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A Persegui¢ao Policial Contra Euripedes Barsanulfo FREITAS NOBRE O proceso movido contra 0 querido mé- dium espirita de Sacramento, MG, é o tema desta obra. Pela narrativa tomamos conhe- cimento da pressio que o catolicismo local exerceu para ver o grande divulgador espi- rita daquela regido atras das grades. E a defesa da maioria da populagao, inclusive magistrados e policiais, que muito bem queriam ao humilde trabalhador. O perfil meigo, humano e simples de Eu- ripedes Barsanulfo esta registrado em seus depoimentos neste proceso. = EDICEL A PERSEGUICAO POLICIAL CONTRA CONFIDENCIAS DE. UM INCONFIDENTE — Romance hhstrico, mediinica ditado por Tomis AniGnio Gonmaga © psicografada por Marilusa, Moreira: Vasconcellos. Formato Vax2i'em, 860 pigs A verdadeirahistria da Inconfidencia Mincira narrada por um ie seus ideatizadores, agora liberto das influencias materials, ‘© romance de lirsmé puro, deamor ealetodifictimentevistos, entre Mariliae Dirceu. Disceu era 0 pseudonimo que usava & veio pottico de Tomas AntOnio Gonzaga. Nesta obra destacam™- se, ainda, a alive, bravura, corager « bondade de Tiradentes A-grande alma do famoso eiculter Aleijadinko, seu marttio, ‘8 obra, sua influéneia na conjura, sua mediunidade FALANDO AS ALMAS — Doutrina em pequenas doses. Esp ritos diversas, psicografsdo por Vilma Americano do. Bras Formato lax cin, 126 page, André Luiz, Cintia Medeiros, Euclides da Cunha, Paulo de Alencar, Berewa de Menezes, Tabajara ¢ um Amigo do Alto — esses sele Espinitas univamse para formar est preciosidade, “Todos eles Irmos de mista experiencia e bem preparados para © trabalho que se apresenta: temas que nos auxiliam na com preensio dos conllitos intimos que explode em dissabores Dessoais e socials; e estes escrito lembrama melhor mania de Fos prepararmos para uma Civiliagio de Amor POR UM MUNDO MELHOR — Crénicas, cons, histo rictas, doutrina, mensagens de otimisio, Celso Martins. For ‘mato’ 4x21 cm, 125 pags. ‘Uma Hilosofia eminentemente pritica, que consoka e orient, gue socore e auxin 0 triste, © faco, © desesperado, 0 des Tdido (e como os hi no mundo modem, a despeito de tanto tamanhos engenos teenologicos einventoscientlticos) — eis tada quanto se encerra neste livrinho, ne ep Saeparnen q iN A perseguigéo policial contra Euripedes Barsanulfo FREITAS NOBRE A perseguigéo policial contra Euripedes Barsanulfo “cos EE EDICEL ? eT “Ces wisticten sete | \ |. persorigto 0 1 | Nascimento de Es 8 Deadabramenos do Pate Anita 5 © proceuocrime : 0 ‘A tralildade de Eunipedes 0 Movimento em favor do mein = 8 ‘it do Cireulo Catdico de Uber % ents cons ansont A card epiriea, » Ties iy ing Soe ‘Advertise 31 1 sa SERS Tae Betts \ ane aca Suess pra a dees cos ; On pss : oom i A vevolt doy actanehianon oo ‘cara noe dit ati com so {A tepecuno do proceso.» 6 ‘sli ov can meio 00 0 Y Gultura excepcional de Buripedes 33 Gédigo Penal e959 ¢ sugestice para © modelo 1 eth mi t8— 3.00on Dra vv oveeve 3 ol gle «wv: Ray Ge as nes por cara proc urge «$9 racy i wd ay Cts Ps I eceraasfceinieeyc yeaa stapes sects ete be doentes Menta nesesvsoreeeese “ Dn oe Mediunidade reitita © ago agi ar) aver inl tages ee Aenean cere 0 ‘sie Ron Grn 12 ra es : {Gime opin 2 a Maa Pot) A peregrinagio do processo ss. se 77 do Se a A et o impte obrigacdesimpossivcs De 66 sass oni” Fe es © recess chega ao final oe Ceppoe om 10) por ena Quem o verdana impostor vocicecticteiens {StF Sgt So 16 rt 99 Sorasie Sp ht 5 Foi Euripedes Barsanulfo uma das primeiras vit mas da perseguigdo aos médiuns no Brasil, cncendidos ‘08 médiuns no wntido da doutsina kardeciana, sei ‘como intermediarios no didlogo entre o mundo cor- péreo ¢ incorpéreo, seja na rea de cura espiritual, na medicagio feits por recomendagio dos espiritos, na psicogratia, etc Especialmente na sua época, embora raros fossem, fos médicos, especialmente no interior do pais e mais, particularmente de Minas Gerais, a perseguigio tam bem teve carder religioso. Mesmo hoje quando a O.M.S. proclama o direito do homem a satide, considerando-a um verdadeiro servico piblico, ainda ha por parte da grande massa a prcocupacio em toro dos poucos médicos que em proporcio ao nosso indice demografico, se fixan mais ‘especialmente nas grandes concentragies urbanas, on- dea medicina esta sofisticadamemte comercializada, perdendo, muitas vexs, 0 médico as caracteristicas sacerdotais que marcavam as atividades de antigamen- No interior de Minas Gerais, em Sacramento, nos idos de 1917, Euripedes no era simplesmente 0 me divon que reccitava v mantinha farmiacia, mas, 0 cds dio prestante, desinteressado, que euidava da save da su populagio desassistida de qualquer servign medi co on Farimactatico, Mas, 0 problen 4 dos curadores que nao tem habit Hitacao médica, nfo € do passado apenas, © nem se mente do nosso pats OO A revista Paris Match (Paris, 6-1-1971), publicou documentos da maior importincia sobre o que chama de Medicina Paralela, destacando que existe uma ten~ dléncia liberal na jurisprudéncia francesa, procurands dlistinguir entre os que chama de maus ¢ de bons curadores. Melhor dizendo, os que se orientarn frater. nalmente na preocupacio' de curar, possuindo real mente dons para isso, © os fraudadores que nao possuem tais qualidades meditinicas e que, além disso, Se aproveitam de suas vitimas para extorquirlhes dinheito, No Brasil, a tendéncia ¢ acentuada, porésm com Juma caracteristica mais especial, pois 0 que a juris. prudéncia vein distinguindo, especialmente, no € a simples condigao meditinica ou no do curador, masa cobranca pela prestagio de asssténcia, Embora muitos acérdos mencionem a habitua- lidede como uma das condigSes para a procedibili- dade da asio penal, em decisdes dos nossostribunais, & reocupasio predominante € relativa ao pagamento (ou A gratuidade da assisténcia prestada, Denis Jaembar (Paris Match, 16-1-1971) coloca o problema dos 65,000 médicos inscritos na Franca lace a0 texto legal que vai aos poucos envelhecendo pela ‘modificagdes jurisprudenciais e segundo o qual “exer. ce ilegalmente a medicina toda pessoa que, mesmo na presenga de um médico, estabelece diagndstico ou ta ‘amento de doengas, reais ou presumidas, por ato pes soal, consultas verbais ou escritas ou por outros meios sejam eles quais forem, sem possuir um diploma reco- hecido de médica..." Mas nio foge & observagio de que, algumas vere, © proprio juiz que preside o julgamento do curadoy, solicita a este uma receita para ele proprio... E que, muitas veres, hé abusos dos curadores, especialmente na Europa, onde cles anunciam seus ppoderes de cura, suas qualidades mediinicas, enquan- to 05 médicos formados ¢ com diploma em vigor, esto limitados até mesmo na sua publicidade, especial- mente pelos drgios de controle ético da atividade pro- fissional. E ali se estabelece realmente uma concor- réncia, face ao grande nimero de formados. ‘A Holanda no sente dificuldade em oficialmente reconhecer a vidéncia para o efeito de expedir passa- porte para Dikshoorn Marinus Bernadus com a qua- Iificagho de vidente, ‘O governo holandés reconhecea oficialmente suas faculdades psiquicas (David Klein, O Globo, Rio, 14-3-1972) ndo apenas pela designagao em seu passa porte, como também pela licenga que Ihe concedeu para exercer a sua profissio, David Klein informa que para obter essa licenga, Dikshoorn submeten-se a um exame em que, olhando amostras de sangue em laminas, idemtficou 0 sexo, dade © outros pormenores das pessoas das quais hhaviam sido extaidas. Caleula-se que nessa Medicina Paralela existern 40.000 curadores, na Franca, embora $7.000 exergam sua atividade episodicamente ¢ nada menos que 8.000 devidamente registrados, pagando seus impostos a0, Estado. Mas, repete Denis Jaembar que nao existiriam seniio uns der realmente Sérios. 0s proprios curadores denunciam os estelionati: ios da mediunidade, quando um deles, talvee o mais famoso da Franga, Maurice Messéqué, especializado fem tratamento com hervas ¢ raizes, conta o alcapio que armou aos aproveitadores: “HA alguns anos, enviei, a 800 curadores, uma carta-armadillsa, Declarei 10 {que minha mulher tink win tumor que os médicos Dretendiam ‘operat. Coloquci eno das questSes Que pens voct” Julga que poss atéla com resula= do? Estou pronta a pagar a despsas, Os Tesuleadon me consearmn. 717 dsaconlharam a opera Drometendo acura com pagamento das despesas que fam de 100 2 15.000 francot! (Note nossa! mas ox menos de 200 eruzios 230.000 cruzeivs). Onze so” mente reconheceram que s6 08 crurgioes seriam com: Petntes para o aso" ‘A mediunidade de Eurpedes era poliformae, a tulips de seis dans mantesavase toda na {gama de atividadesfenomenalgicas que iam da cara dos doentes ao wansporte, 20 desdobramento, ete 0 famoso curador francés Mességué nio poderia ‘ransplantar para 0 nosso pais ou para os chamados paises do terceiro mundo onde os médicos ainda so aros, a exigéncia que apresenton para através dela distinguir entre o legitimo ¢ o falso guérisseura apre~ sentacio prévia de um médico, indicando os males do paciente E se essa exigéncia ¢ impraticavel no Brasil dos nnossos dias, imagine-se no comeso do século, no inte= rior de Minas Gerais ou mais precisamente, em Sacra- ‘mento, a 8 de julho de 1876 elevada a condigio de cidade, 12 | Nascimento de Euripedes ‘Quano anos depois, nascia Euripedes, num pri= incito de maio de 1880. jem jancivo de 1907, quando fundara 0 Colégio Allan Kardec, em substituigio a0 Liceu Sacramento, ‘para lecionar, além das matérias comuns, a doutina espirita © astronomia, Eurfpedes ja tratava dos obsedados. © Colégio que era na sua prépria casa, ¢ na qual Euripedes derrubara varias paredes para ampliar 0 saldo de aulas. Ali também recebi os absedados erm agudo, essa circunstincia abrigos-o.a construit udeira cela ma cori Euripedes, teve ocasio de observar: facilmente, ansportando-se, em rio, & distancia. Quantas veres, em aulas, dando, cle &s nossa ligBes, pendia a cabeca, eala em sono ¢ crmaneeia