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ILÊ AXÉ INGINOQUÊ OMOROSSÍ

CANDOMBLÉ - QUEM EU SOU

III
Babalorixá Edvaldo / Ekedi Orisun
Abril - 2009
“Todo mortal que
caminhar sozinho
e sem susto por este
tenebroso recinto
voltará a ver a luz;
será purificado pelo
‘Ar’, pela ‘Água’, pela
‘Terra’, pelo ‘Fogo’ e
iniciado nos
Mistérios da Deusa
Ísis...”
(Glorioso Akhenaton, o Faraó do Sol).

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ILÊ AXÉ INGINOQUÊ OMOROSSÍ

CANDOMBLÉ - QUEM EU SOU

QUARTA PARTE

Dando continuidade ao nosso trabalho, que é de minimizar a desinformação


sobre a Religião Candomblecista, abordaremos agora alguns Temas solicitados
por nossos Adeptos e freqüentadores.

 ORAÇÃO (Toque, Canto e dança)

Na Religião Candomblecista a Oração é um Ato Litúrgico de fé, igualmente


como acontece em outras Tradições Religiosas.

Ora-se sempre com os objetivos de:


 Louvar aos Orixás;
 Pedir algo aos Orixás;
 Agradecer aos Orixás.

No momento da Oração usa-se meia luz para se obter uma maior e melhor
concentração mental. A pouca luminosidade recolhe o Espírito, desenvolvendo e
exaltando o sentimento de religiosidade. Já a luz excessiva dispersas as idéias,
diminuindo a concentração no Ato Litúrgico.

A comunhão e saudação em cada Oração (Canto)

Como já foi dito anteriormente, tudo no Candomblé acontece por meio do


toque, do canto e da dança. Logicamente, a Oração também obedece este
Preceito Simbólico Ritualístico:
 Saúda todos os Orixás, com o toque, o canto e a dança próprios de cada
um, trazendo para todos os Adeptos do Ilê, estejam ou não
presentes, a comunhão do Ato Litúrgico com todo o Axé dos Orixás que
foram ‘invocados’.

 SIMBOLOGIA

1. A simbologia dos vestuários.

Como nos referimos anteriormente¹, O Sentido Simbólico do vestuário no


Candomblé é usado nas roupas e paramentos votivos, na época de festas, seja
de Iniciação, Renovação de Votos ou de Homenagens.

__________
¹ - veja nossa Cartilha - I, página -15.

Falar sobre a roupa do Orixá

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 O Pano da Costa

O pano da Costa é, portanto, uma peça de vestimenta tecida de


algodão, lã, seda ou ráfia — às vezes em dupla associação desses
elementos — que a crioula baiana deita sobre pontos diversos das
suas vestes, às vezes, ajustando-o ao corpo em formas convencionais
e relativas às diferentes funções que se apresta a desempenhar
momentaneamente. É, em suma, um xale retangular, cuja disposição informa
ao que vai a sua portadora.

Esse pano é composto de tiras de tecido geralmente estreitas "apregadas"


umas às outras pelas ourelas, em sentido longitudinal; as duas extremidades
das tiras cortadas se arrematam por uma simples bainha que pode variar de
meio a dois centímetros. Os vários comprimentos oscilam entre 1,70m e 2,00m;
a largura entre 0,95m e 1,20m. Informamos, porém que essas normas e
medidas não são obedecidas como regras gerais.

2. A simbologia do fio de Conta.

O fio de contas marca um compromisso cultural e ético entre o ser humano e o


divino. É canal de comunicação entre o homem e seu Deus Protetor. Também
chamados de “colares litúrgicos”, são confeccionados com miçanga. Podem ser
encontrados também em diversos materiais, mais e menos nobres, de acordo
com a situação financeira de quem o usa. Seu sentido é fundamentalmente
religioso. São contas enfiadas, originalmente, em palha - da - costa. Atualmente
são usados os fios de náilon, cordão ou outros.

Seu colorido fascinante pode representar:


 Uma ‘Nação’;
 Uma hierarquia;
 Um rito de passagem;
 A Identidade dos Orixás;
 Uma atividade desenvolvida;

O relacionamento estabelecido com o mundo “mágico” só é possível enquanto o


indivíduo integra uma nação, uma tribo. Os fios de conta também se prestam a
essa finalidade na medida em que associam esse indivíduo a um grupo, a um
Orixá.

Após o ato da montagem dos fios eles passam por rituais próprios para que
sejam ‘sacralizados’. As contas devem ser imersas numa bacia nova com água.
Folhas consagradas ao Orixá específico são trituradas com as mãos. Em seguida
as contas são lavadas com sabão da costa. As contas estão purificadas. Cabe
ao dono (a) conservá-las em uma vasilha de barro quando não estiverem no
corpo. De tempos em tempos é necessário purificar novamente as contas.

