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LÉON WALRAS

Cleidiane Cristina de Oliveira


Viveu entre 1834-1910, onde para alguns era pouco compreendido, enquanto outros o viam como
o maior dentre os economistas em matéria de teoria (palavras de Schumpeter), porém, antes de
se tornar um estimado economista estudou engenharia. Também trabalhou como jornalista e
bancário, até firmar-se como professor em Lausanne. Seu principal trabalho foram as publicações
de “Elementos da Economia Política Pura” em 1874 e 1877, ambas em francês. Inicialmente a
aceitação não foi das melhores e nos 25 anos posteriores ficaram desconhecidas, sendo
traduzidas para o inglês apenas em 1954 por Willian Jaffé. A presença forte da matemática em
sua obra era vista como abstrata e afastada da vida “real”. Sua obra encontrou resistência em
países como: França, Alemanha (historicistas), Áustria (Menger) e na Inglaterra (Marshall). Na
Itália sua obra foi um pouco melhor recebida (Pantaleoni, Barone e Pareto) entretanto ainda se
referiam a ela como “uma tentativa de resolver o problema de habitação construindo castelos no
ar” e uma idealização equivocada do Laissez-faire. A ideia chave de Walras modela
matematicamente as relações entre os mercados, tal ideia só se popularizou com o trabalho de
Gustav Cassel e por muito tempo, seria atribuída apenas a Cassel o mérito da apresentação
original desta teoria. Uma das principais influências de Walras foi Antoine Augustin Cournot, o
qual estudou junto com o pai de Walras, Antoine-Auguste Walras. Auguste não tinha formação
matemática, e se dedicava mais à filosofia e às humanidades. Em 1874, Walras destaca os
autores Genovesi, Senior, Condillac e Say como influências e em 1877, chama atenção sobre
Dupuit. Ainda jovem, conhece as ideias de Cournot, que o ensina o emprego da matemática na
solução de problemas econômicos, a noção de equilíbrio, os conceitos de oferta e demanda e a
ideia de mercados relacionados interdependentes. Apesar disso, Cournot não se mostrou muito
entusiasmado com o livro de Walras. Auguste Walras (pai), que foi administrador educacional e
escreveu sobre economia científica seguindo John Locke, colocou a propriedade privada como
um princípio supremo e procurou justificá-la a partir da discussão do valor econômico. Valor
representado pela escassez dos bens em relação aos desejos humanos, denominando de
"rareté" (uma estrutura fundamental de relação material e social: nem a substância natural e nem
o produto existirem em quantidade suficiente para todo mundo), termo depois empregado pelo
filho. Auguste buscou um critério para dizer se um dado bem forma ou não uma parte da riqueza
do país. Para isso, desenvolveu o conceito de razão entre a quantidade do bem disponível e o
número de possíveis consumidores. Tal conceito não diz respeito a trabalho e nem a utilidade.
Leon Walras defendia a nacionalização das terras, onde o estado deveria comprá-las de seus
proprietários. Estas seriam valorizadas com o progresso da sociedade e o Estado seria então
ressarcido dos gastos (renda substitui o pagamento de impostos). Leon ainda defendia também a
criação de cooperativas e a nacionalização dos monopólios naturais, intervenção das autoridades
monetárias para estabilizar preços e controle do mercado de capitais. Inovou ao construir um
modelo teórico e um método analítico versátil, fornecendo explicação completa sobre a noção de
equilíbrio de mercado. Desenvolve um sistema algébrico na explicação da estrutura do equilíbrio
geral levando em conta os entrelaçamentos de todos os mercados de uma economia. A ideia de
equilíbrio geral foi apresentada no séc XVIII, com o Quadro Econômico de François Quesnay.