assim por alguns minutes. Era por Oca ‘da Primeira Grande Guerra ¢, com horror, desere- via 0s combates de que tinha sido testemunha" 18 Desdobramentos do Padre Anchieta Observes, como curlonidade, o que nos (conta do dos desdobramentos de Joxe de Anchieta Algumas vers seu esprit se ausentava do corpo, transportado a outros lecais,conforme acorre, cra feita quando pregava em Itanhacm, sqgundo desreve 0 padre José da Frot Cent | Anchieta, no puilpito, na véspera da festa de Nossa. | Sentra da Conericto, pareia desmaian © 0 corpo | pendeu' como se forse despencarse 20 cho -Aasistncia angustiuse, mas, logo em seguida, | Ievantou ele 0 busto, explicando: “Quereis saber as | meres da Virgem: Pois ainda agora voliou a asst a tum devora sua que a tina chemado; por sinal que ttaz 0s vestidos umedecidos de orvalho™= ‘A4 de agonto de 1578, encontrandosse em Berio: entre 0s Indios Miramonis, demonstra. grande triste, Indagaram-no do motivo e Anchietexplicou: | nests dias se preparaim grandes Uabalos pata © j mando Aquele dia marcava acatstofe de Alecer-Kiit, «© tantos meses 0 separavam de qualquer notcin do 6 “ es local dos acontecimentos. Informa Rocha Pita na His. ria da América Portuguesa (X, 1, It, n° 70 citado pelo padre Lufs Gonzaga Cabral): “Na mesma hora ‘em que nos plainos de Alcacer-Kibir se consumava a grande catistrofe do exército de D. Sebastiio, estava José de Anchieta na Casa do Espirito Santo, ¢ sendo- “Ihe revelada, em visio, esta uagédia, saiu da oragio como fora de si, exclamando com intimos suspitos ¢ copiosas Lagrimas, que se perdera a batalha, ¢ com- putado depois pelas noticias © tempo, foi no mesma dia e hora que ela se dera’’ Fossem os desdobramentos ou as visbes do mé- ‘dium Euripedes e no de Anchieta ¢ as condigaes de imterpretacio teriam sido outras, com realmente ocor- eu com 0 jesuta consagrado pelos seus “milagre”. (© processo-crime contra Furipedes Barsanulfo co- ‘mega'em 1917 © a sua especificagio era de “Medicina Tegal”, © que cortespondia ao “exerccio ilegal da me- dicina © “Cartétio do Crime” registrou a demtincia ofe- recida pelo promotor piblico Taneredo Martins aos 15 de fevereito de 1918, datada de Uberaba: “Bxmo. Sr. Juiz Municipal do Termo de Sacra ‘0 Promotor de Justiga desta Comarca em cumpri- ‘mento aos deveres de seu cargo ven denunciar a V. Excia. 0 seguinte fato criminoso: — 0 Sr. Professor Furipedes Barsanullo, resi- dente na sede desse Termo, & sectirio do espiritismo ¢ © pratica, francamente, ali, Esse fato, porém, nao ineidiria em nenhuma dis- osicio da lei proibitiva se o Sr. Barsanulfo nZo prati- casse 0 espiritismo exercendo como “médium” que diz Ser ¢, por meio dessa “mediunidade”, a medicina em ‘quase todos os seus ramos, segundo se verifica dos depoimentos constantes do inquérito policial junto, sem estar babilitado na forma das leis ¢ regulamentos " ‘em vigor, © St, Barsanulfo faz imtervengdes cirin- ‘gicas, ministra remédios internos e externos ¢ aplica passes" inculcando a cura de moléstias curéveis ¢ incuraveis,a fim de fascinar ¢ subjugar a eredulidade piblica Assim, segundo 0 depoimento de fls., por esses processos, ¢ desde abril do ano findo de 1917 submeteu 8 seu tratamento 0 Sr. Coronel Ananias Arantes, in fringindo, ainda, 0 disposto nos arts, 285 ub. 241 do Dec. n.* 2738, de 11 de janeiro de 1910, que prescreve as formalidades a0 exerclcio da Medicina, como 0 denunciado assim procedendo cometeu fs crimes prescritos pelos ars, 156¢ [37 do Od. Penal combinados com o art, 66 § 1° do mesmo Céd. esta Promotoria oferece contra ele a presente dendincia pa. 120 fim de recebida ¢ julgada provada ser punido com © grau médio das penas dos arts. em que incorreu, nat auséneia de agravantes, Requer a bem da acusaglo que se facam as dili sgéncias legais e principalmente que sejam intimados —o denunciado para vir, sob pena de revelia, & pri meira auditncia desse Juizo ver-se processar¢ a8 teste- munhas abaixo arroladas pata vitem, sob as penas da lei, depor, observando-se 0 processo estabelecido no ANI, O82, § 1 9, do Dee, n° 1.987, de 29 de agosto de ROL. DE TESTEMUNHAS Manoel Correa Lyndolpho Femandes 3! — Anténio Goncalves de Araijo 41 — Maximiliano Cliudio Diamantino e Silva 58 — Ananias Arantes — Residentes om Sacramento, Uberaba, 15 de fe- vewiro de 1918. Tancrwlo Martins, Promotor da Justia 18 A wtangiiilidade de Euripedes | ‘A Justica passava recibo © ia procurar provar exatamente que Euripedes Barsanulfo era espitita ¢, ‘como médiwn — ou através de sua mediunidade, re- ceitava remédios, eratava doentes, praticava cirurgia © aplicava passes! Euripedes jamais poderia contestar essa dentine A pritica de sua mediunidade o levaria quando ouvido no inquérivo policial, que era peca prepara- \bria da agio penal, as 19 horas do dia 22 de outubro de 1917, pedir permissio a0 Delegado Arnalde Alencar Arup par eiarse, preocupado que estava com os © delegado, com os olhos fixos na sua valise, pergumntou o que Eurfpedes ira fazer quela hora, pois 0 interrogatério comegara is 7 da noite, ¢ prosseguiria com a ouvida das westemunhas indicadas pela’ Pro Furipedes niio tergiversou = Vou ver meus doentes ‘Quem promovera a representagio visando 0 pro- cess0 contra Euripedes? O "Circulo Catélico de Ube aba", pelo seu presidente, 19 Ces 4 © préprio Juis de Direito da Comarea de Ubera- ba, Dr. Fenando Mello Vianna, aos 21 de outubro de 1917, juntando, o exemplar de n.° 2.020 do jornal Lavoura e Comércio, do qual constava a matéria Scita Maldita” consiante da secio “Boletim” do CGY. oficiava ao Delegado de Policia local Resumia as acusagées contra Eurfpedes Barsanul- fo, eanscrevendo o seguinte techo da referida publi- cacio: “0 Espiritismo & condenado pelas leis bisicas do Brasil, achando-se incurso nos arts. 156 e 157 do C6: digo Penal”. Como, pois permitir, tolerar que 0 Sr. Euripedes Barsanulfo, um vesinico reconhecido, man: tenha na cidade de Sacramento uma escola pit para ensinar o Espiritismo a criangas, inocentes ¢ i dfesas, inoculando-thes na alma pura o germem da oucura € do suicidio? % Justificava, ainda, no oficio ao Delegado de Poli ia, no ter agido diretamente, porque a deniincia levada ao seu conhecimento no estava capitalida no Cédigo Penal, citando a protegio do artigo 72, § "da Constituigio Federal a todos os credos ¢ eultos, além de assegurat a liberdade limitada apenas pelos bons costumes © pela Seguranga da Satide Publica Acrescentava, a seguir: "A seita espirita cxjos principios individualmen: te nfo adoto (confesso-0 com o desissombro ¢ frat (queza peculiares 2 meu feitio), cem, todavia, em mim | como Juiz, fielaplicador das leis, sem preacupagdes de conseqiiéncias, a mesma garantia que a legislagio ou. torgou a todos na Carta Constitucional No seu entendimento, o antiga 157 do Cédigo Penal somente poderia ser aplicado quando a pritica espirita apresentasse fins lucrativos ou fatos Aérios da Saude Pablica one tere Pee Tee Pcrry rare 21 | Movimento em favor do médium | | | | ‘Mas 0s adeptos de Euripedes, seus companheirs, (os curados com seus remédios, os cirurgiados, os pa rentes dos assiatidos ¢ eles préprios ja se movimen- tavam em favor do médivin. © proprio Juiz a0 representar a0 Delegado dl Policia, ndo se furtou a juntar ao oficio um “Protesto que the foi enviado contra o procedimento penal que se pretendia contra Euripedes, e no qual se lia: “Os morféticos, os tuberculosos, os loucos e cente- nares de portadores de moléstias vitias — que repug nam 0 autor do Boletim do Circulo Catélico, si0 aqui recebidos com desvelo ¢ carinho e caridosamente trata- dos pelo professor Barsanulfo. Sera isso um crime? A expressio “‘ratados pelo professor Barsanulfo' foram griladas pelo proprio Juiz Fernando de Mello Vianna no offcio manuscrito a0 Delegado de Policia, Teria tido 0 Juiz a intengho de valorizar oaspecto umanitirio do atendimento de leprosos, tuberculo. 05, ec., ou, simplesmente, de agravarlhe a situacio comprovando a pritica considerada ilegal da medi 23 Por isso mesmo observou que ali poderiam exis- tir as figuras criminosas, pois “o doutrinar, ¢ 0 teu nirem-se os adeptos da seita, nfo incidem na férmula da lei penal brasileira” Recomendando a atencio para acérdio do Supre- ‘mo Tribunal Federal, requeria abertura do inquérito ‘observando que o fazia “para que nfo se invoque as autoridades uma inagio criminosa, fugindo ao cum primento do dever", Impressionara, no entanto, a0 Juiz Fernando de Mello Vianna o grande niimero de pessoas respeitiveis que se colocavam ao lado de Euripedes, assinando documentos a seu favor. Por isso mesmo, no final de seu offcio, xecomen- ava: “Nestes fatos, porém, em que se envolvem pes- soas respeitiveis das localidades, como vereis pelos impressos juntos, 6 conveniente que os funcionarios, ‘que vivem no mesmo ambiente, sejam afastados, para ‘que tudo se apure € aclare com a imprescindfvel im parcialidade e sem paixdes” 4 | A ira do Circulo Catélico Uberaba 2 —___J ‘O'Boletim do Circulo Catdlico de Uberaba” que provocou 0 oficio do Juizao Delegado de Policia e,em conseqiitncia, © processo-crime contra Euripedes Bar- sanulfo, transcrevia um acérdio do Supremo Tribu nal Federal no Processo de habeas-corpus impetrado pelo farmactutico Francisco Nery dos Santos em 1916. Este, quando veraneava, naquela época no municipio de Santa Maria Madalena, no Estado do Rio de Jane ro, promovera algumas sessbes espiritas, sendo obsta do pelo Delegado de Policia a prossegui-las. Juiz local negara-Ihe a ordem de habeas-corpus € Francisco Nery dos Santos recorreu a0 Supremo Tribunal Federal perdendo o recurso por unanimida: de, tendo sido relator o ministro Pedro Less, 0 Circulo Catético de Uberaba pediu pelo jornal Lavoura ¢ Comércio daquela cidade a proibigio das sessbes espiritas, alegando que a Constituicio Federal rio garante o exercicio do Espiritismo. Mas, niio ficou apenas nessas preliminares, Foi agressivo 0 documento, insultando: “O Espiritismo é uma seita abominével; O Espi- ritmo € a fone, mais perniciosa dz loucura; 0 % iw © maior mimero de Ioucos encarcerados nos manicé- ios vem do Espiritismo; ‘0 Espiritismo ¢ causa freqiiente dos mais horren- dos suicidios: © Espiritismo 6 origem dos mais bitbaros assas- © Espiritisme 6 condenado pela legislagio de _quase todos os paises da terra; (© Expiritismo é condenado pelas leis bisicas do. Brasil, achando-se incurso nos arts. 156 ¢ 157 do C- digo Penal”, Partindo dai, 0 Circulo Catblico de Uberaba per sgunta como tolerar as priticas de Euripedes Barsanul- fo, alegando que tudo isto é “o etmulo do despro- pésito, do relaxamento ¢ do desrespeito as leis” ede a0 Juiz Fernando de Mello Vianna, catslico reconhecido, que “se compadeca das infelizes criangas {que se acham nas garrafas desse envenenador de almas ‘que se chama Euripedes Barsanulfo”, eque "liberte as Criancas dos ardis de um feiticeiro ignorante € no permita que a politica se imiscua nesse negécio, aco~ bertando’o delito, pois o espiritismo em Sacramento, além de um viveiro de loucos, € um viveiro de elei- E nio deixaram de advertir 0 Juizde que ele, um teria que dar contas de seus at0s a0 Onipotentel A histéria do processo contra Eurfpedes merece ‘exame de maior profundidade, embora tenha chegado, a seu termo sem decisio do mérito quanto 20 pedido formulado na dendncia, © proprio Euripedes havia ditado a Antonio Pin- to Valada algumas observacSes para que este as ut zasse oportunamente na sua defesa. 