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13. DESTITUICAO DO PODER FAMILIAR, ACOLHIMENTO. INSTITUCIONAL E JANELA ADOTIVA NO ESTADO DO CEARA: OS DESAFIOS DA EFETIVACAO DO DIREITO FUNDAMENTAL A CONVIVENCIA FAMILIAR DAS CRIANCAS E DOS ADOLESCENTES SOB A OTICA DA DOUTRINA DA PROTECAO INTE! © srosssdoion 592/978658742450 Carla Marques Didgenest Vyctoria Caroline Barros Rodrigues? 1 Introdugio Os trinta anos decorridos com a vigéncia do Estatuto da Crianga e do Adolescente no ordenamento juridico brasileiro trazem motivos de celebragéio, mas nao sé isso, impulsionam também a necessaria e relevante reflexdo sobre os problemas nao resolvidos, as violagdes ainda existentes e os reflexos hodiernos da doutrina menorista que perdurou, no direito brasileiro, até promulgagio da Constituigao Federal de 1988. A pesquisa aqui apresentada se faz motivada por essa necessidade. Dentre os direitos fundamentais titularizados pelas criancas e pelos adolescentes, est o direito A convivéncia familiar, 0 qual, muitas vezes, é posto em xeque quando se vivenciam contextos destituigio do poder familiar com a necessidade de aplicagio A crianga ou ao adolescente da medida protetiva do acolhimento institucional. Assim, o objetivo deste estudo é investigar os desafios para a efetivagao do direito A convivéncia familiar de criangas e adolescentes acolhidos sob a perspectiva da janela adotiva do Estado do Ceard. Para tanto, realizi bibliogréfica e documental. Em uma perspectiva fami de andlise da doutrina e da le; , trabalha-se com o direito a convivéns o instituto do poder familiar e a medida protetiva de acolhimento institucional. Na andlise mais acurada sobre o recorte espacial elegido, sio apresentados dados + Doutoranda no Programa de Pés-Graduagdo em Direito da Universidade Federal do Cearé, Professora do Curso de Direito do Centro Universitério Christus. E-mail: carlamdiogenes@gmail.com. 2 Graduada em Direito pelo Centro Universitario Christus. E-mail: vyctoriacarolinne12@hotmail.com. 252 | A Luta pela Protecdo Integral: edi¢io comemorativa dos 30 anos do ECA coletados em setembro de 2020 junto ao Projeto Promotores Académicos da Infancia? € ao Sistema Nacional de Adogio. A escolha pelo estudo da realidade cearense se deu em virtude da proximidade das pesquisadoras com esse recorte, possibilitando, inclusive, o acesso aos dados analisados na tiltima segao do artigo. 2 A titularizago do direito fundamental A convivéncia familiar no paradigma da doutrina da protecio integral Durante a vigéncia do Cédigo de Menores de 1979, bem como das legislagdes anteriores, as criangas e os adolescentes s6 eram passiveis da tutela do Estado quando se encontravam em uma situagdo irregular, ou seja, de réncia ou de delinquéncia. A superagéo da doutrina da situagdo irregular s6 se deu com a promulgagio da Constituigo Federal de 1988 e, logo em seguida, do Estatuto da Crianga e do Adolescente (Lei n° 8.069/90), em 1990. A nova ordem constitueional consagrou a doutrina da protegdo integral, que passou a tratar os individuos em questo nao mais como seres tutelveis, mas sim como sujeitos de direitos. (AMIN, 2019) Dentre direitos titularizados pelas criangas e pelos adolescentes, encontra-se a convivéncia familiar, que, expressamente algada & qualidade de direito fundamental, preconiza o seu direito de serem criados e educados no seio de suas famflias, sejam naturais ou afetivas. (OLIVEIRA, 2014) & o direito “que agasalha 0 convivio, as relagGes intimas, a vivéncia com outrem, em familiaridade e intimidade”. (LOPES, 2012, p. 112) Tal direito nfo se restringe A convivéncia no interior seio familiar, mas fe relevancia pois o afeto aparece como a primeira estrutura da mente. (SILVA, 2012) pressupde também uma atmosfera de afeto4 ¢ de cuidado, a qual se faz de suma ® Consiste em um projeto piloto de servigo voluntario no ambito