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A Geografia política após a 1º Guerra Mundial

Os efeitos da Primeira Guerra Mundial na geografia política


Com o fim da guerra, os impérios antigos desmoronaram-se, nasceram novos países e os
estados ampliaram as suas fronteiras:

1 - Desaparecimento dos Impérios Russo, Alemão, Austro-Húngaro e Otomano;

2 - Criação de novos estados independentes;

3 - Transferências de territórios entre estados;

4 - Triunfo do comunismo na Rússia Soviética;

5 - Expansão do liberalismo e do demoliberalismo;

6 - Expansão dos regimes republicanos

A Conferência de Paz
A Conferência de Paz teve início a janeiro de 1919, em Paris, mas só participaram os
países vencedores, liderados essencialmente por França, Inglaterra e pelos EUA.

Esta conferência teve como base de negociações a “Mensagem de 14 Pontos”,


documento trazido pelos EUA.

A Mensagem de 14 Pontos
Propunha acabar com 1) as violações territoriais sucedidas na Primeira Guerra
Mundial, 2) defendia o princípio das nacionalidades, 3) explicou como seria o novo
método de processo das relações comerciais e das questões coloniais e 4) apresentou
as propostas que, num futuro próximo, garantiriam a paz.

Propunha acabar com as violações territoriais sucedidas na Primeira Guerra


Mundial:
4- Troca de garantias suficientes de que os armamentos serão reduzidos ao mínimo
compatível com a segurança interna.

6- Evacuação integral do território russo e regulação de todas as questões envolvendo


a Rússia (…) com a finalidade de dar à Rússia toda a latitude para decidir, em plena
independência, sobre o seu desenvolvimento político e a sua organização nacional (…)

7- É imprescindível que a Bélgica seja evacuada e restaurada (…).

8- Todo o território francês deve ser libertado e as regiões invadidas devem ser
restauradas; o prejuízo causado à França pela Prússia em 1871, no que respeita à
Alsácia-Lorena (…) deverá ser reparado (…).

11- A Roménia, a Sérvia e o Montenegro devem ser evacuados; à Sérvia deve ser
assegurado um livre acesso ao mar (…)
Defendia o princípio das nacionalidades:
9- Deve concretizar-se uma retificação das fronteiras italianas, conformemente os
dados claramente percetíveis do princípio das nacionalidades.

10- Aos povos da Áustria-Hungria (…) deve ser garantida, o mais cedo possível, a
possibilidade de um desenvolvimento autónomo.

12- Às regiões turcas do atual império otomano devem ser garantidas a soberania e a
segurança; mas às outras nações atualmente sob domínio turco deve ser garantida uma
segurança absoluta de existência (…) Os Dardanelos devem permanecer abertos como
passagem livre para os navios e comércio de todas as nações.

13- Deve formar-se um Estado polaco, abrangendo os territórios habitados pelas


populações indiscutivelmente polacas, às quais se deve garantir um livre acesso ao mar
(…).

Explicou como seria o novo método de processo das relações comerciais e das
questões coloniais:
5- Uma concertação livremente debatida de todas as reivindicações coloniais, baseada
na estrita observação do princípio segundo o qual, na regulação destas questões de
soberania, os interesses das populações em jogo terão o mesmo peso que as
reivindicações equitativas do governo.

As relações comerciais processar-se-iam na base do livre-cambismo, sem barreiras


alfandegárias.

As questões coloniais resolver-se-iam atendendo aos interesses das potências


colonizadoras e das populações envolvidas.

Apresentou as propostas que, num futuro próximo, garantiriam a paz:


1- Convenções de paz, preparadas “às claras”, após as quais não haverá mais acordos
particulares e secretos; (…) a democracia agirá sempre francamente e à vista de
todos.

4- Troca de garantias suficientes de que os armamentos serão reduzidos ao mínimo


compatível com a segurança interna.

14- É necessário que uma organização geral das nações seja constituída (…) tendo
como objetivo assegurar garantias mútuas de independência política e integridade
territorial tanto aos pequenos como aos grandes estados.

Os “14 Pontos” de Wilson não foram, lamentavelmente, cumpridos, em virtude da


hostilidade e do egoísmo de políticos americanos e das ambições interesseiras dos
políticos europeus.

O programa de Wilson era demasiado ambicioso para a época, mas serviu de base às
linhas que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, norteiam a política
internacional, nomeadamente o recurso a organismos internacionais e supranacionais,
como a ONU, para solucionar os litígios entre povos e estados.
Tratado de Versalhes (1919)
Segundo o tratado, a Alemanha é considerada a responsável pela Guerra.
1) Perde todas as suas colónias, 2) a frota de guerra, 3) parte da frota mercante, e 4) é
obrigada a pagar os prejuízos causados pela guerra. 5) Sofre também uma
desmilitarização tremenda.

Sanções de natureza militar:


1- Proibição de construir fortificações nas margens do Reno;
2- Diminuição dos efetivos do exército;
3- Controlo do fabrico de armas e material de guerra;
4- Limitação da frota naval;
5- Extinção da aviação militar e naval.

Sanções de natureza territorial:


1- Renúncia provisória à soberania sobre o território do Sarre;
2- Perda da Alsácia e da Lorena;
3- Perda da cidade de Dantzig;
4- Renúncia à posse de todas as colónias.

Sanções de natureza material:


1- Perda das minas de carvão do Sarr

O Tratado de Versalhes visto pelos alemães


“Jamais foi infligida a um povo, com tal brutalidade, uma paz tão opressiva e
ignominiosa como foi o tratado de Versalhes ao povo alemão. Em todas as guerras dos
últimos séculos, as negociações entre vencedores e vencidos precederam a conclusão
da paz. [...]

Mas uma paz sem negociações prévias, uma paz ditada como a de Versalhes, é como
um ladrão que deita ao chão um miserável e o obriga, a seguir, a entregar-lhe o
porta-moedas. A paz de Versalhes roubou-nos mais de setenta mil quilómetros
quadrados e mais de sete milhões de habitantes. [...]

Para vigiar o gigante acorrentado, colocaram dois polícias nos seus flancos, a Polónia
e a Checoslováquia, que receberam o direito conferido pelos Estados vencedores de
aumentar livremente as suas forças militares, enquanto que o nosso exército, outrora o
mais forte e o mais bravo do mundo, ficou reduzido a uma mera força de vigilância,
capaz apenas de manter a ordem interna.”

O povo alemão condenou o Tratado de Versalhes, então, pelos seguintes motivos:


1- Ausência de negociações de paz entre a Alemanha e os vencedores.
2- Perda de territórios e de habitantes.
3- Constituição dos estados polaco e checoslovaco dotados de elevadas forças militares.
4- Redução do exército alemão a uma mera força policial
A Sociedade das Nações
A SDN nasce do projeto proposto por Wilson em 1919 de uma liga das nações. Foi
essencialmente um instrumento de esperança, cujo pacto continha uma abordagem
pacifica, apelando para a redução do armamento e o respeito mútuo, e condenando
fortemente a o recurso à guerra.

Este desejo de paz não se veio a concretizar: O orgulho ferido e a opressão do povo
alemão pelos Aliados acabaram por permitir a ascensão do nazismo e o posterior
rebentar da Segunda Guerra Mundial.

O pacto da sociedade das nações


“As Altas Partes Contratantes, considerando que, para desenvolver a cooperação entre
as nações e para garantir-lhes a paz e a segurança, importa aceitar certas obrigações
de não recorrer à guerra, manter abertas e francas relações internacionais fundadas
na justiça e na honra, observar rigorosamente as prescrições do direito internacional
e respeitar escrupulosamente todas as obrigações dos tratados, adotam o presente
pacto, que institui a Sociedade das Nações.”

Artigo 8. °-Os membros da Sociedade reconhecem que a manutenção da paz exige a


redução dos armamentos nacionais. [...]

Artigo 10. ° - Os membros da Sociedade obrigam-se a respeitar e a manter contra toda


a agressão exterior a integridade territorial e a independência política presente de
todos os membros da Sociedade

Artigo 11. ° - É expressamente declarado que qualquer guerra ou ameaça de guerra,


que diretamente atinja ou não um dos membros da Sociedade, interessa à Sociedade
inteira, e esta tomará as providências em ordem a salvaguardar eficazmente a paz das
nações

Artigo 12. ° - Todos os membros da Sociedade convêm, caso entre eles se levante
questão suscetível de motivar um rompimento, em submetê-la, quer a um processo
arbitral ou a um processo judiciário, quer ao exame do Conselho. [...]

Artigo 16. - Se um membro da Sociedade recorrer à guerra, contrariamente aos


compromissos tomados nos arts. 12.°, 13.° ou 15.°, será, ipso facto, considerado como
tendo cometido um ato de guerra contra todos os outros membros da Sociedade, que
desde já se obrigam a romper imediatamente com ele todas as relações comerciais e
financeiras, a proibir todo e qualquer negócio entre os seus nacionais e o Estado
infrator e a fazer cessar todas as transações financeiras, comerciais ou pessoais entre
os nacionais daquele Estado e os de qualquer outro Estado[...].
Para garantir a paz e a segurança, os países devem:
1- Considerar a opção de guerra inexequível

2- Manter abertas e francas as relações internacionais, relações essas “fundadas na


justiça e na honra”;

3- Observar rigorosamente as prescrições do direito internacional;

4- Respeitar escrupulosamente todas as obrigações dos tratados.

5- Reduzir os armamentos nacionais (art.8)

6- Respeitar a integridade territorial e a independência dos estados-membros da


SDN; (art.10)

7- Qualquer ameaça de guerra a um membro da SDN interessa a toda a sociedade e


todos os países membros devem auxiliar (art.11)

8- Submeter as questões entre os estados-membros a um processo arbitral ou


judiciário ou à análise do conselho da SDN (art.12)

9- Romper ligações comerciais e financeiras com os estados-membros que


recorressem à guerra (art.16)

O fracasso da SDN
Os membros da Conferência de Paz não se interessaram pelo futuro da Europa nem se
ocuparam com a sua sobrevivência. As suas preocupações, boas e más, relacionaram-
se com questões relativas às fronteiras e às nacionalidades, a equilíbrio de forças, a
ganhos imperialistas, ao enfraquecimento de um inimigo forte e perigoso, à vingança.
Os vencedores quiseram descarregar o peso dos seus insuportáveis encargos
financeiros sobre os ombros dos vencidos. [..]

