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DSTO anes De.” TRU Eduardo Guimaraes Copyright © Eduardo Guimaraes ae I. Guimaraes Coordenagao editorial: Ernesto ¢ Faitoragao eletrénica ¢ Capa: Eckel Wayne ‘Revisao. Equipe de Revisores da Pontes Editores Dados Internacionais de Catalogaga0 na Publicasio (C1P) Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil Guirnaries, Eduardo ‘Semintica do acontscimento: um estudo enunciativo 8 designagio / Eduardo Guimaraes ~ Campinas, SP : Pontes, 2* edigio, 2005. Bibliografi ISBN 85-71 1, Lingiistica 2, Nomes de rua 3, Nomes geogrificos 4. Nomes pessoais$. Portugués - seméntica I. Titulo 02-0075 cpp-469.2 Tnsices para catélogo sistematico: 1. Designagio : Estudo enunciativo : Semntica : Portugués : Lingiistica 469.2 2, Nomes : Sendo : Semfntica : Portugués : Linguistica 469.2 PONTES EDITORES Av. Dr. Arlindo Joaquim de Lemos, 1333 13100-451 Campinas SP Brasil Fone (19)3252.6011 Fax (19)3253.0769 ponteseditores@ponteseditores.com.br www.pontesecitores.com.br 2005 Impresso no Brasil SUMARIO APRESENTAGAO... INTRODUGAO.. Cartruol ENUNCIAGAO E ACONTECIMENTO .......... Caviruto O NOME PROPRIO DE PESSOA Captrevo IT NOMES DE RUA Caviruo IV NOMES DE RUA E 0 MAPA COMO TEXTO Cariruco V NOMES DA CIDADE Carireto VE A CIDADE E OS NOMES DE ESPAGO ...... 77 CONCLUSAO.. 91 BIBLIOGRAFIA .... 95 APRESENTAGAO Como para todo semanticista, a questdo da relagdo das palavras com 0 mundo sempre rondou meus interesses. Esta questao se p6s para mim pela via dos estudos argumentativos. Para esta posi¢do 0 sentido das expressoes lingiiisticas nao € referencial, ou seja, nao pode se apresentar a partir do conccito de verdade. Neste sentido, as expresses I ngilisticas significam no enunciado pela relagdo que tém com 0 acontecimento em que funcionam. Coloco-me deste modo, numa posi¢do materialista, junto com aque- les que nado tomam a linguagem como transparente, considerando que sua, \relacio com 0 real € historica) A partir do inicio dos anos 90 do século XX, ou seja, ha pelo menos dez anos, dediquei-me ao estudo das quest6es relativas ao dominio da de- signagdo e referéncia na linguagem. Inic almente meu interesse se deveu ao. estudo da questao da cidadamia nas constituigdes brasileiras. O que me levou a analisar a designacao de palavras como cidadao e republica nos diversos textos constitucionais da historia do Brasil, motivo de varios tex- tos publicados nestes ultimos 10 anos. Neste momento desenvolvi uma primeira abordagem da questao dos nomes proprios e de sua relagao com tudos eu os apresentei, no inicio dos anos 90,em os nomes comuns. Estes e: cursos na Pés-graduagio de Lingiiistica do Instituto de Estudos da Lingua- gem da Unicamp. Isto produziu, desde entao, 0 envolvimento de outras pes- soas nesta via de reflexdo enunciativa para os problemas da designagao. Neste periodo meus contatos com outros paises da América Lati- na e com a Unemat. em Caceres, me levou a refletir mais especifica- mente sobre as relagdes do Brasil com a América Latina, e sobre as telacées das linguas do Brasil (reflexdo que venho fazendo como mem- bro do Projeto Historia das Idéias Lingiiisticas no Brasil: Etica e Poli- tica de Linguas). Isto foi decisivo para a melhor configura¢4o do con- ceito de espago de enuncia¢ao. etos do Laboratério de Estudo; Unicamp. levei este meu interesse para os estudos das alan Panos A de: cidade, municipio. comarca, rua, nomes de ruas, etc, E 4 Tas da ida, dos nomes proprios acabou por assumir um lugar muito Ula quests, Neste livro estar 10 presente: muitos aspectos deste Bnificative, : qual espero poder contribuir para uma reflexdo sobre oe TCU, Pel sentidos configurada no interior de uma concepgao eee e on Ae histor, cada linguagem. Envolvido nos Pro) of aso ey a gull Colocar-se na posi¢ao do semanticista é inscrever-se num dominio de saber que inclui no seu objeto a consideragao de que a linguagem fala de algo. Pour outro lado, niio hé como pensar uma semintica lingiifstica sem levar em conta que o que se diz é