Cor:
A simbologia das cores está ligada à história e mitos dos Orixás assim como aos
seus domínios.

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 INICIAÇÃO / FILHO (a) DE SANTO / FEITURA

A ‘Iniciação Ritualística’ na Religião Candomblecista é um processo de


estruturação de uma ‘Identidade Psicológica Permanente’ entre o
Iniciando e o Orixá.

O que é a Iniciação

O ato de Iniciação, também conhecido como “Fazer o Santo”, é tornar


possível por meio de Rituais Próprios, que o Eu Divino da pessoa revele-se. É
permitir que a Força Divina Interna que habita em cada ser humano venha à
tona, encorajando nesse Ser Interno o impulso capaz de conduzir a
Individualidade e à realização pessoal, estabelecendo dessa maneira a
comunhão possível:
 Com o Universo,
 Com a Natureza,
 Com o Criador,
 Com a própria Vida, no seu pulsar infinito.

“Fazer o Santo” ou ‘Iniciação’ é nascer de novo; é renascer como


indivíduo mais forte, completo, potencialmente seguro, com melhores
condições para abandonar medos, traumas ou bloqueios, e devotar-se
por inteiro à busca da realização pessoal. É conhecer-se a si mesmo
em todos os níveis.

Fazer Iniciação - Tornar-se Filho (a) de Santo

Para Tornar-se Filho (a) de Santo o Ser Humano deve receber o “Chamado”.
Esse “Chamado” consiste na forma como a pessoa começou a conhecer a
Religião. A partir daí, um Babalorixá ou uma Yialorixá deve determinar por meio
do Jogo de Búzios, qual é o Orixá ‘dono da cabeça’ daquela pessoa.

O momento do “Chamado” é diferente para cada pessoa. Vejamos exemplos


de alguns desses “Chamados”:

 Existem aqueles que simplesmente são tocados pelo Orixá lá no fundo


da sua alma;
 Existem aqueles que vêm por serem portadores de doença difícil de ser
curada (doença física ou emocional);
 Existem aqueles que vêm pelas dificuldades materiais vivenciadas no
próprio caminho;
 Existem aqueles que vêm de outras Tradições Religiosas ou filosofias
espiritualistas em busca de complemento informativo holístico e
espiritual;
 Existem aqueles que buscam fugir das outras Tradições Religiosas por
concluírem que muitas delas estão tão voltadas para o dia a dia material
dos homens e para os seus interesses imediatos que acabam por fugir à

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sua real finalidade que deveria ser a de promover o encontro
do Adepto com a sua Divindade amparando-o em suas
dificuldades espirituais;
 Existem aqueles que nascem de pais Adeptos da Religião, e,
nesse caso, o “Chamado” vem da própria genética; está no
sangue ancestral.

Existem outras formas de receber o “Chamado”, que deve ser único e


especial para cada um.

O primeiro Ato Religioso pelo qual o futuro Iniciado passa é o Borí, que
significa fortalecer a própria Cabeça e prepará-la para que um dia ela possa
‘incorporar’ o seu Orixá. (Desse Ato Religioso falaremos mais adiante).

A iniciação (feitura) acontece num período de reclusão que varia entre sete e
vinte e um dias¹. Esse recolhimento (reclusão) ocorre nos aposentos próprios
existentes para tal finalidade, no Templo Religioso.

É um período comparável à gestação na barriga da Mãe; nesse aspecto, o


Aposento Sagrado representa o Ventre da própria Mãe Natureza.

Nesse período o neófito aprende sobre:

 Os mistérios básicos das Divindades e da Criação;

 Os costumes da Comunidade e os princípios que regulam as relações da


família religiosa, a sua nova família, mais conhecida como Família de
Santo (Hierarquia);

 As formas adequadas de comportamento nas cerimônias públicas e


internas (Hierarquia);

 Os Conhecimentos básicos referentes ao seu próprio Orixá tais como: a


maneira adequada de cultuá-lo, as suas proibições (ewò), as virtudes
que deverão ser cultivadas e os vícios que deverão ser evitados para
atrair influências benéficas e uma relação harmoniosa com a divindade
pessoal.

Denominação dos nomes que são dados aos Iniciandos e Iniciados

Na Religião Candomblecista existe um procedimento hierárquico bem


definido. Em cada fase da Iniciação o Adepto recebe uma denominação, de
acordo com o processo iniciático pelo qual já tenha passado. Essa denominação
representa os graus alcançados na Escalada Evolutiva Espiritual do Adepto,
visto que, cada fase da Iniciação significa mais um ‘Patamar Alcançado’.