26 di | Reconhecia Euripedes, nessas anotagdes, que ele cra visido exatamente em razio do exercicio do Espi ritismo como meio de curar, de aliviar, de consolar & ssa citcunstineia ficava comprovada pelo fato de ter sido 0 denunciante exatamente 0 Circulo Catslico de Uberaba, Observava que o Espiritismo sobre ser fato na tural, ciemtifico « rigorosamente verificado por mi Ihdes de homens de responsabilidade moral ¢ intelee- tual € também religio, ou antes a ciéncia das te sides. Anotava a reagio dos varios credos, especialmente © Catolicismo que nio se limitou 2 critica ou x0 Alebate, indo atéa violencia, Nao se contentando com o fato de ter sido 0 Espiritismo repudiado com a dec ragio de outta religio como oficial, ainda queriam os ‘se do proprio Estado para exercer urna aio coercitiva, visando cercear-Ihe a divulgacio. Acessa altura, dizia: “Posto, cis-me como ru por cle apontado aos tibunais pablicos". Sustentava o mesmo direito constitucional ao Es- piritismo, de liberdade, respeito, divulgagao como Eiéncia, como religizo, como fato natural, com base no antigo 72, § 3° da Constituicio da Repiblica E sublinhava com energia acreditar ser passada & época em que somente a Igreja de Roma era dado 0 privilégio da protecio oficial A caridade Gisica, moral e intelectual, lema do Espiritismo, nfo se distanciava do texto de S. Matheus (Cap. X,n. 8): “Dai a sade aos doemtes, ressuscitai os ‘mortos, curai os leprosos, expulsai os deménios. Dai de graga 0 que de grace recebeste”. ‘Sugeria ao Dr. Vallada indagar se os espirtos que através dos tempos, servindose ou no de homens ‘como seus intermedidrios no divino ministério do ali vio, da cura do corpo ¢ da alma abandonaram sua mobilizante missio, Negando 0 sentido de milagre as curas fisicas ¢ morais, toda ver que 2 palavra seja considerada como ‘uma derrogaglo da lei divina, anotava 0 testemunho da quase unanimidade da populagio sacramentana, ‘«E 0 médiwm passivel de penas por se encontrar no exercicio de um direito, ou, mais do que direito no desempenho, na realizaco do belo refletindo-se no bem? Servirse-d 0 médium sincero do Espiritismo para auferir outros proventos, além do prazer intenso ¢ Intimo de restituir & familia 0 seu chefe, 20s filhos a ‘mic, aos amigos seu amigo? Poderd ele exigir paga, 2 _gratificagio ou recompensa dos beneficiados pelos es- piritos benévolos, outra que no o exemplo sublime dda arte de exercer a caridade, tio abnegadamente feita pelas inteligencias que veneram o amor?” Face & alegagio de que os métodos empregados por Euripedes cram atentatérios 2 saiide piiblica, por ‘que no condenar-se, também, “como danosa a sade Diiblica, a Igveja de Roma, quando ordena ao sacer- dote, que bem pode estar afetado de toda ¢ qualquer moléstia contagiosa, que na ceriménia do batismo, aplique sua saliva & boca dos batisandos; que man- tenha nas Igrejas pias contendo dgua benta, viveiros de todas as espécies de bactérias microbianas, caus doris, muitas delas, dizer, de varios males que alli igetn os crentes, que ali as depositaram pela imersio das maos € por outros meios, e delas mutuamente se ‘contaminam, servindo-se daquele Tiquido a0 preen= ‘chimento de uma crendice que thes comunicaram; {que para as curasfisicas ¢ morais ¢ sirvam dos santos bleos, das medidas dos santos, das rezas, dos amuletos, dos tergas, das dguas santas, das religuias, das pro: ‘messas rendasas, o 20, 2 Por que nfo conde Tgreja quando, para o restabelecimento da saide ‘ou moral, aconselha aos seus figis a interposicio, a invocacio dos Santos, wrdaderos espiritos, que a ‘ontem apimavam corpos humanos?” As indagacdes de Euripedes seriam elementos de argumentagio para a defesa que niio chegou a pro. duzir-se no’ seu processo, Referia decisdes favoréveis a0 Espiritismo em vac ros tribunais, lembrando que na pratica do verdadeiro Espiritismo nio ha fraude, embuste, subjugacio, fas cinagao da credulidade publica, estelionata, £0 en- sino de ontem, de hoje ¢ do amanha, Nao, no, Euripedes ndo poderia ser classificado entre aqueles embusteiros © aproveitadores Ele eta um médium responsével e, por isso, po- deria mandar perguntar & Justica que 0 julgava “ESTOU PORVENTURA NESSAS REGIOES, (OOLHEU-ME A FARSA? POSSUIU-ME 0 CINISMO, A MALVADEZ? SE SIM, DEPLORO-ME, ENVERGO- NHO-ME DE MIM MESMO, CORO, ABORREGO- -ME E ME REPUDIO: SE TAL £ LEGITIMO, DE- NUNCIO-ME NO COMPUTO DOS PIORES CONSPURCADORES DE IDETAS, DE _CAUSAS SANTAS, NOBILITANTES, SUBLIMES, E ENTRE TODAS SANTA, PURA, PULQUERRIMA, SUBLI- ME: — 0 ESPIRITISMO”, E completaria: HOUVE-SE BEM QUE SE HOUVE, POR. TANTO, DE APONTAR A POLICIA O MEU EN. CARCERAMENTO, PARA MINHA SEGREGACKO DO CONVIVIO SOCIAL — QUE PREFERIVEL SE © FOSSE DA FACE DO MUNDO! MERECE-ME CALOROSOS, VIBRANTES APLAUSOS!” Teriam que ficar bem gravadas suas adverténcias no processo que os eatdlicos moviam a Euripedes, 32 Confissao do crime be Ble desejava que const crime que the imputavarn "Sou médium e nio médica... médium do espi- rito do saudoso € caritativo Dr. Adolfo Bezerra de Menezes,... médium de quem este espirito, como anjo benfazeo, servindo-se, consola, alivia, socorte ¢ampa aa milhares de criataras”, Enquanto 0 apontavam como exercendo ilegal: mente a medicina ¢ de preparar {6rmulas de remé dios, Euripedes recomendava para sua defesa que se dissesse: "No sou exploador da fecunda ¢ enrique cedora mina, isto 6, da profissio e arte de curar e ner da de manipular. Nao exerco 0 oficio da indiistia rendosa dos remédios se assim, sua confissio do 3 “4 Sugestdes para a defesa Mas, estranhiava que existindo a liberdade de cul- to ¢ aredo, em alguns Estados da Federacio, 08 pro blemas se colocassem contra a propria Constituicio Federal. No entanto, nao seria demnais lembrar que o pré- prio Estado de Minas apresentava fato da época, apro- vando lei que dispensara os dentistas da necessidade do respectivo diploma para o exercicio de sua pro- fissdo... De outro lado, embora a lei exija para a ditesio das farmécias a condigdo de farmacéutica formado, nas farmacias das casas assistenciais ou de caridade de Uberaba, Passos, Franca, etc... seus farmactuticos nie sio formados, nem licenciados... A lei, ora a Mei Para sua peca de defesa, Euripedes fer destacar a extrema atengio dos espiritos para com o exame dos doemtes © 0 preparo dos remédios, sendo certo que ‘muitas vezes 0 material adquirido por ele para fa- bricasdo desses reméios, era jogado fora por impres- 35 ivel, por determinagio dos espiritos ou em razio de sua observagio pessoal... Conta-se, mesmo, que preparando centenas ov rilhares de vidros, 0 préprio espirito que ditava as receitas ou que contiolava os remédios, apanhava en- tte 0s varios recipientes j4 preparados, ou outro que apresentasse qualquer erro, nem sempre observado por cle ou seus companbeiros, ¢ separava para repetir 0 preparo! ‘Ao finaligar as sugest®es que pteparara para sua defesa, Euripedes fazia, referencia a “outras razbes! ‘que militassem a seu favor e que seriam acrescentadas, pelo seu advogado. Vale a pena reproduzir 0 periodo antefinal das sugestdes de Euripedes para sua defesa “Serd nocive ou benético © Espiritismo & Saide Pablica? ‘Sacramento bem pode dizt-lo: € benélico quem debela e tem debelado, sem remuncragio, sem sub- vengao alguma, oficial ow no, as varias epidemias {que tim empolgado sua populagio; note-se, por exern- plo, a da varfola, vulgarmente aqui conhecida por Yaricela, que levou, em seu municipio, a0 leito, milha: res de enfermas, 0 quais, cerca de dois mil ¢ qui- ‘nhentos, foram por ele tratados © dele receberam a satide, Frisemos: € deles, & dos éspiritos benévolos, © rio de Euripedes Barsanulfo, quc Ihes é médium, que fs padecentes recebern ¢tém recebido curas, alivios aos seus males” 36 ‘Os passes Relativamente aos passes, as alegagBes sio tio ridiculas, hoje, como eram aquela época, (0 Apéstolo Paulo nos fala da imposigdo das mos (Atos, 8:17-19), Alids, 0 Apéstolo Paulo também se referia, dirigindo-se aos Corintios, ao “dom de curar” . Cor. 129.10 e 28), Recordemos Anchieta, impondo as mios sobre a ccabega dos doentes. a7 POT Joxé Maria Vigueiros Barreto, professor da Uni idade de Madrid, impressionow'se com a descrigao la cura de uma epilética por Anchieta simplesmente tocando-Ihe a cabeg2 com as mios (José Maria Vi guciros Bareiro, Conferdncia. Revista “Brasilia”, vol 1V, Coimbra, Portugal, 1949), Alls, em uma das Cartas de Anchieta, publicada rho volume de suas Cartas Inéditas, prefaciado por Augusto Cesar de Miranda Azevedo, encontramos umm echo significative & pagina 52: "Esta ¢ uma outra que estava doente eram