incontornavelmente construido na linguagem. : E no espago conformado por estas duas necessidades que procura- rei configurar 0 que é para mim uma semintica do acontecimento. Ou seja, uma seméntica que considera que a anilise do sentido da linguagem deve localizar-se no estudo da enunciagio, do acontecimento do dizer. Por outro lado, considerando a prépria operagao de andlise, tomar © ponto de vista de uma semantica lingiiistica é tomar como lugar de observacao do sentida,6 enunciadd) Deste modo, saber o que significa uma forma é dizer como seu funcionamento é parte da constitui¢éo do sentido do enunciado. Mas para mim, considerar 0 processo no qual uma forma constitui o sentido de um enunciado € considerar em que medida esta forma funciona num enunciado, enquanto enunciado de um texto. Ouseja, nao h4 como considerar que uma forma funciona em um enunci- ado, sem considerar que ela funciona num texto, e em que medida ela é constitutiva do sentido do texto. Deste modo, procuro utilizar aqui o que Benveniste (1966)! consi- derou como o movimento intregrativo de uma unidade lingiiistica. Para ele esta relacio (integrativa) da o sentido da unidade. Ou seja, o sentido de um elemento lingiiistico tem a ver com 0 modo como este elemento faz parte de uma unidade maior ou mais ampla. Vé-se que ao fazer este uso da relacdo integrativa, a despeito de Benveniste ter dito que ela nao per- mitia passar do limite do enunciado, estou dizendo que ha uma passagem do enunciado para o texto, para 0 acontecimento, que nao é segmental. E esta é a relagao de sentido. INTRODUGAO 1, Em “Os Néveis da Aniilise Lingifstica”. @ Ones bo he fo, coloca de saida a questo do sujei cia, cae Hina vcotocaGio do lugar dos estudos da enunere tos isto deve fo do que eles tiveram ou (ém ainda em certas de saac sum ospag distin © Ot uamento da enunciagdo deve se dar nuns formulates. Mr wnsivel considera a consttuigao hist6rica do ee pase a coma se formule caramente, comouma disp cas see estan, fra de sas relagb€S Com a legiea ou ca pana cu come © matematizivel Ov Como UMA esti setopcamentedeterminads. i se rabalho mantémassim um didlogo com dominios comoa filo. sofa da inguagem. notadamenteateoria dos atos de fala, a pragmntic, sevmsntca argumentativa. Por Outro lado mantém também um diglogo aevocom a Andlise de Discurso tal como praticada no Brasil" e que se organiza e desenvolve a partir dos trabalhos de Pécheux. Mis especificamente, tomo a enunciago como um acontecimento rogue déa relagio do stjeito coma lingua. A questio é como desere- sere analisar esta relagao Ao lado de trataro sentido tal como acima exponho, vou considerar a questio do politico na linguagem, tomando como lugar de reflexio 0 da semantica, mais especificamente 0 dominio dos estudos da cenunciagao. Isto quer dizer que para mim enunciar é uma pritica politica ‘emum sentido muito preciso, que procurarei apresentar a seguir, no pri- meiro capitulo. Tanto a nogdo de politico, que vou fazer operar aqui, quanto minha concepsio de sentido so pensadas historicamente e no como uma agdo particular numa situagao particular. Como objeto especifico de reflexdo vou estudar a designagio, confundir a memria de sentidos (meméria discutsiva: interdiscurso) do io do icontecimento (memordvel de enunciages recortado pela temporal “imento). © que procuro é desenhar xticulaga, no quadro que aqui proponho, ‘entre o interdiscurso ¢ oacomtecimento 10. Lembro aqui dans posigies # respeito do politico ¢ da politica que se desenvolveramm no dominio do materialismo e com as quais minha posigio guarda relayoes evidentes. De um Jado a considerayo Jo politico como conflit, tal como Orlandi (1990) apresenta em Terra a Vista, ¢ de outto-a-consideragao da politica como dissenso tal como apresenta Racire (1995) em La mésentente, Evidentemente que estas duas posigBes no sto igut Valho-me aqui de um debate que se instal de pronto entre elas para formula 0 que seg 15 snuncia o excess0o das injusticas e das desi _polticade ale fi entrees e370 ca enuncia, Ou sea