Você está na página 1de 31
iss 218104 Revista SINTESE Direiro Civit & Processuat Civ ‘Avo XXIM — a? 134 —Now-Dez 2021 ‘osmm Auronicana ve Jomsreuotncm ‘Superior Tribunal de Justiga — n® 45/2000 Tribunal Regional Federal da 1* Regio ~ n® 20/2001 Tiibunal Regional Federal de 2° Regio — n® 1999.02.01.057040-0 Tribunal Regional Federal da 3° Regio —n° 19/2010 Tribunal Regional Federal da 4° Ragiao ~ n° 07/0042596-9 Tribunal Regional Federal da §° Regido ~ n° 10/20 Diaeton oe Manner a0? Osvaldo Meneghel Gener Enron ve Cousuroan Milena Sanches Tayano dos Santas Eoona ‘Simone Costa Saleti Oliveira Cowsewwo Eoron Anténio Carlos Marcato, Araken de Assis, Auda Alvim fio SantareliZuiani, Humberto Theadoro Jr José Roberto Neves Amorim, José Rogério Cruze Tue Nehemias Domingos de Melo, Silvio de Salvo Venosa Cousosnsons oes Eoigha Arthur Bobsin de Moraes, Bruno Furtado Silveira, Daniel Ustérroz, Eat Soeiro Soares, Felipe Bzinoto Soares de Pédua, Felipe Cunha de Almeida, Leonardo Estovam de Assis Zanini, Vinicius Siva Lemos 1999 © SINTESE Una ubicacio de SINTESE, unaired proaosjuins blog mest de dont. vipa e autos aseunis de Drea Ll Process Taos 08 sets ado. roid a erodudopaci ou tt, em cansentimerto eres -Asopies emia nos anges assess de tal responsi de aus ators 0s aces sleconds pare esta Raita corespondar nantes, seis obs rs seceties dos esc ths tuna, Dstt em tao terion Teager:5 00texemplaes . iso e Diageo: Duis Poros Edtorerso n shechcam posthel paca poten sr eniaos pro ena casita etl ‘Dados terrains cde Ctlogogi ra Pubic (CP) 5 SaTESE OFT OVE PRODESSUAL VL Cam ge ESTATE OT CVC POCESSUAL CML eta Ne v2. 9 in 021 ss 21791801 au 2473905 0) [Bt poe Here Me Mac 8 10853 GINTESE 10 eats hie ais nese tng BO 2 notes om 50 ase ‘Sir Hee 8 20 ot (sk hs Ent sorsnetoastencan Normas Editoriais para Envio de Artigas .... AUDIENCIA PRetisinar Doureina 1. Audiéncia Preliminar Conciliatéria Como Exemplo de Nudge no Direito Processual Civil Bruno Furtado Silveira: Parte Geral Douranas 1. Usufruto Imobilidrio e Integralizagao do Capital Empresarial Felipe Bizinoto Soares de Padua Possibilidade de Interposicdo de Agravo de Instrumento em Face da Decisdo Que Nega Aplicagso do Anigo 356 do CPC/2015 [Arthur Bobsin de Moraes. . 3, As Redes Sociais ¢ os “Danos & Honra” Daniel Ustarroz. 4. Responsabilidade Civil: a Passagem da Reparagio de Danos a Luz das Diferencas entre a Antijuridicidade, a licitude ¢ 0 Injusto Felipe Cunha de Almeida. 5, Negécios Juridicos Processuais Atfpicos Eliel Soeiro Soares e Vinicius Silva Lemos. JurisrRuDencia AcOaDROS NA INTEGRA 1. Superior Tribunal de Justica 2. Superior Tribunal de Justica... 3. Superior Tribunal de Justica 4, Tribunal Regional Federal da 1? Regio. . Tribunal Regional Federal da 2? Regisio. 6. Tribunal Regional Federal da 3* Regiao. 7. Tribunal Regional Federal da 4° Regio. 8, Tribunal Regional Federal da 5° Regio. EventAnio 1. Ementario de Jurisprudéncia Civil, Processual Civil e Comercial 30 44 60 107 27 146 157 162 167 170 176 Parteberel=lnutrina ELIEL SOEIRO SOARES pecaista em Pocesso Civil pele FAP/UNINTER, Gradua Facultad Rendéna, Advogedo ViNicIUS SILVA LEMOS s-Doutrando om Proceso Chi pela UERJ, Dour em Processo Cail pola UNICAR Mista ‘am Soilogia eDret pela FE Espacialsta em Processo Cw pla FARO, Profesor de Fro c2sso Ci ns FARO e ra UNRON, Advogado, Presidente do stiuta de Oireto rocessua de Rondénia— DPR, Memo da Assocarao Norte Nardeste de Professors de Pocesso ~ ANNEP, Membro do Convo de Estudos Avangados en Frocesso ~ CEAPRO, Membxo da Deadema Biase de Dito Rocessal Ciel ~ ADPC, Mero da Asocigéo Beslia ‘do Bit Processual -ABDPRO, Mambo dosti Brasloo de Divito Processual BOR FESUMO: Este artigo fo elaborado com o fim de analsar os negScis jurdicos processuais intoduidas pela Le n? 13.105, de 2015 ~ que institu o Cécigo de Processo Civil (CPC) hilzador de um novo modelo processval,denominado como sendo mista ou cooperativo. No 0 desta pasquisa, estudaremos os requsitos basicos de exi ‘onvensGes processuai,j abordados pela dutrna ¢ demais entidades voltadas ao estudo do novo (hig de Pocesso, Nout ponto, buscar-se- esclarever 0 comanda normativa doar. 190 do CPC ‘uento 8 possiidade dea parte “convencionar sobre os seus 6nus, padres, faculdades e deveres [wocessuais, bem como esclaracer pontos importantes sobre a atuacto do ui (Estado-Juia) nas tanvengdes processuais, de modo a estabolocer qual o entendimento sobre as fung6es de controle (e valdade da convengdo processual PALAVRAS-CHAVE: Negécios; processuas;atpioos;requsitos béscos; espéces; processor mist, cooperative, ABSTRACT: Ths article was prepsred with the purpose of analyaing the procedural legal proces $0s introduced by Law 13.106 of 2015, which establishes the Code of Civil Procedure (CPC), as a means of enabling a new procedural model, known as being mixed or cooperative. In the course of tis research, we wil study the basic requirements forthe existence, validity and effectiveness of [Wocedural conventions already adéressed by doctrine god ather entities focused on the sputy ofthe new process code. At another point, it wl be sought to cary the normative command of art. 190 ithe CPC, ragarding the possibilty