visitadas por nés e uma delas se restabeleceu, apés alguns dias, ¢ pergumtou-lhe a mie como estava, ela respondeu que ia muito bem, € que nio havia que admirar, visto que 0 padte Ihe tinha imposto a mio" A revolta dos sacramentanos A revolta dos sacramentanos era grande € a indig- nnagdo ganhava a Nagio, através de protestos que era dirigidos & Justiga e a0 Circulo Catélico de Uberaba, (s espicitos, evidentemente, no estavarn alheios 4 tentativa de enearcerar Euripedes. Os guias e protetores de Euripedes asseguravan- the justia, porém havia espiritos como 0 que se idemtificava'como “Donatista”, que ha algum tempo viera a ser esclarecido em reunides divigidas por Euri- pedes. Esse espirito fora responsivel por mutias desa- vengas entre casas, centros, familias, etc, ¢ ia época do processo, voltou, manifestando-se através do. mé- dium Mariano da Cunha, @ mesmo que 0 recebera Mostrava-se revoltado com a injustiga dos perse guidores de Euripedes © queria vingarse, jamtamente com outros companheiros. Euripedes explicava-the 2 necessidade do perdio, da compreensio, mas 0 espirito insistia: "N30 posso rometer nesse sentido, pois no me conformarei com 2 injustiga que the fazer 39 AAos novos apelos de Eurfpedes, 0 espiito se retira chorando para no mais comunicar-s. Se tivessealgum dos seus cirurgiados morrido em conseqiigncia da intervencio, sem divida que o pro. testo estar incluido com esses dads. Também no se tem noticia de morte, por exemplo, nas operagies de Aigo. Henrique Magalhies (Revista Estudos Psiquicos, Lisbou, "10, 1976) lembraestatistica norte-americans, de 1100 mortes em um certo niimero de operagbes hhormais que menciona, enquanto Arigé faendo mi: Thares de intervengies einirgicas nfo apresenta um $6 desenace No entanto, no descansaram os perseguidores de Arig6, enquanto no o levaram a cadeia, E-com Eurf pees todas as tentativas foram feitas ee Fr | hi il | : il | Wc al A cura nos dias atuais com parecer da OMS. ‘as, nos nowos dias, a propria Organizagio Mundial de Savide resolveu reconhecer a atividade dos curadores, entendendo que “o curandeirismo deve ser mais valorizado” (O Globo, 3-1-1976) A informacio era completada no despacho que provinha de Washington: “Faltam servigos de saiide Dficiais em regides rurais dos paises em vias de desen- volvimento ¢ 0s servigos locals existentes so pouco ttilizados, j4 que a populagio recorre aos curandeiros f mostra preferéncia por eles. Diante dessa consta- tagio, a Organizagio Mundial de Sadde acha que deve aproveitar melhor o trabalho dos curandeiros. A cita- da organizagio diz em recente relatério que ha int= meros puarticipantes do curandeirismo na Asia. So mente na India, hé mais de 300.000, assinala 0 do- Cumento. A organizaglo sugere que estas pessoas rece ham uma formagio methor ¢ fagam um intercimbio de conhecimentos com os médicos. Segundo a citada entidade, os médicos podem aprender muito com os curandeiros, no s6 em relagio 3 terapia, como as doencas e o modo de tratar dos a doentes. A orgzinizacio observa que os servigos ofc de saiide no demonstram nenhurma pressa em recor hecer e valorizar a contribuigio dos curandeiros 40 bem-estar fisico ¢ sobretudo psiquico das populagoes, tendendo mais a condenar os sistemas tadictonais do quea colaborar com cles. Ao¥ OO A revista Estudos Psigquicas (n® 12, desembro, 1976, Lisboa) transcreve, ainda, a seguinte informa: Go: na Suiga, na pequena cidade de Herisau, com cer- ‘ca de 14.000 habitantes, ha uma curiosa e estranha lei, ‘que ja completou cem ‘anos, segundo a qual todos os ‘curandeiros podem exercer livremente a sia prolissio na cidade, sem qualquer diploma, Essa localidade, apenas a cinco horas de Genebra, € ponto quase obri gatorio part muitos turistas que visitam o pais. O Dr, Robert Bannesman, falando hé pouco em Herisau — ‘conclui a nota da revista — foi o primeira ‘que hat necessidade em transferir para a medicina po- pular-uma parte da soluco dos problemas hos paises em vias de desenvolvimento, pois, caso contrario, no ano 2.000, 80% da populacio desses pai- ss niio tera assiténeia médica alguma, 8 ‘A repercussio do processo E dificil imaginar a repercussio do processo con- tra Euripedes, tendo em conta, aquela época, especial- mente, a necessidade de assisténcia de satide e a ausén- cia quase total de médicos, farmaceutiens, ¢ mesmo de remédios... Robert Coit, no Didrio de S. Paulo teve ocasio de comentar a citiosa decisio da Organizagio Mun ial de Sai, observando que “como 05 paises alti ‘anos nio poderio dispor de equipes de médicos regu- Jares, num tempo relativamente breve, é necessitio ir accitando solugdes que até agora foram julgadas pou- ‘co ortodaxas, como — por exemplo — a inter vengio na cura de enfermos — de bruxos ou parteiros ttadicionais — explicou recentemente o doutor Hans Mahler, ditetor da Organizagio Mundial de Saide ‘Ainda examinando o problema sanitério na Atri ca e suas relagBes com as tradig6es populares, o autor observa que “pode acontecer com a maior facilidade deste mundo, que um doente internado num hospital f entregue aos cuidados de um médico verdadeiro, se ‘eja obrigado pelos familiares a tomar is escondidas 45 tums drogas aprontadas pelo curandeiro",relacou um médico curopeu que ja trabalhou num hospital de Dakar, ‘0 Ghana, por exemplo, admite diplomas dos cha- ‘mados médicos indigenas (Native doctor), revelando ue a medicina tradicional nd deve desaparecer, pois 9 africanos ¢ muitos outtos povos acreditam na vit- tude das ervas e nas recomendagies dos espiritos. Por isso mesmo, cita-se a circunstincia de ter a cascade quina ter sido usada até o século XIX, antes que Pelletier ¢ Caventou descobrissem 0 quinitio, en. quanto a rausvoifa, planta indigena africana, fol usa- da como extrato, antes do uso terapeutico dos alea- Idides e principalmente da teserpina, 0s jesuitas da 6poca de Nobrega e Anchieta che ‘gavarn a0 campo de trabalho do Novo Mundo para as ‘sangrias, 0s partos, os curativos, as cauterizagdes. ‘Anchieta lancara-se aos veeursos nativos, 4 virtuo- sidade medicinal dos mandacarus, cragoatés, carobas, ananases, enfim, flora exuberante do Brasit que iria ‘ganhar nome inclusive em Portugal, onde ficaria fa- mosa a receita da “"Triaga Brasilia” que continhsa nada menos que 21 raizes brasileras. Preparava Anchieta 0 yetecope para a tosse ea ex- Bretoraco, enguanto usava a iperacuanh como v0- mitico ¢ antidian das epidemias, exatamente como ocorria com Eurl= pedes. Euripedes orientara bem sua defesa, porque colo- cara sempre nas sugesides que redigi, a origem divi- nna da cura ¢ a sua participagio simplesmente como intermediario dessa vontade. ‘A faculdade curadora est toda ela vinculada 20 apostolado do proprio Cristianismo, Era Jesus curando e ensinando a curar: "curai os enfermos...." “limpat os leprosos” (Mateus, 10:8), ” As leis e os casos mediianicos a Na Gpow de Euripedes ainda vig nal de 1890 que considerava crime, em seu artigo 157 ‘praticar 0 espiritismo,a magia eseus sortilégios, usar de talismas e cartomancias, para despertarsentimentos de édio ou amor, inculcar curas de moléstias curdveis ou incuraveis, enfim para fascinar e subjuger a credu- lidade pablica”. ‘Com 0 Cédigo Penal de 1940, a palavra ” ‘ismo” foi excluida do texto, acrescen tigo 284 que tratou da matéria, a proibicio de “gestos palavras ou qualquer meio. (O texto parecia objetivar diretamente o passe espi- rita, embora o legislador ao retiar do texto do Cédigo anterior a palavra espiritismo houvesse admitido que 9 proibieio feria, diretamente, 0 preceito constitu: ional maior de libadade de credos € cults. Com base no novo texto, no entanto, os processos contra médiuns prosseguiram, embora a jurisprudén- a seja, em geral, favorével 4 pritica eapirita na cura de doentes € no tratamento espiritual, quando no exista qualquer tipo de remuneracio direta ou indire- 9 © "Caso Arig” 6 tipico e alcanou ripercussto, internacional John G. Fuller escreveu um livto Arigd Surgeon of the Rusty Knife, editado por Thomas Y. Growell Co., New York, em 1974.¢ que foi condensado na seqio de livros da revista Selegio do Reader's Digest com o titulo Arigé, 0 cirurgio da faca enfernjada 50 A prépria revista norte-americana © livto acentuou: “A Anestesia e a anti-sepsia so pe- dras fundamentais da cinurgia moderna, mas durante as décadas de 50 e 60, sem usar nenhum destes auxi- liares, um homem sem instrugio, conhecido pelo ape- lido de Arig6, realizou, a0 que se sabe, cemtenas de ‘opetagées numa cidade do imterior do Brasil. Consta que seus doentes pareciam no sentir dor e foram recuperados de doencas desde cataratas até canceres ‘incuréveis'”” John G. Fuller, autor de Fever!, publi- cado em Selegdes em agosto de 1974, estava intrigado com 0 que ouvia dizer. Passou a recolher as informa 6es, por vezes estranhas e assombrosas que havia so. bre o homem e acabou concluindo: “nenhum trabalho de qualquer outro dos chamados citurgides psiquicos {i to amplamente documentado quanto ode Arig Os direitos do livro e das filmes feitos pela equipe de médicos americanos em Congonhas do Campo fo ram adquiridos pelo ator Alan Arkin para 0 preparo de um filme sobre o médisum, A mediunidade de Euripedes, no entanto, nio cstava timitada 20 watamento de doentes, & cura, 3 irurgia que também exercitava. Tratava-se, além de uma mediunidade polimorfa, de uma cultura excep: cional dedicada & atividade escolar ¢ em contato per ‘manente com as maiores figuras da época no campo do psiquismo, da metapsiquica, do espiritisimo, Caltura excepcional de Euripedes Para dimensionar sua vida no Taterior de Minas Gerais suas atividades culturais, bastaria mencion: suas aulas de astronomia, despertando o interesse ea mesmo 0 entusiasmo de alunos pela matéria, confor- me nos documenta seu ex-aluno Thomar Novelino, ainda hoje ditigindo a Fundacio Pestalozai,em Fran” ‘ea, ¢ montando naquela cidade paulista um Observa- {rio para a formagio de especialistas, reminiscéncia ligoes de Euripedes despertou com a planetirio, 54 \Cédigo Penal de 1969 e sugestées paral © modelo brasileiro ‘© Giktigo Penal de 1969, sancionado pelo Decrew Lei 1004, de 21 de outubro do mesmo ano e que deve tia entrar em vigor a partir de primeiro de janeiro de 1970, até hoje permanece com sua vighncia prorro- ada. Essa prorrogacio de vigencia, se deve ao fato de ter sido o texto mal discutido e volado apressadamen: te,0 que impediu o aperfeigoamento redacional e mes- mo doutrindrio do Estatuto Penal, obrigando, todos (5 anos desde 1970, a aprovacio de uma lei adiando para 0 ano seguinte a sua entrada em vigor: Mas 0 novo Cédigo manteve as mesmas restrigdes do texto de 1940, praticamente reproduzidas nos seus artigos 316 e 317: “Art, $16 — Inculear ou anunciar cura por meio. infalivel, Pena: 3 meses a um ano de detencio paga: mento de cinco a quinze dias-multa ‘Ant, 317 — Exercer 0 curandeirismo: 1 — pres- crevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, ‘qualquer substineia; II — usando gestos, palavras out {qualquer meio; III — fazendo diagndstico, Pena: de- tengio de 6 meses a 2 anos. Parigrafo Unico: Se 0 crime é praticado mediante remuneracio, o agente fica sujelto ao pagamento de cinco a quinze dias- A jurisprudéncia, sem duivida, vai continuar sua tarefa pioneira, antecipando-se 3 Iegislacio ¢ em con- sonincia com 0 dispositivo constitucional que se cho- a.com a legislagio penal, quando preceitua (art. 158, 59): "E plena a liberdade de conscitncia e fica assegu rado aos rentes 0 exercicio dos atosreligiosos que nio contrariem a ordem piblica e os bons costumes" Nio podendo o legislador restringir onde a lei maior no restringiu, o texto do Cédigo Penal de 1969, igualmente, nio se ateve As Unicas excegbes previstas nna Constituigio, ou seja, a ordem piiblica e as bons costumes O exercicio ou a pritica de credo que niio ofenda a ‘ordem piiblica e os bons costumes, no pode ser impe- dido. O que pode e deve ocorter é a acio policial ¢ judicial contra todasaqueles que, dizendo-se professar © espiritismo ou qualquer outto credo religioso, 0 utilize para locupletar-se ow beneficiar terceiros, Essa tendéncia evolucionista da pritica medidini ca em favor de doentes pode ser bem localizada nurm trabalho de autoria do promotor pablico Djalma Bar- eto — Parapsicologia, Curandeirismo e Lei, da Edi tora Vous, 1972 © amor, citicando a esdrisxula repetigao no tex: to.de 1940 (pg. 36), observou: "Com surpresa, porém, 6 legislador de 1940 voltou a dispor sobre a espécie, procurando ultrapassar as criticas formuladas, sob aspecto formal, no regime anterior, tomou a sia tate fa de definir 0 que considerava como curandeirismo, 56 [Nio foi igualmente feliz em seu desideratum, a0 conceituilo nas rts modalidades, e sancionar 6 ato de: a) prescrever, ministrar ou aplicar, habitualmente qualquer substineia; b) usar gestos, palavras ou qual- quer outro meio; ¢c) fazer diagnésticos (art. 284). Pre~ feriu colocar-se ein posiclo impar — nada de digni ficante — no concerto mundial. Nenhum pais prevt a hhipétese como crime em sua legislacio, havendo ape- nas disposices algo semelhantes nos Cdigos do Peru eda Argentina, que se repetem’” E bem se fixa quando destaca (pg, 116): “Resulta inegivel que a fraude deve ser reprimida, também esse setor de curas. Como descobrir, porém, se 0 ccurandeiro dispde, ou nfo, de faculdades curativas, a rio ser pelo sintoma significativo do afluxo popular? Permitimo-nos sugeris [drmula que, a par de possibi- Titar a utilizagio do potencial de beneficios & humani dade, localizado no curandeirismo (mesmo nao inclui dos os paranormais que se escondem, & vista da pres: Slo social) ainda traria em sia vantagem de identificar 6 falso curandeiro, o aproveitador das misérias espe- rangas dos angustiados" E assim sugere o promotor Djalma Barreto: “De de 0 momento em que alguém pretendesse afirmar-se paranormalmente dotado, deveria submeter-se a testes formulados por comissio composia de méicos ¢ pa- rapsiedlogos, no sentido de ser constatada a real exis: tancia de seus dotes, Para essa faixa de suas faculdades extraordinitias, se confirmadas, ser-lhe-ia entio per- mitido o exercicio, até profissional, das provadas po- tencialidades, sempre em colaboragio com médico ha- bilitada” Essa formula para uma solugio brasileira nos levaria, na pratica,a distinguir os legitimos € os falsos cusadores, ou seja, 0s verdadleiros médiuns eo farsan tes, 08 aproweitadores, os estelionatitios, Mas, ainda af o problema, no nosso entender, nio cesaria penalmente coberta, pois o que & importante, também, € impedir que 0 médium curador use dessa faculdade para obter proveito para si ou para outrem, A simples existéncia desse dom, mesmo compto- vvado através de pesquisa médica, no deveria ser sufi- ciente para garantr-Ihe sew exercicio. Tais facul dades no podem afastar-se do preceito “dai de graca 0 que de graca reeebeste”, claramente afirmando a fonte divina da mediunidade curadora De outra parte, a assistincia de um médico a0 lado do médium scria totalmente impraticavel, espe- ialmemte em regides onde eles mais exercitam suas faculdades, em distantes rincdes do interior do pats, onde eles s30 excepcionalmente tteis exatamente por. que por ali nio existe um médico e as vexes, nem ‘mesmo, um farmactutico, | Consultas por carta € 0 proceso jurisprudencial ‘A atividade de Euripedes Barsanullo em sacra mento no se limitava ao atendimento direto dos oentes, mas nas consultas formuladas pelo Correia que ascendiam a centenas de milhares para pessoas residentes em cidades ou vilas sera nenbuma possibi- lidade de consulta médica. Por isso mesmo, os remé- dios manipulados por Euripedes eram remetidos sem qualquer despesa para o paciente Vale, no entanto, acompanhar 0 progresso juris prudencial com algumas decisdes dos nossos tribus O acérdio publicado na Revista dos Tribunais (n, 804, pg. 498) decide que ‘no exercicio de curandeiris ‘mo, em qualquer de suas modalidades, pressupe-se existéncia do dolo, isto 6, desejar o agemte o resultado ‘ou assumir o isco de produri-lo, 0 que nio pode acontecer com o individeio mediunizado. Este, no esta do de ‘trans’ acha-se inconsciente e assim no pode- 14 ser responsabilizado por agGes praticadas, & sta revelia, pelos espiritos que nele se incorporem A decisio ja & um passo, pois reconhece uma ‘excludente de criminalidade virinha da violenta emo- ‘Gio, mas ignora as varias escalas da mediunidade que pode ser no apenas com a posse totalmente incons- iente do médium, como pode ser de semiconsciéncia, de psicofonia, de psicografia também semiconsciente fou até mesmo intuitiva Embora no Supremo Tribunal Federal, em 1958 (Rec. Ext, 38.846, de Minas Gerais, relator min. La- ayeue de Andeada — Revista dos Tribunais (310-746) se tna decidido que "qualquer prinefpio de crenga a servico da pretendida cura de doenga é nocivo & satide fisiea e moral do povo e, portanto, consticui crime 1 de curandeizismo. Varin entre as decisdes revelam a disposicio de aprowitamento des fculdade em beneicio proprio Ji Galdino Siqueira (Diveito Penal Brasileiro, Par- te Especial, pg. 177) citado por Sady Cardoso de Gus- milo no Diciondrio Enciclopédico do Direito Brasi- {eiro, condiciona o crime a pratica grosseita: "Galdino ssinala que 0 Cadigo no oferecia critérios 1 cracterizagio do que seja curandeiro, donde o terse de recorrer a9 conceito vulgar ow comum, ot s¢ja: ‘como o individuo que, sem ter conhecimentos médicos, ocupa-se em curar, fornecendo ou prescre= vendo remédios, em forma, em regra, grosseira’.” Muitas decisdes absolutérias em $0 Paulo ¢ em ‘outras unidades da Federacio procuram apoio na falta de habitualidade dos tratamentos pelo médium, posto, {que em geral 0 processo que chega ao Férum cuida de lum caso isoladamente, sendo raros os que como os de Euripedes on de Arigé que envolviam de uma maneira getal o atendimento de varias pessoas, num enquada- 0 mento penal que ja vinha reforcado pela habituali dade. E exemplifiquemos com 0 Acédio proferido nos autos de Apelacio Criminal n. 63.647, da Comarca de So Paulo (Revista dos Tribuneis, n° 462, pgs. $89 390, abril de 1974). O réu, condenado pelo Juiz singu- lar, apelou para o Tribunal e este o absolveu, desta- ‘cando que "nio ha falar no delito de curandeirismo, se no provada a sua habitualidade”. “E assim decidem, por no se achar configurado ‘em seus extremos tipicos 0 delito do ant. 284, n. Il, do CP, visto falar na sua composigio juridica, o le- mento da habitualidade, imprescindivel para a estrux turaglo do deliro de curandeirismo", segundo texto do referido acérdao. Mas, so mesmo tempo, 0 proprio texto do acbriiio absolutério informs: "De acordo com a dentincia, vie tuba o apelante:exercendo o curandeirismo € no dia 19-9-1970, mediante massagens nas vias nasais, ‘ope rou’ Natalia da Conccigio Lobo, livaandora de costu- rmeiras dores de cabega’ (0 16x se identificara como médium espirita ¢ a massager curadora fora feita durante uma sessio espi- rita, mas segundo as testemunhas, nenhurm pagamen- 1 ¢ra feito a0 ru Em 1970, a Secretaria de Satide do Estado de S. Paulo expedira dois decretos-leis (211, de 30-3-1970 ¢ 52.497, de 21-7-1970). © artigo 497 do Decreto 52.947, de 1970, determi- nnava: “art. 497. E vedada, quer nos estabelecimentos destinados & assisténcia a psicopatas, quer fora deles, pratica de quaisquer atos litingicos de religido, culto fu seita, com finalidade terapeutica, ainda que a titu- lo filantrépico ¢ exercida gratuitamente ‘0 decreto proibia, inclusive 0 passe 6 Hospitais espiritas mais eficientes na recuperagio de doentes mentais ‘A realidade, porém, se incumbe de invalidar os preceitos formais da lei divorciada dos fatos ¢, em conseqiitncia, vai ficando apenas no papel, mesmo porque a propria administracio na qual tais decretos foram assinados, acabou redistribuindo aos hospitais psiquidtricas espiritas o maior ntimero dos psicopatas ue se encontravam recolhidos ao Hospital de Franco da Rocha. E a prépria administragdo veio, depois, a pliblico, confessar que esses hospitais espiritas foram (05 que trouxeram os melhores indices percentuais de recuperagio dos doentes mentais, (© quadro se renova em épocas ¢ lugares 0s mais diversos, porém o tempo demonstra a precariedade das Teis que mio atentam para a origem divina das facul dades mediiinicas, quando deveria apenas cuidar dos abusos verificados com o seu uso, ou melhor, do apro veitamento lucrative da mediunidade, do seu desvir tuamento pela percepcio de qualquer vantagem pelo ‘médium ou por terceiros. Mediunidade receitista e aco ‘cirinei ‘Quando Euripedes (61 qualifieada ¢ interrogado. fem Sacramento era o mesmo médium que em qual- ‘quer época ¢ lugar se apresenta na tarefa fraterna da assisténcia ¢ do auxilio sem qualquer pretensio de Iuero ou vantagem, De fato, ao quaificarse, 20s 22 de outubro de 1917, na presenca do Dr. Alencar Araripe, Delegado de Policia © do escrivao, ele se declara natural de Sacra ‘mento, tendo 87 anos de idade, soltiro, professor € sguatda-livtos, ali residente, sabendo ler ¢ escrever. Informa a ata dos rabalhos que “em ato continuo {oi inwrrogado sobre’ os fatos constantes de {s.”