a meta-potitieg Jes relays ras da politica, de modo que para ela a politica é a my, uaa me ade sto leva meta politica a atacardieits form Fes ges ustertauss no coneito de Sobran, que ae {Gr posigao tudo o que vem do politico ¢ falso, modos de conceber 0 politico 0 tomam como a pri. “Assim estes trés 1 fr sad alo on do aparentee assim procuram organizé-lo, ou integréco og aaancié-lo, Como eno considera o politico” Ele nao nemo falso nem se erdadeiro. Procuro assim, a seguir, caracterizd-lo fora destas concep. oes negativas, para que possamos tratar do politico como fundamento das eragdessocais, no que tem importancia central a linguagem. Deste mod jimpeta, antes de ir frente, uma observagdo: o politico no 60 que se fala sobre a iualdade, sobre os direitos, etc. Colocar-se neste lugar & tambéme dinda conceber o politico negativamente, por tratd-lo como o lugar doen. zgodo, da, na melhor das hipéteses, doce mentira. 0 politico, oua politica, é para mim caracterizado pela contradic de uma normatividade que estabelece (desigualmente) um divisio do real eaafirmagio de pertencimento dos que nao estio incluidos. Deste modo ‘politico é um conflito entre uma divisdo normativa e desigual do real ¢ ama redivisio pela qual os desiguais afirmam seu pertencimento, Mais mportante ainda para mim & que deste ponto de vista o politico é incortornvel porque o homem fala. O homem esti sempre a assumir a palavra, por mais que esta the seja negada. Esta concepgio nos leva a algumas consideragdes aparentemente contradit6rias em principio. O Politico esta assim sempre dividido pela ddesmontagem da contradigo que 0 constitui. De tal modo que oestabele- cimento da desigualdade se apresenta como necessaria a vida social e a afro 7 Pertencimento, ede iguakdade,€ significada como abuso, eerie ea fs esmontagem € oesforgo do poder em silenciar!! a tin crete atv or nagulo que Racirechamou de po- fomer : on ae were Eatin ae ea colegiado uni- estgirio Pn que sintetizo: een o alu, diz gue aga nome da decisio do funconéio que demitiu autorizado a fazé-lo baseado nas regras 1. No sentido que ex He este conceit tem para Orlandi (1992), 16 que regem a assiduidade dos funciondrios. Aqui j4 poderiamos refletir sobre esta divisio do real feito pelas designagives que, no caso, ora categorizam alguém como aluno, ora como funcionétio. b) Um outro aluno, que defende o aluno/funcinndrio demitido, con- ¢ algo como duas horas ou mai tra-argumenta, incessantemente, duran que a questo nao € se o aluno seu colega (aluno estagisrio) deveria ser demitido de scu posto enquanto funciondrio, mas que ele o foi sem que Ihe fosse assegurado um direito minimo, consignado na declaragio uni- versal dos direitos do homem, o de apresentar sua defesa. O que temos aqui? De um lado a afirmagio de uma distribuigio de papéis, desigualmente, onde alguns podem fuzer coisas ¢ outros devem obe- decé-las, distribuigio feita pela adminsitragao, ¢ de outro a afirmagio de stencimento do aluno d categoria do humano na qual todos tm o direito igual de se defender de qualquer acusago. Categoria da qual, no sentido que ele Ihe da, o aluno estagidrio est4 sendo retirado. Esta afirmagao. de pertencimento, por precisar se repetir como eco por um longo periodo de discussio, significa sua falta de sentido no acontecimento. Ou seja, afirmar odireito é neste acontecimento sem sentido, para aqueles que falam do lugar da normatividade, por mais sentido que a afirmagao do aluno tena para ele ¢ 0 demitido (a Declarago Universal dos Direitos do Homem no é aqui memordvel). Esté-se diante, neste caso, do funcionamento da contradigao propria do politico, e de tal modo, neste acontecimento, que 0 esforgo enunciativo do aluno defensor do colega é tornado sem sentido, € sua enunciagio por mais que afirme o pertencimento do aluno & categoria do humano, nao consegue af significd-lo, pela sopreposigéo “gloriosa” do adminstrativo, e do homogéneo. O Politico & para mim nao o dizer normal zado da adminstracdo, nem simplesmente a afirmago de pertencimento do ala este conflito no centro do dizer. Ele se iormatividade das instituigdes sociais que mente o real e a afirmagdo de pertencimento dos no igualdade, do pertencimento do povo ‘20 povo, em conflito com a divisdo desigual do real, para redividi-lo, para refazé-lo incessantemente em nome do pertencitienito de todds no todos.” Iitico na linguagem. O acontecimento de linguagem por se dar nos espagos de enunciagao um acontecimento politico". Ou seja, a constituigo da temporalidade 12, Tratei desta questo em Guimaraes (20000). 