das Promotorias da Infancia e Juventude do Ministério Pablico do Estado do Ceara, institufdo pelo Provimento n° 36/2017 da Procuradoria-Geral de Justia do Ministério Pablico do Estado do Ceara “No Ambito dos documentos internacionais, visualiza-se a relevancia desse ambiente de afeto para o bom desenvolvimento da personalidade da crianca, por meio da redacéo do Principio 6 da Declaracio dos Direitos da Crianga de 1959: “Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a crianga precisa de amor e compreensao. Criar-se-&, sempre que possivel, aos cuidados ¢ sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipétese, num ambiente de afeto ¢ de seguranca moral e material, salvo circunstincias excepcionais, a crianga da tenra idade nao seré apartada da mae. A sociedade e as autoridades pablicas cabera a obrigacao de propiciar cuidados especiais as criangas sem familia e aquelas que carecem de meios adequados de subsisténcia, £ desejével a prestacdo de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutengio dos filhos de familias numerosas.” Carla Marques Diégenes; Vyctoria Caroline Barros Rodrigues | 253 No ordenamento brasileiro, o direito 4 convivéncia familiar encontra previsio nos artigos 227 da Constituicao e 4° do ECA. A legislagio estatutaria, além de expor o direito A convivéncia familiar em dispositivos esparsos, confere um Capitulo, inserto no Titulo II - Dos Direitos Fundamentais, especificamente para disciplinar tal direito. Em 2006, foi langado pelo Governo Federal o Plano Nacional de Promogio, Protegao e Defesa do Direito de Criangas e Adolescentes 4 Convivéncia Familiar e Comunitaria com o objetivo de “...] fazer valer o direito fundamental de criangas e adolescentes crescerem e serem educados em uma familia e em uma comunidade.” (MORAIS; PALUDO; KOLLER, 2010, p. 192) ‘Trés anos depois, a sistem ica do direito a convivéncia familiar foi aperfeigoada pela Lei n° 12.010 de 2009. Tal aperfeigoamento enfatizou a necessidade de implementagio d e politicas publicas que tenham a finalidade de garantir orientagdio, apoio e promogio social da familia de origem. Nesse sentido, a norma estabelece a prevaléncia da familia, determinando que deve ser dada prioridade & manutengio ou & reintegracio dos filhos menores na sua familia natural ou extensa. Apenas em no sendo possivel sustentar essa prevaléncia na pratica, dar-se-4 a colocag&io em familia substituta. (MACIEL, 2019) A familia natural compreende pais e filhos ou qualquer dos genitores ¢ sua prole, sendo, neste wiltimo caso, uma familia monoparental. A Lei n. 12.010/2009 ampliou a abrangéncia do conceito de familia natural do ECA, pois a denominada familia extensa ou ampliada, composta por parentes préximos com os quais a crianca ou o adolescente possui conivéncia e mantém vinculos de afinidade e de afetividades, passa a integrar também a familia natural. E no seio da familia natural, portanto, que dey ser efetivado o direito A convivéncia familiar. Na falta dos pais, ou quando el no podem garantir a coneretizagao de tal direito, deve-se buscar a familia extensa com esteio na afinidade e no afeto. Nao sendo a busca pautada nesses dois aspectos, poder- se-A impor & crianga e/ou ao adolescente o convivio com pessoas estranhas. (MACIEL, 2019) substitutas, As familias conforme redagio do artigo 28 de ECA, podem cor tituir mediante guarda, tutela ou adogio. Quando provisérias, el se apresentam 5 Vide redacdo do artigo 25, pardgrafo tinico do ECA: “Art. 25. Entende-se por familia natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Pardgrafo (nico. Entende-se por familia extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes préximos com os quais a crianga ou adolescente convive e mantém vinculos de afinidade e afetividade.” 