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Resumo: Corrente e potência não são simples de serem

medidas, pois é necessário realizar alterações no circuito ou


usar mais de um instrumento de medição para medi-las. Este
relatório apresenta os principais instrumentos e métodos
implementados para a medição dessas grandezas, as
características e incertezas relacionadas a cada um deles.
Palavras-chave: Alicate, Corrente, Potência, TC,
NI-ELVIS, Sistemas de Medição.

1. INTRODUÇÃO
As práticas anteriores tratavam da medição de
parâmetros como tensão e resistência, que são relativamente
simples de serem feitas. Entretanto, a tarefa de medir
corrente ou potência não possui a mesma simplicidade, pois
requer o uso de instrumentos ou sistemas de medição mais Figura 1. Galvanômetro de bobina móvel
elaborados e oferece maior perigo ao operador (correntes da
ordem de mA podem trazer consequências graves ao ser A resistência interna do amperímetro é associada à
humano). bobina móvel (no caso do galvanômetro) e ao circuito
eletrônico interno (amperímetro digital), podendo ser
1.1. Medição de corrente ajustada de acordo com a corrente a ser medida. As
Há diversas formas de se medir corrente num circuito, medições são feitas interrompendo-se o circuito de modo
cada qual com suas vantagens, desvantagens e níveis de que a corrente a ser medida flua pelo instrumento. Isso
complexidade. A seguir serão abordados tais métodos e dispensa a necessidade de isolação elétrica entre o circuito
instrumentos de medição. externo e o do dispositivo.
As incertezas de medição associadas a um amperímetro
Amperímetro: de forma geral, qualquer sistema de são relacionadas ao efeito de carga introduzido pela
medição de corrente pode ser entendido como um resistência interna. Para o caso do galvanômetro, ainda há a
amperímetro. Do ponto de vista de instrumentos de medição, imprecisão visual do operador ao utilizar o instrumento
pode-se citar dois tipos principais de amperímetros: o (dependendo do ângulo de visão, pode-se fazer uma leitura
galvanômetro de bobina móvel (Figura 1) e o errônea).
amperímetro/multímetro digital. Os galvanômetros
disponíveis atualmente são destinados à medição de Shunt (Conversor Corrente-Tensão Passivo):
correntes da ordem de unidades a poucas dezenas de composto por um voltímetro e uma resistência em paralelo
Ampères. (Rshunt), como mostrado na Figura 2, o shunt permite a
medição de corrente via medição de tensão [1]. Sua
principal aplicação é na construção de amperímetros
analógicos de múltiplas faixas. Para que seja utilizado, é
necessária a interrupção do circuito sem de isolação elétrica,
de modo que a corrente a ser medida passe por Rshunt. O
voltímetro mede a queda de tensão Vo em Rshunt, tal que
𝑉𝑜 = 𝐼𝑖(𝑅𝑠ℎ𝑢𝑛𝑡 + 𝑅𝑉) . (1)

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fluir pelo primário. Na prática, o TC é considerado um
“redutor de corrente”, pois a corrente do secundário é menor
que a do primário (I2 > I1); de forma padronizada, a maioria
dos TC’s apresenta corrente de secundário de 5 A, mas esses
dispositivos são projetados para uma corrente de primário de
acordo com o circuito no qual serão aplicados. Assim, são
encontrados no mercado TC’s de 200/5 A, 500/5 A, etc.

Figura 2. Shunt (conversor corrente-tensão passivo)