__________
¹ - Algumas Casas de Axé adotam o período de dezessete dias.

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Essa denominação possui variação de uma nação para outra, porém,
o sentido atribuído ao nome é quase sempre o mesmo.

Descreveremos aqui algumas denominações da Nação Nagô - Ioruba


e do ‘Jeje’, obedecendo a uma Ordem Iniciática:

Abiã (Abíyán) - Novato / Noviço - Novata / Noviça. Sua


tradução significa aquele que vai nascer. Este é o primeiro
patamar a que o aspirante a Adepto (Filho de Santo) do
Candomblé deve passar.

É considerada Abiã toda pessoa que entra para a Religião após ter passado
pelo ritual do Bori e da lavagem da 1ª Conta, sempre de Oxalá. O abiã
ainda não é Iniciado. Poderá ser Iniciado ou não, vai depender do Orixá pedir a
Iniciação. É um candidato à Iniciação que já pode participar do cotidiano da
comunidade, contribuindo, quase sempre, com serviços domésticos, funções
que lhe permitem tecer as primeiras observações, que poderão se tornar
conhecimentos, conforme sua capacidade de interpretação, inteligência e
interesse. Esses são chamados Iniciandos.

Iaô (Ìyàwó) - Sua tradução significa “a (o) esposa (o


esposo) mais jovem”. Este aqui já passou por um processo
de Iniciação. Entra em Transe (incorpora Orixás). O/A Iaô leva
sete anos nessa condição. Depois da Renovação de Votos
(Obrigação) de sete anos, passa a Egbomi. Sem a Renovação
de sete anos o/a Iaô continua sendo Iaô, mesmo que tenha
mais de sete anos de Iniciação. (é igual a outras Tradições
Religiosas).

Egbomi (Ègbónmi) - Sua tradução significa “irmão / irmã


mais velho (a)”. São pessoas que já completaram o período
de sete anos desde a Iniciação, cumpriram todas as
Renovações dos Votos (Obrigações de 1, 3, 5 e 7 anos)
deixando portanto de ser Ìyàwó. Equivale a um Vodunci.

 RITUAL

Por que cobrir a cabeça.

 SÍMBOLO. AMULETO. ESTÁTUA

Assentamento. Quartinha.

Contas. Guias. Umbigueira. Contra-egun.

Vestuário. A simbologia dos vestuários.

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Ebó. Borí. Osé. Urupim.

BORI (Ori) - Termo que designa a cabeça na vida litúrgica dos


candomblés. É, além disso, uma divindade doméstica yorubá guardiã
do destino e cultuada por adeptos de ambos os sexos. Também se
diz que é a alma orgânica, perecível, cuja sede é a cabeça – inteligência,
sensibilidade, etc.

"Para os iorubás a cabeça é a parte mais vital do corpo humano:


contém o cérebro, a morada da sabedoria e da razão; os olhos, a luz
que ilumina os passos do homem pelos labirintos da vida, o nariz que
serve como uma espécie de ventilação da alma; os ouvidos com os
quais o homem escuta e reage aos sons, e a boca com a qual ele come
e mantém o corpo e a alma juntos.” (Babatunde Lawal, 1983: 46).
De fato existe um dito iorubá que diz: "Ori buruku, kossi Orixá", ou
seja, "cabeça não equilibrada não dá Orixá".

Senhora da cabeça, é Iemanjá que harmoniza as energias positivas e


negativas da cabeça. É por isso que em um dos seus bailados, dança
levando alternativamente as mãos à frente e atrás da cabeça,
simbolizando a função que Iemanjá tem de orientar e de equilibrar
seus filhos. Ela protege também os seios, por ser a Mãe por excelência
e por isso ocupa-se da nutrição dos seres humanos. Uma lenda conta
da exuberância do seu corpo e dos seus seios, dos quais um é maior
que o outro.

DAR CONTINUAÇÃO...
O Transe
O transe de incorporação no Candomblé tem por objetivo principal o auto-
reconhecimento recíproco entre o ‘santo’ e seu ‘filho’, o reatamento simbólico
do mundo dos homens (Aiyê) com o mundo dos deuses (Orun).

SSA, 28.11.2006
Ekedi Orísun.

Obras Consultadas:

Bíblia Sagrada - Paumape Editora - Edição - 1979


Igbadu - A cabaça da Existência - Adilson de Oxalá - Pallas Editora - 2ª Edição -
2005.
Orun Aiyê - O Encontro de Dois Mundos - José Beniste - Editora Bertrand
Brasil - 4ª Edição - 2004.
As Águas de Oxalá - José Beniste - Editora Bertrand Brasil - 2ª Edição - 2004.

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