17 faz pelo funcionamento da lingua e, doacontecimento 5S antes regulada por AQuant 10 li falantes regulada por uma deontojo te m elagio com linguas € 19°20" ~ 4 Ologia gig gt™a ‘elagio © aloha digeremuma 3, ESPACO DE ENUNCIAGAO Considerar configuragio do acontecimento, tal como fizem, colcua reas po toss aspetosdcisva:arelagdg ene he, alate pois nguas porque hi falantes © 86 hi fatanes jn BE Tinguas. Besta relago nao pode ser tomada como uma relagiig eae hi tposemumacerta stuaioas pessoa falamna lingua x,emouna 3. Por exemplo, no Brasil se fala Portugues, na Franca, Frances 8! ainda, no Paraguai se ala o Espanhol e o Guarani. Esta relacao ene je ioe (tselinguas interessaenquanto um espago repuladoe de disputes pena = la- wae pels lingua, enquanto espaco politico, portanto. A lingua dish, 4 no send de que ela € necessariamente atravessada pelo politica ¢ a ] a | normativamente dividida e é também a condigao para se afimar » (pseneinento dos nao incluidos, a igualdade dos desigualmente divididos Os falantes no io os individuos, as pessoas que falam esta ou aguela lingua Os falantes io estas pessoas enquanto determinadas pelas lings que falam, Neste sentido falantes ndlo so as pessoas na atividade fee. Aisidlogica, ou psiquica, de falar. So sujeitos da lingua enquanto constit ‘dos poresteespago de li ado tui- as ¢ falantes que chamo espago de enunciaga uas ¢ falantes s 1unciagéo, Deste modo considero que 0 falante, tal como o conceituo, é categoria linguisticae enunciativa, Neste ponto diferencio minh posigio da de Ducrot. Mas num sentido muito preciso. Primeiro devo dizer que Fenago ate ofalante tal como Ducroto conceitua (como figura fisco- renga on itt), no 6 um personagem da enunciagio. Minha dife- Inesuma eure gorsidero. que 0 falante nio é esta figura empirica medida ee tea constitu pelos espacos de enunciagdo. Enesta eve ser fncluida enitre as figuras da enunciagio. Os espagos « le enunciagio so espagos i r 085, que se dividem, redivi ium, desfare, tonsa : idem, se misturam, desfazem, transformam or uma d fn |, desfazem, tr Spor suites dig SHO esPacos “habitados” por falantes, ou Aine. Sioespagos const eee es lites a0 dizer e aos modos de Ment: da door tudes pela equivocidade prépria do aconteci indissociado desta qe, du O*eaniza e distribui papéis, e do confit, ontologia, que redivide o sensivel, os papéis soci 0 pani "5 Tone agi tile 2 formulagto que the deu Ducrot (1972) em Dire ete 18 O espago de enunciagio um espago politico, no sentido em que considerei hi pouco 0 politico. a ‘Tomemos um exemplo, O que ¢ falar Portugués na América Latina hoje?" Primeiro aspecto: é falar uma lingua oficial de um Estado, que nesta medida esté numa relagio de convivéncia ¢ de disputa na América Latina com 0 Espanhol, também lingua oficial de varios Estados vizi- hos do Brasil! Segundo aspecto. Consideremos, por exemplo, um fato como a de- rivagdo que em Portugués forma palavras como acessar. Esta palavra, tal como delerar ¢ tantas outras, entra no Portugués do Brasil por uma relagio com o Inglés. ‘Se tomamos acessar, podemos vé-la como um derivado de acesso, ‘o que seria perfeitamente possfvel em virtude dos procedimentos de deri- vacdo da Lingua Portuguesa. Mas é preciso ver af também, mesmo neste aso (0 caso de delerar envolve o fato de que nio hi delerem Portugués). que acessar € um derivado em Portugués de to acess do Inglés. Estamos diante de uma divisdo tal que o espago de enunciagio do Portugués do Brasil inclui uma relagdo com