254 | A Luta pela Protecio Integral: edi¢io comemorativa dos 30 anos do ECA sob as modalidades de guarda e de tutela, cujos exercicios, se houver afinidade e afeto, deve-se dar prioritariamente pela familia extensa. Quando definitivas, as familias substitutas sfo oriundas da adocio. Por meio da adogdo, supre-se de forma mais completa e irrevogivel o vineulo de parentesco bioldgico, havendo a recepco integral de todos os atributos do poder familiar, em sendo 0 adotando crianga ou adolescente. Frisa-se, ainda, que, uma vez formada a familia socioafetiva por meio da adogao, os avés, primos, tios que a compéem constituiréo familia socioafetiva ampliada. (MACIEL, 2019) 3 O instituto do poder familiar e a medida de protegio do acolhimento institucional: uma interseceao existente Embora o poder familiar tenha sido precedido pelo instituto do patrio poder, com o decorrer do tempo, a ideia de concentragio de poder na mao de um dos genitores foi sendo desfeita. Os prinefpios da igualdade familiar e da dignidade da pessoa humana passam a ser incorporados na ordem constitucional, sendo preconizada a igualdade entre ambos os genitores e garantida a igualdade de direitos entre filhos, sejam legitimos ou nao. (RODRIGUES, 2019) © artigo 226, §5°, da Constituigao Federal viabiliza 0 desdobramento do principio da isonomia. Por este principio, o exercicio do poder familiar se daré em igualdade de condigGes pelo pai e pela mae, de forma que ambos os genitores possam gerir a vida de seus filhos, sendo superada a concep¢ao de subordinago da mulher e dos filhos ao pai dentro do ambiente familiar. Passa, assim, a ser desenvolvido o interesse juridico de protegio das criangas ¢ dos adolescentes. (PEREIRA, 2017) Percebe-se que tal mudanca de paradigmas se d4, no Brasil, concomitantemente & emergéncia da doutrina da protegao integral da qual se tratou na seco anterior. Embora 0 Cédigo de Menores ou Cédigo de Melo Matos tenha trazido alguns conceitos a respeito da assisténcia e da protecéio aos “menores”, o advento do ECA reformulou alguns conceitos ja tr dos pelo Cédigo anteriormente vigente, reconhecendo a importancia de ambos os genitores e a igualdade de direitos na criagdo de seus filhos.® 6 Vide redacdo do artigo 21 do ECA: “Art. 21. O pétsie-peder poder familiar sera exercido, em igualdade de condigées, pelo pai e pela mae, na forma do que dispuser a legislagio civil, assegurado a qualquer Carla Marques Diégenes; Vyctoria Caroline Barros Rodrigues | 255 No obstante os ideais adotados pela Constituigao jé estivessem postos no ECA, até o ano de 2002, ainda se podia observar a existéncia de perspectivas distintas entre os referidos documentos e o entéo vigente Cédigo Civil de 1916. Tais divergéncias foram sanadas apenas com o advento do Codigo Civil de 2002, quando o termo patrio poder foi substituido pela expresso poder familiar. (RODRIGUES, 2019) Assim, a expresso que anteriormente trazia A tona a ideia de um poder exercido pelo pai sobre seus filhos, foi superada. poder familiar compreende direitos e deveres dos pais em relacao aos filhos, logo se apresenta como institute que possui um viés protetivo, nao refletindo a ideia meramente de um poder, mas sim de um “poder-dever”. Assim, pode-se afirmar que 0 poder familiar consiste, na verdade, mais em um minus legal e menos em um poder, pois, além das prerrogativas sobre a pessoa e os bens dos filhos, esse instituto abrange, prioritariamente, os deveres de criagio, educagao e sustento. Tal minus confiado aos pais deve ser exercido no interesse dos filhos, da concepgio a idade adulta” (RAMOS, 2016). Salienta-se que esses deveres tém guarida na Constitui¢o, conforme se visualiza em seu artigo 229.8 © Cédigo Civil, em seu artigo 1.6319, estabeleceu o referido poder-dever para ambos os genitores, ambos possuindo direitos ¢ poderes na criagao de seus filhos, podendo agir conforme o estabelecido em lei e respeitando os limites a eles atribuidos, seja por limitagao