. ‘Como Euripedes respondu as perguntas que Ihe foram forruladas? Primeiramente (fis. 9 do processo) “que munca cexerceu a medicina, e nem exerce, ¢ sim a mediuni- dade receitista, por intermédio da qual prescreve 0 cspirito de Adolfo Bezerra de Menezes, medicamentos a quamtos necessitem e procurem, os quis sio gratui- tamente e sem a minima remuneracio, nem pedidos ‘ou exighncias de gratificagio, prodigalizados a todos”. 65 Ainda as perguntas do Delegado respondeu que para o aviamento das suas receitas, tendo adquirido e adquirindo para 0 seu uso drogas, empregaas 20 avia- mento de oucras destinadas a outros enfermos, 0 que significava aos doentes necessitados que 0 procurs Mas no negou, também, a aio cindrgica, esa recendo “que acompanha o espirito do Dr. Bezerra de Menezes, nas operagdes que tem procedido conforrne suas indicagées em tudo por tudo, no agindo por si mesmo, Sendo que age como médium” € que "tem \érios enfermos & procura da sua mediunidade para a reeepeag de socorros a sue sade”, Euripedes no temia agio policial ou a agio da Justiga, Confessava, inteiramemte, a deniincia quanto 3 pritica medi receituario eas operacdes, porém destacava no se ico interrogatério que 0 fazia sem cobrar absolutamente nada ¢ sem receber nenbue ma retribuigio de sua atividade eminentemente me- ditinica. ‘Dai porque nio importava e nem mesmo interes: sava negara prética meditiniéa, os tratamentos, as Ginurgias, 0 receitusro, 66 Mipuhi 9 he Ngoils 10 phim Box budge Borsusspbue Sahoccen bee 0 UL. o raperzol. avila omomden onedicamanlos flanty Mrs, o- olevinces | cerncommeds -yure Ainle, wx Bemedicls Morin rag. corm 2Y cameras che. adds, Aw he OL - | bet- .§ Whe | Lemectiele- Mario Lrg | ‘As testemunhas arroladas poderiam dizer exata- mente 0 que ocorrera, no havendo interesse de Burk ppédes sendio que elas narrassem a verdade dos fatos. Asim, na mesmna noite que Euripedes foi ouvido, ‘a autoridade colhew © depoimento das testemunhas, Isso j4 na ausencia de Euripedes que havia saldo, conforme solicitara, para visitar seus doentes. . E a verdade € que os depoimentos das testemu- nnhas contam apenas com as assinaturas dos depoentes,, do delegado e do escrivao, nao aparecendo a assina- ‘ura de Euripedes nem de defensor seu (fls. 10 a 16 verso do processo}. Somente foram ouvidas testemunhas que 0 Pro- ‘motor Piblico indicou na peca vestibular, ou seja, testemunhas de acusagio. Euripedes somente arrolaria suas testemunhas, as testemunhas de defesa na ocasiio do imterrogatério, judicial, na oportunidade da defesa prévia. Estamos ainda na fase do inquérito policial, em. bora promovido por iniciativa da Justiga, através do doficio do Juiz a0 Delegado de Policia 69 A primeira testemunha indicada pelo Promotor Pablico, Manoel Corréa, portugués, solwiro, de 31 anos de idacle, comerciante ¢ residente em Sacramento, informou que ha quase dois anos sofre de urna etup- io da pele que o tem feito corer os consultérios de grande mtimero de médicos ¢ estagdes termais, sem resultado, Informou, entio, que regressando certa feita de Araxé ¢ passando por Sacramento, um amigo indicou- Ihe 0 professor Eurfpedes Barsanulfo, 0 que ocorrew hd cerca de seis meses. Esclarecetr mais que Eurfpedes Ihe reecitow uma pomada ¢ alguns medicamentos de sabor diferente ‘ada tum e que essa medicagio Ihe proporcionara eon sideriveis melhoras em sta sade, nfo cobrando quan tia alguma pelo tratamento. ‘Também respondeu outms perguntas formuladas pela autoridade policial, eselarecendo que tem visto diversos doentes tratados pelo professor Barsanullo, sabendo que um deles, Joaquim Sandoval, “atacado de mania de persequigio ¢ obsessio contra a familia, ficou completamente curado, depois de submetido aos ‘euidados do professor Barsanulfo”” A segunda tstemunha, 0 dentista Lidolto. Fe nandes, com 89 anos de idade, também obrigado a0 juramento de dizer somente a verdade, declarou que pessoas de diversos lugares iam e continuavam a ir ‘Sacramento para se tratarem com o professor Euripe- des Barsanulfo sendo certo que este no cobra con sultas nem remédios. Deu, ainda, um testemunho familiar, esclarecen do que ha uns $ anos, seu filho, gravemente enfermo ‘em Uberaba, nao obtendo melhoras com o tratamento médico durante cinco meses, foi levado ao professor 0 ks rfp este, em pouco mais de um més de tra ‘Nio fora apenas ofilho,O prépriodepoentetinha uum caso pessoal a relatar, Hcerea de ISanossofta de “ris tanifestagdes morbidas, entre as quai urna feria proximo a0 pavihdo auricular do lado esquer do da face". Ji havia recorido nesses dezoito anos a ‘ros tatamentos improticuos « quando contiou 0 problema a Euripedes obteve «cura em cerea de seis ‘As perguntas exclareceu quea medicaclo aplicada por Eurpedes foi interna e externa, além daaplicagio™ Ue passer expires 10 processoestava robust de fatoscapaes de om- rosa auividade enadona de Euripes como dese Jwva 0 Circulo Catlico de Uberaba. Lindolfo Femandes testerunha natural de Sant Ana do Rio das Velhas tara mais lementos norm tivos, obsewando que Euipedes fain partons ais pirigio de Berea de Menezes © que tamer fi ‘anatvos, imterveagbes cirgicas © redo def Provavelmente, leigo das coisas juridicas, mas preocupado com as informacées que prestara ¢ que Gstas pudessern incriminar Euripedes, depois de seu depoimenta devidamente assinado, fer questio de wm tendo que ficou constando num ‘Em tempo", assim: que no assistin as intervengées cirangicas feitas pelo professor Rarsanulfo; que apenas tem visto 0 referido professor fazer curativos em feridas € injesoes”. Dois dias depois, a tstemunha Lindolfo Fernan- des procurou a autoridade policial para prestar novas declaragdes, tendo o Dr, Alencar Araripe autorizado a recebé-tas. n Na ata da reinquitigao da estemunha Lindolfo Fernandes esclareceu que os watamentos espiituais, slo leitos também na sede do Colégio Allan Kar, de outros médiuns do Centro Espirita do qual Euripedes € 0 presidente Quis esclarecer, ainda, que os obsedados tém sido. ali watados com desvelo ¢ que entre os esos de tra- amento que tem prewnciado pode referir o de Dona Maria Modesto, de Uberaba, esposa do sargento Cravo, que depois de vinte dias voltow para sua familia, Também mencionow 0 caso de um filho se, ‘quando residente em Batatais, no Estado de Sto Paulo © que apesar de desenganado ¢ da distincia, ficou curado, estando naquela ocasido cursando o Colégio Allan Kardee que Eurfpedes mantém ha dez anos. Segundo sua observagio, Eurfpedes & médium & rnio médico ¢ “tudo faz por amor 8 caridade, como verdadciro apéstolo do bem, obedecendo a risca 0 que Ihe determina 0 Dr. Besersa de Mencoes As informagdes trazidas aos autos nessa reingui- rigio, sio mais importanus, porque eselarecern que além dos doenes watadas em Sacramento, muitos ‘out0s © sto através de carts, obtendo a cura, sendo os reimédios remetidos pelo Correio. Estes, somente en- viam nome, idade ¢ enderego, ‘Quanto a0s que procuram diretamente em Sa- cramento, muitos sio curados, mas alguns nio obtém cura, completamente, ora porque perder a pacitmeia ea fé no tatamento, ora em razio de divergincias religiosas, além de outros que sfo retirados por perse- guigao a0 Espiritismo. ‘Amidnio Gongalves de Araijo era pessoa muito ligada a Euripedes, segundo se infere de seu depoi- mento e da participacio que teve nas tarefas do pro- R fessor, Natural de Sacramento, com 49 anos de idade, sapatiro de profisso, disse &autoridade que ajudara muitas vezes Euripedes nas operagdes, soba inspiragio do Dr. Bezerra de Menezes de ha dez anos aquela data do depoimento, ou sea, desde 1907, pois suas decara- Ses estavam senda colhidas em 22de outubro de 1917 (Ora, tendo Berea de Menezes desencamado em 1900, sa presengassistencal em Sacramento, através de Burpedes era bastante significatva. Mas o spatero sacramentano destacou,espeial- mente, 2 cira dos Toucos pelo profesor Euripedes Barsapullo, informando que tina conhccimento i reto dessestratamentos ¢drsss cuss, pos cle proprio tomara conta de vatfos doen Enriquecia seu depoimento com a indicagfo de pessoas de sua propria familia curadas por Euripeds, fempre gratuitamente, com a dectaragio de que os Joucos que vinham 3 procura de tratamento saa curados ¢ que "o professor Barsanulfo€chamado para assist quis todos os partos esta cidade" equ tendo Sido chia para aun em diversas intervene Cintngieas, pode dectarae que algumas desan pessoas CGrurgiadas esavam desenganadas pelos médicos ‘A testemunha dzarias rants (na lista de teste smunhas anoladas pelo Dr. Promotor Pablico como Uinanias Aranes) a 43 do 101 da aeusagio, natural de Igarapava, Estado de Sio Paulo, com 37 anos, casado, coletorestadval naqiuela cidade, informou que estava provisoriamente em Sacramento ¢ isso ja faz seis me- ‘ss, com 0 tinico objetivo de tratar de sua satide em rato de encontrar-se gravemente enfermo, Narra sua docnga, a