalmente para empreenderem a aprendizagem.
A aplicação de incentivos não é somente uma recomendação do princípio anterior, mas
também uma consequência da adoção do princípio da preparação.
3. Princípio do exercício - Visa a fixação e aproveitamento dos resultados da
aprendizagem. O exercício de uma atividade didática deve ser presidido por um espírito de
observação crítica que permita eliminar os “passos” desnecessários, evitando o desperdício de
tempo.
O exercício reforça a aprendizagem pela repetição e aperfeiçoa pela correção.
Em última análise, o exercício racional deve ser fator de transferência de aprendizagens.
Concluindo, os Princípios visam dar uma boa forma ao procedimento do professor, a
fim de garantir ao aluno uma percepção e uma redescoberta, pontos inicial e final entre os quais se
dá o processo ensino-aprendizagem.
Características da Boa Forma
A boa forma apresenta as seguintes características:
1. É inconfundível.
2. É irreversível.
3. Tende ao fechamento e a se completar.
Estas características se cumprem na atuação do professor através dos seguintes
aspectos: clareza na exposição de ideias, precisão nas afirmações (evitando dupla interpretação),
concatenação lógica de raciocínio que leva o aluno a se antecipar com segurança.
As leis que regem a “boa forma” se realizam no procedimento do professor da seguinte
forma:
1. Lei da continuidade: estruturação do ensino em sequência lógica.
2. Lei da semelhança: estabelecimento de analogias de causa e efeito.
3. Lei da proximidade: aplicação prática imediata de conceitos teóricos.
4. Lei da simetria: coerência de condutas e atitudes.
Características do resultado da aprendizagem:
O resultado palpável de uma aprendizagem é a mudança de comportamento de quem
aprendeu; porém, esta mudança só será válida se corresponder a uma autêntica renovação nas
atitudes e no modo de pensar, em relação a determinado aspecto da vida. Este resultado se alicerça
na experiência sofrida e que tende a se transformar em vivência. Finalmente, o resultado da
aprendizagem oportuniza o ajustamento (ou adaptação provisória) do homem ao meio que o cerca.
MOTIVANDO A APRENDIZAGEM
Aprender é adquirir novas atitudes. Tudo o que fazemos tem um objetivo ou um motivo.
Motivo é tudo o que nos move para determinado fim, ou seja, motivo é a força interior que leva o
homem a agir.
Na escola tradicional, os alunos prestavam atenção, estudavam, só para saber, ter
cultura, decorando tudo. Já na escola nova ou renovada a motivação é que passa a ser o centro do
processo de aprendizagem.
Motivação é algo que leva os alunos a agirem por vontade própria: ela inflama a
imaginação, excita e põe em evidência as fontes de energia intelectual, inspira o aluno a ter vontade
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Motivação é a soma do motivo com o incentivo. Incentivo é o processo externo que vai
despertar o “motivo” no indivíduo. Incentivo é ação de fora para dentro. Motivo é reação, neste
caso, de dentro para fora.
Para uma aprendizagem eficaz
As condições gerais da aprendizagem são as seguintes:
● O professor e a sua capacidade, sua personalidade e seu conhecimento da matéria.
● A nutrição, a saúde e a capacidade mental do aluno.
● A vida emocional do aluno pois ele, quando livre de grandes problemas emocionais de
ordem afetiva, social e econômica, mais livre está para a aprendizagem.
● O ajustamento do aluno ao nível de sua turma.
● O uso de métodos modernos de ensino, adequados ao nível da turma e ao assunto abordado
dentro do currículo escolar, isto é, as instalações, os equipamentos, salas de aula adequadas,
boa iluminação, ventilação, limpeza, mobiliário, etc.
● O planejamento e a motivação das aulas, utilizando recursos materiais e humanos, métodos
e técnicas adequados, bem como a fixação e a verificação da aprendizagem.
As fontes de motivação podem ser classificadas em:
Fontes intrínsecas - São as fontes internas, que brotam do próprio sujeito. O professor
poderá utilizar-se dos instintos como motivos. Exemplos: aplicando jogos, o professor estará
utilizando do instinto lúdico do ser humano ; agrupando os alunos para o trabalho em grupo, o
professor está aproveitando o instinto gregário, que é próprio do ser humano. Ele poderá também
aproveitar os ideais dos alunos para favorecer a predisposição dos ensinamentos.
Fontes extrínsecas - Situam-se fora do sujeito. A personalidade do professor constitui
uma motivação extrínseca, suas atitudes devem ser construtivas e estimulantes no campo físico,
moral, intelectual e profissional. Há uma grande e profunda transparência emocional entre o
professor e a matéria. Os alunos gostam mais de certas matérias porque são lecionadas por
determinados professores. Transferem seu sentimento do professor para a matéria. O professor que
dá prazer e satisfação em suas aulas constitui uma fonte de motivação extrínseca muito forte para
seus alunos. Ainda dentro da motivação extrínseca, temos a influência do meio ambiente, do
momento em que determinado assunto está sendo abordado e do próprio objeto em si.
A FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM
A fixação da aprendizagem é o fenômeno que consiste na assimilação por parte do
aluno do que foi aprendido em sala de aula. Antigamente, a fixação da aprendizagem consistia em
guardar de cabeça, decorar, ou seja, era apenas um meio mecânico. Hoje, fixar a aprendizagem é
assimilar, pois só haverá aprendizagem se o aluno assimilar o que lhe é ensinado, isto é, quando ele
incorpora os conhecimentos novos ao seu eu, à sua personalidade.
Aprender é adquirir novas atitudes, hábitos, habilidade, reações, novas formas de vida.
A fixação da aprendizagem está baseada em condições psicológicas que são apresentadas nas leis
da aprendizagem, resumidas a seguir:
1ª) Lei da atividade - A participação do aluno se faz presente quando ele faz coisas,
discute, dando a sua opinião. Enfim, quando o aluno é ativo.
2ª) Lei do interesse - O aluno só aprende fazendo, participando, quando ele tem
interesse na atividade que executa.
● Recapitulação periódica: O professor faz uma espécie de teste ou prova para verificar a
assimilação de seus alunos e, de acordo com os resultados, se for necessário, retificará ou
fixará melhor a aprendizagem.
● Recapitulação diária: Deverá ser no início de cada aula para logo a seguir introduzir o
novo assunto.
● Uso de jogos pedagógicos: Jogos individuais ou coletivos, como quebra-cabeças, dominó,
bingo, jogos de memória, etc.
● Uso de fichas: Fichas com exercícios para trabalho independente.
● Solução de problemas: Que surgem na atividade diária.
● Atividades manuais: Espontâneas ou dirigidas pelo professor.
● Pesquisas: Em fontes diversas aconselhadas pelo professor ou procuradas pelos próprios
alunos.
Os exercícios de fixação não podem ser mecânicos, mas sim mobilizar o raciocínio do
aluno, para obrigá-lo a pensar antes de responder. Os exercícios sempre devem levar o aluno a
justificar a sua resposta, pois assim ele não se valerá de sorte.
Durante os exercícios de fixação o professor deverá supervisionar os alunos, para evitar
que eles fixem formas errôneas, as quais depois serão muito difíceis de se corrigir. E sempre
começar pelos exercícios orais, pois os demais alunos ouvem a resposta daquele que foi argüido e
ficam alertados para os erros, que podem então ser evitados quando passarem para os exercícios
escritos.
O quadro negro, retroprojetores e muitos outros recursos para o ensino podem auxiliar
muito os exercícios orais. Além disso, o professor deverá sempre circular entre as carteiras para
auxiliar os alunos quando eles estiverem fazendo exercícios de fixação.
A DISCIPLINA NECESSÁRIA
Em sentido didático, disciplina é a maneira de agir do educando, no sentido de
cooperação no desenvolvimento das atividades escolares e respeito pelos colegas. É a concentração
mental pelo interesse no trabalho que está sendo realizado. É a garantia da ordem, através da
responsabilidade de cada um na execução da tarefa coletiva. Só se pode falar em disciplina escolar
em termos de coletividade, onde uns não possam perturbar o trabalho dos demais.
Disciplina também pode ser a disposição de um aluno em enfrentar determinada
dificuldade, a maneira de encará-la, tentar resolvê-la, sem ser prejudicial ao colega.
A disciplina é indispensável na escola, pois nenhuma instituição poderá sobreviver e
muito menos progredir sem ela. É o resultado de aprendizagens interligadas em todas as áreas, seja
na área afetiva, cognitiva ou motora, iniciando-se nos primeiros dias de vida e durando a vida
inteira.
O objetivo da disciplina é desenvolver no aluno o autocontrole e o auto-respeito. Em
sentido amplo, podemos destacar quatro tipos de disciplina:
1) Disciplina interior: Resulta da modificação do comportamento, da compreensão e
consciência do que cada um tem a fazer.
2) Disciplina exterior: Aquela obtida pela coação, violência e ameaças. Quando a força
coatora não está presente, a turma costuma “pegar fogo”.
3) Disciplina passiva: Nem sempre as classes que mantêm silêncio são as mais
disciplinadas. Muitas vezes, o aluno silencioso é aquele que está muito longe com a sua imaginação.
4) Disciplina ativa: Trata-se da disciplina medida não pelo barulho ou pelo silêncio,
mas pelo trabalho realizado, pela aplicação, pelo interesse e pela integração nos trabalhos escolares.
As escolas utilizam em sua rotina diária alguns processos para conseguir disciplina,
quais sejam:
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● Força - Muito utilizada na escola tradicional ou antiga, onde, para conseguir disciplina,
utilizam-se castigos, ameaças e censuras. O aluno, neste caso, obedece ordens sem ter
interesse, ou seja, apenas para se livrar de castigos.
● Chantagem afetiva - Acontece quando se cativa a amizade do aluno para se obter
disciplina. O aluno se comporta, então, como o professor quer, somente para não perder sua
amizade.
● Responsabilidade - Aqui, o professor procura desenvolver no aluno a responsabilidade.
Deve-se acompanhar o amadurecimento do aluno e, gradualmente, dar-lhe
responsabilidades, criando dessa maneira oportunidades de autodireção. A responsabilidade
deve ser aprendida; ela não é inata no ser humano. Esta é a melhor maneira de se
desenvolver a disciplina.
É temerária toda e qualquer tentativa para a produção de listas desse tipo, primeiro
porque não há consenso sobre o que seriam essas características do bom professor. Segundo, porque
não se pode fragmentar uma personalidade em parcelas isoladas. Porém, podemos lembrar que:
A Cultura profissional é básica para definirmos a função do professor.
A Cultura geral amplia horizontes e dá maior autonomia no domínio da matéria
específica, já que se tornam mais claras as relações entre esta e o universo de conhecimentos. Sua
existência determina o brilhantismo do mestre.
Antigamente, cultura geral era definida como acúmulo, soma de conhecimentos;
portanto, interpretação estática para o saber. Daí, alguns professores terem merecido a designação
de: “Poço de cultura”.
... se o escultor não passar de um poço de ciência e de inteligência, há de
necessariamente faltar gênio às suas mãos... (Atoine de Saint-Exupéry)
A Competência é condição fundamental no desenvolvimento da confiança que o aluno
deve depositar no professor.
A Sinceridade do professor é imposição primordial. Não pode ser discutida, já que sua
ausência corresponde a lacuna aberta na formação dos alunos.
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2. Tipos de alunos
O professor tem por tarefa inicial conhecer bem seus alunos. Não basta sabê-los
identificar pelo nome ou fisionomia. Seria irrisória e até mesmo pueril, o professor que se
satisfizesse com dados tão precários, como os acima citados. Conhecer um aluno, em termos
pedagógicos, significa identificar tendências, temperamento, aptidões, experiências e
conhecimentos. Como se verifica, não é tarefa tranqüila, já que envolve não só um poder de
observação, como, principalmente uma acurada capacidade de análise.
Essa capacidade de análise é produto direto de um cabedal de conhecimentos em
psicologia, dimensionado à medida em que se vive situações.
Uma possível classificação, polêmica mas útil, dos tipos de alunos, é a seguinte:
O bom aluno é aquele que trabalha muito, é inteligente, entende tudo com facilidade e
não necessita muito do professor para se desenvolver. Ele poderá ficar entediado com as repetições
que o professor terá que fazer para os alunos menos adiantados. Pode perder o interesse pela aula. O
professor deverá aproveitá-lo como “monitor” para trabalhar com os colegas que tenham
dificuldades.
