Capítulo 1 — Capital cultural e comunicação pedagógica
Bourdieu busca tratar a relação pedagógica como uma relação de
comunicação e “determinar os fatores sociais e escolares do sucesso da comunicação pedagógica” analisando “as variações de rendimento da comunicação em função das características sociais e escolares dos receptores”
Desigualdades ante a seleção e desigualdades de
seleção
Não se pode ignorar o recorte dos estudantes de outros critérios
como gênero ou origem social, por exemplo.
Para fazer esse estudo Bourdieu usa o método de exposição
dedutiva, pois esse método permite que se relacione Capital linguístico e grau de seleção.
Os alunos que ascendem, de uma classe inferior, ao ensino
superior passam por uma seleção mais forte. O capital linguístico começa a se exercitar nos primeiros anos de escolaridade e segue assim por toda a carreira acadêmica. Para Bourdieu a língua não é apenas um instrumento de comunicação, mas é “um sistema de categorias mais ou menos complexo”,
Que parte que se decifre como suas estruturas lógicas ou
estéticas depende em certo ponto da complexidade da língua transmitida pela família. As aulas mais afastadas da linguagem escolar são mais excluídas da Escola.
Também se nota que estudantes de Paris têm melhores
resultados que estudantes do interior, nos estudantes de classes mais baixa essa diferença é ainda mais explicitamente. Entenda- se isso pelo fato de que em Paris existem mais vantagens linguísticas e culturais.
Caso queiramos analisar a diferença entre moças e rapazes
devemos entender que a situação das moças é diferente da dos rapazes. As moças são duas vezes mais frequentes no estudo de letras que os rapazes. Além disso, os rapazes têm outras faculdades mais abertas.
Bourdieu entende então que há uma superioridade dos rapazes
nesse caso, mas busca uma resposta que invoca uma desigualdade natural. Para ele o grau de seleção entre os sexos não é o mesmo, apesar de que parece que os sexos são selecionados da mesma forma. Se as mulheres se mostram mais aptas ao manejo da linguagem das ideias é porque tudo que as cerca é orientado por um preconceito do que a mulher deve ser. Assim as escolhas são orientadas de acordo com esse preconceito inconsciente que leva as mulheres a optarem pela cultura de salão em oposição à cultura universitária.
Quanto às variações de seleção, estas deixam ser interpretadas a
partir de um princípio único com efeitos diferentes formando uma estrutura onde o sistema das relações comanda o sentido de cada uma dessas relações.
O único modo de ocorrer a tensão fictícia nesse caso é evitar de
forma dissociada fenômenos que aparecem como parte de uma estrutura e em alguns momentos como parte de um processo. Portanto o processo de eliminação escolar, segundo as classes sociais, vem de uma longa ação de fatores que trabalhavam em posições diferentes as classes no sistema escolar, esses fatores são o capital cultural e o ethos de classe . Temos que notar também que esses fatores se acumulam e se convertem em uma “constelação de fatores de retransmissão”. Dessa forma não se pode isolar um fator, deve- se usar todos esses fatores para construir um modelo teórico para que se possa atingir a realidade.
Da lógica do sistema à lógica de suas transformações
Assim como devemos observar as relações como parte de um
sistema, devemos evitar uma função funcionalista do ensino.
Ao se analisar que de um temos as diferentes relações que
“unem as características sociais ou escolares das diferentes
categorias de receptores aos diferentes graus da competência linguística” (p.119)
“e de outro lado e evolução do peso relativo das categorias
identificadas por níveis de recepção diferentes, pode-se construir um modelo que permite explicar e, numa certa, prever as transformações da relação pedagógica” (p.119)
Bourdieu nota que as mudou que ligam o “sistema escolar e a
estrutura de relações de classe” transformam o “sistema das relações entre os níveis de recepção e as categorias de receptores” Com o aumento da taxa de escolarização de todas as classes sociais a superseleção vai investigado sobre os que têm menos herança linguística.
Na época do livro, para compreender o aspecto pedagógico da
crise, à época, o sistema de ensino deveria se levar em conta o
“sistema das relações que une as competências ou as atitudes
das diferentes categorias de estudantes com suas características sociais e escolares e, de outro lado, a evolução do sistema das relações entre a Escola e as classes sociais”(p.120)
De uma forma mais geral o estabelecimento entre capital
linguístico e cultural e grau de seleção relativa deixaria que se explicasse as diferenças que surgem entre os mal-entendidos linguísticos ou culturais.