Observa-se que a resistência interna do voltímetro (Rv),


embora alta, tem influência sobre a tensão Vo,
caracterizando uma incerteza por efeito de carga. Além da
incerteza de Rv, as incertezas associadas ao shunt são a do
resistor Rshunt e a leitura fornecida pelo voltímetro.
Os shunts são fabricados a partir de ligas especiais, tais
como Manganina e Constantan, cujas resistências são Figura 4. Esquema de conexão de um transformador de corrente
praticamente invariantes com a temperatura (ou seja,
PPM/°C muito baixo). A Figura 3 apresenta modelos de Como característica de transformadores, há isolação
resistores shunt compostos por esses materiais. elétrica entre a corrente a ser medida e aquela lida pelo
amperímetro, evitando assim erros de medição devido à
corrente no primário.
Construtivamente, o TC apresenta enrolamento primário
constituído de poucas espiras feitas de condutor de cobre de
grande seção, já que nesse enrolamento a corrente é maior
que a do secundário. Além disso, o número de espiras do
enrolamento secundário é maior que o do primário, ou seja,
N2 > N1 na Figura 4. Os TC’s são projetados e construídos
para suportarem, em regime permanente, uma corrente
maior que a nominal, sem que nenhum dano lhes seja
causado. Isso permite definir um parâmetro conhecido por
fator térmico, a razão entre a corrente máxima suportável e a
nominal.
As incertezas associadas à medição de corrente via TC
se relacionam com as não idealidades desse dispositivo, que
se originam devido às reatâncias de magnetização e de
dispersão. Tais incertezas são matematicamente expressas
pelos erros de relação e de fase, dados respectivamente pelas
equações (2) e (3):
ε𝐶(%) = 100 − 𝐹𝐶𝑅𝐶(%) , (2)
( )
β = 𝑎𝑛𝑔 𝐼2 − 𝑎𝑛𝑔(𝐼1) , (3)
(a) (b)
Figura 3 – Resistores shunt de diferentes materiais: (a) Constantan em que FRCC é o fator de correção da relação.
e (b) Manganina
Alicate Amperímetro: é um amperímetro digital usado
O conversor corrente-tensão geralmente é especificado especificamente para medição de correntes alternadas,
para uma corrente e uma tensão máximas. Por exemplo, se o operando com base nas linhas de fluxo magnético em torno
shunt apresentar a especificação 50 A/50 mV, significa que a do condutor, como esquematizado na Figura 5. Isso permite
tensão entre seus terminais será 50 mV quando fluir uma que haja isolação elétrica entre o dispositivo e o circuito
corrente de 50 A entre eles. externo. As principais vantagens do alicate em relação aos
Transformador de Corrente (TC): é um transformador amperímetros convencionais são a não necessidade de
cujo enrolamento primário é ligado em série a um circuito e interromper o circuito e a possibilidade de medir correntes
cujo enrolamento secundário é conectado a um amperímetro, elevadas; entretanto, há a desvantagem de apresentar
como esquematizado na Figura 4. Observando-se a figura, é maiores incertezas em relação aos outros amperímetros.
necessário interromper o circuito, pois a corrente deste deve

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1.2. Medição de Potência Ativa
A medição de potência ativa em circuitos monofásicos e
trifásicos ocorre por uma combinação das medições de
tensão e corrente em instrumentos chamados wattímetros,
que podem ser analógicos (eletrodinâmicos) ou digitais.
Uma representação do wattímetro eletrodinâmico é mostrada
na Figura 7.

Figura 5. Funcionamento do alicate amperímetro

Para a carga monofásica apresentada na Figura 6,


pode-se determinar um modelo para o módulo da corrente
total I do circuito. Considerando-se a operação no domínio
da frequência e a LKC aplicada ao nó superior, temos que:
𝐼 = 𝐼1 + 𝐼2 , (4)

⎡ 1 ⎤
𝐼 =⎢𝑅 +
1
⎥𝑉 . (5)
⎢ 1 (𝑅2+𝑅𝐿) +(𝑋𝐿) ⎥
2 2 𝑓𝑓
⎣ ⎦ Figura 7. Wattímetro eletrodinâmico
A equação (5) representa o modelo para o mensurando I. O wattímetro eletrodinâmico é composto duas bobinas,
Para determinar sua incerteza combinada, aplicam-se as uma fixa (Bc), destinada à medição de corrente e conectada
equações (6) – (9): em série ao circuito, e outra móvel (Bp), para medição de
tensão e conectada em paralelo. O ângulo α descrito pelo
2 2 2
6 ponteiro do instrumento indica o valor da potência ativa,
𝑢𝑐(𝐼) = ⎡