O mau aluno merecerá toda ajuda e atenção do professor, dando-lhe a mão,
encorajando-o, buscando aproximá-lo do nível médio dos colegas. Quando o esforço não dá
resultados, será inevitável a reprovação. Uma questão ainda a ser explorado é o porque da
existência do chamado “mau aluno”.
O sabichão é o aluno que pensa saber tanto ou mais que o professor, o que aliás, quase
nunca é verdade. Tenha cuidado, porém, em classificar bem esse tipo de aluno porque, muitas
vezes, ele é um pseudo-sabichão que tem cultura superficial e nada mais é do que um safo
arrogante.
O safo arrogante é comum entre aquelas pessoas que tomam o bonde no meio da
viagem e querem um lugar à força. O safo arrogante realmente começou a estudar pelo meio e por
alto, não tem base sólida de conhecimentos, mas quer fazer alarde do pouco que sabe. Então, torna-
se exibicionista, fazendo perguntas impróprias e inoportunas, procurando até mesmo interromper a
aula.
O malandro é o tipo de aluno que para fazer um serviço leva sempre muito mais tempo
que qualquer outro. Está sempre flanando, tapeando, escamando-se e, tratando-se de aula, acha
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sempre um jeito de estar fora dela ou chegar atrasado. É perito em truques, e quando inteligente,
consegue ludibriar os professores por muito tempo até ser descoberto. Só trabalha quando
vivamente fiscalizado.
O descrente: Pode ser que a preferência dele seja um simples e tolo capricho,
influenciado por um mau conselho de um amigo, ou ainda, simplesmente, pela própria namorada. A
sua descrença, o seu moral baixo, poderão minar o ânimo e o moral da turma. Não obstante,
desprezar, ignorar ou ridiculariza as preferências de um aluno tornam-no um adversário e,
geralmente, só fará fortalecer o seu desejo de ser indicado para outra escola. É necessário enfrentar
o problema do aluno descrente. Como? Alijando-o do curso? Não!
Com relação a essa “classificação” dos tipos de alunos, vale uma importante
advertência: é preciso cuidado para não se cair no rótulo, não se atribuir, por exemplo, o rótulo de
“malandro” a um aluno sem investigar as causas que o levam a agir dessa maneira e buscar corrigi-
las. A história está cheia de “maus alunos” que revelaram-se gênios quando saíram da escola. Ruim,
nesse caso, era a escola onde eles estudavam...
● A voz deve ser inflexionada num tom alto, mas suave, ou seja, não gritado.
● A linguagem didática deve ser acessível aos alunos, ou seja, deve ser adequada ao seu nível
cultural, ajustando-se à capacidade de compreensão dos alunos, para ajudá-los a
compreender o significado dos fatos que estão sendo comunicados.
● Deve ser adequada ao assunto, isto é, devem-se utilizar termos próprios de cada disciplina,
os quais devem ser colocados no quadro e também explicados conforme o professor os for
utilizando.
● A linguagem deve ser simples: não há necessidade de se usar frases rebuscadas.
● Deve ser direta, ou seja, ir diretamente ao assunto que está sendo tratado.
● Linguagem gramaticalmente correta. Não se deve falar errado.
● Deve-se ter cuidado com os termos ou expressões, evitando o uso de gíria e palavras
vulgares.
● A linguagem deve ser expressiva, usar do bom humor e, até quando for pertinente, pode-se
usar palavras jocosas.
● Nas passagens mais difíceis ou mais importantes, o professor deve dar inflexão mais
vigorosa à voz e ressaltá-las, sendo recomendável escrevê-las sempre.
● As frases devem ser curtas e em ordem direta.
O professor educa não apenas pelo conteúdo que ele transmite mas principalmente pela
linguagem que ele emprega, pela sua voz, pelas suas atitudes pessoais exemplares (gestos e
vestuário). Como o aluno tende a reproduzir as atitudes dos seus mestres, é preciso que estes sejam
modelos para serem imitados. Portanto, os problemas pessoais do professor não devem afetar a
classe.
É importante, pois, que o professor cuide bem desses detalhes, os quais parecem ser
coisas mínimas, porém são de extrema importância quando se está educando.
O professor deve relaxar e permitir a oxigenação das cordas vocais. Para tanto, eis
algumas sugestões:
● Bocejar várias vezes antes de entrar na sala de aula. Isto irá relaxar a articulação e ajudará a
oxigenar as cordas vocais.
● Procurar relaxar os ombros e o pescoço, tanto quando estiver falando quando estiver calado.
● Procure articular bem as palavras, evitando os exageros, relaxando a mandíbula no sentido
vertical (boca aberta e não no sentido lateral).
● Procure não falar muito perto da lousa, já que o pó de giz é prejudicial à laringe. Aliás,
muito cuidado com o pó de giz que prejudica também a pele, olhos, aparelho respiratório e
roupas.
● Evite falar aos “soquinhos” quando pronunciar vogais isoladas no início das palavras, pois
isto gera atrito das cordas vocais.
● Aproveite os m / n / nh / pã / tã / sã, que ajudam a obter uma boa projeção vocal.
● Quando sentir a garganta seca, tome pequenos goles de água não muito fria. Assim, a
garganta ficará úmida e a deglutição da água provocar-lhe-á um relaxamento.
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● Sugerir à direção da escola que a limpeza do quadro, do chão e das carteiras seja realizada
com pano molhado, para evitar a suspensão permanente de poeira no ar.
Na prática, são de suma utilidade esses conselhos para o professor cuidar de sua saúde
vocal, pois assim ele poderá trabalhar com mais energia e prazer em sua sala de aula.
Voz e fala
Propriedades do som e da voz
Durante uma aula ou conferência, o professor precisa controlar a intensidade de sua voz,
de acordo com as dimensões da sala e, também, considerando o número de ouvintes.
Timbre: é a qualidade do som da voz que permite distinguir sons de mesma altura e
mesma intensidade. Depende dos harmônicos, isto é, sons acessórios que se produzem ao mesmo
tempo que um som fundamental.
Tornando mais objetiva a definição: é a característica que nos faz distinguir, por
exemplo, um dó emitido por um piano e um dó emitido por um violino.
O timbre, como foi dito, depende dos harmônicos que, por sua vez, são influenciados
pelas características peculiares às nossas cordas vocais e caixas de ressonância. Há timbres que são
agradáveis, há outros que nem tanto assim... O que importa, porém, é que o timbre seja bem nítido,
de modo a garantir a emissão clara e distinta das sílabas e palavras.
O ritmo da fala
Ritmo de fala é a cadência em que falamos. Depende de nossa facilidade em pronunciar
e articular as palavras. Sob o aspecto subjetivo é influenciado é influenciado pela rapidez de
raciocínio e pelo hábito de falar em público de improviso.
O ritmo normal, segundo os especialistas, oscila entre 75 e 100 palavras por minuto.
DEVANEIO...
PROFESSOR EM RITMO RÁPIDO FALA SOZINHO...
Resumindo
● Erros de português, jamais...
● Na linguagem o professor desce, o aluno sobe, os dois se encontram.
● Há gírias que valem a pena... outras que dão pena!
● É importante ter moderação no uso da palavra importante.
● Na arte de bem dizer, a primeira lição é a da leitura!
O meio da aula corresponde, em linguagem figurada, ao seu miolo. Nele é que será
explicada, exemplificada, perguntada e debatida a matéria da aula.
A explicação deve ser visualizada adequadamente, de modo a tornar a aula mais
atraente. Essa visualização pode ser feita através de material audiovisual, transparências, modelos,
demonstração com equipamento real, ou através do nosso velho companheiro, o quadro escolar.
● Ficar num local visível para todos os alunos da classe durante a aula, procurando
movimentar-se, não de maneira agitada, mas tranquila e calmamente, sempre atendendo a
todos os setores da classe.
O trabalho em grupo
O ser humano é um ser social e a vida social se dá em forma de grupos, pois estes
desenvolvem a socialização do indivíduo. A vida gregária é fundamental na sociedade. É nos grupos
que a percepção da pessoa começa a ser formada, face à percepção do outro. O primeiro grupo é a
família, depois vem a escola, a comunidade e o mundo (do micro para o macrogrupo).
As técnicas de dinâmica de grupo são meios ou procedimentos que provocam ação em
situações de grupo. Cada técnica se aplica a uma situação definida. É preciso selecionar e técnica e
verificar sua adequação à situação, antes de empregá-la.
Ao organizar os trabalhos de grupo, o professor deve agrupar os alunos para o trabalho
cooperativo, considerando que o grupo precisa ser equilibrado em habilidades e talentos. Assim,
num mesmo grupo haverá alunos com habilidades manuais, outros que sabem enfrentar auditórios
com desembaraço e outros que tem mais imaginação e criatividade.
Em cada grupo de cinco a sete elementos, deve haver os seguintes membros:
1. Líder ou coordenador - orienta e controla a ação do grupo, tendo em vista os
objetivos levantados pelo grupo.
2. Secretário - elemento que registra o plano de trabalho a ser desenvolvido, as idéias
apresentadas em relação ao assunto e as conclusões do grupo.
3. Relator - aquele que lê e apresenta as conclusões do grupo para o professor e os
colegas.
4. Demais elementos do grupo - participantes do grupo, com suas responsabilidades,
participação, assiduidade, cooperação e respeito pelos trabalhos do grupo como um todo.
No trabalho em grupo o professor tem a função de orientar, supervisionar os trabalhos
dos grupos ou equipes.
A pesquisa
Pesquisa é a atividade em buscado saber já existente ou por descobrir. Ela pode ser
utilizada desde a pré-escola até a universidade. O pesquisador deve ser um indivíduo interessado em
resolver um problema. Toda a dúvida, de alguma forma, liberta o espírito e a iniciativa.
A pesquisa tem por objetivo:
● Desenvolver a independência mental e a curiosidade do intelecto, a qual se caracteriza pela
constante procura de explicações para os fenômenos com os quais o indivíduo se depara
durante toda a sua vida.
● Estimular a perseverança no trabalho, ou seja, estimular no sentido de dar prosseguimento
ao trabalho mesmo quando o indivíduo encontra obstáculos e obtém insucessos.
Cada pesquisa terá seus objetivos próprios, dependendo do assunto que se deseja
pesquisar. O assunto, por sua vez, deve ser do interesse do indivíduo, devendo ser sugerido, jamais
imposto.
No ensino fundamental, o professor deverá sugerir os temas de forma mais direta. No
ensino médio, o professor deverá sugerir os temas e deixar que cada aluno escolha o de sua
preferência. Já no ensino superior, os temas devem ser absolutamente livres. Nesses níveis de
ensino, as pesquisas podem ser individuais ou em grupo.
O professor deve observar algumas habilidades básicas de estudos que os alunos devem
utilizar para maior eficácia da pesquisa:
● Busca do tipo de publicação adequada.
● Uso de índice de livros.
● Procura do trecho ou tópico que interessa.
● Consulta de dicionários, guias, atlas, enciclopédias, livros, etc.
● Visita a museus, bibliotecas, indústrias, entidades da comunidade, etc.
● Anotações resumidas.
● Questões como é maior ou menor...?, É mais ou menos...? pedem uma comparação entre
fatos ou fenômenos.
● Questões como onde...?, quando...?, solicitam uma localização no tempo e no espaço.
● A questão interrogativa como...? requer que se descreva uma seqüência de etapas que se
relacionam.
● Questões do tipo por que...?, por que causa ou motivo...? solicitam a procura de relações
psicológicas, científicas ou lógicas.
● A questão com que fim...? requer que se relate o objetivo de algo.
● Perguntar qual o valor...? pede um julgamento de valor.
● Perguntar coisas como qual...?, quais são...?, requer que o aluno dê a seleção de algo de
acordo com determinados critérios preestabelecidos.
Demonstração prática
É a técnica que tem como propósito fazer com que os alunos aprendam vendo como se
executa determinada operação, um princípio de funcionamento ou a demonstração de um
experimento. Tem ainda especial valor dentro do método da descoberta em aulas de redescoberta,
onde o aluno coloca-se em uma posição de observador ativo do processo sendo demonstrado.
Esta técnica depende muito de uma preparação cuidadosa que garantirá o sucesso da
aula. Não há limites para o emprego da demonstração prática, que deve ser usada, sempre que
possível, desde que envolva situações de investigação.
Cuidados especiais:
Demonstrações para pequenos grupos.
Demonstrações curtas e objetivas.