O tratado não compreende qualquer disposição que vise a restauração económica da


Europa, nada decide para colocar os impérios centrais vencidos no meio de bons
vizinhos, nada para organizar os novos estados europeus ou para salvar a Rússia. Não
cria um contrato de solidariedade económica entre os próprios aliados. Nenhuma
disposição é tomada para restabelecer as finanças desreguladas da França e da Itália.
[...].

O Conselho dos Quatro não prestou atenção a estas questões. Preocupou-se com outro
problema: Clemenceau quis abolir a existência económica do inimigo, Lloyd George
quis trazer para a Inglaterra qualquer coisa que seja aceite durante uma semana e o
presidente Wilson apenas pretendeu o que fosse justo e correto. E fantástico como o
problema de uma Europa que morre de fome e se desagrega aos nossos olhos não tenha
interessado os Quatro. As reparações foram a sua principal preocupação no
domínio económico e eles regulamentaram esta questão como um problema de
teologia, de política e de tática eleitoral [..].
Críticas
1- A preocupação exclusiva dos vencedores com os seus ganhos territoriais e
financeiros à custa da debilitação dos países vencidos.

2- A ausência de disposições para recuperar a economia da Europa, “que morre de


fome”, e restabelecer as finanças da França e da Itália;

3- A negligência relativamente aos ex-Impérios Alemão e Austro-Húngaro, rodeados


de maus vizinhos;

4- O esquecimento da Rússia Soviética;

5- A falta de solidariedade económica entre os próprios Aliados.

De facto, o Conselho dos Quatro, reunido em Versalhes a partir de janeiro de 1919,


não estabeleceu a paz mundial em bases sólidas:

1- Com o novo mapa da Europa e Médio Oriente, humilhou os Impérios vencidos, que
perderam habitantes e territórios.

2- Não satisfez as reivindicações territoriais de vencedores e não resolveu da melhor


maneira a questão das minorias nacionais.

3- Não criou mecanismos para resolver a crise económico-financeira europeia,


pensando que os problemas se solucionavam com as indemnizações a pagar pela
Alemanha.

4- Deixou no ar um clima de tensão internacional e a sensação de um conflito não


resolvido.

Os EUA desde cedo exibiam uma descrença na capacidade da SDN em manter a


paz no mundo, uma vez que os tratados de paz não regulamentaram devidamente as
fronteiras, não atenderam a reivindicações territoriais e não resolveram questões de
“minorias nacionais”, para além de humilharem os vencidos.

Para além disso, participar na SDN significava uma perda de soberania para os EUA
e um abandono da defesa dos interesses americanos, pois, doravante, teriam de
seguir as decisões da SDN e defender os interesses de outros povos

Por isso, o Congresso Americano não ratificou o Tratado de Versalhes e os EUA


desistiram de participar na SDN.

A SDN viu-se então cada vez mais impossibilitada de desempenhar o seu papel, pois 1)
viu-se desprovida do apoio americano, 2) a sua moral estava desacreditada e 3) não
possuía mecanismos que lhe permitissem responder às contínuas violações territoriais
que sucederam pós-guerra.
O declínio europeu pós-guerra
A guerra deixou a Europa arruinada, no plano económico, humano (mortes) e material
(destruição). Houve uma diminuição geral das riquezas materiais, devido à falta de
matérias-primas (por causa da destruição) e de mão de obra. O seu declínio
permitiu a ascensão dos países extraeuropeus, nomeadamente os Estados Unidos.

O declínio europeu deu-se essencialmente devido à sua dependência económica para


com os Estados Unidos: durante a guerra, eram o seu principal fornecedor; com as
perdas humanas e a destruição dos campos, fábricas, minas e frotas, a Europa não
teve outra opção senão continuar compradora de bens e serviços americanos e a
dívida continuou a agravar-se.

A europa recorreu então à emissão massiva de notas como modo de melhorar a sua
situação financeira. Mas, e emissão de dinheiro em maior quantidade sem um
incremento correspondente na produção, provocou uma desvalorização monetária que
se traduziu numa alta subida dos preços (inflação)

Inflação – Alta geral de preços derivada de distorções existentes entre a procura dos
produtos e a oferta de bens, a quantidade de moeda que circula e a produção / circulação
de riquezas. Quando a procura é maior que a oferta, os compradores, para conseguirem
os bens em questão, sujeitam-se a pagar mais caro e fazem subir os preços.

Exemplo - A desvalorização exponencial do marco (moeda alemã) relativamente ao


dólar num curto espaço de tempo, desvalorizou, por consequência, o valor do papel-
moeda que, não servindo para pagar os altos preços dos bens, passou a ser utilizado
como combustível.

A prosperidade americana e a recuperação europeia


Os EUA, graças à sua forte economia (eram o principal fornecedor da Europa, que por
sua vez que ficava lhes endividada) e aos seus métodos eficientes de lucro (o
taylorismo e a concentração capitalista), continuaram a prosperar.

“Os Estados Unidos tornaram-se, sem verdadeiramente o desejarem, o Financiadores


do mundo: o banqueiro de Nova lorque detêm agora investimentos, em todas as
partes do mundo; por toda a parte controlam empresas e têm à sua mercê governos
que, com um simples gesto podem levar à bancarrota. Esta hegemonia, provavelmente
sem precedentes na História, foi-lhes facultada subitamente, sem preparação.
Face ao Velho Continente, o prestamista nova-iorquino encontra-se na situação,
despida e brutal, do financiador que vigia o seu dinheiro, do rico que ajudou um pobre
e espera o retorno do seu adiantamento, adiantamento esse que, ao mesmo tempo, se
assume como uma espécie de caridade, mas que é também um empréstimo no sentido
estrito do termo. O perigo é, pois, que tudo seja permitido à América: ela não tem
compromisso com nada nem com ninguém; pode, se o desejar, comportar-se
arbitrariamente: estrangular pessoas e governos, socorrê-los sob condições definidas
por ela própria, controlá-los e, enfim - coisa que preza acima de tudo - julgá-los do
alto de uma superioridade moral e impor-lhes lições.”

- O controlo financeiro exercido pelos EUA sobre países estrangeiros pode conduzir à
asfixia das respetivas empresas e economias, assim como à queda de governos.
Aspetos da supremacia dos EUA em relação à Europa
- A elevada quantia de reservas de ouro;

- O dólar como moeda forte, garantida pelas reservas de ouro;

- O financiamento das economias estrangeiras através dos investimentos e da concessão


de créditos;

- A dependência europeia dos capitais americanos/ o papel central dos EUA na garantia
da estabilidade económica e financeira da Europa e do mundo;

- O ascendente dos EUA sobre os governos estrangeiros.

Em 1922, na Conferência de Génova, a Europa procurou resolver o problema de


instabilidade monetária: as moedas voltaram à convertibilidade por intermédio do Gold
Exchange Standard (no lugar do Gold Standard). Este processo funcionava de modo a
que, na ausência de reservas de ouro, uma moeda passaria a ser convertida numa outra
moeda considerada forte, pois é convertível em ouro.

Entre 1925 e 1929, vivera-se finalmente os “felizes anos 20” na Europa, caracterizados
essencialmente por um forte clima de otimismo. Conheceram-se notáveis progressos nas
diferentes ciências.

“O desemprego, com as angústias inerentes, está em vias de desaparecer. Umas das


mais antigas e, talvez, mais nobres aspirações humanas foi a abolição da pobreza. Não
há melhor garantia contra a pobreza do que dar um emprego a cada um. Este é o
primeiro objetivo da política que preconizamos. [...] O verdadeiro liberalismo procura
não limitar qualquer liberdade, pois acredita que, sem essas liberdades, será vão
perseguir qualquer melhoria. Esta crença é o fundamento do progresso americano,
tanto político como económico. Quais são, então, os resultados do sistema americano?
O nosso país é a terra onde os que nascem deserdados alcançam sucesso na vida
devido à liberdade de iniciativa e de empresa.
Ao aderir aos princípios da governação descentralizada, da liberdade na ordem, da
igualdade de oportunidades e da liberdade individual, a experiência americana do
bem-estar humano atingiu um grau incomparável no mundo inteiro. Ela está
próxima de abolir a pobreza, de abolir o medo da miséria como nunca a Humanidade
o esteve. O progresso dos sete últimos anos é a prova disso.”
A construção do modelo soviético na Rússia

O comunismo de Marx
A perspetiva marxista descreve a História como uma sucessão dos modos de
produção. (Esclavagismo – Império Romano; Feudalismo – Idade Média; Capitalismo -
atual).

Esta sucessão deveu-se à luta de classes entre os opressores e os oprimidos.

Agora, a luta de classes (entre a burguesia e o proletariado) ia, também, dar fim ao
capitalismo, dando início à ditadura do proletariado.

A ditadura do proletariado consiste no aproveitamento do poder por parte da classe


operária de modo a retirar os privilégios da burguesia e a centralizar os meios de
produção nas mãos do Estado. É apenas uma etapa transitória, mas necessária.

A ditadura do proletariado seria necessária para se conseguir formar a verdadeira


sociedade socialista, sem classes, sem Estado, e sem propriedade privada.

Marxismo-leninismo
Desenvolvimento teórico e aplicação prática das ideias de Marx e Engels na Rússia por
Lenine. Caracterizou-se por enfatizar:

- O papel do proletariado, rural e urbano, na conquista do poder, pela via


revolucionária e jamais pela evolução política

- A identificação do Estado com o Partido Comunista, considerado a vanguarda do


proletariado;

- O recurso à força e à violência na concretização da ditadura do proletariado


A situação russa em inícios do século XX
O ano de 1917 iniciou-se numa situação de forte descontentamento geral da população:
os camponeses, 85% dessa, reivindicavam por terras, terras essas concentradas nas
mãos dos grandes senhores; o operariado exigia melhores condições de vida.