ofa party “to convine about their rights, powers, faculties and Hocedurl tes”, as wel as to cay the important points about a judge's action (State Judge| the inderstanding of the functions of contol of quality ofthe procedural agreement KEYWORDS: Business; procedural; atypical; basic requirements; species; process; mixed; coopera We BC 14love — NATE GRA NET SUMARIO: Inttodugio; 1 Fatos jurions: negécios jurticos x negécios processuais: 2 A tei 1° 13.405/2015 @ 0s negécios juricns processuais; 3 rincpios norteadores do negéciojurico rocessual; 4 Breves comentirios sobre as caracteisticas dos negécios jurticos processuals 5 Negocios jurdcos processuais tices: 8 Negicios juidios processuais atipics: 6.1 Reauisios 05 dos negcios urtcos pracessuais atpics; 6.1.1 Capacidade das partes; 6.1.2 Materia que ita autocomposi¢ao; 6.1.3 Convengéo sobre nus, poderes, faculdade e deveres processuas 7A valdade do negécio jurtio processual: a necessidade de-manifestagao juice postva sobre © nego jc pracessua; 8 Andlise dos limites gerais do negécojurdco proc Conclusio"Referéacias, : ‘nTRODUGAO Com as modificagées e inovagdes introduzidas no direito processual civil por meio da Lei n° 13.105/2015, tomou-se clara a necessidade de todo opera dor do Direito se atualizar para 0 melhor exercicio de sua atividade laboral Dentre 0s intimeros temas que tém sido, cotidianamente, alvo de enorme celeuma dos estudiosos da ciéncia juridica, dar-se-4 enfoque, no transcurso deste artigo, aos negocios juridicos processuais, com maior énfase aos negécios juridicos processuais atipicos, 0 que, sob a égide do antigo ordenamento pro. cessual civil de 1973, muito se discutia sobre a existéncia do refer instituto, Diversos autores negavam sua aplicabilidade no anterior ordenamento juridico ou, a0 menos, indicavam a impossibilidade de sua admissdo. Isto por que, anteriormente, para maior parte da doutrina, as manifestacdes das partes No processo seriam, somente, com o fim de realizar um ato juridico permitido Pela lei, de modo que os efeitos juridicos desses atos seriam dlecorrentes da pro- pria norma, ndo tendo, portanto, qualquer relevancia & autonomia da vontade das partes, © que, em tese, impossibilitaria a existéncia de um negécio juridico processual Convém mencionar que, nao obstante o tema acerca da existéncia do negocio juridico processual jd tenha sido, em tese, superado, nao estao pres. citos nos dispositivos da lei processual, quanto aos negécios jurdicos proces suais atipicos, sobre quais matérias especificas as partes terdo a disponibilidade para transigirem, mas, to somente, elenca a possibilidade de “convencionar sobre 0s seus Onus, poderes, faculdades e deveres processuais" (art. 190 do cPc/2015). Dai por que surgem davidas quanto a esse insttuto, como: quais as regras bisicas para celebrac3o do negécio juridico processval atipico?; qual seria 0 momento adequado para sua celebracao: se anterior ao processo judicial ou ho curso deste2; quais os direitos ou matérias disponiveis para celebracao da convengao processual?; qual a principal relevancia da atuagtio do magistrado ‘W112 D201 PATE GERAL— DOU. no negécio?; e, por fim, até que ponto as partes podem transigir? ~ ou seja, os limites das manifestagoes ou declaragdes das vontades das partes. £ importante 0 aprofundamento no estudo deste tema para que se possa acompanhar a evolugo de um novo sistema processual, aliado na atuagao dos operadores do Diteito, a fim de possibilitar uma quebra de paradigma com 0 erdenamento juridico processual anterior Nesse aspecto, avaliam-se as regras basicas de existéncia dos negécios juridicos processuais atfpicos, com base na Lei n? 13.105/2015, para que tais negocios sejam validados nas relaces processuais, produzindo os efeitos pre- tendidos, sendo, portanto, dotados de eficécia Por meio do método cientifico adotado nesta pesquisa, é feita uma ansili- se dos paradigmas criados pela doutrina acerca dos negécios jurdicos proces- suais, anteriores e posteriores & Lei n® 13.105/2015, para, entao, trazer a con ceituacéo e a definicao do negécio juridico processual atipico, cuja pesquisa terd como parmetro doutrinario a obra intitulada Convengées processuais, de Antonio do Passo Cabral. essa forma, apés definigao sobre 0 que seriam os negocios juridicos processuais atipicos, aplica-se, de forma subsidiaria, 0 método hipotético-de- dutivo, uma vez que nao ha, até o presente momento, dados exatos sobre qual a totalidade dos tipos ou espécies de negocios juridicos processuais atipicos. Assim, € de se registrar que a andlise realizada nesta pesquisa se destina tio somente a situagdes hipotéticas, avaliadas de forma qualitativa, que podem ‘ocorrer com base nas premissas fixadas na conceituacao e definicao do negécio juridico processual atipico, sem que se esgote toda a tematica, Inicialmente, entéo, & necessirio compreender pelo que se constituem os fatos juridicos, de modo a explicar, dentre os existentes, 05 negécios juridicos € 08 negocios juridicos processuais, para que seja evidenciada a diferenca que ha entre eles. 1 FHTOS JUR/DICOS: NEGOCIOS JURIDICOS X NEGOCIOS PROCESSUAIS Como jé mencionado anteriorfnente, grande parte da