judicial que diminua ou extinga tais poderes ou por determinagao legal. (PEREIRA JUNIOR, 2002) ‘Uma série de obrigagdes esto previstas no artigo 1.6347 do Cédigo Civil, em rol exemplificativo, uma vez que existem varios outros tipos de deveres advindos da relagdo parental, endo responsaveis pela titularidade e 0 exerefcio do poder familiar. eles o direito de, em caso de discordancia, recorrer & autoridade judicidria competente para a solugio da divergéncia.” ? Vide redacao do artigo 1.630 do Cédigo Civil: “Art. 1.60. Os filhos esto sujeitos ao poder familiar, enquanto menore: 8 Vide redacio do dispositivo constitucional: “Art. 229. Os pais tém o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tém o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, caréncia ou enfermidade.” 9 “Art, 1.631. Durante o casamento e a unido estvel, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, 0 outro o exerceré com exclusividade.” "© “Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situacao conjugal, o pleno exereicio do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I- ditigir-Ihes a criagao e a educagao; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-Ihes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-Ihes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V -conceder-lhes ou negar-Ihes consentimento para mudarem sua residéncia permanente para outro Municipio; VI - nomear-Ihes tutor por testamento ou documento auténtico, se o outro dos pais, nao Ihe sobreviver, ou 0 sobrevivo nao puder exercer 0 poder familiar; VII - representa-los judicial e 256 | A Luta pela ProtecAo Integral: edi¢io comemorativa dos 30 anos do ECA Ocorre que o descumprimento dos deveres regulamentados pela Constituicao, pelo Cédigo Civil e pelo ECA", pode acarretar em situacdes que comprometem o desenvolvimento e 0 bem-estar dos filhos que esto sob a égide do poder familiar, podendo afetar sua integridade fisica e psiquica e ocasionar ofensas as garantias estabelecidas. Diante dessas situagdes, & incoerente que seja permitida a continuidade do exercicio do poder familiar por parte de seus detentores, tendo em vista a afronta aos prineipios da prioridade absoluta e do superior interesse da crianca e do adolescente. Ha, portanto, a necessidade da destituigo do poder familiar, para que a familia extens ssuma essa responsabilidade ou que haja a colocacdo em familia substituta. De acordo com as determinagées do artigo 1.638 ** do Cédigo Civil, o cometimento de faltas graves pelos detentores do poder familiar ocasiona a perda desse poder, dando ensejo ao ingresso da Ac&o de Destituigdo do Poder Familiar por parte do Ministério Puiblico ou demais interessados, sejam genitores ou membros da familia extensa.’8 A destituigdo do poder familiar corresponde a uma resposta diante de uma infringéncia do dever de cuidado, sendo considerada uma sangio por meio de sentenca judi ial, ocorrendo de modo imperativo, devido a exigéncia de protegio de criangas e adolescentes. Tem a finalidade de assegurar a protec&o dos direitos garantidos, pois criancas e adolescentes so sujeitos de direitos. A simples suspensio do poder familiar ou sua destitui¢ao pode acarretar na necessidade do acolhimento de criangas e adolescentes que vieram a perder ou a ter enfraquecidas as relagdes com suas familias. Tal acolhimento se trata de medida (0, prevista no artigo 100, inciso VII, do ECA, devendo que deve extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, ¢ assisti-los, apés essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes 0 consentimento; VIII - reclamé-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediéneia, respeito e os servigos proprios de sua idade e condi 4 Vide redagao do artigo 22 do ECA: “Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educacio dos filhos menores, cabendo-Ihes ainda, no interesse