Demonstrações metódicas, passo a passo.
● O professor não perde muito tempo e não gasta muito para preparar os acessórios que nele
serão usados.
● É versátil, pois é fácil nele adequar a mensagem que irá para determinado público.
2. As transparências e o retroprojetor
As transparências são materiais que podem ser usados em todas as disciplinas, servindo
para introduzir, incentivar recapitular, fixar ou verificar uma unidade de estudo e, também, para
corrigir ideias erradas, facilitar a concentração da atenção, manter o interesse, ampliar a imagem,
facilitando a transmissão da mensagem e permitindo que uma mesma imagem seja vista por um
grande público ao mesmo tempo.
As transparências podem ser confeccionadas de diversas maneiras. Simplesmente
desenhando-se sobre plástico cristal com canetas hidrográficas apropriadas, copiando-as de
originais impressos em papel através de máquinas xerox com folhas transparentes apropriadas para
esse fim, ou impressas direto do computador através de impressoras jato de tinta ou laser sobre
filme especial.
É muito útil fixar as transparências em molduras de cartão, já que estas permitem maior
rigidez e podem receber observações importantes. Para conservar as transparências deve-se usar
pastas de papelão com elástico e intercalar uma folha de papel em branco entre cada duas
transparências.
Ao confeccionar transparências valem todas as técnicas de confecção de cartazes como
escolha, cor e tamanho das letras, distribuição harmônica de letras e desenhos, etc.
Séries ordenadas de transparências podem ser apresentadas quando elas constituem uma
sequência a respeito de um assunto. Uma fita cassete gravada para acompanhar a projeção pode
constituir a trilha sonora da projeção.
Transparências com máscaras de papel são empregadas quando não se quer apresentar a
transparência de uma só vez. Algumas informações precisam ser apresentadas gradualmente,
ocasião em que se usa uma folha não transparente ou uma tira de cartolina sobre a transparência e se
vai descobrindo aos poucos, de acordo com as etapas da explicação.
No caso de transparências com superposição, fazemos uma transparência básica e
vamos superpondo em sequência outras transparências, que irão completando a básica. Este tipo
pode ser empregado na composição de ilustrações, gráficos ou organogramas. O uso de cor deve
sempre ser lembrado, seja na cor das letras seja em figuras coloridas.
37
A projeção de experimentos também é possível, desde que sejam feitos sobre a mesa de
projeção coberta com um plástico e em placas de Petri. É possível visualizar mudanças de coloração
em soluções, formação de precipitados, desprendimento de gases, etc.
Objetos opacos projetam silhuetas na tela, úteis, por exemplo, para se estudar formas de
folhas e classificação de figuras, operações lógicas e matemáticas, etc. Objetos transparentes como
transferidores e esquadros permitem aulas de geometria muito interessantes.
As transparências não devem ser deixadas durante longo tempo sobre o retroprojetor,
pois podem se queimar com o calor que emana do aparelho.
Quando o professor utiliza o retroprojetor, ele fica próximo ao aparelho, voltado para a
turma e de costas para a projeção, pois trabalha na mesa de projeção. Qualquer indicação ele o faz
nessa mesa, apontando para a transparência, e não para a tela de projeção. A projeção pode ser feita
numa tela branca apropriada e colocada na frente da classe ou, quando isso não for possível, em
uma parede branca e lisa. A sala não precisa ser escurecida e isto permite que os alunos façam as
suas anotações durante a projeção e atentem às explicações do professor, anotando-as. É necessário
ligar o botão do ventilador e a lâmpada, depois ajustar olhado a projeção da imagem na tela,
procurando sempre focalizar bem o objeto. A focalização é feita girando-se o botão de foco na
coluna do retroprojetor e o enquandramento é feito ajustando-se a cabeça de projeção, inclinando-a
o necessário.
Antes de usar o aparelho, procure verificar a voltagem da rede elétrica e do
retroprojetor, normalmente de110 ou 220 volts; se as voltagens não forem compatíveis deve-se usar
um transformador.
Quando terminar de usar o aparelho, deve-se desligar o botão da lâmpada e deixar o
aparelho ligado à tomada até que o ventilador desligue sozinho, o que significa que o aparelho já
está à temperatura ambiente e não há mais riscos de superaquecimento da lâmpada, o que pode
ocasionar sua queima.
Observe, abaixo, o esquema de um retroprojetor.
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4. A AVALIAÇÃO
Avaliação é um processo contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos,
habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento, propostas
nos objetivos, a fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento do trabalho
do professor e da escola como um todo.
A partir dessa definição, podemos concluir que:
a) A avaliação não é um fim, mas um meio. Ela é um meio que permite verificar até que ponto
os objetivos estão sendo alcançados, identificando os alunos que necessitam de atenção
individual e reformulando o trabalho com a adoção de procedimentos que possibilitem sanar
as deficiências identificadas.
b) O próprio aluno precisa perceber que a avaliação é apenas um meio. Nesse sentido o
professor deve informá-lo sobre os objetivos da avaliação e analisar com ele os resultados
alcançados.
c) A avaliação, sendo um processo contínuo, não é algo que termine num determinado
momento, embora possa ser estabelecido um tempo para realizá-la.
Funções da avaliação
A avaliação se desenvolve, nos diferentes momentos do processo ensino-aprendizagem,
com objetivos distintos. No início do processo temos a avaliação diagnóstica que é utilizada para
verificar:
• Conhecimentos que o aluno tem;
• Pré-requisitos que os alunos apresentam;
• Particularidades dos alunos.
Aplica-se este tipo de avaliação no início de uma unidade, semestre ou ano letivo.
d) Ter consciência das possibilidades e limitações das técnicas de avaliação. “Muitas são as
margens de erro que encontramos, não só nos próprios instrumentos de avaliação (provas,
testes, etc.), como também no próprio processe (modo como os instrumentos são usados).
No entanto, a principal fonte de erro, sem dúvida, é a interpretação inadequada dos
resultados. Em geral, os professores atribuem aos instrumentos uma precisão que estes não
possuem. Na melhor das hipóteses, nossos instrumentos e técnicas de avaliação
proporcionam somente resultados aproximados, que devem, portanto, ser assim
considerados.” (Turra, et. Alii. 1982).
e) A avaliação é um meio para alcançar fins e não um fim em si mesma. “O uso da avaliação
implica propósito útil, significativo. É necessário que a escola, os professores e os alunos
retomem com mais clareza e atenção esse princípio. Isso implica atribuir à avaliação o seu
verdadeiro papel, ou seja, de que deve esse processo contribuir para melhorar as decisões de
natureza educacional – melhorar o ensino-aprendizagem, bem como o planejamento e o
desenvolvimento curricular. O entendimento errôneo e a desobediência a esse princípio tem
sido, em grande parte, causa de frustração de alunos e professores, da insuficiência da
aprendizagem escolar e, sobretudo, da falta de motivação para aprender, por parte dos
alunos. Tal entendimento tem ocasionado a perda do verdadeiro significado do próprio
ensino-aprendizagem, como facilmente é constatável.” (Turra, et. Alii. 1982).
A tarefa de avaliação deve começar no primeiro dia de aula. Logo que os alunos chegam
à escola, o professor deve começar a avaliá-los. Só assim poderá adquirir informações diretas,
imprescindíveis e valiosas para planejar o seu trabalho. O trabalho do professor será tanto mais
eficiente quanto mais estiver calcado em dados reais, em informações acumuladas sobre os alunos.
O professor deve procurar conseguir essas informações através de todos os meios que estejam ao
seu alcance: entrevistas com os alunos, observação do comportamento, entrevistas com pessoas que
conheçam o aluno, leitura de fichas informativas sobre o aluno, etc.
ETAPAS DA AVALIAÇÃO
As etapas da avaliação decorrem, em parte, dos princípios básicos que acabamos de
estudar. Temos as seguintes etapas:
Determinar o que vai ser avaliado
Nessa etapa o professor deve indicar claramente quais as dimensões do comportamento
que irá avaliar: a aquisição pura e simples do conhecimento, de habilidades, de atitudes, de
interesses, etc. Se o professor pretende, por exemplo, verificar se o aluno é capaz de ler um texto,
deverá, nessa etapa, determinar as dimensões que serão avaliadas desse atributo: recordar aspectos
essenciais do conteúdo, relacionar ideias, sintetizar o texto, criticá-lo, referi-lo a outros textos, a
autores e assim por diante.
Saber o que vai se avaliar é muito importante para poder desenvolver as etapas
posteriores, pois a natureza do que vai se avaliar determina, em grande parte, a seleção de
condições, critérios, técnicas e de instrumentos de avaliação.
Apresentamos a seguir algumas sugestões para se elaborar questões desse tipo. Veja:
• Selecionar apenas conceitos da mesma natureza.
• Apresentar sempre o conjunto completo de conhecimentos que se quer avaliar,
exceto no caso de ordenação cronológica.
• Propor, no máximo, seis conceitos ou fatos para ordenar.
Evocação – Consiste em fazer uma pergunta que admite resposta simples, imediata,
definida, específica e provavelmente indiscutível. Exemplo:
Qual a massa molecular do ácido sulfúrico?
Resposta:_______________________________
Situação problema – Consiste em criar uma situação e propor algumas questões sobre
ela, cuja solução exija dois ou mais raciocínios (número limitado). A situação poderá ser dada por
escrito ou graficamente, o mesmo acontecendo com a solução. Exemplos:
1. Abrindo-se um orifício na parte inferior de um recipiente contendo água e óleo, qual
dos dois líquidos escoará primeiro? Como esse procedimento pode ser utilizado para separar uma
mistura de dois líquidos imiscíveis? Na indústria química, como pode ser aplicado esse
procedimento?
Resposta:.............................................................
2. A figura abaixo representa uma casa e sua orientação.
Qual parte externa da casa que fica na sombra ao amanhecer?
Resposta:.......................................................................
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BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
ANEXO1
Introdução
O professor pode ser visto como um detentor de vários saberes, um profissional de destaque
que tem o papel de educar, e não só de transmitir a matéria, como se fosse um “pastor de ovelhas”
que ajuda a formar conceitos.
O professor por ter o papel de liderar muitas pessoas convive com problemas como
convencer os alunos a amenizar as desavenças e ministrar uma aula agradável.
Mas como solucionar esses problemas e ser agradável aos alunos?
O presente trabalho vem preencher esta lacuna que em poucas literaturas são encontradas.
alguma coisa seja sincero em sua apreciação e pródigo no seu elogio. Pense nisto, “o mal fiz uma
vez e nisso sempre falaram, o bem fiz duas vezes e nisso nunca falaram”.
Não vamos confundir: não é para negligenciar o elogio quando um aluno faz algo bom, mas
não se utilize da bajulação, pois é frívola, egoísta e insincera.
Qual é a diferença entre o elogio e a bajulação?
É simples. Um é sincero e o outro insincero. Um vem do coração e o outro da boca pra fora.
Um é altruísta; a outra é egoísta. Um é universalmente admirado; a outra universalmente
condenada.
Todo professor sente a inutilidade de seu desempenho quando não recebe dos ouvintes o
menor comentário elogioso. Da mesma forma os alunos precisam ser reconhecidos para não se
desestimularem.
fotos. E quando estas fotos estivessem em nossas mãos, qual a pessoa, no meio do grupo, você
olharia primeiro?
Se nós apenas procurarmos impressionar as pessoas e fazer com que elas se interessem por
nós, nunca teremos amigos verdadeiros e sinceros.
Você conhece, e eu também, pessoas que erram pela vida tentando e vão fazer com que os
outros se interessem por elas.
Por certo que isso não dá resultados satisfatórios. As pessoas não estão interessadas em
você, nem em mim. Estão interessadas nelas mesmas – pela manhã, ao meio-dia e depois do jantar.
Então se no futuro você for um profissional da educação de destaque com mestrado ou
doutorado não “esfregue” isto nos rostos das pessoas para adquirir respeito e admiração, pois isto
acabará por afastar seus alunos criando um muro. Seja amigo deles se compadecendo de suas
dificuldades, sendo companheiro.
A importância do sorriso:
É importante vivermos alegremente, pois isso nos ajuda enfrentar as dificuldades com mais
disposição e também cativa e influencia as pessoas a nossa volta a fazer o mesmo. Neste caso, o
sorriso alegre e sincero é um importante aliado, mas se você é alegre em sorrir para as pessoas a
chance de que elas retribuam com outro sorriso e gentilezas e muito grande.