Todavia não se pode
“dar conta completamente das variações do grau de acordo
linguístico entre emissores e receptores sem integrar ao modelo das fraldas da relação pedagógica, as variações do nível de emissão as características sociais e escolares dos emissores” (p.128)
Ou seja com o crescimento do corpo docente e como evoluiu que
a mensagem pedagógica sofre revela se a emoção ou separação entre o discurso científico e os cânones que regem a relação tradicional com a linguagem. A demanda por docentes favorece docentes formados favorece
“para uma ou outra tarefa na fase anterior da história do
sistema” (p.128)
Isso faz com que os novos docentes busquem
“adotar os sinais externos da competência tradicional do que a
despender o esforço necessário para regular seu ensino pelas habilidades reais de seu público” (p.128)
Numa instituição em que existem docentes mais autorizados a
falar de cátedra e onde eles são mais adultos que os assistentes e mestres assistentes, que são os que mais se relacionam com os alunos, tem que se correr mais riscos para experimentar tecnicamente a essas. E, ao tentar abandonar a relação tradicional com a linguagem fazem com que suas tentativas tentoum primária já que o sistema faz parecer sinais de sua incapacidade de se conformar ao seu papel. Portanto, a transformação do sistema escolar se dá segundo a uma estrutura e funções próprias do sistema. Essa crise é a ocasião de
“discernir orçamentos ocultos de um sistema educacional e os
controlados capazes de perpetuá-lo quando os preliminares de seu funcionamento não estão completamente preenchidos” (p. 129–130).
Aí é que se rompe o acordo entre o sistema escolar e seu
público. O mal entendido que se assedia a comunicação pedagógica só é tolerado até o momento em que a Escola pode eliminar os que não preenchem suas exigências e que ela consegue obter apoio para o seu funcionamento. Para que a instituição cumpra a sua função de inculcação é preciso que ela transmita uma mensagem e o seu receptor seja capaz de compreender-la portanto é agregar em seus efeitos pedagógicos o aumento do público e o tamanho da organização de forma que se descubra que diante da crise desse equilíbrio os transmitidos de modo institucionalizado foram adaptados ao público definido. Bourdieu acredita que, para esse sistema, o teste verdadeiro não é o numero mas, a qualidade social de seu público. Ao frustrar as expectativas dos estudantes que
“não introduzirem mais na instituição os meios de preencher as
suas expectativas, o sistema escolar deixa claro que exigia tacitamente um público que poderia-se com a instituição porque comunicou-se de suas exigências imediatas” (p.130–131) Bourdieu acredita também que ao se recusar “a facilitarr ao crescimento do público uma ação que se exerceria”
“independentemente da estrutura escolar, não significa conceder
a esse sistema o privilégio de uma autonomia absoluta que lhe permite defrontar-se apenas com os problemas gerados pela lógica de seus funcionamentos e de suas transformações” (p.131–132)
Portanto, com o desvio das
“exigências implícitas do sistema de ensino e a realidade de seu
público que se explicam tanto a função conservadora da pedagogia tradicional como não pedagogia quanto aos princípios de uma pedagogia explicitamente que pode ser objetivamente exigida pelo sistema sem entretanto se importar automaticamente na prática dos docentes porque ela exprime as diferenças desse sistema e porque contradiz seus princípios fundamentais”(p.132)
Bourdieu constata então que não se pode estudar
separadamente a população escolar e a organização da instituição ou ao seu sistema de valores. Necessita-se então uma construção
“do sistema de relações entre o sistema de ensino e a estrutura
das relações entre classes sociais”
Para que se escape a
“abstrações reificantes e se produza conceitos relacionais que”(p.133)
“se integram na unidade de uma teoria explicativa das
propriedades à dependência de classe (como ethos e capital cultural) e das propriedades pertinentes da organização escolar, tais como, por exemplo, a autoridade dos valores que implicam na autoridade dos estabelecimentos das seções das disciplinas, dos graus ou das práticas” (p.134)