destes, a obrigagio de cumprir e fazer cumprit as determinagies judiciais.” "= “Art, 1.638. Perderd por ato judicial o poder familiar o pai ou amie que: I -castigar imoderadamente ofilho: IL deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrérios & moral e aos bons costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adogao. (Inclufdo pela Lei n° 13.509, de 2017)" 48 Vide redagao do artigo 155 do ECA: “Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensio do pétie pederpoder familiar terd inicio por provocacdo do Ministério Pablico ou de quem tenha legitimo interesse.” Carla Marques Diégenes; Vyctoria Carolinne Barros Rodrigues | 257 ser aplicada de forma breve e excepcional, jamais importando em privagio de liberdade. (SILVA, 2014) A sua finalidade, em diltima andlise, é colocar a crianga ou a salvo da violago dos seus direitos fundamentais. No decorrer dos séculos XIX e XX, as criangas eram encaminhadas a instituigdes, sob o estigma de érfais ou abandonadas, ¢ passavam boa parte de suas infancias nesses locais, nfo usufruindo de contato com o mundo externo. Até o final da década de 1980, esses locais eram denominados internatos de menores ou orfanatos e funcionavam como asilos, embora parte das criangas ali deixadas ainda possuissem familias, gerando em territério. brasileiro uma verdadeira cultura da titucionalizagio. (RIZZINI; RIZZINI, 2004) Muito embora a aprovagao do Estatuto da Crianga e do Adolescente tenha impossibilitado a ocorréncia de orfanatos nos moldes estabelecidos anteriormente, ainda possivel observar resisténcia na mudanga de certos comportamentos, tais como a permanéncia por tempo indeterminado de criangas e adolescentes dentro de unidades de acolhimento, havendo mudaneas significativas na estrutura desses locais e do contato dos infantes com o ambiente externo.*4 Acolhimentos, casas-lares, casas de passagem, programa de familia acolhedora, programa de apadrinhamento, dentre outros, sio consideradas formas de garantir a integridade fisica e emocional de criangas e adolescentes vitimas de violagdes de direitos durante determinado periodo de sua vida. acolhimento institucional, assim, funciona como medida de protecdo com 0 intuito de zelar pelo desenvolvimento de criangas e adolescentes quando perpetrados casos grave de violéncia, abandono, negligéncia, de forma que devam ser mantidos m ser reestabelecidas as condigées favor longe do convivio familiar até que po de convivéncia e de bem-estar para eriangas e adolescentes. Nesse processo, buscam-se esgotar todas as possibilidades de manutengao do vinculo com a familia biolégica e realizar a busca pela familia extensiva. Essas tentativas, contudo, nao se podem estender por tempo indeterminado, devendo ser 1M Nesse sentido, vale observar essa reflexio de Diniz, Camurga e Melo Neto (2018, p. 359): “O ideério menorista, apesar de ultrapassado em termos simbélicos, esté de tal forma entranhado em nossa historia que, em que pese os quase 30 anos de vigéncia da atual Constituiglo, parece permanecer frustrada a intengdo de se introduzir no pais, o conceito de infancia da Convencao de 1989, baseada nos principios da Protecio Integral, do Sujeito de Direitos e da Condigao Peculiar de Desenvolvimento.” 258 | A Luta pela Protecio Integral: ediciio comemorativa dos 30 anos do ECA respeitado o tempo de permanéncia da crianga dentro da unidade de acolhimento's, bem como o tempo para a realizago da destituicao do poder familiar Esgotando-se, sem sucesso, todas as tentativas descritas acima, sendo destituidos ambos os genitores do poder familiar, pode ser determinada a colocacéio em familia substituta, por meio da adogao e inserigao da crianga ou do adolescente no Sistema Nacional da Adogao (SNA). Aadogio compreende a atribuiggo ao adotado da condicao de filho, tendo este os mesmos direitos e deveres dos filhos