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Concurso Formal
Concurso Formal
PENAL
CONCURSO DE CRIMES
Concurso Formal
1. Introdução
Caro(a) leitor(a), nesta unidade de aprendizagem estudaremos o concurso formal de crimes, uma
das espécies do concurso de crimes – fenômeno no qual um agente comete duas ou mais condutas
penalmente relevantes, causando, igualmente, dois ou mais resultados típicos proibidos; ou uma
conduta penalmente relevante, causando, entretanto, uma pluralidade de resultados.
O concurso formal, que se pode conceituar como uma medida de política criminal tendente a
melhorar a situação do imputado que, com apenas uma conduta, causa mais de um resultado
típico proibido, encontra-se previsto no art. 70 do Código Penal (CP), e diz respeito à ocorrência de
uma só ação ou omissão (uma só conduta penalmente relevante, portanto) da qual exsurgem dois ou
mais fatos tipificados pela lei penal como crime. Na exata dicção do dispositivo normativo:
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro
aquela.
§ 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste
Código.
Ainda nas linhas conceituais do concurso formal, Giuseppe Maggiore (1972, p. 157) nos ensinará que,
substancialmente, o concurso formal será realizado quando houver um fato único violador de
diversas disposições legais.
Há, nas literaturas estrangeira e nacional, diversas teorias sobre a pluralidade formal de resultados
típicos. Vejamos os ensinamentos de Juarez Cirino dos Santos (2018, p. 430 e seguintes), citando
autores como Cláudio Heleno Fragoso (1985, p. 366-367), Luiz Regis Prado (1999, p. 280), Cezar
Roberto Bitencourt (1995, p. 217), Maurach (1989, p. 447) e Hans Welzel (1969, p. 231) sobre elas:
De qualquer ponto de vista, uma sistematização dos pressupostos do concurso formal, que costuma
ser apontada por grande parcela da doutrina (por todos, é a postura de Juarez Cirino dos Santos,
2018, p. 430), é a seguinte:
A partir de Rogério Greco (2013, p. 595) temos, entretanto, uma sistematização com mais elementos,
que incluirá, ainda, as consequências da prática de fato punível em concurso formal de crimes:
REQUISITOS
CONSEQUÊNCIAS
Aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentada de um sexto até metade
Aplicação cumulativa das penas, se a ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios
autônomos
Retornemos à redação do art. 70 do nosso CP. Ser-nos-á possível perceber que esse dispositivo
normativo se pode dividir em duas partes:
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
A primeira delas diz respeito ao concurso formal perfeito (eventualmente também referenciado por
concurso formal próprio), tendo aplicabilidade naquelas hipóteses em que o sujeito ativo do fato
punível pratica duas ou mais infrações penais através de uma só conduta penalmente relevante. O
agente terá em mente apenas uma conduta, pouco importando quantos delitos praticará; receberá,
então, a pena do fato mais grave com o aumento determinado pela legislação. Inexistem, no concurso
formal perfeito, desígnios autônomos (elementos subjetivos autônomos dirigidos a cada uma das
condutas de maneira específica e individualizada) com relação às condutas praticadas, havendo
somente um elemento subjetivo dirigido a uma conduta, sobre a qual recairá, normativamente, a
tipicidade formal de mais de uma previsão legal e abstrata de fato punível.
Guilherme de Souza Nucci (2017, p. 844-845) nos traz exemplos didáticos sobre a problemática,
como (i) o do preso que subtrai, para si comprimidos de substâncias psicotrópicas ao realizar faxina
em determinado local, ocasionando o concurso formal dos delitos de furto – art. 155, CP – e porte de
drogas para uso pessoal – art. 28, Lei nº 11.343/2006; e (ii) do agente que leva menor para praticar
roubo, tendo em mente apenas o produto desse crime, e não a corrupção do menor, causando o
concurso formal entre os delitos de roubo – art. 157, CP – e de corrupção – art. 244-B, Lei nº 8.069/1990.
Sintetizando o problema a partir do critério dos elementos subjetivos está Greco (2013, p. 596-597),
que nos traz ainda mais exemplos do que configuraria a ocorrência do concurso formal de delitos.
Esse autor aduz, em suma, que a distinção varia de acordo com a existência do elemento subjetivo
do agente ao iniciar a sua conduta.
Nos casos em que a conduta do agente for culposa na sua origem, sendo todos os resultados
atribuídos ao agente a esse título, ou na hipótese que a conduta era dolosa, mas o resultado
aberrante lhe é imputado culposamente, o concurso será reconhecido como próprio ou perfeito.
