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Introdução

Notadamente, tem-se ao longo da história diversas maneiras para a solução


das lides que permeiam a sociedade. Tais soluções se deram nos mais diversos
aspectos até a criação do Estado e, ulteriormente, do poder jurisdicional. Destarte, a
pedra de toque para tal entendimento foi a criação de um processo, ou seja, um
meio no qual se aplica a jurisdição em uma série de atos que alcancem a solução da
lide material.
Em que pese essa criação, entende-se que o processo contém riscos inertes
a uma criação social, os quais se expressam nos mais diversos aspectos. No
entanto, há a necessidade de cercear tais riscos em um processo cuja solução
material é a proteção de um bem jurídico fundamental.
Assim, nasce nessa garantia o objeto estudado em tal excerto, o qual seja: a
estruturação do processo penal, seus riscos e a provável necessidade de um juiz
das garantias. Nesse prisma metodológico, há de se destacar o caráter doutrinário
na busca por resguardar os direitos e garantias fundamentais no processo penal
moderno.

Juiz de Garantias Hodiernamente


Faz-se imperioso destacar que instituto jurídico do juiz das garantias é uma
figura que tem ganhado relevância e despertado debates nos sistemas judiciais
contemporâneos. Em linhas gerais, o juiz das garantias é responsável por conduzir a
fase de investigação criminal, garantindo a imparcialidade e separação de poderes
no processo penal. Sua função é atuar exclusivamente na fase de instrução,
assegurando a imparcialidade e equilíbrio entre as partes, enquanto o julgamento
fica a cargo de outro magistrado. Esse instituto busca promover uma maior proteção
dos direitos fundamentais dos acusados, garantindo um olhar imparcial e
independente na etapa investigativa, evitando a influência do juiz que posteriormente
julgará o caso.
Contudo, a implementação do juiz das garantias ainda é objeto de discussões
e controvérsias em muitos países. Alguns argumentam que esse instituto traz uma
maior segurança jurídica, evitando possíveis abusos e garantindo uma atuação mais
imparcial do Poder Judiciário. Por outro lado, críticos apontam desafios práticos,
como a necessidade de mais recursos e magistrados para desempenhar a função
do juiz das garantias, além de possíveis entraves burocráticos e dificuldades de
coordenação entre os juízes. Apesar das divergências, o juiz das garantias é um
elemento que vem ganhando espaço no contexto jurídico contemporâneo, sendo
uma proposta para fortalecer o princípio do devido processo legal e a proteção dos
direitos individuais no âmbito penal.
A estruturação do processo penal moderno
Os primeiros relatos de uma estruturação de um processo penal no mundo,
surgiram com o processo acusatório, utilizado na Roma antiga, onde o juiz concedia
a vítima e ao réu o poder de produzir provas, devendo o acusador produzir provas
contra o réu, e o réu provar sua inocência. Já a partir do século XVI, o sistema
inquisitório foi bem recebido por toda Europa e principalmente pela Igreja Católica,
neste o juiz era sobrecarregado de funções, devendo investigar, acusar e julgar,
trazendo assim riscos a imparcialidade do julgamento e a paridade de armas. A
observância aos direitos humanos fez surgir o processo misto, neste, as falhas
existentes nos outros sistemas eram solucionadas e as vantagens destes se uniam.
Em uma primeira fase era utilizado o sistema inquisitorial, onde a polícia judiciária
investigava, instruía e dava início ao julgamento; já na segunda fase utilizava-se o
sistema acusatório, onde o réu é sujeito de direitos, possuindo direito a contraditório
e presunção de inocência.
Atualmente o sistema acusatório vigente no Brasil, possui traços históricos
que de acordo com doutrinadores trazem certa impureza para o mesmo. No Brasil
utiliza--se a polícia judiciária, esta é responsável pela introdução de inquéritos,
investigações e cumprimento de ordens e mandados emitidos pelos juízes. Este
inquérito, contêm provas e os fatos que serão utilizados dentro do processo de
conhecimento, influenciando desta forma o juiz a questionar o acusado acerca da
veracidade dos fatos explícitos (sistema inquisitório), frente ao tribunal. Esta atitude,
para alguns doutrinadores, influencia o julgamento do réu frente aos jurados,
inclusive em casos de grande repercussão midiática. Visto os fatos expostos, grande
parte dos doutrinadores, afirmam que é clara a observância de um sistema misto
com predominância do acusatório, onde o acusado em um primeiro momento é
considerado um objeto de investigação (sem direitos) e em um segundo momento é
considerado sujeito de direitos, com contraditório e presunção de inocência.