naturais"”, sendo recebido no seio familiar independentemente da relacdo sanguinea existente. ‘Apes relagao de ascendéncia ¢ descendéncia”®, esta jé pode ser observada sob a dtica de uma r de a conceituagio de parentesco ainda ser tida por muitos como uma relacdo vinculatéria existente nao s6 entre as pessoas que descendem uma das outras, advindas de um mesmo tronco familiar, mas também nas relagdes existentes entre pai institucional e filho socioafetivo, adotante e adotado, cdnjuge e companheiro. (DINIZ, 2016) Embora 0 instituto da adogio tenha sido aprimorado ao longo do tempo, 0 tempo de espera no SNA nao diminui conforme o esperado. A Constituigdo e o ECA romperam com a ideia anteriormente trazida pelo Cédigo de Menores no que diz respeito A situagio irregular, colocando em perspectiva a relevancia da protecio integral de criangas e adolescentes, nao devendo ser permitida a sua permanéncia em abrigos por tempo indeterminado, tendo em vista que deve ser assegurado o direito & vida, A educagio, profissionalizagdo, a satide, bem como a necessidade de convivéncia familiar. 15 Vide redagdo do artigo 19 do ECA: “Art. 19. £ direito da crianga e do adolescente ser criado e edueado no seio de sa familia e, excepcionalmente, em familia substituta, assegurada a convivéncia familiar e comunitéria, em ambiente que garanta seu desenvolvimento ‘integral. [..] § 12Toda crianga ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terd sua situagio reavaliada, no méximo, a cada 3 (trés) meses, devendo a autoridade judiciéria competente, com base emrelat6rio elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegracao familiar ou pela colocagao em familia substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.” W Vide redacao do artigo 163 do ECA: “Art. 163. O prazo maximo para conclusio do procedimento seré de 120 (cento e vinte) dias, e cabera ao juiz, no caso de notéria inviabilidade de manutencao do poder familiar, dirigir esforcos para preparar a crianga ou 0 adolescente com vistas & colocagao em familia substituta.” W Vide redacdo do artigo 41 do ECA: “Art. 41. A adocdo atribui a condigio de filo ao adotado, com os ‘mesmos direitos e deveres, inclusive sucessdrios, desligando-o de qualquer vinculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.” "8 Vide redacdo do artigo 1.591 do Cédigo Civil: “Art. 1.591. Séo parentes em linha reta as pessoas que esto umas para com as outras na relacio de ascendentes e descendentes.” Carla Marques Diégenes; Vyctoria Caroline Barros Rodrigues | 259 O quese percebe na pratica, contudo, é que a demora no proceso de destituigio do poder familiar implica em diversas consequéncias tanto para o desenvolvimento de criangas e adolescentes, como para o andamento da fila de adogiio no Sistema Nacional de Adogio. 4 Ajanela adotiva na realidade do Estado do Ceara: observagao necessaria para a efetivacio do direito 4 convivéncia familiar de criangas acolhidas se uma anilise da realidade do estado do Na presente segio deste artigo, fe Cearé com base em informagées coletadas, no més de setembro de 2020, junto ao Projeto Promotores Académicos'9 bem como nos dados do SNA. O nimero de criangas e adolescentes acolhidos no Estado do Cearé é inferior ao niimero de pretendentes habilitados no sistema, existindo um total de 853 criangas e adolescentes submetidos ao processo de acolhimento durante o ano de 2020 e uma lista de 914 pretendentes habilitados A adogdo. Diante desse cendrio, questiona-se: por que ainda existe fila para adogdo? Uma das possive respostas est4 na disponibilidade dessas criangas e desses adolescentes para a adogiio, tendo em vista que a maior parte deles ainda nao passou pelo processo de destituigao do poder familiar. Apenas uma entre cada dez criangas e adolescentes acolhidos no Estado do Ceara esté disponivel para a adocao. Essa situacdo contraria a