o Inglés, Em outras palavras, 0 espago de enunciagiio do Portugués ¢ também ocupado pela lingua inglesa. ‘Tomemos um outro exemplo interessante. Houve, durante um pe- riodo recente, em Campinas, um estabelecimento comercial cujo nome era Center Frutas Broto. Estamos aqui diante de um procedimento de nomeagio ha jé algum tempo em funcionamento no Brasil ‘O que temos nesta nomeagio? Ela se constr6i por uma relacdo dire~ ta entre falante eas linguas portuguesa ¢ inglesa. Nao simplesmente por- que hi empréstimo de uma palavra, center, ou porque sé construiu um nome com uma frase inglesa, o que seria também um simples emprésti: mo. Estamos diante de um embate em que o falante esté divido por sua relagiio com duas Ifnguas: veja como a presenga do center nao define a sintaxe nem como inglesa nem como portuguesa: no primeiro caso seria Broto Frutas Center ¢ no segundo Center de Frutas Broto. Ha algo em frutas (Portugués) que impede a primeira construcio, ¢ hi algo em center (€ uma palavra “emprestada” com sua sintaxe) que impede a segunda construgio. Ou seja, esta nomeagZo se dé num espaco de enunciagio em que o Inglés fomece modelos ao Portugués. Mas este modelo niio se cum- ‘Ta. Vou retomar e amphar, segundo a especificidae desta perguata, uma anise que fiz em “Pola dein ma Ariana (Gimares, 197) soe espn de enunago 15 Pano me trait a questo da dipt, aero embr: or exemplar de incompreensio ds flanes de Espanhol relativamente 20 Portuguts, opostaprica de Soteoceyenr ee is ieeleé refeito pelo embate das linguas ‘ode enunciagao. Mo tate apo,comunta COnfiBUTAGTO diversa, 66 poy, vento do reso BENTO, eM LM Outro bain Center. Neste €as0 0 falante esté toma, Cami. pola lingua que no é a sua. ee uiga mo se pode deixar de levar Gm conta ue lnguag ts ¢ Espanol nao sto, no espaco de enunciacao lating como Posts al coma linguaiglesa, que tem, neste espagyen american, 1 Espanol, uma legitimidade especial, notadamente pars Pores nade umn certo tipo: Comercio, ciéncia' ete. rele my aguilevando em conta um conjunto de tantos outros problenasexremamente relevant como, por exemplo, no Braise pmrainda em torn de 150 Kinguas indigenas, virias linguas europé ee orients, af incluindo o Espanol, notadamente em regides de fron. oi no Brasil inclusive, indios que falam Espanhol preferencial. rete Dada a descrigao acima, com a devida ressalva, podemos dizer que oespaco de enunciagao latino-americano caracteriza-se por uma disputa pela palavra regulada por uma distribuigdo de papéis que colo- cabrasleros latino-americanos dos demais paises como falantes que ‘excluem a lingua do outro e incluem o Inglés como “lingua franca", ‘mesmo que uma pessoa em particular no a fale. A questiio aqui nao é individual. Nest espago rabalhar o ensino do Portugués do Brasil nos pafses Vizinbos e do espanhol no Brasil é um modo de redividir 0 espago para tomé-lo cada vez mais sul-americano e cada vez menos norte-americano ‘ou europeu, ao lado de trabalhar a resisténcia ao avango do Inglés, ‘notadamente 0 americano, como lingua de todos. E uma resisténcia a um a Nao se trata aqui de uma atitude quixotesca caramels como aquela que busca probir 0 uso de palavias pom respec Ss, A questo poltca é noutro lugar, inclusive ted pele 40 sto espacos, divididos desigualmente, outa ee questo doespago de enunciagdo através de uma Primcoaspeio a ee Portugués no Brasil? Sem davida que 0 Ofcil do Estado Braces omsiderar € que o Portugués € a lingua Tacs iO © 6, nesta medida, a Tingua nacional €o re uma pote de nguas em “Proao eC 49 © Linguagem” (Guimaraes, 1999a). yetamente por Narela. Perteom o alate Ne eI ‘Um outrocas estab yn outro estabel deus cambui Fruit lo. no, Brasil. Ou seja, é clemento de identificagdo de sujeitos enquanto cida- dios do Estado. Mas falar Portugués no Brasil é falar uma lingua que io varias. Assim a relagdo dos falantes com a lingua esti regulada por uma relagio com a lingua do Estado, enquanto uma lingua. « Hingua (una) do Estado: gramatizada", normatizada. Esté por outro lado regu- ada pelo