Na relação com os alunos o professor deve se esforçar para transmitir alegria para os
mesmos. Se um aluno precisa de ajuda do professor, mas se este aparenta estar sempre de mal
humor, de cara fechada, isto deixa o aluno com receio de o consultar e a dúvida persiste.
O professor deve tentar manter sempre um semblante agradável e um sorriso vai ajudar. Se o
educador sorrir alegremente para os seus alunos, isto vai estimular a alegria no ambiente deixando-
os mais dispostos e vontade para interagir com o seu docente e seus colegas. Assim, o processo de
aprendizagem pode seguir de uma forma mais espontânea e agradável.
apelido ou “hei, maninha!”, mas sim, quando for se dirigir a um aluno pergunte o seu nome e repita
em sala algumas vezes, mostrando que você dá importância a ele. Se você conseguir gravar este
nome e numa próxima aula se dirigir a ele pelo nome, vai fazê-lo muito feliz, pois entre muitos ele é
uma pessoa que é lembrada. Deste modo, você aproxima os seus alunos de você e eles retribuirão
sendo mais participativo e atenciosos.
O ato de ensinar é de imensa responsabilidade. Por isso, o professor quer falhar o menos
possível. Muitas variáveis intervêm no sucesso do curso ministrado; conhecê-las ajuda a obter
melhores resultados.
Ensinar não é simplesmente derramar conhecimentos sobre os alunos e esperar que eles, num
passe de mágica, passem a dominar a matéria. Cabe ao professor dirigir a aprendizagem e é em
grande parte por causa dele que os alunos passam a conhecer, gostar ou continuam a ignorar
Química.
Não é suficiente conhecer Química; é também preciso saber ensiná-la, e isso não se faz por
meio de atitudes mecânicas desvinculadas de uma reflexão mais séria. Pode-se encontrar maneiras
mais eficazes de transmitir essa disciplina.
Quais são as variáveis que garantem um ensino bom? Algumas delas são melhores condições
de trabalho e de vida para professores e alunos, laboratórios razoavelmente equipados e alguns
recursos audiovisuais. Além disso, é indispensável um programa bem estruturado.
A prática docente ao longo dos diversos níveis de ensino permite reconhecer a continuidade de
conhecimentos em Química e, por extensão, nas restantes disciplinas científicas, com as quais
deveria existir uma integração harmoniosa.
A maioria dos professores de Química do ensino médio e superior concorda que o ensino da
disciplina apresenta muitos problemas. É fácil constatar também que a maior parte das pessoas,
mesmo após frequentar a escola de ensino fundamental e médio, sabe muito pouco de Química.
Pouquíssimas delas conseguem se posicionar sobre problemas que exijam algum
conhecimento dessa matéria. No entanto, a Química está relacionada à quase tudo em sua vida e
elas precisam saber disso. Quando alguém come, respira, pensa, está realizando processos químicos.
A Química está relacionada às necessidades básicas dos seres humanos como alimentação,
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vestuário, saúde, moradias, transporte entre outros e todo o mundo deve compreender isso tudo. Ela
não é uma coisa ruim que polui e provoca catástrofes como alguns, infelizmente, pensam.
Esses preconceitos existem, inclusive, devido à forma como os meios de comunicação a
divulgam. Sem um conhecimento de Química, ainda que mínimo, é muito difícil um indivíduo
conseguir posicionar-se sobre todos esses problemas, e em consequência exercer efetivamente sua
cidadania.
Dispor de conhecimentos rudimentares, isto é, noções básicas, dessa matéria ajudam o cidadão
a se posicionar em relação a inúmeros problemas da vida moderna, como poluição, recursos
energéticos, reservas minerais, uso de matérias-primas, fabricação e uso de inseticidas, pesticidas,
adubos e agrotóxicos, fabricação de explosivos, fabricação e uso de medicamentos, importação de
tecnologia e muitos outros.
Além disso, aprender acerca dos diferentes materiais, suas ocorrências, seus processos de
obtenção e suas aplicações, permite traçar paralelos com o desenvolvimento social e econômico do
homem moderno. Tudo isso demonstra a importância do aprendizado de Química.
Como ciências experimentais, que procura compreender o "comportamento" da matéria, a
Química se utiliza modelos abstratos que procuram relacionar o mundo macroscópico com o
microscópico universo atômico-molecular. Esse exercício é de grande valia para o desenvolvimento
do raciocínio do estudante em qualquer área do conhecimento.
Por que as pessoas saem da escola sem saber quase nada de Química? Ao nosso ver, são
muitos os problemas existentes atualmente no ensino da matéria. Um deles é a ênfase exagerada
dada à memorização de fatos, símbolos, nomes, fórmulas, reações, equações, teorias e modelos que
ficam parecendo não ter quaisquer ralações entre si. Outro é a total desvinculação entre o
conhecimento químico e a vida cotidiana. O aluno não consegue assim perceber as relações entre
aquilo que estuda nas salas de aula, a natureza e a sua própria vida.
Mais um problema é a ausência de atividades experimentais bem planejadas. Os alunos quase
nunca têm oportunidade de vivenciar alguma situação de investigação, o que lhes impossibilita
aprender como se processa a construção do conhecimento químico. A utilização de atividades
experimental bem planejada facilita muita a compreensão da produção do conhecimento em
Química. E, sem compreensão, é difícil aprender a disciplina.
Além disso, a sequência em que os conteúdos são dados é quase sempre inadequada. Não é
possível aprender a teoria atômica, aprender o que é átomo, por exemplo, sem conhecer as
propriedades da matéria, sem saber, em suma, o que a teoria atômica procura explicar, seria o
mesmo que querer colher os frutos de uma árvore antes de plantá-la.
Outra grande dificuldade é a extensão dos programas. O número de assuntos que os programas
de Química do ensino médio apresentam é muito grande, priorizando a quantidade em detrimento
da qualidade. Os alunos não são capazes de perceber os conceitos fundamentais da disciplina, não
conseguem ter critério algum de prioridade. A solução não é, necessariamente, reduzir os
programas, mas, neles, priorizar os conceitos fundamentais.
Finalmente, talvez o maior problema, e derivado de todos os outros, seja o da dogmatização
do conhecimento científico. O conteúdo da Ciência é passado ao aluno sem as suas origens, sem o
seu desenvolvimento enfim, sem a sua construção. O conhecimento científico, nesse caso, é
mostrado como algo absoluto, fora do espaço e do tempo, sem contradições e sem questões a
desafiarem o alcance das suas teorias.
A inadequação na sequência dos conteúdos passa uma visão bastante deformada da Química,
o que dificulta a compreensão de seus conceitos. Torna mais difícil compreender as relações entre
os fatos, as leis, as hipóteses, as teorias e os modelos científicos. Como resultado, a memorização
de símbolos, nomes, fórmulas, leis, teorias, equações e regras passam a ser a principal
atividade dos alunos de Química.
A aprendizagem da Química passa necessariamente pela utilização de fórmulas, equações,
símbolos, enfim, de uma série de representações que muitas vezes pode parecer muito difícil de ser
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absorvida. Por isso, desde o início do curso, o professor precisa tentar desmistificar as fórmulas e
equações. Isso pode ser feito de várias maneiras.
Em primeiro lugar, não se deve incentivar a memorização dos símbolos dos elementos, das
fórmulas e dos nomes das substâncias. Em segundo lugar, desde o começo do estudo dos símbolos e
das fórmulas químicas, deve-se mostrar seu significado tanto do ponto de vista do que é observável,
isto é, do que é experimental, do que é constatado diretamente, quanto do ponto de vista do não-
observável, isto é, do que é teórico, do que é modelo.
“GOSTO MAIS DE HISTÓRIA”
Não se pode querer dos alunos que eles apenas decorem definições, propriedades e
métodos de preparação. Somente reter essas informações na memória nada significa em termos de
conhecer Química. É preciso trabalhar os conteúdos de maneira a incorporá-los definitivamente ao
conhecimento do aluno.
O aprendizado fica mais fácil e mais veloz quando há uma compreensão de como são
organizados os conhecimentos de Química. Atitude mais sensata, parece-nos, é dar a chave de como
o conhecimento químico se constrói; compreendido isto, estará aberta a via para o verdadeiro
entendimento do que é a Ciência chamada Química.
Deve-se fazer todo o possível para ensinar muita Química, mas levando em conta que a
extensão do programa não é a prova da qualidade dele. Essa prova é a sua unidade, sua lógica
interna e sua capacidade de se transmitir claramente ao aluno, permitindo-lhe também a própria
construção do conhecimento químico.
“Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou sua construção”
“Não gosto de matemática porque é só número”
A Química é uma ciência experimental; fica por isso muito difícil aprendê-la sem a realização
de atividades práticas (laboratório). Essas atividades podem incluir demonstrações feitas pelo
professor, experimentos para confirmação de informações já dadas, experimentos cuja interpretação
leve à elaboração de conceitos entre outros.
“Tornar divertido o aprendizado pode ser bom para o aluno”
Existem várias opções para se trabalhar os conceitos químicos. Entre elas podem-se citar as
demonstrações experimentais, as simples exposições teóricas, a discussão de determinados temas
em grupos, a exposição de certos problemas teóricos ou práticos propostos. Cada uma dessas
maneiras tem o seu valor e a sua utilidade. Giz e quadro-negro numa aula expositiva têm sua razão
de ser; uma pesquisa em laboratório também. Não se deve dar importância maior às várias técnicas
de ensino, mas usá-las de modo adequado para assegurar a unidade e a clareza do programa.
Como ciências experimentais que é a química, ela exige para seu estudo atividades
experimentais. Não é aconselhável, em qualquer hipótese, que os alunos aprendam Química sem
passar, em algum momento, por atividades práticas.
O objetivo da Química é compreende a natureza, e os experimentos propiciam ao aluno uma
compreensão mais cientifica das transformações que nela ocorrem. Saber punhados de nomes e de
fórmulas, decorar reações e propriedades, sem conseguir relacioná-los cientificamente com a
natureza, não é conhecer Química. Essa não é uma ciência petrificada; seus conceitos leis e teorias
não foram estabelecidos, mas têm a sua dinâmica própria. O modelo atômico, por exemplo, por
quantas alterações já não passou?
O que foi exposto em aula e o que foi obtido no laboratório deve, então, construir algo
indivisível. Às vezes isso pode parecer difícil. Mas essa unidade é fundamental: atividades
experimentais realizadas sem a integração com uma teoria constante não passam de brincadeiras.
Por outro lado, uma teoria sem o embasamento experimental não tem força para passar a verdadeira
construção do conhecimento.
O aluno possui interesses próprios para cada faixa de idade, entretanto o seu interesse pelas
ciências é constante. Ela gosta de saber sobre as máquinas, as flores, os animais, os astronautas, as
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plantas, a chuva e tudo que ela vê ou ouve falar. O aluno aprende, primeiro, através de experiências
sensoriais. Seu equipamento sensorial lhe permite observar o mundo ao seu redor, não só pela visão,
mas também através de outros sentidos como: audição, olfação, tato e até mesmo o paladar. Os
alunos de acordo com os conhecimentos e as vivências vão adquirindo uma série de conceitos que,
aos poucos, vão modificando, ampliando e corrigindo os enganos em função da qualidade das
experiências adquiridas.
O aluno é curiosa, desejoso de conhecer, interpretar seu meio ambiente, a razão por que nos
faz com frequência inúmeras perguntas. O aluno, desde cedo, manifesta grande curiosidade por tudo
que vê , ouve, sente, e pensa. Inúmeras perguntas são feitas pela criança, que muitas vezes não nos
parecem de grande importância, mas que devem ser esclarecidas e exploradas.
Muitas dessas perguntas, no entanto, são de natureza científica. Através delas, nota-se que os
interesses são muitos e diversificados. A criança demonstra isto, quando pergunta:
“O que segura a água no céu antes de chover?”
“De onde vem a água da chuva?”
“O que segura o sol para ele não cair do céu?”
Desta forma podemos constatar que Ciências constituem uma disciplina automotivada. O
próprio conteúdo responde às indagações infantis. É indispensável que o professor aproveite essa
vontade de saber que as crianças têm.
O estudo das ciências abre, ainda, um campo de interesse para as horas de lazer e serve de
estímulo a novas vocações. É papel do professor ajudar a criança a organizar suas experiências e
orientá-la na solução de seus problemas. Isto porém só é possível quando é levada a realizar
trabalhos concretos, observar diretamente, raciocinar e descobrir.