recorrente ideia de que a permanéncia por tempo indeterminado na fila de adogio se da em decorréncia do perfil estabelecido pelos pretendentes. No Estado do Ceard, apenas 102 (12%) das criangas e dos adolescentes acolhidos encontram disponfveis para ado jo, enquanto os 751 (88%) restant indispontveis, aguardando a tomada de providéncias por parte do Judiciério, como a resolugio de seus processos de destituigao em meio, muitas vezes, A busca pela manutengao de vinculos com a familia biolégica. Além da disponibilidade, os dados mostram que as cidades de Fortaleza (260), Eusébio (47), Aquiraz (34), Caucaia (34), Maracanati (32), Sobral (25), Itapipoca (20), Juazeiro (20), So Gongalo do Amarante (17) e Ipueiras (16) se apresentam como as 10 cidades do Estado do Cearé com o maior indice de criangas acolhidas, estando 's Para maiores informagdes, consultar provimento n° 036/2017 do Ministério Pablico do Ceara. MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO CEARA, 2017) 260 | A Luta pela Protecao Integral: edicdo comemorativa dos 30 anos do ECA Fortaleza em situagao preocupante em decorréncia do alto nimero de procedimentos nao resolvidos totalizando 80%. Os dados apresentados no SNA mostram que 260 criangas esto acolhidas na cidade de Fortaleza, estando sob a responsabilidade do juizo local, no entanto, apenas 108 criangas esto dentro do que se chama janela adotiva, ou seja, possuem grande oportunidade de serem imediatamente adotadas, tendo em vista que estdo dentro da faixa etria de 0 a7 anos. A janela adotiva compreende 0 intervalo de idade em que ocorre a maior probabilidade de vinculag&o entre criangas e pretendentes, ou seja, a existéncia de dentro deste muitos interessados em serem pais e um nimero reduzido de criang: e er neck perfil. Assim, ponder: agilidade na resolugdo dos processos para que as adogies ocorram antes da ultrapassagem para 8 anos de idade, tendo em vista 0 desenvolvimento biolégico, psicolégico e social de criangas e adolescentes, dentro das unidades de acolhimento. Dos 260 processos existentes no municipio de Fortaleza, apenas 52 esto resolvidos de fato, e apenas 2 destes resolvidos sao de criangas que se inserem na janela adotiva. Surge, assim, a preocupagiio acerca do tempo de acolhimento de: s criangas que possuem chances maiores de adotabilidade, tendo em vista que 7 eriangas ja se encontram no limite etério estabelecido pela Janela Adotiva, estando proximas de completar 8 anos de idade, enquanto 12 criangas esto dentro da faixa etéria de 6 anos de idade. Importa ressaltar que bebés compdem o maior nimero absoluto da janela adotiva, sendo vinculados de forma mais répida, tendo em vista inclusive o auxilio do os des Programa Anjos da Adogio®, acelerando os proces criang Embora, no més de maio de 2020, tenha-se registrado alto indice no ntimero de adogées, observa-se que esse indice decorreu da retomada de processos que haviam sido paralisados pelo recesso natalino, estendendo-se a paralizagio até depois do carnaval e prorrogada pela chegada da pandemia causada pela COVID-19. Apenas com udiénci: aimplementagio da virtuais a partir do final de abril, o ntimero de adogée: restou elevado, o sionando um total de 23 adogées durante o més. Diante disso, observa-se que a crescente, durante o més de maio no niimero de adogées decorre do 2 Trata-se de programa desenvolvido desde 2016 pela 2* Promotoria de Infancia e Juventude do Municipio de Fortaleza. Tem o objetivo de fornecer uma alternativa legal As mulheres que nao desejam prosseguir com a maternidade. (ANJOS, 2018) Carla Marques Diégenes; Vyctoria Caroline Barros Rodrigues | 261 aumento da resolugao de processos de destituicao familiar, entretanto, o niimero de adogies realizadas nos meses posteriores volta a cair em decorréncia de uma queda no niimero de procedimentos de destitui¢ao do poder familiar realizados. Por