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ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS


PRAIA DE BOTAFOGO, 190/10.° ANDAR
RIO DE JANEIRO - BRASIL - CEP 22.250

LAUDO SOBRE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Como integrante da Banca Examinadora, designada

pela EPGE para julgar a Dissertação de Mestrado intitulada "A DE

MANDA POR MOEDA E A QUESTÃO DAS INOVAÇÕES FINANCEIRAS: O CASO DO

CARTÃO DE CRÉDITO", do candidato ao título Sr. Jorge Cláudio Ca


valcante de Oliveira Lima, sou de parecer que a referida Disser

tação seja aprovada e outorgado o título pretendido pelo candi


dato e autor desse trabalho.

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1990

Antônio [Saxazar P. Brandão,


Presidente da Banca e
Professor da EPGE

A-4 Formato Internacional


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GETOlK) VARQAS

TESE DE MESTRADO
APRESENTADA À EPGE

POR
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

A DEMANDA POR MOEDA E AS INOVAÇÕES FINANCEIRAS:

O CASO DO CARTÃO DE CRÉDITO

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À CONGREGAÇÃO DA

ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA (EPGE)

PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM ECONOMIA

POR

JORGE CLÁUDIO CAVALCANTE DE OLIVEIRA LIMA

Rio de Janeiro, RJ

OUTUBRO, 1990

r
ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

CIRCULAR N? 64

Assunto: Apresentação e defesa pública

de Dissertação de Mestrado.

Comunicamos formalmente à Congregação da Escola que está

marcada para o dia 19 de novembro de 1990 (2§ feira), às 13:30h,

no Auditório Eugênio Gudin (10^ andar), a apresentação e defesa

pública de Dissertação de Mestrado em Economia, intitulada "A DE

MANDA POR MOEDA E A QUESTÃO DAS INOVAÇÕES FINANCEIRAS: O CASO DO

CARTÃO DE CRÉDITO", do candidato ao título Sr. Jorge Cláudio Ca

valcante de Oliveira Lima.

A Banca Examinadora "ad hoc" designada pela Escola se

rá composta pelos doutores: Fernando de Holanda Barbosa, Luiz


Guilherme Schymura de Oliveira, Clovis José Daudt D. Lyra de

Faro e Antônio Salazar Pessoa Brandão (Presidente).

Com esta convocação oficial da Congregação de Professo

res da Escola, estão ainda convidados a participar desse ato a-

cadêmico os alunos da EPGE, interessados da FGV e de outras ins-

t ituições.

Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1990

fario Herrrtqúe Simonsen


Diretor da EPGE
ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
PRAIA DE BOTAFOGO, 190/10.° ANDAR
RIO DE JANEIRO - BRASIL - CEP 22.250

LAUDO SOBRE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Como integrante da Banca Examinadora, designado

pela EPGE para julgar a Dissertação de Mestrado, intitulada "A

DEMANDA POR MOEDA E AS INOVAÇÕES FINANCEIRAS: O CASO DO CARTÃO DE

CRÉDITO", do candidato ao título Sr. Jorge Cláudio Cavalcante


de Oliveira Lima, apresento as seguintes ponderações que justifi
cam meu parecer e voto:

1) 0 trabalho apresentado pelo candidato descreve completa e de


talhadamente o funcionamento do mercado brasileiro de cartão de

crédito;

2) A introdução do cartão de crédito, como uma inovação finan


ceira na demanda por moeda de nosso país, sugere alguns bons
resultados, embora o "sigilo bancário" impossibilite conclusões
mais gerais.

Assim e nessas condições, sou de parecer que a


referida Dissertação seja aprovada e outorgado o título pretendi
do pelo candidato e autor deste trabalho.

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1990

uilherme ymura dei Oliveira,


Profe da EPGE

A-4 Formato Internacional


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^FUNDAÇÃO
GETVUO VARGAS
ESCOLA DE POS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
CAIXA POSTAL 9OS3-ZC-O2

RIO D« JANEIRO - RJ - BRASIL

LAUDO SOBRE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Como integrante da Banca Examinadora, designado pela


EPGE para julgar a Dissertação de Mestrado, intitulada "A DE
MANDA POR MOEDA E A QUESTÃO DAS INOVAÇÕES FINANCEIRAS:0 CASO
DO CARTÃO DE CRÉDITO", do candidato ao título Sr. JORGE CLÁU
DIO CAVALCANTE DE OLIVEIRA LIMA, apresento as seguintes pon
derações que justificam meu parecer e voto:

a) 0 autor apresenta,na sua Dissertação, uma análise bastante


detalhada da utilização do cartão de crédito nas transações
econômicas;

b) 0 autor investiga a hipótese de que o cartão de crédito po


de ser tratado como uma inovação financeira que afeta a de
manda de moeda, e deste modo contribui para uma melhor com
preensão do papel das inovações financeiras no comportamen
to da demanda de moeda no Brasil.

Assim e nessas condições, sou de parecer que a referi

da Dissertação seja aprovada e outorgado o título pretendido


pelo candidato e autor deste trabalho.

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1990

Fernando de Holanda Barbosa,


Diretor de Pesquisas/EPGE .

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210x297 mm
ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
PRAIA DE BOTAFOGO, 19O/10.° ANDAR
RIO DE JANEIRO - BRASIL - CEP 22.250

LAUDO SOBRE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Como integrante da Banca Examinadora, designado pela

EPGE para julgar a Dissertação de Mestrado, intitulada "A DEMAN

DA POR MOEDA E A QUESTÃO DAS INOVAÇÕES FINANCEIRAS: O CASO DO

CARTÃO DE CRÉDITO", do candidato ao titulo Sr. Jorge Cláudio Ca

valcante de Oliveira Lima, sou de parecer que a referida disser

tação seja aprovada e outorgado o titulo pretendido pelo cândida

to e autor deste trabalho.

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1990.

Clovis de Faro,

Professor da EPGE.

A-4 Formato Internacional


210x297mm
AGRADECIMENTOS

Esta dissertação é parte de um projeto de pesquisa pessoal, mas que não seria possível

sem a ajuda de muitos.

A maior dívida é para com o orientador da tese Antônio SaJazar P. Brandão que sem

pre se mostrou uma fonte inesgotável de críticas, comentários e sugestões. Um agradec

imento especial ao professor Fernando de Holanda Barbosa que em muito contribuiu

para a finalização desta dissertação com comentários sempre precisos e por fim gostaria

também de agradecer aos professores Luiz Guilherme Schymura de Oliveira e Clóvis de

Gostaria de estender o meu agradecimento à várias outras pessoas que também me

auxiliaram. Aos amigos Ricardo de Oliveira Cavalcanti, Maria Teresa, Eduardo Ferreira,

Márcio Bezerra, Antônio José e Pablo Montaldo pela companhia e discussões. Aos pro

fessores e amigos Luiz da Costa Laurencel e Saulo Bispo dos Reis que me ajudaram

com opiniões bastante amadurecidas. Às amigas. Denise Lopes, Denise, Lygia, Helena

e as tantas outras que com sua simpatia estavam sempre prestes a esclarecer eventuais

dúvidas.

Não poderia deixar de registrar um agradecimento especial aos amigos José Carlos
e Leila que participaram de tantas idas e vindas, mas que sempre tinham um sorriso

companheiro.

Por fim aos meus pais e irmãos que com seu sangue nordestino me deram a com

preensão, tenacidade e perseverança indispensáveis à realização de tal trabalho.

li
ÍNDICE

í- Introdução xi

2 - Considerações Iniciais Sobre o Cartão 1

2.1 - Finalidade . 1

2.2 - Evolução do cartão 2

2.3 - Aspectos Operacionais 21

- Problemas Operacionais 21

- Situação atual do cartão ' 36

- Perfil do mercado 40

- Perspectivas do setor 46

3 - Capítulo 2 . .63

3.1 - A Dinâmica da dívida do cartão de crédito 63

3.2 - A hipótese de discriminação de preços e o cartão 80

3.3 - A Teoria da escolha envolvendo risco e o cartão 89

iii •
4- Capítulo 3 115

4.1 - Introduzindo o cartão . 126

4.2 - Demanda de moeda - interpretação teórica da influência

do cartão de crédito sobre a demanda de moeda 133

4.3 - A Abordagem Is-Lm 135

4.4 - Uma abordagem algébrica 165

5 - Capítulo 4 189

5.1 - Introdução 189

5.2 - Especificação da demanda de moeda 190

5.3 - Inovações financeiras 194

5.4 - Cartão de crédito 203

5.5 - Estimativas 205

5.5.1 - Inovações financeiras 217

5.5.2 - Cartão de crédito 233

6- Conclusões 251

iv
7 - Bibliografia 256

8 - Apêndice 265

- Estatísticas

- Tabelas e Gráficos

- Regressões
ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES

Página

1 . Cartão de Credenciamento A-l

2 . Posição do Cartão de Credito A-2

3 . Cartão de Crédito A-3

4 . Principais Cartões nos EUA A-4

5 . Faturamento dos Cartões A-5

6 . Curva Logística A-6

7 . Contrato de Adesão A-7

8 . Contrato de Emissão A-8

9 . Funcionamento do Cartão A-9

10. Extrato Mensal/Comprovante A-10

'11. Divisão do Faturamento A-11

vi
12. Perfil do Mercado A-12

13. Como se divide as Compras A-13

14. faturamento do Setor de Cartão A-14

15. A ciranda do Cartão A-15

16. Evolução da Inadimplência A-16

17. Características dos Portadores de Cartão A-17

18. Contrato do Fornecedor e ADM. ' A-18

19. Volume dô Cheque sem Polidos A-19

20. Velocidade-Renda da Moeda A-20

Vil
ÍNDICE DAS TABELAS

Página

1 . Tempo em Meses para Pagamento da Dívida A-21

2 . Teste de Solvência Forte A-21

3 . Relação DMAX/£0 A-22

4 . Parcela dos Recursos A-22

5 . h/Zo = 6,25% - Duração em Meses A-23

6 . k/Zt = 6,25% - DMAX/D0 A-23

7 . Relação Preço com Cartão /à Vista A-24

8 . Lista Parcial de Algumas Inovações A-25

vui
ÍNDICE DOS GRÁFICOS

Página

1 . Gráfico 1 - Atitudes lYente ao Risco A-26

2. Gráfico 2 - Custo Médio da Transação A-27

3 . Gráfico 3 - Atitudes Frente ao Risco A-28

4 . Gráfico 4 - Demanda x Oferta de Crédito A-29

5 . Gráfico 5 - Fluxo de Pagamentos A-3Ô

6 . Gráfico 6 - Esquema Triangular A-31

7. Gráfico 7 - Relação LM . A-32

8 . Gráfico 8 - Derivação Da LM A-33

9 . Gráfico 9 - Introdução ao Cartão A-34

10. Gráfico 10- Elasticidade da Demanda de Moeda A-35

11. Gráfico 11- Relação LM A-36

ix
12. Gráfico 12- Demanda por Motivo-TYansação A-37

13. Gráfico 13- Demanda por Motivo-Precaução A-38

14. Gráfico 14- Influência do Cartão A-39

15. Gráfico 15- Freqüência Relativa A-40


1-INTRODUÇÃO

O cartão de crédito é um instrumento relativamente recente de que dispõe os con

sumidores e que somente agora parece ter realmente tomado um impulso grande. A

indústria de cartões de crédito vêm crescendo algo em torno de 15 % ao mês em meio

a uma situação de estagnação da economia brasileira e esta vitalidade parece dar sinais

de não ser passageira, ainda que fortemente influenciada pela inflação.

O comércio varejista têm mostrado um declínio acentuado enquanto o faturamento

das empresas administradoras de cartão vêm crescendo mês a mês a despeito da situação

de decréscimo do produto. A inflação avassaladora descobre uma das facetas atraentes

do cartão ao postegar o pagamento para até 40 dias depois das compras, Não obstante

observa-se uma concorrência ferrenha das empresas de cartão na disputa por este filão

de lucros crescentes.

A constante modificação do cenário econômico enseja mudanças rápidas neste mer

cado tão volátil. Ante a essas observações algumas questões afloram imediatamente.

Uma vez que os cartões possibilitam um maior endividamento e mais do que isto efeti

vam o potencial de impulso latente em cada indivíduo, ou seja, o indivíduo para adquirir

um bem não mais necessita dispor do numerário para efetuar a compra podendo sacar

o cartão e arrebanhar a mercadoria, uma questão vem à mente: como o cartão afeta a

demanda por moeda?

xi
Esta questão é sem dúvida alguma importante. Dentre as diversas prescrições conce

bidas pelos economistas no sentido de equacionar situações de desannonia na ambiência

econômica está a política monetária. Muita importância têm sido dada às perturbações

causadas pelo que se convencionou chamar de inovações financeiras1. Será que estas

pertubarções se traduzem em uma menor eficácia da política monetária? Dentro desta

perspectiva colocada e tomando-se o cartão de crédito como uma inovação financeira,

qual seria o impacto em termos do Brasil da introdução do cartão de crédito sobre a

demanda por moeda, ou ainda sobre a política monetária? Sim, porque ao introduzir-se

o cartão de crédito possibilita-se ao agente econômico abstrair-se do pagamento e assim

sendo cai a quantidade de moeda demandada por este indivíduo para a realização de

suas transações.

A proposta deste trabalho é, tomando como referência o cartão de crédito, avaliar

as possíveis influências do cartão sobre a demanda por moeda. Assim estruturamos esta

pesquisa da seguinte forma. Um capítulo inicial trata dos aspectos mais gerais do cartão

como o aparecimento, sua evolução, modalidades, aspectos operacionais etc ... Constitui-

se como objetivo explícito deste primeiro capítulo situar o objeto de estudo e ao mesmo

tempo tratar de alguns problemas práticos que hoje estamos presenciando como por e-

xemplo a inegável atratividade do cartão ante a virulência da inflação. Um segundo

'qualquer inovação que venha a reduzir os custos de transação

xii
capítulo trataria de fornecer algumas idéias concebidas dentro da teoria econômica e

aplicá-las. É o caso da teoria da escolha envolvendo o risco e a decisão entre a utilização

do cheque (risco) vis-à-vis o cartão (sem risco).

No terceiro capítulo trataremos de abordar o cartão dentro das diversas teorias de

demanda por moeda para desta forma averiguar como se daria esta influência sobre a

demanda por moeda. Quanto a este ponto damos especial atenção à análise keynesiana

e sintetizada pela análise IS-LM. Um outro modelo desenvolvido aqui neste contexto é o

modelo de Baumol sobre sua teoria de encaixes.

No quarto capítulo mostramos a evidência empírica que pode ser coletada a partir

dos dados da economia brasileira. Estaremos interessados em estimar uma equação de

demanda por moeda que capte este efeito acima alertado. Por fim apresentaremos as

principais conclusões que pudemos extrair do arrazoado teórico e constatadas ou não

pelos nossos dados.

xiu
2 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O CARTÃO DE CRÉDITO

2.1 - Finalidade

O comércio sempre impulsionou a atividade econômica, e em seu bojo assistimos o

aparecimento de instrumentos que visavam dinamizar a atividade comercial e permitir

desta forma maiores vendas e portanto maior circulação da riqueza ensejando um maior

crescimento econômico. Neste contexto deve ser inserido o cartão de crédito, um instru

mento que no início se restringiu a utilização dos próprios comerciantes, mas que com

o desenvolvimento posterior deste passa a ser administrado por bancos e/ou empresas

intermediárias. •

A finalidade principal dos cartões é a de facilitar a venda de bens e/ou prestação de

serviços permitindo ao seu usuário um pagamento diferido para um momento posterior

ao ato da compra e assegurando ao vendedor o recebimento da venda. Transforma-se

uma venda à vista em uma venda a prazo (prazo esse de 30 à 40 dias), valendo-se de um

expediente bastante prático vís-a-vís outras formas convencionais de crediário. O cartão

desburocratiza as operações do crediário, que exigem apresentação de hollerith, carteira

de trabalho, CIC etc ... ao mesmo tempo em que potencializa a verdadeira vocação do

comércio, pois não é mais necessário esperar-se o instante em que dispõe do dinheiro para

efetuar a compra. Note-se que hoje ante a retração nas vendas do comércio, as empresas

1
administradoras de cartão veêm seu faturamento mensal crescer 15 % a.m., o que têm

levado muitos a crer que o cartão em larga medida tem sustentado o comércio varejista.

Hoje cerca de 60 à 65 % do faturamento das administradoras advém das vendas nos

Shopping-Centers o que demonstra a vocação dos cartões em efetivar compras.

O cartão em si já é uma prova de que seu portador está em condições econômicas

para saldar seus débitos. Com isso ganha-se tempo, economizando-se várias operações

burocráticas e tanto o usuário quanto o vendedor teriam vantagens podendo este dispor

de um número maior de clientes em virtude da maior disponibilidade de tempo.

2.2 - Evolução do Cartão e as Diversas Modalidades

Nos primórdios do cartão de crédito, estes eram cartões que visavam apenas a iden

tificação dos portadores como pessoas economicamente sadias e que portanto dispunham

de fundos para fazer frente aos seus gastos de consumo sendo por este motivo chamados

inicialmente de cartões de bom pagador ou ainda cartões de credenciamento.

Nesta operação apenas 2 pessoas participavam do processo e interagiam entre si.

Era de um lado o vendedor e de outro o comprador, pois neste caso o próprio vendedor

era quem emitia o cartão dispensando desta forma a intermediação de um organismo

para a emissão dos cartões (Fig. 1 no apêndice).

Foi nesta circunstância peculiar que apareceram os cartões que como já foi dito

2
eram fornecidos somente aos clientes de boa reputação e portanto em sua primeira fase a

característica fundamental a ser ressaltada é que o emissor do cartão é a própria empresa

vendedora, que sem a interveniência de terceiros, faz uma venda a termo (prazo) aos

seus clientes que em um período posterior efetuavam o pagamento da compra.

Garcia (1980) situa o aparecimento destes no início do século nos EUA. Por volta

de 1914 grandes lojas de departamento e cadeias de postos de gasolina já possuíam seus

cartões. Postos como Esso e Texaco e hotéis passaram a utilizar este instrumento em

favor dos clientes, fato que até hoje perdura (Fig. 2 no apêndice).

Esta nova prática logo se disseminou, como uma nova moda, pela França, Alemanha e

Inglaterra. A difusão dos cartões (ainda cartões de credenciamento) foi em grande parte

retardada pela grande depressão de 1929 e pelas duas grandes guerras. Assim sendo,

não foi antes da década de 50 que os cartões tiveram um impulso vertiginoso. Algumas

.empresas percebendo que este instrumento propiciado pelos cartões de bom pagador (ou

credenciamento) poderiam ser estendidos a uma grande gama de pessoas, que estavam

até então à margem do processo, se engajam no esquema. Estas empresas, mesmo

não sendo vendedoras de bens ou prestadoras de serviço, surgem e passam a atuar como

intermediárias entre vendedores e compradores possibilitando desta forma que pessoas que

não eram clientes agora sejam. Isto porque estas empresas intermediárias comprometiam-

se a pagar as despesas efetuadas pelos usuários dos cartões aos vendedores (mantém-se

3
a confiança do sistema) cobrando para isto um certo percentual dos vendedores. Toma

com isto uma nova dimensão o cartão de crédito, pois a responsabilidade do pagamento

passa agora a ser da empresa emissora do cartão (dissocia-se o vendedor do emissor)

deslocando-se a confiança por parte do vendedor na capacidade do comprador sanar

sua dívida com a empresa emissora. Assim o comprador não mais ficava a dever ao

vendedor, mas à empresa que lhe forneceu o cartão (Fig. 3 no apêndice).

Como podemos depreender deste fato modifica-se a estrutura obrigacional que per

faz a base do cartão de crédito. Vejamos isto de forma mais atenta. Enquanto no

modelo descrito anteriormente, o comprador se obrigava diretamente com o fornecedor,

no sistema de venda triangular em que a empresa emissora dos cartões aparece como

intermediária entre o comprador e o vendedor, a venda é feita por este (vendedor) dire

tamente ao comprador, mas a obrigação do pagamento se transfere à empresa emissora

do cartão, que em um momento posterior cobrará a dívida dos portadores (ou usuários)

dos cartões. Assim o fornecedor passa a ser credor não do comprador, mas do emis

sor do cartão e consequentemente o comprador passou a ser devedor, ao adquirir um

bem, não do fornecedor, mas da empresa que emitiu os cartões. Esta é a característica

fundamental do cartão de crédito. Note-se que designamos este cartão oriundo do novo

esquema de cartão de crédito, distinto portanto da designação cartão de credenciamento.

Explicitaremos este ponto um pouco mais à frente.

4
Foi em 1949 que surgiu o primeiro cartão de crédito nesta modalidade nos EUA.

Devemos notar que esta nova modalidade de cartão apareceu com o Diner's Club que se

destinava no início a cobrir despesas em hotéis e restaurantes, mas depois teve ampliado

a gama de serviços a que se destinavam uma vez que a atratividade do cartão reside

justamente no fato de poder comprar bens e/ou serviços os mais variados possíveis. O

Diner's Club foi instituído como um intermediário entre o comprador e o fornecedor,

fazendo a empresa jus a cobrança de taxas de inscrição, anuidade e principalmente uma

comissão referente às vendas efetuadas. Em 1953 o Diner's foi lançado em Londres e

1954 na França e a exemplo dos EUA se destinavam a despesas de viagens (hotéis,

restaurantes) e em uma segunda etapa à compra dos mais diversos bens.

Porém, a evolução dos cartões não cessa aí neste instante. Ante o sucesso inusitado

deste novo instrumento de crédito e antevendo no cartão de crédito a possibilidade de

obter resultados bastante expressivos, os bancos entram também neste ramo. Assim,

os bancos passam a associar-se às empresas emissoras de cartão, fornecendo os recur

sos necessários para fazer frente às obrigações assumidas pelo emissor ou ainda através

de suas redes de agências difundir ainda mais o uso, criando-se assim a mentalidade

do cartão. Um desenvolvimento posterior se dá quando as próprias instituições finan

ceiras passam a emitir seus próprios cartões, tomando o lugar, através de empresas

coligadas (subsidiárias) criadas especialmente para esse fim, das empresas administrado-

5
ras de cartão. Os bancos ao disporem de uma grande massa de recursos possibilitam

aos usuários não somente o direito de adquirir bens e/ou serviços, mas também o de

utilizar todos os demais serviços bancários.

Em 1951 o Franklin National Bank lançava o seu cartão de crédito utilizando-se deste

novo conceito. 0 banco abria um crédito revolving1 no qual o usuário tinha suas compras

quitadas pelo banco e este passava a debitar através de um extrato mensal a quantia

a ser paga pelo portador do cartão. À medida que o pagamento era efetuado junto

ao banco, estes pagamentos eram creditados e portanto o saldo devedor era diminuído.

Modificava-se mais uma vez a estrutura dos cartões através da realização de uma abertura

de crédito bancário, passando os usuários a incorrerem em custos adicionais em virtude

deste fato. Não obstante o aparecimento dos assim chamados cartões bancários, grandes

empresas continuavam a fornecer cartões de credenciamento como a Sears e os Hotéis

Hilton. Entretanto o American Express Card (AMEX), empresa até então tradicional

no setor de viagens, lança o seu cartão. O ano de 1958 ainda assiste o lançamento

do Bank Americard ligado ao Bank of América e detentor de uma poderosa rede de

agências com o que este passa a ser o principal cartão de crédito. Porém é somente na

década de 60 que a evolução da utilização dos cartões de crédito como um instrumento de

crédito e pagamento toma um impulso vertiginoso. O Bank Americard (hoje conhecido

1 Revolving = Rotativo, similar à uma linha de crédito

6
mundialmente como VISA) e o Master Charge (outro sistema gigantesco) se associam,

eliminando a concorrência, e dando início ao que se convencionou chamar a indústria do

cartão. O crescimento exponencial do número de cartões se espalha por todo o mundo

e em 1961/62, chegam ao Japão os primeiros cartões levados pelo Diner's Club que se

associa ao FujiBank e logo aparecem novos cartões emitidos pelos bancos Mitsubishi e

Sumitomo.

Na Inglaterra que já possuía o Diner's são lançados os Travei Credit Cards com o

intuito de fomentar o turismo, porém, é em 1956, com o lançamento (aparecimento) do

Barclaycard que se assiste uma explosão dos cartões por toda a Inglaterra. O Barclay

como uma das instituições financeiras de reputação mais sólida na Inglaterra dissemina

o uso do cartão em toda a Grã-Bretanha; Ainda em 1966 a França também se insere no

frenesi "do dinheiro de plástico"; com o aparecimento das caries Ceteles, caries Boreée

c caries Blens. Entretanto é nos Estados Unidos da América que os cartões têm seu

maior mercado (Fig. 4 no apêndice). Note-se que uma tendência que se afirma cada vez

mais é a predominância quase total dos cartões de crédito bancário. Aliás, a evolução

nos diversos países parece ser a mesma. Num primeiro estágio o cartão aparece, mas o

crescimento avassaíador passa a se dar a partir da associação e entrada em cena de uma

grande empresa, principalmente os bancos.

No Brasil, o processo se assemelha bastante ao descrito acima, entretanto devemos

7
ressaltar a existência de peculiaridades. Após um crescimento inicial lento, os cartões de

crédito tiveram durante um certo tempo um grande crescimento e depois arrefeceram o

seu ímpeto. Agora, com a volta da inflação, o mercado parece ter recuperado seu fôlego

e dá sinais de um crescimento sustentado.

O cartão foi concebido como um instrumento que facilitasse as vendas, desburocrati

zasse o crédito e assim sendo efetivasse o potencial das vendas latentes nos consumidores.

Entretanto ante uma inflação de 24 % a.m. (20 anos de inflação na Suíça) torna-se uma

grande vantagem para o consumidor adquirir bens com o cartão para o pagamento até 40

dias após as compras . A inflação introduz uma distorção no sistema que mostra de um

lado o consumidor, e o jeüinho brasileiro e de outro lado os lojistas que só recebem 30

dias após, defasados assim de um mês de inflação. O primeiro cartão introduzido aqui

no Brasil foi, a exemplo do ocorrido lá fora, o Diner's Chb que chegou em 1956 como

cartão de crédito não-bancário (mais tarde explicitaremos esta distinção). O crescimento

que se assistiu a seguir foi especialmente lento e este instrumento passou algum tempo

obscurecido pela nova vedete: o crédito direto ao consumidor em 1966. Logo em seguida

aparecem uma série de cartões com a participação direta dos bancos seguindo desta forma

a tendência internacional. O cartão ELO - ligado ao grupo Bradesco em associação

com o Visa aparece em 1967 e começa a sacudir o mercado em função do gigantismo

da estrutura do banco Bradesco e sua participação nacional através de sua rede de

8
agências. Em 1970 surge o cartão Credicard, administrado pela Credicard S/A e que

aproveitando-se do momento, se associa também ao Visa. Os dois gigantes do mercado

nacional passam a disputar palmo a palmo cada terreno e a competição acirrada estimula

o desenvolvimento da indústria nascente. O cartão Nacional ligado ao Banco Nacional

S/A aparece em 1972 sendo administrado peia empresa do mesmo nome. Após essa

avalanche de adesões e um crescimento elevado, o mercado passa por um período de

crescimento lento e somente em 1981 dá mostras de uma revigoração. Em 1981, aparece

o American Express (AMEX) que novamente reacende o processo e acirra a competição.

Passamos a assistir uma série de mudanças. O Credicard passa, a partir de 1985, a

administrar o Dinercs e muda sua estratégia de crescimento. O Credicard rompe com

o Visa em 1987 e se associa a um outro gigante do mercado americano: o Master

Charge. Em 1988, o Banco do Brasil sacode o mercado com a entrada em cena do

Ouro Card que passa a ter um crescimento vertiginoso. No ano de 1989 as mudanças

continuam com o cartão Nacional se associando ao Visa, juntamente com o Ouro Card, e

o AMEX (através do BCN, Bamerindus e Econômico) lança um novo cartão: o SOLLO.

Começa a aparecer um conceito de um novo cartão, o multicartão, um cartão que além

de ser cartão de crédito permite acesso a terminais eletrônicos, movimentação de conta

corrente e cartão garantia de cheque. Segundo dados da ABECS (Associação Brasileira

de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços). O Bradesco detém 36,6% do mercado,

9
seguido pelo Credicard com 17,1%, Nacional 6,4% e o Diners 4,2% (Fig. 5 no apêndice).

A evolução dos dados sobre cartão de crédito tanto no mercado nacional quanto

no mercado internacional sugerem um certo padrão de comportamento. Este padrão

embute a seguinte hipótese: no caso de uma difusão de uma inovação (o cartão) a taxa

a qual as pessoas passam a usá-lo cresce à medida em que ele é usado em todo o lugar,

mas diminui à medida que o número de pessoas ainda por virem a adotá-la cai. A curva

que descresve este padrão é conhecida como curva logística e possui o formato mostrado

abaixo (Fig. 6 no apêndice).

Esta curva é bastante interessante e mostra dois pontos chaves:

(1) - O nível de saturação - dado pelo volume potencial de pessoas em condição de

possuir um cartão de crédito e

(2) -O ponto crítico - o ponto a partir do qual o crescimento se arrefece. O ponto de

. saturação seria equivalente aos 12-13 milhões de usuários, segundo dados do IBGE

(anuário de 1987)

Conforme deve ter ficado claro da nossa exposição anterior acerca da evolução dos

cartões de crédito a partir do aparecimento até os dias de hoje temos2.

(A) Cartões de credenciamento - cartões emitidos pelas próprias empresas vendedoras

para uso dos seus clientes;

2Martins, Fran. Cartões de crédito : natureza jurídica. Rio de Janeiro, Forense, 1976

10
sas que fornecem (emitem) cartões em 3 grupos: O primeiro grupo é composto daquelas

empresas que fornecem cartões de credenciamento aos seus próprios clientes, tendo como

exemplo as grandes lojas de departamentos. Num segundo grupo estão as empresas que

servem, de intermediárias entre compradores e vendedores dispondo apenas dos próprios

. recursos não recorrendo a instituições financeiras para a conclusão de suas operações,

podendo ai ser citado a casa Tavares, Temper etc... Por fim em um terceiro grupo

estão as empresas bancárias ou ligadas a bancos em que as contas dos clientes junto

aos fornecedores no momento da sua liquidação, são satisfeitas pelos bancos ou a esses

transferidas pela empresa administradora do cartão. Os bancos hão são os responsáveis

diretos pela liquidação da operação. Normalmente são criadas entidades (como o Cartão

Nacional S/A) que se encarregam de promover a liquidação das contas apresentadas pe

los fornecedores, lidando essa entidade com os bancos. Aqui neste momento ocorre uma

operação de crédito bancário, pois as empresas quando transferem para os bancos as

contas, recebem destes dinheiro para a liquidação da operação e para isso deverão os

usuários arcar com os juros, Podemos,, lembrando íYan Martins (1976), distinguir os

cartões de crédito em :

(A) Cartões de Credenciamento;

„ . t. f não-bancários (Mésbla,...)
IB) Cartões de Crédito propriamente ditos <, /. ,_ \ -T . , .
[bancários (Bradesco, Nacional,...)