Petição levada ao Palácio de Inverno - 1905 (Domingo Sangrento)


“Senhor! Nós, operários da cidade de Sampetersburgo, as nossas mulheres, os nossos
filhos e os nossos velhos pais, viemos até ti, em busca de justiça e proteção. Caímos na
miséria: oprimem-nos, sobrecarregam-nos de trabalho, insultam-nos, tratam-nos
como escravos que devem suportar pacientemente as ofensas e calar-se!
O nosso primeiro pedido foi que os patrões examinassem, connosco, as nossas
necessidades; mas recusaram-nos isso, dizendo que a lei não nos reconhece tal direito.
Também foi considerado ilegal o nosso pedido de diminuição da jornada de trabalho
para oito horas diárias, assim como de negociar o valor do nosso salário. Toda a
população operária e os camponeses estão entregues ao arbítrio de um governo de
funcionários corruptos e larápios. Este governo conduziu o país à ruína completa,
levou-o a uma guerra vergonhosa (guerra Japão – Rússia) e leva a Rússia à perdição.
Senhor! Será que isto está de acordo com as leis divinas, pela graça das quais tu
reinas? E será que se pode viver sob tais leis? Eis o que nos trouxe junto aos muros do
teu palácio. Não recuses proteção ao teu povo [...], que ele governe juntamente
contigo. Ordena que se façam eleições para uma Assembleia Constituinte na base do
sufrágio universal e secreto. [...]”

O Partido Social – Democrata russo era constituído por duas fações de inspiração
marxista, os bolcheviques (em russo, “maioritários) e os mencheviques
(“minoritários”). Em 1917, os bolcheviques foram transformados num partido politico.

Bolcheviques
Teses defendidas
- Filiação restrita ao partido;
- Revolução;
- Ditadura do proletariado;
- Rutura com o capitalismo.

Mencheviques
Teses defendidas
- Filiação ampla ao partido;
- Associação com a burguesia liberal;
- Transformação social contínua;
- Melhorias do capitalismo até o desenvolvimento do socialismo.
A situação russa durante a Primeira Guerra Mundial
- Sociedade estratificada: Os dos mais altos cargos viviam na luxúria e o resto da
população (a maioria) vivia na pobreza e na miséria.

- Miséria da classe operária: Sujeita a duras condições de trabalho (horários longos e


baixos salários); inexistência de direitos dos trabalhadores / recusa do patronato em
negociar com os trabalhadores;

- Economia precária e desorganizada: Industrialização fraquíssima; a agricultura


continuava a ser o principal setor económico; gastos na Guerra.

- Governo corrupto; corrupção e abusos dos funcionários do governo sobre os


camponeses e operários;

- Estado autoritário: Governação autoritária e autocrática, em que o czar reinava


arbitrariamente pela graça divina; Ausência de liberdade política, de reconhecimento da
soberania nacional e de uma Constituição que fundamentasse a governação

- A participação na Guerra afetava a economia e causava no país imensas perdas


humanas; situação de fome e falta de géneros; surgiu um forte anti czarismo, estimulado
pelo fracasso na guerra (O Czar era culpado por esse fracasso). Consequentemente, o
marxismo começa a ganhar mais apoiantes;

A Revolução de fevereiro
A fevereiro de 1917, sucederam-se, em Petrogrado, várias manifestações em prol do
Dia Internacional da Mulher; juntaram-se depois a essas manifestações os operários da
cidade.

Relato de Trotsky
“A 23 de fevereiro, dia da jornada internacional das mulheres, o número de grevistas é
de cerca de 90 000. No dia seguinte, o movimento, em vez de se apaziguar,
recrudesceu: cerca de metade dos operários das fábricas de Petrogrado [antiga
Sampetersburgo] fizeram greve a 24 de fevereiro [..]. Depois de acertarem decisões,
dirigiram-se para o centro da cidade. A palavra de ordem "Pão" foi suplantada por
outra: "Abaixo a autocracia!" "Abaixo a guerra!". A 25, a greve adquire uma nova
amplidão: há conflitos com a polícia.
A 26, domingo, os operários voltam a convergir para o centro [...]. Os soldados
recebem ordem rigorosa de atirar [...]. "Atirai ao inimigo" - ordena a monarquia.
"Não atirem sobre os vossos irmãos e irmãs!", gritam os operários. "Marchem
connosco!"
A 27 de fevereiro, um após outro, desde a manhã, antes de saírem das casernas, os
batalhões de reserva da Guarda amotinam-se (...]. Aqui e ali, os operários conseguem
unir-se à tropa, penetrar nos quartéis, obter armas e munições (...]. Por volta do meio-
dia, Petrogrado torna-se um campo de batalha: os tiros de espingarda e o tac-tac das
metralhadoras ouvem-se de todos os lados.”

A Revolução de fevereiro derruba o Czar Nicolau II do trono a 2 de março de 1917


(acabando com a era dos Romanov, vigente há 300 anos), e instaura na Rússia uma
república.
O Governo provisório guiou-se pelos seguintes princípios (março de 1917):
“O Comité provisório dos membros da Duma' do Império, certo do apoio e das
simpatias do exército e dos habitantes da capital, [...] deixar-se-á guiar pelos seguintes
princípios:

1. Anistia imediata e completa, aplicada a todos os casos de natureza politica e


religiosa, incluindo os atos terroristas, as revoltas militares, as sublevações agrárias,
etc.

2. Liberdade de palavra, de imprensa e de reunião, assim como o direito de se


sindicalizar e de fazer a greve [...]

3. Abolição de todas as restrições fundadas na origem social, na religião e na


nacionalidade

4. Preparação imediata da convocação de uma Assembleia Constituinte, baseada


no sufrágio universal, direto e secreto, a qual determinará a forma do governo e a
Constituição do país.

5. Substituição da polícia por uma milícia militar (...].

6. Eleições para os órgãos locais na base do sufrágio universal, direto, igual e


secreto.”

O Governo Provisório propunha-se a governar o Império Russo segundo princípios


demoliberais, pois observa-se:
- O respeito da liberdade individual (política e religiosa, de expressão, de reunião);

- A defesa da igualdade dos homens e dos povos perante a lei (fim das restrições
baseadas na origem social e étnica);

- A defesa da soberania nacional baseada no exercício da cidadania sem restrições


financeiras (reivindicação do sufrágio universal, direto e secreto);

- A defesa da governação alicerçada numa Constituição.

Quando Lenine chega à Rússia, este publica as “Teses de Abril”, documento no qual
são dadas a conhecer as reivindicações dos sovietes, controlados pelos bolcheviques.

Sovietes – Conselhos de camponeses, operários, solados e marinheiros da Rússia. A


Revolução bolchevista de outubro buscou nos sovietes a legitimação popular e fez deles
base da futura organização do Estado da URSS.
As teses de abril – Lenine; Abril de 1917
“1. A nossa atitude para com a guerra, que é incontestavelmente uma guerra
imperialista de salteadores, não admite qualquer concessão

2. O que há de original na situação atual da Rússia é a transição da primeira etapa da


revolução (que deu o poder à burguesia) [..] para a segunda etapa, que deve dar o
poder ao proletariado e às camadas pobres do campesinato.

3. Nenhum apoio ao Governo Provisório.

4. Explicar às massas que os sovietes de deputados operários são a única forma


possível de um governo revolucionário.

5. Não à república parlamentar, sim à república de deputados operários, assalariados


agrícolas e camponeses, no país inteiro, de baixo até cima (...).

6. Nacionalização de todas as terras no país; as terras serão postas à disposição dos


sovietes locais de deputados dos assalariados agrícolas e dos camponeses. [...]

7. Fusão imediata de todos os bancos do país num só banco nacional colocado sob o
controlo do soviete de deputados operários.

8. A nossa tarefa imediata não é a de "introduzir" o socialismo, mas unicamente de


passar ao controlo da produção social e da repartição de produtos pelos sovietes de
deputados operários.

9. [...] Mudar a denominação do partido: em lugar de social-democrata, é preciso


chamá-lo de comunista.

10. Tomar a iniciativa de uma Internacional revolucionária.”

As teses apelavam, respetivamente:


1- À retirada imediata da Guerra;

2- À ditadura do proletariado, como Marx preconizara (transição do poder da burguesia


para o proletariado e camponeses)

3- Ao derrube do Governo provisório (para permitir a ascensão dos sovietes);

4- À entrega do poder aos sovietes (pois são, segundo as teses de Marx e as ideologias
de Lenine, “a única forma possível de um governo revolucionário”)

5- À inclusão de deputados de origem operária, campesina e dos outros estratos socais


na política
6- À nacionalização de todas as terras do país controladas pelos sovietes

7- À nacionalização de todos os bancos num só banco controlado pelos sovietes

8- À passagem imediata ao controlo da produção social e da distribuição dos produtos


por parte dos SDO (sovietes de deputados operários)

9- À mudança do nome do partido social-democrata para partido comunista

10- À criação de uma Internacional (revolucionária)

A oposição de Lenine ao Governo Provisório


Quanto à forma de governo
- Lenine defende um governo revolucionário exercido pelos Sovietes ou uma “república
de deputados operários, assalariados agrícolas e camponeses”, enquanto o Governo
Provisório defende uma república parlamentar cujos órgãos de governo seriam
escolhidos por “sufrágio universal, direto, igual e secreto”.

Quanto à Guerra Mundial


- Lenine chama “imperialista” à Guerra Mundial e pretende que a Rússia a abandone,
não indo “até ao fim”, enquanto Kerenski, chefe do Governo Provisório, ordena aos
exércitos russos que a prossigam.

Quanto à agricultura
- Lenine defende a obrigação de os camponeses entregarem as colheitas a
destacamentos de operários e soldados, a um preço fixado pelo governo, ficando
proibidos de as comercializarem

A Revolução de outubro
A Revolução de Outubro de 1917 foi liderada pelos bolcheviques (“Guardas
Vermelhos”), que controlaram pontos estratégicos da cidade, assaltaram o palácio do
Inverno e derrubaram o Governo provisório, com Lenine já de regresso à Rússia.

O governo passou então a ser composto exclusivamente por bolcheviques, com


destaque para Lenine, na presidência, e Trotsky e Estaline como seus membros.

Pela primeira vez na História, os representantes do proletariado conquistavam o poder


político, exatamente como Marx preconizara: recorrendo à luta de classes e à revolução.