É importante no estudo das Ciências que o professor conduza o educando não somente a
distinguir as mudanças da natureza, mas também sentir os efeitos que podem influenciar sobre a
vida de cada indivíduo. É mais acertado construir os conceitos a partir de atividades próximas do
cotidiano do aluno. É muito desejável que ele perceba que a Química é uma parte do estudo da
natureza. Caso contrário, corre-se o risco de tornar o ensino da disciplina desvinculado da realidade,
prejudicando o esforço dos alunos para compreender o mundo que os cerca.
O poder da apreciação:
Aconteceu um fato uma vez que marcou minha infância: minha família paterna é toda de
Capanema e meu pai não tendo parentes aqui em Belém as visitas que meus avós nos davam eram
carregadas de grande sentimento e numa dessas visitas eu (Jorge), meu pai e meu avô fomos fazer
uma compra num “Meia-a-meia” que éramos fregueses à alguns anos. Depois de ter feito as
compras, já no final do expediente da loja, quando estávamos de saída, o proprietário (Paulo) nos
encontra e cumprimenta-nos. Meu pai apresenta o meu avô, Paulo se mostra muito feliz, aparenta
ter grande admiração por meu pai, eram amigos nas compras rápidas que meu pai fazia. Paulo
gostava muito do caráter do meu pai e disse sua admiração, com ênfase, para o meu avô, dizendo
que ele tinha formado um homem de verdade, um homem que pagava suas contas em dias, um
freguês que nunca deu problemas. Vi lágrimas correr do rosto de meu pai e de meu avô. Talvez
Paulo tenha esquecido este dia, mas nós não!
Esta apreciação, este ato sincero, de Paulo ecoou na memória, principalmente, de meu pai,
estando grato até agora.
Faça sempre a outra pessoa sentir-se importante, faça aos outros o que quer que os outros lhe
façam e eles sempre o estimarão.
Conclusão
Se por um momento deixarmos de olhar para nossas virtudes, orgulhos e problemas e nos
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interessarmos sinceramente nas pessoas que nos cercam e procurarmos olhar o ponto de vista
alheio, colocando-se em seu lugar, sendo para com ela solidário e dando-lhe até mais do que ela
merece, ou seja, sendo generoso, tornando-se assim uma pessoa, um profissional querido que terá o
carinho e a cooperação de todo.
Tudo isto, todo este trabalho e pesquisas de filósofos sobre as regras das relações humanas
apenas se desenvolveram em um único preceito, o qual não é novo, é velho como a história.
Zoroastro o ensinou aos seus adoradores do fogo, na Pérsia, três mil anos atrás. Confúcio pregou-o
na China há vinte e cinco séculos. Lao-tsé, o fundador do taoismo, ensinou-o aos seus discípulos no
vale do Han. Buda pregou-o no Ganges sagrados quinhentos anos antes de Cristo. Os livros
sagrados do Hinduísmo o ensinaram-no mil anos antes. Jesus ensinou-o entre as montanhas de
pedra da Judeia há vinte séculos passados. Jesus resumiu em um pensamento – provavelmente o
mais importante do mundo: “Faça aos outros o que quer que os outros lhe façam”.
REFERÊNCIAS:
DALE CARNEGIE, Como fazer amigos e influenciar pessoas: 43ª edição, São Paulo, editora
nacional, 1993.
PAULO FREIRE, Pedagogia da autonomia: 27ª edição, São Paulo, editora Paz e terra, 1996.
60
Anexo 2
Resumo
Neste trabalho, apresentamos uma análise da função dos recursos audiovisuais na Educação em
geral e no Ensino de Ciências em particular. A ênfase é dada na relação entre o uso de Recursos
Audiovisuais e o desenvolvimento da função simbólica, como encontrado em Piaget e Vygotsky, e o
uso desses recursos a partir de um ponto de vista ausubeliano.
I. Introdução
Em trabalho anterior (ROSA, 1999), apresentamos algumas características que definiriam
um Domínio da Matéria relativo à profissão Professor. Dando prosseguimento a esta tentativa de
seleção de conteúdos, abordaremos, neste trabalho, a influência dos recursos audiovisuais no Ensino
de Ciências. A importância deste tema é bastante grande, uma vez que a sociedade moderna tem no
uso da imagem e do som uma de suas principais características.
No ambiente da escola, o uso de imagem e de som como instrumentos de apoio ao Ensino
data dos primórdios do desenvolvimento desses meios. Seja com as primeiras tentativas de
utilização do rádio como ferramenta de disseminação educacional e cultural (basta lembrar dos
projetos oficiais como o Projeto Minerva, p. ex.); seja pelas tentativas de introdução dessas mídias
nas escolas, quer pela TV Escola, a mais recente investida do Governo Federal na área de TV, quer
pelo uso de instrumentos multimídia (através da utilização de CD-ROM ou pelo acesso à Internet),
embutidos dentro do projeto do MEC para aquisição e implantação de computadores nas escolas. A
possibilidade, antes oferecida pelo rádio e pela TV, principalmente, e agora pela Internet, de atingir-
se um grande número de alunos, muitas vezes dispersos em grandes áreas geográficas, é um canto
de sereia a perseguir os planejadores educacionais.
Mas, qual o papel desempenhado por estes meios no processo de aprendizagem? Qual a
melhor forma de utilizá-los? Como fatores culturais influenciam a apreensão do conteúdo? Estas
questões e outras mais devem ser respondidas pelo Professor antes de inserir uma atividade que
envolva o uso dos recursos audiovisuais.
Como toda ferramenta de Ensino, o uso de um filme ou de uma simulação multimídia deve
ter uma função definida no plano de Ensino elaborado pelo Professor para um dado conteúdo. A
habilidade e capacitação técnica do Professor aparecem na hora das escolhas do material
instrucional e do ponto de inserção dentro do curso.
Por volta dos dois anos, a criança passa a desenvolver a função simbólica, como bem
apontado pelos estudos de Piaget (FLAVELL, 1983; PIAGET, 1978; PIATELLI-PALMARINI,
1983) e Vygotsky (1991 e 1993). Esse desenvolvimento prossegue por toda a fase do período pré-
operatório e termina o seu desenvolvimento na fase do pensamento formal, quando o já adolescente
termina o processo de desenvolvimento1 com a aquisição da possibilidade de realização de
1 Isto ainda é uma questão em aberto a bem da verdade.
61
operações com caráter hipotético dedutivo, onde operações completas, de caráter reversível, sobre
símbolos são possíveis.
Como bem aponta Vygotsky, ao entrar na escola, por volta dos sete anos, o desenvolvimento
da função simbólica passa a um segundo nível com a aprendizagem da escrita e da leitura. Enquanto
que, nos anos precedentes, a criança desenvolveu a função simbólica pela aquisição da linguagem e
a consequente internalização da fala externa, que dará origem à fala interna (o nosso pensar alto
interno), ao entrar para a escola, um desenvolvimento em segundo nível da função simbólica faz-se
necessário.
Um aspecto da escrita e da leitura, que normalmente não nos damos conta, é que tanto uma
como a outra envolvem uma operação simbólica sobre outra operação simbólica: a fala. Quando a
criança começa a escrever, ela, em realidade, está fazendo uma codificação do som (palavra), que
por sua vez já resulta de uma codificação, mediada pela cultura de um conceito2, como bem
apontado por Vygotsky.
Outro ponto que costuma nos escapar é que os processos de escrita e leitura, a exemplo dos
processos de ouvir (compreensão) e falar (expressão), são fundamentalmente diferentes: enquanto
que, nos processos de escrita/fala, a criança traduz em signos externos a ela, definidos socialmente,
aspectos internos, em um processo de codificação, na leitura/audição, o processo é inverso: deve
haver uma decodificação dos signos em termos daqueles referentes internos do sujeito que lê. Daí,
por exemplo, as dificuldades que as crianças, mesmo as que dominam completamente a linguagem
falada, experimentam na aquisição das habilidades de leitura e escrita e o porquê de algumas delas
conseguirem escrever bem, mas ler mal e vice-versa.
Quando se usa imagem e som na sala de aula, um processo semelhante ocorre. Todo filme,
slide, transparência, programa multimídia, etc. traz embutido, dentro de si, um processo de
codificação definido pelo(s) autor(es) do produto audiovisual. Um filme, como um livro, deve
passar por um processo de decodificação por parte de quem o vê. Esse processo deve ser apreendido
tanto no que diz respeito às ações mecânicas necessárias para a sua compreensão (coordenação
visual, p. ex.) como no que diz respeito à matriz cultural, em função da qual o produto existe e deve
ser interpretado.
Estas coordenações simbólicas (decodificação - transcrição – codificação) precisam ser
trabalhadas pelo Professor desde muito cedo. Um erro que se comete nas escolas é o de achar que,
por estarem acostumados a ver televisão, os estudantes já sejam capazes de olhar um filme de
Ciências e, a partir dele, compreenderem o evento científico mostrado. É o mesmo que achar que,
por alguém saber falar, seja capaz de compreender o discurso técnico.
Há alguns outros pontos que precisam ser salientados:
• O vídeo, o slide, a transparência e as figuras em geral, são representações bidimensionais de
um mundo tridimensional.
• Qualquer recurso audiovisual coloca o aluno como um receptor da mensagem que o autor da
obra deseja transmitir. Uma tentativa de rompimento com este círculo existe em programas
multimídia onde se procura dar um papel mais ativo ao aluno. Mas convém lembrar que
mesmo nesses programas existe um autor que, no fundo, é quem determina qual o tipo e
qual o nível de participação será permitida ao aluno.
Há alguns anos, dentro de um dos projetos de educação de indígenas no Mato Grosso do Sul,
pesquisadores da UFMS tentaram, sem sucesso, o uso de um vídeo. Ao pesquisarem as razões do
insucesso, descobriram que os índios não sabiam olhar televisão. Explico: para que tenhamos uma
ideia geral (panorâmica ou global) do que se passa na tela da televisão, devemos focar o nosso olhar
a uma certa distância da tela, mais ou menos 1 metro. Como os índios não tinham o hábito de olhar
2 Sempre é bom lembrar que o signo não é o conceito. A palavra carro não é o conceito carro.
62
televisão eles não coordenavam o olhar de forma apropriada. Como resultado, eles apenas
apreendiam detalhes da imagem não a apreendendo na sua totalidade.
Cito este exemplo para mostrar o papel central desempenhado pela cultura quando
utilizamos vídeo em Educação. Como já dissemos acima, a obra audiovisual é uma produção
cultural, no sentido em que há uma codificação da realidade, na qual são utilizados símbolos
fornecidos pela cultura, e partilhados por um grupo de pessoas que produz a obra e pelas pessoas
para as quais a obra se destina3
Ao usarmos esta obra em um contexto completamente diferente, devemos perguntar
primeiro se é possível que aquela codificação que foi feita e que deverá ser desconstruída pelos
alunos para, em seguida, via um processo de composição cognitiva, ser reconstruída em função de
símbolos atinentes àqueles alunos para os quais passamos o filme, comporta elementos comuns às
duas culturas (a do produtor e a do consumidor).
Poderia-se argumentar aqui que a segunda lei de Newton é a mesma na Inglaterra, no
Afeganistão e no Brasil e que, portanto, um filme mostrando a segunda lei é universal. Esta lei é a
mesma em toda parte, é claro, mas a forma como é enunciada e como se relaciona com os outros
elementos da cultura, não. Qual o significado de um filme mostrando o efeito da atração
gravitacional sobre um satélite na órbita da Terra, mostrado para exemplificar as ditas leis de
Newton, para uma população de meio rural, onde a única televisão é a do posto de ensino à
distância?
O Professor deve ter em mente, quando utiliza recursos audiovisuais, qual é a matriz cultural
a partir da qual foi construída a obra que vai ser exibida, qual é a sua própria matriz cultural e o
modo como estas duas matrizes se relacionam.
Estas são apenas algumas questões que devem ser respondidas antes de o audiovisual ser
apresentado aos alunos. Em um país com as dimensões do Brasil, nem sempre teremos
homogeneidade suficiente para produzir um programa em São Paulo e que seja útil, ao mesmo
tempo, no Acre e no Rio Grande do Sul.
Esta frase, até o ponto devida a Marshall Mc Luhan (1968), é famosa4. Por vezes, quando o
assunto é recursos audiovisuais, ela aparece na forma uma imagem vale mais do que mil palavras.