Dentro desta perspectiva podemos identificar como as emissoras dos cartões de

12
crédito propriamente-ditos: as empresas bancárias e as não bancárias. As empresas

bancárias permitem ao usuário do cartão a utilização de um crédito bancário (caso

o pagamento das compras não ser der à vista), enquanto as não bancárias apesar de

concederem o crédito ao usuário não permitem que este se utilize do crédito bancário,

Porém, como era de se esperar o emissor deveria dispor de grande soma de dinheiro

(capital-recursos) para, com recursos próprios custear as despesas aos fornecedores, com

um retorno às vezes duvidoso em função do risco de solvência dos usuários.

Os bancos vislumbraram nos cartões uma oportunidade de obter lucros vantajosos

era função das comissões cobradas dos lojistas (fornecedores). Abre-se um rico filão a

ser devidamente explorado. Os bancos propiciavam um serviço de informação rígido e

um cadastramento dos titulares (usuários) feitos de uma tal maneira que reduzisse a

um mínimo as possibilidades de perda. Torna-se um grande atrativo aos lojistas que

agora passam a dispor de uma maneira eficaz e segura de receber, sem os incômodos do

crediário, e sem a incerteza dos cheques que admitem a falta de fundos.

Para lidar com este volume de informações e transações há a necessidade de se

utilizar um computador que catalize todos os esforços no sentido da presteza, veracidade e

fidedignidade dos dados. Os gastos era informática são bastantes elevados o que justifica

a premência de se ter uma estrutura grande e que possa tirar proveito dos "fenômenos

de escala", deriva daí o fato já observado por nós de que normalmente a fase de "take-

13
off" (decolagem) do cartão está intimamente ligada ao processo de entrada de bancos

no setor. Um banco com seu volume de recursos e o aparato no setor de informática

reúne características chaves para deflagrar o início do processo. Uma fonte do setor

ilustra esta questão afirmando que para se operar na indústria de cartões "tem que se

ser grande*, algo em torno de um milhão de usuários, segundo a sua sensibilidade. Um

acontecimento recente mostra a importância do que acabamos de dizer. Empolgados

com a possibilidade de se fazerem lucros adicionais e aumentarem as suas vendas, várias

lojas se lançaram no sonho de possuir seu próprio cartão, mas foram obrigadas em face

dos custos elevados a recuarem desta idéia. Hoje estas lojas operara sob a tutela de um

cartão mantido pela própria administradora do shopping em que funcionam.

Os cartões de crédito bancários são aqueles em que o emissor é composto de bancos

ou por uma sociedade que tem a participação direta ou indireta dos bancos e neste caso

a operação com estes cartões termina sempre em uma operação bancária com todas as

conseqüências inerentes a ela (p.ex.judicial). Fechou-se o ciclo e formou-se o trinômio

perfeito o usuário (portador e titular do cartão) tem a certeza de que de que se fizer

mau uso do cartão estará sujeito às medidas que os bancos tomam com relação aos seus

clientes faltosos, insolventes ou inadimplentes. O fornecedor, por sua vez, tem assegurado

o recebimento uma vez que são os bancos, entidades sólidas, que lastreiam o pagamento

dos lojistas e assim sendo diminui-se o risco conferindo-se máxima segurança ao sistema.

14
Aí é que podemos identificar a componente de crédito que permeia todo o processo.

Crédito significa confiança que alguém deposita em outrem quanto ao recebimento de

um bem e/ou dinheiro. Como vimos todo sistema se assenta na confiança, muito embora

existam claramente alguns instrumentos de coerção.

Uma diferença fundamental separa os cartões de crédito bancários dos não bancários;

no ato da compra quando sâo apresentadas as faturas, poderá ser paga apenas uma parte

das mesmas sendo o restante em prestações posteriores. Ao saldo das prestações restantes

será acrescido juros e demais encargos financeiros, o que aumentará a importância a ser

paga no faturo. A incidência dos juros se deve ao fato desta se tratar de uma operação

bancária e portanto similar às demais. Essa vantagem adicional do cartão de crédito

foi decisiva para que o cartão surgisse como uma alternativa a mais à disposição dos

consumidores e assim sendo, estes passassem a ser largamente, utilizados.

0 cartão de crédito bancário pode ser utilizado pelo usuário na aquisição de bens

e/ou serviços. Ao possuir o cartão o usuário está em condições de usar um crédito (como

se fosse uma linha de crédito) aberto em seu favor pela instituição financeira, e o simples

fato de se possuir um cartão (e portanto cadastro) sinaliza sobre as possibilidades de ser

saldado o débito.

Os cartões de crédito bancários podem ser subdivididos em várias modalidades3:

3íran Martins (op.cit.)

15
(A) Cartões de crédito emitidos por um banco;

(B) Cartões emitidos por sociedades formadas por grupos de bancos;

(C) Cartões emitidos por uma subsidiária do banco;

(D). Cartões emitidos por sociedades autônomas, que contam com a participação dos'

grandes bancos.

Vamos abordar de forma sucinta estas modalidades.

(A) Cartões de crédito emitidos por um banco

Quando o emissor dos cartões de crédito é nm banco, no momento em que se concede

um cartão, abre-se um crédito em conta corrente em nome de seu cliente. A pessoa

portanto devera ser correntista do banco e essa conta corrente será movimentada pelas

quantias adiantadas aos fornecedores. O usuário ficará sujeito ao pagamento de juros,

taxas e outras comissões se optar pelo pagamento parcelado. Os fornecedores, por sua

vez, devem se filiar ao banco e também possuir unia conta corrente e além do mais

estão sujeitos a cobrança de uma comissão sobre as vendas,comissão esta que varia

inversamente com o prazo de recebimento. Assim caso o lojista receba o dinheiro em 15

dias, receberá as vendas abatidas de um percentual a. Caso as vendas sejam recebidas

em 7 dias, o percentual descontado será maior, a 4- x por exemplo. Podemos citar o

cartão Bradesco, emitido pelo banco Bradesco e participante do aiatema ELO4.

4JB, 07/04/89 - O cartão ELO está sendo desativado.

16
(B) Cartões emitidos por um grupo de bancos

Vários bancos podem se associar para o fornecimento de cartões de crédito. Dessa

associação costuma originar-se uma sociedade que administrará a emissão dos cartões e

a sua movimentação, não ficando vedada a emissão dos cartões de crédito por parte dos

bancos, negociando quando for o caso com os bancos a abertura de crédito em favor dos

usuários dos cartões. Podemos citar como exemplo o caso do cartão SOLLO, lançado em

dez/88 com a participação dos bancos Bamerindus, BCN e Econômico juntamente com

o American Express. O American Express será responsável pela estrutura operacional,

tecnológica e administrativa e o sistema de funcionamento será idêntico ao descrito an

teriormente. Para tanto será constituída a empresa Tempo e Cia. Outro exemplo é o

próprio cartão American Express, administrado pela American Express do Brasil S/A

Turismo e que conta com a participação dos bancos Bamerindus (15%) e Econômico

(15%).

(C) Cartões de crédito emitidos por uma subsidiária de um banco.

Nesse caso a subsidiária funcionará como emissora dos cartões tratando diretamente

com os usuários. O usuário não precisa ser correntista do banco. A subsidiária poderá

convencionar com bancos do mesmo ou de outro grupo a participação nos serviços de

cobrança dos titulares e no pagamento dos fornecedores. Mas a abertura de crédito

em favor do titular junto ao banco financiador é feita por intermédio da subsidiária.

17
São exemplos desta modalidade o Cartão Nacional S/A, empresa subsidiária do Banco

Nacional S/A e o Ourocard, cartão administrado pela BB-Card, uma empresa subsidiária

do Banco do Brasil S/A.

(D) Cartões de créditos emitidos por uma sociedade não subsidiária, mas contando com

a participação de bancos.

Neste caso o usuário é o devedor final desta sociedade e os fornecedores credores

quando são apresentadas as faturas. As negociações em favor dos usuários e os finan

ciadores são os bancos participantes. Citamos o caso da Credicard S/A administradora

de cartões de crédito. A empresa se encarregará de fazer os pagamentos aos fornece

dores e de efetivar a cobrança junto aos usuários podendo ser utilizado qualquer banco

participante do sistema. A abertura do crédito em caso do pagamento parcelado será

feito com a participação da empresa. Não é necessário ser correntista no ato da assi

natura do contrato de adesão do usuário ao cartão de crédito. O usuário é escolhido

mediante o preenchimento de uma ficha cadastral na qual são observadas várias ca

racterísticas do pretendente, principalmente as referências bancárias, imóveis, condições

econômico-financeiras etc... (Fig. 7 no apêndice)

Das informações contidas acima depende toda a segurança do sistema, bem como

a manutenção de um cadastro atualizado, abrangente, algo vital na sobrevivência na

indústria de cartões de crédito. Quando se assina o contrato de adesão (Fig. 8 no

18
.JL

(B) Cartões emitida por empresas que intermediam o processo de venda entre com

pradores e vendedores e

(C) Cartões de emissão de bancos ou grupos de bancos, possibilitando ao portador a

utilização do crédito bancário.

Atualmente, conforme já dito anteriormente, a emissão de cartões de crédito conta

quase em sua totalidade com a colaboração/participação de um banco ou grupo de

bancos. A razão pela qual observa-se este fato deve-se principalmente à razão dos bancos

disporem de mais recursos e maior escala, ou seja a escala em que operam os bancos

suporta os gastos com processamento, faturas, emissão de extratos, cadastro,etc...

O cartão além de ser um instrumento que dá status ao seu usuário, permite um

fácil endividamento em virtude da sua utilização sem demandar maiores complicações.

Isto pode ser algo preocupante quando se pensam em questões como: o cartão é infla-

cionário? Afeta o multiplicador dos meios de pagamento? Num ambiente como o que

vivemos atualmente o cartão torna-se ainda mais um instrumento que permite equacionar

o orçamento doméstico ao mesmo em que enquanto não paga suas contas, o usuário pode

investir o dinheiro em aplicações de curto-prazo como: poupança, over, fundos ao por

tador etc... driblando a inflação ao pagar suas contas sem juros, no prazo de até 40

dias, e ainda obtém um retorno através das aplicações no mercado financeiro.

Assim para clarificar o objeto de estudo deste trabalho podemos classificar as empre-

11
Como mostramos acima aparecem uma série de laços jurídicos definidores da es

trutura jurídica do cartão de crédito. Não quisemos dos estender demasiadamente nos

meandros possíveis, mas somente fornecer uma idéia sobre a estrutura que se monta por

detrás da assinatura do termo de adesão5.

Gostaríamos ainda de chamar a atenção para os artigos n£ 11 e n£ 12, aí reside o

fato que diferencia o cartão bancário do não bancário. Ao aceitar condições vigentes no

contrato, o usuário nomeia e constitui a administradora do cartão como seu procurador

e concede direitos para negociar a abertura de crédito em instituição financeira. Sim

isto ocorre porque ao adquirir um bem é facultado ao titular optar pelo financiamento

dessas despesas era prestações mensais fixas incidindo os custos financeiros estabelecidos

à época (Art. 6).

H Fixamos como objeto de nosso estudo os cartões de crédito bancários, tal qual o

conceito aqui apresentado. Daqui por diante quando nos referirmos de modo indiscrimi

nado ao uso dos cartões de crédito, subtenda-se que estamos tratando do caso dos cartões

bancários somente. A razão desta escolha se prende a vários motivos dentre os quais

destacamos:

(1) A ampla representatividade dos cartões de crédito bancários no total do universo

dos cartões de crédito;

5a pessoa interessada mais no respaldo jurídico poderá consultar íYan Martins (Op.Cit.)

20
(2) A maior fidedignidade (veracidade) das informações estatíticas usadas no trabalho e

(3) A vantagem possibilitada pelo cartão de crédito bancário do pagamento parcelado

das compras.

2.3 - Aspectos Operacionais do Cartão

Procuraremos esclarecer nesta seção o funcionamento do cartão de crédito. O me

canismo de funcionamento é simples, o usuário faz seus gastos - em lojas, restaurantes,

companhias aéreas etc... e, no momento de pagar a conta apresenta o "dinheiro de

plástico". As notas dos gastos efetuados durante o raes são enviadas pelos estabeleci

mentos filiados à empresa que administra o cartão. E preparada, então, uma fatura com

todas as compras do mes discriminadas, que é remetida ao associado (portador) para o

pagamento. Como ficou claro desta breve exposição, são necessários que existam três

elementos, a saber um organismo emissor dos cartões, por nós chamados de empresas

administradoras de cartões; uma pessoa a favor de quem os cartões são emitidas que

serão chamados usuários e por fim a empresa que se destina a vender os bens ou prestar

serviços chamados de fornecedores. Com estes três elementos (administradora, usuário e

fornecedor) fica armada a estrutura de funcionamento dos cartões (Fig. 8 no apêndice).

A administradora do cartão que é o centro nevrálgico de toda a operação seleciona

as pessoas aptas a receberem os cartões e portanto gozar de credenciamento junto a rede

21
de fornecedores. Para a obtenção do cartão deve ser preenchida uma proposta (Fig.

7 no apêndice), no qual constam informações sobre a solvabilidade do usuário, renda,

imóveis etc... Estas propostas serão analisadas pelas administradoras que decidirão sobre

a conveniência de se fornecer ou não o cartão.

O cartão costuma ter ura limite de crédito (função dos dados de cadastro), um prazo

de vencimento e implica no pagamento de uma anuidade, taxa de inscrição, taxa de reno

vação etc... Por outro lado a empresa administradora se encarrega de fazer contatos com

estabelecimentos que se comprometem a seguir determinadas prescrições (regras estipu

ladas em contrato) e aceitar os cartões em troca do fornecimento de mercadorias e/ou

serviços - é claro que serve aos interesses da administradora que a lista dos fornecedores

à disposição dos usuários seja a mais abrangente possível para que o usuário possua

ampla liberdade de escolha. Não há portanto nenhuma ligação entre o fornecedor e o

usuário nesta fase. Temos o processo todo fechado. Um indivíduo se propõe a obter

um cartão de uma empresa administradora preenchendo a proposta com seus dados

econômico-financeiros. Aceita a proposta, o cartão é emitido e pode ser utilizado nas

firmas que compõem a rede de fornecedores da empresa administradora. Necessitando

adquirir uma mercadoria ou serviço, o usuário dirige-se à uma das empresas listadas

como fornecedores escolhendo os bens que desejar. Note-se que a venda destes bens é

feita pelo preço corrente da mercadoria como se, a transação estivesse sendo efetuada

22
à vista6. Essa é uma das vantagens do cartão, pois do contrário o usuário poderia ser

lesado se o vendedor à vista do cartão aumentasse o preço da mercadoria em virtude do

recebimento postecipado, muito embora algo parecido esteja acontecendo hoje em dia.

Uma série de cuidados deve proceder a venda como a verificação da validade do

cartão, assinatura, lista negra (listas fornecidas pelas adm. de cartão) etc... Efetuada a

venda, extrai o fornecedor uma nota (fatura), nota esta assinada pelo usuário e na qual

são discriminadas as mercadorias adquiridas bem como o valor total da transação (Fig.

9 no apêndice ). O usuário do cartão nada pagará ao fornecedor. A sua dívida é feita

com a empresa administradora do cartão a quem nurá momento posterior ao da compra

fará o pagamento. O fornecedor por sua vez irá remeter dentro de um prazo estipulado

a fatura para a empresa administradora de cartão que então processará as diversas

vendas daquele determinado fornecedor quando será então deduzida uma comissão do

total do faturamento e o valor é creditado líquido a esse fornecedor normalmente em

uma
conta-corrente que este mantém em banco ligado ao sistema. Esta comissão varia

em
função do prazo de recebimento das vendas sendo, entretanto, uma função inversa

do prazo. Hoje em dia as comissões se situam em torno de 2% para recebimento em

30 dias. Entretanto em função da inflação, os fornecedores podem querer uma redução

do prazo de recebimento (REx. 15 dias) mesmo que tenham que pagar uma comissão

6IVan Martins (op. cit.)

23
mais elevada. Para fechar o circuito temos a emissão do extrato pela administradora

do cartão (previsto pelo contrato - Art. 8) ao usuário que possui um vencimento para

quitar sua dívida (Fig. 9 no apêndice ). Uma observação pode ser feita, qual seja a de

que no ato da aquisição do bem e/ou serviço poderá indicar o pagamento (parcelado ou.

não).

O mecanismo descrito acima pode ser visualizado através da Fig. (8). Este meca

nismo conforme salientamos é bastante fácil de ser compreendido. Os cartões de crédito

são emitidos pelas empresas administradoras de cartões (ligadas a bancos em sua grande

maioria) e os bancos solicitam aos vendedores que aceitem os cartões (e para isso dão

a necessária confiança ao sistema). Quando um usuário compra uma mercadoria de

um fornecedor com seu cartão de crédito o vendedor manda sua fatura para o banco

com a assinatura do usuário e a conta-corrente do vendedor é creditada com o valor da

transação descontada a comissão. O usuário recebe mensalmente um extrato em que

figuram todas as suas compras e possui normalmente um período pelo qual não incorrem

em pagamento de juros. Por este motivo os juros cobrados sobre o saldo devedor no

caso de uma compra parcelada são os mais altos. Junto aos fornecedores existem muitas

vantagens subjacentes à utilização do cartão e que justificam a sua utilização em grande

escala. Em primeiro lugar temos a extrema segurança que oferecem aos usuários e

demonstra sinal de credibilidade e um bom nome na praça. Normalmente o público alvo

24
apêndice) surgem, como já foi dito várias obrigações entre o titular e a administradora

do cartão. Por parte do usuário temos:

- Saldar as suas dívidas junto a administradora sob pena de incorrer em custos judiciais

e financeiros; (Àrt. 24,25)

- Comunicar perda e/ou extravio, roubo; (Art. 18)

- Respeitar os limites do crédito etc.

- Pagamento das anuidades e demais custos

Assim também tem origem obrigações para o emissor (direitos, do usuário) como:

- Obrigação de pagar as despesas do usuário junto aos fornecedores;

- Obrigação de comunicar ao fornecedor listagens comunicando os extravios, roubos e

cancelamentos (é a chamada "Lista Negra"). .

- Não responsabilidade pelo uso abusivo do cartão.

E os fornecedores por sua vez tem como obrigações:

- Atender aos portadores dos cartões de crédito;

- Obrigação de não acrescer o preço da mercadoria ou serviços;

- Verificar a legitimidade do cartão e de seu uso e

- Pagar uma remuneração ao emissor.

19
possui hábitos de consumo e um poder de compra razoável, motivo pelo qual mesmo em

momentos de crise a movimentação de negócios com cartões é grande. O usuário de

cartão é normamente uma pessoa prática e que gosta de segurança. Outra vantagem é

que se for extraviado, o usuário ao comunicar o fato à administradora do cartão perde

totalmente a responsabilidade sobre o seu uso. O dono da loja tem 100% de certeza

de que receberá o pagamento pelo seu produto ao efetuar a venda7 uma vez que ele

eqüivale na prática à uma venda à vista, além de aumentar as vendas e diminuir os

custos de abertura de crediário e movimentação de papéis. Para o sistema financeiro

as vantagens também existem uma vez que o custo de compensação de uma operação

com cartão é infinitamente menor que o custo de compensação de um cheque. Para o

fornecedor existe o problema do cheque não apresentar fundos.

As vantagens do cartão de crédito são indiscutíveis para o usuário, mas é preciso que

ele saiba usá-lo da melhor maneira possível. Como vimos anteriormente todos os cartões

bancários ligados a instituições bancárias estipulam uma data de vencimento para o

pagamento de contas e normalmente as administradoras de cartão dão um período de 30 a

40 dias para o pagamento destas sem que se incorra no pagamento de despesas adicionais.

Aí está a real vantagem do cartão, a oportunidade de se pagar sem acréscimo, entre dez

7Vís a Vis o número de cheques sem fundos. 1986 - 1,3 milhão 1987 - 6,9 milhão, 1988 -

4,4 milhão (SERASA)


e quarenta dias depois os gastos efetuados hoje. O segredo do bom aproveitamento

consiste.em concentrar o grosso das compras nos dias próximos à data de pagamento

da fatura. Suponhamos que o vencimento do nosso cartão ocorra todo dia 15 de cada

mês. Como, normalmente as empresas administradoras demoram dez dias na preparação

e envio da fatura mensal ao associado, serão remetidas as contas referentes aos gastos

efetuados até o dia 5 assim, se no dia 6 formos ao supermercado, e pagarmos a conta

com o cartão, a fatura correspondente somente será enviada no dia 15 do mês seguinte.

Em função deste fato podemos notar 2 comportamentos ótimos que o usuário pode

ter ao administrar as compras com o seu cartão. A 1^ observação já feita diz que deve-

se concentrar as compras num intervalo de 5 a 10 dias antes do vencimento do cartão.

Essa condição de dispor de 40 dias, torna-se uma arma na mão do usuário ante uma

inflação violenta de digamos 20% e estoura na mão do lojista, que recebe em média

30 dias após as vendas. O lojista embute esta inflação no preço dos produtos. Por

exemplo, o supermercado Freeway é um dos poucos supermercados de grande porte a

aceitar cartão, mas em média seus preços eram mais elevados. Basta imaginarmos que

em vez de se pagar no ato se você tiver um cartão e aplicar o dinheiro no mais modesto

■ dos investimentos: a poupança no dia do vencimento você retira da poupança e paga o

cartão, tendo ganho o rendimento da poupança no período. Uma segunda observação

diz respeito ao fato do usuário possuir mais de 2 cartões e passar a jogar com as datas

26
de vencimento isso porque se voeê tivesse um outro cartão com vencimento dia 20 e

necessitasse fazer uma compra no dia 5, as despesas referentes a essa compra terão de

ser quitadas no dia 20 do mês que foi feita a compra, tendo sido ganho 15 dias. No

entanto se você tivesse um outro cartão com vencimento dia 10, poderia fazer a compra

no dia 5 de um mês e só pagar no dia 10 do mês seguinte com prazo portanto de

35 dias. Este tipo de comportamento demonstra uma maior maturidade por parte do

usuário. Um caso extremo é mostrado a seguir.

Esquema

(1) Compras do dia 26 ao dia 2 -» Diaers (7dias) -> compra dia 28/12 só paga dia 2/02

(2) Compras do dia í ao dia 8 -+ Ourocard (7 dias) -+ compra dia 3/01 só paga em

03/02
-i. . _ .

(3) Compras do dia 6 ao dia 13 -> Credicard (7 dias)

(4) Compras do dia 12 ao dia 19 -♦ Cnsa (7 dias)

(5) Compras do dia 19 ao dia 26 -> Amex (7 dias)

Obs:

(1) Às datas de vencimento são reais

(2) Pode-se comprar todos os dias, gozando de no mínimo 30 dias para pagar.

27
Uma outra vantagem propiciada pelos cartões diz respeito à possibilidade de amor

tização parcial da dívida. O usuário pode optar se nâo quiser quitar de uma forma

integral o débito, entre p crédito rotativo e o crédito parcelado. "

Note-se que na fatura esta distinção aparece de forma visível. Isto porque, conforme

já salientamos, ao ato da aquisição do bem o cliente pode optar por pagar a compra de

forma parcelada (2,3 ou 4 vezes). Na primeira modalidade, o crédito rotativo, o usuário

faz as suas compras e em média 30 dias após as compras poderá quitá-la, sem juros, ou

pagar uma amortização mínima de.50%8 sobre o total do saldo devedor (também aparece

esta quantia no extrato). Sobre o saldo remanescente incide uma taxa de juros nominal

variável e salgada. Neste caso é como se o usuário dispusesse de uma linha de crédito

ao seu dispor, pois com novas compras o saldo devedor é refeito e novamente pode ser

amortizado (no mínimo 50%), incidindo juros sobre o restante. É crédito porque se

assemelha à uma linha de crédito e é rotativo (revolving) porque a cada aova compra

feita o saldo é recalculado. Apesar desta comodidade, o usuário em sua ampla maioria

costuma quitar o débito (o saldo anterior) não financiando e portanto não incorrendo

no pagamento de juros. No caso do Credicard, por exemplo, 60% dos usuários pagam

o total na data de vencimento.

A outra modalidade, crédito parcelado, permite ao usuário quitar seu saldo devedor

8Hoje você tem que amorizar 100% do saldo

28
em até 4 vezes ou até 6 vezes (do caso do Amex através do Amexplan) dependendo da

administradora. Note-se que esta forma de pagamento é equivalente ao crédito direto ao

consumidor (CDG) onde a taxa de juros das prestações é pré-fixada, Esta semelhança

com o CDC tem feito com que em alguns casos o crédito parcelado concorra com o CDC

e levando nítidas vantagens, pois o cartão costuma oferecer seguros de vida, viagem,

sala Vip etc... Isto explica o porquê enquanto as financeiras assistem à uma retração de

seus negócios, as empresas administradoras de cartão assistem a uma forte expansão de

seu faturamento. Existem outras razões como o contigenciamento do crédito, as altas

taxas de juros e as demais vantagens oferecidas pelos cartões. Além do mais as empresas

administradoras de cartão não concorrem de maneira direta com as financeiras, pois:

(1) Às administradoras de cartão costumam lidar com uma faixa muito específica de

público e;

(2) As empresas de cartão operam através do repasse de recursos captados pela rede

bancária enquanto as financeiras dispõem de instrumentos próprios para o *fundingSi

de suas aplicações.

Hoje o crédito rotativo é responsável por cerca de 95% das vendas e o parcelado

por 5% das vendas, segundo dados da ABECS. Deve-se notar entretanto que o crédito

rotativo possui uma taxa de juros variável, ou seja sobre o total do saldo devedor incide

a taxa de juros que está sendo efetivamente praticada, à nível de mercado, enquanto o

29
crédito parcelado se faz mediante um esquema de taxas de juros pré-íixadas e portanto

prestações fixas (tabela price)9.

Como havíamos dito anteriormente o crédito rotativo se assemelha à uma linha de

crédito que é imediatamente recalculada a cada compra nova. Já o crédito parcelado é

similar à uma operação de CDC.

Uma questão interessante vem à tona e para ela já fornecemos a resposta. Quem

financia a operação com cartão de crédito? É a empresa administradora do cartão? A

resposta é não!. Isto ocorre pelo simples fato da administradora ser uma empresa não-

financeira é como tal é expressamente proibida, por força da lei 4595 (que regulamentou

o mercado de capitais), de abrir um crédito. Conforme vimos caso o usuário opte pelo

crédito rotativo, no contrato firmado entre este e a administradora do cartão consta uma

cláusula expressa em que o usuário constitui a administradora como mandatária para o

fim especial de em nome do titular, negociar a abertura de crédito junto à instituição

financeira. Ao tratar este financiamento a administradora se coobrigará com o usuário

pelo pagamento do mesmo junto ao fornecedor cobrando entretanto juros. Já no caso

da opção pelo crédito parcelado, a administradora recorre à uma "financeira" que assim

sendo financia a operação.

9 Por isso se diz que o rotativo é mais barato (à vista) ç que o parcelado é mais seguro, pois

já se conhece a taxa e ela é fixa

30
O financiamento parcelado tem o inconveniente das prestações serem fixas, apesar

de implicar a incidência de juros desde o primeiro mês. Se a empresa não estimar

corretamente a inflação e esta se elevar a um patamar muito além do projetado, o prejuízo

pode ser grande. Este fato do lado do usuário merece um pouco de atenção. Em ura

ambiente inflacionáxio de cerca de 24% a.m. de inflação, o pagamento em parcelas fixas

significa a redução bruta da prestação em termos reais, sendo a 1- prestação a mais

pesada10.

No caso do crédito rotativo deve-se prestar muita atenção, pois do contrário o seu

saldo devedor pode tornar-se uma imensa bola de neve ou mesmo a dívida poderá ser

eternizada. Para ilustrar este fato interessante tomemos o caso de um saldo devedor

de CR$ X, uma taxa de juros de 3%a.m. e suponha-se ainda que o usuário amortize

o; seu saldo devedor pelo mínimo, ou seja 25%. Se esta taxa de juros permanecesse

10

P\) — 30= principal

valor da Prestação = 48,42 n = 4= número de Prestações


i = 30,8= taxa de juros

Prestações em termos reais

1^ 48,42; 2^ 39,05; 3^ 25,40; 4a 20,48;

31
indefinidamente, a dívida ficaria constante no tempo aid infinitum.

PERÍODO 1 PERÍODO 2

Saldo devedor = X Saldo devedor = X

Amortização = \ x (25%) Amortização: \X

Juros = §x|X=* Juros =*

Juros=[saldo devedor-amortizaçâo] x| = [X-^]x| = íx-3-=T

0 que é pago a título de amortização é exatamente reposto pela incidência dos juros,

o resultado é que a dívida permanece para sempre.

Abaixo são desenvolvidas algumas condições teóricas sobre as quais a dívida pode

crescer, decrescer ou ainda permanecer a mesma, independente ou não de novas compras.

No capítulo seguinte formalizaremos de uma maneira mais adequada este ponto através

de um aparato mais sofisticado.

(1) Condição necessária mas não suficiente para que os encargos financeiros caiara.

a - % de amort.

i - taxa de juros.

Saldo anterior= SD

Pagamentos aSD{a qualquer e em particular a = 0,25)

Total= SD(1 - a)

32
Juros= SD(1 - a)- i

Saldo atual= SD(1 - a)+SD(l - a) i situação: SD(1 - a)(l + i)>SD

condição de equilíbrio -+ SD(l-a)[l+i|=SD -* (1 - or)(l + i) = 1

(1 - a)[l + i\ > 1 -+ saldo devedor aumenta [»' > a(l + í)]

(1 - cr)[l +1] < 1 -•■ saldo devedor cai [t < a(l + 01

(1 - a)[l + tj =■ 1 -+ saldo devedor fica o mesmo [t = a(l + i)\

(2) No caso anterior não consideramos nenhuma compra adicional:

Pgto - (compras+juros)> 0 -» pgto - juros > compras SD \

Pgto - (compras+jiiros)< 0 -+ pgto - juros < compras SD \

Pgto - (compras+juros)=0 -♦ pgto - juros=compras SD - permanece o mesmo

Pgto = aSD
a.SD - (1 - a)SD.i = SD\a - (1 - q)í]
Juras = (1 - a

Assim sendo:

(1) Se compras = SD[a - (1 - á)i] saldo devedor permanece o mesmo

(2) Se compras > SD[a — (1 — a)i] saldo devedor aumenta

(3) Se compras < SD[ot - (1 - a)} saldo devedor diminui;

33
JL

Problema de escala e os ganhos das administradoras

Uma razão imperiosa para o desenvolvimento dos cartões de crédito bancário foi

a estrutura de recursos que estes movimentam e que justificam esforços de cadastras

atualizados e informatização crescente. Uma empresa administradora de cartão tem que

ser grande para que os custos envolvidos possam ser diluídos. Um número entre 1.200.000

e 1.600.000 de usuários segundo a sensibilidade de-uma pessoa do setor seria algo que

permitiria arcar com os castos de processamento envolvidos. Em um dado período (1987)

havia no Brasil mais de 300 cartões, a maioria dos quais já passou e desapareceu. Aquilo

que mais falta as pequenas organizações (lojas) é o volume de negócios e em decorrência,

economias de escala para que possam ser reduzidos os custos diante de uma maior

receita. À despesa de manutenção de um sistema de crédito necessário à sustentação de

um cartão só é suportável por empresas de maior porte, com uma taxa de utilização de

serviço. Os pequenos cartões não se mantém devido à falta, de estrutura de análise de

crédito e de meios eficientes de controle o que aumenta a inadimplência e reduz o lucro,

e ainda mais não dispõe de fôlego para bancar os primeiros 40 dias após a compra sem

o pagamento de juros.