Entre a Revolução de Fevereiro e a de Outubro de 1917, vigorou um processo de


duplo poder na Rússia, pois exerciam poder no país tanto o Governo Provisório
como os sovietes.

“Aos cidadãos da Rússia!


A causa pela qual o povo lutou - a proposta imediata de uma paz democrática, a
supressão da propriedade latifundiária da terra, o controlo operário sobre a produção,
a criação de um Governo Soviético - esta causa está assegurada. Viva a revolução dos
operários, soldados e camponeses!”
Lenine – 25 de outubro
O Governo Soviete
O novo Governo soviete iniciou as suas funções com a publicação de decretos que
procuraram responder às aspirações das massas populares e as reivindicações dos
sovietes:

Decreto da Paz
- Convidava os povos combatentes à negociação com o objetivo de se atingir a tao
desejada paz.

“O Governo operário e camponês, criado pela Revolução de 24 e 25 de outubro,


apoiando-se nos Sovietes de deputados operários, soldados e camponeses, propõe a
todos os povos beligerantes e aos seus governos o início de conversações imediatas
com vista a uma paz justa e democrática.
A paz justa e democrática, desejada pela esmagadora maioria das classes
trabalhadoras, esgotadas, extenuadas, martirizadas pela guerra, em todos os países
beligerantes - a paz exigida com resolução e insistência pelos operários e camponeses
russos depois do desmembramento da monarquia czarista -, esta paz deve ser imediata,
sem anexações [...] e sem indemnizações de guerra.”

Decreto sobre a Terra


- A propriedade agrária (de proprietários laicos e religiosos) foi abolida / expropriada e
entregue a comités agrários e aos Sovietes. Passou a vigorar a propriedade coletiva em
lugar da propriedade privada.

- Criminalizaram-se os prejuízos causados à propriedade do povo

“1.A propriedade dos proprietários fundiários sobre a terra é abolida imediatamente


sem qualquer indemnização.

2. Os domínios dos proprietários fundiários, assim como todas as terras dos mosteiros
e da Igreja, com todos os seus animais mortos e vivos, todas as construções e de-
pendências, são postos à disposição dos comités agrários do cantão e dos Sovietes de
camponeses do distrito, até à Assembleia Constituinte.

3. Todo o prejuízo causado à propriedade confiscada, que pertence doravante ao povo


inteiro, é declarado crime grave passível do tribunal revolucionário. […]

4. Os sovietes dos deputados camponeses de distrito tomam todas as medidas


necessárias para que a ordem mais estrita seja observada no decurso da expropriação
dos domínios dos proprietários fundiários [...].”

Decreto sobre o controlo operário


- Atribuiu aos operários das empresas a superintendência e a gestão da respetiva
produção
Decreto sobre as nacionalidades
- Conferiu a todos os povos do antigo Império Russo o estatuto de igualdade e o direito
à autodeterminação

- Suprimiu todos os privilégios nacionais e religiosos

“1. Igualdade e soberania dos povos da Rússia.

2. Direito dos povos da Rússia a disporem de si próprios até à separação e constituição


de um Estado independente.

3. Supressão de todos os privilégios e limitações nacionais ou religiosas.

4. Livre desenvolvimento das minorias nacionais e grupos étnicos habitando o


território russo.”

As dificuldades do governo soviético


A 3 de março de 1918, a Rússia assinou uma paz separada com a Alemanha e
perdeu a Polónia, a Ucrânia, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, e a Finlândia (ou
seja, ¼ da população e terras, e ¾ das minas de ferro e carvão). Foi, segundo Lenine,
“uma paz desastrosa, mas necessária”.

Os proprietários e os empresários criaram grandes obstáculos à aplicação dos decretos


relativos à terra e ao controlo operário.

Relatório de um operário sobre a situação no campo – 1924


“Em maio de 1918, é raro ver cavalos em Petrogrado: uns foram comidos, outros
morreram, outros foram requisitados para a guerra civil. Meio ano passou desde a
sublevação de outubro, os habitantes têm fome, nenhum trigo lhes chega. Como viver
e trabalhar com 1/8 de libra' de pão por dia?
Frequentemente, os operários partem de casa esfomeados, esgotados e continuam a
trabalhar até que tombam no chão. Mas eles permanecem no seu lugar, esperando a
ajuda dos camponeses [...]. Vou à minha aldeia natal.
Lá reina a abundância, mas o ódio aos bolcheviques toma vastas proporções. Antes
de mais, ele deve-se à proibição do comércio livre, à fixação de preços obrigatórios
para os cereais. Os camponeses, enfraquecidos, juram que não entregam uma libra de
grão ao preço fixado pelo poder soviético (…). “

Os 7 milhões de soldados que regressaram da guerra tiveram dificuldades em se


reintegrar na vida civil e a carestia, a inflação e o banditismo persistiram, contribuindo
para a débil adesão da população russa ao projeto bolchevique.

A Guerra Civil (1918-1920)


Foi o resultado da resistência ao bolchevismo por parte da população russa.

Os seus opositores ficaram conhecidos por “brancos”, que contaram com o apoio da
Inglaterra, França, EUA, e Japão, todos estes contra a expansão do comunismo.

A Guerra terminou com a vitória dos bolcheviques.


As características da ditadura do proletariado russo
Lenine:
“As classes exploradas têm necessidade da dominação política para suprimir toda a
exploração, isto é, para defender os interesses da imensa maioria do povo contra a
ínfima minoria dos esclavagistas modernos, isto é, os grandes proprietários fundiários
e os capitalistas.
A doutrina da luta de classes, aplicada por Marx ao Estado e à revolução socialista,
conduz necessariamente ao reconhecimento da dominação politica por parte do
proletariado, da sua ditadura, isto é, de um poder que ele não partilha com ninguém e
que se apoia diretamente na força armada das massas. A burguesia só poderá ser
aniquilada se o proletariado se transformar em classe dominante, capaz de reprimir a
resistência inevitável, desesperada, da burguesia e de organizar um novo regime
económico para as massas laboriosas e exploradas.”

1. Para Marx, o proletariado era constituído apenas pelos próprios operários, mas
Lenine incluía também nesse grupo os camponeses, tendo em conta o atraso
industrial da Rússia e a persistência da agricultura como maior meio de produção.

2. Tendo em conta também a forte oposição da população ao bolchevismo e o clima de


guerra civil que se vivia, Lenine tomou medidas conhecidas por “comunismo de
guerra”, medidas essas violentas e implacáveis. (+)

3. Tal como Marx propunha, toda a economia russa foi nacionalizada:


- Os camponeses foram obrigados à entrega das colheitas;

- Os bancos, o comércio interno /externo, a frota mercante e as empresas com mais de


cinco operários e um motor foram nacionalizados;

- Ao Estado competia a distribuição dos bens de acordo com os novos critérios de


justiça social;

4. A hierarquia social era: Bolcheviques - Camponeses / Operários - Burguesia

5. Para desenvolver a produção (heroísmo revolucionário), o governo instaurou o


trabalho obrigatório dos 16 anos aos 50 anos, prolongou o tempo de trabalho, reprimiu a
indisciplina e atribuiu o salário de acordo com o rendimento.

6. O poder soviético, para emancipar o povo e diminuir o controlo de influências


nefastas, apostou na promoção cultural: combateu-se o analfabetismo, nacionalizaram-
se os museus, e as obras artísticas/ literárias/ científicas, declarados património do
Estado e do povo.

7. O Partido Bolchevique adotou o nome de Partido Comunista a março de 1918. A


janeiro desse ano já a Assembleia Constituinte havia sido dissolvida, e até 1922, todos
os partidos políticos seriam proibidos.

8. A Tcheca, a polícia política russa, foi criada em dezembro de 1917, à qual foi dada
um grande poder, na ausência de uma justiça organizada. Proliferaram os campos de
concentração.
O centralismo democrático
- Principio básico que norteia a organização do Partido e do Estado comunistas,
segundo o qual todos os corpos dirigentes são eleitos de baixo para cima, enquanto
as suas decisões são de cumprimento obrigatório para as bases.

Para Lenine, impunha-se que o Estado soviético


fosse forte, disciplinado e democrático, de modo a
garantir a vitória do socialismo. A conciliação da
disciplina e da democracia conseguiu-se com a
fórmula do centralismo democrático.

Teoricamente, todo o poder emanava da base,


isto é, dos sovietes, escolhidos por sufrágio
universal. Tinham âmbito local e regional,
cabendo-lhes representar o conjunto das repúblicas
federadas e as nacionalidades no Congresso dos
Sovietes, que reunia anualmente.

A esta estrutura democrática, baseada no sufrágio universal e exercida de baixo


para cima, impunha-se, porém, o controlo de duas forças. Uma exercia-se de cima
para baixo, por parte dos órgãos do topo do Estado, cujas diretrizes eram rigorosamente
obedecidas pelas respetivas bases. A outra fazia-se sentir por parte do Partido
Comunista, uma hierarquia paralela ao Estado e que o subordinava.

Frequentemente, eram as mesmas personalidades que desempenhavam funções nos


órgãos do Partido e nos órgãos do Estado. Por isso, ao contrário do Ocidente, onde o
Estado é neutro e se distancia dos partidos, na Rússia comunista o Estado
identificava-se com a organização partidária que dele se apropriava.

A democracia, tal como Lenine a teorizou, existia unicamente enquanto expressão


exclusiva dos interesses proletários. Lenine chamava-lhe a “democracia dos pobres”,
o que implicava necessariamente "uma série de restrições à liberdade para os
opositores, os exploradores, os capitalistas".

E existência de centralismo na organização politica da Rússia Soviética é demonstrada


através do controlo do Partido Comunista sobre os órgãos de Estado e no controlo,
do topo para a base, nos órgãos do Partido e do Estado.

E existência da democracia na organização politica da Rússia Soviética é demonstrada


através do sufrágio universal, direto e indireto, na escolha dos órgãos do Estado e na
eleição dos órgãos do Partido
A Nova Política Russa (NEP) (1921 – 1927)
A Guerra Civil russa trouxe fortes consequências para o país. Em 1921, a economia
estava completamente devastada: a produção de cereais descera consideravelmente, a
fome aumentava cada vez mais, e a produção industrial diminuíra consideravelmente.