meio dos dados coletados, observa-se que, em decorréncia da tomada de ages vagarosas por parte do Judicidrio, a maioria das criangas acaba por superar as idades nas quais encontrariam familias com facilidade, muitas vezes superando também o prazo de permanéncia dentro do acolhimento. Constata-se 0 descumprimento dos prazos processuais de destituigao do poder familiar estipulados pela legislacéio#, 0 que causa a permanéncia das criangas por tempo indeterminado, Jevando a dificuldade no seu desligamento do sistema. Nao merece des responsabilizaciio exclusiva de casais habilitados no SNA pelo insucess em vista que eles também sao considerados uma das faces vulneraveis do plano adotivo. Em estudos realizados pelo Projeto Promotores Académicos, indica-se que 0 insucesso adotivo decorre de falhas na condug&o do procedimento de vinculagdo afetiva, como a falta de sensibilidade e do melhor acompanhamento das equipes técnicas responsdveis pelo processo vinculatério. Nao cabe a responsabilizagao dos pretendentes, tendo em vista que o Sistema de Justiga e Protegao detém, ou deveria deter o dominio de fato de todas as etapas do proceso. No Estado do Cear4, cerea de 40,4% dos pretendes nio apresentam preferéncia em relagdo a etnia das criangas a serem adotadas, estando 28,4% dispostos a adotar criangas pardas. Pode-se observar que a preferéncia da maior parte dos pretendentes esté dentro da faixa etdria compreendida o a 6 anos, logo, reforga-se a necessidade do respeito ao para que eriangas no permanecam dentro do acolhimento até que completem a maioridade. Vale ponderar que se est tratando aqui de um aspecto espectfico, concernente a.um dos problemas identificados que aponta uma das possfveis solugdes no contexto da intersegio entre destituigiio do poder familiar, acolhimento institucional e janela abe adotiva no Ceara, que di o enfrentados, de modo que, 2"Tendo em vista ser situacdo extrema, gravosa e definitiva, a perda do poder familiar deve ocorrer por meio de decisio judicial precedida ‘de cuidadosa andlise de todas as questdes imbricadas na complexidade cada caso. No entanto, esse cuidado nao pode culminar em lentidao excessiva e em descumprimento dos prazos legais, posto que o filho se encontra, muitas veres, institucionalizado, e, consequentemente, privado do direito & convivéncia familiar. (DIOGENES, 2018) 262 | A Luta pela Protecdo Integral: edicdio comemorativa dos 30 anos do ECA em outro estudo de uma das pesquisadoras, propés-se sugestdes como a instalagao de varas especializadas em todas as comarcas do Pafs, o aparelhamento dessas varas com quantidade suficiente de profissionais para atender 4 demanda, o estabelecimento de um sistema eletrénico de comunicagao entre as varas da infancia e da juventude para compartilhamento de experiéncias, a capacitagao dos profissionais que lidam com o direito infantojuvenil e a efetivacao do acolhimento familiar. (DIOGENES, 2018) Consideragées finais Com base no objetivo proposto, no recorte elegido e no percurso metodolégico seguido para a realizagio da pesquisa, conclui-se a urgente necessidade de que os dados acerca da janela adotiva sejam observados, nao no sentido de impedir uma andlise cuidadosa no que tange A destituicao do poder familiar, mas apenas no sentido de evitar demoras excessivas, corroborando, assim, para um maior sucesso adotivo e, em tltima andlise, para a efetivagio do direito & convivéncia familiar das criancas e dos adolescentes. Referéncias AMIN, Andréa Rodrigues. Doutrina da Protecio Integral. In: MACIEL, Katia Regina Ferreira Lobo Andrade (coord.). Curso de Direito da Crianga e do Adolescente: Aspectos tedricos e praticos. 12. ed. Sao Paulo: Saraiva, 2019. ANJOS da Adogao garantem a entrega legal de criangas ao processo. Diario do Nordeste, Forlaleza, 24 nov. 018. 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