Cournot e Jevons não foram além de suas intuições iniciais e deixaram de sistematizar um
sistema algébrico descritivo do processo. Cournot, embora tenha avançado na exploração de
equilíbrio em mercados separados de outros, sabia que sua análise era incompleta por não
considerar a interdependência entre mercados e a compatibilidade entre posições de equilíbrio
particulares, pensava o equilíbrio geral como um problema aritmético, onde deveria atribuir
valores numéricos às variáveis. É Walras que desenvolve a ideia de equilíbrio geral na forma de
um sistema de equações simultâneas que ligam os vários mercados da economia. Manipulou e
construiu uma estrutura teórica geral capaz de dar conta das relações ligando um mercado a
outro sem medir nada.Esta tarefa requer concorrência perfeita, liberdade de entrada, mobilidade
de fatores e flexibilidade de preços. Walras aproxima a Economia das ciências físicas e
posteriormente em 1909, fala em uma ciência “psicomatemática”. A economia científica em
Walras pode ser descrita como: Ciência natural pura (depende de fatos naturais, trata da teoria
da riqueza social demonstrando matematicamente o equilíbrio no mercado); como Arte da
economia (observa, expõe e explica um conjunto de estudos de casos, apontando em cada um
as condições econômicas mais favoráveis à produção da riqueza social) e como Ciência
moral/histórica (aconselha, prescreve e dirige julgamentos éticos sobre grupos favorecidos pelas
decisões políticas). Fatos naturais são a relação entre coisas (naturais) e formam o núcleo da
teoria econômica; Fatos humanitários dizem respeito aos homens, podem ser em relação às
forças naturais ou as forças de outros homens. Cabe a economia analisar o fenômeno das Trocas
e para Walras a naturalidade do valor de troca, está na sua origem, as coisas adquirem valor por
serem úteis e raras, limitadas em quantidade; um valor natural não pode ser substituído por outro
e só é modificado agindo sobre os seus fundamentos ou causas naturais. Para Walras o mercado
é lugar onde se trocam mercadorias e se produz valor de troca (acontece naturalmente), existindo
um equilíbrio entre essas trocas, chegando ao que ele denomina de oferta e demanda (para
walras, são derivadas da função utilidade), o autor também define um mercado hipotético onde
estaria perfeitamente organizado em relação à concorrência. Analisando o Mercado, Walras
investiga como os excessos de oferta e de demanda provocam o movimento dos preços na
direção do equilíbrio. Exemplificando o modelo de troca simples o autor expõe “Não se oferece
por oferecer, oferece-se apenas porque não se pode demandar sem oferecer, a oferta não passa
de uma consequência da demanda.” destacando que a oferta e a demanda são grandezas
proporcionais e que ao ocorrer um excesso de oferta existirá, ao mesmo tempo, excesso de
demanda. Se faz necessária uma análise do equilíbrio geral, pois a oferta e demanda de um
mercado em particular depende das relações estabelecidas entre outros mercados, de forma que
os sujeitos econômicos sejam compatíveis entre si. No sistema econômico descrito por Walras,
não existem classes sociais, apenas agentes de mercado que são: consumidores (quem decide
a composição e o nível de consumo) e buscam por poupar seus recursos, gastando sua renda
visando sempre a maximizar a satisfação; e empresários (quem escolhe o nível e a composição
da produção tendo função de coordenador e proprietário de recursos) buscando sempre o lucro
máximo de suas atividades. Os processos econômicos se dão a partir do encontro desses
agentes e nesse modelo, o sistema é fechado, não afetado por transações externas ou pelo
governo. A renda nacional equivale ao poder de compra dos consumidores e o fluxo de produção
e consumo acontece entre os agentes que oferecem fatores e recebem em troca a renda, usada
para compra ou para poupar. A produção total do sistema é a somatória das produções líquidas
de cada firma, sendo a renda global ganha pelos fatores, o total pago a eles por todas as firmas.