A fevereiro de 1921, sucedeu-se a revolta de Cronstadt, na qual se exigiu liberdade de


expressão e de imprensa, eleições democráticas, e libertação dos prisioneiros políticos.
Face à revolta, Lenine apresentou as seguintes propostas: (doc 28D)

O Comunismo de Guerra deu lugar à NEP, um recuo estratégico que recorreu ao


capitalismo, já que o socialismo “não deveria edificar-se sobre ruínas”.

Medidas da NEP
Quanto à recuperação agrícola:
- As requisições foram substituídas por um imposto de géneros;

- A coletividade agrária foi interrompida

Quanto à recuperação industrial:


- Desnacionalizaram-se as empresas com menos de 80 operários;

- Fomentou-se o investimento estrangeiro, constituindo-se sociedades com capitais


mistos;

- Do estrangeiro vieram técnicos, máquinas e matérias-primas;

- Suprimiu-se o trabalho obrigatório e atribuíram-se prémios aos operários

Quanto às melhorias a nível social:


- Construíram-se as primeiras centrais hidroelétricas;

- As produções de hulha, petróleo e aço aumentaram

A regressão do demoliberalismo
A III Internacional (Komintern) foi fundada em 1919, em Moscovo. A Komintern
apelava para o internacionalismo proletário foi considerada, para os bolcheviques, uma
condição necessária para a sobrevivência soviete.

No 2º Congresso do Komintern, ficou decidido que os partidos que se libertassem das


tendências reformistas – revisionistas, anarquistas, e pequeno-burguesas, passariam a
ser considerados partidos comunistas.
O declínio europeu pós-guerra
A guerra deixou a Europa arruinada, no plano económico, humano (mortes) e
material (destruição).

Houve uma diminuição geral das riquezas materiais, devido à falta de matérias-
primas (por causa da destruição) e de mão de obra.

O seu declínio permitiu a ascensão dos países extraeuropeus, nomeadamente os


Estados Unidos.

O declínio europeu deu-se essencialmente devido à sua dependência económica para


com os Estados Unidos: durante a guerra, eram o seu principal fornecedor; com as
perdas humanas e a destruição dos campos, fábricas, minas e frotas, a Europa não teve
outra opção senão continuar compradora de bens e serviços americanos e a dívida
continuou a agravar-se.

A europa recorreu então à emissão massiva de notas como modo de melhorar a sua
situação financeira. Mas, e emissão de dinheiro em maior quantidade sem um
incremento correspondente na produção, provocou uma desvalorização monetária que
se traduziu numa alta subida dos preços (inflação)

Inflação – Alta geral de preços derivada de distorções existentes entre a procura dos
produtos e a oferta de bens, a quantidade de moeda que circula e a produção / circulação
de riquezas. Quando a procura é maior que a oferta, os compradores, para
conseguirem os bens em questão, sujeitam-se a pagar mais caro e fazem subir os
preços.

A prosperidade americana e a recuperação europeia


Os EUA, graças à sua forte economia (eram o principal fornecedor da Europa, que
por sua vez que ficava lhes endividada) e aos seus métodos eficientes de lucro (o
taylorismo e a concentração capitalista), continuaram a prosperar.

O controlo financeiro exercido pelos EUA sobre países estrangeiros poderia conduzir
à asfixia das respetivas empresas e economias, assim como à queda de governos.

Aspetos da supremacia dos EUA em relação à Europa


1- A elevada quantia de reservas de ouro;

2- O dólar como moeda forte, garantida pelas reservas de ouro;

3- O financiamento das economias estrangeiras através dos investimentos e da


concessão de créditos;

4- A dependência europeia dos capitais americanos/ o papel central dos EUA na


garantia da estabilidade económica e financeira da Europa e do mundo;

5- O ascendente dos EUA sobre os governos estrangeiros.


Em 1922, na Conferência de Génova, a Europa procurou resolver o problema de
instabilidade monetária: as moedas voltaram à convertibilidade por intermédio do Gold
Exchange Standard (no lugar do Gold Standard). Este processo funcionava de modo a
que, na ausência de reservas de ouro, uma moeda passaria a ser convertida numa outra
moeda considerada forte, pois é convertível em ouro.

Entre 1925 e 1929, vivera-se finalmente os “felizes anos 20” na Europa, caracterizados
essencialmente por um forte clima de otimismo. Conheceram-se notáveis progressos
nas diferentes ciências.

“O desemprego, com as angústias inerentes, está em vias de desaparecer. Umas das


mais antigas e, talvez, mais nobres aspirações humanas foi a abolição da pobreza. Não
há melhor garantia contra a pobreza do que dar um emprego a cada um. Este é o
primeiro objetivo da política que preconizamos. [...] O verdadeiro liberalismo procura
não limitar qualquer liberdade, pois acredita que, sem essas liberdades, será vão
perseguir qualquer melhoria. Esta crença é o fundamento do progresso americano,
tanto político como económico. Quais são, então, os resultados do sistema americano?
O nosso país é a terra onde os que nascem deserdados alcançam sucesso na vida
devido à liberdade de iniciativa e de empresa.

Ao aderir aos princípios da governação descentralizada, da liberdade na ordem, da


igualdade de oportunidades e da liberdade individual, a experiência americana do
bem-estar humano atingiu um grau incomparável no mundo inteiro. Ela está
próxima de abolir a pobreza, de abolir o medo da miséria como nunca a Humanidade
o esteve. O progresso dos sete últimos anos é a prova disso.

A ascensão do autoritarismo europeu


Opunham-se ao bolchevismo, a grande burguesia (não lhes agradava o controlo
operário / camponês na produção) e as classes médias de funcionários e pequeno –
burgueses (a inflação consumia-lhes o poder de compra).

A nenhuma dessas classes sociais agradava as regalias que eram atribuídas aos
camponeses e operários.

Tendo isso em conta, depressa começaram a ressurgir politicas autoritárias de direita


pela Europa.
Mutações nos comportamentos e na cultura

As massificações urbanas
A vida urbana nas cidades do século XX começa a seguir um padrão estandardizado:
as pessoas dirigem-se para o trabalho à mesma hora, partilham os mesmos
transportes, consomem os mesmos produtos, habitam casas semelhantes e
partilham dos mesmos lazeres.

A rutura com os valores oitocentistas


- A anterior ênfase no trabalho vê-se pouco, a pouco, substituída pelo prazer do
consumo e pela ansia de divertimento. Torna-se frequente a deslocação a cafés,
esplanadas, cinemas, salões de baile e recintos de espetáculos desportivos.

- A mulher, cujo papel era a permanência em casa e a conceção de herdeiros, conhece


agora uma nova faceta: convive com os homens, sai de casa para ir às compras, vai à
praia e frequenta clubes noturnos.

A massificação urbana
“As cidades estão cheias de gente. As casas, cheias de inquilinos. Os hotéis, cheios de
hóspedes. Os comboios, cheios de viajantes. Os cafés, cheios de consumidores. Os
passeios, cheios de transeuntes. As salas de espera dos médicos famosos, cheias de
doentes. Os espetáculos, se não forem muito extemporâneos, cheios de espectadores. As
praias, cheias de banhistas. O que antes não costumava ser problema, começa a sê-lo
quase continuadamente: encontrar um lugar. [...] O que é que vemos e ao vê-lo nos
surpreende tanto? [...] Pois então, não é o ideal? O teatro tem os seus lugares para que
se ocupem; portanto, para que a sala esteja cheia. E a mesma coisa os seus assentos, o
comboio, e os seus quartos, o hotel. Sim; não há dúvida. Mas o facto é que antes
nenhum destes estabelecimentos e veículos costumava estar cheio, e agora
transbordam, fica fora gente sôfrega por usufruí-los. [...] A aglomeração, o cheio, não
era dantes frequente [...]. Os indivíduos que integram estas multidões existiam antes,
mas não como multidão. [...] Bruscamente, a multidão tornou-se visível, instalou-se nos
lugares preferidos da sociedade. Antes, se existia, passava despercebida, ao fundo da
cena social; agora avança as baterias, é a personagem principal. Os protagonistas
desapareceram; só há coro.”

A crise com os valores tradicionais


O impacto da destruição trazida pela guerra gerou um sentimento de descrença e
pessimismo na população, fazendo surgir a convicção popular de que o mundo nunca
mais ia voltar a ser o que era.

“Antes da guerra, eu era assistente num laboratório industrial. Era um sitio razoável;
mas garanto-te que, se tiver a triste sorte de sair vivo desta catástrofe, nunca lá voltarei
a entrar. Campo aberto! Um lugar qualquer onde nunca volte a ouvir o zumbido dos
vossos aeroplanos ou de uma dessas vossas máquinas que em tempos me divertiam,
quando eu não sabia nada de nada, mas que agora me enchem de horror, porque são
a própria alma desta guerra, o princípio e a razão desta guerra! Detesto o século
vinte, como detesto a Europa podre e o mundo inteiro onde esta arruinada Europa se
espalha como uma grande mancha de óleo lubrificante. Digo-te que hei de ir até às
montanhas e arranjar maneira de ficar tão só quanto possível. Já pensei em ir viver
entre os selvagens”
O desencanto do autor perante a civilização ocidental revela-se através:
1- Da rejeição do local de trabalho ligado à tecnologia – “laboratório industrial”;

2- Do repúdio das máquinas “que outrora divertiam” e “agora enchem de horror”;

3- Do desgosto do século em que vive – “detesto o século XX”;

4- Do desprezo pela Europa “podre” e “arruinada”

5- Da culpabilização da Europa pela guerra;

6- Da vontade de solidão / vontade de regresso à vida selvagem

“A crise militar acabou talvez; divisa-se a crise económica em toda a sua pujança. Mas
a crise intelectual, mais subtil, e que, pela sua própria natureza, reveste as mais
enganadoras aparências (pois passa-se no próprio reino da dissimulação), essa crise
dificilmente deixa discernir o seu verdadeiro momento, a sua fase. Ninguém poderá
dizer o que estará amanhã vivo ou morto em literatura, em filosofia, em estética;
ninguém sabe ainda que ideias e que modos de expressão hão de inscrever-se na lista
das perdas, que novidades serão proclamadas. [...]