fato de que ha regides em que se fala, por exemplo. {mut'o] (como em Cuiabé), ¢ outras em que se fala [muito]. Regides em que se fala [mat] (como cm Piracicaba, Sio Paulo) e regides em que se fala [mar]. Consideremos, para os efeitos desta argumentagio. que estes poucos fatos sejam todas as diferengas existentes que temos neste espa- oenunciativo. Nao ha igual direito a dizer [muto] ou {muito}. ou {mai} ¢ [mar]. O direito a palavra é distribuido de tal modo que ele & um para ‘0s que dizem [muito] e [mar] e outro para os que dizem {mut o} ¢ para ‘os que dizem [maf]. Assim falar Portugués é estar afetado por estas divisbes que caracterizam o espago de enunciagao da Lingua Portugue- sa no Brasil. Nao estamos aqui considerando todo um conjunto mais complexo de questdes como o fato, jé referido antes. de que se falam no Brasil intimeras linguas indigenas ¢ diversas linguas européias e orien- tais. Isto me leva a dizer que, do ponto de vista que aqui assumo, uma lingua ndo é varidvel, no sentido em que esta nogio é tomada pela sociolingtifstica quamtitativa Para mim uma linga é dividida, de tal modo que ela & uma e é dife- rente disso. E esta divisio diz respeito exatamente 3 relagio dos falantes coma lingua, de tal modo que os falantes se identificam exatametne por essa divisiio. No caso do nosso pequeno exemplo, hd os falantes que se identificam pela divisio da lingua que os faz dizer [mut‘o] de um lado ou [muito] de outro. E esta divisio € marcada por uma hierarquia de identidades. Ou seja, esta divisio distribui desigualmente os falantes segundo os valores prdprios desta hierarquia. E aqui pode-se ver comoa Escola, entre outras instituigdes e instrumentos, é fundamental na configuragio do espago enunciativo de uma lingua nacional, no nosso caso 0 Portugués. Ou seja, aEscola é fundamental no modo de dividir os falantes ¢ sua relago com a lingua. E estar identificado pela divisio da lingua & estar destinado, por uma deontologia global da lingua, a poder dizer certas coisas e nio ou- tras, a poder falar de certos lugares de locutor ¢ nio de outros, a ter certos interlocutores ¢ nido outros. T7_ No sentido que tem gramatizago para Aurous (1992). 2 porexemplo agus que € demic ade po falar moto] ou may soar cinrrspamente para scus familiares, amigos. colegas, hab. Pode faa on nde poae falar como locwtor-jormalista, na ele eae Telespectadores. Mesmo que estejamios considerando a te rane renin de Curabic Caceres, no Estado de Mato Grosso, de um pas Piracicaba ¢ Tu, no Estado de Sao Paulo, de outro, Ele 56 Pareto se aparecer como tim personagem € nao Como UM apre- yor Ou seia- ele peste ser na midia sé locutor-cuiabano, 0 locutor pode sent piracicabuno. Aparecer com personagem ¢ aparecer como locutor cits. dona fala do locutor-jomalista que ele nao pode ser. Este tipo de questo € extremamente importante para dar um sentido muito forte ao modo Come estamos considerande a divisdo do Locutor que, ao desconhecer aque fala de um lugar sovial. desconhece que seus lugares de fata foram dividos ¢ interditados. Operar sobre ¢ contra este desconhecimento & 0 proprio do politico no acontecimento de linguagem. Antes de terminar estas consideragdes sobre 0 politico quero reto- maras distingSes entre arqui-politica, para-paliticae meta-politica. aoretomi-la, que uma abordagem sociolingiistica quantitativa, enquan- to tal, opera com o conceito de para-politica, jd que suas descrigde: distribuem para cada um o que € seu, neutralizando 0 confit por um procedimento descritivo do que & de cada um. Ao lado disso ela pode ‘operar per acréscimo, no eatamente por seu dizer cientifico, como mera- politica. como forma de denunciar a distribuigdo do que & de cada um para cads um, Ou seja. ou ela integra o conflito ou pode falar sobre ele. (0 Espago de enunciagdo é assim decisivo para se tomar a enunciagao como uma pritica politica ¢ ndo individual ou subjetiva, nem como uma distibuiciocsratifeade Je czas cos lc ay foacontecimento, ¢ nao pela assungdo de um in este semtido. dirs a