As principais fontes de faturamento das administradoras11 são basicamente a taxa de

administração que o fornecedor paga e os juros cobrados do usuário que financia as suas

HABCES

34
compras. Caso o usuário pague a fatura na data do vencimento do cartão, ern apenas

uma parcela (ou seja à vista), o lucro destas passam a ser as taxas de administração,

inscrição, anuidade, renovação e a própria comissão cobrada, A estratégia que viabiliza

o cartão é ter uma taxa de utilização de modo a compesar os gastos com formação de

cadastro, cobrança, emissão de extratos etc. O custo operacional de cada transação feita

com cartão é de cerca de 0,3 B.T.N's12 e cada vez mais são feitas tentativas com o intuito

de reduzi-las, O cartão Nacional S/A por exemplo tem investido cerca de US$ 3 milhões

em informática o que possibilitaria uma redução de custos da ordem de US$ 1,6 milhão

por ano e controles exercidos com maior velocidade e segurança e a informática parece ser

um caminho fértil para as administradoras. Com os terminais de transferência de fundos

(TTF) pode-se processar instantaneamente operações com cartão de crédito a um custo

irrisório. Esta aliás foi a estratégia seguida pela VISA (grande empresa de cartões de

crédito americana) que se utiliza de satélites para o lançamento de suas operações, o que

possibilita o processamento tanto de 10.000, 20.000 ou mesmo 30.000.000 de cartões de

maneira extremamente eficiente. A operação de um cartão requer uma infra-estrutura

complexa e rica em detalhes cadastrais e que não seja deficitária. A baixa taxa de

utilização de uma estrutura que inclui análise de crédito, processamento, emissão de

extratos, recebimentos e cobranças, tem gerado tamanho prejuízo para as pequenas lojas

12idern

35
como Oliver, Polo by Kim etc... que praticamente as exclui do ramo de cartões. Faltam

a elas, ainda, o capital de giro para se manter um cartão em época de baixa inflação

quando a tendência do cliente é esticar o pagamento ou ficar inadimplente pelo reduzido

peso das multas. Apesar de ser uma saída tentada por muitas lojas quando a inflação se

acelera e elas não mais suportara o ônus de receber pelo cartão administrado por outros

cora defasagem de 30 dias, lançam-se a operar seus próprios cartões podendo amargar

prejuízos até mais elevados do que se não possuíssem os cartões. Para exemplificar a

grandiosidade da estrutura, cite-se o caso da Mesbla S/A que possui cerca de 2,5 milhões

de cartões (com quase 1.000.000 de inativos - ou seja não realizam compras há mais de

6 meses) quase 50% do universo dos cartões bancários. Portanto o problema de escala

em se tratando de cartão de crédito é de fundamental importância para a sobrevivência

de toda esta estrutura complexa e grandiosa.

Situação atnal dos cartões no Brasil

Um pequeno documento de plástico que cada vez mais abre portas, em alguns casos

é símbolo de status, paia muitos forma de avaliar o orçamento apertado ou enfrentar

emergências. Já não parece distante o dia em que no Brasil o cartão substituirá com

. vantagens o papel moeda e o talão de cheques (moeda escriturai). Mais do que um

sinônimo de státus ou uma simples alternativa de pagamento de despesas o cartão se

constitui, num meio eficiente para contornar a inflação. Ainda é o meio de pagamento

36
mais cômodo seguro e bem aceito aqui e no exterior; além do mais é muito mais fácil

comprar a crédito com o cartão que dispensa os papéis e a burocracia. O cartão está

conquistando um grande espaço porque facilita as compras, dá segurança e oferece mi

lhares de pontos de venda além de permitir ganhar com o período de 40 dias para pagar

sem juros. Os .cartões já alcançam a cifra de 5 milhões e as perspectivas são boas.

Criados como instrumentos que viabilizam várias operações comerciais, dão segurança

aos fornecedores, comodidade ao usuário, os cartões hoje vivem Uma distorção no país.

Eles passaram a ser um meio pelo qual o brasileiro dribla a inflação possibilitando

um pagamento em média, no espaço de até 35 dias após a compra, sem-juros, ante

uma inflação escorchante.Fora isso o dinheiro poderia estar rendendo em uma aplicação

de curto prazo, é o jeitinho brasileiro aplicado ao cartão! Jeitinho este, que se rende

dividendos aos usuários causa transtornos aos lojistas.

As previsões da ABECS apontam para daqui a uns cinco anos um crescimento ver

tiginoso calcado no mercado potencial brasileiro que radicam um mercado a ser explorado

era volta dos 13,7 a 14 milhões. Os cartões sofrem efeitos sazonais como não poderia

deixa de ser e os meses de Novembro e Dezembro são fortes enquanto Janeiro e Fevereiro

são meses fracos. Datas como o dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados e Natal

são uma loucura, com o faturamento atingindo cifras monstruosas.

Apesar da escalada do processo Macionário ter sido e ser um fator determinante

37
no desempenho dos cartões em níveis favoráveis e um forte atrativo para que o usuário

se beneficie das facilidades de pagar o débito em até 40 dias após as compras, nota-se

um certo amadurecimento por parte do consumidor, o que faz com que o cartão e a

sua "cultura" seja algo que tenha se incorporado de majieira definitiva ao dia-a-dia dos

brasileiros. Ao contrário de muitas modas passageiras, é algo que vêm para ficar. Este

amadurecimento pode ser constatado de fatos como: a maioria dos usuários salda a sua

dívida no vencimento, não as financiando em função das altas taxas de juros; a compra

em média de 5 a 10 dias antes do vencimento se valendo desta forma do período integral

sem juros e por fim a utilização de mais de um cartão para poder jogar com as datas

de vencimento e o uso do cartão para equacionar o orçamento doméstico. Tudo isto

faz crer que a expansão de 20% reais em 1986 e o crescimento de 18 a 20 % em 1987

tornem-se lugares-comum na indústria.

A maior utilização do cartão fica por conta de vestuários, hotéis, restaurantes, lo

cadoras, motéis, supermercados de pequeno e médio porte, e mais recentemente táxis,

bancas de jornais, farmácias e profissionais liberais. Os cartões também são responsáveis

em grande parte pelas chamadas vendas de impulso que chegam a atingir até 15% do

faturamento total das lojas que trabalham com cartão, e aí está o grande efeito do

cartão, possibilitar compras que antes não seriam feitas levadas em conta a restrição

orçamentária do indivíduo dada por sua renda. O crescimento a que estamos assitindo

38
na indústria de cartão deve-se a uma ampliação da gama. de serviços oferecidos pelo

cartão; o que reflete uma mudança na política por parte das empresas administradoras

de cartão de crédito que antes acreditavam que só se devia usar o cartão nas compras

de valor elevado. A ampliação de serviços oferecidos aumenta o número de usuários do

setor ao mesmo tempo em que cria no brasileiro o hábito de pagar com o cartão. Todos

os cartões têm apresentado acentuadamente nos últimos anos um grande crescimento

(difusão do cartão). De acordo com a ABECS em 1983 existiam 1,95 milhão de cartões

ligados à instituições bancárias. Hoje esse número beira os 5,1 milhões. A indústria vem

crescendo à uma taxa média de 15% a.a. e um dos principais motivos é sem dúvida a

vitalidade da inflação, mas também existem vários outros fatores tais como:

(1) as chamadas compras de impulso;

(2) maior segurança se comparado ao cheque;

(3) maior praticidade.

O cartão de crédito é em grande parte usado no comércio (60%), onde encontram

nos shopping-centers grande receptividade (Fig. 11 no apêndice).

Em supermercados houve um pequeno problema, pois os supermercados têm uma

margem líquida de 4 a 5 %, não podendo desta forma arcar com as comissões pagas às

administradoras, ademais os supermercados necessitam de capital de giro e o recebimento

do faturamento por parte dos supermercados só se dá 30 dias após as compras o que se

39
I

constitui em um impecilho à operação com o cartão. Assim a APAS (Associação Paulista

de Supermercados) rompeu com as administradoras e a saída para as empresas, que

perderam um rico filão (30%), foi voltar-se para os supermercados de pequeno e médio

porte que atraídos pela possibilidade de concorrer cora os maiores passaram a receber

(aceitar) cartão em suas vendas. Para citar um exemplo o Freeway (supermercado do

Rio), único de grande porte a aceitar cartão de crédito, é responsável por 7.11% no

faturamento total de uma empresa administradora de cartão, enquanto os supermercados

como um todo são responsáveis por 25,3% do total do faturamento desta mesma empresa.

Perfil do mercado ,

Existem atuando como cartões de crédito bancário 6 cartões, a saber: Ourocard,

Credicard (Mastercard), Diner's Club, Cartão Nacional (VISA), Bradesco (Ex-Elo) e

American Express (Amex) e um que está em fase de implementação: O Sollo. Cada

um destes cartões possui alguns fatos que os qualificam de maneira distinta entre si, quer

seja pelas suas características, faixa de atuação, segmentação de mercado etc...

O primeiro dos cartões a surgir foi o Diner's Club que apareceu em 1956 no Brasil

e que a partir de 1985 passou a ser administrado pela Credicard S/A administradora

;de cartões. Antes este pertencia ao banco Sul Brasileiro (atual Chase). O Diner's é

um cartão dirigido ao segmento mais sofisticado do mercado e seus possuidores devem

ter uma renda mínima de 150 OTN's e por isso é o cartão a oferecer maior número de

40
serviços aos seus sócios. Pode-se utilizar o cartão Diners para adquirir passagens aéreas

com as mesmas vantagens oferecidas pelas companhias aéreas financiado em até 10 vezes

com juros preferenciais das companhias aéreas. Além do mais ao comprar passagens

aéreas com o Diners, o usuário tem gratuitamente um seguro-bagagem equivalente a até

3 vezes o valor da passagem bem como ura seguro-vi agem desde a saída de sua casa

até o retorno da viagem. A lista: de vantagens alcança ainda a utilização das salas Vip

(prive) em qualquer aeroporto do mundo e assistência médíco-hospitalar e jurídica nas

viagens ao exterior para os seus usuários. Este cartão, de alto prestígio, não possui

limite de gastos e há a opção de se financiar a compra de forma parcelada em até

4 vezes (Credinners). Porém é facultado ao usuário o crédito rotativo, uma linha de

crédito pessoal e automática, isenta portanto de custos, até o momento em que você

decide ativá-la no pagamento da fatura. Todo mês, caso não haja interesse em pagar

o saldo total é possível só se pagar o valor mínimo exigível (50% da fatura). O valor

restante, será automaticamente financiado. Estima-se que o Diners hoje possui cerca de

286 mil usuários (cerca de 4% do total).

Na mesma linha de prestígio está o American Express (Amex), administrado pela

.American Express do Brasil S/Á Turismo e que conta com a participação dos bancos

Bamerindus e Econômico que contam com 15% da participação acionária. Estão ligados

ainda ao Amex o BCN, Boavista, BMC, BMD e outros. Está no Brasil desde 1981 e

41
se apoia na sua tradição no mercado mundial de cartões, Possui, a exemplo do Diners,

uma série de vantagens à sua clientela estratificada e de alto poder aquisitivo. Como

vantagens aos seus clientes oferece também financiamento de passagens aéreas, seguro

automático de viagem no valor de US$ 100.000, o quick-cash pelo qual você pode sacar

dinheiro através do banco 24 horas ou ainda descontar cheques pessoais de qualquer banco

em qualquer uma das 2.500 agências dos bancos associados, serviços internacionais em

mais de 150 países etc... A exemplo do Diner's Club também não possui limite de gastas

(crédito) e o pagamento das vendas é feito de 2 formas: ou o pagamento é integra] na

data do vencimento, ou o cliente opta pelo Amexplan no qual o pagamento pode ser

feito em até 6 vezes. Não há o crédito rotativo e atualmente somente 10% dos clientes

do Ámex recorrem ao Amexplan. Estes dois cartões se dirigem à uma faixa selecionada

do mercado e por isto oferecem.tantas vantagens como as mencionadas.

Explorando outro segmento de mercado temas ot» chamados cartões de massa, que

se dirigem de uma maneira mais direta à classe média. Como primeiro destes cartões

temos o cartão ELO13, criado em 1967. Após a criação com o nome de cartão Bradesco,

em 1971 esse sistema abriu para a entrada de 23 bancos. Foi aí que surgiu o cartão

ELO que permaneceu até 1977, quando se filiou ao VISA. Depois desta fracassada união,

em 1980 se desvinculou para ter a forma que possuía até hoje. O cartão ELO não era

13 Recentemente criou-se o cartão Bradesco e encerrou-se o ELO.

42
tido como legítimo cartão de crédito uma vez que não admitia o financiamento seja

ele parcelado ou em bases rotativas (revolving). Ele seria muito mais um cartão de

compra que permite ao .usuário gozar de um prazo de até 40 dias para pagar do que

ura cartão genuinamente de crédito. Este fato talvez tenha levado à uma reformulação

da estratégia do cartão, que antes só possuía uma data de vencimento: dia 10. Não

obstante estas limitações o Bradesco duraute 21 anos liderou o mercado de cartões sendo

somente em Dez/88 ultrapassado pelo Credicard. O cartão ELO se valia muito de uma

faixa importante do mercado: o pieio rural. Isto se dava em função da extensão da

rede de agências e do perfil varejista do banco. O Bradesco tem introduzido centrais de

telecompras em vários pontos especialmente supermercados e hoje já conta com mais de

1800 deles instalados.

Outro cartão tido como cartão de massa e ligado também a um grande conglomerado

financeiro nacional é o Cartão Nacional S/A. O cartão foi criado era 1972 e permite

ao usuário o financiamento automático em bases rotativas (revolving), não operando

entretanto com o crédito parcelado e por este motivo é freqüentemente chamado de

"genuíno cartão de crédito". O limite de crédito é variável de acordo com o salário do

usuário. A sua área de atuação se restringe basicamente ao Rio de Janeiro, cora o cartão

mantendo um forte apelo junto à clientela, fato este/derivado do slogan do banco: o

banco que está ao seu lado. Por vários motivos que abordaremos mais tarde o Nacional

43
também reorientou a sna estratégia e em 1988 se ligou ao VISA.

0 Credicard-Mastercard (MC) também está situado na faixa de cartão de massa e é

aquele cartão que possui uma maior agressividade e disputa palmo a palmo o mercado.

Está ligado a 3 grandes bancos, Itaú, Unibanco e Citibank e possui mais uma dezena

de bancos associados como a Caixa Econômica Federal, Banestado etc... Depois de

uma associação igualmente fracassada com o VISA, desde Junho de 1987 está ligado

a outro gigante do mercado americano: o Master-Card. O Credicard oferece 2 tipos

de financiamento: o rotativo e o parcelado. No rotativo o usuário decide em quantas

prestações irá. saldar o débito (amortizando sempre o mínimo de 50%) e o Credicard-

Plus que permite ao usnário parcelar o seu pagamento em prestações fixas (até 4 vezes)

e o limite de crédito é igual a 80% da renda do usuário. Além disto, a empresa vem

se empenhando no programa de mala direta, pelo qual o indivíduo recebe em casa um

folheto com vários produtos de supermercados e escolhe os que desejar. E o marketing-

direto! Os clientes têm ainda à sua disposição o credicash com o que o usnário pode

sacar dinheiro nas agências credenciadas, bem como o acesso aos bancos 24 horas. E

administrado pela Credicard S/À.

Por fim temos, ainda compondo o cenário dos cartões de crédito de massa, o Ouro-

card administrada pelo BB-Card, empresa ligada ao Banco do Brasil em associação com

o VISA, um gigante do mercado mundial de cartões. Ele surgiu baseado em um novo

44
conceito de cartão, qual seja o multicartao. Aliado ao fato de ser um cartão de crédito

com todas as prerrogativas dos demais, ele também permite saques em espécie e também

dá garantia ao Cheque-Ouro. O financiamento de suas compras pode ser feito em até

3 prestações mensais fixas, iguais e sucessivas com juros pré-íixados ou então através do

crédito rotativo que permite a você financiar até 50% do total do seu débito. O limite

dos gastos é de até 80% da renda e ele também permite a compra de passagens aéreas e

propicia um seguro viagem (no caso de extravio de bagagem) e um seguro de acidentes

pessoais. O Ourocard se vale da estrutura do banco do Brasil e conta com cerca de

3500 pontos era todo o país, sendo que a ele cumpre o papel igualmente importante no

sentido de disseminar a cultura do cartão de crédito a partir da interiorizaçao deste,

principalmente no meio rural. No apêndice mostramos ura quadro-resumo no qual estão

as.principais informações relativas aos cartões.

Todo os cartões acima listados permitem a prática de se pagar após 40 dias sem juros

e uma vasta rede de fornecedores dos mais diferentes segmentos como loja de vestuário,

turismo, lazer, supermercados, táxis, etc... Isto tem justificada a disputa acirrada pelo

mercaxio e confere ao cartão uma posição cada vez de maior destaque como uma das

formas mais comuns e práticas de se efetuar os pagamentos. Segundo dados do Clube

dos Dirigentes Lojistas (CDL)} 14% das compras são pagas através de cartão, contra

64% de compras com cheques. É bastante razoável que cresçam as compras através de

45
cartão que é mais seguro14 (Fig. 12 do apêndice).

A concorrência dos diversos cartões há muito tempo assistia a liderança do Bradesco,

mas desde 1988 o Credicard assumiu o primeiro lugar no mercado de cartões quer seja

em termos de número de usuários ou em termos de faturamento. O Bradesco lidera

o mercado há 21 anos. Desde que foi criado, outro cartão que demonstrou excelente

performance foi o Ourocard. Criado em fev/88 e que já em dezembro beirava a faixa

dos 700 mil cartões15.

Algo que deve ter ficado claro da exposição anterior é a segmentação do mercado em

cartões de alto prestígio e cartões de massa. A explicação para tal fenômeno pode ser

retirada na teoria econômica uma vez que a elasticidade preço relativa a cada consumidor

variará de acordo com as linhas de produto, industria etc... o que acarreta esta existência

de cartões diferenciados, mais tarde aprofundaremos este ponto:

Perspectivas e investimentos do setor

Após o perfil do mercado, traçado aeima, nos disporemos a traçar algumas das es-

1985 -1,3 milhão


14 Fonte: Serasa total de cheques sem fundos: < Í986 -6,9 milhão
1987 -4,4 milhão

Em caso de extravio ou furto, só será o fornecedor responsável se depois de notificado

sobre a perda atender o cartão


15 Não levamos em consideração os cartões inativos

46
tratégias futuras que podem daí ser derivadas. Um possível caminho para as empresas

administradoras de cartão em tempos de marasmo poderia sem dúvida nenhuma ser

a administração de cartão de terceiros (Masson, Casa Silva), pois as administradoras

de cartão possuem um maior conhecimento calcado na técnica, capacidade de processa

mento, economias de escala etc... A simples existência de capacidade ociosa conferiria

à essas empresas uma maior condição de administrar de maneira eficiente esses cartões.

Conforme já dissemos anteriormente as cadeias de loja procuram extrair uma fatia do

mercado, emitindo cartões para compras em seus estabelecimentos. Esta prática que

tornara-se lugar-comum, teve uma drástica diminuição a partir da segunda metade do

ano de 1987, quando a inflação se acelerou e como as vendas eram feitas à vista e

gozando de até 40 dias para pagar, muitas foram obrigadas a cobrar sobretaxas tirando

desta forma a atratividade do negócio.

O AMEX dentro da perspectiva traçada acima de cartão de alto prestígio só sofre a

concorrência do Diner's, onde ambos disputam pelo publico A. Assim a primeira grande

cartada foi a implantação do cartão SOLLO, colocado no mercado com o objetivo de

conquistar um público até então desprezado pela empresa: o da classe B (classe média).

, O SOLLO surgiu da união do Bamerindus16, BCN e o Econômico e irá competir di-

16

Bainerindus:25,5%, BCN:25,5%, AMEX:39%, Economico:10%

47
retamente com o Cartão Nacional, Onrocard, Credicard (MC) e Cartão Bradesco. O

novo cartão será vendido em cerca de 1.500 pontos e a idéia é de se alcançar até o final

do ano 600 mi]. O novo cartão, além das funções típicas dos cartões permitirá a seus

portadores acesso a serviços bancários e financeiros como ao banco 24 horas, garantia

de cheques etc... Esta maior flexibilização na caracterização do novo produto (3 em

1), consolida a tendência mundial do multicartão. O SOLLO sela a abertura de um

novo capítulo na estratégia do AMEX no país. Cora ele, o AMEX terá nas mãos um

cartão de crédito rotativo, lembremos que antes ele só trabalhava cora crédito parcelado

através do AMEXPLAN (em até 6 vezes). O cartão será administrado pelo Tempo e

Cia e vai valer-se da estrutura dos bancos componentes do sistema, com o Bamerindus

cobrindo o sul, o Econômico, o Nordeste, e o BCN o eixo Rio-São Paulo. Uma segunda

estratégia demonstrada pelo AMEX seria a de fortalecer seu cartão através do cartão

empresarial o que justificaria os investimentos de cerca de US$ I milhão em 1988. O

cartão empresarial é um cartão de crédito fornecido à pessoa jurídica (empresas) que

podem utilizar os seus serviços para evitar os atropelos, por exemplo, em viagens não

programadas de seus executivos evitando o saque adiantado de dinheiro para despesas

com motéis, alimentação e transportes ao mesmo tempo que permite maior "floating"

de recursos, já que o pagamento das despesas com o cartão empresarial pode ser feito
em até 30 dias depois da utilização deste. Em virtude dos gastos de implantação do

SOLLO (US$ 40 milhões) é possível que este projeto sofra um atraso ao cronograma.

O Cartão Nacional segue a palavra de ordem racionalização e assim sendo investiu

US$ 5 milhões e se associou ao VISA, de quem herdou de imediato 145 mil estabele

cimentos filiados. Procura com isso o cartão Nacional atuar maciçamente na área de

marketing. Com o novo Cartão, o Nacional passou a operar com o crédito parcelado

(antes não trabalhava, só com o rotativo) ao mesmo tempo que permite saques no banco

24 horas e Nacional e garantia de cheque. Muda o cartão è 1989 é alvo de renovação

com o crescimento centrado principalmente na família dos usuários. À reestruturação

não fica só no relançamento do cartão, mas se estende também à área de informática

onde investimentos maciços são realizados. Com isso possibilita-se uma brutal redução

de custos da ordem de US$ 1,6 milhão/ano e controles exercidos com maior velocidade e

segurança. O cuidado com a acuidade do cadastro revela a mudança na metodologia, que

destoa do crescimento desordenado que até então se percebia. Apesar da inadimplência

do setor ser baixa17 (12%), a manutenção de um cadastro é fundamental no que tange

a segurança. Por falar em segurança, muda a aparência do cartão que ganha uma tarja

magnética e perde o retrato. Porém as mudanças não cessam aí, envolvendo a redução

de pessoal e a questão do marketing como primordial. Uma tendência que parece vir se

17ABECS

49
firmando são os T.T.F. (terminais de transferência de fundos) que permitem ao usuário

passar seu cartão em um das máquinas instaladas para que tenha o valor da sua compra

creditado imediatamente na conta do lojista e debitado na conta do cliente sem alterar o

pagamento. Á informática possibilita (viabiliza) o marketing direto (mala-direta) que é

ura grande fator de alavancagem para as vendas e que o Cartão Nacional vem utilizando.

Aliado a isto tudo está a vontade de permanecer forte no Rio e para isso conta com o

auxílio valoroso do-VISA.

0 Credicard por sua vez como primeira no marketing das administradoras de cartão

de crédito possui um estilo bastante próprio e adota a agressividade de marketing como

regra número um. 0 Credicard investiu US$ 15 milhões em sistemas de computadores

e o desafio consiste em oferecer aos clientes serviços cada vez melhores. Outro trunfo

do Credicard está no cartão empresarial, o que justifica os maciços investimentos feitos

no setor e que em breve estaria implantado, podendo arrebanhar um rico filão que hoje

se delineia. Porém com a associação ao Mastercard; um grande cartão americano surge

a possibilidade de o cartão se lançar ao mercado internacional. Esta união permite que

os turistas estrangeiros que vêm ao país se utilizem do cartão para as suas compras. Ás

vendas seriam escrituradas em notas fiscais com recibo de pagamento ao comércio pelo

dólar oficial. O cartão para exportadores também é uma área de interesse para os exe

cutivos do Credicard e logo deve ser anunciado seu funcionamento em fase experimental

50
o que permitiria às mais de 6 mil empresas cadastradas na Gacex facilitar a sua vida.

Está se pensando em um sistema com 2 faturas, uma. em CR$ e outra em US$ e os

exportadores prestariam contas, por antecipação ao Bacen até o limite de US$ 20 mil ou

US$ 30 mil. Esta série de mudanças reflete o novo conceito da empresa de se difundir a

cultura do cartão e para isso tem se valido de uma estratégia agressiva de diversificação

que contrasta com o posicionamento até há pouco tempo da empresa de diferenciação

do cartão. Hoje a estratégia da empresa é de levar o cartão a todos os pontos possíveis

como: bancas, táxis, farmácias etc... Uma nova área que a empresa passou a se dedicar

é a opção pelos clientes do interior do país. Principalmente os de São Paulo e os do

sul. É um mercado potencial enorme e a porta de entrada neste mercado será a Caixa

Econômica Federal que é uma das instituições filiadas ao sistema. O Credicard S/A está

em fase de testes cora o seu mais novo serviço: o pagamento de ingressos de cinema

com o cartão. Trata-se sem dúvida de uma medida importante no sentido de disseminar

a cultura do cartão em um ambiente em que cada vez mais pede a sua presença.

O Bradesco, como dissemos anteriormente é um cartão de compras, no qual se per

mite ao comprador somente duas opções: saldar a dívida no vencimento da fatura ou

• parcelá-la em pagamentos fixos, e não um genuíno cartão de crédito e portanto teve a

sua imagem desgastada junto tanto aos fornecedores quanto aos usuários e assim era

imperioso que revisse o seu marketing. Como parte de sua nova estratégia, o Bradesco.

51
partiu para a renovação total cora um design mais avançado estampando uma holo-

grafia que o torna mais seguro. Abalado com a perda da liderença do mercado para

a Credicard aparece o novo cartão Bradesco, que encerra o sistema ELO. As inovações

se estendem no campo de mais vantagens como: tarja magnética, desconto de cheques

especias em aeroportos etc... As opções para o pagamento do cartão são 3 (dias 1,10 e

20) ao contrário da situação anterior, que só possuía uma data de pagamento. Outra

novidade é o crédito parcelado, uma mudança que dotará o cartão de uma maior flexibil

idade. Esta mudança tem por objetivo dar novo impulso ao produto (cartão) tornando-o

mais competitivo. Essa nova estrutura foi montada para criar um sistema mais prático

para as lojas e os clientes bem como criar um serviço de melhor qualidade. O Bradesco

aposta na força do novo conceito de cartão: o multicartão e para tanto o cartão também

valerá como garantia de cheque especial aos clientes. O Bradesco teve de desembolsar no

desenvolvimento do produto US$ 4 milhões, sendo que deste montante US$ 2,4 milhões

destinam-se à campanha publicitária de lançamento do cartão. Afim de facilitar a vida

das empresas e clientes, o banco lançou no início de 1988 o cartão empresarial Bradesco,

nm cartão que possui as mesmas características do cartão de crédito tradicional, mas

, voltado à pessoa jurídica. Procura com isso um reposicionamento do produto no mer

cado, e a ofensiva neste mercado ou segmento empresarial justificam o investimento no

montante de US$ 1,5 milhão. Esta tentativa reflete a necessidade de valorizar mais o

52
produto e segue estratégia semelhante a outros cartões. O mecanismo de funcionamento

do cartão empresarial é o mesmo dos cartões comuns, com uma diferença: em vez de ser

adquirido pela pessoa física, ele é contratado pela empresa, que por sua vez, cadastra os

funcionários que desejarem. Assim, as despesas efetuadas por esses funcionários como

itens de hospedagem, transporte e alimentação que normalmente exigem adiantamento,

podem ser pagas pela companhia em até 40 dias sem juros. Outra novidade na qual o

Bradesco vem também atuando diz respeito à instalação dos terminais telecompras (uma

espécie de T.T.F.) inicialmente em Rio e São Paulo.

Por fim temos o Ourocard e com ele a agitação no mercado. O Banco do Brasil sem

dúvida entrou firme no mercado de cartões amparado numa forte campanha publicitária

em cima de seus 150 mil funcionários, obtendo um crescimento vertiginoso. A entrada do

Ourocard traz também em sua estrutura dois pontos: a possibilidade de interiorização do

cartão de crédito e o maior esforço de marketing por parte das administradoras de cartão.