Os factos, no entanto, são claros e impiedosos: há milhares de jovens escritores e de


jovens artistas que morreram, há a perdida ilusão duma cultura europeia e a
evidência da incapacidade do conhecimento para salvar o que quer que seja; há a
ciência mortalmente atingida nas suas aspirações morais, e como que desonrada pela
crueldade das suas aplicações [...]. A oscilação do navio foi tão forte que mesmo as
luzes mais firmemente seguras acabam finalmente por dar consigo em terra. “

A família, a indissolubilidade do casamento, a moral sexual, o papel da mulher, os


preceitos religiosos e as regras de conduta social deixaram de ter um padrão rígido e
foram subvertidas. Instalou-se, então, um clima de anomia.

Anomia social – Ausência de um conjunto de normas consistente e genericamente


aceite pelo grupo social. A anomia pressupõe a fragilidade e a relativização dos valores
que ditam a conduta dos indivíduos. É uma característica das sociedades atuais em que
as mudanças rápidas impedem a consolidação de um código social rígido.
A emancipação feminina

Feminismo – Movimento de contestação e luta empreendido pelas mulheres com vista


ao fim da sua situação de dependência e inferioridade relatividade ao sexo
masculino. As reivindicações do movimento feminista centram-se, pois, na igualdade
(jurídica, social, económica, intelectual e política), entre os dois sexos.

O movimento feminista remonta para o século XIX. As primeiras feministas lutaram


essencialmente por alterações jurídicas que terminassem com o estatuto de eterna
menoridade que a sociedade oitocentista reservava à mulher.

Destacam-se as sufragistas britânicas, lideradas por Emmeline Pankhurt, que


recorriam a meios extremos para demonstrarem as suas exigências, como longas e
ruidosas marchas públicas, piquetes, apedrejamentos de polícias e de montras e greves
de fome.

Em Portugal, fundou-se, em 1909, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, e


mais tarde, A Associação de Propaganda Feminista (1911), que perseguiam objetivos
idênticos aos das suas congéneres europeias.

Durante a Primeira Guerra Mundial, com os homens na guerra, as mulheres viram-se


libertas das suas tradicionais limitações como donas de casa, assumindo autoridade
do lar e o sustento da família.

Eram vistas a trabalhar em fábricas de armamento, a conduzirem carrinhas e


autocarros, a fazerem reparações elétricas, a carregarem materiais pesados.

O exercício de uma profissão por uma mulher representava a valorização pessoal, um


salário e consequente autonomia financeira face ao marido/pai.

No campo, faziam o trabalho masculino e na frente de batalha eram


imprescindíveis nos cuidados de enfermagem. As mulheres tinham-se, assim,
revelado capazes de substituir o sexo “forte” em praticamente todas as tarefas.

Este esforço reforçou a autoconfiança feminina e granjeou-lhes a valorização social


que até aí lhe faltava.
Portugal pós 1º Guerra Mundial

A 1º República portuguesa (1910- 1926) fracassou.

Para a instabilidade governativa, contribuiu o parlamentarismo: em 16 anos, houve 7


eleições gerais para o Congresso, 8 para a Presidência e 45 governos. O parlamento
interferia em todos os aspetos da vida governativa.

O laicismo da República (separação igreja / estado), originou um violento


anticlericalismo: A Igreja revoltou-se contra a 1) proibição das congregações
religiosas, as 2) humilhações impostas a sacerdotes, e a 3) excessiva regulamentação
do culto.

A entrada de Portugal na Guerra em 1916 pelos Aliados só agravou a situação


precária económica e social do país:
1- Falta de bens de consumo
2- Produção industrial decadente
3- Dívida pública

Solução – Impressão de mais notas, o que originou uma grande inflação: aumento do
custo de vida e desemprego.

Em 1915, já antes da entrada de Portugal na guerra, Pimenta de Castro dissolveu o


Parlamento e instalou uma ditadura militar no país.

Em dezembro de 1917, Sidónio Pais destituiu o Presidente da República, dissolveu o


Congresso e fez-se eleger presidente por eleições diretas em abril de 1918

Objetivos de Sidónio Pais


1- Acabar com a influência do Partido Democrático (“democratismo”) na vida política
portuguesa;

2- Acabar com o parlamentarismo / com os atos “vergonhosos” passados no


Parlamento;

3- Estabelecer a ordem pública / acabar com a agitação que prejudica o trabalho;

4- Solucionar o “problema político” (tornar o país governável);

5- Instaurar o regime presidencialista, depois de uma consulta ao país.

Sidónio Pais apoiou-se nas forças mais conservadores (monárquicos), dizendo ser o
fundador de uma “República Nova”.

Acabou por ser assassinado em dezembro de 1918.

No começo de 1919, deu-se uma inicio a uma guerra civil entre os monárquicos e os
republicanos.
À instabilidade política, somavam-se atos de violência despropositada que manchavam
o regime e nos envergonhavam além-fronteiras. A 19 de outubro de 1921 deu-se a
célebre “Noite Sangrenta”

“Os políticos não têm sabido atuar e têm-se limitado a dizer palavras. Para o público,
nós somos seres especiais que consomem o tempo em bizantinas discussões [...]. As
sociedades atuais apresentam evidentes sinais de desagregação, sendo o principal o
enfraquecimento do Poder central. [...] Deste Poder faz parte o Parlamento liberal -
instituição caduca que é necessário não eliminar, mas transformar. [...| Reparemos,
quanto a ditaduras, que, de facto, elas surgem sempre que são necessárias. […] Os
partidos estão minados por elementos de desorganização. [...] Então o que se impõe? A
resistência dos partidos à dissolução, a sua depuração e o respeito aos princípios da
ordem. Isto é absolutamente necessário, representando, para a República, a garantia
da sua vida! Mas os partidos e os homens públicos só podem fazer alguma coisa e
lutar com probabilidades de êxito desde que se apoiem na única força que ainda se
mantém disciplinada, através de todos os cataclismos da Nação: a Força Armada! [..]
Se continuarmos com Governos que não governam [...] a República e a Pátria perder-
se-ão. [...] Nestas condições, a ditadura impõe-se como necessidade inadiável.”

Fragilidades do governo
1- Incompetência dos políticos, ocupados em discussões estéreis;

2- Enfraquecimento do Poder central;

3- Decadência do Parlamento liberal;

4- Desorganização dos partidos políticos;

5- Fraqueza dos governos, que “não governam”.

Os alicerces para a instituição de um regime autoritário ficaram estabelecidos com o


apoio dos grandes proprietários capitalistas (ameaçados pelo aumento de impostos e
pelo surto grevista e terrorista), das classes médias (ameaçados pelo bolchevismo),
e, eventualmente, de grande parte da população, desejosos da restauração da
estabilidade socioeconómica, através de um governo forte que restaurasse a ordem e
lhes devolvesse o afogo económico.

1- Aumento de impostos
2- Surto grevista e terrorista
3- Ameaça do bolchevismo
4- Desejo de um governo forte que restaurasse a estabilidade socioeconómica

Sendo assim, a 1º República Portuguesa sucumbiu a 28 de maio de 1926 às mãos de um


golpe militar.
O modernismo

O primeiro modernismo
Nas primeiras décadas do século XX, a corrente naturalista reunia as preferências do
publico, das instituições oficiais e da crítica. Exploravam-se cenas da vida popular,
que pareciam satisfazer uma burguesia nostálgica das vivencias tradicionais e
vincavam a identidade rural do país.

“O panorama artístico português, no ano de 1910, é marcado, como as décadas


anteriores e a subsequente, pela estética dos artistas naturalistas que se haviam
afirmado como "modernos" ' nos anos de 1880. Em relação à pintura, o maior empenho
dos pintores naturalistas foi pintar a terra portuguesa. “A terra portuguesa" era um
conjunto identificável de paisagens, mas, sobretudo, a vivência económica, social e
religiosa das comunidades aldeãs que com as próprias paisagens se confundiam.

Os pintores compreenderam que pintar o "país real" era uma espécie de imperativo
moral, numa época em que Portugal, insuficientemente industrializado e urbanizado,
corria o risco de não possuir imagem própria no contexto da civilização europeia.

Creio que esta é, basicamente, a razão do enorme sucesso e da durabilidade do


naturalismo. [...] Em Portugal ele foi dominador e castrador das tímidas iniciativas
vanguardistas e modernistas que se delineiam a partir de 1910.”

Estética naturalista:
1- Temática relacionada com os costumes populares / com a vida quotidiana;
2- Temática campestre;
3- Pintura de ar livre;
4- Pormenores realistas.

A agitação politica que se sucedeu neste período em Portugal fomentou o debate


ideológico, a liberdade e a crítica. Surge, então, neste contexto, o modernismo:
propostas estéticas caracterizadas pela sua originalidade, a sadia e o cosmopolitismo.

Nelas, mesclavam-se as vanguardas do cubismo, futurismo, expressionismo e


abstracionismo.
A primeira geração modernista afirmou-se entre 1911 e 1920 (1918). Ficou ligada a um
conjunto de exposições de pinturas, exposições essas livres, independentes e de
humoristas. Os desenhos apresentados correspondiam a objetivos de sátira política,
social e anticlerical:
1- Enquadramentos boémios e urbanos
2- Cenas elegantes de café
3- Cenas populares com figuras típicas
4- Estilização formal dos motivos
5- Esbatimento da perspetiva
6- Uso das cores claras e contrastantes
7- Formas geométricas decompostas em planos; (A, C)
8- Paleta monocromática; (A)
9- Dinamismo conferido por linhas curvas (A)
10- Espaço bidimensional (B, C)
11- Ausência de perspetiva; (A, B, C, D)
12- Aplicação livre da cor em manchas largas (B, C, D)
13- Formas distorcidas, sem contornos precisos (D)
14- Conteúdo angustiante, depressivo ou absurdo (A, B, D)
15- Figurativismo reduzido a pormenores fragmentados (B)
C

A B D

Em Lisboa, destacou-se Almada Negreiros, Santa-Rita, Fernando Pessoa e Mário de


Sá – Carneiro, que fizeram nascer a revista Orpheu.

No Porto, destacou-se o casal Delaunay, Eduardo Viana e Amadeo de Souza.