enunciacao se dé por agenciamentos es- Police antes No acontecimento o que se dé'é um agenciamento fos capa causing. Neste embate entre linguas e falantes, préprio cna ios de enunciagao, os falantes sao tomados por ager expectteas co agenciamento enunciativo para “aquele que fala” ¢ “aquele para quem se ie Na cena enunciativa “aguele ave (ala ou “aqusle pars quem] ‘Sido lugares constituidos pelos dizeres ¢ nav pessoas donas de seu dizer ‘Assim estudi-la é necessariamente considerar 0 proprio modo de consti- tuigdo destes lugares pelo funcionamento da lings Esta distribuigio de lugares se faz pela temporalizagdo propria do acontecimento. Neste sentido a temporalidade especifica do aconteciment €fundamento da cena enunciativa. Na continuidade do que vimios colocando desde Teto ¢ Ars ‘do, podemos considerar que assumir a palavra € porse no enuncia, o lugar do Locutor que vou chamar de Lecutor (com Ja), ou simplesmente L™. L € entio o lugar que se representa no propel dizer como fonte deste dizer. F desta maneira representa otempo do dizer icima exposto é decisive tratar de ur modos, ss cnune ay, jelaconside tomo ayui vque Dust chan de pifoa sasacem Tea e Argamcnty i . ce cnstitick soe Fons 4 alu rauncik ue Da gee ue onde rocury caracterigaf MBO a ue segue, retomo spray a diferenya gue 648 apr ago foc or engquanto pessoa et eel ey aac manta fenton ambéinlistingo, mas num outro quadro de cate gs ‘multiplicago sdas iguras da enuniciag, mas sua 8 23 smporingo deste mesmo L, assim representa odizer como 9 conte que esti no presente const poreste L. i te constituido por : os ecta representagio de origem do dizer, na sua propria repr re is tagio de unidadee de pardmetro do tempo se div cag ee ce fe L enecessirio estar afetado pelos lugares rizados 0 lugar de oe mado, c em que lingua (enguanto falantes). Ou seja, pary afar dea epresentar como oFigem do que se enueia, & preciso que Sic ngo seja ele proprio, mas um lugar social de Locutor. Tomemos um, Skemplo inicial. Se o Presidente da Repablica, ou um Governador de Exado DecrctaX. ele 0 faz nio porque alguém se da si sera origem do ue Decreta. mas porque enguanto Presidente (Falante de Portugués) ele pode se dar como origem daguito que Decreta, ou melhor do proprio ato de decretar.O que significa dizer que assumir a palavra para decretar s6 Epossivel na medida em que o Locutor, que se dé como origem do decte- to, s6 0 & enquanto constituido como um lugar social de locutor, ou seja, olocutor-presidente que fala em Lingua Portuguesa. Em outras palavras, © Locutor s6 pode falar enquanto predicado por um lugar social. A este Tugar social do locutor chamaremos de locutor-x, onde 0 locutor (Com ‘indscula) sempre vem predicado por um lugar social que a varivel x Tepresenta (presidente, governador, etc). Assim € preciso distinguir 0 Locutor do lugar social do locutor, e é s6 enquanto ele se dé como lugar social (locutor-x) que ele se di como Locutor. Ou seja, o Locutor € dispar asi, Sem esta disparidade no hé enunciacio. Deste modo, no acontecimento de enunciagao ha uma disparidade constitutiva do Locutor e do locutor-x, uma disparidade entre o presente do Locutor e a temporalidade do acontecimento,! Esta distingo pode ser diretamente mostrada, no caso do ato de decretar, pelo préprio modo de dizer o decreto, que se dé em formas do tipo “O Presidente da Repiiblica, no uso de suas atribuigdes, decreta Neste caso o Locutor esta diretamente separado do locutor-x que decreta, tor sempre lcutor president, locutorindio, locutor-consum fan ge omnis, et. No caso do decreto,o locuor-presidente & peer tun Pogues. Ou seja, no ha decreto do presidente a pes cca Potuges. sa configuaod expug de enunciao, definigao da Lingua Pateeaeaen eee lugar de insepurcbildae da lingua edo Estado cog pee Nee resisncia sa igua e do Estado esta o ponto da méxima Se nsus, 0 Inglés por exemplo, que pode até ser lingua "9: Lembro aqui Rance (1962), que : oe (omit falante ¢anacrbnieg como} ‘uma andtise enunciativa do discurso da historia, diz 24 deciéncia