Pouco discutida e bastante repetida, a frase acima diz respeito ao papel que os meios de
comunicação têm sobre a cultura. A tese defendida por Mc Luhan é basicamente a seguinte: os
meios de comunicação são eles mesmos a mensagem, modificando, pela sua existência, a cultura.
Segundo esta tese, a informação transmitida pelo meio é muito menos importante que o efeito do
meio em si dentro de uma determinada cultura. Assim, a introdução da televisão em uma
comunidade, ela mesma, a televisão, alterará muito mais a maneira como os elementos da
comunidade se relacionam entre si e a maneira como a comunidade se relaciona com o meio
exterior do que os programas que venham a ser assistidos pelas pessoas desta comunidade.
Mas, até que ponto, quando pensamos o Ensino de Ciências, o uso de um audiovisual vale
mais que o conteúdo transmitido por ele? Ou o meio (audiovisual) é a mensagem? Devemos aqui ter
em mente o papel do Ensino de Ciências no currículo escolar. Novamente vamos nos apoiar no
3 Sem falar no caráter ideológico, mas isso já é uma outra questão. Aqui nos ateremos ao caráter cognitivo apenas.
4 Essa frase é, na verdade, o título do primeiro capítulo da obra citada.
63
trabalho de Vygotsky5.
Segundo ele, a gênese dos conceitos científicos é bastante diferente e oposta em um certo
sentido à gênese dos conceitos cotidianos. Enquanto os últimos começam concretos e tornam-se,
com o tempo, abstratos; os primeiros nascem já totalmente abstratos e, com o tempo, convergem
para o concreto.
Isto se dá dessa forma devido ao caráter intrinsecamente abstrato da Ciência. A realidade é,
por demais, complexa para que a analisemos de forma completa. Além disso, o objeto da Ciência é
o desvelamento de regularidades do mundo em que vivemos. A estas regularidades, damos o nome
de conceitos. A cada conceito, corresponde um signo, elemento do sistema de signos socialmente
construído e compartilhado.
No caso de uma sociedade verbal, estes signos correspondem a um som (o nome do
conceito). Observe-se que a linguagem opera sobre os signos (espaço isomorfo ao espaço
conceitual) que representam os conceitos.
Vamos analisar o seguinte exemplo. Veja a figura a seguir:
Qual o significado dela? Bem sabemos que se trata da figura de um pássaro, uma águia, para
ser mais preciso. Mas como sabemos? A palavra pássaro designa não somente esta figura, mas
também esta outra:
pássaros. Se outra figura de pássaro fosse apresentada, você, leitor, a identificaria sem problema
algum. A imagem, no caso, é apenas uma instância particular do conceito. Se você nunca tivesse
visto um pássaro na vida, seria difícil compreender o significado da imagem, ou seja, os conceitos
precisam ser construídos a partir da exposição do sujeito a inúmeras instâncias do conceito.
Neste sentido, o conceito (representado, no nosso exemplo, pelo signo verbal) vale por mil
imagens, ao contrário da afirmativa acima. Uma palavra que representa um conceito traz, associado
a ela, um conjunto enorme de imagens, todas instâncias daquele conceito. Uma imagem sozinha não
leva ninguém ao conceito de pássaro, ou ao conceito de inércia, ou ao conceito de trabalho. Neste
aspecto, a linguagem é muito superior em poder de síntese. Por isso, quando falamos de Ensino de
Ciências, o meio não é a mensagem, pois aqui (pelo menos por enquanto) o conteúdo é mais
importante do que a forma.
É preciso que o conceito já tenha sido construído para que a imagem seja ela mesma uma
representação do conceito, assumindo deste modo um papel simbólico. Um exemplo disto que estou
falando, são as campanhas publicitárias vultosas para fixar um novo nome ou logotipo de qualquer
instituição. O novo símbolo deve ser associado ao conceito proposto pela instituição.
Voltando a Vygotsky, é apenas na aula de Ciências que o aluno tem condições de trabalhar
estas abstrações de forma articulada e coerente de forma a construir os conceitos necessários à
compreensão da realidade científica. Um filme, um slide ou um recurso multimídia não podem ser
vistos como uma fonte única de conhecimento científico. Ciência é feita, antes de tudo, com o
trabalho reflexivo sobre o material proveniente de inúmeras fontes e articulado pelos mecanismos
de organização conceitual presentes na mente do aprendiz.
Usando uma terminologia da teoria de Jean Piaget, um observável só o é se, na mente do
aprendiz, houver as ferramentas necessárias para a sua apreensão (decodificação/reconstrução
cognitiva). Um fato do mundo, e em particular a informação contida em um vídeo, somente serão
observáveis na mente do aluno se houver estruturas adequadas para tal (a esse respeito, ver
PIUBÉLI, 1989).
Então, como e para que usar os recursos audiovisuais no Ensino de Ciências? Bem, creio que
algumas atividades dentro do Ensino de Ciências saem fortemente melhoradas com o uso dos
recursos audiovisuais, se os cuidados apontados mais acima forem tomados. São elas:
Motivação
Um filme ou um programa multimídia têm um forte apelo emocional e, por isso, motivam a
aprendizagem dos conteúdos apresentados pelo Professor. Além disso, a quebra de ritmo provocada
pela apresentação de um audiovisual é saudável, pois altera a rotina da sala de aula.
Demonstração
Há certos efeitos que são melhor observados, ou somente podem ser observados, se
filmados. Por exemplo, as linhas do campo magnético em um imã gigante são bem vistas quando
filmadas de cima ou a vida do infinitamente pequeno só pode ser observada através de técnicas de
vídeo especiais. Além disso, é meio difícil arranjar imãs gigantes por aí. Outra possibilidade:
podemos filmar determinado evento de várias posições. Com isto podemos mostrar aos alunos
como diferentes sistemas de referência afetam a percepção do evento6.
Organizador prévio
Dentro da teoria de Ausubel (AUSUBEL, 1969; MOREIRA, 1983), para que haja uma
6 Como um exemplo desta aplicação, imagine que você mostra um filme de um carro passando na
rua (referencial laboratório) e a seguir você passa as imagens da rua vistas a partir do carro.
65
Simulação
Programas multimídias são bastante úteis quando queremos trabalhar com a manipulação de
modelos da realidade, podendo ser poderosos aliados do professor.
Antes de começarmos a discutir o uso propriamente dito dos recursos audiovisuais, convém chamar
a atenção para alguns pontos gerais:
O Recurso Audiovisual não é um substituto para a falta de tempo para preparar uma aula.
Se o professor não preparou a sua aula, é melhor que os alunos sejam dispensados.
O Professor deve sempre olhar e analisar o filme, sequência de slides, etc., antes dos alunos.
Acho que esta afirmação explica a si mesma.
66
Confira a disposição das carteiras e oriente a tela de modo que todos os alunos tenham uma
visão adequada.
O ideal é termos uma sala reservada para as aulas que envolvam recursos audiovisuais. Neste caso,
a tela pode ficar no centro com as cadeiras dispostas em semicírculo, com móveis adequados para o
vídeo, a televisão, o projetor de slides, etc.
Como regra geral, a última cadeira deve ficar a uma distância de 6 vezes o tamanho da tela.
Como regra geral, a primeira fila de cadeiras deve ficar a uma distância do dobro do tamanho
da tela.
Ao usar uma tela, tome cuidado para não ficar entre o projetor e a imagem.
O corpo não é a uma boa superfície de projeção, deformando a imagem. Lembre-se que você quer
que as imagens sejam vistas e não você. Do mesmo modo, não projete sobre superfícies brilhantes:
neste caso haverá alunos que não verão as imagens, mas apenas o reflexo projetado pela tela.
Programe uma atividade de discussão e análise do que foi mostrado para imediatamente após
a apresentação.
Isto é fundamental para que os alunos fixem os conteúdos apresentados. É esta discussão que
promoverá a acomodação conceitual da estrutura cognitiva em um novo patamar, de modo a
incorporar (em um sentido ausubeliano) o novo ao velho.
As observações feitas acima são de caráter geral e, portanto, se aplicam ao uso do vídeo e da
televisão na sala de aula. No entanto, quando falamos de uso de vídeo em sala de aula, devemos
atentar para algumas particularidades desta mídia específica.
Um primeiro ponto para o qual deve ser chamada a atenção é para o caráter regional das
produções (ou, se olharmos de um outro ponto de vista, a falta dele). Em um país das dimensões do
67
Brasil, com as diferenças regionais que podemos observar, ter uma produção de vídeo localizada, ou
melhor dizendo, centrada no eixo Rio-São Paulo, como temos atualmente, é um erro.
As características regionais são extremamente importantes quando produzimos qualquer
material instrucional, em particular o vídeo. Tomemos um exemplo: como pode um programa
produzido para uma população urbana e cosmopolita, como a da grande São Paulo, ser significativa
para um seringueiro do Acre, um peão de Bagé (interior do Rio Grande do Sul) ou um peão
pantaneiro7? É óbvio que esta produção não será totalmente compreensível aos dois últimos. A
começar pela linguagem.
Um segundo ponto que devemos ressaltar é a necessidade de um trabalho de elaboração em
cima do vídeo. Após a apresentação, o professor deve trabalhar com seus alunos a compreensão do
que foi visto. Aqui cabe um comentário: todo vídeo deve ser passado duas vezes para que quem
assiste possa realmente tomar conhecimento da mensagem contida nele.
De modo a auxiliar o professor nesta tarefa, apresentaremos uma ficha de sugestão. Esta
ficha deverá ser distribuída aos alunos para que eles a preencham sozinhos ou em grupo. Após o
preenchimento da ficha, uma atividade em grupo pode ser programada.
Nome do aluno:
Série:
Título do filme:
Diretor:
Produtor:
Hipóteses levantadas: que hipóteses são levantadas pelos autores para explicar o
fenômeno apresentado e responder à questão básica?
Dados apresentados: que dados o filme apresenta para sustentar as suas hipóteses?
Como o leitor pode observar, são os mesmos itens que aparecem em O Vê Epistemológico de
Gowin8, já bastante discutido na literatura.
O uso de retroprojetor e transparências já está bastante disseminado nas nossas escolas. Apesar do
custo de aquisição e manutenção ainda alto desses aparelhos, em relação à nossa realidade, e do
custo igualmente alto das lâminas para transparências propriamente ditas, a transparência é uma
ferramenta bastante útil.
Basicamente a transparência é usada como apoio a uma exposição oral (seminário, preleção de
laboratório, aula expositiva, etc.):
• Use cores que sejam visíveis, como o azul forte, o preto, o vermelho, etc., para textos,
figuras e gráficos. Evite o uso de cores fracas, como o amarelo, o laranja e o verde-claro.
Estas cores não aparecem bem quando projetadas, principalmente se a sala não estiver
suficientemente escurecida, e devem ser utilizadas apenas como fundo.
• A cor deve ter uma função. Uma apresentação usando transparências deve seguir um roteiro
predefinido. Assim, é preciso definir antes de iniciar o processo de confecção das
transparências qual a função de cada cor: texto normal em preto, texto de advertência em
azul; fundo de uma transparência que introduz uma unidade em amarelo, fundo de uma
transparência que apresenta uma grande divisão do conteúdo em laranja, e assim por diante.
O mesmo cuidado deve ser tomado com o uso de combinações como o verde/azul que
podem causar confusões aos daltônicos.
• Não faça da sua transparência um festival de cores. Use cores básicas e uma cor de realce.
Por exemplo, use o preto e azul (realce).
• Cada transparência deve conter apenas os elementos essenciais de apoio à exposição do
professor. Quem dá a aula é o professor e não a transparência. Este é um objetivo difícil de
atingir: a transparência deve conter elementos suficientes para orientar a compreensão dos
assistentes, mas não em demasia de forma que seja um texto projetado na tela.
• Nunca copie trechos de materiais impressos em transparências. As pessoas não lêem
mesmo e você estará desperdiçando dinheiro. Lembre-se que o modo como o texto e os
demais elementos gráficos que aparecem nos livros são dispostos na página e não são ideais
para serem projetados numa tela. Essa disposição é boa para ser usada por alguém que
segura o livro próximo dos olhos. Além disso, a lógica do texto é completamente diferente
da lógica da imagem.