Na Orpheu, uma revista radical e inovadora, que revelava a faceta futurista do


modernismo português, o homem contemplativo foi repudiado e o homem de ação
exaltado.

Era proposto um corte radical com o passado, denunciava-se a morbidez saudosista


dos portugueses e incitava-se a “raça latina” ao orgulho, à ação, à aventura e à
glória. Assim se exprimiu, em Portugal, o dinamismo moderno.
Opinião de Júlio Dantas quanto ao volume um da revista Orpheu
"Alguns rapazes, com muita mocidade e muito bom humor, publicaram há dias uma
revista literária em Lisboa Essa revista tinha apenas de notável a extravagância e a
incoerência de algumas, senão de todas as suas composições. Como a recebeu a
imprensa diária? Com o silêncio que merecia?

Com as duas linhas indulgentes e discretas que é de uso consagrar às singularidades


literárias de todos os moços? Não. A imprensa recebeu essa revista com artigos de
duas colunas - na primeira página.

A imprensa fez a essa revista um tão extraordinário reclame que a primeira se esgotou
e já se está a imprimir a segunda. Ora, semelhante atitude está longe de ser inofensiva
ou indiferente. Em primeiro lugar, consagra uma injustiça fundamental; em segundo
lugar, favorece e prepara uma seleção invertida.

Eu bem sei que o reclame a certas obras é às vezes feito à custa de veemente suspeita
de alienação mental que pesa sobre os seus autores.

Mas, neste caso, como em outros muitos, é justo confessar que os loucos não são
precisamente os poetas, mais ou menos extravagantes, que querem ser lidos, discutidos
e comprados; quem não tem juízo é quem os lê, quem os discute e quem os compra."

Júlio Dantas:
1- Criticou a revista por ter trabalhos extravagantes e incoerentes;

2- Insinuou que os jovens autores que nela publicam são loucos

3- Critica a revista por ser largamente publicitada pela imprensa diária, o que constitui
manifesto exagero pois só devia ter merecido “duas linhas indulgentes e discretas”

4- Critica o facto de a revista ter esgotado e ter tido êxito, o que é injusto pois premeia
quem não tem qualidade, favorecendo “uma seleção invertida”;

5- Critica o público, que acorreu a comprar a revista e fez figura de alienado.

Em 1917, sai o número único da revista Portugal Futurista (Santa-Rita, Almada,


Souza- Cardoso, Pessoa, Sá- Carneiro), considerada hoje a “peça fundamental do
movimento futurista português”.

Indo contra os ideias conservadores da República e com as mortes de muitos dos seus
protagonistas, as possibilidades de sobrevivência do modernismo português mostraram-
se escassas.
O segundo modernismo
Nos anos 20 e 30, decorreu um novo ciclo no movimento modernista, contando agora
com novos nomes: José Régio, João Gaspar Simões, Adolfo o Casais Monteiro, e
pintores como Dordio Gomes, Mário Eloy, Sarah Afonso, Carlos Botelho, Abel Manta,
Bernardo Marques, Júlio (Reis Pereira), e Vieira da Silva (Maria Helena).

Mais uma vez as revistas assumiram a dinamização literária e artística, sendo de


destacar a Contemporânea (1922-26) e a Presença (1927-40). Mais uma vez, também,
os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos oficiais, pelo que
as exposições independentes que realizavam (coletivas ou individuais), os cafés e
clubes que decoravam e os periódicos que ilustravam vieram a ser os seus grandes
espaços de afirmação.

Entre as revistas que empregaram artistas modernistas, salienta-se a Ilustração


Portuguesa (de onde se viram afastados ao fim de um ano de colaboração), a Domingo
Ilustrado, a ABC, a Ilustração, a Sempre Fixe. Nelas se distinguiram as suas figuras
estilizadas, em enquadramentos de moda, de música e de desporto.

O primeiro e o segundo modernismo aproximaram-se na representação pictórica


devido:
1- À rutura com a representação académica, realista e naturalista;
2- À estilização e simplificação de formas;
3- À geometrização de formas;
4- Ao esbatimento da perspetiva;
5- À aplicação livre da cor.

Existe, no primeiro modernismo, uma maior irreverência e experimentação / inovação e


uma rutura relativamente aos cânones académicos. A figuração, embora nem sempre
objetiva, é recuperada pelo segundo modernismo
O impacto do modernismo na escultura e na arquitetura
Escultura

À semelhança do ocorrido na pintura, também a escultura da primeira década do século


XX ficou marcada pela hegemonia do gosto naturalista. Mestre António Teixeira
Lopes (1866-1942), o grande cultor desta corrente, continuou a reunir as preferências do
público. Tal não impediu a manifestação, se bem que tímida, de características
modernistas nos anos 20, em escultores como Francisco Franco (1885-1955), Diogo de
Macedo (1889-1959) e Canto da Maia (1890-1981) que, em Paris, haviam tomado
contacto com as vanguardas artísticas.

O modernismo das suas obras ora se expressou na simplificação geométrica das


formas e volumes, ora na busca da essencialidade plástica, ora na facetação das
superfícies.
Arquitetura

Os primeiros sinais de uma nova linguagem arquitetónica datam dos anos 20. Cristino
da Silva (1896-1976), Carlos Ramos (1897-1969), Pardal Monteiro (1897-1957),
Cottinelli Telmo (1897-1948) e Cassiano Branco (1879-1970) contam-se entre os
primeiros autores de projetos arquitetónicos modernistas.

A modernidade das suas obras manifestou-se no uso do betão armado, no predomínio


da linha reta sobre a curva, no despojamento decorativo das paredes, na utilização
de grandes superfícies de vidro, nos terraços e coberturas planos.
A Grande Depressão

Os EUA em 1928:
1- Indústrias ainda em recuperação da crise de 1920

2- Desemprego crónico

3- Agricultura não compensadora

4- Produções excedentárias originavam preços baixos e queda de lucros

5- Largo recurso ao crédito;

O poder de compra americano era, então, mantido artificialmente pela politica de


facilitação de créditos, processada pelos bancos.

Muitos investiam na Bolsa, crendo na solidez da sua economia, onde a especulação


crescia.

“Jornalista - Que lhe parece a situação económica e financeira dos Estados Unidos?
Há quem julgue que a situação atual, de aparência muito brilhante, o desenvolvimento
constante da produção, patente em quase todas as estatísticas, a subida contínua dos
valores [da Bolsa] na Wall Street não podem aguentar-se por muito tempo e que uma
crise brutal estalará proximamente.

P. Reynaud - Não poderá tratar-se de uma crise violenta. Os trusts que se formaram
possuem uma grande parte das ações das sociedades mais promissoras. Estes trusts
tenderão a uma ação reguladora. De qualquer modo, julgo, no entanto, que se
prefigura uma crise nos Estados Unidos. Algumas fontes de riqueza estão paradas. Os
agricultores lamentam-se, a indústria têxtil atravessa dificuldades. Há uma
superprodução de automóveis; os stocks aumentam sem cessa.

Por outro lado, a alta contínua dos títulos da Bolsa desenvolve o gosto pela
especulação: os Americanos pedem emprestado dinheiro a 9% para comprar ações que
só rendem 2%, mas que esperam vender com lucro. Recuos como aqueles que se
produziram nos últimos dias em Wall Street não podem ser negligenciados; funcionam
como sinais de prevenção.”

Crash bolsista – Termo empregue nas operações financeiras de bolsas de ações para
caracterizar a quebra dos valores dos papéis e títulos postos à venda.
A 29 de outubro de 1929, deu-se o crash da Bolsa de Nova Iorque. Consistiu na
descida e perda de valor das ações e títulos financeiros das empresas americanas,
em virtude de uma vasta oferta de venda dessas ações e títulos se ter acumulado na
Bolsa.

“Na quinta-feira, 24 de outubro, estava dado um golpe mortal no boom de Wall Street e
ao mesmo tempo na prosperidade americana. Ainda hoje não se sabe quem pôs em
venda, durante a primeira hora da Bolsa, nessa quinta-feira nefasta, a quantidade de
ações que provocou a avalanche. [..] O resultado foi catastrófico. As ações desciam de
minuto a minuto, porque não encontravam compradores, a preços que na véspera
seriam considerados absurdos. “

Consequências do Crash da Bolsa de Nova Iorque


1- Falências de empresas

2- Aumento do desemprego

3- Redução da produção industrial

4- Descida do PIB e dos preços

5- Proliferação da delinquência e da corrupção

A grande Depressão propagou-se às economias dependentes dos Estados Unidos;


os países fornecedores de matérias primas (Austrália, Nova Zelândia, México, Brasil,
India) e a todos aqueles cuja reconstrução se baseava nos créditos americanos
(Áustria e Alemanha).

A conjuntura deflacionista parecia eternizar-se sem solução: a diminuição do consumo


acarretava a queda de preços e da produção, as falências, o desemprego, e
novamente, a diminuição do consumo.

Deflação – Situação económica, geralmente de crise, caracterizada por uma diminuição


dos preços, do investimento e da produção, acompanhada de uma progressão do
desemprego.

Frequentemente, são os Estados que originam essa situação com o intuito de combater a
inflação dos meios de pagamento, a especulação e o aumento de preços. Para esse
efeito, diminui-se a quantidade de papel-moeda, restringe-se o crédito e reduzem-se os
gastos do Estado.

Para além dos EUA, todo o mundo foi atingido pela crise: a Ásia, a América do
Centro e do Sul e a África deixaram de vender a sua produção agrícola aos Estados
Unidos; a Europa viu-se descapitalizada em virtude da retirada dos capitais
americanos (empréstimos e outros créditos), o que conduziu à falência de empresas e
à progressão do desemprego; as trocas comerciais internacionais declinaram,
deixando de estimular a atividade económica
EM SUMA, os efeitos do crash na economia americana foram:
Descida do produto nacional bruto e da produção industrial, particularmente grave até
1933, provocada pela descida do consumo, que já se fazia sentir em outubro de 1929
(ex.: a crise da agricultura e a superprodução automóvel) e que foi agravada pela subida
do desemprego. Em virtude do abrandamento da atividade económica e do consumo, os
preços agrícolas e não agrícolas baixaram, gerando-se uma conjuntura de deflação

As opções totalitárias

Totalitarismo – Sistema político no qual o poder se concentra numa só pessoa ou num


partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.