doutrina, com base no CPC/1973, negava a existéncia dos negocios jurfdicos processuais, Embora 0 Cédigo de Processo Civil (CPC/1973) anterior previsse, porém de forma mais limitada, que fosse possivel as partes do processo convencionarem acerca de determinados procedimentos ou atos processuais, negava-se a possibilidade de denominar tal conven¢io como negécio juridico processual, porque, em tese indo se vislumbrava uma manifestagao expressa da vontade das partes. AU 134—NoeDey2n— ATE Ena — DUT 0s individuos processuais somente transigiam, pois assim estava previsto lei, raz3o pela qual nao se poderia atribuir um status de negécio juridico aquela relacdo, cuja existéncia, segundo entendimento firmado sob a égide do CPC/1973, dependia da declaracdo expressa da vontade em criar uma relaga0 juridica e seus efeitos. Partindo dessa premissa, as “convengdes" seriam, so- mente, a pratica de um ato jurdico. Conforme disciplina Leonardo Cameiro da Cunha (2014), “0s fatos tor- nam*Se juridicos pela incidéncia das normas juridicas que assim os assinala"; assim, existindo uma norma juridica que regule determinada situacao fatica, esta passa a ter status de fato juridico, Os fatos juridicos latu sensu sto sub. divididos em: i) fatos jurdicos stricto sensu ~ fatos naturals ou da natureza; € i) fatos juridicos humanos ~ aqueles que dependem da conduta humana para exstirem. Os fatos juridicos relacionados aos atos humanos (i), por sua vez, subdividem-se em: a) ato juridico em sentido estrito; b) negécio juridico; c) ato ilicito ou ato-fato, Os fatos juridicos humanos, pata assim serem considerados, devem, pri- ‘meiro, passar pelos planos da existéncia (norma prevendo o fato), pelo da eficé- Cia (0s efeitos que produzem) e pelo plano da validade (como o proprio termo ja indica, se 0 ato € ou nao valido). O nico, dentre os citados, que nao necessita passar pelo plano da validade ¢ 0 ato-fato, pois nele € desprezada a vontade humana, embora sejam praticados por a¢ao humana Nao excluindo a importincia que cada instituto tem no ordenamento juridico, mas para delinear um entendimento mais especifico sobre o tema prin- Cipal do presente ensaio, faz-se necessério trazer essa divisio para 0 campo processual, de modo a abordar o conceito e as diferengas entre os atos juridicos processuais e os negocios juridicos processuais, o que & causa de grande con- trovérsia entre os doutrinadores contemporineos. Antonio do Passo Cabral (2016, p. 47-49) traz 0 conceito € uma dife- renciagio sobre esses dois importantes temas. Embora a discussdo sobre sua definicao seja extensa, ter-se-4 como base a proposta realizada pelo autor, que assim ensina Nao importa se o fato ocorreu durante e Iitispendéncia, ou se foi praticado por sujeitos de um processo, tampouco se aplica norma processual, Relevante & sua aptidio para producir efeitos juridicos processuais ou, em outras palavras, im: portante a definicdo ¢ a referibilidade a um processo. ato processual, por tanto, € 0 ato juridico que produz ou 6 apto a produzir efeitos no processo. [..] Negécio juridico processual 6 0 ato que produz ou pode produzir efeitos no processo escolhidos em fungao da vontade do sujeto que 0 pratica. So, em eral, declarages de vontade unilaterais ou plurilaterais admitidas pelo orde: OE 194 — ho Der} — PTE EMAL — OTH namento juridico como capazes de constituir, modificar e extinguir situagoes processuais, ou alteraro procedimento. Ademais, 0 Professor ¢ jurista Vinicius Silva Lemos (2016, p. 57) pontua que a diferenca entre os negécios juridicos e os atos jurdicos pode ser veri cada na vontade humana em obter determinados efeitos produzidos na relago processual, resultantes da conduta humana empregada no ato. Vejamos: Importante para a determinagao ¢ a diferenciagao de um negocio juridico € a determinasio espectfica do efeito que se vislumbra. A pretensio de um efeito é (6 que toma diferente 0 negécio jurldico do ato juridico simples. (..] Um neg: clo juridico & uma declaracio de vontade de um ou mais individuos que alme- jam deteminados e pretendidos efeitos juridicos legalmente estabetecidos, [Nessa mesma linha intelectiva, Caio Mario da Silva Pereira (2009, p. 410) ensina que é “toda declarac3o de vontade, emitida de acordo com 0 ordena: mento legal e geradora de efeitos juridicos pretendidos". Assim, € de se concluir que a vontade humana em obter um efeito jurf- dico processual é fator principal para que se realize a diferenca entre negocio juridico processual e ato juridico processual. Contudo, é importante frisar que todos os efeitos juridicos (almejados ou nao) decortem exclusivamente de uma norma que os preve, ou seja, os efeitos de determinado negécio ou ato juridico se originam da lei Portanto, quando vislumbrada a declaragao da vontade no sentido de obter aquele efeito especifico, ou a categoria juridica que ele representa, ha a presenga dos negécios juridicos. No mesmo raciocinio légico, fundamenta Leonardo Cameiro da Cunha (2014) a0 dizer que: (3 efeitos juridicos na decorrem da vontade. Todos esto previstos em lei de- correndo de imputacao feita pelas normas aos fatos ou atos. No negécio jurt dico, a vontade nao cria efeitos; estes estio definidos