Assim, por exemplo, se alguém, imprudentemente, atropelar duas pessoas que se encontravam no
ponto de ônibus, causando-lhes a morte, teremos um concurso formal próprio ou perfeito. No mesmo
sentido, no caso daquele que, almejando lesionar o seu desafeto, contra ele arremessa uma garrafa
de cerveja que o acerta, mas também atinge outra pessoa que se encontrava próxima a ele,
causando-lhe também lesões, teremos uma primeira conduta dolosa e também um resultado que
A segunda delas diz respeito ao concurso formal imperfeito (eventualmente também referenciado
por concurso formal impróprio), situação contida na parte final do caput do art. 70 de nosso Código
Penal Brasileiro, na qual existe a possibilidade de a atuação do agente se dar mediante a existência
de desígnios autônomos, querendo, a título de dolo (consciência e vontade/vontade consciente), a
produção de todos os resultados típicos produzidos na cadeia causal a que dera início. Poderemos
nos valer, para que visualizemos com mais clarividência, do seguinte exemplo, muito conhecido na
doutrina tradicional:
X, desejando o homicídio (art. 121, CP) de três pessoas distintas, resolve colocá-las, constrangendo-
as, enfileiradas umas atrás das outras em perfeita linha reta. Aponta, então, na linha de suas cabeças,
um fuzil carregado, com a finalidade de matar a todos com apenas um disparo de arma de fogo,
economizando tempo e munição.
No exemplo, tendo em vista que a finalidade do agente era matar as três pessoas, é possível
dizermos que os desígnios eram autônomos com relação a cada uma dessas vítimas.
Atenção!
Será possível, ante tudo quanto exposto, que nos valhamos da seguinte tabela esquemática para fixar
as linhas gerais do conteúdo:
Deve ser aplicada a mais grave das penas que se mostrarem cabíveis para o caso concreto ou, na
hipótese de serem iguais, somente uma delas, devendo o juiz, em qualquer dos casos, aplicar o
percentual de aumento de um sexto até a metade, tal qual estabelecido nos dispositivos legislativos
já citados do Código Penal brasileiro.
Atenção!
Deve o(a) leitor(a) estar atento para o critério de graduação: a variação da aplicação
do percentual de aumento dependerá do número de infrações penais tipificadas
como crime pela legislação que foram praticadas pelo agente. Dessa maneira,
quanto mais infrações tipificadas como crime houver na dinâmica do concurso
formal, maior será o percentual de aumento do quantum da sanção penal; ao
contrário, quanto menos infrações forem as que se cometerem, menor será a
imposição do castigo. Esta é também a posição doutrinária de Guilherme de Souza
Nucci (2017, p. 844).
O critério, portanto, não faz referência a nenhum dado subjetivo do agente – como a
“periculosidade social de sua ação”, suas anotações criminais de reincidência, suas
disposições internas ou a reprovabilidade de sua conduta.
O concurso formal homogêneo de crimes terá lugar quando uma mesma conduta penalmente
relevante realiza várias vezes o mesmo tipo penal, como, por exemplo, se com um mesmo disparo se
dá a morte de duas pessoas, ou proferindo uma só expressão se comete um delito de injúria em
desfavor de muitos indivíduos.
O concurso formal heterogêneo de crimes, entretanto, terá lugar quando, com a prática de uma só
conduta penalmente relevante, se satisfazem as exigências de distintos tipos penais, havendo
múltiplas tipicidades, a exemplo daquele que querendo causar a morte de uma pessoa também
fere outra que passava, despercebida, pelo caminho (CURY URZÚA, 1992, p. 279).
Em que pese uma hipótese menos comum do que aquelas que se vislumbra no concurso formal de
tipos comissivos, mostra-se igualmente possível, não havendo grandes problemas, salvo em casos
muito particularizados.
Cuida-se de mais uma hipótese admissível. Tem-se nos casos em que o agente pratica dois ou mais
fatos puníveis em concurso formal e depois pratica mais dois ou mais crimes, também em
pluralidade formal de fatos. Entre as duas sequências haverá um concurso material.
A jurisprudência desta eg. Corte Superior pacificou-se no sentido de que o art. 2º da Lei n. 8.176/91
tutela a ordem econômica, enquanto o art. 55 da Lei n. 9.605/98, tutela o meio ambiente, dessa
forma, não há que se falar em conflito aparente de normas por tutelarem bens jurídicos distintos,
existindo concurso formal (STJ, AgRg no REsp. nº 1.678.419/SE, Quinta Turma, rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 20.09.2018, DJe 26.09.2018).
A prática, em um mesmo contexto fático, dos delitos tipificados nos artigos 14 e 16 da Lei n.
10.826/2003, configuram diferentes crimes porque descrevem ações distintas, com lesões à bens
jurídicos diversos, devendo ser somados em concurso formal (AgRg no REsp 1.588.298/MG, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 03.05.2016, DJe
12/05/2016) (STJ, AgRg no AREsp. nº 1.258.199/MS, rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 14.08.2018, DJe
24.08.2018).
“Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em
provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e
podcasts. Todos os direitos reservados.”
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em provas de concursos públicos.
A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts.
Todos os direitos reservados.