• Evite o strip-tease de transparências. Há um hábito disseminado, muito por questões
econômicas é bem verdade, de colocar-se vários tópicos em uma única transparência e ir-se
descobrindo-a aos poucos. É preferível utilizar duas ou três transparências que se superpõe
dando um efeito de desenho animado. Se você puder utilize um Data Show 9 e os efeitos de
transição que os programas específicos para confecção de apresentações trazem. Sobre estes
últimos seja sóbrio: efeitos demais desviam a atenção do conteúdo apresentado para o
espetáculo visual das transições. Resista bravamente, qual Ulisses, ao canto de sereia destes
programas!
• Familiarize-se com o equipamento antes da apresentação. Nada mais constrangedor do que
um expositor que não sabe focar o aparelho em meio à exposição.
• O foco, a luminosidade, a distância adequada do equipamento devem ser verificados antes
do início da aula.
Para os slides, valem as mesmas observações que para o uso de transparências. Além disso,
o professor deve tomar alguns cuidados com a orientação do slide. Uma boa apresentação pode se
tornar dispersiva pelo aparecimento de um slide de cabeça para baixo. De modo a ter os slides na
posição correta, siga os procedimentos abaixo (FANTIN, 1992; BOURRISSOUX; PELPEL, 1992):
• Vire-se de frente para a tela e olhe através do slide, fazendo com que a imagem possa ser
visualizada tal como se estivesse na tela;
• Vire a face lisa para você e a face de emulsão para a tela;
• Verifique se o slide está na posição adequada; caso esteja correto, você deverá ver um ponto
no canto inferior esquerdo. Se não houver este ponto, faça um neste local;
9 Um Data Show é um dispositivo que permite projetar-se em uma tela, usando um retroprojetor comum, o conteúdo
da tela de um computador. Ainda são bastante caros.
70
• Gire a seguir o slide no sentido dos ponteiros do relógio, sempre de frente para a tela, até
que o ponto fique localizado no canto superior direito. Esta é a posição em que o slide
deverá ser colocado na gaveta de slides do aparelho;
• Após ordenar os slides na gaveta do aparelho, trace uma linha diagonal na lateral do
conjunto indo do primeiro ao último. Isso o ajudará a identificar a falta de algum dos slides
na seqüência ou o seu posicionamento fora de ordem;
• A organização dos slides deve seguir uma lógica tanto pedagógica como de utilização dos
recursos audiovisuais. Deve-se partir de planos mais gerais para os planos particulares, do
geral para o específico;
• Pode-se melhorar a qualidade de espetáculo do uso de slides pela utilização de dois
aparelhos simultaneamente: um com a sequência principal e outro com um fundo. O
objetivo é a eliminação do espaço sem luminosidade entre dois slides;
• Lembre-se que a boa visualização dos slides impõe que a sala esteja completamente escura.
Isto não permitirá aos alunos que tomem notas durante a exposição;
• A sequência em que os slides devem ser mostrados deve obedecer a uma lógica de
concepção: se possível, ao utilizar mais do que um aparelho, observe que a apresentação da
imagem deve ser no sentido da leitura, da esquerda para a direita. Assim a resposta a uma
dada questão deve aparecer na tela da direita, enquanto que a própria questão deve ser
colocada na tela da esquerda. Se a fase 1 de determinado processo é mostrada na tela da
esquerda, a fase 2 deve ser mostrada na tela da direita e vice-versa. Observe que aqui direita
e esquerda dizem respeito ao ponto de vista do aluno;
• Deve haver, também, quando se trata da apresentação de slides esquemáticos, uma
uniformidade de cores e fontes (nos textos). Tanto a cor de fundo como a fonte devem ter
uma função clara de informação: por exemplo, o slide de abertura e fechamento com um
fundo em vermelho (para chamar a atenção); a mesma cor para um fluxo de fluido etc.;
• Use de preferência letras em negrito nos textos que aparecem em slides.
V. Conclusão
Neste trabalho procuramos apresentar algumas observações que, esperamos, ajudarão o professor a
melhor decidir sobre a utilização ou não de recursos audiovisuais e, em decidindo utilizá-los, deles
tirar melhor proveito.
10 Talvez tudo isso mude com a nova Internet e com as novas redes de cabos óticos. Mas, no Brasil, isto ainda está bem
longe no horizonte para o usuário comum.
71
4. FANTIN, N. D. Saiba projetar slides. Tecnologia educacional, v. 21, n. 104, pp: 59-64, 1992.
6. MC LUHAN, M. Pour comprendre les média. [trad. Jean Paré] France: Editions H M H, 1968.
10. PIUBÉLI, U. Gênese das noções espontâneas sobre ondas na superfície da água e influência
do ensino. 1989. Tese (Dissertação de Mestrado) IF-UFF, Niterói.
Anexo 3
Física no computador: o computador como uma ferramenta
no ensino e na aprendizagem das ciências físicas
jtrindade@ipg.pt
RESUMO
São conhecidas as dificuldades que muitos alunos apresentam na compreensão dos fenômenos
físicos. Entre as razões do insucesso na aprendizagem em Física são apontados métodos de
ensino desajustados das teorias de aprendizagem mais recentes assim como falta de meios
pedagógicos modernos. A necessidade de diversificar metodos para combater o insucesso
escolar, que é particularmente nítido nas ciências exactas, conduziu ao uso crescente e
diversificado do computador no ensino da Física. O computador oferece actualmente varias
possibilidades para ajudar a resolver os problemas de insucesso das ciências em geral e da
Física em particular. Neste trabalho, apresentamos uma breve resenha histórica da sua
ascensão no ensino. Procuramos relacionar a aplicação do computador com avanços nas
teorias de aprendizagem. Analisamos os principais modos de utilização do computador no
ensino, desde as simulações até a realidade virtual, passando pela aquisição de dados em
laboratório e pela Internet. Apesar do balanço da utilização dos computadores no ensino se
revelar inegavelmente positivo, subsistem numerosos problemas por resolver. Com efeito, nao
obstante as suas reconhecidas potencialidades, o computador nao se tornou a chave mágica
do sucesso educativo. Discutimos algumas dessas dificuldades. O potencial pedagógico dos
computadores são poderá ser plenamente realizado se estiverem disponíveis programas
educativos de qualidade e se existir uma boa articulação deles com os currículos e a prática.
Palavras-chave: Física, computador, software, hardware.
ABSTRACT
The difficulties that many pupils show in understanding some physical processes are well
known. Among various reasons for failure in Physics learning old or misguided education
methods have been pointed out. The need to diversify methods to attack pedagogical failure
led to the increasing use of the computer in Physics education. Currently this tool offers
various possibilities to help solving problems in Physics education. We present an historical
summary of the rise of computers in education. We relate computer applications to advances
in learning theories. We review the main computer uses in science education, from simulations
to virtual reality, including data acquisition and Internet. Although the balance of the use of
the computers in education is clearly positive, many questions remain. In effect, in spite of its
recognized potentialities, the computer did not become the magical key of educative success.
73
We discuss some of the standing difficulties. The pedagogical potential of the computer could
only be carried through if good educative software would become available and if this would be
smoothly connected to syllabus and practice.
Keywords: Physics, computer, software, hardware.
I Introdução
O elevado número de reprovações a Física, nos vários níveis de ensino e em vários países,
mostra bem as dificuldades que os alunos encontram na aprendizagem dessa ciência. As
causas deste problema não estão devidamente esclarecidas. E, por isso, as soluções também o
não estão. Contudo, entre as razões do insucesso na aprendizagem em Física, são em geral
apontados aos professores métodos de ensino desajustados das teorias de aprendizagem mais
recentes e não utilização dos meios mais modernos, enquanto aos alunos são apontados
insuficiente desenvolvimento cognitivo [1], deficiente preparação matemática e pré-existência
de concepções relacionadas com o senso comum e não com a lógica científica [2]. Devemos
ainda acrescentar, especialmente no ensino secundário em Portugal, o grande número de
alunos que não têm a menor vocação para a disciplina e que, portanto, dificilmente poderão
ter qualquer sucesso no estudo dela.
Uma característica da Física que a torna particularmente difícil para os alunos é o facto de lidar
com conceitos abstractos e, em larga medida, contra-intuitivos. A capacidade de abstracção
dos estudantes, em especial os mais novos, é reduzida. Em consequência, muitos deles não
conseguem apreender a ligação da Física com a vida real.
É da responsabilidade dos docentes proporcionar aos seus alunos experiências de
aprendizagem eficazes, combatendo as dificuldades mais comuns e actualizando, tanto quanto
possível, os instrumentos pedagógicos que utilizam. Segundo Hestenes [3] os métodos
tradicionais de ensinar Física são inadequados. Como afirmam Lawson e McDermott [4], não
serão de admirar falhas na aprendizagem se conceitos complexos e difíceis de visualizar só
forem apresentados de uma forma verbal ou textual. Deviam por isso ser divulgadas e
encorajadas técnicas de instrução atraentes que coloquem a ênfase na compreensão
qualitativa dos princípios físicos fundamentais.
A necessidade de diversificar métodos de ensino para contrariar o insucesso escolar ajudou ao
uso crescente do computador no ensino da Física [5]. A utilização de software apropriado, por
exemplo de simulação, para além do apoio computacional na realização de experiências e na
apresentação audiovisual, pode facilitar o ensino, não oferecendo todavia garantias de sucesso
pleno [6]. McCloskey [7] e McDermott [8] referiram que alguns jogos de computador podem
ter grande eficácia na aprendizagem. Como veremos adiante, esta estratégia continua a ser
frutuosa para estimular a aprendizagem.
Aos computadores, cada vez mais velozes e cada vez com maior capacidade de tratamento e
de representação de dados, juntaram-se modernamente novas interfaces entre homem e
máquina (capacetes de visualização imersiva, luvas de dados, etc.). Surgiram assim novas
oportunidades de usar tecnologias da informação na educação e de concretizar com elas novas
formas de aprendizagem [9]. Os computadores modernos oferecem inegavelmente um grande
número de possibilidades para ajudar a resolver alguns problemas concretos do ensino das
ciências [10]. Hoje em dia, existem vários títulos de software educacional (alguns dos quais
com carácter lúdico) que permitem enfrentar dificuldades de aprendizagem, pese embora a
escassez de estudos quantitativos sobre as reais vantagens do seu uso. A evolução tecnológica
recente permite adivinhar que os meios disponíveis nas escolas se tornarão ainda mais
poderosos [11]. Tais meios não substituirão inteira e radicalmente as formas tradicionais de
ensinar, mas poderão constituir um complemento ajustado a dificuldades específicas dos
alunos.
O ano de 1980 ficou marcado na história dos computadores no ensino. Seymourt Papert,
professor de Matemática no Massachusetts Institute of Technology, em Boston, nos EUA, e
autor do livro ''Mindstorms: Children, Computers and Powerful Ideas'' [12], criou a linguagem
de computador Logo, com a qual crianças com mais de seis anos podiam programar e
desenhar figuras matemáticas. A linguagem Logo teve um enorme impacto ''porque propiciou
75
no ensino pode resumir-se a três períodos, acompanhando a evolução das principais teorias de
aprendizagem.
A primeira geração foi moldada pela teoria behaviorista. O behaviorismo baseia-se no estudo
de comportamentos observáveis e mensuráveis dos alunos [18]. Segundo esta teoria, a mente
é uma ''caixa negra'', no sentido em que responde a estímulos que podem ser observados e
medidos, não interessando os processos mentais no seu interior [19]. Assim, os pressupostos
por detrás deste primeiro período foram:
• O comportamento do aluno pode ser razoavelmente previsto se forem bem
conhecidos os objectivos pretendidos para o ensino e os métodos a usar para os
obter [20].
A segunda geração de utilização dos computadores no ensino foi moldada pela teoria cognitiva.
Esta baseia-se nos processos mentais que estão na base do comportamento. Por outras
palavras, as mudanças observadas no comportamento do aluno são tomadas como indicadores
sobre os processos que se estão a desenrolar na sua mente [19]. A teoria cognitiva -
desenvolvida, entre outros, pelo suíço Jean Piaget - preconiza que a aprendizagem resulta de
uma estruturação gradual dos conhecimentos efectuada pelo instruendo. Apesar de ter surgido
nos finais da década de 50 só no final da década de 70 a psicologia cognitiva começou a
exercer uma influência efectiva nas formas concretas de ensinar. Esta segunda geração
caracterizou-se por uma maior ênfase quer nos conteúdos da aprendizagem quer na forma da
sua apresentação aos alunos - o design [23]. O pressuposto de que não há dois alunos
psicologicamente iguais e que essas diferenças não podem ser ignoradas conduziu a
consideráveis melhorias na utilização dos computadores. Foi o primeiro passo para uma
educação baseada no respeito pela individualidade.