pelo ordenamento, que pode conferir aos sujeitos de direito algum poder de escolha da categoria jur- dica. [..] Os atos jurfdicos s80 incondiciondveis e inatermaveis, no podendo ter eu efeitos sujeitos a modas ou encargos, justamente porque o sujeito deve limitarse a pratica do ato, nio haverdo escolha da categoria juridica. Partindo dessa premissa, a declarac3o da vontade produzida no sentido de alcancar 0s efeitos juridicos (colocando ou nao modos e encargos) e manter a situagao juridica constante ¢ fator inrinseco do negocio juridico processual, de modo que, se esta for desprezada, configura-se 0 ato juridico processual. Importa fisar que podem existir efeitos juridicos, em um negécio juridico pro- OC 34ND — ARTE SERA — OUT cessual, que sequer foram almejados pelas partes; contudo, no retira a esséncia | ‘i Pi rnegocial do ato. Considerando que os negécios juridicos sao aqueles em que hi a mani- festagio da vontade humana na escolha de uma determinada categoria juridica para, posteriormente, adquitir os efeitos que ali esto previstos, 6 evidente que, em andlogia ao direito material, eXistem negocios juridicos processuais, ¢ estes foram inseridos com maior énfase na Lein® 13.105/2015, cuja anise seré rea- Tizada de forma mais aprofundada a seguir. ‘2 NLELW° 13.105/2015 E05 NEGOCIOS JURIDICOS PROCESSUAIS Ha quem diga que os negocios juridicos processuais é uma novidade introduzida pelo Cédigo de Processo Civil de 2015. Noutra perspectiva, exis- tem os que defendem que néo ha nenhuma novidade, que estes ja existiam no Codigo de 1973, e 0 que houve foi uma ampliacao desse instituto, que trouxe um fortalecimento da existéncia dos negécios processuais, ao se criar indimeras possibilidades de convencdes processuais previamente previstas em lei (neg6- ios processuais tipicos), bem como instituiu 0 direito de as partes criarem os seus prOprios negécios processuais (negécios processuais atipicos), sendo, este Gltimo, 0 tema de grande novidade no direito processual brasileiro De inicio, convém trazer a0 conhecimento que 0s negocios juridicos processuais estavam presentes no meio juridico desde a época da Roma Antiga, ‘momento em que 0s conflitos eram resolvidos e processados de acorde com a vontade privada dos envolvidos, o que tornava o processo estritamente particu- lar: isso se denominava litiscontestatio. Com a interferéncia do Estado nessas relagdes, afastou-se a aplicacao deste Instituto, uma vez que, para os doutrinadores da época, acompanhado por seus sucessores, nao poderia haver harmonia entre direito piblico (aquele regido pelo Fstado) e o diteito privado (aquele estabelecido pelas partes), no que tange & matéria processual. ‘Assim, 05 ordenamentos juridicos foram se desenvolvendo no sentido da nao aplicabilidade dos negécios jurdicos processuais, uma vez que a compe téncia para ditar as normas procedimentais e processuais era tao somente uma funcio estatal. O renomado jurista Antonio do Passo Cabral (2016, p. 33-34) vem esclarecer um ponto importante nessa evolucao, o qual merece destaque: [Lc] Segundo a logica predominante, nfo havia como conciliar uma suposta au tonomia das partes na definig3a dos rumos do procedimento com a presenca do Estado os interesses pablicos que sio veiculados na jurisdicio. As normas processuais seriam em sua imensa maioria cogentes, © ndo poderiam jamais ser 14 or 201 — PHBE SERA — DOTA suibattuidas por regras convencionals; a0 juz, figura central do processo, seria stibuida, com exclusividade, a conduglo do procedimento. [.-] Foram gera oes e geragaes de jurstasformados nessa digo. Eno, seria compreensivel te culturalmente,tivéssemos uma cera dficuldade de imaginar que os Ht gates pudessem renunciar aos seus dieltos fundamentals processus por meio ae ume convencao ou contrato. Todavia, nao ¢ dificil perceber quao curiosa “exam infolerancia tio aguda dos processvaists em relac30 aos insttumentos de base negocial quando observamos que, na realidade do mundo contempors neo, as pessoas abdicam todo dia de direitos fundamentais, Noutro ponto, ja trazendo a andlise para © ordenamento jurtdico bra- sileiro, o modelo processual adotado até o CPC/1973 eta denominado como publicista ou inquisitiv, no qual o Magistrado seria o sujlto mais ‘elevarne pata pratica dos atos processuas eo desenvolvimento do processo, cabendo is partes somente provocar 0 exercicio da tutela esata, de modo que os demais ue ceriam praticados por impulso do Juizo. Este, cumpre enfatizar, € 0 enten- tiimento do jurista Bruno Garcia Redondo (2015, p. 9: De acordo com o modelo inquisitive mais rigoros0, 0 Orgio jursdicional assu ne_a fungi de protagonsta da relagdo processval. Rompida a inérca da jus- “Tego pela provocacio da pate, © processo passa a se desenvolver por impul aoera. © Magistrado € quem realiza 2 maior parte da aividade processual, pucialmente no que tange & condugio, 20 desenvolvimento e &insiracto do process. essa forma, a rigidez dos processos e procedimentos adotados pela le- gislagao processual civil anterior (CPC/1973) afastava a possiblidade de He bilizaede das normas procedimentais de acordo com 0 interesse ou a vontade dos litigantes do processo. Alguns ajustes eram