O Banco do Brasil deverá continuar a sua atuação junto ao meio rural. A prioridade do

banco deve continuar a ser o interior. Cerca de 75% das agências do BB estão em cidades

com menos de 50.000 habitantes, e é esse o mercado de mais fácil penetração. O interior,

- contudo, não é o único alvo importante do BB e existem planos para o lançamento de dois

novos cartões: o cartão Ourocard internacional e o Ourocard exportação. O Ourocard

internacional será dirigido aos clientes do banco que residem no exterior e deverá se

53
estender aos turistas estrangeiros. O turista compra a mercadoria com o cartão, o

BB ressarce o lojista em CR$ e recebe as US$ do exterior, para pagamento destes

CR$. Quanto ao Ourocard exportação, os estudos estão adiantados e o esquema de

funcionamento é o seguinte: a empresa cadastrada na CÀCEX envia seus executivos em

busca de negócios no mercado externo e pode utilizar o cartão para cobrir despesas destes

funcionárias. O Ourocard aguarda apenas o sinal verde do Banco Central, estabelecendo

o limite de gastos no exterior, que deverá ser de US$ 20 mil. Tanto no caso do Ourocard

internacional quanto do Ourocard exportação, o BB vai utilizar-se da rede Visa, de 6

milhões de estabelecimentos credenciados em mais de 180 países, Esse é o primeiro

passo do banco no exterior, mas qualquer outra instituição poderá, emitir seus cartões

com validade internacional. O cartão empresarial também é alvo de interesses no banco,

mas os estudos estão parados, porém devemos ainda ao Ourocard o fato deste ter sido

o primeiro a trazer em si o conceito de multicartão. Isto porque além de cartão de

crédito, ele funciona como avalista de crédito, garantia de cheques e de movimentação

de conta corrente ( cartão de crédito + cartão de saques + cartão garantia de cheques

= 3 em 1). Esta tendência passou a ser acompanhada pelos demais cartões e hoje é

lugar comum. Porém, nem tudo são maraviüas. Como dito anteriormente, o sistema

VISA viabiliza um número grande de cartões ao utilizar transmissões via-satélite, foi ele

que permitiu aos bancos municipais nos EUA terem cada um seu cartão, o que abre

54
uma perspectiva para que bancos como o Unibaaco, Citybank, Caixa tenham cada um

seu próprio cartão, ameaçando talvez o Credicard. O VISA, ao possuir atuação em

mais de 180 países, permite que compras em Cingapura ou Berlim" sejam imediatamente

creditadas e o saldo atualizado em qualquer parte do mundo. No entanto as associações

com o VISA não costumam dar certo: foi assim com o Bradesco e o Credicard, e além

do mais sempre se corre o perigo de se desencadear uma campanha xeaófaba e com

isso estaria em risco a associação. Surge sempre a possibilidade do BB estar ligado ao

VISA somente o tempo necessário para absorver a tecnologia de cartões e depois daí

romperia com ela. São muitos os boatos que lançam dúvidas sobre o crescimento futuro

do Ourocard. Existem outras oportunidades como por exemplo o cartão de menores,

que é uma tendência cada vez maior no mercado.

A análise acima deixa claro que a disputa deve continuar acirrada e isto é corroborado

pelo lançamento do SOLLO, Nacional/VISA e o novo Bradesco. Atrás deste cenário

aparentemente confuso, está a confiança por parte das empresas de cartão. A confiança

está respaldada nas vendas, que crescem cada ano que passa e o mercado parece dar

sinais de que enfrenta a crise sem declínio da sua atividade. Em 1985, o faturamento

das empresas do setor foi de US$ 1,8 bilhão. Em 1986, com o Cruzado, as vendas

chegaram aos US$ 2,8 bilhões e em 1987, as estimativas indicam que as compras com

cartão irão alcançar a cifra de US$ 3 bilhões (Fig 13 no apêndice). O otimismo não se

55
baseia somente nas vendas, pois acredita-se que o mercado ainda tem muito o que dar

e milhões de clientes a conquistar, porém, a tendência que deve se consolidar indica:

- Pesquisas crescentes na área de informática visando uma maior acuidade do cadatro,

redução de custos, adoção de TTF'S,

- Desenvolvimento de novos produtos como cartão internacional, o cartão exportação

e o cartão empresarial e

- Um novo conceito de.cartão: o Multicartão.

Muitos comerciantes olham o cartão com tanto mais má vontade quanto maior o

índice de inflação. A razão é muito simples quando efetuam uma venda através dos

cartões de crédito, os fornecedores esperam em média um mês para receber seu dinhei

ro, o que numa inflação de 30% a.m. significaria ver o dinheiro escoando ralo abaixo.

Mas, por funcionar na prática como um desconto, as cartões sem dúvida estimulam

o comércio o que explica que mesmo o comércio se retraindo, a indústria de cartão

continua a se expandir 15% a.a. Em resumo, o cartão de crédito foi concebido como um

instrumento prático e seguro que pudesse dinamizar as operações comerciais, mas com

a inflação e a própria distorção que ela insere no sistema eles (cartões) passaram a ser

um meio de se driblar a inflação e o que é ganho para os consumidores é perda para os

lojistas considerando-se o custo de oportunidade de não se aplicar o dinheiro no mercado

financeiro e a taxa de administração (Fig. 14 no apêndice). Esta perda tem chegado a

56
quantias insuportáveis, o que têm levado alguns fornecedores a sugerirem a redução dos

prazos de recebimento das vendas. Após a euforia do plano Cruzado, as administradoras

de cartão alegando queda de rentabilidade, a partir da volta da inflação, voltaram a

trabalhar com prazo de 30 dias em vez de pagamento a cada 15 dias como era feito.

Sobre redução dos prazos as administradoras não admitem sequer conversar e o simples

fato de vários estabelecimentos dependerem do cartão para aumentar suas vendas (as

vezes o cartão representa até 40% do faturamento), faz com que se pense em chegar à uma

solução de consenso. Ás administradoras também argumentam que com o cartão se reduz

o risco do comércio, principalmente nas épocas de crise18. (Fig. 15 no apêndice). Os

lojistas tentam 2 saídas. A primeira delas seria uma redução no prazo de ressarcimento

cora uma comissão mais alta ( hipótese descartada pelas administradoras) ou uma outra

saída seria discriminar os preços nas compras à vista e/ou cheques daquelas feitas com

cartões. A cobrança de um sobrepreço nas compras com cartão, fere um dos princípios

acordados entre lojistas e administradora (Martins, 1976) e as administradoras podem

punir àqueles que estiverem procedendo desta forma . Entretanto como esta prática é

corriqueira hoje, as empresas administradoras simplesmente teriam de descredenciar a

maioria dos lojistas.

18a inadimplência chegou ao máximo no cruzado, ficando em 12%, pois as pessoas simples

mente deixaram de pagar uma vez que os custos eram baixos

57
Por diversas vezes afirmamos que o mercado de cartões de crédito cresceu como

um todo, e isso é um sinal da mudança da mentalidade do brasileiro em relação a este

tipo de serviço, mudança esta que assegura que mesmo terminando a inflação o cartão

de crédito continuará existindo. Nos EUA, Japão ou Europa encontrar um bar, loja

ou supermercado que aceite cheques em troca de mercadorias é uma, tarefa tão difícil

quanto descobrir alguém que opere com cruzeiros. Os cheques, apesar de existirem

nestes países, somente são utilizados em ocasiões especiais. Para eles dinheiro é uma

coisa que se manisfesta de duas maneiras: cédulas ou moedas e cartões de crédito. Nos

EUA, cada cidadão possui em média sete cartões de crédito19, esse número só tende

a crescer. No Brasil a mudança de mentalidade em alguns casos se encontra obstada

pelos fornecedores, que trabalham com um, dois ou ainda do máximo quatro cartões,

impedindo que o indivíduo componha seu fluxo da melhor maneira que lie aprouver

dispondo para isso de 6 ou sete cartões.

Considerações Finais:

Iremos tratar agora de uma maneira breve das características de um usuário de

cartão, e para isto nos baseamos em dados americanos uma vez que tais dados não são

I90 problema de muitos bancos serem regionais, faz com que os cheques só sejam aceitos

localmente, enquanto o cartão tem um alcance maior. O que justiiica em parte a sua maior

aceitação.

58
disponíveis para nós em se tratando de Brasil. Novamente aqui procuramos fornecer

algum subsídio no sentido de compreender de uma forma mais abrangente o cartão.

Estudos de Volcker (1988) e Garcia (1980) argumentam que os maiores fatores de

origem demográfica e que influenciam a natureza da utilização do cartão são: o status

ocupacional (emprego) e a idade. Não obstante este fato, parece razoável admitir que

o uso de cartões aumente com o nível de renda, educação e classe social, mas seja

menos usado entre os aposentados. Um outro fato estilizado indica que a utilização das

facilidades de crédito é inversamente relacionada à renda e ao status sócio-economico,

com os ricos usando os cartões mais como um meio de troca conveniente do que como

uma fonte de crédito de curto-prazo, ao qual as pessoas podem recorrer para equacionar

o seu fluxo de caixa durante o mes. Esta observação surge do fato dos usuários de

crédito de renda mais baixa em geral usarem o crédito rotativo e pagarem mais juros do

que os mais ricos.

Um estudo de Volcker (1988) argumenta que além do status ocupacional e a idade,

o estado civil também é importante para definir o uso ou não do cartão. Os viúvos, '

divorciados e solteiros têm uma probabilidade menor de usar cartão do que as pessoas

casadas e por fim a localização, o local onde o indivíduo mora também exerce uma função

importante no processo. Uma maior idade revela uma atitude mais conservadora com

relação ao crédito e outras formas comuns de endividamento. O sexo também costuma

59
influenciar sobremaneira o uso do cartão e neste aspecto as mulheres utilizam de forma

mais freqüente o cartão do que os homens.

White (1976) mostrou através de trabalho empírico os principais resultados de estu

dos procurando determinar os fatores que influenciam a utilização do cartão de crédito.

O impacto da idade é o esperado, as pessoas mais velhas tendem a usar menos os seus

cartões de crédito, pois estes percebem custos de transação mais elevados do que as

pessoas mais jovens.

Durante as duas décadas passadas, os dados indicam que em média 54% das famílias

entrevistadas usam mais de um cartão ligado a uma ou mais lojas, 40% ao menos um

cartão bancário e 26% ao menos possuía um cartão ligado a posto de gasolina. Inde

pendente do tipo de cartão, o uso deste aumenta vigorosamente e de maneira contínua à

medida em que se eleva a renda familiar e com o nível de educação do chefe de família.

Os cartões de crédito ligado a lojas são o tipo de cartão mais utilizado e o seu uso é

significantemente mais generalizado que o uso de cartões bancários, exceto entre famílias

com mais de US 50.000 de renda ou que possuem um chefe de família cora educação

ao nível de 1^ Grau. Não obstante este fato, os cartões bancários vêm se expandindo à

uma taxa elevada em todas os estratos familiares, mais do que o uso das cartões de loja.

A observação principal que podemos daí abstrair é que as características mais impor

tantes para se determinar se os indivíduos passuem ou não cartão, quão freqüentemente

60
0 usam e se tiram ou não vantagem das facilidades de crédito são:

(1) A idade e

(2) O status ocupacional.

. .Não obstaDte estes resultados parece igualmente aceitável que o uso de cartão seja

função crescente do nível de renda, educação e classe social enquanto outros fatores,

como a cor, raça e sexo tenham também importância. Se é verdade a noção intuitiva

de que o rico se utiliza proporcionalmente menos do cartão, teremos fechado uma série

de fatores que afetam o cartão e merecera destaque era qualquer estudo. (Fig. 16 no

apêndice).

Resumo dos Pontos Principais

Fator Como afeta?

1 - Renda Quanto maior o nível de renda, maior o uso do caitão.

2 - Escolaridade Quanto menor a escolaridade, menor o uso do cartão.

3 - Idade Quanto mais idoso, menor o uso em função talvez do

maior conservadorismo.

4 - Sexo As mulheres tedem a usar mais o cartão - impulso.

5 - fatores Sazonais São datas como: Natal, Dia das mães, Dia dos pais,

Dia da criança e Dia dos namorados.

6 - Estado Conjugai Os casados utilizam-se mais do que os divorciados,

61
viúvos e solteiros.

7 - Localização Uma localização mais nobre, eleva o gasto com cartões.

8 - Estado Ocupacional. (ProRssionais liberais, colarinho branco e azul).

62
3 - CAPÍTULO 2

Neste capítulo nos dedicaremos ao exame de algumas aplicações interessantes que

podemos retirar da teoria econômica e formular ao cartão de crédito a partir de alguns

modelos usados. . "

Assim sendo iniciaremos com a aplicação de caso recente de Siraonsen (1984) para

a dinâmica da dívida e por nós acoplados, ou incorporados em nossa análise de forma

mais específica ao estudo do cartão de crédito. Na realidade trata-se de um trabalho

pioneiro de Domar (1944). A seguir trataremos de uma extensão da teoria da escolha

envolvendo risco, recente na teoria econômica, preocupando-nos em tomar o cartão como

centro de nossa análise e daí derivar as relações que julgamos relevantes. Por fim uma

terceira exemplificação trata da tentativa de entender no cartão uma forma de se fazer

uma discriminação de preços, em função da diferenciação entre o pagamento à vista e/ou

cheque e o pagamento com cartão. "

3.1 - A Dinâmica da Dívida do Cartão de Crédito

Em estudo recentemente realizado, Simonsen (1984) deriva uma série de resultados

que lhe permite uma análise sobre o problema da dívida externa, e mais tarde este tra

balho é estendido por Rossí(1986) para o caso da dívida interna. Ambos são baseados

em um trabalho bastante original de Domar (1944) sobre a dívida interna. Estes resul-

63
tados obtidos podem ser transpostos, com as devidas modificações, ao caso do cartão

bastando para isto redefinir as diversas variáveis que participam das relações apresen

tadas. De fato, todas as relações aqui formuladas sáo realizadas com base no estudo de

Simonsen. Estaremos aqui interessados em estudar o caso de um usuário e a evolução

do seu saldo devedor ao longo do tempo, era função de variáveis como a taxa de juros

cobradas pelos cartões e a parcela que o indivíduo destina ao pagamento (amortização)

que é função de sua renda (basicamente salário). Nos limitamos ao estudo do crédito

rotativo. Chamamos a atenção para o fato desta aplicação ser apenas uma maneira

mais formal de apresentar o argumento aludido anteriormente do perigo de se financiar

a dívida através do revolving.

Como cresce o saldo devedor ao longo do tempo? O saldo devedor é acrescido a

cada período das novas compras, reduzindo-se pelos pagamentos efetuados (amortização)

e acrescido dos juros que incidem sobre o saldo devedor do início do período. Podemos

descrever a dinâmica do saldo devedor através da seguinte equação diferencial:

juroa compras — pagamento

onde:

D - Saldo devedor

í)-áD{t)/dt

64
H - Hiato de recursos —> Novas compras - pagamentos.

fí > 0 -+ Compras > pagamentos, o saldo devedor cresce.

H < 0 —► Compras < pagamentos, o saldo devedor decresce.

Onde D indica o saldo devedor do usuário no instante t, D a sua derivada com relação

ao tempo (dD(i)/dt), i a taxa de juros média incidente sobre tal saldo devedor e H o

hiato de recursos, representado pelas novas compras do usuário menos as amortizações

efetuadas no período. Note-se que se H for positivo, isto representa um déficit (ou seja

as novas compras excederam os pagamentos e assim sendo cresce o saldo devedor) e se

H for negativo, isto represeata um superávit (ou seja as novas compras são inferiores

a amortização e assim sendo diminui o saldo devedor). Tratando-se tanto // quanto

t como funções contínuas do tempo, sendo que II é uma função bem comportada do

tempo em fo, H vale zero com o hiato cruzando o eixo das abcissas. A solução da

equação (1) é:

JdX (2)

que nos diz que o saldo devedor é igual à soma de todos os déhxits (compra > pagamen-

lSimonsen (1984) define H como sendo o saldo das exportações de bens e serviços não-

fatores sobre as importações de bens e serviços nâo-fatores, não dependendo assim da taxa

de juros.

Rossi (1987) define H como o déficit primário, ou seja gastos não-financeiros menos receitas

65
tos) ao longo do tempo tendo sido ajustadas por uma taxa de juros composta. Como

dissemos anteriormente, com o suposto de H ser uma função bem comportada no tempo

e decrescente, podemos identificar 3 fases do saldo devedor.

Numa primeira fase, o hiato de recursos é positivo (H > 0, ou seja compras >

pagamentos) e, assim a dívida cresce mais rapidamente do que a taxa de juros já que o

déíicit é adicionado às despesas com os juros da dívida na formação desta. Numa fase 2,

apesar do usuário passar a apresentar superávits (H < 0 - compras < amortização) estes

ainda são insuficientes para evitar o crescimento da dívida devido aos juros (iD > \H\), e

portanto a dívida continua a crescer embora isto se dê a taxas inferiores à taxa de juros.

Por fira na 32- fase, o superávit (amortização > compras) excede os juros sobre o saldo

devedor (|íf| > iD) e assim a dívida cessa de crescer e finalmente é paga. Notemos que

a capacidade de amortização do usuário é dada pelo montante de receitas a que ele faz

juz (salários + outras rendas) e é isto que interessa à administradora do cartão (credor),

ou seja quanto de recursos o usuário gera para poder arcar com a sua dívida. Daí deriva

a importância de se manter ura cadastro bem atualizado e realista, para que se possa

e portanto a taxa de juros também não afeta H.

Domar (1944) supõe que a taxa de juros seja constante. No nosso caso H provavelmente é

infuenciada pela taxa de juros. Para simplificar a análise fazemos igualmente a suposição

de i constante.

66
vislumbrar estas nuances de todo processo.

Devemos notar que uma variável chave em todo processo é a diferença entre a taxa

de juros e a taxa de crescimento das receitas do usuário. Vejamos o porquê disto.

Denotando por X o valor das receitas do usuário em CR$, por x = £ a sua taxa de

crescimento (taxa de crescimento das receitas do usuário) e por Z = Jr a razão entre a

dívida (saldo devedor) e as receitas, a equação (1) eqüivale a:

+ h* (3)

Onde h = y representa o hiato de recursos como uma proporção do salário do

usuário. Esta relação mostra que, se a taxa de expansão das rendas do usuário for maior

2D = iD + H, dividindo-se tudo por D teremos § = í + ^ (A) e como D = ZX,

tomando-se log, teremos: In D = In Z + ]rX, derivando no tempo:

D~ Z + X

igualando (A) e (B)

fí 7 ir y K 7

<'+ +I+l'"fFz+x
Novamente frisamos que o caso geral é aquele no qual h é uma função de i, mas que para

simplificar tomamos i como dado e portanto h neste sentido independeria da taxa de juros

67
do que a taxa de juros (efetiva) sobre o saldo devedor, então poderia-se ter um déficit

permanente sem que a relação dívida/receitas (^-) cresça. Caso a relação Z inicial seja

de 2, e x = 15% a.m. e i = 11% a.m, o usuário poderá fazer compras em um montante

de até 8% do sou salário, sem que esta relação inicial aumente (—h — (x - i)Z). Na

realidade se x, i e k forem mantidos constantes, pode-se conciliar um déficit pennanente

com uma razão dívida/receiías fixa.

Isto porque esta relação irá convergir para:3

g-{i~ x)Z — h (Equação diferencial de 1- ordem não homogênea)

Solução Particular

= h e

Solução Característica

dZ ,. ,„ rt idZ

I l^dl = f (i - X)dt, mas [±dt =

e portanto

Ln \Z\ + C, = (t -

Ou ainda \Z\ = e(í~a:)í • ec = yleC*-*)*, onde A = ec

68
X — W

Assim, caso o usuário sustente (mantenha) um hiato de recursos de 10% de suas

receitas, e caso as receitas cresçam 13% a.m. e se a taxa de juros permanecer a 8% a.m.,

tal relação dívida/receitas converge para 2 {q^õM = 2)- ísto configura uma situação

tida como favorável, ou seja a taxa de crescimento das receitas {x) excede a taxa de juros

(í). Não é difícil imaginar que caso a conjuntura fosse outra (í > ar), a situação de déficit

(compras > pagamentos) não poderia permanecer por muito tempo, pois do contrário isto

empurraria a razão dívida/receita para limites insuportáveis, partindo-se da premissa de

que estaríamos na fase 1 [h > 0) e portanto por (3), Z está sempre crescendo. Para que

o usuário ingresse na fase II, é necessário que este passe a gerar superávits (pagamento

Como

Z>0-+ \Z\ = Z e Z(t) = AeV-*)'

SoLução Total: Solução Particular-fSolução Característica

2(0 = i + Ae(i~x)t Para t = 0 -> 2(0) = ^ + A e A = Z{0) - £. e assi


assim

Z(t) = [Z(0) - -^Uj^-3* + -^-7 lira Z(t) = JL (pois, supõe-se x > i)

69
> compras). E nesse sentido vamos imaginar que o usuário consiga gerar superávits que

sejam sempre uma dada proporção do valor das receitas auferidas pelo usuário. Suponha

que esta proporção seja g, ou seja H - -g x x, onde g é uma razão positiva com o que

a equação (3) se transforma em:

Z = [i-z)Z-g (5)

Notemos que ainda com g positivo, caso este seja igual a (i — x)Z, a dívida poderá

continuar crescendo, pois o fato de Z parado indica apenas (^) parado, mas a dívida

poderá estar crescendo na mesma proporção das receitas4. Agora nos dedicaremos ao

cálculo de condições necessárias para o pagamento da dívida em um espaço de tempo

(teste da Bolvência fraca). Caso g seja positivo (devedor intermediário), isto ocorrerá

de forma automática quando {x - i) > 0 (conjuntura favorável), ou seja se a taxa de

juros não exceder a expansão das receitas e assim sendo Z tenderá para zero. A dívida

nesta situação poderá ser paga em menos de ^5 meses, onde Zq é a relação inicial

AZ - (í - x)g} se g = (i - x).Z então Z - 0 e portanto £ está parado, mas se g >

(i — z)z, Z < 0 estará caindo. Assim além de g positivo é necessário g > (i — x)Z para que

a dívida caia.
5

Z={i-x)Z-g; Z<0->Z<-g

70
Solução Particular:

Solução Característica:

Zifi = ÀtM*-+Z(t)

Solução Total:

JL- + Ae{i-z)t = Z{t); para t = 0-+Z(0) = ^L, + A

e portanto

Supondo ainda que g > (t - x)Zq, podemos determinar o número de meses para que

se pague a dívida, ou seja reduza-se Z à zero.

523a.» .,£.- (7)

Esta relação é uma função decrescente tanto de -fc como de (x - i) - onde g, x e 1

estão escritos na forma decimal. A tabela 1 no apêndice mostra os valores de t para as

7Para tal façamos Z(t) = 0 (A dívida estará paga) em (6)

72
várias hipóteses de g e do diferencial (x-i). A dívida, eutretanto, jamaia será liquidada

caso (t - x)Zq > g.

À primeira condição acima citada (teste da solvência fraca) nada nos diz sobre

a extensão do processo de ajuste. Ou seja o devedor poderá permanecer de forma

indefinida na fase H, pois ela só exige uma razão dívida/receitas declinante, mas quando

as receitas estão crescendo, isto não necessariamente implica urna dívida cadente. Para

que se possa determinar a condição ou o ajuste necessário para se alcançar a fase III na

qual a dívida se torne decrescente a condição g > (í~x)Zq não é suficiente exigindo uma

condição mais forte. Dando início ao cálculo da condição, iremos reescrever a equação

(1) como:

(1) Multiplicaado-se tudo por

i-xj i-x

y t-x) x-\

JL-.t{*-i)t =: íz0 + -i-r^ Divida-se tudo por

e-*)f ~Zq——— + 1; toma-se Logaritmos


9

(x-t)f = la 11 + — 0
(x-i)
[

73
D _
=<-*■

De onde observa-se que o governo só pode alcançar a fase 3 do ciclo da dívida quando

g > iZ. Este resultado poderia ser derivado de outra forma bastando notar que para que

a dívida caia no tempo (D), teremos que ter a transferência de recursos (pagamentos)

ultrapassando os juros pagos, ou: ;

= gX>iD = i g>iZ

Esta é uma exigência maior do que a desigualdade anterior, sendo pois um teste de

solvência forte.

Notemos inicialmente que era ambos os casos, devedor intermediário (fase 2) e deve

dor maduro (fase 3), H < 0 mas:

Fbse2D>0 t + f § = t + \ > 0 ou Z < {


Fase3D<0 +D 4 t + f g = t + f < 0 ou Z>\

Na passagem D = 0 —»• Z — |. Façamos na equação (6), Z = <• e f =: 5, para

obtermos o teste da solvência forte.

-») 9

= dividindo-se por D, temos g = t + J- = »+ f J- = í -


9de(6),

Z(t) = J—

74
Os resultados numéricos são mostrados na tabela 2 no apêndice, para várias com-

f = jzTi [l -ei»-*)5] + Z^~x^ dividindo-se ambos os lados por g

t t-x

dividindo-se ambos os lados por ei1"

(í -

(t- _ x)e(t-x)5 + JZ^ = y mvertendc-se a expressão:

9 _- 1
^0 Í8({-,)J ~ (»_I)e(i->)T-+ ÍZ^

Vamos trabalhar o lado direito: f j j- tirando o mínimo:

Multiplicando-se e dividindo-se por e^~*

' - »'(** - g

75
binações da taxa de juros com o diferencial entre ela e a taxa de crescimento das re

ceitas. O necessário esforço de ajustamento, além de ser proporcional à razão inicial

dívida/receitas decresce com o diferencial (x - i) e, para uma dada diferença (x - i) é

uma função crescente da taxa de juros.

Por exemplo, caso -fc = 4,0, ou seja para ZQ = 4, g deverá ser 16%, o que requer a

manutenção por cinco meses seguidos de um superávit (pagtos > compra) de 16% das

receitas. Caso (x - i) - -6 e i = 15, o ajuste necessário é de g = 43,2%. Podemos

concluir que quanto menores 03 valores de Zq (razão inicial dívida/receitas), e a taxa

de juros t e quanto maior o diferencial {x - i), mais fácil será o ajuste. Porém nesse

ínterim quanto a dívida irá crescer até que se passe à fase 3? A resposta é:

%T = %l$Pt mas Z = g ou seja D = Z.xe Z(t*) = J. Como já vimos esta


relação é uma função crescente tanto do diferencial (x -1), quanto da taxa de juros í,

Multiplicando-se por (-1), em cima e embaixo

JL
ZQ

76
como podemos ver na tabela 3 no apêndice;10

Poderíamos ainda, investigar o tempo (em meses) exigido para se alcançar a fase 3

do ciclo da dívida, quando a meta de g = 25% é estabelecida. Caso Zo = 4, temos que

■jfc = 6,25% que ao ser substituído, juntamente com t = 5, em (9) nos dará as tabelas 4

e 5 no apêndice. Note-se o declínio acentuado da relação, indicando que o ajuste será

brutal.

Podemos fazer milhões de outros exercícios com o intuito de ilustrar que o cartão de

crédito apesar de ser um instrumento versátil e portanto de fácil uso, deve ser utilizado

com muita parcimônia e principalmente conveniência nas compras, pois do contrário

significará pesadas transferências de recursos.

Para finalizar aplicaremos os resultados aqui derivados aos dados hipotéticos abaixo.

Para tanto vamos supor a renda do indivíduo em X = C7<!$500.000,00, a taxa de cresci

mento de suas receitas (x) sendo de 22% a.ra. e a taxa de juros igual a 32,9%. A

partir daí, utilizando os resultados acima podemos:


10

= r-x (taxa de crescimento das receitas) = = V v • v v =


úQXn Zq .Xq
ZX ÍZq

'max

iZn' -• Da

77
D= CR$ 859.145,00; Z = % - 1,72

X= CR$ 500.000,00

t= 32,9% a.m. -+ 1b(1 + i)~ 0,2844 -f taxa instantânea de juros

i = ln(1.22)= 0,1988

H= Amortização Líquida = compras-pagamentos= CR$ 214.876,25;

_ H _ 214.786,25 _

Z = (0,284 - 0,1988)1,72-0,4286 = -0,2825 e assim concluiremos que

a relação £ estará caindo ao longo do tempo. Em quanto tempo a sua dívida passará

a cair no tempo?

i* = 0,t988-f-0,4196| _ Q 7, _^
t-x 0,0856 > ui«>ca

llPara achar-se í*, sabemos que quando isto ocorrer —> Z = £ ou

Z(t) =
t-xj t-x 1

~ x) 'ZQ{i-x)-g
i i-x i-x -x) t-x

gx 'Z0{i-x)-g
t -x
=-21 = {Zo(i-x)-g) £

78
O tempo para o usuário saldar toda a sua dívida, (f) será:

!=-A .—U. = 4 90 Meses


x — t

E a relação dívida/máxima dívida inicial (

Tv^ =1>000900a28
Caso o usuário quisesse reduzir a zero o seu saldo devedor, qual seria a parcela do

seu rendimento a ser transferido?

(i — x)Zt\
9— —,-■■.■,« cujos resultados mostramos no apêndice na tabela 6
1 — t\x~x)x

À nossa intenção foi a de ilustrar como podemos de forma simples analisar a dinâmica

da dívida do cartão de crédito, alertando para os perigos de uma insolvência por parte

do usuário, fornecendo subsídios às empresas administradoras de como conceder crédito

em função da evolução da situação dos usuários. E um mecanismo mais formal para se

tomando-se log:

, , . I" Zo{i - x) 1 . • /;_^t*


LDX = ln« —^——^ + 1 -+lnel* " =
\ 9 .

Lu x — In t
t-x

79
tratar tão delicado problema, tomando-se como parâmetros a taxa de juros, a taxa de

crescimento das receitas do usuário^ etc...

3.2 - A Hipótese de Discriminação de Preços e o Cartão

Uma outra aplicação igualmente interessante é a que regula a fixação de preços

diferenciados para pagamentos à vista e/ou cheques e os pagamentos efetuados através de

cartão de crédito. O que determina esses preços? Existem critérios de fundo econômico

para a marcação destes? A nossa análise fornece nm ponto de vista particular no qual

o acréscimo no preço de venda advém do fato do fornecedor trabalhar com cartão. Este

é um meio de se discriminar preços, e assim investigamos o. uso dos cartões sob esta

premissa. ■

A teoria microeconômica nos ensina que existem 2 condições necessárias para que a

discriminação de preços ocorra:

1) Deve haver pelo menos duas classes identificáveis de compradores, cujas elasticidades-

preço de demanda do produto sejam diferentes.

2) O monopolista deve conhecer as elasticidades-preço relativas.

Se isto ocorre, e estas elasticidades-preço podem ser reconhecidas e separadas então

o monopolista maximiza o seu lucro se ele vender bens a preços mais baixos aos com-

80
pradores que possuam uma maior elasticidade-preço demanda12. Será que verificamos

isto no caso dos cartões? 0 desconto que é dado aos possuidores de cartão (usuários)

é justamente a diferença entre o preço à vista e o preço que é efetivamente pago daqui

a 30,40 dias sem juros. Formalizando este argumento, seja POio o preço à vista e o

preço futuro (ou efetivo) seja Pqj, aonde t denomina o número de dias entre o uso do

cartão (ou compra do bem) e o desembolso na data de pagamento da fatura. Como não

existem custos durante este período, o desconto pode ser visualizado através do seguinte

12 A receita marginal deve ser igual ao custo marginal. Para o monopolista que é capaz

de discriminar 2 classes de compradores, leu, para que o lucro seja máximo, MRj =

MRn — MC. E como se os bens vendidos para classe I e para classe II fossem dois bens

diferentes que têm o mesmo custo marginal, lembramos que

Caso tti > W2 -* P\ <• f*2 (quanto maior a elasticidade de um comprador, menor o preço,

maior o desconto)

Miller, Roy. Microeconomia. Teoria, questões e aplicações. Rio de Janeiro, MC Graw-

Hill, 1981

81
valor presente:

0,0
Po,t =

Onde r é a taxa anual relevante para o desconto de valores no tempo13. Mostramos

a tabela abaixo para que se possa ter presente a idéia do desconto.