impossibiidade declarada dos maticos em cura, informando que est ornan- do alguns medicamentoe recetados pelo Dr, Bezetra 8 de Menezes através da mediunidade de Furipedes,além dos passes que vem recebendo. Sabe, de outra parte, que Euripedes, cbedecendo as inspiragdes do Dr. Bezerra de Menezes, tem proce: ddido a intervengdes cirtrgicas e obstétricas, além de fazer curativos e receitar remédios que sio por ele fornecidos gratuitamente. [Acrescenta que tem participado de sessDes espi ritas e, provavelmente atendendo a pergunta da auto- ridade, informa que no tem visto pessoas portadoras de moléstias contagiosas em grau visivel, sendo certo, porém, que “o professor Euripedes Barsanulfo atende Caridosamente a todas as pessoas que dele se acerca, pedindo alfvio 4s suas doengas, dando estas pessoasa ‘maxima liberdade em se tratarem aqui ou fora”. Finalmente, ¢ ainda no dia 22 de outubro de 1917, A noite, ouviuse a 5. ¢ Gltima testemunha arrolada ‘contra Euripedes: — Maximiliano Cliudio Diaman- tino, natural do Espirito Santo de Datas, com 50 anos de idade, casado, servidor piblico, residente em Sa- ‘eramento. Seu depoimento confirma o exercicio da mediw: nidade por Euripedes, seia em intervengies cirirgicas, seja em receitudrio, seja na aplicagio de remédios, sempre sem receber qualquer retribuigao, inspirado pelo espirito do Dr, Bezerra de Menezes, “segundo diz", na abservagio cautelosa do depoente. Relata 0s éxitos nos partos que assiste ¢, rela tivamente 0 Colégio Allan Kardec, informando que dele tem saido a maioria de mogos & mocas prepara: dos no curso primirio,esclarecendo que os alunos no io aconselhados pelos professores a seguirem a sua religido, cabendo-thes a liberdade de escolha. 4 Concluida a prova solicitada & autoridade poli- cial, esta determina no dia 24 de outubro de 1917 que (5 autos sejam remetidos ao Dr. Promotor de Justica ‘da Comarca por intermédio do Juiz Municipal © Juiz Municipal, Julio Brasilio de Vilhena, no mesmo dia 24 de outubro ordenou fosse dada vista 20, Dr. Promotor Piblico, porém, logo abaixo um novo despacho, também da mesma data, declarando-se sus peito e determinando ao escrivio fizesse © processo concluso a0 seu substituto legal % A peregrinagio do proceso Ld ‘Comecara a peregrinagio da processo contra Eur ipedes. As autoridades judiciais iriam dectarar.se sus: peitas, numa verdadeira corrente,reveladora do respei- fo que desfrutava 0 médiumn no apenas em Sacra- mento, mas também demonstradora das curas obtidas por muitos dos que deveriam intervir nos autos ou de parentes seus 0 Distribuidor de Sacramento (jd existia a figura do Distribuidor de processos em Sacramento de 19171), Oscarlino de Oliveira, ainda aos 24 de outubro, enca- minhou o processo 20 1° Oficio, Por sua vez, 0 escrivio do 1.° Officio, agyba Jose Cordeiro, fer conclusio dos autos para 0 1.° Juiz de Paz, como substituto legal do Juiz Municipal. (© 1 Juiz de Paz, Adolfo Formin de Carvalho Paixio, declarou-se impedido por ser cunhado do es- crivio, determinando, tambémn no dia 24 de outubro que 0 escrivio fizesse também conclusos 0s autos 20 seu substituto legal. © 22 Juiz de Paz, José Saturnino Jolio da Silva recebew 0 processo ainda no dia 24, io mesmo dia, n também declarou-se impedido por ser cunhadlo do indiciado; e determinou a0 escrivo que o fizesse con- cluso a0 seu substituto legal “Afinal, o eserivdo remeted 08 autos a0 8.° Juiz de Par, Francisco Motta que, por sua ver, determinou 0 encaminbamento ao Promotor de Justica, ainda a 24 de outubro, porém af surge outro impedimento: 0 novo escrivio, (© escrivio Hagyba José Cordeiro redige nos pro= prios autos a seguinte Promogao: “Ilmo. Senhor Juiz ‘Municipal do feito. Levo ao conhecimento de V. S. ‘que 0 mogo envolvido neste processo, além de ser meu amigo muito intimo, foi meu colega ¢ uhimamente ‘meu professor, ¢ por isso, dou-me por suspeito por ter interesse particular na causa, 0 que juro, fazendo as: sim os autos conclusos para determinar o que for de direito ¢ Justica, Sacramento, 24 de outubro de 1917", ‘Mas, ainda estamos no dia 26 de outubro. Eo 3 Juis de Paz que havia deverminado dois dias antes a remessa dos autos ao Promotor de Justica, agora deve despachar tendo em vista um novo impe- dimento — 0 do escrivo Ttagyba Reserva-se, porém, nova surpfesa com 9 despacho do Juit: "Vieram-me eonclusos hoje, sem que fosse ‘cumprido 0 meu despacho datado de 24, mandando ‘que desse vista destes autos ao Exmo. Sr. Dr. Promotor de Justia. Deixo de tomar conhecimento da suspeigio alegada, em virtude de ter, em data de ontem, renun- ‘ciado 0 cargo de 5° Juiz da Paz. Sacramento, 26 de outubro de 1917, Francisco Motta”. © escrivao Iagyba José Cordeiro fica em difi- culdade e resolve dirigir-3e a0 Juiz de Direito da Co- ‘marca, informando que etd impedido pelo motivo jé 78 exposte fl, 16 € que, tendo © Major Francisco Motta, 5° Juiz de Paz renunciado a0 cargo, consultaro a res" peito de sua suspeigio, tendo em vista que no hi mais, autoridade competente a quein deva recotrer, mesmo por que os suplentes dos Juizes de Par ndo assumiram. Indaga, mais, se deve ow nio encaminhar os autos a0 Promotor de Justia Seguem 05 autos, por éeliberacko do proprio Ita- sgyba José Cordeiro para Uberaba, as mos do Juix da Comarca, exatamente 0 Dr, Fernando Mello Vianna ‘que havia determinado as diligencias © a abertura do inquétito, Este, por sua ver, aos 29 de outubro, datando de Uberaba’ seu despacho, determina a0 Bsctivo dos Processos e Execugdes Criminais que faga conclusio ds autos ao Juir Municipal do Termo de Sacramento para que este cumpra a lei relativa & suspeito. Observa que no ¢ lito ao Juie declarar uma suspeiio genérica,exigindo a It que expecitiqe css sospegio. Cita o artigo 677 da Consolidarso Crna ‘ae obriga especies Anota, mais, que além de fundamenta a suspei- Gio em uma das hipéteses ali previstas, a autoridade deve jurar exprestamente esa suspeigo, 0 que no ‘corteu com 0 1” ¢ 0 2 jules, Para fundamen st Aespacho cita decades da Cimara Criminal, em ac {io na Apelagio n° 6.625, do Rio Doce « 5.728, de Carangota.. ‘Assim, pelo seu despacho, os autor devero ir sucesivamemte, 208 outtos doit jules, servindo 0 es crivdo do 2 ofc, tendo em vista que odo jabavia jurado ser amigo into do indiciado 9 ,o. Bolivar Cordeiro, escrivio interino de Uberaba remete o processo a0 ¢scrivio imterino do % Oficio de Sacramento, Antenor Castanheira, Este por sua vez, 0s envia 20 Juiz Municipal, Dr. Jilio Brasilio de Vilhena que, agora, explicta: “Juro ‘Suspeiglo por ter particular interesse na decisio deste proceso. O escrivio passe os autos ao meu substituto legal (© primeito Juiz de Paz, Adolpho Tormin de Car- valho aos 5 de novembro, ainda de 1917, também declina do recebimento, esclarecendo que assim pro- ‘cedia por ter renunciado 20 cargo conforme oficio datado de 3 de novembro determinando o encaminha- mento dos autos a0 substituto legal. © segundo Juiz de Paz, major José Saturnino Jalio da Silva, recusa o recebimento,jurando estar im: pedido por ser cunhado de Euripedes e determina seja {© processo encaminhado ao seu substituto legal Deligencia o escrivfo Antenor Castanheira ¢ vai procurar os suplentes dos Juizes de Paz, que slo 0s Sr. Ataliba José Cunha, Américo Mendes do Nascimento fe José Carneiro Baptista. Estes declaram a0 escrivio ‘que ainda no tomaram posse ¢ nem desejam empos- sar-se, 0 que obriga o escrivio a mandar os autos de volta a0 Cartério Criminal da Comarca, em Uberaba, De novo, os autos esto em mais do Juiz Fernan- do Mello Vianna, (O repetitivo relato das peripécias do processo con- tra Euripedes no pode ser eliminado, especialmente porque essas cixcunstincias o situam de maneira ex- Cepetonal dentro da sociedade em que vive Um cidadio que obtém tal solidariedade ¢ que provoca tantos impedimentos ¢ suspeigesé, inegavel- 80 mente, um nome de respeito, senio um idolo de seus concidadios. Mas o Juiz Fernando Mello Vianna nio se conten- ta, ainda, com a declaragéo de suspeiclo do Juiz Mu nicipal de Sacramento. Determina que 0 processo re tome & cidade de Euripedes para que aquele magistra cdo mencione em que inciso alicerga seu juramento de suspeigio, © por que razio se diz “particularmente imteressado"” na decisio do feito 0 Juiz Municipal Jalio Brasitiode Vilhena agora alega como suspeicio’o fato de ser 1° Secretario do Circulo Catélico de Sacramento, quando é certo que a entidade congénere de Uberaba é quem teve a iniciati- va do processo, Nesta altura, o 1" Juiz de Paz Adolpho Tormin de Carvalho Paixio desisie de sua renéincia 20 cargo pro~ vavelmente calculando que ja houvesse juiz certo para ‘9 processo, O Juiz da Comarca de Uberaba the remete (08 autos. Mas agora, porém, ele explicita: “Juro ser impedido de funcionar neste processo por ser amigo intimo do indiciado Euripedes Barsamulfo e cunhado do Eserivio Bolivar Cordeiro” at da polemica religiosa catholico-espirita, havida em Sacramento, | ‘em 28 de Outubro de 1913, entre gee nus ean "gered =, Sees | Potosi sate ‘Uma certidio &juntada ao processo, por devermi- naglo do Dr. Fernando Mello Vianna, relativamente 2 Lect te queixa apresemtada por JoSo Teixeira Alvares, prec uaa et a i dente do Circulo Catslico de Uberaba, contra o jornal Senna rg etic ‘0 Garoto, solicitando a suspensio desse periddico por pe etwcn™ Stine stn, Sek tet nfo ter ele editor responsavel e requerendo a juntada iat | Netra en ‘20 processo de uum video vario pelo qual se constata a2 eu ai ‘que Euripedes tem farmacia em Sacramento, ee et maida ei cee mate Restava ao Dr. Fernando Mello Vianna determinat ht eta hte! nes a notificagio do suplente do 3° Juiz de Par de Sacra- on oe a teers mento pars que tomasse pone, fim de uncionar no proceso que The deveria ser concluso, em seg ‘Vio 08 autos ao Juiz de Paz do Distrito de Deven- Ino, Vespasiano Augusto, em cumprimento 3 ordem |i ipamese o juie da Comarca de Uberaba, através de oficio, rite, ttrmametoe teem tendo em vista que o suplentc do 1° Juir de Paz de