permits, porém estavam precisamente previstos mas norms processuais, dentro dos limites impostos pela propria norma. As par~ tes ad poderiam agir dentro do que a lei previsse, nao podendo inovar qualaucr tepramento,£ evidente que certarigidez e autonomia das cegras processus eoargm para dar maior segurancafuridica, de mado a primar pelo corteto anda mento processtal baseado nos dispositivos legals, Nao obstante a importincia do formalismo processual para o desenvolvi- mento regular de um processo, deve-se evitar que tl rigides difculte, sobrema- neita, o exercicio dos direitos individuais e coletivos, razao pela qual o proces vo deve ser adequado as necessidades desses individuos. Ressalva importante favo jurista e mestie Antonio Aurélio Abi Ramia Duarte 2014, p. 26) no que tange 9 adequacdo da vontade das partes e 20 formalism processua, in verbis OCH 34ND — ATE RAL — OUT Nao podemos deixar de ob: pablica, 0 rito € o imposto por forca do comando legal para o caso concreto, 1do podendo a parte optarlivremente por outro a ser seguido. Eis, inegavelmen. te, um enclausuramento procedimentallimitador e abjetivamente imposto, ten ddo as partes a obrigacdo de acatar 0 rito determinado por forca legal, por mais inadequado que seja ar, também, que, tratando-se de norma de order Nesse diapasao, no CPC/1973 foram criados esparsos procedimentos es- peciais com o fim de atenderem as intimeras gjtuacbes juridicas postas 8 tutela estatal; moldava-se, assim, uma prévia estipulacao legal em abstrato para futura aplicacdo em casos conctelos, que poderia ou nao atender as expectativas & necessidacdles de cada litigio. ‘Assim, era tecnicamente inviavel conceder as partes a possibilidade de convencionarem ou regularem 0 processo e 0 procedimento, uma vez que 0 ordenamento jé previa as formas como decorreriam o processo, nao permitindo sua alteragao pela manifestacao da vontade da parte em adequiclo a sua de- manda. Apenas deveria realizar uma escolha pelos modelos prontos insculpidos na lei Noutto aspecto, ao defender a ideia de flexibitizacio do processo, Femando da Fonseca Gajardoni (2015) leciona que se devem evitar possiveis ‘embaracos e obstaculos ao andamento regular do processo. Vejamos: As formas processuais correspondem a uma necessidade de ordem, certeza e eficiéncia, Sua observancia representa uma garantia de andamento regular ¢ le {gal do processo e de respeita aos direitos das partes, sendo, pois, 0 formalismo indispensavel ao processo. S6 que, necessério evitar, tanto quanto o possivel, {que as formas sejam um embaraco e um obstaculo a plena consecugao do es- ccopo do processo, impedindo que a cega abservancia sufoque a substincia do direto Partindo dessa pren a, busca-se conceder aos jurisdicionados o poder de estipular as formas processuais e procedimentais com que o seu litgio se desenvolveré até a efetiva prestacao da tutela estatal, ressalvadas as hipdteses necessérias para assegurar a seguranga juridica Isto deve ser um objetivo primordial para todo ordenamento juridico, ‘uma vez que, na medida em que so concedidos meios necessérios para as par- tes convencionarem sobre 0 processo e 0 procedimento, de modo a adequi-los as caracteristicas especificas da causa, no qual todos os individuos cooperam para uma decisio final de mérito, esta a se democratizar o direito processual. Nessa mesma linha de raciocinio, segue a dizer Antonio Aurélio Abi Ramia Duarte (2014, p. 23): I OCU 154 wD — NTE EEA’ EUTHUA, Quanto maior a participagio democrética das partes no processo, com ampla dialética destas, tendo 0 processo como fecundo campo de valorizagao do Esta do Democratico de Direito, maior legtimidade ganharé decisSo final. Ma também, serdo as possbilidade de aceltagao das partes da decisio final profer da, abalizada pelo dislogo permanente, Sob esse aspecto, com 0 advento da nova Lei de Ritos (Lei n? 13.105/2015), deixou-se 0 modelo publicista ou inquistivo e passou-se a adotar um processo pautado no autorregramento da vontade das partes, em que 0 processo é ade- quado as necessidades e caracteristicas especiais do litigio, resguardando-se sempre, é claro, a preservacio da seguranca juridica e da ordem pablica Portanto, passour-se a utilizar um modelo misto processual (cooperativo), ‘em que as normas de direito processual pablico convivem de forma harménica com aquelas estipuladas pelas partes, ou seja, direito processual privado, tendo como subsidio, para validade das normas, os principios existentes no ordena- de ser realizada uma anélise mento processual civil vigente, para os quais hi mais especifica e, assim, possa se compreender melhor o tema propost. ‘3 PRINCIPIOS NORTEADORES DO WEGOCIO JURIDICO PROCESSUAL O intuito da ampliagdo dos negécios juridicos processus, no atual or denamento juridico, € o de adequar 0 proceso e o procedimento a0 caso em concreto, levando em canta as necessidades do litgio e a autonomia da vonta- de das partes, de modo que se deve ter como base alguns principios gerais do Direito que seguem, inclusive, incursos no teor da propria Lei n® 13.105/2015 ~ Cdigo de Processo Civil, dentre eles: do autorregramento, da adequagao, da primazia do mérito e da cooperagéo. Sendo