Para algo ser tornar uma riqueza, deve possuir a capacidade de satisfazer alguma necessidade e
deve ser possuída em quantidade limitada em relação a mesma. Ao descrever a riqueza social o
autor indica 3 propriedades da riqueza social: que são apropriáveis, que são objetos de troca e
que são objetos da atividade produtiva. em sua teoria da riqueza social (teoria da economia pura)
Walras procura determinar essencialmente preços e quantidades produzidas e troca, como
solução do problema da determinação do equilíbrio geral, deve ser feita uma minuciosa
classificação dos elementos que a riqueza social. expondo que a única forma de interação social
é a que é realizada por meio de trocas voluntárias sendo a concorrência a responsável pelo
funcionamento dos mercados. Não existindo sindicatos, cartéis ou qualquer prática
intervencionista neles. Walras define os preços como parâmetros a partir dos quais as escolhas
individuais são feitas, mas eles não são independentes delas. A condição de equilíbrio geral
determina um conjunto de relações articuladas entre preço e quantidade trocada de bens de
consumo, permitindo a máxima satisfação para cada agente e tornando-se mutuamente
compatível com a de outros. Para formar o seu modelo é necessário: o número de consumidores,
o número de firmas, a dotação inicial de recursos, as preferências dos consumidores e as
técnicas de produção disponíveis. tendo isso, o mecanismo competitivo conduz o resto e
determinam-se as quantidades de bens produzidos, trocados e o vetor de preço. Walras define
Capital fixo como “Qualquer bem durável, qualquer espécie de riqueza social que não é
consumida ou apenas é consumida a longo prazo”; capital circulante como “Qualquer bem
fungível, qualquer espécie de riqueza social que é consumida imediatamente, que serve apenas
uma vez” no processo de produção se utiliza serviços dos capitais fixos e outras formas de
rendimento, que não capitais. Diferenciando mercado de produto (os consumidores demandam
produto das firmas) e mercado de serviço produtivo (onde os consumidores, proprietários dos
recursos produtivos de terra, trabalho e capital, vendem os serviços para as firmas em troca de
pagamento/renda). O autor destaca duas condições para equilíbrio: condição subjetiva (condições
de maximização para cada indivíduo em particular) e condição objetiva (compatibilização das
condições de máximo no mercado, equilíbrio entre oferta e demanda). Destaca o Equilíbrio
subjetivo (condições requeridas na maximização de todos os indivíduos) e Equilibrio Objetivo
(condições de equilíbrio geral nos mercados). Walras define em seu modelo que oferta e
demanda global dos fatores são a soma horizontal das ofertas e demandas individuais, e que a
quantidade de serviços oferecidos deve ser igual ao montante empregado desses serviços, de
modo que não existam recursos ociosos. A estratégia de análise de Walras vê os dados
subjetivos como algo que se soma aos fatores objetivos que comandam a produção e o consumo,
não problematizando a relação entre elementos subjetivos e objetivos. Não indagando como a
percepção individual poderia alterar a própria natureza dos dados objetivos, concluindo que o
subjetivismo presente na análise do equilíbrio geral não é de natureza psicológica. O autor
postula a lei que: o valor total do excesso de demanda é zero para a somatória de todos os
mercados a qualquer nível de preços P. Onde os excessos de demanda são neutralizados pelos
excessos de oferta. A contribuição de toda a pesquisa de Walras se sustenta por trazer uma
habilidade em demonstrar a natureza simultânea do problema de se encontrar preço de equilíbrio.
Em uma tentativa de provar puramente verbal, o autor não se propôs a fazer uma demonstração
rigorosa e definitiva, somente intuiu como seria o processo de prova matemática do equilíbrio
geral. Entretanto Walras não analisa questões sobre existência, unicidade e estabilidade do
equilíbrio e não explica o caminho em que o equilíbrio é alcançado, é só nos anos 1940 que
outros autores irão discutir sobre isso. Pensando a atuação do Empresário e fazendo uma
comparação com a lenda de Sísifo (o homem que leva uma pedra até o topo da montanha, para
no outro dia executar a mesma ação, tendo o mesmo trabalho pelo resto de sua vida e nunca
obtendo o sucesso) nesse sentido, parece não existir uma identidade socioeconômica para o
empresário Sísifo enquanto a receita exceder ou estiver abaixo dos custos, haverá
respectivamente lucros e perdas que afetarão a escala de produção de modo a eliminar-se os
excessos (interpretação de William Jaffé, estudioso de Walras). Para explicar o processo de
equilíbrio, Walras utiliza do conceito de Tateamento, onde existiriam três atores no leilão de
mercado: compradores, vendedores (proprietários dos bens) e um controlador das transações
(leiloeiro). Onde em um primeiro momento, o leiloeiro estipula um preço e deixa os agentes
formularem propostas de compra e venda. Havendo igualdade entre oferta e demanda, a
barganha é fechada pelo leiloeiro e o preço é equilibrado. Se não, o leiloeiro ajusta o preço de
acordo com a regra: aumentar para eliminar excessos de demanda e reduzir para eliminar
excessos de oferta. Agindo por tentativa e erro. Se durante o processo equilibrador os agentes
trocarem os bens com preços de desequilíbrio, a cotação individual varia continuamente e não é
possível alcançar um equilíbrio walrasiano, já que ele se refere a uma dada cota de recursos. As
transações não ocorrem enquanto o sistema estiver procurando o ponto de equilíbrio, acarretando
as “trocas falsas”, pois é só no equilíbrio que as trocas ocorrem de fato.

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