eee, Sacramento, Antonio Augusto Vieira Lima, no prazo rmarcado, nfo foi tomar post. Observa o Juiz de Dezembro ser ‘fora de divida (© ito esti a0 aleamce de leigos) que mesmo entre os mestres da ciéncia do Direito as espécies dos artigos 156 € 157 do Giidigo Penal so causa de dividas © conttovérsias nfo. diimidas" 2 a Gita a seguir alguns juristas e observa: "... maior 60 apreco que se deva dar a tais preceitos nos meios esprovides de recursos, como 0s nossos, onde seria legal, mais do que ilegal, seria irracional, seria aten tutorio dos sentimentos de hamanidade querer se pres rever a pritica de estorgos pelo bem das que sofrem fagindo sem intengo criminos, sem proveito pessoal, ‘sei cogitaco de ucro, A Ici, em sua sabedoria, pres: ‘reve disposigies visando 0 bem piblico, 0 interesse ‘coletivo. Masa lei no impde obrigagdes impossiveis, hem quer que se pratique o absurdo de se desarmo- nizar 0 individuo com 0 instinto de conservagao e com 6 sentimento de caridade © do bem.” E prossegue © Juiz do Distrito de Dezembro: ‘No ciso presente, parecer razoaveis as seguintes ponderagies: O M. Dr, Juis de Direito considerou a mporvineia da cast pela posicio de destaque ¢ pels influéncia das pessoas nela envolvidas, ¢ recomendou 0 Dr. Delegado Imemte procedendo ide modo a poder a jus nguranga, N3o ‘osas recomendagBes fits, 2 aco dt policia nio foi apreciével. O despacho de fils. Hem ‘que o Dr. Delegado declara que desejando uma teste- :munba prestar nov ces, Fossem estas tom das em reinguirigio, demonstrada a fragilidade do eritério da autoridade: no conduzia, foi conduzida.” ‘Apés snalisa Igumas decisdes ériminais ¢ fazer coutras consideragies 0 lo de Dezerabro obser vas "A justiga mo @ um de vinganga 30 bade da faegio religiosa. Também a justica Reage o Juiz Fernando Mello Vianna 2s observa 66s eriticas do. Juir do Distrito de Dezembro ¢afirma em despacho: “Deixo consignado que no & verdade 4 que este Jutio tenn dado importincia 4 este processo pela posicio de destaque ¢ pela influéncia de pessoas Mls. 27}, Nao é certo, Determninei a ida do Delegado de fora para evitara suspeicio processual das autoridades ocais. Este Juizo no conhece, na sua funcio nin- guém de desiaque, ¢ muito menos de influtneia, pois Sdo todos iguals petante a lei” cscrivio faz remessa dos autos ao Juiz do Dist to de Devembio juntamente com a denincia oferecida pelo Promotor de Justiga, Tancredo Martin. ‘Ja estamos em 8 de marco de 1918 © 0 Juiz Vespa: siano Augusto deixa de receber a dentincia oferecida, argumentando: “A. Consolidagio Criminal, em sew artigo 729, deterinina os roquisitos que deve conter a denéncia, figurando entre eles o do "tempo ¢ lugar em que foi 0 rime perpetrado”. A deniincia de fs. afirma que 0 ‘denunciado, desde abril do ano findo de 1917, “subme- teu a seu tratamento o St, Coronel Azarias Aramtes, ‘mas no determina, com a preciso que a lei tequer, 0 tempo desse tratamento, especialmente o dia em que se jou, A detcrminacdo exata do tempo & matéria que interessa a vérias relagBes do direito. Por esse motivo, deixo de receber deniincia de fs. e determina ‘que 0s autos voltem so Sr. Dr. Promotor de Justica, para requerer o que julgar conveniente & melhor ins- truco da demiineia’ (© Promotor Tancredo Martins nao se conforma ‘com & decisio do Juiz ¢ junta aos autos petigio de recurso do despacho que no recebeu a pega acusa- [Nas randes do recurso, a argumentagio mais im portante era a de que a exigencia de mencionar o di ‘exato no tinha procedéncia, pois hd apenas a obri 85 sagio de que se determine o tempo €o lugar em que o ato delituoso ocorreu, “Essa exigencia — afirma o Promotor nas razées de recurso — viria produzir a conseqiiéncia de se no poder punir grande némero de delitos, como no caso de se encontrar um cadaver em adiantado estado de putrefaglo, coneluir-se pela prética de um delito mas no se pode determinar, com a prova testemunhal ou ‘outros meios de direito,o dia certo em que mesmo se etpetrou’ Aclara, porém, no recurso, que"... desde abril de 1916 estava o denunciado submetendo a sew trata ‘mento 0 Sr, Coronel Azarias Arantes” Voltam os autos a0 Juiz recorrido que mantém seu despacho, rejeitando a deniincia, © proceso chega ao final Finalmente, 0 Juiz da Comarca de Uberaba, Fet~ nando Mello Vianna que havia iniciado o processo, a ‘le da fim pelo decurso do prazo prescricional, assim se manifestando: "O fato imputado pelo Ministerio Pablico data de abril de 1917, com relagio a Azarias Arantes, ¢ foi ‘capitulado no art. 187 do Cédigo Penal. Ora, a pena restrtiva da liberdade, imposta neste artigo 157 citado, mo passa de seis meses. Por outro lado, a prescrigio neste crime, isto &, punido com penas menores de seis, meses, se consumna dentro do ano, 2 seguir ao ato. Nestes termos, sendo o oficio do Juiz 0 decretar a prescrigio mesmo niio alegada (art, 82 do Ciigo Pe- nal), ¢ estando decorrido o lapso de wm ano a contar ‘de abril de 1917, data do crime indicado pelo Dr. Pro- ‘motor, decreto a prescrigho mandando se arquive 0 pprocesto, que fieard em perpétuo silencio. Custas pelo Estado, Pe intime-se as partes, Uberaba, 8 de maio de 1918. Fernando Mello Vianna 87 Quem 0 verdadeiro impostor? Bem sublinhou o editorialista de O Estado de 8. Paulo (11-10-1955) quando indagava: "Enuretanto,co- ‘mo punir-se 0 fatmactutico que da consultas nas 20- nas pobres onde nio hé médicos?” E prossegue: "A ciéncia no conseguiu ainda mat- ‘car exatamente © limite onde termina a seriedade ‘comeca a impostura ¢ dat, desse fato,a série de trans- foros, e que em muitas ocasides determina a pritica de clamorosas injustices” Neste editorial sob o titulo “O Impostor", 0 con- ceituado matutino paulista comentava a morte de um idadzo "que foi duramente perseguido durante a sua vida to-somente porque tinha uma forca estranha, de fordei hipnética que usava com o objetivo de curar aleoélat Mas nio nos furtamos & uansctigio de outros trechos especialmente porque o editonalista chama particularmente a atengio para as perscguigdes ¢ 08 Drocessos judiciais. ‘Amador Joly ~ prossegue 0 jomal —faria o que 0 especiaistas, com seus processos modernos, com ‘seus sanatérios © seus diplomas intemacionais io logravam fazer: — apanhava casos perdidos, bébados desamparados, docntes que se matavam no alcool € ‘com algumas “sessBes", punha-os outra ver em con digaes normais, propiciando-Ihes 0 ensejo, curados, com inveneivel repugnancia pelas bebidas, de retomar 6 fio da vida que quase fora interrompida pela enter midade" A Figura desse médium que promovia sessbes de cara no Arraial dos Souzas ¢ depois em Moji Guagu & fo retrato de tantos outtos como Euripedes Barsanulfo {que nestes rineées do interior do Brasil abrem o cora- ‘Go A assisténcia fracerna, sem diploma, éverdade, mas fem reeeber dinheiro algum, embora déem o seu tem po, 0 tempo furtado a0 seu trabalho ou 20 seu descan so em favor dos mais necesstados. A figura do médium que O Estado de S. Paulo retrata no poderiaficar sem a wanscricao deste perio dos finais: ‘Cemenas de criaturas, pobres individuos que cram mais vitimas do que culpados, ergueram-se com 1 dignidade das sarjetas em que haviam caido, traba Thando hoje de cabeca erguida, como um doente que esteve as portas da morte ¢ serestabeleceu. Endo tinha diploma slgum, nem instrugio, nem habilitagio pro- fissional, vivendo pelo orgulho de fazer © que nin- sguém consegui ‘Agora que Amador Joly morreu no hné mais 0 problema de ciéncia penal sobre a apreciaglo do art 282 do Cédigo Penal, Delegados, Promotores e Juizes, ro mais precisario discutir se o velho curaideiro, ‘como o chamavam, estava ou no infringindo a nor- ma penal Contudo, continuard a viver por muito tempo na meméria dos que foram por ele redimidos. Passard talver na consciéncia dos que o perseguiram, E mante- ra armada certamente, a pergunta que os cientistas, formados na Alemanha, na Franga, na Inglaterra € nos Estados Unidos até agora nao souberam responder com exatidio: quem 0 verdadeiro impostor? 92 A sociedade brasileira assistiu 0 procedimento pe- nal contra Eurfpedes traumatizada, porque reconhecia (os méritos de sua atividade assistencial desinteressada, no sublime sacerdécio de dar sem procurar recompen: sa, de amar sem exigir reciprocidade, sacrificando-se sem aguardar 0 reconhecimento dos beneficiados. Ea esse volume de servigo, a sociedade respondia com 0 processo, as audiéncias policias, as publicagdes insultuosas, as ameacas de pristo. ‘Mas o povo simples, 0s homens de bem, 08 pa- cientes curados, 08 filhos que retomavam a0 regago ‘dos pais, os pais que regressavam ao lar recuperados ‘da doenga fisica ou mental, a0 ouvitem os gritos “im- posior, impostor!” poderiam indagar como 0 fer © ‘ditorialista de O Estado de S. Paulo: “QUEM O VERDADEIRO IMPOSTOR?".. 93 (© AMOR VENGEU — Romance medlinico ditado por Lucius € [Bslografado por Zibia M. Gasparetto. Formato 16 X 21 em, 56 ples. ‘Dontre as mais apreciadas obras de nsplracdo mediinica,exis- tentes na literatura esprits, esta ocupa um lugar de destaque, dada a profundidade do seu enredo, # magisiral rama que onvolve Os seus personagens, e especialmente a sensibiidade usa Fevet, speci exes aque oll s set peso logo ‘no into de suas primeiras paginas. O Amor Vencet pertence fo numero dagueles livros que deixam uma saudade. perma fente, © qualquer pessoa que o leia, mesmo em se tratando aguslas que ainda se encontrom dstanciadas dos postulados ‘splritualistes, tera pesar, som duvide, quando terminar a lel tara. Mais ainda, olivro @ uma fonte de inspiragio pars uma vida melhor eum perieto escorting. dos arcanos do Aldi. © MORRO DAS ILUSOES — Romance mediinico ditado por Luclus psicografado por Zibia M. Gasparetio, Formato 34 X 21 cm, 281 pags. ‘Um Homem de sensimentos elevados ordon-se padre a fm de serve no proximo, ‘No mosteire desenvolweuse estranhe fgcaldace “ Trediunidade — nee e em outro companheiro, Foram eiorcnados qaase ag a morte e 0 nosto personsgera

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