assim, faz-se necessério 0 estudo aprofundado sobre cada princt- pio para melhor elucidagao do tema. Ali, &a partir destes que se desenvolvem as teses sobre a necessidade de implementacao dos negécios processuais, uma ‘vez que constituem um fim a ser atingido. O renomaddo jurista Humberto Avila (2012, p. 78-90) faz uma ressalva sobre a importancia dos princfpios para um ordenamento, aficmando que: | } Prinipos, por seu tuo, podem se conceltuados co norasthedatamente Finalisteas,primariamente prospectvase com pretensio de complementaridade te pacildade, para cu aplicagao se exige a avaligo da corelaglo entre 0 estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorentes da conduta havida hjtvo a ser aleangado (um fim juriicamente relevantea er atigido),sendo imediatamente finalisicas(esabelecem um estado de cosas para cuja realiza- ao énecessria a adagao de determinados comportamenos. AUC 34g — NATE SERA — OT principio do autorregramento da vontade, conforme ensina Fredie Didier Jr. (2015, p. 168 © 169), “[..] se define como ui complexo de poderes que podem ser exercidos pelos sujeitos de direito, em niveis de amplitude va- riada", e, respaldando-se no direito fundamental da'liberdade humana, pontua, ainda, que o “[..] processo e liberdade convivem. Liberdade nao é nem pode ser palavra maldita na Ciéncia do Direito Processual e no Proprio Direito Pro- cessual Civil” Nesse sentido, é o poder que as partes dispoem para regular, por si mes mas, as situagGes jurfdicas as quais pretendem estar submetidas. & a manifes- taco da vontade das partes no sentido de criarem relacdes juridicas, tanto de direito material quanto processual, amparando-se no principio da dignidade da pessoa humana e sua liberdade de escolha (art. 1% Il, fe art. 5%, caput, da CRFB/1988). A partir dat, surge-se outro principio denominado de adequacio, cuja eexisténcia é de elevada importancia para o funcionamento do autorregramento da vontade das partes. O principio da adequacao consiste em regular 0 proces- so € 0 procedimento de acordo com as especificidades do litigio ¢ as necessi- dades das partes, para a melhor e mais eficaz resposta da tutela estatal. Seria, entio, 0 autorregramento manifestado no bojo processual, ou seja, a manifesta ‘do da vontade das partes criando uma relagao juridica processual, no sentido de adequar, antes ou apés, 0 conflito de interesse ao processo e 0 procedimento a que deve ser submetido. Nao € sem razio a existéncia desses dois importantissimos principios Sabe-se que a busca da nova Lei de Ritos & no sentido de ter um modelo proces- sual cooperativo — jé exigido no ordenamento anterior, porém com mais énfase ro atual ~ no qual os litigantes judiciais adotam uma postura mais participativa 1no curso do processo, voltada para uma efetiva resolucao de mérito, tornando- -se visivel, a partir dai, o principio da primazia do mérito e da cooperacao, ambos prescritos no art. 6° da Lei n® 13.105/2015, Noutro passo, embora os prinefpios sirvam como balizas para a existén: cia dos negécios jurfdicos processuais, estes possuem caracteristicas proprias que devem ser evidenciadas, a fim de melhor compreender o instituto, 4 BREVES COMENTARIOS SOBRE AS CARACTERISTICAS DOS NEGOCIOS JURIDICOS PROCESSUAIS importante lembrar que os negécios juridicos processuais visam sistema- tizar as necessidades das partes, adequando-as ao processo e ao procedimento a que estejam submetidas. Trata-se, portanto, de convengio sobre matérias pro- ccessuais e procedimentais, observando-se a capacidade das partes, 0 objeto da negociacao e os seus efeitos no ordenamento juridico. ACU 34D ~ ARTE GERM — UTA A partir de uma anélise perfunctéria do arcabouso juridico processual do Cédigo de Processo Civil de 2015, pode-se extrair a existéncia de dois ti- pos de negécios juridicos processus: a) negécios juridicos processuais tipicos; b) negécios juridicos processuais atipicos. Em seus elementos, classificam-se, de acordo com a composi¢ao do ele- mento subjetivo da relagao surgida, em unilateral ¢ plurilateral. Os negécios processuais unilaterais so aqueles produzidos por uma 86 parte, ou seja, pro: ‘vem de uma nica declaracio (expressa ou técita) de vontade, }é os negocios processuais plurilaterais ocorrem quando duas ou mais manifestagées da vonta- de converge com o fim de criar determinadas situagdes juridicas processuais. Noutra perspectiva, € possivel definir, também, como sendo unilateral aquele negécio cujo efeito s6 atinge apenas uma das partes envolvidas e, de outro lado, como plurilateral, quando os efeitos do negécio atingem dois ou mais sujeitos da relacdo jurtdica. Quanto aos momentos da celebracao dos negécios juridicos processuais, estes podem ser realizados de forma antecedente ao proceso judicial, bem como de forma incidental, descle que nao prejudiquem os atos ja praticados, tendo, em regra, efeito ex nunc Ha aqueles que defendem que somente se considerariam negocios jurid os processuais os realizados no curso do processo, por meio do critério facus, de forma que as convengies realizadas extrajudicialmente (fora do proceso) tra~ tariam de direito material, no podendo se falar en negécio juridico processual ‘Cumpre