⎣ ( )(
∂𝐼
∂𝑅1
𝑢 𝑅1 ⎤⎥ + ⎡⎢
) ⎦ ⎣ ( )(
∂𝐼
∂𝑅2
𝑢 𝑅2 ⎤⎥ + ⎡⎢
⎦ ⎣
) ( )(
∂𝐼
∂𝑋𝐿
𝑢 𝑋𝐿 ⎤⎥ ,
)⎦ ) dado pela equação (10):

∂𝐼 𝑇
= 𝐶1 = 𝑉𝑓𝑓 , 7 1 (10)
∂𝑅1
) α=𝑘 𝑇
∫ 𝑖𝐶𝑖𝑃𝑑𝑡 .
0
∂𝐼 𝑅2
= 𝐶2 =− * 𝑉𝑓𝑓 , 8 A constante k depende de parâmetros geométricos do
∂𝑅2
[(𝑅2+𝑅𝐿) +𝑋𝐿]
2 2 3
) instrumento. A corrente iC flui pela bobina fixa e é a
corrente do circuito; iP flui pela bobina móvel, sendo dada
∂𝐼 −𝑋𝐿 pela equação (11):
∂𝑋𝐿
= 𝐶3 = * 𝑉𝑓𝑓 . 9
2 2 3
[(𝑅2+𝑅𝐿) +𝑋𝐿] ) 𝑣
𝑖𝑃 = , (11)
𝑅𝑃

onde RP é a resistência da bobina BP. Considerando a


medição de potência em circuitos de baixas frequências, RP
>> ωLP. Assim, a integral da equação (10) pode ser escrita
como a equação (12):

𝑇
α=
𝑘 1
∫ 𝑣𝑖𝑑𝑡 . (12)
𝑅𝑃 𝑇
0

As incertezas de medição através de wattímetros


eletrodinâmicos são associadas às resistências das bobinas
internas.
Em circuitos trifásicos, há dois métodos de medição de
potência ativa: o método dos 2 wattímetros e o método dos 3
wattímetros. O método dos 2 wattímetros (esquematizado na
Figura 8), aplicável a cargas em estrela com neutro não
Figura 6. Circuito monofásico conectado à terra, consiste em empregar wattímetros em 2
fases, de forma que ambos meçam tensões de mesma
3
referência (fase C na Figura 8), e somar as potências [1] S. Tumanski, “Principles of Electrical Measurement”, 1st
fornecidas por eles para se ter a potência trifásica. Já o ed. Boca Raton: CRC, 2006.
método dos 3 wattímetros consiste em se utilizar um
[2] S. Medeiros Filho, “Medição de Energia Elétrica”, LTC,
wattímetro em cada fase, podendo ser empregado em
1997.
qualquer tipo de carga trifásica.

Figura 8. Método dos 2 wattímetros

Quando se desejam medir potências em que as


correntes assumem valores maiores do que os limites
especificados dos wattímetros ou dos amperímetros, é
necessário usar transformadores de corrente, como
esquematizado na Figura 9. A saída do TC deve ser
conectada à entrada de corrente do wattímetro. Esse
dispositivo tem como impacto sobre a medição de corrente e
potência o aumento das incertezas associadas (erros de
relação e de fase). Para que os TC’s não sejam danificados,
devem ser utilizados com corrente de primário menor ou
igual à nominal.

Figura 9. Medição de potência com TC

No circuito monofásico da Figura 6, um modelo para


cálculo da potência ativa consumida pelo circuito é dado
pelas equações abaixo:

𝑃 = 𝑉𝑓𝑓
2
( 1
𝑅1
+
𝑓𝑝
2
(𝑅2+𝑅𝐿) +(ω𝐿)
2 ) , (13)

𝑓𝑝 = cos 𝑐𝑜𝑠 ⎡⎢
⎣ ( )ω𝐿
𝑅2+𝑅𝐿
⎤ ,


(14)

onde a equação (14) é o modelo para cálculo do fator de


potência.

REFERÊNCIAS

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