Porcentagem de Desconto do Preço à Vista para o Cartão

TAXA DE JUROS a.a

LAG 5% 10% 15% 18% 20%


20 Dias 0,3 0,5 0,8 0,9 1,0
30 Dias 0,4 0,7 1,2 1,4 .1,5
40 Dias 0,5 1,04 1,52 1,8 2,0

A emissão dos cartões por firmas especializadas permite a separação dos consumi

dores em 2 grupos distintos - usuários ou portadores de cartão e não-usuários ou não

portadores de cartão. Como vimos anteriormente, ao preencher unia proposta o pre

tendente informa dados como a sua renda, bens etc... e desta forma ao apresentar seu

cartão no ato de uma compra, este mesmo usuário, além de indicar ser um bom pa

gador, revela todas estas informações acima (econômico-financeiras) que custariam mais

ao fornecedor obtê-las, através de um cadastro por exemplo. Acima expusemos a idéia

13Taxa de juros real das OTN's, ou seja acima da CM. ou taxa real do overnight

82
de que o usuário do cartão receberia descontos relativamente aos não portadores. Por

tanto nos parece razoável concluir que a utilização dos cartões pennite aos vendedores

a identificação entre 2 classes de consumidores e ao mesmo tempo concede descontos

à este grupo (os que possuem cartão) se servindo desta forma aos propósitos de uma

discriminação de preços visando o lucro.

Seguindo o raciocínio de que os cartões são emitidos para que se possa separar os

mercados e assim gozar dos lucros de um monopolista-discriminador, é preciso que os

cartões sejam remetidos àqueles cuja demanda é mais elástica. Isto implica que irão

existir uma grande variedade de cartões, era função dos vários critérios de emissão como

a renda por exemplo. Existem até empresas que se especificaram neste tipo de fatia de

mercado como a Amex e o Dinere.14.

A disponibilidade de empréstimos de curto prazo (cartão), livre de encargos, implica

num desconto implícito nas compras de bens e serviços relativamente àqueles que não

possuem cartão de crédito. Pode-se explicar neste contexto o cartão de crédito que

dá aos lojistas uma maneira eficaz de separar os grupos de consumo com demandas

mais elástica e menos elásticas e desta forma, seguindo a premissa de discriminação

de preços, preços menores seriam cobrados àqueles que possuem uma elasticidade-preço

l4O valor real da receita cairá com um aumento na taxa de inflação, (problema ocorrido

logo após o Cruzado), quando 200 lojistas quiseram reduzir a comissão

83
maior, preços esses que seriam simbolizados pelos descontos concedidos. Podemos citar

como exemplo o caso da churascaria Plataforma no Rio que é muito freqüentada por

turistas. Estes, que só pagam em dinheiro, seriam muito inelásticos e assim o preço

cobrado maior. Já os brasileiros que lá freqüentam são mais elásticos e nesse sentido

cobra-se um preço menor que seria o pago com cartão.

Mostraremos agora um exemplo e a seguir iremos discorrer sobre como os vendedores

deveriam fixar seus preços. Este assunto já foi abordado de maneira diagraraática, mas

agora procuraremos dar contornos mais nítidos ao que já foi dito. Constatamos no dia

13/08/88 que um determinado artigo estava à venda em um shopping-center do Rio

por CRS 25,01 (preço da mercadoria), sendo que caso o pagamento fosse efetuado com

cartão, o preço seria CRS 17,49 e caso o pagamento fosse feito com cheque e/ou à vista

CR$ 13,99.

<(A) Compra com pagamento no cartão .

.Dia 13/08 (sábado)-CR$ 17,49

Creditados pelo emissor no dia 12/09 (segunda): ^[^if-tp = -CRSlS, 78

30 dias após

Sendo: 0,97 a comissão da administradora e .

1,2404 a inflação no período

84
(B) Compra com pagamento à vista e/ou cheque

Dia 13/08 (sábado) - CR$ 13,99

No dia 12/09 (segunda) aplicando no Overnight (taxa bruta: 25,09% a.m.)

13,99 x[gyf+-l]19,= 16.39

Sendo: 19 o número de dias úteis entre 13/08 e 12/03

Perda: CR$ 2,61

Esta perda envolvida no processo demandaria algumas alterações:

(1) Reduzir a comissão paga as administradoras; o = f(n) ff < 0

(2) Diminuir o prazo para recebimento das vendas.

Trabalhando em termos hipotéticos e supondo que no dia 12/09 (recebimento da

venda caso fosse com cartão) os valores entre o pagamento com o cartão e o pagamento

à vista não devem ser muito diferentes, em função da arbitragem, ou seja a perda não

deveria ser muito grande, pois ante urna alternativa claramente mais favorável, todos a

escolheriam em detrimento da outra (no caso a compra à vista). Aplicamos o seguinte

desenvolvimento que procura mostrar qual deveria ser o desconto nas vendas à vista em

relação ao pagamento com cartão.

Preço à vista: X

Preço na compra com cartão: Y

85
Comissão da administradora: a%

Opção 1 - Compra com pagamento rio cartão.

Dia 13/08 - CR$ Y Creditados pelo Emissor: ^K (l)15

Dia 12/09

QpçHo 2 - Compra com pagamento à vista.

Dia 13/08 - CR$ X Dia 12/09 - Aplicado no Over

ele vai receber: X(^£ + l)"£ de dias úteifJ

Obs: Mas, a taxa do Overnight nada mais é do que a taxa de inflação (tt) mais

uma parcela de juro reais (C).

l5Isto é parecido com o efeito descoberto por Tanzí, onde os Lags entre a venda e o efetivo

recebimento da venda impõem perdas. (Inflation, Lags in collection and the real value of

Tax revenue.)

R - Valor real de um CR$ de receita hoje mas medidos em preços de período quando a

receita ocorre

P - Taxa mensal de inflação

n - tamanho do Lag, expresso em meses

86
O que nos dá:

(2)

Igualando-se (1) e (2) temos:

de onde :

[(1 + ir)(l + C) - 1] \±1


X 30 l-ct

No apêndice na tabela 7 são calculados alguns valores para n = 19 (número de dias

úteis) e a (coraissão=2%).

No caso acima apontado, (Over=25,09; Inflacão=24,04; Carrmg=0,80) teríamos que

a relação aproximada entre preço com cartão/preço à vista de 1,48, ou seja o preço

em relação ao cartão seria cerca de 48% a mais do que o do preço à vista. Caso a

relação observada fosse de 1,40, abaixo portanto de 1,48 observaríamos prejuízo. Em

caso contrário nâo:

Dia 13/08 Dia 12/09

Preço à vista CR$ 13,99 CR$ 16,39

Preço com cartão CR$ 20,71 (l,48x) CRI 16,36

87
Á idéia aqui nesta seção foi de apresentar um aparato mais desenvolvido no sentido

de se poder estudar como são fixados os preços em um esquema em que se utiliza o

cartão, ao mesmo, tempo em que utilizamos um exemplo prático numérico com o intuito

de fixar esta noção. A utilização deste exemplo demonstra que os fornecedores não levam

Diuito em conta os custos de oportunidade envolvidos e assim sendo parecem fixar (ou

detenüinar) de uma maneira ad-hoc 03 seus preços o que faz com que em certas ocasiões

estes percebam perdas que podem ser significativas. Devemos levar em consideração que

a majoração de preços, ou seja a cobrança de um preço mais elevado nas compras com

cartão é prática condenável pelas administradoras. Na seção seguinte abordaremos este

fato.

Ainda nesta seção propusemos o entendimento do cartão de crédito em um ambiente

na qual o monopolista discrimina os preços. O desconto que é concedido às pessoas

que adquirem bens e/ou serviços com cartão de crédito vís-a-vís as demais, soa como

um preço menor e isto segue de perto oa ditames da teoria microeconômica. O cartão

propicia ao fornecedor informações relevantes para os fornecedores que assim maximizam

o lucro vendendo a preços mais baixos para os consumidores com maior elasticidade-preço

da demanda.
3.3 - Â Teoria da Escolta Envolvendo Risco e o Cartão

Esta seção tenta aplicar ao caso do cartão de crédito uma abordagem relativamente

recente da teoria econômica. Este problema ficou conhecido na literatura como o pro

blema das duas aplicações16, e analisa como ura indivíduo irá aplicar em títulos de

renda variável o seu patrimônio. Utilizaremos este aparato para questionar a cobrança

de preços mais elevados nas compras com cartão e também para traçarmos uma análise

comparativa entre os cartões de crédito e os cheques sem fundos, do ponto de vista das

perdas envolvidas no processo. Estas duas análises demandam uma atenção especial

para o elemento risco, presente em ambas. Assim sendo, estaremos interessados aqui em

investigar: ,

(1) A venda de um bem e/ou serviço à vista por um preço, e por um outro preço mais

elevado, caso a compra se dê através do cartão de crédito. O simples fato de se

cobrar um preço diferenciado e mais elevado no caso da compra com cartão, viola

o acordo firmado entre o fornecedor e a administradora quando da assinatura do

contrato e esta ( administradora) pode descredenciar a loja. O elemento risco está

presente na medida em que o fornecedor pode ter o seu contrato cancelado ao se

detectar a cobrança indevida de um preço maior.

(2) A possível perda que está envolvida no risco de se trabalhar com cheques, uma vez

16Arrow, Kenneth S. Essays in the theory qí risk-bearing

89
que este pode não ter a provisão de fundos suficiente, vís-a-vís se trabalhar com

cartões de crédito nos quais a margem de segurança é bastante elevada. Repare-se

que era muitos casos a venda com cartão e portanto, segura, compensa o fato de se

receber somente 30 dias depois.

Como ficou claro do que foi exposto acima, o elemento risco está presente em ambos

os casos g desta forma escolhemos o rationale proposto pela teoria da escolha envolvendo

risco e de unia maneira mais específica o problema das duas aplicações para tratar

formalmente do assunto e daí derivar algumas conclusões.

Caso 1 - O problema das duas aplicações e o ágio nas compras com cartão

0 cartão de crédito foi criado com o intuito de propiciar uma maneira ágil de realizar

as compras e com isso poupar tanto o comprador quanto o vendedor de uma série de

problemas, como cadastro etc... No entanto a inflação introduz uma distorção. Com

uma. inflação alta o pagamento em até 40 dias é uma vantagem real e introduz uma

grande perda para os lojistas, que para não terem as suas vendas diminuídas continuam

a trabalhar com cartões. Uma maneira de se burlar este sistema é discriminar os preços.

Como? Cobrando um preço mais elevado nas compras a cartão, para compensar (ou

preservar) o fato de se receber só 40 dias depois um valor defasado no tempo e corroído

pela inflação.

Esta prática é condenável pelas administradoras de cartão de crédito e sempre existe

90
uma cláusula expressa nos contratos firmados entre os lojistas e estas que vedam esta

possibilidade (Fig. 17). A razão, para a inclusão desta cláusula - não majorar os preços

das mercadorias ou dos serviços prestados no caso do pagamento efetuado por cartões -

é a seguinte. Conforme já dissemos o lojista paga à administradora uma comissão sobre

as vendas como uma maneira de remuneração pelos serviços prestados pela emissora.

Sabendo deste fato, o fornecedor poderia acrescer o preço das mercadorias vendidas, o

que sem dúvida alguma lesaria o consumidor e o sistema todo será danificado.

O preço cobrado na compra com cartão é o da venda corrente das mercadorias ou

dos serviços idênticos àquele caso a compra fosse feita à vista.

Entretanto uma forma bastante comum de se burlar é de desconto por dentro e é

mostrado no apêndice (Fig. 17).

A pergunta vem logo à tona. Isto não é a mesma coisa, ou seja uma majoração de

preços? Como sabemos, em muitas ocasiões os lojistas cora base em vários motivos -

renovação do estoque por mudança de estação, obtenção de capital de giro, necessidade

de caixa etc... resolvem conceder abatimentos (reduções de preços) em algumas mer

cadorias ou mesmo em todo o estoque. Em tal caso se a pessoa adquirir as mercadorias

através de cartôe3 de crédito, esta poderá gozar do abatimento, uma vez que o preço

das mercadorias (deduzido o abatimento) passa a ser o preço corrente para todas as

pessoas que queiram comprar os bens. O exemplo acima aludido, e prática difundida

91
hoje em dia, é um pouco diferente, pois ao se anunciar a redução dos preços, o lojista

fixa novos preços para o pagamento à vista. Conforme também já alertamos a venda

de uma mercadoria efetuada através do cartão de crédito pode ser entendida como uma

venda feita a prazo uma vez que a liquidação das débitos (dívida) só se dará em um

instante posterior ao da compra. Não obstante este fato, do ponto de vista da relação

entre usuário e fornecedor, essa venda funciona como se fosse à vista com o usuário a

ser devedor da administradora e o fornecedor tornando-se credor do emissor sendo ainda

emitida fatura da venda efetuada. Assim, com a redução nos preços se o pagamento for

à vista, é daí decorrente que os titulares (usuários) dos cartões também façam jus à estas

mercadorias pelo mesmo preço abatido sem o que estariam sendo feridos princípios acor

dados no ato da assinatura do contrato. O não cumprimento de uma das regras autoriza

a administradora a descredenciar o estabelecimento, e do nosso ponto de vista este seria

o caso, entretanto como esta prática está bastante disseminada, o descredenciamento

deveria atingir à uma gama muito grande de fornecedores, o que não è do interesse das

administradoras e por essa razão elas (administradoras) parecem fazer vista grossa17. ■

Conforme Simonsen (1983) a maior parte dos agentes econômicos só aceita correr

riscos na expectativa de alguma recompensa, que em grande parte é de cunho financeiro

e que compense em larga medida os transtornos envolvidos. É por essa razão que os

17na realidade este fato poderia reduzir o risco a zero

92
clientes que oferecem piores condições são àqueles que irão arcar com os maiores custes.

O fornecedor pode aumentar o seu faturamento ao trabalhar com o cartão, mas deve

defender-se da inflação crônica cobrando um preço mais elevado do que nas compras à

vista ainda que corra o risco de ser descredenciado. Trataremos deste caso no contexto da

escolha envolvendo risco, utilizando-se uma variação do problema das duas aplicações18.

Seja F o preço pelo qual a loja vende o produto ca3o este seja pago à vista e/ou

cheque e defina-se P{\ +k)7k > 0 como sendo o caso de cobrança de um preço mais

elevado pelo qual a loja vende este mesmo produto com o pagamento efetuado através de

cartão de crédito19. Como já alertamos esta prática é condenável e a "descoberta" deste

procedimento por parte da administradora do cartão implica era riscos para o lojista.

De maneira a explicitar e formalizar o mecanismo de tomada de decisão para um agente

econômico (fornecedor). Apresentamos as seguintes hipóteses de trabalho:

(1) O agente maximiza a utilidade esperada de sua renda R(EU(R{k))). Essa renda

decorre de seu faturamento (vendas) durante um certo período de tempo. Esta

hipótese contrasta com aquela de maximização da esperança matemática dos ganhos-

e daí conclui-se que para que um indivíduo esteja disposto a correr risco deverá haver

alguma recompensa;

18Marcos Costa Holanda, Rubens P. Cysne e Fernando H. Barbosa, Ensaio Econômico n^

103
í9Não trabalhamos o caso do desconto

93
(2) O agente deverá escolher qual parcela de sua renda {R — N) será vendida ao preço

P, através de dinheiro ou cheque, e a parcela que sobrou N será vendida através

do cartão ao preço /3(1 + k) + Z} onde k procura refletir o custo de oportunidade

expresso entre o. recebimento da venda após 30 dias e descontada uma comissão a

sobre as vendas. Â variável aleatória Z representa o risco envolvido no processo20.

(3) A parcela k é constante e independente da decisão tomada pelo agente.

Notemos que a renda real do indivíduo será descrito pela seguinte variável aleatória:

Renda = RÍZ) = (R-N)P + N{PU + K)


venda à vista venda através de cartão

= RP-NP + NP + NPK + NZ = RP + N(PK + Z) (1)

Isto posto designaremos por G{N) a utilidade esperada da renda:

(2)

Com as hipóteses de (1) a (3), o nosso problema se resume a obter o valor de N

no intervalo 0 < N < R que maximiza a utilidade esperada da renda G(N). Para isso

iremos derivar a expressão (2) duas vezes, e com isso:

' (3)

= E{kP + ZfU'\RP + N{kP + Z)) (4)


20expressa a possibilidade de fraude caso se descrencie
21 Utilize a regra da cadeia

94
Com a hipótese da utilidade esperada, está o postulado da não saciedade, pela

qual a utilidade esperada da renda é uma função crescente da renda real, o que apoia

o princípio universal da utilidade marginal positiva. A concavidade ou convexidade

da função esperada^ retrata a atitude do indivíduo frente ao risco. Por definição, um

indivíduo avesso ao risco prefere o certo ao duvidaso, em caso de igualdade de condições

quanto à esperança matemática. De acordo com Simonsen (1983), o indivíduo avesso ao

risco prefere receber (1 - §)Ri + glh ao certo do que uma loteria com probabilidade g

de render Ri e probabilidade I - g de render #2(0 < g < 1 e Ri ^ R%) ou ainda:

- g)Ri + gR2) > (1 - gpiRt) + gU{R2)

O que implica ser a função utilidade renda esperada estritamente concava. O indivíduo

propenso ao risco prefere o duvidoso ao certo, em caso de igualdade de condições quanto

à esperança matemática, ou seja:

U((l-g)R1+gR2)<{\-g)U(Rl)

O que implica que a utilidade da renda é estritamente convexa,

Com relação à expressão (4), se o agente for propenso ao risco, sabemos que (/"(*)

é por definição negativa e por isso a função G(N) é estritamente convexa em N. Isto

significa que o indivíduo concentrará todos os seus esforços em uma única atividade.

Neste caso, toda a receita R seria obtida mediante venda à vista, caso (7(0) > G(R).

95
Chi todo o faturamento seria proveniente da venda com cartão, caso G{R) > G(0). Se

G(0) = G{R) está caracterizada a indiferença ao risco do agente entre uma opção e

outra. Ou todo o faturamento será obtido de uma atividade ou de outra. Note-se que

em todos os casos o indivíduo irá comparar G(0) com G(R), não havendo diversificação

possível. Podemos visualizar isto nos diagramas no apêndice (Graf. 1).

No caso do indivíduo ser indiferente ao risco, podemos tomar como função utilidade

U(R) -Re nesse caso G[N) = RP+NE[Pk + Z) e com isso a maximização de (2) terá

por solução N = 0, se EZ + Pk < 0, ou N = R, se EZ + Pk> 0. No caso particular em

que ÉZ + Pk = 0, o indivíduo torna-se indiferente a qualquer valor de N no intervalo

Entretanto o caso mais interessante, que envolve a possibilidade de diversificação

aparece quando o indivíduo é avesso ao risco. Nesta situação a função G(N) a ser

maximizada é por definição côncava, com {/(•) positivo. Nesta situação identificamos 3

casos possíveis no apêndice (Graf. 1).

No caso descrito pela figura A o indivíduo nada venderá através de cartão e uma

condição necessária e suficiente para que isto ocorra é G'(0) < 0. Mas C.(0) = E{kP +

Z)U'{RP + N(kP + Z))22 = E(kP + Z)Ú'{RP) < 0, ou como U'(RP) > 0 isto implica

22 Fazemos JV = 0

96
que E(kP + Z) < 0. O que está por detrás desta equação é que o indivíduo avesso ao

risco nada venderá através do cartão de crédito se e somente se o valor esperado do

ganho comparativamente à operação efetuada com cheque e/ou à vista (que não está

sujeita ao risco) for. negativo. Na figura B todo o faturamento será obtido mediante a

venda com. cartão. Nesta situação N - R o que implica que G'[N - R) = E(kP +

Z)Ü'{RP + R{kP + Z)) = E(kP + Z)Ü'{R{P{\ + k) -!- Z)) > 0 e finalmente tem-se a

situação O no qual ocorre a diversificação, ou seja o indivíduo venderá parte mediante

a utilização do cartão de crédito (Ne) e o restante (R - Ne) será vendido através de

cheque e/ou à vista. A condição para que isto ocorra é que:

í 1- G'(0) > 0 -f G"(0) = E(kP + Z)Ü'{RP) > 0 -+ E{kP + Z)>0

O ponto Ne (de equilíbrio) será obtido através da seguinte equação:

(A) HiN^kP.PR.Z) = E(kP + Z).U'{RP + Ne{kP + Z)) =0 . (5)

Caso trabalhemos com a hipótese de um coeficiente absoluto de risco não crescente

com a renda, podemos mostrar que um aumento na majoração do preço de venda com

cartão (k) levará a um acréscimo das operações com cartão e pela equação (5) podemos

escrever que:

o valor esperado no ganho comparativamente à operação com cheque e/ou à vista for

positivo.

97
dH 8N< , d II _ n

— n
— u

Notemos que

Ne(kP + Z))]5iVe = G'^^) < 0

de onde podemos concluir que

dNe dH
e
d{PK)

terão o mesmo sinal. O mesmo pode ser dito de

dNe> dH
e

Novamente utilizando a equação (5), pode ser escrito que:

dH _ d\E(kP + Z).Uf{Rp + NejkP 4- Z))]


ãfJ dPR ■

(8)

(9)

23 regra do produto

98
de (9) e (8) podemos escrever que

(10)

Na expressão acima EU'{RP + Ne(Pk + Z)) > 0, já que as utilidades marginais são

positivas, e assim o sinal de gM^y:

(1) será positivo caso ^fp-^x > 0;

(2) caso -grpjrj < 0, o sinal de jrjrp: dependerá do coeficiente de aversão absoluta

ao risco:

(A) se a aversão absoluta ao risco24 for decrescente -* ■gfjrçx > 0

(B) se a aversão absoluta ao risco for constante —► Jpjr = 0

(G) se a aversão absoluta ao risco for crescente -+' j^L < 0

Abaixo mostraremos o resultado para o caso (A) sendo o caso B e O similares. No

caso j4, tomando A'(R) < 0 e nessa situação para todo (FAr + Z),

C 0) (11)

24

U"{R)
1FJM

- coeficiente de aversão absoluta ao risco

99
Multiplicando-se ambos os membros por U'(RP + Ne{Pk + Z))} que é positivo, e

trocando-se os sinais teremos:

{Pk + Z) .\-U'{RP
V'{RP}

+ Z).A(RP)W{RP + Ne{Pk + Z)) (12)

Tomando-se as esperanças matemáticas da expressão 12:

= E\{Pk + Z).U"{RP + Ne{Pk + Z))\ > E\-A{RP).{Pk + Z).U'{RP + iVe

Mas note-se que o primeiro membro da equação (13) é i^ual a ^^j25 e o segundo

membro da equação (13), pela equação (5) é igual a zero de onde se obtém que ^^rj > 0.

; Pelo que foi aqui exposto, conclui-se que um aumento em k (proporção entre o preço

com cartão e o preço à vista) sempre levará a ura aumento no montante vendido com

cartão, se o coeficiente de aversão absoluta for não crescente com a renda.


25

H{N% PR, fc, Z) = E{kP +. Z).Ü'{RP + Ne{kP + Z))

4§ã = E(kP + Z)U"{RP + Ne{kP

100

BIBLIOTECA MARIO HENRIQUE SIMONSEN


FUNDAÇÃO GETUUO VARGAS
Mostramos neste pequeno estudo uma aplicação ao cartão de crédito da rationale

proposta pela teoria da escolha envolvendo o risco.

CASO II - Novamente o caso das duas aplicações

Já afirmamos anteriormentente que os cartões de crédito têm inúmeras vantagens

corno por exemplo a segurança e a comodidade. Entretanto existe um instrumento que

compete de perto com o cartão, qual seja o cheque e de maneira específica o cheque

especial. Podemos traçar um comparativo entre os dois sob as seguintes perspectivas:

(1) do ponto de vista do custo de transação e

(2) do ponto de vista do risco envolvido na transação.

Inovações financeiras são aquelas que reduzem os custos de transações entre os di

versos ativos financeiros. Tem sido assim com as moedas que substituíram o escambo,

pois eliminavam a não coincidência de vontade de trocar bens e as dificuldades de uma

unidade de conta não padronizada. O papel-moeda substituiu a moeda metálica por

ser mais fácil de se carregar e armazenar. O cheque (moeda escriturai) substituiu em

larga escala o papel-moeda, pois não mais é necessário se carregar grandes somas de

moeda e fornecem ao mesmo tempo um meio eficiente de se transferir grandes somas de

dinheiro. Por fira os cartões de crédito que além disto tudo possibilitam ao consumidor

comprar bens sem dispor de fundos para tal. Notemos que a introdução de cada um

101
destes instrumentos nâo eliniinou por completo os métodos anteriores. Cada transação

possui um custo fixo que independe do tamanho ou do tipo de transação. Por exemplo

o custo fixo de uma transação com cheque só exige que se carregue um cheque e que

ele seja passado ao vendedor. Entretanto devemos igualmente computar o custo fixo de

uma transação com cartão que está associado ao fato de se carregar o cartão, o tempo

que deve ser esperado para realizar a transação e posteriormente uma vez ao mês deverá

«er pago a fatura do cartão. Estes custos fixos variam de indivíduo para indivíduo e

ajudam a explicar o porquê de diferente pessoas usarem diferentes métodos para realizar

a mesma operação:

(1) Características demográficas (idade, sexo etc.)

Idade-*- As pessoas mais velhas resistem mais às mudanças ou inovações tecnológicas.

Assim aqueles que foram criados em uma sociedade computadorizada utilizam mais os

cartões; . .

Sexo-» As incoveniências de se carregar um talão de cheques é menor para as mu

lheres, pois estas possuem bolsas e assim o custo fixo de uma transação com cheques é

maior para os homens;

Educação-* Pessoas com um maior grau de instrução aceitam mais os novos desen

volvimentos do sistema bancário e desta forma a introdução de um novo instrumento

como o cartão terá menores custos fixos para estes.

102
Como dissemos o custo fixo é invariante com o tamanho da transação, mas alguns

custos de transação são variáveis e são determinados pelo valor da transação. White

(1976) descreveu os diversos custos variáveis através da seguinte figura de uma forma

hipotética (Graf. 2).

Grandes transações com dinheiro possuem um custo muito elevado em virtude da

possibilidade de roubo, enquanto as pequenas transações quando efetuadas com dinheiro

possuem um custo relativamente baixo e desta forma o custo de uma transação efetu

ada com dinheiro é crescente com o tamanho da transação. O mesmo não ocorre com

transações que são levadas a cabo por intermédio de cheques. Isto porque o custo é in-

varianto com o tamanho da transação, podendo até ser menor no caso de grandes somas

pagas com cheque em virtude do menor tempo de compensação destes. Estão envolvidos

aí custos ligadoa à telefonemas ao sistema de proteção ao crédito (S.P.C) etc... De uma

forma distinta figuram aquelas transações com cartão de crédito. A aparência da curva

que km um formato em (7, ocorre porque ao funcionar na prática como um empréstimo

de curto-prazo sem cobrança de juros, o custo médio deverá decrescer à medida que ó

tamanho da transação cresça. Porém de cada venda é abatida a comissão que é repas

sada dos fornecedores para a administradora, por este motivo alguns vendedores (ou

lojistas) preferem conceder um abono para aqueles que pagarem à vista. Este fator faz

com que se eleve o custo alternativo de se comprar com cartão e explica o ramo ascen-

103
dente da curva. Esta análise nos permite detectar fatores que justifiquem a utilização

uma vez do cheque outra do cartão com base em critérios objetivos: o de reduzir os

custos de transação ao mínimo. Assim caso se assuma que a figura (hipotética) seja uma

descrição razoável da realidade, os indivíduos irão preferir usar o cartão mais relativa

mente ao cheque até o volume de transação (3), quando a partir daí dariam preferência

ao cheque. Uma outra razão que propiciaria uma diferenciação entre o uso do cartão

e do cheque diz respeito ao alcance do3 dois instrumentos. Por exemplo um banco re

gional (como o Banco de Mossoró) está muito restrito ao Nordeste e de maneira mais

específica ao Rio Grande do Norte. Os seus cheques por conseguinte estarão restritos

a esta área, não sendo talvez aceitos por comerciantes do Mato Grosso do Sul. Já o

Credicard, cartão de crédito ao qual o banco está filiado, tem alcance nacional e é quase

certo que venha a ser aceito por comerciantes do Mato Grosso do Sul. Este é um fator

importante para explicar o desenvolvimento do mercado de cartões. O Brasil,.um país

com proporções continentais, possui grandes conglomerados bancários com atuação na

cional26 o que facilita a aceitação de cheques em todo Brasil, ainda que sejam emitidos

cheques que não na própria praça do correntista27. Já nos EUA é comun a existência

de bancos de atuação apenas regional, o que dificulta a aceitação de cheques em outras

26Banco Nacional S/A, Banco Bradesco S/A, ... - com grande número de agências.
27A rigor cheques emitidas em praças diferentes possuem o custo de um maior tempo de

compensação.

104
regiões que não aquela de atuação do banco, Com isso abre-se uma perspectiva muito

maior do cartão ser aceito e até melhor recebido nos EUA do que no Brasil onde existe

um concorrente grande, qual seja o cheque. Porém o cartão possui algo que o distingue

de forma qualitativa do cheque: a segurança. Quando o usuário saca o cartão e paga

a compra efetuada, modifica-se a estrutura convencional vigente, pois quem assume em

última instância a responsabilidade pelo pagamento é a administradora do cartão com

o que ficará o usuário devedor não do lojista, mas da administradora. Transfere-se o

ônus do sistema e o risco para a emissora do cartão e com isso a segurança passa a

ser máxima. Naquilo que diz respeito ao cheque surgem problemas relacionados com a

sua falia de confiabilidade e assim sendo com a sua aceitação. Há algum tempo atrás

os problemas de falta de confiança nos cheques estavam relacionados com a incipiência

do sistema bancário aliada à falta de informações por parte dos agentes econômicos o

que levava inevitavelmente à pouca aceitação e ao uso reduzido do cheque. Hoje em

dia, cora o crescimento inusitado da automação bancária e informatização dos processos

bancários, a desconfiança no cheque está ligada em sua ampla maioria ao problema da

falta de fundos na emissão dos documentos. Segundo Souza (1984), quando o fenômeno

da emissão de cheques sem fundos ganha uma proporção muito grande isto termina

acarretando conseqüências perversas sobre o funcionamento de todo o sistema bancário,

baseado na fidúcia (confiança), uma vez que esta prática traz custos não só para a pessoa

105
diretamente afetada, mas também para toda a sociedade de uma maneira geral, pois a

perda de confiança no cheque prejudica a eficiência do sistema (ver fig. 18 no apêndice).