Na década de 90, os avanços tecnológicos permitiram o aparecimento de uma terceira
geração. Esta terceira geração assenta na teoria construtivista, segundo a qual cada aluno
constrói a sua visão do mundo através das suas experiências individuais [19]. Os teóricos do
construtivismo defendem que ''os aprendizes constroem a sua própria realidade ou pelo menos
interpretam-na baseados nas suas percepções das experiências e, portanto, o conhecimento
individual é função das experiências tidas, das estruturas mentais e das crenças que são
utilizadas para interpretar as coisas'' [24]. Neste quadro, a promoção nos alunos da
capacidade de prever qualitativamente o decorrer dos fenómenos é mais importante do que a
manipulação de fórmulas ou de outras ferramentas formais. A nova geração caracterizou-se
pela ênfase nas interacções entre aluno e máquina. A natureza dessas interacções pode ser tão
importante (ou mesmo mais) quanto o conteúdo de informação ou a forma como este é
apresentado.
O meio de apresentação mais utilizado passou a ser o hipertexto porque este possibilita uma
aprendizagem não linear em vez de sequencial. Os links num documento permitem ao aluno
escolher o seu percurso e avançar ao longo dele, apesar de haver o perigo de se ''perder'' no
hiperespaço. Indo ao encontro desta preocupação, Jonassen e McAlleese [25] referem que as
sucessivas fases da aquisição de conhecimentos requerem aprendizagens de tipo diferente.
Numa fase inicial, a aquisição de conhecimento será mais bem conseguida por métodos
clássicos, incidindo em conteúdos pré-determinados que são transmitidos de modo sequencial,
enquanto numa fase mais avançada ambientes de tipo construtivista podem ser mais
adequados.
Para Jonassen [24], "apesar de acreditarmos que o construtivismo não é uma teoria de ensino
prescritiva, deve ser possível propiciar linhas de orientação mais explícitas sobre o modo de
79
Por outro lado, autores como Vygotsky [26] consideram que existe uma ''zona de
desenvolvimento potencial'' na mente de cada aluno, representando esta zona o acréscimo que
o aluno pode conseguir na aprendizagem individual e em colaboração com outros indivíduos. A
esta ideia pode associar-se a existência de uma ''janela de aprendizagem'' em cada momento
do desenvolvimento cognitivo do aluno [27]. A importância dessa janela obriga a assegurar, a
cada grupo e a cada aluno, conteúdos e actividades pedagógicas personalizadas.
2) Modelização e simulação
A modelização/simulação é talvez o ambiente mais popular de aprendizagem da Física usando
o computador. O termo modelização costuma ser utilizado quando a ênfase é dada à
programação do modelo, ao passo que a simulação se refere à situação em que o modelo é
uma ''caixa negra''. Esta distinção é de alguma forma artificial e nem sempre clara. Uma vez
que as leis da Física são expressas por equações diferenciais, pode construir-se um modelo e
simular de imediato um dado problema físico: por exemplo, a queda livre de um grave, o
movimento orbital de um planeta sob a influência de uma ou mais estrelas, os movimentos das
estrelas de um glóbulo estelar, ou mesmo a colisão de duas galáxias. Contudo, as simulações
podem também ser realizadas quando não se dispõe de uma equação diferencial mas sim de
um esquema algorítmico: é o caso do mapa logístico (uma equação às diferenças que surge
81
nos estudos introdutórios do caos) e da agregação limitada por difusão (um processo que
representa, por exemplo, um fenómeno de cristalização). Ao permitir realizar ''experiências
conceptuais'' a modelação/simulação está muito próxima de uma forma de aprendizagem
designada por ''descoberta'' [28].
Os ambientes de modelação permitem aos alunos construir modelos do mundo físico que serão
mais ou menos aproximados [29]. Estes ambientes são por vezes designados por
''micromundos'' [30], de que são exemplos ambientes baseados na linguagem Logo [31],
nomeadamente o Alternate Reality Kit (ARK), que serve para criar simulações interactivas.
Ao usar simulações computacionais baseadas num modelo da realidade física, as acções
básicas do aluno consistem em alterar valores de variáveis ou parâmetros de entrada e
observar as alterações nos resultados (Figura 5).
82
Embora as simulações não devam substituir por completo a realidade que representam, elas
são bastante úteis para abordar experiências difíceis ou impossíveis de realizar na prática (por
serem muito caras, muito perigosas, demasiado lentas, demasiado rápidas, etc.). Quando se
revestem de um carácter de ''jogo'', as simulações fornecem uma recompensa pela realização
de um certo objectivo.
O acesso a boas simulações contribui para solucionar algumas questões no ensino das ciências
[18]. De facto, os alunos que estão a formar e desenvolver o seu pensamento sobre
determinadas matérias científicas encontram problemas típicos que podem ser resolvidos por
ambientes de simulação orientados por preocupações pedagógicas. Tal pode ser feito numa
fase inicial da aprendizagem dessas matérias pois os alunos não necessitam de dominar todo o
83
formalismo matemático subjacente para explorar uma dada simulação. Pelo contrário, se aos
estudantes só forem fornecidas equações como modelo da realidade, eles serão colocados
numa posição onde nada nas suas ideias comuns é parecido ou reconhecido como física. Esta é
uma situação que obviamente dificulta a aprendizagem [12].
O programa Graphs and Tracks (Figura 6), concebido por David Trowbridge, da Universidade
de Washington, em Seattle, e editado pela Physics Academic Software (uma acção da
Sociedade Americana de Física) constitui um bom exemplo do contributo que a pesquisa
educacional pode dar ao desenvolvimento de ferramentas computacionais [32]. O seu
desenvolvimento teve por base as dificuldades que os alunos encontram na relação entre o
movimento de corpos e a respectiva representação gráfica. Assim, o programa é constituído
por duas partes: na primeira, a partir da observação do comportamento de um corpo (gráficos
da posição, da velocidade ou da aceleração em função do tempo) o aluno tem que inferir qual
é a respectiva trajectória; na outra parte, o aluno tem que descrever graficamente o
comportamento de um corpo depois de observar o seu movimento. Às acções do utilizador o
software vai respondendo com feedback apropriado, de reforço se a resposta for correcta, ou
com indicações apropriadas para alcançar a solução, se a resposta for errada.
84
85
Como já foi dito, o carácter de jogo de algumas simulações pode aumentar bastante o seu
potencial pedagógico (Figura 7). Os jogos permitem uma grande variedade de situações e uma
exploração flexível delas pelos jogadores (a resposta rápida e individualizada dada por um
computador constitui precisamente uma das causas da fixação dos jovens pelos jogos).
3) Multimédia
Esta modalidade de utilização do computador baseia-se no conceito de hipertexto ou, de forma
mais abrangente, hipermédia. O termo multimédia significa que um programa pode incluir uma
variedade de elementos, como textos, sons, imagens (paradas ou animadas), simulações e
vídeos [34]. Seguindo o lema ''uma imagem vale por mil palavras'', a informação
proporcionada deve ser tão visual quanto possível. Um módulo de hipertexto possui muitos
links internos e um seu utilizador não necessita de seguir um caminho linear. Baseado na sua
bagagem e nos seus interesses, ele poderá seleccionar as partes do módulo que mais lhe
interessam. Outros links permitirão ao utilizador mover-se facilmente entre diferentes
módulos. As características essenciais da multimédia são a interactividade e a flexibilidade na
escolha do caminho a seguir. Sem essas características "...não é possível fazer do aluno um
participante activo no processo de aprendizagem. As possibilidades neste campo são imensas.
Embora num livro também seja possível sugerir ao aluno que resolva um exercício num
determinado ponto, não é de todo viável efectuar uma avaliação dos resultados obtidos e
sugerir caminhos de continuação. Por exemplo, relembrar conceitos anteriores ainda não
dominados ou avançar rapidamente para outro assunto'' [35].
Uma vez que tanto a interactividade como a flexibilidade são necessárias para assegurar uma
aprendizagem individual e activa, as vantagens educacionais do multimédia têm sido muito
defendidas. Os seus adeptos afirmam que se trata de um formato conveniente para a
aprendizagem por o nosso cérebro processar a informação por livre associação de conceitos.
Contudo, o processo sequencial, que continua a presidir à organização da maioria dos cursos,
parece mais adequado quando se pretende uma sistematização dos conteúdos.
O multimédia pode funcionar on-line ou off-line dependendo do local onde a informação é
recolhida, na Internet ou em disco local. A ligação entre o on-line e o off-line é hoje facilmente
conseguida: assim um disco local pode remeter para a Internet. O mercado do multimédia off-
line não correspondeu à forte expectativas que a certa altura foram anunciadas devido talvez
ao enorme progresso do formato on-line, que é em geral mais económico. Contudo, o
multimedia off-line é uma ferramenta educativa de utilidade incontestada: um exemplo entre
muitos outros que se podiam dar em Física é o CD-ROM Cartoon Guide to Physics (Figura 9),
baseado no interessante livro com o mesmo título de Gonick e Huffman [36], que pode ser
usado para actividades tanto lectivas como extra-lectivas. Tal como outros produtos
multimédia destinados a aprender ciências, esse programa inclui um conjunto de simulações
interactivas.
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Apesar do sucesso do multimédia no ensino das ciências ter sido algo limitado, o seu papel
para aumentar a motivação dos alunos não deve ser ignorado. Com efeito, mesmo antes de
surgirem dificuldades de compreensão dos alunos, a falta de motivação para estudar ciências
pode ser a causa do falhanço.
4) Realidade virtual
A realidade virtual é definida por Harison e Jaques [37] como ''o conjunto de tecnologias que
permitem fornecer ao homem a mais convincente ilusão possível de que este está noutra
realidade; essa realidade (ambiente virtual) apenas existe no formato digital na memória de
um computador''. De facto, a realidade virtual pode ser entendida como uma tecnologia que
facilita a interacção entre o homem e a máquina e o ambiente virtual um cenário constituído
por modelos tridimensionais, armazenado e gerido por computador, usando técnicas de
computação gráfica [38]. Entre as primeiras aplicações da realidade virtual encontram-se a
visualização científica [39] e a educação [9].
De acordo com Papert [12], um bom ambiente de aprendizagem requer um contacto livre
entre o utilizador e o computador. Ora, a redução da interface é precisamente uma condição
necessária para se ter realidade virtual imersiva. Na utilização pedagógica da realidade virtual
o foco é, assim, colocado em ambientes que permitem aos alunos interagirem com o
computador sem restrições ou com o mínimo de restrições.
A realidade virtual fornece um conjunto de características que a tornam única como meio de
aprendizagem [38]:
• A realidade virtual é uma poderosa ferramenta de visualização para estudar
situações tridimensionais complexas.
Esse ambiente virtual abrange conceitos sobre fases da matéria, transições de fase, orbitais
atómicas e moleculares. Os cenários são visualizados num ecrã de computador, podendo ou
não existir estereoscopia. Neste último caso, recorre-se a óculos especiais (ligados à placa
gráfica do computador) que, em conjunto com o ecrã de computador, proporcionam o efeito de
relevo, isto é, a sensação que os objectos do cenário virtual ficam a pairar à frente do
utilizador, no espaço entre ele e o ecrã. A interacção do utilizador com o programa é feita de
modo convencional com o rato.
5) Internet
A Internet conheceu um sucesso espectacular na sociedade em geral e nas escolas em
particular [41]. Ela tornou-se a maior e mais activa de todas as bibliotecas do mundo, tendo as
paredes das salas de aulas sido ''derrubadas'' através da ligação directa às fontes de
informação. A Internet relaciona-se com os vários meios de uso do computador no ensino que
foram atrás discutidos. Com efeito, a utilização do computador em rede pode incluir a
exploração de:
• Simulações. Estas podem ser descarregadas da Internet ou utilizadas on-line se
estiverem escritas na linguagem Java ou similar (applets).
• A maior parte dos programas deixam bastante a desejar, não sendo utilizados
pelos alunos nem na sala de aula nem em casa.
• A avaliação dos programas é difícil, dado o número crescente destes. Tal dificulta o
conhecimento dos programas mais relevantes não podendo o professor apreciar
devidamente a adequação destes às suas necessidades pedagógicas.
VI Conclusões
As recentes tecnologias de base informática abriram novas perspectivas para o ensino e
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Referências
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