para cientistas brasifeiros, mas nfo é a lingua para a legislagao a lingua de um ato de decretar, por exemplo. semos part UM outro aypecto da questo, Tomerios um enuncia: do do cotidiano como “eu prometo que vou a sua casa” Aqui parece se poder dizer quea promessitédo ctr dado como origem da promessa, distin todo en de vou, aqucle que devera cumprir a promessa. Av contririv disso SO a Expressiio da primeira pessoa em prumeta & 6 a marca da representagdo da origem, marca que representa seu presente como co tempo do dizer. Ou seja, este en é a representagao de que naw hé lugar social no dizer. f, de um lado, a marca do desconhecimnento do Locutor a propésito do lugar do qual fala: de amigo, de pai. de filho, de verd ‘Ou seja, de que lugar pode prometer algo a alguém? Em outeas palaras, 0 eu do Locutor € 0 eu que nio sabe que fala em uma cena enunciativa. E assim um eu que desconhece que fala de algum lugar. A tal ponto que se toma como a pessoa, meramente enquanto tal, que deverd cumprir sua propria promessa. Aqui o lugar de Locutor se representa como li dizersimplesmente. E neste caso um lugar de dizer que se representa como individual”. Vou chamar este lugar de dizer de enunciador. Consiserare- ‘mos, no caso em andlise, que se trata de um enunciador-individual. Ou seja, estamos diante de uma enunciagdo que se di como independente da historia pela representagio desta individualidade a partir da qual se pode falar. O enunciador-individual, enquanto um lugar de dizer. traz um aspee- to especifico para isto que estamos chamando lugares de enunciagao. Ea representagdo de um lugar como aquele que esti acima de todos. como aquele que retira o dizer de sua circunstancialidade. E ao fazer isso repre- senta a Tinguagem como independente da historia Um outro lugar de dizer, que se apresenta como 0 apagamento do lugar social, é o do enunciador-genérico, Pensemos aqui em ditos popu- Tares como “Quem semeia vento colhe tempestade™. Neste caso o Locu- tor também simula ser a origem do que aqui se diz, Mas o que ai se diz é dito, nao de um lugar individual, independente de qualquer contexte, mas 6 dito do lugar de um acordo sobre o sentido de repetir 0 dito popular. 0 que se diz é dito como aquilo que todos dizem. Um todos que se apresenta como dilufdo numa indefinigao de fronteiras para o conjunto desse todos. O enunciador se mostra como dizendo com todos os outros: se mostra como um individuo que escolhe falar tal como outros individuos, uma outra forma de se apresentar como independente da historia. fata tém opera sobre um desconbecimento O Tnaeaatease uo € uma ag3o individual, é a constituigdo de fundamental, ode que um ato de linguag um sentido, por um agenciamento enunciativ espectice 25 9, Quando se faz uma afirmagio sem qualque, ‘Anda um out in ea pessoas morrem’, 0 enUNCIAGOT, 20 Se apre, modalizagocome +, apresenta-se como quem diz algo verdade;, -enar como our dO Oe diz com os fatos. O que esta representa, sem virude da raga tificagio do lugar do enunciador com ¢ co significa?” SH soja. um lugar de dizer que se apresenta como nig Iugardo univers stand fora da historia, ou melhor, acima dela, Este send soil como tr de enunciagao como Sendo 0 lugar do qual se pe mundo. O enunciador-universal é um lugar que significa o fe sroreomo submetido 20 regime do verdadeiro edo falso. Este lugar préprio dodiscurso cientfico, ‘embora nio seja exclusivo dele. A afirma. rer, porexerplo. no é exclusiva do diseurso cientitico ‘Consideramos, entio, que a cena enunciativa coloca em jogo, de um lado, lugares sociais do locutos, papéis enunciativos como locutor. “brasileiro, locutor-presidente, locutor-jornalista, locutor-professor, lo- eutor-indio, locutor-consumidor, etc. O Locutor ndo se apresenta senio éenguanto predicado por um lugar social distribuido por uma deontologia do dizer. De que lugares sociais € possivel dizer 0 que se diz e deste modo? “Por outro lado, acena enunciativa coloca em jogo, também| lugares

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