Segundo Faro, Holanda e Áluísio28 existiriam 3 perfis de pessoas que emitiriam

cheques sem fundo:

(1) aquele indivíduo que passa o cheque de maneira proposital -+ dolo;

(2) aquele indivíduo que está em uma situação financeira desesperadora e assim utiliza-

se do cheque como tentativa de obter algum empréstimo de curto prazo que venha

a atenuar a sua situação no curto-prazo, pois pretende pagar o cheque no futuro e

(3) por fim aquele indivíduo que passa um cheque sem saber ao certo quanto dispõe de

fundos.

Com o intuito de trabalharmos um pouco mais a idéia da segurança e a distinção

entre o uso do cartão e do cheque usaremos o instrumental da teoria da escolha envol

vendo risco tal qual o caso das duas aplicações. O indivíduo (lojista) deve se decidir

entre receber ao certo uma renda Go oriunda de uma venda com base no cartão de

crédito, ainda que daqui a 30 dias e descontada uma comissão de a%(0 < a < 1) so

bre o faturamento, ou receber uma renda aleatória Gq adivinda da venda através de

cheque. Note-se que nesta segunda alternativa, existe a possibilidade do lojista receber

um cheque sem a devida provisão de fundos e daí vem a aleatoridade da renda. De

^Clóvis de Faro, Fernando Holanda e Aloísio Araújo. Ensaio econômico N2- 54 - EPGE

106
forma esquemática:

Demanda por operações com cartão de crédito por parte das firmas em função da

inflação instantânea, da comissão sobre as vendas e do risco dos cheques sem fundo.

1. Renda Certa: (C?o) 2. Renda Duvidosa (G^)

Cartão Cheques

L—jjJi X Z.C

Onde:

a = Comissão paga à administradora sobre as vendas

R = Faturamento total - Recebimentos em CR$

ôt =ln (1 + 7Tt)= Taxa instantânea de inflação - é uma V.A. com média (i e variância

C = faturamento em cheque

Z 29= É uma variável aleatória que introduz o risco no problema. A média de Z será

29 Z É uma v.a. que denota o ganho aleatório proporcionado pela ocorrência ou não de

cheques sem fundo.

Z=0 ~> O número de cheques sem fundos é muito elevado, e a perda grande (ganho é zero)

-*C.Z = 0

Z=l —► O número de cheques sem fundos é muito baixo, e a perda pequena (ganho é total)

107 .
certamente menor do que 1, e possui uma certa varifmcia.

v Quando se eleva a taxa de


inflação aumenta o número de cheques sem fundos
Z = V.A. { . , .
< 1 —> Pois, o máximo que pode acontecer
é não receber nenhum cheque sem fundo.

O problema do indivíduo (lojista) será determinar G de modo a maximizar a utilidade

esperada da renda EU(R). Para que possamos analisar o problema em pormenores,

introduzimos algumas hipóteses adicionais:

(1) Para simplificar ôf = õt-i, ou seja a inflação esperada é igual a inflação passada;

(2) a = õ, ou seja a comissão é dada e não varia em função da taxa de inflação;

(3) A variável aleatória Z só pode assumir valores menores ou iguais a I 0 < Z < 1:

ou seja no máximo o que acontece é todos os cheques serem com fundos30;

Esta perda/ganho C.Z é que será comparada à perda do cartão para tomada de decisão.

Na realidade caso ocorra um extravio do cartão o fornecedor só terá prejuízo caso.

receba um cartão depois de notificado ainda nesse caso, se a assinatura não for muito

diferente o encargo é do emissor. Quanto ao excesso sobre o limite de crédito não existe

tanta clareza. Apesar de ser vedado são cobrados encargos financeiros. Na realidade para

compras acima de um determinado valor consulta-se a ADM sobre o limite de crédito«.


30

108
(4) O agente maximiza a utilidade esperada de sua renda R. Essa renda decorre do

seu faturamento (vendas) durante ura certo período de tempo e liquidadas através de

pagamento em cheques e/ou cartão e

(5) O agente deverá escolher qual a parcela desta renda (R - C) que será vendida

através de cartão e a parcela C vendida através de cheque.

Com isto a renda R do indivíduo será descrita pela variável aleatória

Feito isto, designaremos por G(C) a utilidade da renda quando o indivíduo vende C

através de cheque e R — G através de cartão temos:

G{G) = E{U{R)) = EU
M

onde: ■

df = dt-i O problema se resume a:

tt
caso Z = 0,2. receita dele só provém de cartão, a perda dos cheques é máxima

caso Z = 1, a receita dele é composta de cheques e cartão, sendo zero o n2- de cheques sem

fundos

109
Para isto derivamos duas vezes a expressão (1'), onde iremos achar:

G'{G) = E(Z - fe£) • U<[^ + C(Z - fel)]31 (2)

^^ ^ (3)

Caso o agonie soja propenso ao risco, G{G) c estritamente convexa em G, o que

significa que o lojista concentrará as suas atividades. Nesse caso toda a renda R será

vendida (obtida) somente através de cartão de crédito se G(ü) > G{R), ou somente

através de cheques.se G{R) > G(0). Se G(0) = G(R) o agente se torna indiferente entre

as duas opções e nestas duas situações não haverá a possibilidade de diversificação

Com o indivíduo indiferente ao risco, para simplificar a a análise podemos tomar

U(R) — R e com isso teríamos de (1')

H-l

e nesse caso G'ÍG) = EZ - &£&. Notemos que se EZ > 1 - a/e6'-1 ele trabalhará

somente wm cheques32 e era caso contrário caso E.Z < ^~r ° indivíduo trabalhará
31

lregra
ra

ÕG ~ dC " dU[C) ' dC

32Com E.Z > ^7^, o que o lojista espera ganhar pela não ocorrência de cheques supera

aquilo que se perde com o cartão em função da inflação e comissão

110
com cartão exclusivamente e para EZ = ^2l qualquer valor de G é válido (0 a R).

No caso do lojista ser avesso ao risco, G{C) será estritamente côncava com 3 possi

bilidades (Gráfico .3):

(1) G'(0) < 0 C = 0 -+ não vende através de cheque (C = 0)

(2) G'(R) > 0 G - R -+ não vende através de cartão (G = R)

(3) G'(0) > 0 G'{R) < 0 G = Ce Caso da diversificação -+ Diversifica

Na situação 1, o agente nada venderá mediante o uso de cheque. Uma condição

necessária e suficiente para que isto ocorra é que

C'(0) = E (z- Üf^) JJ>

(pois J7' > 0 utilidades marginais positivas) ou seja É.Z < ^=^. Essa conclusão é

bastante razoável, pois o lojista avesso ao risco irá comparar o valor esperado da venda

com cheques comparativamente ao caso de venda com cartão (isenta de risco)33 . No caso

2 toda a receita será advinda da venda com cheque. Isso ocorrerá quando G'(R) > 0 -+ ■

E\Z- xU'

Com E.Z < ^t7-i > ° O112 ° lojista espera ganhar pela não ocorrência de cheques não

supera a perda com o cartão, ou seja são grande as perdas com cheques sem fundo

111
E Z xü'[RZ]>0

(1 - a)
E\Z- > O (pois, Uf{-) > 0)

Por fira temos o caso era que ocorre a diversificação que é mostrado na situação 3.

Uma parte Ce será vendida através do cheque e a parcela restante {R-Ge) será vendida

através de cartão, isso ocorrerá quando:

G'(0) > 0

(1)

\7 (!-«)■ - a)
(2)

O ponto de equiflibrio Ce poderá ser determinado através de G'(Ge) =0 (3)

fí{Ce, Z, fí) = G'{Ce) = • U'


ce(

=0 (4)

112
Vejamos como se altera Ge quando melhora o risco (p. ex. o número de cheques

sem fundos cai), ou seja quando se substitui Z por k+Z onde fc>0o que significa que

o ganho esperado de se trabalhar com cheques aumenta.

\ Z, Jfc, R) = = 0

dk

+EU

>o

Na expreasão acima EU'(-) > 0 já que as utilidades marginais são positivas. O In

terino é > dH—r e assim podemos estudar o seu sinal. Seja

Supondo aversão ao risco decrescente, então

113
multiplicando-se por U (R{Z)) em ambos os membros (é positivo) e trocando-se os sinais:

e tomando-se a esperança matemática

dH n d II n
011 -77: TTTT > ° -> "ãT > 0'

a meLbora do risco aumenta a demanda por cheques.

Note-se que poderíamos ter escolhido um caminho alternativo, especificando para

isto uma função utilidade e tentando maximizá-la, quando ai obteríamos conclusões não

tão gerais34.

Novamente aqui a nossa intenção foi a de propriciar uma maneira mais formal de

tratar alguns fatos que já ocorrem no dia-a-dia, e para isso aos valemos de algumas

aplicações interessantes.

34P.Ex. U{y) = Iny; ü{y) = -lne"^; ü{y) = -{a.by)2 etc...

114
4 - CAPÍTULO 3

Estaremos iateressados neste capítulo na problcraatizaçâo do tema, ou seja, vamos

mostrar o contexto na qual ee insere este trabalho e a seguir através da utilização de

dois modelos propiciados pela teoria econômica, tentaremos fornecer a explicação que

achamos mais condimente com a realidaxie.

Às economias ocidentais têm se deparado com. um crescimento bastante acelerado

no pós-Guerra, associado em grande parte ao grande desenvolvimento científico e tec

nológico. Ao longo deste processo nraa gama enorme de inovações têm sido introduzida^

e dentro deste universo de mudanças destacamos um subconjunto de especial interesse:

as inovações financeiras.

Segundo Horne(1985) uma inovação financeira pode tanto ser um produto, como

a conta remunerada, ou um novo processo como a transferência eletrônica de fundos.

Para que nina idéia seja viável como uma inovação financeira, ela deverá fazer com

que os mercados se tornem mais eficientes no sentido operacional ou ainda torná-los

mais completos. Uma maior eficiência do mercado se traduz por um menor custo de

transação para aqueles que se utilizam do mercado para suas transações. Um outro

movimento muito nítido no sentido de se adotar inovações é o de se propiciar ama

maior completude do sistema, cora o que mais serviços estarão disponíveis e assim novas

oportunidades para ganhos. Um exemplo disto é a introdução de novos ativos financeiros,

115
como no caso do Brasil, com as OTN's, OVER, OPEN, LG's ... que era muito ampliou

a gama de opções à disposição dos agentes econômicos. O que determina a adoção de

uma inovação financeira ? Qual o estímulo para mudax ? Horne(op. cit.) identifica 6

fatores principais que teriam ligação direta com a introdução de inovações:

(1) taxas de inflação muito voláteis;

(2) mudanças na Legislação;

(3) mudanças no imposto;

(4) avanços tecnológicos;

(5) o nível da atividade econômica e

(6) trabalhos acadêmicos sobre a eficiência bancária.

Ressaltamos no caso do Brasil os fatores (1), (2), (4) e (5). Com uma inílaçao

muito volátil, novos produtos são criados para se reduzir o risco. Harris(1985) ilustra

este ponto argumentando que quando a inflação aumenta e de uma forma violenta,

o agente econômico fica mais disposto a pagar para diminuir a variância, o risco de

seu portfólio. Pondo era outras palavras, quanto maior a taxa de inflação, maior será

o estímulo à adoção de inovações financeiras, pois os agentes cora um maior grau de

aversão ao risco estarão dispostos a pagar algo pela introdução da nova tecnologia.

O segundo fator, mudanças na legislação, também tem impacto sobre as ino-

116
vações, no sentido de criar novos instrumentos para se burlar a lei. Por exemplo, as

contas remuneradas são um exemplo disto. Quando o Banco Central (BC) aumentava o

recolhimento compulsório, os bancos se viam na obrigação de recolher ao BC um maior

percentual sobre os depósitos à vista. Com a conta remunerada, que rende juros, estes

depósitos não mais são depósitos à vista e assim estão isentos de recolhimento. Existem

outros ceiíos que não serão aqui mencionados.

Um outro fator mencionado são os avanços tecnológicos, que permitem inovações

em função da velocidade da informação, uso de computadores etc... Temos como exem

plos, os sistemas de tranferência eletrônica de fundos (TEF), ATM*s (Automatic Telier

Machine), terminais de compras etc... A informação rápida e segura alterou drastica

mente o modo pelo qual as informações são fornecidas, reduzindo-se de forma brutal os

custos envolvidos nos diversos processos.

Por fim temos como fator, o nível de atividade econômica, que pode estimular

a inovação financeira. Em um período de crescimento econômico, muitas instituições se

lançam em projetos de pesquisa procurando aprimorar a sua eficiência com o lançamento

de novos produtos ou processos. Foi assim com a reforma do mercado de capitais em

1964, criação da ORTN, e da correção monetária, todos instrumentos com intuito de

alavancar o processo de desenvolvimento econômico. Não obstante todos estes fatores

listados, a oportunidade de se tornar o mercado mais eficiente/completo e desta forma

117
propiciar o lucro e a redução do risco parecem ser a causa mais importante que regula a

adoção de novas tecnologias. Apresentámos na tabela 8 no apêndice uma lista de algumas

inovações financeiras observadas no caso do Brasil e as respectivas causas primárias. A

observação desta tabela, nos chama a atenção para o fato de que para os produtos a

causa predominante são taxas de inflação voláteis, enquanto que a causa principal para

a adoção de novos processos é o avanço tecnológico.

Como se processam essas inovações e como elas se difundem ? O processo de difusão

de uma nova tecnologia (inovação financeira) não se dá de uma forma linear ao longo do

tempo. A inovação leva um determinado tempo para mahirar. No início, a introdução

de uraa inovação não causa mudança na estrutura vigente, mas aos poucos altera as

diversas relações entre as variáveis econômicas. A taxa de absorção da inovação é pe

quena no começo, e está subjacente a hipótese de que a taxa ao qual as firmas a adotam

aumenta à medida em que se vê a inovação em todos os lugares, mas diminui à medida

que o número de pessoas ainda por adotar cai (satura). O padrão de comportameato

de uma inovação pode ser descrito através da curva logística do tipo:

O processo é bem descrito por Gonçalves (1985). Segundo ele uma vez adotada a

118
inovação, esta passará por um processo de aprendizagem que ê necessário para que se

tenha um maior domínio sobre ela. Com o passar do tempo a inovação progressiva

mente se torna conhecida e passa a ser adotada por um número crescente de adotantes

potenciais. O processo de difusão, per si, é caracterizado por 3 variáveis:1

caso $(f) = —(a '+ bt)

temos (1)

(1 + fc

\k-k-

(i+ég»c>) i _

119
(1) A velocidade de adoção, que poderá ser definida como o tempo necessário para que

a inovação passe a ser usada por uma certa parcela da população (na equação (1)

(2) Taxa de crescimento de adoção, com o que se quer dizer o aumento por período no

percentual de uso da inovação e (na equação (1) => b)

(3) Valor máximo percentual de uso da inovação na indústria (na equação (1) =*> k)

Grilliches (1957) empregou a curva logística com o intuito de estudar o problema da

difusão de inovações e achou alguns dos determinantes da velocidade de difusão, a saber;

(1) A LUCRATIVIDADE - ou seja, quanto maior a lucratividade esperada e menor o

investimento inicial, maior a velocidade de difusão da inovação e

(2) INCERTEZA ASSOCIADA AO USO DA INOVAÇÃO - caso as pessoas sejam aves-

caso y = 0 ou y = k, teremos assíntotas horizontais e isto ocorrerá quando ^(í) for

respectivamente +oo e —oo.


* . • * *

V* (2) yl& ~ ^(0 x ^ir^ caso ^(0 = ~at^ taxadecrescimentoàQy = a- (f


ou seja, a, neste caso, está relacionado a taxa de crescimento de y.

Note-se que |jf = 6^^, no nosso caso.


120
sas ao risco, a incerteza será uma barreira.

Já traçamos os elementos principais, porem não descemos ao ponto nevrálgico. O que

acontece quando muda a ambiência pela introdução crescente de inovações financeiras?

Pierce (1984) argumenta que as inovações financeiras que têm ocorrido nos últimos anos

acarretaram a redução dos custos de transação na compra e venda de ativos novos

e pnraivos, o que tem permitido às instituições depositárias evitar, por exemplo, ;i£

exigências do compulsório (caso típico da OVER-CONTA). As inovaçü^ ao produzirem

alterações estruturais dos parâmetros do sistema modificam a relação entre variações nas

reservas (ou base monetária) e variações na quantidade de moeda e ainda a taxa de

juros. Os mecanismos tradicionais de transmissão da política monetária são atingidos.

lato implica que os multiplicadores relacionando os instrumentos de política monetária

ao produto real, inflação e emprego agora tem uma fonte de incerteza oriunda destas

inovações. Isto porque a maioria dos movimentos nos agregados deixou de ser estável e

ee tornou em grande escala imprevisível.

Alterar as características da moeda melhorando o mecanismo de pagamento alterara

a demanda por ela. Isto à luz de uma análise de equilíbrio parcial significaria que a

utilidade marginal de um cruzeiro adicional seria decrescente (menor) com o mecanismo

novo (melhorado) introduzido, de tal forma que os portfólios podem mudar de moeda

para outros ativos. Vamos explorar um pouco mais esta idéia, À medida que surgem

121
inovações financeiras, cada vez sâo menos nítidas aa fronteiras entre os diversos agregados

que possuem alto grau de liquidez. Por exemplo, uma aplicação OVERNIGHT estará

disponível ao cabo de um dia, acrescido de juros, e portanto a liquidez é imediata. O

resultado que se depreende é que é cada vez maior a dificuldade em se identificar o

agregado moüeíário que serve para guiar as ações de política monetária.

Uma àzs maiores preocupações da teoria monetária consiste na'definição de um agre

gado monetário que seja estável em relação a algumas variáveis de interesse (como o pro

duto nominal), e que seja igualmente controlável pelas autoridades monetárias para que

£9 alcance determinados objetivos dentro de um espectro mais amplo de medidas conhe

cido como política econômica. À introdução de novas ativos financeiros pode substituir

a moeda ainda que de forma incompleta, como forma alternativa de poder de compra o

que sem dúvida traz algumas dificuldades. A primeira dificuldade com a qual nos de

paramos 6, como já alertamos, o que é moeda. Que agregado tratar? M^A/j, Afã, AÍ4

ou Aío2? Harris (op.cit.) trata desta questão e identifica que o agregado Mi (notada-

MQ - PMPP

Mi - PMPP + DVBC

M2 - PMPP + DVBC + títulos fora do BC

AÍ3 - AÍ2 + depósitos de poupança

122
mente o mais utilizado para prescrição de política monetária) não é estável como se

esperava era função da grande quantidade de inovações observadas num período recente.

Ele sugere duas opções:

(1) Uma primeira solução seria a de se trabalhar com um agregado mais amplo e in

corporar as inovações. 0 incovoniente por ele detectado é de que a cada inovação

introduzida, teria-so de mudar a definição (A/$, Mg, ... ,eíc...)

(2) Á outra solução seria a de, ao contrário da solução acima, reduzir o conceito paia o

agregado maia elementar de todos - o papel moeda em poder do público (PMPP).

Esta solução não se restringe à economia brasileira tendo sido objetivo de vários

estudos em outros países. Cotula (1985) analisa o caso da Itália, Simpson (1980) trabalha

o caso americano.

Porém deste primeiro ponto podemos puxar ura outro mais importante. Quando

•começam a surgir novos ativos financeiros (em função de vários fatores) que substituem

a moeda, deve ocorrer uma queda na demanda por esta. Isto significa que caso o agente

econômico aloque parte de sua renda em substitutos parciais à moeda (normalmente

rende juros) e que desfrutem de ura razoável grau de liquidez, o Banco Central ao tentar

controlar a liquidez da economia (aumentando ou diminuindo a quantidade de moeda)

poderá encontrar forças contrárias anulando a sua política monetária. Este ponto é o

M\ - M$ -f d.prazo

123
de maior importância e merece uma ressalva.

A velocidade-renda da moeda3 definida como o número de vezes que o estoque de

moedas gira anualmente para financiar o fluxo de renda, mais do que duplicou desde

1947. Este aumento da velocidade pode ser visto como fruto de dois movimentos: a

sofisticação financeira e o aumento da inflação. Holanda (1983) agrega a estes fatores o

aumento das taxas de juros e a existência de economias de escala (lig. 19 no apêndice).

Qual a importância deste aumento notável da velocidade da moeda ? A velocidade foi

por nós definida como:

ÜãYl™
Üã-Y m
QDE QTDE .

onde:

VR = velocidade-renda;

PIB = produto interno bruto;

QDE = quantidade de dinheiro existente;

VTPR = volume total de pagamentos e recebimentos

Podemos mostrar de maneira fácil, que a velocidade está intimamente relacionada

com a demanda por moeda. Como a demanda por moeda tem relação cora o volume de

recebimentos e pagamentos efetuados em uma economia durante ura certo tempo; caso

3ve!ocidade = renda nominal/estoque de moeda

124
se divida aquela demanda por moeda por este volume teremos a demanda por moeda

por unidade de transação (produto). Mas isto que fizemos nada mais é do que o inverso

da operação para se calcular a velocidade da moeda, esquematicamente:

TV l» VFTOr™™?- VOLUME DE PÀG. E RECEBIMENTOS (PIB) _

(4) DEMANDA POR MOEDA =

QUANTIDADE DE MOEDA NECESSÁRIA PARA FINANCIAR O FLUXO DE Y

(4>) DEMANDA POR MOEDA POR UNIDADE DE PRODUTO =

QUANT. DE MOEDA NECESSÁRIA PARA FINANCIAR O FLUXO DE RENDA


VOLUME DE PAGAMENTOS E RECEBIMENTOS (Y)

=> (4') = I ou seja, O. INVERSO DA VELOCIDADE -RENDA.

Com isto, quanto maior a velocidade-renda, menor a demanda por moeda. Esta era

a ligação final que gostaríamos de fazer. A introdução de ativos substitutos à moeda

(inovações financeiras) reduz a demanda por moeda. Assim a conseqüência disto é que

ao tentar alcançar um determinado nível fixado como objetivo deve-se levar isto em

conta, ou seja, caso se deseje reduzir a inflação, o BC deverá contrair a quantidade de

125
moeda mais do que a teoria tradicional sugerida, de forma a contrabalançar o efeito das

inovações (%. Í9 no apêndice).

4.1 - Introduzindo o Cartão

Ante esta pequena apresentação inserimos o cartão â?. crédito. O cartão de crédito a

ro3so ver pode ser entendido como nina inovação financeira tal qual a acepção de Rorisc

(op.cit.). Isto porque o cartão reduz os custos de transação e permite ura funcionamento

mais adequado do sistema., tornando-o mais completo. O uso do cartão, como inovação,

está no contexto de toda a discussão acima apresentada:

(1) se encaixa na definição de Horne

(2) parece descrever um processo similar ao sintetizado pela logística e

(3) também pertence à discussão sobre se altera ou não a demanda por moeda.

Quanto ao primeiro ponto, a utilização do cartão permite ao consumidor adquirir a

mercadoria sem a imediata necessidade de desembolso e podendo gozar de um período

de até 40 dias para efetuar o pagamento sem a incidência de qualquer encargo. Seio

dúvida o cartão está associado às economias mais desenvolvidas, cora um mercado interno

mais avnltado, tendo no nível de atividade econômica uma de suas razões essenciais.

Conforme já salientamos, a utilização do cartão propicia a alavancagem do mercado

comercial ao desburocratizar as compras (menor custo de transação) e possibilita um

126
I

grande desenvolvimento, podendo ser tratado por nós como uma inovação financeira tal

qnal definimos.

Quanto aò processo de difusão do cartão no mercado, temos alguns indícios de que

a curva logística representaria bem a evolução do mercado, por exemplo, existe um ponto

de saturação da curva dado pela população apta a possuir o cartão, ou seja, o valor

máximo percentual de uso da inovação. Possuiria unia taxa de crescimento de adoção

que no momento parece ser razoavelmente elevada em função da grande concorrência,

novidades etc... Esta velocidade de difusão é tida como que determinada pela lucrativi

dade esperada, e a lucratividade esperada é bastante elevada pois o mercado é ainda

muito incipiente. Dados de 1988 indicam um faturamento de menos de US$ 3 Bilhões

em um potencial de US$ 8 Bilhões. O crescimento da indústria de cartão (15% a.a.)

indica também que à medida que as pessoas passam a adotar o cartão, cresce muito o

número de adesões. Tudo indica um padrão dentro da perspectiva inserida pela logística.

Por fim, temos a questão do cartão e a sua ligação com a demanda por moeda. Se

gundo White (1976), os economistas monetários vêm dispensando um interesse crescente

sobre o impacto dos cartões de crédito bancários em variáveis econômieaB. A problema

tização é a mesma e repousa sobre o questionamento do efeito dos cartões na demanda

por moeda e velocidade-renda. Dentro da perspectiva de que a oferta de moeda afeta

o nível de atividade econômica (fig. 19 no apêndice), variações na demanda por moeda

127
devido ao uso de cartões provavelmente alteram a ligação entre o estoque de moeda e

outras variáveis.

As unidades familiares escolhem o padrão ótimo de moeda e ativos que rendem

juros à vista das taxas de juros e dos custos de transação. Ao se introduzir o cartão

no processo, isto permite pelo menos uma sincronização parcial dos pagamentos cora cs

recebimentos e desta forma redaK-ss o nível (estoque de moeda requerido).

Poderíamos nos perguntar como alguns argumentam, se o cartão pode ser considera

do moeda. Para este fato a resposta nos parece muito óbvia. Não! E para visualizairaos

isío basta lembrarmos as quatro funções básicas da moeda:

(1) unidade de conta ou padrão;

(2) meio de trocas;

(3) reserva de valor e

(4) padrão de pagamentos diferidos.

A moeda é a unidade na qual o valor dos bens e serviços são medidos. Nós com

paramos todos os outros itens à moeda (dinheiro) para obter uma medida dos valores

relativos. Ao ser aceita por outras pessoas na troca pelos seus bens e serviços, ela possui

poder de compra. Com a moeda você pode comprar todo3 os outros itens que desejar

e não precisa se preocupar em saber se os outros irão ou não aceitar os bens que você

128
pode oferecer (escambo), pois a moeda é por iodos aceita4. Ela também funciona como

um meio de troca ao longo do tempo com o qual você poderá realizar compras no fu

turo, caso acumule (retenha) moeda em seu poder. Poderiam ser utilizados outros bens

que funcionassem igualmente como reserva de valor, mas em determinado instante você

teria qne convertê-lo em moeda para realizar a troca. Finalmente, muitos contratos para

pagamentos no futuro são realizados (firmados) em termos da unidade de conta conente

no mercado. Títulos, por exemplo, contêm promessas de pagar um certo número de

cruzeiros a intervalos no futuro.

O cartão de credito parece exercer, ainda que de forma incompleta, a função de meio

de troca muito embora alguns estabelecimentos não o aceitem. Na hora da compra, o

usuário saca o seu cartão e leva a mercadoria com. o que se consuma o ciclo da troca.

Porém, não nos parece que o cartão se encaixe nas demais atribuições da moeda. Ele não

, serve como reserva de valor. Isto porque quando uma pessoa compra algo com um cartão,

a administradora somente está fazendo um empréstimo teDiporário. O usuário deverá

repor o saldo devedor, muitas vezes com encargos. O cartão poupa o inconveniente

de se ir ao banco e fazer um empréstimo sempre que se deseje uma compra de vulto.

Também permite que não seja desembolsado dinheiro ou cheque. As pessoas parecem

4Em geral o número de trocas que precisa ser estabelecido é: RT = d'"3 ', n = número

de produtos no mercado com a moeda só como uma unidade de conta

129
de certa forma alterar o conceito do que é usado como moeda. Elas podem adicionar os

"travetlcr's checks", cartões de crédito ou ainda aplicações overnight ao que é considerado

como moeda. Muito embora a moeda tal como defmida (Mi, M2, - - -) não pareça mudar,

a moeda que afeta a decisão de consumo varia5.

Uma primeira implicação a nosso ver importante' diz respeito a possível repercussão

do cartão sobre o multiplicador do3 meios de'pagamento. Sim, feto porque o mulüpii-

cador dos meios de pagamento é definido em cima de relações coraportamentais e que

portanto podem se alterar6. Para citar um exemplo do que queremos discr recorremos

a Holanda et alli (op.cit.). O uso abusivo do cheque sem a devida previsão de fun

dos pode levar aos agentes econômicos, notadameisíe os lojistas a não atais aceitarem o

cheque como um mecanismo de transferência de meios de pagamento. Isto acarreta que

os pagamentos teriam que ser efetuados em papel-moeda e com isto d subiria e o multi

plicador seria menor. Por outro lado, a maior confiança na utilização do cheque poderia

fazer cora que a relação comportamentai PMPP/DVBC (d) caísse, o que provocaria cm

aumento no multiplicador.

5Nos EUÁ Mi não inclui os cartões, que na maioria dos casos é ura meio de troca mais

satisfatório do que uma nota de $ 100 ou um cheque.


6

M = PMPP + DVBC (meio de pagamento)/d = PMPP/DVBC M = (1 + d)DVBC

B = PMPP+ RE (base monetária) r = RE/DVBC B = (d + r)DVBC

130
J3 ~ d+r

rfd"(r + d)3~ '

ou seja

É justamente neíita. direção que situamos o cartão e seu eíeií-o sobre o inuliipíicíulor.

Dornbusch (1982) sxgumcnta que a difusão do cartão de crédito deveria reduzir a relação

desejada, entre PMPP c DVBC, o que aumentaria o multiplicador. Outra maneira do

se ver este efeito é a seguinte: com o cartão, as pessoas não mais necessitara desem

bolsai" dinheiro para as suas transações e com isto cai PMPP, aumeiitaiido novamente o

multiplicador.

(1) nraltipíicadori = ^ = k —

~ ~â— com ° car^ rf l ^ t (Donibuscli)

l-di(l-r)

PMPP/M= c
DVBC/M = . di
RE/DVBC= r

dk
dc

131
c]k[

A questão mais importante levantada pelo dinháro de plástico é saber Be o cartão

tem alterado a demanda por moeda, O cartão permite aos seus portadores reduzirem a

quantidade de moeda era cash ou em conta-corrcnte, ainda que temporariamente, pois o

cartão pode ser'usado para substituir as transações que antes eram pagas em dinheiro.

Entretanto, os usuários devem acumular saldos monetários suficientes para pagar pelo

menos uma porcentagem doa seus saldos devedores, e só se pode pagar esta conta atravtís

do acúmulo de moeda. Assim sendo não está claro se a existência do dinheiro de plástico

tem alterado de forma substancial a quantidade de moeda demandada pela economia

como um todo. A introdução de novos ativos financeiros, como verificado na economia

brasileira no pós- guerra com a criação das OTN's, LBCs, LFTs ..-. e por que não o

cartão de crédito, amplia a gama de opções à disposição dos agentes econômicos e estes

novos ativos podem substiíuir a moeda como forma alternativa de efetuar transações, o

que gera alguns efeitos macroeconômicos que podem ser analisados.