Fascismo – Sistema politica instaurado por Mussolini na Itália em 1922.


Profundamente ditatorial, totalitário e repressivo, o fascismo 1) suprimiu as
liberdades individuais e coletivas, 2) defendeu a supremacia do Estado, 3) o culto
do chefe, 4) o nacionalismo, 5) o corporativismo, 6) o militarismo e 7) o
imperialismo.

Nazismo – Sistema político instaurado por Hitler na Alemanha a partir de 1933. Para
além de perfilhar os princípios ideológicos do fascismo, distinguiu-se pelo seu racismo
violento, fundamentado numa suposta superioridade biológica e espiritual do povo
ariano. Ao Estado nazi estava incumbida a preservação da raça superior, libertando-
a do contacto com elementos impuros, e a expansão da mesma.

Corporativismo – Forma de organização socioeconómica que defende a constituição


de corporações de trabalhadores, patrões e serviços, que conciliam os seus
interesses de modo a promoverem a ordem, a paz, e a prosperidade.

A partir dos anos 20, a Europa, outrora na sua maioria demoliberal, conheceu um novo
sistema de exercício de poder: movimentos ideológicos e políticos subordinavam o
individuo a desejar um Estado omnipotente, totalitário e esmagador. Temos o
exemplo do totalitarismo da Rússia soviética, por um lado, e por outro, o fascismo e o
nazismo italianos e alemães.
O fascismo

Mussolini:
Anti-individualista, a conceção fascista é feita para o Estado: mas também o é para o
indivíduo, enquanto forma corpo com o Estado. Ela contraria o liberalismo clássico,
nascido da necessidade de reagir contra o absolutismo, [...]. O liberalismo coloca o
Estado ao serviço do indivíduo. (..] Para o fascista, tudo está no Estado, nada de
humano ou espiritual existe fora do Estado. Nesse sentido, fascismo é totalitário e o
Estado fascista interpreta, desenvolve e dá potência à vida integral de um povo.

Nem agrupamentos (partidos políticos, associações, sindicatos), nem indivíduos fora


do Estado. Por consequência, o fascismo opõe-se ao socialismo, que retrai o
movimento histórico a ponto de o reduzir à luta de classes e que ignora a unidade do
Estado que, por si, funde as classes num único bloco económico e moral. Pelos mesmos
motivos, o fascismo é inimigo do sindicalismo.

Para além do socialismo, o fascismo rejeita a ideologia democrática e rebate-a nas


suas premissas teóricas e aplicações práticas. O fascismo nega que o número, pelo
simples facto de ser número, possa dirigir as sociedades humanas; nega que esse
número possa governar graças a uma consulta periódica. Afirma a desigualdade
indelével, fecunda, benfazeja dos homens, impossível de nivelar por um ato mecânico e
exterior como o sufrágio universal. Pode-se definir os regimes democráticos como
aqueles que dão ao povo, de tempos em tempos, a ilusão da soberania.”

Contraria:
- O liberalismo, pois este tem o individuo como primazia, e o fascismo tem um povo
(considera que o indivíduo se deve submeter ao Estado e com ele se identificar, em
lugar de ser o Estado a servir o indivíduo.)

- O socialismo e o sindicalismo, pois a luta de classes divide a nação e enfraquece o


estado

- A democracia pois não concorda com a igualdade entre os homens, o sufrágio


universal e a liberdade política e sindical

O totalitarismo fascista a nível político, económico, social e cultural:


1- A oposição política foi aniquilada

2- As atividades económicas foram extremamente regulamentadas

3- A sociedade foi estimulada pela propaganda e era controlada pelo Estado

4- A liberdade de pensamento e de expressão foi impedida

Segundo Mussolini, a paz não tem utilidade e torna os indivíduos covardes, pois só a
guerra lhes permite demonstrar coragem e nobreza de carácter
O culto do chefe e as elites
Segundo o fascismo, os homens não são iguais, a desigualdade é essencial e o governo
só deve competir aos melhores (às elites)

Os chefes (neste caso, Mussolini e Hitler) simbolizavam o estado autoritário,


encarnavam a nação e guiavam os seus destinos. Deviam ser seguidos sem hesitação,
prestando-lhes um verdadeiro culto que raiava a idolatria.

A popularidade de Hitler deve-se essencialmente:


1- À sua imagem autoritária/militarista /agressiva/firme/convicta;

2- À exploração do nacionalismo alemão e as suas promessas de não cumprir as


obrigações humilhantes do Tratado de Versalhes;

3- Às promessas de recuperação económica e de resolução do desemprego provocado


pela crise de 1929;

4- Aos castigos infligidos aos “ricos e açambarcadores”;

5- Às perseguições aos Judeus, que deixaram os seus empregos e negócios para os


Alemães.

“A 20 de abril, celebrar-se-á com grande pompa a festa de Adolfo Hitler, o chanceler


do Reich. [...] Amanhã, as bandeiras flutuarão nas janelas das casas e nos mastros dos
edifícios públicos. Todo o dia, os programas de rádio exaltarão o movimento nacional-
socialista e o seu chefe. As manifestações de devoção e de admiração para com o herói
que é o Chanceler, por ocasião do seu quadragésimo quarto aniversário, parecerão
assim espantosas [...].

Ninguém duvida da popularidade do Chanceler e de um movimento crescente de


simpatia da parte de camadas cada vez mais vastas da nação. Está-se reconhecido ao
Chanceler por ter o aspeto e a linguagem de um chefe. [...] Está-se-lhe reconhecido
por ter substituído a hesitação, a dúvida, as controvérsias por certezas, mesmo
brutais, por recomendações, mesmo esmagadoras, por uma lei, mesmo tirânica. [...].

Está-se reconhecido a Hitler por ter encarcerado os ricos e os especuladores, por


corrigir os erros e perseguir os abusos. Está-se-lhe agradecido também por ter
maltratado os Judeus [...]. Está-se agradecido a Hitler por ter unido o Reich. ...”
Decálogo das milícias e dos jovens fascistas italianos
1 - Deves saber que o fascista, especialmente o miliciano, não deve acreditar na paz
perpétua.

2 - Os dias de prisão são sempre merecidos.

3 - Serve-se a Pátria inclusivamente a fazer de sentinela junto a um bidão de gasolina.

4 - Um companheiro deve ser como um irmão. Primeiro, porque vive contigo;


segundo, porque pensa como tu.

5 - A espingarda e as cartucheiras não são para deteriorar com o ócio, mas para
conservar para a guerra.

6 - Nunca digas "Que pague o Governo!", porque és tu mesmo quem paga e o


Governo é aquele que tu quiseste e cuja divisa defendes.

7 - A disciplina é a base dos exércitos: sem ela não há soldados, apenas confusão e
derrota.

8 - Mussolini tem sempre razão!

9 - O voluntário não tem atenuantes quando desobedece.

10 - Acima de tudo deves defender a vida do Duce.

Hitler:
“Esta juventude deve aprender unicamente a pensar alemão e a agir em alemão.
Quando estes jovens rapazes e raparigas entram nas nossas organizações aos 10 anos,
sentem uma lufada de ar fresco. E, se ainda não se tiverem tornado verdadeiros
nacionais socialistas, submetê-los-emos ao serviço do trabalho obrigatório. Nunca
mais serão livres durante a sua vida.”

“Nunca mais serão livres durante a sua vida.”


- Significa que as mentes dos indivíduos ficariam, para sempre, impregnadas de ideais
nacionais-socialistas, cessando o respetivo espírito crítico.

Propaganda – Conjunto de meios destinados a influenciar a opinião pública. Nos


estados totalitários, a propaganda procura inculcar nas massas a sua ideologia e os seus
valores culturais e morais.
A violência racista nazi
Hitler, fazendo uma apropriação incorreta da teoria do evolucionismo de Darwin,
concebia a História como uma luta pela sobrevivência da cultura, uma luta de
raças entre os povos fundadores, transmissores e destruidores de cultura.

Procedeu-se, então, à eliminação dos alemães “degenerados” (deficientes mentais,


doentes incuráveis e velhos incapacitados), remetidos para as camaras de gás.

Aos alemães competiria fatalmente o domínio do mundo, se necessário à custa da


submissão ou eliminação dos povos inferiores (judeus, ciganos, eslavos).

Hitler:
“Tudo que hoje admiramos na Terra é o produto criador somente de poucos povos e
talvez, na sua origem, de uma única raça. O que hoje se apresenta a nós em matéria de
cultura humana, é quase que exclusivamente produto da criação dos Arianos. [..] O
Ariano é o Prometeu da Humanidade e da sua fronte é que jorrou, em todas as épocas,
a centelha do génio, fazendo ascender o Homem a uma situação de superioridade sobre
os outros seres terrestres. [...] Se a Humanidade se pudesse dividir em três categorias:
fundadores, depositários e destruidores de cultura, só o Ariano deveria ser visto como
representante da primeira. [...] Só baseado nessas produções é que o Oriente poderá
seguir o progresso geral da Humanidade.

Os judeus é que apresentam um acentuado contraste com o Ariano. A sua compreensão


não é o produto de evolução própria, mas de pura imitação. O que ele hoje apresenta,
como pseudocivilizada, é o património de outros povos, já corrompidos pelas suas
mãos. A sua inteligência não serve para construir coisa alguma; ao invés, serve para
destruir. É e será sempre o parasita típico, um bicho que, tal qual um micróbio
nocivo, se propaga cada vez mais, assim que se encontra em condições propícias. A
sua ação vital assemelha-se igualmente à dos parasitas, onde ele aparece. O povo que
o hospeda vai-se exterminando mais ou menos rapidamente.”

Características comuns ao fascismo italiano e ao nazismo alemão


- Ditadura política / antidemocracia: partidos únicos;

- Ditadores: Mussolini e Hitler;

- Enquadramento das massas: organizações milicianas;

- Organizações de juventude (juventudes fascistas e juventudes nazis) e organizações


corporativas laborais;

- Propaganda e controlo da cultura;

- Repressão: polícia política na Itália e a Gestapo alemã;

- Antissemitismo (preconceito para com os judeus)

- Imperialismo / agressões territoriais

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