O sistema de execução penal brasileiro e o juiz de garantias


Em primeiro lugar, insta observar que o Juiz de garantias seria figura
CAUTELAR no processo penal, sendo então aplicado num momento diverso ao da
execução, esta que por força legal também é exercida por intermédio de outro Juiz,
cerceando o processo penal então a três juízes (o de garantias, o de conhecimento
e o de execução). No entanto, cabe ressaltar que, na omissão da lei 13.964/19 em
prever a competência de tal juízo, haveria uma “nova competência funcional” logo,
não se poderia afirmar a “perpetuação da competência”, tal princípio pode, para
Renato Brasileiro de Lima, ir de encontro com o princípio do Juiz natural, uma vez
que a norma em questão retroagiria sobre o aspecto temporal do crime. Há também
parte doutrinária que preceitua da ideia de que a referida lei deve produzir efeitos
apenas para os casos os quais entrarem em execução após a tão requisitada
vigência, prevalecer-se-ia então a regra tempus criminis regit iudicem (o tempo do
crime é determinado pelo juiz) em detrimento do cânone tempus regit actum (o
tempo do crime é determinado pelo momento do ato). Vão na mesma linha de
raciocínio juristas como Gustavo Henrique Badaró, Tourinho Filho e o próprio STF no
HC n.110.237 (2a turma, Rel. min. Celso de Mello DJe).

Enquanto a execução, dar-se-ia maior atenção à problemática em questão,


para que tal vigência não prejudique os princípios do juiz natural e da segurança
jurídica conferida pelo mesmo, cabendo o acertado apontamento do min. Dias
Toffoli, que deferiu a medida cautelar do julgamento da ADI n. 6.298 segundo o qual
não se acarretaria nenhum tipo de modificação do juízo competente aos processos
os quais já se transitavam e, no caso de investigações já em andamento, não seria
necessária a implementação de um novo juiz, evitar-se-ia assim a necessidade de
redistribuição de inúmeras investigações em curso no país.

Conclusão
A divergência doutrinária impera nesse cenário, visto que, ao mesmo tempo
que, a celeridade e a maior necessidade de garantias fundamentais às partes na
fase pré-processual, suplicam por auxílio, o cenário brasileiro e a própria
Constituição se mostram como antagonistas da aplicação do Juiz de Garantias. 
Por uma ótica, alguns autores defendem que todas as situações em que o juiz de
alguma forma se manifesta sobre o mérito, estas que se encontram ainda na fase
investigativa, estará comprometida a sua imparcialidade para julgamento e sendo
então necessário a instituição de um juiz diferente para a análise da denúncia,
podendo tal papel ser exercido pelo juiz de garantias, ou seja, o mero contato com a
produção de provas já seria suficiente para corromper a imparcialidade do
magistrado, de forma que a instituição do juiz de garantias como aquele que irá
atuar em um momento anterior ao da instrução probatória e que não correrá risco de
comprometer sua imparcialidade em vista de não ser ele quem irá proferir a
sentença condenatória ou absolutória. Atuaria, então, como um garantidor dos
direitos do acusado durante o processo penal, atuando mediante invocação,
permitindo que se estabeleça uma estrutura dialética, onde o MP e a polícia
investigam e produzem a materialidade, o réu projeta sua defesa e ele decidirá,
quando provocado, sobre medidas restritivas de direitos fundamentais, tal qual um
guardião da legalidade e dos direitos e garantias do réu.
Diante dessa ideia, Aury Lopes júnior vai defender sua implementação
afirmando que um juízo especializado na fase pré-processual, teria maior
capacidade de análise dos problemas e dificuldades desta fase processual, tendo
condições de, em coalisão com o Ministério Público, acompanhar de perto a atuação
da Polícia Judiciária, perscrutando o trabalho policial, e a defesa e o contraditório
permaneceriam em. ace da permanência da autoridade jurisdicional impediria que
ilegalidades ocorressem no Inquérito Policial. 
Pela outra face do cenário, deve-se relevar a decisão do Supremo, onde este
vai versar afirmando que além de rigor metodológico a análise de viabilidade e
implementação dever ser feita com uma perspectiva sistêmica, levando em
consideração diversos aspectos do país em questão, estes que são divididos em 3
principais, sendo eles: 1. A capacidade que o sistema judiciário brasileiro possui para
recepcionar e introduzir o Juiz de Garantias (contingente processual, recursos
humanos e financeiros); 2. A regulamentação das competências do novo cargo de
magistrado; 3. A vinculação institucional entre os órgãos de acusação e de
julgamento. A Corte Suprema vai interpretar que se resume na avaliação de
viabilidade de tal figura judicial apenas sob o aspecto teórico, visto que a capacidade
de eficiência e funcionamento deve ser levado em conta, diante de que nem sempre
se conseguira obter os resultados esperados nos países em que tal instituto fora
aplicado. 
A realidade do sistema penal brasileiro não é semelhante e nem próxima a de outros
países onde o juiz de garantias foi implementado, de forma que, em muitos
municípios brasileiros carecem de juízes suficientes para julgar as demandas
existentes, demonstrando, assim, que reservar um determinado número de juízes,
apenas para este papel seria algo incompatível com a realidade financeira e
viabilidade estrutural dos tribunais brasileiros. 

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