Suponha-se que a oferta monetária seja dada por -^ e r0, como visualizado no

gráfico 4 no apêndice. Se a autoridade monetária resolve adotar uma política monetária

contracionista reduzindo a oferta monetária para Mi, a curva de oferta de moeda se

desloca para a esquerda sendo representada por 5t e o ponto de equilíbrio que antes

132
era O é agora 1. Caso as instituições financeiras bancárias e náo bancárias introduzam

novos mecanismos (ativos, produtos, processos ...) substitutos à moeda e/ou depósitos,

em resposta à restrição monetária, a demanda por moeda diminuirá, ou seja, a curva

Do se desloca para Di e o efeito sobre as taxas de juros será menor. Resumindo, o

resultado teórico da introdução dos substitutos à moeda é diminuir a resposta do produto

por mudanças na política monetária. É nesse contexto que gostaríamos de estudar o caso

do cartão, uma vez que já alertamos ser esta uma importante inovação, pois muitas vezes

o cartão é utilizado em detrimento da moeda.

Passaremos agora a tratar do cartão sobre esta perspectiva e sob o espectro da teoria

econômica.

4.2 - Demanda por Moeda - Interpretação Teórica da


-

influência do Cartão de Crédito sobre a Demanda Por Moeda


j

Nesta seção procuraremos derivar o efeito teórico da introdução do cartão sobre a

procura por moeda e para tal lançaremos mão de duas perspectivas distintas encontradas

na teoria econômica. ...

Será que a utilização dos cartõas afeta a demanda (posse) de papel moeda em poder

do público ? Marcus (1980) tratou de forma pioneira desta questão. Ora, o cartão,

conforme já afirmamos, representa/possibilita a substituição de cash por crédito ao nível

133
do varejo. O usuário só precisa assinar as faturas das compras e uma vez por mes ele

recebe um extrato discriminando as suas compras e poupando ao usuário o desembolso

de dinheiro a cada compra. O vendedor é pago e deve abrir mão de uma comissão à

administradora e como pode ser depreendido, o efeito deste arranjo é substituir crédito7

pelo papel moeda no ííuxo de pagamentos e converter uma venda à vista em uma conta a

receber, com a vantagem de que agora, o consumidor está habilitado a manter sru padrão

de gasto com uma menor quantidade de moeda (PMPP), pois osde ele necessitava for

de antemão cash para cada compra, ele só necessita carregar dinheiro para itens cie

menor importância (ônibus, jornais ...). Em outras palavras, a quantidade de PíífP

decresecria e seria possivelmente depositado nos bancos para talvez aumentar o saído

em conía-corrente ou ainda aplicado em títulos de reoda fixa (CDB's ...). Se zmun

fosse os bancos possuiriam reservas adicionais (recursos a mais) o que permitiria um

maior volume de depósitos bancários (empréstimos e investimentos) com um dado eivei

de moeda, uma vez que ocorreu um deslocamento do público de PMPP para depótitos

(à vista e/ou prazo). Já o impacto do cartão sobre o DVBC 6 menos fácil de derivar,

pois conforme dissemos a sobra de dinheiro advinda do menor uso do PMPP poderia ser.

usado era depósitos para aumentar o saldo em conta-corrente. Entretanto como o extrato

demora cerca de um mes, este saldo remanescente poderia ser investido no curto-prazo

7Crédito - no conceito jurídico

134
e se esta renda daí advinda fosse suficiente para saldar o débito, o consumo ou mesmo o

investimento poderiam ser aumentados. Cora o cartão o indivíduo pode recompor o seu

fluxo de pagamentos ao longo do mes de tal modo que apesar dos pagamentos serem o

mesmo, todos podem ser consolidados e pagos ao final do mes ao contrário do pagamento

regular através do mes (Gráfico 5 no apêndice).

Portanto a velocidade dos depósitos bancários (pagamentos) dividido pelo saldo

médio diminui; o vendedor, por sua vez experimenta ura declínio temporário nas suaü re

ceita» de caixa c um aumento no coutas a receber. Quando recebe, o fluxo é revertido,

mas novas contas a receber são consignadas. Como resultado os vendedores tem um

aumento permanente no saldo de contas a receber e para financiar esta necessidade de

capital de giro podo ser necessário algum tipo de empréstimo de curto prazo doa bancos

comerciais. Como argumentado, os bancos tiveram um aumento noa depósitos (à vista

, e/ou à prazo) que poderão contrabalançar isto.

4.3 - A Abordagem IS-LM (Teórica e Gráfica)

Uma primeira maneira de tratarmos a demanda por moeda, ee remete à famosa

preferência por liquidez Keynesiana. Keynes identificava 3 motivos básicos pelos quais

os indivíduos demandariam moeda, a saber.

(1) MOTIVO TRANSAÇÃO - é aquela demanda por moeda derivada do uso da mesma

135
para fazer pagamentos regolares através do período de tempo;

(2) MOTIVO PRECAUÇÃO - é aquela demanda por moeda para fazer frente a proble

mas de contingência ou de emergência, inesperados;

(3) MOTIVO ESPECULAÇÃO - deriva das incertezas sobre o valor monetário de ostros

ativos que os indivíduos podem reter alternativamente à moeda. Estes ativos em

sua maioria rende-ra juros, o qnc não acontece com a moeda.

Apesar de examinarmos a demanda por moeda sepndo estes 3 motivos, é extrema

mente improvável que possamos identificar cada parcela separadamente. Entretanto,

esta é ama forma didática que acreditamos ser válida para que possamos fixar alguns

conceitos fundamentais ao resto do trabalho.

- MOTIVO TRANSAÇÃO - como sabemos os indivíduos mantêm saldos monetários

para fazer suas transações ou ainda, é necessário um determinado estoque de moeda pura

, compensar as defasagens entre recebimentos e pagamentos. Ao longo do mes o agonie

faz pagamentos que são os mais variados para cornprar coisas de que necessita. Se as

receitas e os pagamentos fossem sempre sincronizados de uma maneira perfeita, nao

haveria porque reter este saldo por este motivo (transação). Ora, mas uma vez que a

pessoa típica recebe seu salário uma vez ao mes e faz gastos durante todo o me3 (período),

ele deve manter algum saldo ocioso para que possa honrar todos estes pagamentos até

qne ele receba o próximo ordenado.

136
Uma pessoa que recebe CR$ Y no inicio do mes e que faz gastos de consumo de

CR$ C a uma taxa uniforme ao longo do mes manterá um saldo médio de CRI j. No

entanto, se a renda do indivíduo aumentar em CR$ ÀY, então seus gastos de consumo

aumentarão bÀY (b = propensão marginal a consumir) de tal modo que o saldo médio

qiíe deve ser mantido era conta é CR$ 'c+^Ay'-. Como uma primeira aproximação a

demanda p-or moeda (motivo transação) pode ser tomada como dependente do nível de

renda monetária (nominal), pois caso os preços dobrem ele precisará do dobro de CR$

(Y — P.y). Além do nível de renda nominal, que fatores afetam a demanda por moeda

(motivo transação) ? Obviamente os arranjos institucionais desempenham um pape]

importante, pois se o indivíduo passar a receber sen contra-cheque uma vez por semana

ao invés de uma vez por mes, ele teria que manter só \ do saldo médio que mantinha

antes como visualizado no apêndice (gráfico 5). "

Caso designemos por k uma constante que represente as práticas de pagamento, k*8

será igual a 1 no primeiro caso ou igual a \ no segando caso. Em teriDO3 anuais k =

h ou k = &• .

Assim:

8na realidade, k = y.} ou seja é o inverso da velocidade-renda da moeda, com efeito com

k = |, isto significa que a velocidade da moeda é 4 vezes, ou seja a moeda gira 4 vezes

para financiar o fluxo da renda

137
demanda por moeda - motivo transação (A/t) - Py

Feito isto podemos finalmente escrever qne Mt é igual a:

\ = constante MarshaUiana que reflete os hábitos de pagamentos


kx I\j l P = nível de preços :
| y = nível de renda. re?J

Esta equação tal qual escrita .acima é conhecida coaio a teoria quantitativa da moeda

(T. Q. M.), c caso a velocidade seja constante (e com isso k é constante) a demanda

seria função somente da renda nominal.

- MOTIVO PRECAUÇÃO - Ao discutir-se a demanda por moeda- motivo transação

ignoramos a incerteza e assim sendo esta segunda componente corresponde aos encaixe

de segurança , mantido para enfrentar despesas imprevistas, aproveitar bons negócios,etc

... Por exemplo, em uma viagem de negócios necessita-se de uma certa quantia e o in

divíduo levará consigo uma quantia maior do que a média para, justamente, se livrar' dos

imprevistos como perder um avião, a reserva no hotel, etc ... Supondo que o iadivíduo

não conheça precisamente que pagamentos ele irá fazer durante o mes, nem os recebi

mentos a que fará jus, haverá a necessidade de se dispor de moeda para enfrentar tais

situações. Uma aproximação razoável é que quanto maior o nível de renda do indivíduo,

maior as suas necessidades de caixa e, portanto, de maneira similar ao motivo transação,

138
este seria também função do nível de renda nominal Enquanto o motívo-transação se

refere ao atendimento de despesas corriqueiras (dia-a-dia) e que irão ocorrer, o motivo-

precaução é oriundo da necessidade de se fazer frente a despesas extraordinárias e in

certas. O simples fato de não ser possível prever quando irão ocorrer gastos inevitáveis

leva as pessoss a reter moeda para enfrentar tais situações. Também a demanda por

moeda-moíivo precaução é uma demanda por encaixes reais.

Mp=f{Y), ondeY = Py (2)

Estes dois motivos são comuns aos clássicos e coube a Keynes a tarefa de introduzir

um terceiro motivo: a demanda por moeda- motivo especulação. Seguindo a linha

neoclássica, Keynes admitiu o motivo-transação e o motivo-precaução. Porém, a grande

contribuição de Keynes e que representava uma novidade, em relação à teoria monetária

era a procura (demanda) especulativa na qual se postulava uma razão plausível para se

reter moeda como uma aplicação de forma duradoura, isto em função da expectativa de

um aumento na taxa de juros, ou o que significava o mesmo uma baixa na cotação de

títulos e nesse caso seria preferível reter moeda à espera de uma queda das taxas de

juros e conseqüentemente os títulos subirem de cotação.

- MOTIVO-ESPECULAÇÃO - apesar do fato de que à primeira vista não pareça

racional manter saldos ociosos, pois estes poderiam estar aplicados, vimos que estes são

139
necessários às vezes em função dos motivos transação e precaução que enfatizam a função

da moeda como meio de troca uma vez que se relerem à necessidade de se ter a moeda

à mão para efetuar pagamentos.

Em sua análise Keynes supõe que ò mercado de capitais só negocie títulos de renda

fc:a. Um agente possuidor de riquezas pode alocá-la de diversas formas: imóveis, dólar,

ouro, CDB's, IÍTiTs, etc ... e todos estes ativoo formam o que se denomina'porífóiio,

e o investidor irá manter aqueles ativos que propiciem o maior retorao. Conforme já

mencionado, era sua análise, Keynes só trabalha com dois ativos: moeda e títulos de

renda fixa que são supostos perpétuos9. Nesse caso, a cotação de um título qne pos

sibilite a renda de RCR$ por período é dado por R/i10, onde i indica a taxa de juros

correntemente praticada no mercado. Caso a taxa de juros espera/ia para o período

9renda perpétua => títulos que pagam indefinidamente uma certa renda, periódica
10

Ex:

(1 + t)n — 1
cotação =V = -a0 -Mi (1 + f)"1 + a2(l +1)~2 + ... + ...=» cnv = -^ ^ .vn

Rtt 1 . .. ,r Ru 1 , R

140
seguinte seja ipal a i, podemos chegar à algumas relações. Não haverá motivos para

se reter moeda caso if < i isto porque como se espera que as taxas de juros irão cair (ou

seja a cotação dos títulos irá subir) pode-se comprar títulos (a um preço mais baixo)

para revendê-los após, auferindo um certo rendimento.

Caso a taxa de juros caia (espera-se), o indivíduo irá comprar tííuíos a uma taxa de

juros mais húxz (preço mais alto).

Porém se i' > í, ou seja se é esperada uma elevação da taxa de juros, caso o indivíduo

compre títulos ele incorrerá em uma perda, pois com a elevação das taxas de juros a

cotação cai e apesar dele receber unia renda R, iato se daria a um custo:

PERDA: ^-5 í-?>5


(>

Caso a taxa de juros esperada seja maior do que a corrente, o indivíduo irá vender

títulos (reter moeda) para que no segundo instante compre os títulos à uma taxa de

juros mais alta (preço majs baixo).

Valeria a pena a retenção de moeda caso a perda de capital fosse superior à renda

auferida R, ou seja

RR D * *
-^-^r> R OU -~ ~.
l l' "-v' » t'
'T^Tf RENDA PERIÓDICA
PERDA

141
ir> j^n P0Í3 ceste caso ele poderia reter moeda até que a taxa de

juros se elevasse revertendo o esquema.

Quando a taxa de juros é muito baixa, o preço dos títulos muito alto, consequente

mente uma pequena renda It pode ser ganha somente á custa de uma perda relativamente

grande e em tal situação uma compra de títulos não parece uma atividade atrativa, pois

espera-se u:na elevação bastante provável dos juros (queda nos preços de títulos) e as

sim uma perda. Consequentemente se há uma expectativa geral de que a taxa de juros

irá se elevar, haverá preferencia por liquidez (cash-xaoeda). No caso oposto, ante uma

expectativa de que a taxa de juros irá abaixar, a compra de títulos parece ser uma boa

opção, uma ves que a compra agora à taxa de juros mais alta (preço mais baixo) significa

um ganho ao bq revender o título mais tarde à uma taxa de juros mais baixa (preço

mais alto). Por esse mecanismo que mostramos, a procura especulativa de moeda seria

descrita por.

»/ /• •»* àMn
Mà =
di ' di*

Sendo função decrescente da taxa de juros corrente i e fuuçao crescente da taxa de juros

esperada t'. Entretanto Keynes supôs que o estado de expectativas fosse algo rígido

li' t V I , I1 1 — I

142
quanto às taxas de jurcfâ não só no curto-prazo, mas também 110 médio prazo, de forraa

que poderia-se tomar i1 como sendo constante (t7 = t). Comi isto:

Ms = L{i), demanda por moeda motivo especulação —~ < 0 (3)

CyBiie e Simoasto. (1987) alertam para 3 fatos no tocante à teoria kcynesiana. A primeira

crítica c foi ia à suposição de que o estado de expectativas se toras de tal forma rígida

durante muito tempo. Charna-se atenção para o fato de Keynea só trabalhar com títulos

de renda perpétua. Esta hipótese toraa-se implausívei do nosso mundo de boje cora a»

chamadas aplicações overnighfc. Por fim não parece claro o porquê das reservas para

precaução não serem mantidas em títulos com boa liquidez ao invés de moeda. Hoje a

demanda por moeda - motivo precaução praticamente ínexiste, em função da inflação.

Novamente a demanda por moeda motivo - especulação, é por encaixes reais. Isto acon

tece porque com variações de preço (um aumento por exemplo), a sua renda em termos

reais (poder de compra), é menor, seu gastos menores c a riqueza portanto menor. No

vamente nenliuma mudança real ocorreu. Desta forma, a demanda especulativa. l{i) ê

também por saldos reais. A demanda por saldos monetários: Pl{i) é portanto:

Ma = P • /(•) (3')

A demanda por moeda motivo especulação se relaciona inversamente à taxa de juros.

143
Somando as componentes da demanda por moeda nós temoa a função de demanda

por moeda: . .

Md = Mt + Mp + Ma = KPV + F/(í) (4)

Podemos incorporar o motivo precaução no transação, ou ainda considerar este (pre

caução) igual a sKifo o ambos como função do nível de renda I\4t = KPy onde W >,0.

Conforme dissemos acima os motivos não podem ser separados de maneira óbvia e por

tanto podemos escrever a relação (4) como:

í5)

com 4
dy

di

À equação (5) significa que para um dado nível de renda, a demanda é uma função

decrescente da taxa de juros e que quanto maior o cível de renda, maior a demanda

por moeda para ran dado nível de juros. Considera-se ainda fixo o nível de preços12.

Agora que temos especificado a demanda por moeda podemos estudar o equilíbrio no

mercado monetário, precisando antes especificar como a oferta de moeda é determinada.

i2O nível de preços é determinado a partir do salário nominal (suposto rígido), do mark-up,

eda produtividade média ào trabalho. P — |;ti>(l +m)

144
O estoque de moeda é controlado pelo banco contrai e para todos os efeitos iremos

cori3Íderá-la fixa a um nível Kí ( ou seja a oferta monetária é fixada exogenameDte} e

em função dos arranjos institucionais da economia entre o sistema bancário comercia] e a

autoridade monetária. A curva LM assim sendo descreve o equilíbrio no mercado e sua

equação é obtida ig;i;-;].-mdü-s3 a oferta de liquides real {M/P} à'demanda por liquidez

real ie

Quando i aumenta, diminui a demanda por encaixes reais L{í, y). Para que a igual

dade entre oferta e demanda no mercado monetário se reestabeíeça é necessário uns

aumento do nível de produto real y, que faça com que a demanda aumente e iguale a

oferta.

Por motivos didáticos, iremos separar os saldos era motivo transação (que irá iacluir

o motivo precaução) e os saldos por motivo especulação para representar o equilíbrio no

mercado monetário através de 4 diagramas, que resumem as rotações discutidas acima.

No primeiro gráfico (A) iremos representar a demanda por moeda tal qual postulada

pelo motivo transação, ou seja função do nível de renda (Mt = ky>k > 0). No gráfico

(B) mostramos a oferta monetária fixa a um nível A?13, o que é representado pela reta

de 45° descendente e que iguala a oferta de moeda à demanda total (motivo especulação

I3A oferta de saldos reais é a linha vertical M/P no gráfico 8. O estoque nominal SS é

145
+ motivo transação). No gráfico (C) temos representado a demanda por moeda motivo

especulação no plano i x Me. Note-se a inclinação decrescente da curva ressalvando

a relação que descrevemos acima (Ms = l{i};l' < 0). Por fim o último gráfico (D),

combina as informações dispersas nos 3 outro3 as dispõe num plano í X y. Esta relação

representada nada mais é do que a curva LM (gráfico 7 no apêndice).

A um dado cível de renda yot achamos a demanda por moeda motivo-íransaçao eu

(A) (Mo = Kyt). No gráfico' (B) sabemos a oferta monetária, que deduzida da de

manda por moeda motivo-transação nos dá a domanda por niocda motivo-especulaç.ao.

Da relação M8.= l{i) em (C) adiamos t0 = l^(Ma) e assim obtemos uma combinado

(«o,ito)u- O mesmo procedimento pode ser seguido para o nível de renda yt. Proce

dendo diversas vez^s obtemos o lugar georoétrico dos pontos (i, y) que genericamente é

chamado de relação LM, mostrada do gráfico (D). Para MjP constante, podemos obter

fixo e o nível de preços P 6 suposto dado. Às curvas de demanda Do e D\ correpondem

a diferentes níveis de renda, quando o nível de renda é sto, a taxa de juros é «o o que dá o

ponto EQ. Ao nível de reada yi, o equíbrio é n com o ponto Ef.


"suponha: mt = 0,5^ = 0,5) e i = 0.04 - 0.0004 mai coni m9 + rnt = 125 ->

ms + mt ■= 0,5y + é$MÍl ~ 125 LM-*i = -0.01 + 0.00002y -» de uma forma geral

Í46
I

a inclinação da curva LM. Para isto basta acharmos a diferencial total da equação 6:

/(* ) * d{M/P) = |j.dt + ^rfy = iírft 4- Lyrfy -0 = £tfi + Lyrfy

Podemos resumir alguns dos pontos mais relevantes:

. (1) a curva LM representa as combinações de taxas de juros e nível de renda tal que o

mercado monetário está em equilíbrio;

(2) a curva LM é positivamente inclinada. Dado o nível de oferta monetária, um au

mento no nível de renda, que aumente a demanda por moeda tem que ser seguido

de um aumento na taxa de juros o que reduz a demanda por moeda e portanto

mantém a demanda por moeda igual à oferta.

(3) quanto maior a sensibilidade da demanda por moeda à taxa de juros menor a in-

clinação da LM, pois menor L(t).

Agora que abordamos de modo suficiente a demanda por moeda e o equilíbrio no

mercado monetário, estamos aptos a estudar as implicações da introdução do cartão

de crédito sobre todo este esquema aqui mostrado, procurando identificar as mudanças

nesta análise proposta pela curva LM. Iremos apresentar o arrazoado por detrás e para-

lelamente apresentamos uma abordagem gráfica.

147


Conforme já mencionado o cartão propicia uma substituição de cash ($) por crédito

uma vez que o usuário somente assina as faturas de suas compras e é poupado do

desembolso de dinheiro toda vez que vai fazer as suas compras recebendo ao final do

mes o extrato com todas as suas transações. Como fica evidente desta exposição, os

efeitos à&íe arranjo é substituir a moeda por crédito no fluxo de pagameuto ou em

outras palavras a quantidade de moeda (papel moeda) na mão dos agentes diminuiria,

e o consumidor agora pode manter seu padrão de consumo com uma menor quantidade

(quantia) de papel moeda, pois onde antes ele tinha que ter a príori os cruzeiros para cada

compra, ele 3gora só necessita carregar "dinheiro trocado" para itens como ônibus, corte

de cabelo, jornal, etc ... Quando uioa pessoa compra algo com o cartão, a companhia

administradora do cartão está fazendo um empréstimo temporário à pessoa, que deve

pagar o saldo sem juros, ou dependendo do caso, com encarg03. O cartão poupa ao

indivíduo a inconveniência de se manter dinheiro no bolso e/ou sacar no banco de sua

conta corrente. Ao reduzir de forma temporária a quantidade de moeda em espécie ou

em sua conta bancária, permite ao usuário manter estes fundos em uma conta que renda

juros ao mesmo tempo em que livra o titular de vários incovenientes. Assim, uma maior

difusão do cartão em compras tem um efeito bastante nítido no sentido de diminuir a

necessidade por saldos pelo motivo-transação, uma vez que a simples apresentação do

cartão é. suficiente para efetuar o pagamento.

148 .
O Rationaíe aqui exposto tem sua argumentação baseada em Marcus (op. cit.) e

observada no dia-a-dia das pessoas. O que dissemos é que com a introdução do cartão

na análise temos dois efeitos:

(1) O primeiro efeito é o seguinte. Com o cartão, para um .mesmo nível de renda a

quantidade de moeda demandada é menor, isto ocorre era função do exposto acima

quando vimos que ;*» transações podem ser efetuadas sem o desembolso de din&eiro

bastando para isto a apresentação do cartão;

(2) O segundo efeito que decorre do primeiro é o seguinte: como estamos trabalhando

sob a hipótese da moeda se dividir em moeda para motivo-transação (precaução) o

moeda motivo-eapeeulação, segue-se a uma diminuição da demanda por moeda por

motivo transação um conseqüente aumento (quantidade adicional advinda de ura

menor Mt) do saldo disponível para fins de especulação o com isso cai a taxa de

juro3 dada a relação inversa entie saldo de moeda (motivo- especulação) e taxa de

juros.

Como trataríamos desta questão através da abordagem gráfica ? Usando novamente

os quatro diagramas podemos constatar o efeito final da introdução do cartão. O efeito

do cartão sobre a moeda motivo-transação {Mt) pode ser visualizada no gráfico 9 no

apêndice.

Notemos a mudança da inclinação na curva Aí/ para Âíf com k caindo, o que

149
demonstra a menor necessidade de saldos. No gráfico (B) como a oferta monetária é a

mesma não notamos alteração, No gráfico (C) temos representado a demanda por saldos

de especulação e finalmente, do gráfico (D) o efeito fiaal. O efeito por nós aqui notado

mostra uma rotação da curva LM no sentido horório, bem como um deslocamento para

baixo da LM (LMCC). Agora para os mesmos nívcÍ3 de renda, temos menores taxas de

juros.

Antes do Cartão

r = 0.04-0.0004 Afi5»M.=

77=200

Equilíbrio: Mt + Ma = H => 0.5 + ^5$ = 200

LM =>i = -0.0< +

Depois do Cartão

Mt ~ OAy{k2 - OA

« _ O 04
r = 0.04 - 0.0004 M, =» Ms =

150
= 200

Equilíbrio: M% + Ms = W =» OAy + ~-^ = 200

De forma gera!:

Asfcs do Cartão

Com âti >

Depois do Cartão

Note-se que como ~j| = -^ isto significa, que conto Ly* (antes do cartão) > Ly (depois

do cartão) que |~ cai.

Este fato já havia sido alertado por vários economistas. Nidhao»s(1883) argumenta

com base em Cagan(1979) que o efeito da introdução de uma inovação financeira se

dá mediante uma elevação da elasticidade-juro da demanda por moeda (em função da

redução dos custos de transação) e portanto a curva LM se torna mais achatada. Isto

151
aumentará as flutuações do produto resultante de perturbações na curva IS, ims re

duziria aquelas oriundas de perturbação na LM. Ele não está, entretanto, seguro deste

argumento. Cotula (1884) também defende que as inovações financeiras aumentam a

elasticidade-juro da demanda por moeda, uma vess que apareceram dovos ativos substi

tutos perciais à moeda que tendem a dar um movimento mais pronunciado à t&xa, de

juroa. Fkrce (195*0) ao comeD.trsr z introdução das now-acecunts-nos EUA ar^uiKi:-r,?a

uo sentido de um deslocamento da curva LM e uoia rotação desta em função da t<t,í-

dança da ehsiicidads-juro. Este ponto (o deülocameato da LM) pode ser cncon.ir<wlo

em Cvsne e Simonscn (op.cit.).. Segundo Gyrmc esto desiocamenío se dari para a direita,

e para baixo no caso de uma diiD.iüuição da procura de moeda resultante de movaçc-:#

financeiras que redusam os cnsto3 fixos ou os riscos (Gráfico 10).

Harris(i935) tambéai defende o efeito das inovações sobre a curva LM e sugere ter

havido umà rotação desta no sentido horário. Como vimos existe bastante evidencia

teórica no sentido do se admitir que o cartão de crédito influencie a curva LM de duas

maneiras:

(A) Atuar diminuindo a demanda por moeda-motivo- transação, com unia rotação da

LM no sentido' horário;

(B) Haveria também um deslocamento da curva LM para a direita e para baixo em

função da diminuição dos custos de transação.

152
Repare que podemos meliiorar um pouco mais a análise. Como ? 0 cartão de

crédito tem este efeito já mencionado de propiciar ao indivíduo se abster do uso de

moeda para as suas transações corriqueiras, porém, ainda não tratamos da questão do

indivíduo poder aplicar este saldo agora disponível em fundos _de curto prazo. O que

se q~ícr ciker que aiára de oao utilizar cash para o pagamento de suas compras, raio

dioücíro poderá ser aplicado o o indivíduo receber juros. Outras palavras noa levan;.un

a concluir que a demanda poT moeda motivo-feransação passaria a levar em conta ein k-íi

argumento a taxa de juros. Isto ocorre porque nos parece razoável que quanto maior

a taxa de juros, menor os saldos- médios (motivo-transação) de tal modo que estos i>e

relacionam de forma inversa. O maior juros é um incentivo maior à utilização do cartão

para adquirir sua^ mercadorias, pois neste caso a apliçâo dos recursos ocioaos gerará uma

maior remuneração. Portanto a nossa idéia é incluir no argumento do motivo-transação

a taxa de juros. No apêndice (gráfico 11) explicaremos este fato através dos quatro

diagramas.

Mt& ê desenhada sob a suposição de que a uma taxa de juros de 8% esta relacione

a demanda por moeda motivo-transação ao nível da renda; À/t, relaciona a demanda ao

nível de renda quando a taxa de juros ê de 6% e assim por diante. Uma vez que teremos

uma família de curvas, cada uma apropriada a uma taxa de juros particular, devemos

ao derivar a LM traçar através dos diagramas, começando com (Á) para diferentes taxas

153
de juroa diferentes curvas A/j (demanda por moeda motivo- transação). Por exemplo

Mt{&%) ê a demanda por moeda (motivo-transação) quando a taxa de juros é de 6%. Já

quando a taxa de juros se deva para 8% a demanda por moeda diminui, uma vez que o

indivíduo poderá aplicar este saldo auferindo alguma rentabilidade, e isto é traduzido pela

rotação no sc&iido horário da curva Mt. Devemos ter eoi mente que agora, p^ra cada

1:íx:í do juroa d^rerrte teíoraos uma cuira, demanda por moeda, uma em c&da curva. O

diagrama (B) los mostra a igualdade entre oferta e demanda de moeda. O diagrama (€)

mostra a proenra, especulativa da moeda, com uma relação inversa entre moeda e juros.

FínaJmente, no gráfico (D) temos desenhada a curva LMj, que mais é mais achatada

do que LM0. O que observamos portanto é uma mudança na inclinação da LM. lisle

Rationale aqui exposto pode ser melhor formalizado através de uni modelo amplamente

difundido em economia: o modelo de Baumol. Recapitulando, até o presente momento,

identificamos a rotação da LM no sentido horário, e agora iremos utilizar a teoria de

Baumol para podermos constatar aquilo que argumentamos. Posteriormente, iremos

ampliar o modelo de Baumol e chegaremos ao resultado pretendido.

Segundo Cysne e Simonsen(op.cit.) existem duas justificativas razoáveis para que a

demanda por moeda seja função decrescente da taxa de juros Dominai e que não foram

tratadas por Keyaes.

Baumol (1952) estava interessado em analisar a demanda por moeda (moíivo-tran-

154
saçâo) derivada de um coinporían)ento racionai, o que significa manter os s?*ldos a um

custo mínimo e assim seado deveria ser levado em consideração a existência de custos

de transação ou seja a conversão de moeda em tííulas e vice-versa envolve em algema

instância custos como: ir ao banco, telefonar etc ... Para se abstrair das demandas

especulativas e prceaocional, ele considera um eslado ao qual as transações são per

feitamente- pravi:>tas e ocorrem era um fluxo conslaaie ao longo do mes e cie maseira

uniforme. Assira sendo suponhamos que um indivíduo planeje gastar ioda a sua ronda

à uma taxa uniforme dur&uíe o mes. Dos y CR$ que ele recebo no começo do mes,

§ estarão crioíX) durante a primeira semana (supondo que um roes tenha exatamente

4 semanas); | do saldo ficará ocioso pelas duas primeiras semanas e | do saldo ficará

ocioso pelas ires primeiras semanas, com um encaixe médio de |. Ele pode, entretanto,

tomar cates fundos ociosc>3 e comprar um ativo que renda juros. Assim, ao início do me3

ele pode tomar | da sua renda e comprar títulos. Porém ao-final de uma semana, ele

necessita algum dinheiro adicional para as suas transações e então transforma em moeda

| de suas posses de títulos {\ de sua renda) para gastar durante a segunda semana.