enfatizar que esse posicionamento, entretanto, no é 0 adotado pela doutrina majoritéria, que, segundo Antonio do Passo Cabral (2016, p. 60), pode haver acordos processuais praticados fora do processo ainda que tenham sido firmados previamente a instauragao ou fora da relagao processual” Outro ponto que merece destaque se refere ao dever de as partes apre- sentarem suas convengoes processuais ao julzo, para que este determine o prosseguimento da demanda de acordo com o entabulado. Se, porventura, a apresentagao do termo contratual ocorrer depois de ja terem sidos realizados alguns atos processuais de praxe, 0 contrato nao os prejudicars, mesmo que tenha cléusula expressa determinando a realizacao do ato de outra maneira, Neste sentido, podemos destacar as lices do jurista Vinicius Silva Lemos (2016, p. 76) Entretanto, papel primardial para o negécio juridico ser valido e eficaz a de: manda é realizado justamente pelas partes, primelramente alegando a existén. cia do mesmo ~ seja o autor na inicial ou 0 réu em sua contestagio ~ e, ainda, monitorando 0 cumprimento da outra parte do negécio juridico processual. As 90 OC 134 — Hor 207 — PATE ERAL —DOUTRIA partes podem apresentar a conveng3o em outro momento, entretanto, os aos anteriores nao serio mais regidos pelo acordo, ainda que neste tenha previs3o para tal justamente pela auséncia de apresentacio em juizo. Em suma, nao ha dbice para realizac3o dos negécios processuais na fase pré-processual, até porque estes 56 produzirao efeitos a partir do momento, em que surgir o conflito de interesses que force as-partes a provocar o poder estatal : Cada espécie de negécios (tipicos e atipicos), embora se destinem & ne- Bociacao realizada pelas partes sobre 0 processo, possuem caracteristicas par- ticulares, uma vez que, para uma, hd a expressa normatizacao e, para outra, de- penderé da criatividade de seus operadores. Prossegue-se, entdo, com a anélise de cada uma delas. 5 WEGOCIOSJUR/oICOS PROCESSUNISTiPICOS Os negocios juridicos processuais tipicos sao aqueles que detém expres- sa disposicao legal, ou seja, ha uma prévia autorizacaio na legislacao processual que permite e regula 0 modo com que as partes podem convencionar sobre determinada matéria, InGimeras sao as possibilidades negociaistipficadas na Lei n? 13.105/2015 (CPC/2015), e, dentre elas, destacam-se as seguintes: a) calendrio processual, de acordo com o art. 191; b) convencao sobre os prazos perempt6rios, con. forme se subentende do teor do art. 222, § 1%; c) acordo sobre o saneamento processual, luz do que prescreve o art. 357, § 2°; d) rentincia do direito de recorrer, disciplinada no art. 999; e) eleicao do foro em razao do valor ou do territério, previsto no art. 63; 6 escolha do perito, entabulado no art. 471; con. vencao para suspensio do processo prescrito nos arts. 313, Il, e 922; desisténcia da acdo encontrado nos arts. 485, § 4°, ¢ 200, paragrao énico; reconhecimento de procedéncia do pedido ou transacao previstos no art. 487, I, ae b; rendincia a0 direito no qual se funda a acdo enumerada no art. 487, Il, c adiamento da audiéncia por convengao prevista no art. 362, |; convencdo sobre as alegacoes finais orais prevista no art. 364, § 1° ‘Como bem alinhavado no inicio deste artigo, as hipéteses de conven- ‘GOes processuais tipicas nao estdo exauridas nas espécies supracitadas; assim, Para um melhor conhecimento das possibilidades existentes no ordenamento rocessual civil vigente, faz-se necesséria a realizagao de um estudo especitico © aprofundado no tema — 0 que no 6 0 intuito da presente pesquisa, cujo foco principal destina-se ao estuclo dos negécios juridicos processuais atipicos, que sera abordado com maior énfase nos t6picos seguintes 00 34s — PE GERALDO 6 MECOctOs JUR/OICOS PROCESSUAIS ATIPICOS No que tange aos negécios juridicos processuais atipicos, & possivel defini-los como sendo 0s por exclusdo dos ja previstos no ordenamento, ou seja, sao aqueles originérios da propria manifestagao da vontade das partes na regulacao do proceso. Uma criagtio de normas processuais e procedimentais a partir do comando normativo do art. 190 do CPC/2015. Dito isto, a pesquisa se desenvolverd com 0 estudo mais especificado e aprofundado deste instituto, abordando seu conceito, seus requisitos basicos de existéncia, validade e eficacia, os quais séo necessérios para que 05 negécios juridicos processuais atipicos possam ingressar no ordenamento juridico e, de- pois, delimitar algumas de suas variadas espécies, (O art. 190 do Cédigo de Processo Civil de 2015, como muitos doutrina- ores e estudiosos do Direito preferem inttular tata-se de uma “cléusula geral de atipicidade” ou “atipicidade da negociacao processual” que possibilita que a convencao seja realizada fora dos aspectos jé previamente estabelecidos na legislacao. Antonio do Passo Cabral (2016, p. 86) conceitua o negécio juridico pro- cessual atipico (convencao processual, como este prefere denominar) como sendo “t...] aquelas praticadas em razao da autonomia das pattes, ainda que na legislacdo nao haja um modelo expressamente previsto (sem qualquer adequa- 30 a um tipo!” Neste mesmo raciocinio, Leonardo Carneiro da Cunha (2014) leciona