No final da segunda semana ele transforma em moeda outro | da sua compra iniciai de

títulos para gastar durante a terceira semana; ao final da terceira semana ele transforma

em caixa o restante. No apêndice (gráfico 12) exemplificamos o caso para três conversões

de títulos ern moeda e/ou vice-versa.

155
l

Ao invés de ir ao mercado de títulos três vezes como no caso acima, ele pode ir n

vezes. E importante notar que quanto mais cie vai ao mercado menor será o saldo médio

(encaixe médio)15. O que faz com que o indivíduo decida o número de vezes necessária

para ir até o mercado? Sabemos que existe um custo de se fazer cada transação que

deve ser levado em conta, junto com o desejo de se manter o ativo rendendo juros, ao

invés de deixar dinheiro em fundos ociosos. A falta de sincronia entre receitas e despesas

faz com que haja a necessidade destes saldos para efetuar transações, mas nada nos diz

que estes devam ser em cash. Porque então não manter os saldos em ativos que rendam

juros, transformando-os em caixa à medida que as despesas necessitam ser feitas ? Caso

os títulos de renda íixa sejam os ativos alternativos à moeda que rendam juros e no qual

poderíamos manter os saldos para transação, podemos formalizar um modelo tal qual

Baumol(1952). Títulos e caixa são a mesma coisa exceto pelo fato de que os títulos não

são meios de pagamento e que os títulos rendem juros.

Conforme dissemos, existe um custo de transação de Cít$ a para se transformar

títulos em cash e vice-versa18. Trataremos do caso contínuo com base em Tobin(1956).

No início do período (t = 0) o indivíduo recebe CRS y que ele gasta à uma taxa constante

e uniforme durante o período e ao final deste (t = 1) ele desembolsou todo o dinheiro.

15de fato o encaixe médio é igual a PY/2Nt onde n é o número de vezes que o indivíduo

vai ao mercado. Quanto maior n, menor o encaixe.


16Estamos assumindo que o custo independente do tamanho da transação.

156
Portanto o saldo total para transações no instante i será:

5(0 = y(l-017 0) ' 0<í<i

O saldo médio £ será por Bua vez: Ü7 = /<J y(l - t)dt - -p8 (2). Como também

sabemos, o saldo-de moeda motivo-transaçâo é dividido entre cash C(t) e títulos T(t) de

tal forma qm S(t) = G(i) \T{t) (3). Sendo TJ(t) e T(t) o:i saldos médios em títnb:;

e cm caixa re:;pecíhau!cD.tc:

e (7(0=/ CU)df com T+C=| (4)


h l

A taxa de juras por período de tempo é r CR$19 por CR$ investido e o probbriva

se configura em achar a relação entre T ( e portanto ü)ea taxa de juros r de foraia a

maximizar seus ganhos de juros líquidos de eventuais custos de transação, Eob a suposição

l7inclmaçao da reta:

5(0 = Y-Yt = y (1 - 0

coeficiente-linear -Y
ís

- t)dt = f ydt - [' ytdt = y Ç ât - yC tdt =

»r = taxa de juros = fc
Í57
de que o indivíduo escolhe T{t) e C(í) com este principio de maximisação. Caso o

número de transações durante o período fosso fixo em n, dada a taxa de juros r, qual o

número ótimo-de. transações que maximiza a receita Rn desta alocação ótima? Caso o

número de transações fosse 1, ele nada compraria em títulos, poÍ3 precisaria desembolsar

dinheiro unia única vôs para saldar os seus compromissos. Caso n = 2, eis msEk-n:-.

l da renda em títulos o a outra, meiads em-dinheiro. Caso n = 3, ele comç-ram ?■

cai titules e mauteria | cia dinheiro para desembolsar cada ves que fosse ao mercado,

e assim sucessivãmente de uma forma gerai o indivíduo comprará —^y em títulos (f-

ele manterá cai caixa para as suas primeiras tranca-çoes), 6 os venderá a intervalos,

igualmente espaçados de iempo, cada intervíilo igual a i. As quantias serão todas

- ! f ~2 t -i~l t n

o saldo médio (T) em títulos será:

e portanto a receita auferida pelos juros que incidem sobre este saldo é:

Os custos de transação (supostos independentes do montante) da operação são n.a..

158
Assim, segue-se daí que a receita líquida é portanto:

Como estíimos interessados em maximizar esta receita (7), basta calcularmos

-a = u —-,- — a
Ôn

Na rekção aciraa, os valores fracionários de n devem ser arredondados para o inteiro

imediataittojiís icais próximo. O encaixe médio do mdivíduo i será como já vimos §- e

portanto:

oade se destaca a influência da renda real, da taxa de juros e dos cestos de transação

na demanda por moeda. Uma elevação da taxa de juros, reduz a demanda por moeda

• motivo- transação íal qual havíamos sugerido20. Um outro resultado interessante, é que
20

dM

159
uma redução no aisto fixo (a), tem um efeito sobre a demanda por rnoeda, ou seja, caso

a seja menor, para a mesma taxa de juros e para o mesmo nível de renda a demanda por

moeda é menor. 0 que ocorre é um deslocamento da deoianda por moeda para a direita

e para baixo, tal qual também havia sido sugerido por nós anteriormente. Conforme já

saüemamos, unia. mcwação financeira pode fazer o mercado ms.53 eficiente ao reduzir

o c-iuo da üitüfiííeílbção financeira e e«ki nem dúvida v-q aplica ao caso de carí£o de

crédito, que redus o número de idas a bancos, por exemplo, ou ainda o desembolso de

dinheiro para efetuar o pagamento no ato de cada compra.

à segunda rasão para qno a demanda por moeda possa ser encarada como mna

função decrescente das taxas de juros advém do exposto por Tobin(op.cií.). Ao compa

rar-se a moeda com os títulos de renda fixa, a moeda possui a desvantagem de não rcuder

juro:';, porém ela é absolutamente líquida. Quem estiver de posse de moeda poderá efe

tuar a transação quando bein quiser, enquanto que os portadores de títulos necessitam,

vendê-los para que possam transacionar no mercado. Porto Gonçalves argumenta que

não se pode utilizar uma LTN para comprar sorvete. Quando o indivíduo vende' os

títulos, ele poderá sofrer uma perda de capital, pois as cotações dos títulos oscilam antes

do vencimento e portanto tem-se urna componente de risco. Dornbusli(I984) argumenta

que a exemplo do caso anterior, existe um traâe-off entre íüquídez e a ocorrência de

perdas como por exemplo incorrer em um custo de oportunidade (taxa de juros). A

160
quantidade ótima de moeda por motivo-precauç&o leva em couta a incerteza entre paga

mentos e recebimentos e deve ser expressa em termos de custos esperados. Caso o agente

não possua dinheiro, ele incorre em um custo q, ou seja, existe ura custo que o indivíduo

incorre ao não ter dinheiro para pegar um taxi em um dia de chuva. Á probabilidade

da pessoa C3í^r "iííquido* durante um certo período pode ser .p(M,o), onde euta. função

indica q«3 a probabilidade de alguém estar sem dinheiro cm um momento depende do

saldo moiiotáLio M que ele possui, e o grau de incerteza o da ocorrência de pagamentos

e recebimentos. Obviamente quanto maior M menor eata probabilidade; e quanto maior

o maior cí>t&, portanto o custo "esperado" da iliquides é:

cnsto esperado = i.M -f f?.(M, o).g

onde o primeiro termo descreve o custo de oportunidade de se reter moeda e o segundo

termo, o custo da iüquidcz. Para se chegar ao nível ótimo M\ deve-se comparar o custo

marginal de ee reter uma unidade monetária contra o benefício marginal de se reter esta

mesma unidade. 0 custo marginal é expresso pelo juros que se deixa de ganhar ao reter

moeda, e o benefício marginal é o menor custo esperado de üiquidez. Podemos diepô-los

em um gráfico: custo marginal e benefício marginal.

A curva BMG (Benefício Marginal) é uma função decrescente, pois quanto mais o

agente possui em moeda, menos provável é que ele incorra era algum custo de iliquidez.

161
Ou seja, se ele possui $ 100, digamos que a probabilidade de algum custo áe, iliquidez é de

20%. Caso ele possua $ SOO, esta probabilidade se reduz para 10% e portanto é meaor o

acréscimo ao custo esperado de liquides. O custo marginal (CMG) é represeatado pelas

juros pagos e assim independente de M (estoque de moeda), sendo uma reta horizontal.

O nível ótimo Aí* é obtido pela iníersecção das duas curvas. Em (1), o BMG > CMG o

por i&x) auiaenía-sa a quantidado de moeda. Já cm (2), o CMG > BMG e oe dimin-ui o

estoque de moeda. O ponto de equilíbrio é, pois, M\ O que acontece com M4 quando

a taxa de juros-cai ? Com a queda da taxa de juros o custo marginal também se reuus

e com bso & reta horizontal CIvIGo se desloca para baixo (no gráfico 13 no apêndice).

Com isso M* se desloca para à direita e se situa a um nível maior (Mf). Explicaçíío:

como o custo de se reler moeda diminui, é preferível que as pessoas passem a reter dwís

moeda, com isso gc reduz o custo esperado de liquidez. Surge desta forma uma rcbçâo

inversa entre a taxa de juros e o estoque de moeda e assim a nossa demanda de moeda

seria reformulada:

(A) Demanda por moeda moíivo-trausação: Mt — f{y, r)

(B) Demanda por moeda motivo-precaução: Mp - f(y} r)

Ou ainda agregando os dois motivos: Mt - /(y, r)

Para finalizar exporemos os principais pontos aqui discutidos. O cartão de crédito

e sua propagação, dentro da perspectiva Tobiniana expoota acima, reduziria o grau de

162
incerteza 8 e com iaso seria menor o custo esperado (a curva BMG se desloca para à

esquerda -Cai M). A maior segurança propiciada pelo cartão advém do faio de se efetuar

as Dicsnias transações com menor necessidade de caixa. À uma mesma taxa de juros, a

quantidade de moeda demandada é menor.

Do lado do modelo de Baumol (demanda transacional), o efeito pode ser visusü^do

através do di^rams ao apêndice (gráSco 14). Nele supõe-se um fluxo de caixa típico

de uma unidade familiar durante um mea e supõe-se ainda que as demandas motivo-

transação e especulação tenham sido-abstraídas. Uma outra suposição é que as contas

gão pagas uma vez por mes (extrato do cartão) e logo que chegam- Estas mesmas

contas chegam a um intervalo constante de tempo (data de vencimento). Plotamoa o

diagrama triangular antea e depois do cartão de crédito Ber introduzido. Na análise, coto

o indivíduo recebendo os pagamentos no dia 0 e SD (salários). A linha sólida eni azul

mostra como o saldo teria se movimentado durante o mes quando não havia o cartão de

crédito disponível e não se invista portanto em fundos e/ou ativos que rendessem juroa.

Quando o cartão é introduzido, o indivíduo sabe que pode tomar emprestado da ad-

163
miaistrsdora, sem custos, por até 40 dias. feto pode ser visualizado pela liaha tracejada.

motivo-transâção: I) Redua o saldo médio necessário paxá


efetuar as transações e os custos
de transação.
2) Torna este tipo (modalidade) mais
Demanda por moeda < , , , . , -
j sensível a taxa de juros
I moiivoprecaução: í) Diminui os cubíos de liquides em
I função de URia maior segurança e
I
\ menor lííceríüza

Todos estes dois fatos levam à uma mudança na sensibilidade à taxa de juros, kúo

reafirma o íiíio já de se ter uma rotação da LM ao sentido horário com uma elevação

da elasfcick>iyüe-ju.ro.

O cartão de crédito também reduz o custo de transação dos agentes e é de se espcriir

um deslocamento da curva LM para baixo e à direita.

(1) Diminuição da clasticidade-reada.

(2) Elevação da elasticidade-juro.

(3) Diminuição dos custos de transação.

Vários autores já alertaram para estes fatos. Mester (1981) argumenta que o uso do

cartão realmente reduz a demanda por moeda. Sastry (1970) também trabaüa na>ta

linha, mas não explora o elo entre a demanda por moeda agregada e o cartão.

164
4.4 - Uma Abordagem Algébrica. (Matemática)

Como já foi frisado o cartão age como um meio de troca substituto à moeda em

muitas ocasiões. Tem-se a vantagem de permitir ganhos adicionais (os juros) sobre

aqueles saldos que não mais necessitarei ser mantidos como moeda, pois ao invés disto

pc;Ic-&e pagar cem o cartão e o dinheiro que se usaria para efetuar as compras fica

>ip!;c?.-io lúi o ílaal do ioes. o que dá uma razão extra para que a. demanda por iíi.<v-.'a

caia quando a taxa de juros suba. Uma outra vantagem é que o cartão de crédito,

enquanto uma iuovsçíLo financeira, reduz o cuato de transação (o número de transferencia

do ativos). O modelo a íiepiir apresentado se insere dentro da problemática colocada

por Baumol e o cartrío é introduzido dentro da análise fazendo-se a hipótese de que no

início do período o indivíduo saiba a proporção p cora que efetua compras utilizando

o cartão. Assim como no modelo de Baumol, o indivíduo recebe ao início do período

uma quantia Y21 e planeja como alocá-la ao longo do mes de uma forma constante

e, alternativamente à moeda temos títulos que rendem juros à taxa r. O custo fixo

(independe do volume de transação) de se transformar títulos em moeda e vice-versa é

a. Como estamos supondo que w início do período o indivíduo sabe a proporção p dos

seus gastos que serão feitos através do cartão, ele aíoca inicialmente p.Y em títulos, sem

titubear, pois do contrário este saldo permaneceria ocioso, e agora ele pode auferir um

21Y = p.y índice de preços x renda real

165
certo rendimento. Do saJdo restante (Y — pY = Y(l— p)) (1 — p)Y o indivíduo terá o

mesmo problema identificado por Baumol, qual seja o de decidir quanto irá alocar em

títulos, quantas transações irá efetuar, tudo isso segundo ura comportameaío racional.

Caso sejam feitas n transações, a primeira se constituindo de moeda em títulos e as

reyipntes n - ! de títulos em. moeda, ele portanto transferirá *-*—^ dos seus zzlâoi

rpoiv-íários p;*ra títulos. Ou. p<íja ^-—-^(1 - p)Y que é disponível para efetuar csi^r?

transações, transações estaa realizadas a intervalos iguais (tal qual suposto por B&umol)

h — £,£3 = :';,M '—■ f)---?í'i = ~-- até /»j — ^^- quando finalmente Berá transierido todo

o coloque para moeda ÍA^-jp-i-, O indivíduo nesta situação possuirá ern títulos:

' ■ Tn(ti) = PY + te=$&^-™ (])■

De onde era termos médios ele possuirá em títulos:

i2de fato, como no início ele transferiu PY diretamente para títulos, a cada instante terá

em títulos:

já tinha """
transferiu depois

(1

(2) i = 2->ta-»7

p<iBsa à moeda

(3)í = -

166
_. _ , , _ _ A23
n' La\=\

.(i-i) P)

Os custos totais do gerenciamento de caixa das « transações será n.a (o custo unitário

é a), raaa a maioria dos cartões inclui um custo fixo (anuidade) contra os quaÍ3 deve se

pesar a vantagens de utilização do cartão, custo por nós designado G o que fará com

que a receita líquida da utilização do cartão fazendo-se n transações será:

De onde o lucro ?r pode ser escrito como:

(l-^j
^j-na-c (4)

(4) t = 4 —> f-i —♦ in('4J = ^nl*2/"" ~ i i

passa á moeda

De nraa forma geral -♦ Tn(ti) = PY +

Quando n = t, ele terá transferido tudo, só restando PY. .


23E?=i(n ~ *) soma dos n Primeiros n^roeros naturais Sn = (°i+a")n
167
Devemos como Baumol maximizar (4) com respeito a n de modo a se chegar ao

número ótimo de transações que deverá ser efetuada. Temos:

rfj^-pjg .. y 2a v '

Note-se que quanto maior p (maior utilização do cartão) isto implica em menos

21De uma forma geral, podemos decompor o triâRguio de encaixes meusais em a eul>

triângulos, cora o que o saldo médio se reduz de ^jp^- para ^^~, a custa de (n - 1)

operações.

Saldo irtfSdio em títulos:

(1 - P)Y (1 - P)Y
2 2n.

Receita auferida: r • j ^—p^- - ^ 2n^V"| ao CU£ito ^e (n ~ *) t1*^1183?0^3 ^e custo


cada uma, mais o custo do cartão c.

Receita líquida: r • \U-=ÇL - íi^lHJ - („ - I). a - c = / H

168
transferências de títulos25 para moeda, ou ainda, uma maior aceitação do cartão significa

menos idas ao banco para o consumidor. Repare- se que se substituirmos (5) em (4) o

vator máximo da receita será:

2a

^+r(l^_ülz£k._^=-.tíi_£te.a_c
(1) (2) (3)

(l)

r{í-p}y ' Jyâ _ (r(l-p)9)k „$ - tt /r(l-p)v


/r(l-p)va
y 2

(3) ^^a-c==^^ah-c = ^

*c=

25

íüü - (H.\7 L(\ - v)-h(-\) = -i (H\s fi -p)~b = -- ( 'y ] p t« l

169
e a demanda por moeda individual será

2n /Tf
2a

Notemos qoe no caso da-não utilização do cartão de crédito, tem-se p = 0 e ele não

tem o custo c, o que nos dá p = c = 0 nas relações derivadas acima e chegamos aos

mesmos resultados obtidos por Bauraol26. A decisão em que última inaiância fará cora

que o agente use o cartão de crédito é a seguinte.

7r£c > Tíy ou seja, caso o lucro auferido com o uso do cartão suplante o lucro auferido

quando este não é utilizado. A relação acima implica:

jrCC

rpy
p)y~ç>

oade:

(1) Representa os juros auferidos pela utilização do cartão;

170
(2) Representa a redução do número de transações em função do uso do cartão27 e

(3) A desvantagem do custo fixo pelo uso do cartão, a taxa de inscrição e/ou anuidade

(fixa), etc .:.

Podemos reescrever (8) como: 3^- + y/2ary[l - ^/(l -p}\ - c > 0, de onde caso

façamos À = (1 - ^/p~~- p}) temos:

podemos trabalhar um pouco mais esta expressão e assim sendo, façamos a seguinte

mudança de variável: •

x = y% => x2 = y

Ora, com isso temos uma iuequaçâo cm x do 2^ grau: ^x2 ■{■\/2ãrXx-c > 0. Achando

as raízes do polinômio, fademos Çx2 + \f2arXx - c =-0 ou ainda rpx2 + \/SarX2x -2c = 0
27

rY__ r{l-P)Y =
ncc ~ V 2a V 2«
fator racionalizaate: \Jíã

y/2«r(l - P)Y
yflã 2a 2a

2a 2a

171
de onde pela fórmula de Baskhara28

x — —
2rp 2rp

oade

8rpe

tomando^ síj, temos que y = ar2 = = dividindo por 2 dea-

íto do radical =

reescreveüdo a equação e poado ecn evidência 03 termos comuns:

i multiplicou e dividiu o lf termo por aA2

f gA2 + pc

-1
aA2

2aA2
-Vi
aA2

Tomando-se a raiz de ■ia, temos que

8rpc
2rp

28X=-i- = 0 na forma ax2 + bx -f c = 0

172
mas,

}'■
fàarX* 4- yJSarA2 + 8rpc
2rp

f2aA2 + 2pc

«+pc) }
rp2 aX2

aA2

2ÕÃ2 /(flAa+pc)
V

2aA2
+1

ou

2aA2

V'
173
Estudando-se as variações de sinal do trinômio29, obtcmos:

t2

Caso desiperaos Y como o nível de renda raínimo que torna o uso do cartão lucrativo

(írn > v)t tem-se que y = -^, onde $ = yj\ -f ^ - 1

Daí cegue que

ou seja o nível de renda ao qual o uso do cartão se torna lucrativa se reduz quando

aumenta-se a taxa de juroâ.

Chegamos até agora à uma demanda por moeda individual, mas estamos realmente

interessados no comportamento agregado da demanda por moeda, e assim sendo devemos

levar em conta não só a existência de usuários e nâo-usuários do cartão, mas também

como a renda se distribui. De forma a simplificar a análise a seguir, é suposto que r, a o

p são mantidos constante» ao longo das unidades individuais. É necessários se fazer uma

.agregação explícita sobre os indivíduos para que se obtenha um comportamento agregado.

w e portanto para que

_,2

rPx% . /õ^:\« .^n ^ ., x. \2( 2fl \ ! /i , Pc i

174
A agregação do comportamento individual exige que especifiquemos uma função que

represente a forma pela qual o gasto se distribui entre as diversas unidades. Os valores

dos parâmetros para a distribuição dos gastos são baseados no padrão observado para a

distribuição da renda. Fazendo-se a suposição de que r, a e p são constantes e a renda

é distribuída segundo uma função de densidade contínua f{y)) podemos então escrever:

(1) - Agregação sobre os indivíduos não-usuário3 de cartão (note-se que a renda é

inferior a y - renda mínima para o cartão - o que desabona a utilização do cartão) e,

assim, para estes a demanda por moeda é igual à fórmula da raiz quadrada de Baumol;

(2) - Agregação sobre o? usuários de cartão (note-se que a renda é maior que y e,

assim, a utilização do cartão é lucrativa) e, assim, para estes a demanda por moeda é

igual à fórmula derivada acima.

175
onde o resultado a que chegamos possui dois termos: (1} o primeiro termo nos dá

a demanda por moeda agregada para toda a população que é derivada do modelo de

Baumol; (2) o segundo termo representa a redução agregada na demanda por moeda (na

posse de moeda) que surge do uso do cartão de crédito.

Para que se obtenha resultados particulares é necessário como observa Barro (1976)

especificar uma forma para f(y). Um estudo realizado por Salem e Mount (1974) pos

tula a utilização da função gama para a descrição da distribuição de rendimentos. Á

função gâina apresenta algumas propriedades matemáticas interessantes e que facilitam

os resultados. A função densidade por eles apresentada é a seguinte:

como sabemos: J^ f(y)dy — 1 (propriedade indispensável para ser uma função de den

sidade de probabilidade) e assim:

Jo Jo

faça-se u = j3y; du - pdy

f°° /«\3/2 du

176
mas isto nada mais é que F(5/2)30 e portanto F(5/2) = (5/2-l)F(3/2) = |F(3/2) =

| |r(l/2}31 = l^/ár e portanto ^|0r = 1 de onde: a=


||

A renda média y será:

■í
fazendo-se « = <Jy =

531 r
222^

e portanto

2 _^v .

31

r(i/2) = 0F

177
faça-se tx = fiy —♦ du = j3dy

4 /Tr2 n = _«■/£ = ? 71?

mas, Jeiübrando-se que $ = A, podemos escrever fazendo-se as devidas alterações pars

nâo alterar a expressão (A)

8 r~ã~ 8 Ia 5 1 8 rã

O segundo termo também pode ser desenvolvido:

faça-se x — fiy -+ áo;

•00

1T4P5!2 1 1

178
Calculemos a integral definida f™ 7?er*dx por partes: Faça-se u = z2 => du = 2xdx

e dv = e~xdx =» v = —e"* e assim

j ^e-xdx = uv~ jvdu-^{-rx)- í{-e~x)2zdx~~zle-x + <L í

Faça-se ti = x => du = rfa: e dv = e"1^ => t> = -e"1 e assi


assim

/xe xdx — uv— l vdu — ${—e~x) — / í—e~x)dx = —


J J }
e assim sendo

/ x2e~*dx = -x2e~x + 2 [-xc~x + e~

portanto, voltando à

com

teremos

. f°° nüiAfpl2 3/2 _py _ 4\pbf* fT f°° £ _$

Integrando por partes:

« = f; du = 2y<íy

179
dv =

-I
9 * —/?!

Integrando por partes:

= dy

dv = ,-P*

— f vdu = -y-õ<

c~Py é- (\B)

De (IA) e (1B) em (1) temos:

f-OO

p
(2)

De (2) em (1)

oo

<-* ,]}-{-[«:
180
Finalmente teremos que:

4A/?5/2 fã r.2-

t"A2

Lembrando- se que y = Â e substituindo na relação acima:

avn

3 V 5?rr

Fazendo 0 ~ ^y, a demanda por moeda agregada é portanto:

(1) (2)

8 _

onde z=

181
, I

Mas lembrando que

i2
_ 2a 2
V—
rp-*

i2

Z ™ ' í\ + II. _ 1
1 + gA2 *

-i2
_5c_

5a
/A2,££_
V «

Portanto

= -x2e-:cj|o - 2íc-Jf + 2c-*]!° + C = -(0 - ^c"') - 2(0 - ye~*) - 2(0 -

+ 2$ + 2] ou 2<H[Ç + y +

e assim

1
3

182
E finalmente a demanda por moeda agregada é:

8 ay

3 5jjt

Note-se que agora a demanda de moeda não é mais proporcional à raiz quadrada da

renda dividida pela taxa de juros de Baumol33, o que não ocorre por causa da agregação,

mas sim pelo fato de existir um meio de pagamento alternativo que é o cartão de crédito.

Caso façamos:

Com:

= he-zz2/2 > 0

tt» + £- <0

5a
[A)z = z{r, g) =
p2ry

dy

183
Desta forma, como

notamos que aumentos em y,z,y diminuirão $($). Lembremos que no início tratamos

corno constantes r, c, c e p o que torna ^>($) constantes, e desta forma qualquer alteração

em uma dessas variáveis cansará mudanças na demanda por moeda. Entretanto o que

é mais interessante para o nosso estudo é verificar o que acontece neste modelo cora as

elasticidades. -

t]y — -ft—-j7 =? (elasticidade-renda)

=? (elasticidade-juTOs)
ÒT M.

Necessitamos inicialmente calcular ^. Para isto podemos escrever M - 4>f{y>r),

onde fp = ${z) e z — z(rt y) e portanto a derivação de ^- envolve um produto e regra

da cadeia.

dtj)dzff_

obs:

184
| = 8/3(1 - Ae-'(1 + z +1)][ag/Sif\Wjfl =

9f " 0y M

[(1 - Ae~
8/3(1 - Aer-*(1 + 2

1/2(1 -Ae-*(- ....„„,

2 + [1 - Ac-*(1 + Ir + »2/2)]s?~1/2 " 2 + [1 - Ae~*(l + z + 22/2)lrl/2

_ 1 _ Ae
~ 2

1 Ail 34
2

Para calcularmos »r necessitamos igualmente de %j~

dKí di> dz ,a/(fcr) . . . . . . .


___ = _z_. __ . f i*j r) 4. & ')*>' o mesmo caso antenormente tratado
dr dz dy ' dr

y] - (-1/2)

34Caso p = O~» A = 1 — y/l -p = 0 —► 7v = 1/2 (não sendo problema de agregação)

185
onde/ = Si = -&$.

~
r)i/r =

e assim podemos calcular fv:

8/3|Ae-z • z2 /2] • ** • («y/i /2 + 8/3(1 -\e~*{l + z-^/a)](-i/2)(.f/5^ _3/2

8/3[l - A

lembrar que zí _ <Í3 _ —l I /\2 _l ££ il — s


- 3y - !»■ IV "*" « "~ J ~~ ~ff

'/2] (l-Ae-r(l+ír -1- -^2 /O\ . / 1 /o\r-3/2\


[i-; 11 ' f37T ■ 1* ~~ ^^ .1* +,+.2/2)l(l/^/2)

* • 22/2 • í—z/r) • r~'/21


2

-1/2J
i, [Ae"'-r!/2-(-í/r)-r'
|l-Ae-nz + l+zV2)l

i
~ 2 [1-Ae z{] .-^+1 + ^)1

1
Op-f- í 11 \p
2 íit, ' 11 — /^C
-u + z -f 22/2)| 2 [2e e - 2A(1 4- z + 22/2)| ~

Xzs 35
^> íCC *~ A (2+2r+J;2)

= O-*A=l~ y/l-p = 0 —> »yr = -1/2 (não sendo problema da agregação).

Quanto menor p -+ mais próximo de -1/2 estará fjr.

186
O uso de cartões de crédito diminui a elasticidade-renda e a elasticidade-juro. Isto

acarretara, caso nenhum indivíduo altere a sua escolha de meios de pagamento, a um

aumento agregado nas posses de moeda se houver um aumento da renda; só que agora

existem algumas pessoas para as quais se torna lucrativo usar um cartão de crédito.

Estas peasoas atuam no sentido de reduzir a elasticidade-renda agregada. De maneira

similar, taxas de juros mais elevadas induzem saídos de moeda reduzidos pelo mecanismo

usual, mas ein adição pessoas que antes estavam à margem do processo, agora achara

lucrativo usar-um cartão de crédito por causa dos retornos dos juros que &ão maiores

agora (pois, podem ser aplicados até o pagamento do cartão), isto tudo acarreta, que a

demanda por moeda se torna mais sensível aos juros na presença doa cartões de crédito.

Sustentamos ao longo do presente capítulo que o cartão de crédito afeta a demanda

por moeda em 2 direções:

(1) ao atuar como meio de pagamento alternativo à moeda, reduz a demanda por

moeda motivo-transação (função da renda), ou seja, para o mesmo nível de renda y, agora

o indivíduo necessita uma quantidade de moeda Mt menor para sustentar seu nível de

consumo (processo de decisão);- esta argumentação vai na direção da diminuição da

elasticidade-renda-

(2) ao propiciar ao usuário do cartão, um pagamento postecipado, o indivíduo pode

auferir um rendimento-extra, pois ao invés de desembolsar uma determinada cifra para

187
l

arcar com o pagamento das despesas ele saca o cartão pagando após certo período sem a

incidência de juros e podendo aplicar esta quantia pelo período e assim sendo a demanda

por moeda fica mais sensível à taxa de juros - enfatiza a mudança na elasticidade-juros

que por nós é ilustrada com o auxílio do modelo extendido de Baumol.

À conclusão a nível teórico nos indica o caminho das demais, no qual nota-se um

delocamento da curva LM no sentido horário, reduzindo desta forma a eficácia da política

monetária (Gráfico ÍO). .

Não obstante esta conclusão, ela carece de uma investigação empírica que permita

constatar se o que aqui sustentamos é de fato verídico. Para tanto no capitulo que se

segue tentamos estimar uma equação *f = L(r,j/), ou seja nma curva LM, que tente

ratificar o nosso argumento, e derivar o efeito da introdução do cartão de crédito sobra

a demanda por moeda.

Não pretendíamos esgotar o assunto a nível teórico, mas tão somente aludir à possi

bilidade da introdução do cartão causar instabilidade na demanda por moeda. Restados

agora verificar ou não esta possiblidade por nós levantada ao plano teórico.

188

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