da seguinte forma: [co] Em razio da cléusula goral prevsta no art. 190 do novo CPC, as partes po- dem negociar regras processuais, convencionando sobre rus, podetes, facul dade e deveres processuals, alm de poderem, juntamente com 0 juiz, fxar 0 calendério processual. O novo CPC, fundado na concepco da democracia par- ticipativa, esruturase de modo a permit maior valotizagdo da vontade dos su jeitos processuais, a quem se confere a possibilidade de promover o automtegra- mento de suas situagBes processuais. As convengSes ou os negécios processuals despontam como mais uma medida de flexibilizacio e de adapiacio proced mental, adequando 0 processo 8 realidade do caso submetida’aanalise judicial Evidente que, como nao estio, especificamente, estabelecidas todas as espécies de negécios juridicos processuais atipicos, no transcurso da pritica juridica, no exercicio diario das atividades profissionais ligadas a este instituto, deverao surgir outras hip6teses que podem demandar uma andlise mais deta- tada do caso concreto. O que se busca, entio, 6 uma avaliagao dos principais requisitos necessrios a sua validade. BOO 134 ~ose2471— PRT GERAL—DOUTANA 6.1 Reauisos psicas nos nesdicios vurioicos paacessuns aitcos Conforme se depreende do supramencionado dispositive legal, existem Cettos requisitos basicos do negécio jurfdico processual atipico, 0s quais sio: a) capacidade das partes; b) matéria que admita autocomposicao; ¢ c) conven- ‘40, somente, sobre nus, poderes, faculdade e deveres processuais. Para que 0s negocios juridicos processuais produzam seus efeitos na ordem juridica e social, faz-se necessario verificar sua aptidao para entrar no mundo juridico, por meio da constatacao, primeiro, de sua existéncia; poste- Fiormente? se estio preenchidos os fequisitos necessarios da validade do ato negocial, bem como se este negécio é dotado de plena eficécia. Nesse diapasio, a despeito de as convengdes versarem sobre o direito processual, ndo exime o fato de serem avaliadas em consonancia com os requi- sitos de validade do negécio jurfdico, prescritos no art. 104 do Cédigo Civil de 2002, ressalvadas as peculiaridades de cada ordenamento. Dito isto, para que se tenha total validade, 0 ne; cio processual deve obedecer aos requisitos basicos acima elencados em sua plenitude, de maneira que, inexistindo qualquer um deles, poderio ser suscitadas eventuais nulidades do negécio juridico processual pactuado. Desse modo, faz-se necessério escla- recer quais so as principais caracteristicas dos requisitos basicos de formaca0, do negécio processual atipico. 6.1.1 Capaitade das partes Um dos requisitos necessérios para a formacao do negécio juridico pro: cessual atipico esta relacionado ao elemento subjetivo da relacao juridica, Se- gundo esse requisito, as partes devem ser plena Convencionar sobre processo e procedimento. jente capazes para que possam Por oportuno, convém salientar que a capacidade nao se refere as partes do proceso (autor ou réu), mas sim as partes da relagio negocial, uma vez que 0 pacto pode ser celebrado antes ou durante 0 curso de um processo, no primeito caso, inexistindo, portanto, qualquer parte processual. Mas a grande questa é: essa capacidade & material ou processual? Este 6 outro ponto em que as disposicdes do direito material e do direito processual convergem, tal como ‘corte nos requisites basicos de validade de um negocio juridico. CO estudo do negécio juridico processual deve ser direcionado aos con- Ceitos estabelecidos pela doutrina processual, uma vez que possbilita filtrar a atuagao individualizada de cada sujeito, nao obstante possa ser complementa: do pelas caracteristicas do direito privado. A partir dessa premissa, uma and- lise deve ser feita acerca da tripartigo da capacidade processual, qual seja OC 442 — aE GERAL— OUT a capacidade de ser parte, a capacidade para estar em juizo e a capacidade postulatoria A capacidade de ser parte esti atrelada personalidade juridica de todo individuo, sendo a que mais se assemelha a capacidade do direito material, Cujo enfoque € a aptidao do individuo em adquirir direitos e deveres e compor tuma relacio juridica, ou soja, de ser parte em um proceso, Segundo ensina Fredie Didier Jr (2015, p. 314 Dela sto dotados todos aqueles que tenham personalidade civil ~ ou seja, aque- les que podem ser sujeitos de uma relagao jurfdica de direito material, como as pessoas naturais e as juridicas -, como também 0 nascituro, 0 condominio, © nondum coceptus, a sociedad de fato, sociedade nao-personificada e a so. Ciedade irregular ~ as ts figuras esto reunidas sob a rubrica sociedade em comum, art. 986 do Cédigo Civil -, os entes formals (como 0 espélio, massa falida, heranga jacente, etc), as comunidades indigenas ou grupos tribais e os 6rgios piiblicos (Ministerio Publico, Procon, Tribunal de Contas, etc.) Ja a capacidade de estar em juizo 6 mais ampla que a anterior: nao é somente a possibilidade de figurar em uma demanda como sendo parte, mas, também, de praticar atos processuais independente de representacao ou assi téncia (pais, tutor, curador etc.) No que se refere a capacidade postulatéria, 6 aquela em que o indivi-

Você também pode gostar