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Filosofia Rawls Ficha formativa Junho de 2020

Grupo I
Assinala com F as proposições FALSAS e com V as VERDADEIRAS.

1. Uma das tarefas principais da teoria da justiça como equidade consiste em determinar os
princípios morais que seriam escolhidos na posição original. ____
2. Para Rawls, imaginarmo-nos na posição original é conceber que estamos numa situação
inicial hipotética, na qual vamos ter de escolher os princípios da sociedade em que iremos
viver. ____
3. De acordo com Rawls, colocadas na posição original, as pessoas reconhecerão como
razoável o princípio da utilidade ou da maior felicidade. ____
4. Segundo Rawls, não há injustiça no facto de alguns conseguirem benefícios maiores do que
outros, mesmo que a situação das pessoas menos afortunadas não seja, por esse meio,
melhorada. ____
5. Rawls defende que todos os bens sociais primários devem ser distribuídos de maneira
igual, a menos que uma distribuição desigual de alguns ou de todos estes bens beneficie os
menos favorecidos. ____
6. Para Rawls, na escolha dos princípios de justiça ninguém deve ser beneficiado ou
prejudicado pela fortuna natural ou pelas circunstâncias sociais. ____
7. De acordo com Rawls, os princípios de justiça são escolhidos a partir da situação própria de
cada um, tendo presentes as inclinações e aspirações particulares. ____
8. Segundo Rawls, para que o acordo seja justo, é necessário imaginar uma situação inicial
em que todos os intervenientes estão cobertos por um véu de ignorância. ____
9. Na posição original e sob o véu de ignorância, diz Rawls, cada um de nós considerará
racional jogar pelo seguro e maximizar a felicidade geral. ____
10. Para Rawls, cobertos pelo véu de ignorância, jogaremos pelo seguro e adotaremos
princípios que permitam maximizar o pior que nos pode acontecer. ____
11. Em virtude do véu de ignorância, diz Rawls, quando tentamos estabelecer as cláusulas de
um acordo imaginário somos levados a cooperar no sentido do maior benefício de todos e
de cada um. ____
12. O primeiro princípio da justiça a emergir do acordo hipotético é o princípio da igualdade, o
qual inclui dois princípios: o princípio da diferença e o princípio da oportunidade justa. ____
13. O princípio da liberdade tem prioridade sobre os restantes princípios e impede práticas
como a escravatura, a tortura ou a prisão arbitrária. ____

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14. Rawls considera aceitável a obtenção de vantagens sociais e/ou económicas à custa do
sacrifício das liberdades básicas. ____
15. A segunda parte do princípio da igualdade pressupõe que o Estado deve intervir de forma a
garantir que todos possam ter as mesmas oportunidades. ____
16. O princípio da diferença favorece uma distribuição equitativa da riqueza, mas estabelece a
existência de desigualdades a favor dos que mais se esforçam. ____
17. A teoria de Rawls estabelece que o princípio da liberdade igual tem prioridade sobre os
outros dois e o princípio da oportunidade justa tem prioridade sobre o princípio da diferença.
____
18. Para Rawls, as liberdades básicas individuais são absolutas, não podendo em circunstância
alguma ser limitadas ou restringidas. ____
19. A discriminação positiva, que consiste em tratar certos grupos de pessoas de forma
preferencial, seria aceitável no contexto da teoria da justiça de Rawls e do princípio da
oportunidade justa. ____
20. Para alguns críticos de Rawls, não é possível abraçar simultânea e consistentemente o
princípio da diferença e o princípio da liberdade. ____

Grupo II
Começa por ler, atentamente, os excertos que se seguem, antes de responderes às
questões.
DOC. 1
A teoria da justiça como equidade é um exemplo daquilo a que chamei teoria contratualista. Pode
objetar-se ao uso do termo «contrato», ou de termos semelhantes, mas creio que ele é útil. (…)
Como já afirmei, para compreender o conceito é preciso ter presente que ele implica um certo grau
de abstração. Em particular deve ter-se presente que o conteúdo do acordo não está na adesão a
uma sociedade dada ou na adoção de uma certa forma de governo, mas na aceitação de certos
princípios morais. Por outro lado, os compromissos a que ele se refere são puramente hipotéticos:
a conceção contratual defende que certos princípios serão adotados numa situação inicial
devidamente definida.
John Rawls, Uma teoria da justiça, Editorial Presença, 2013, p. 36.

1. Em que medida a teoria da justiça como equidade é uma teoria contratualista?


Na tua resposta, integra, de forma pertinente, informação do texto.

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DOC. 2
(…) Neste ponto os dois princípios de justiça têm uma vantagem clara. As partes não só protegem
as suas liberdades básicas como obtêm uma garantia contra a ocorrência das piores de todas as
eventualidades possíveis. Não correm o risco de virem a ter de consentir numa perda da liberdade
para que outros possam gozar de um bem maior (…).
(…) Quando os dois princípios são cumpridos, as liberdades básicas de cada sujeito estão
garantidas e, de um modo definido pelo princípio da diferença, cada sujeito é beneficiado pela
cooperação social. Deste modo, é possível explicar a aceitação do sistema social e dos princípios
que ele cumpre através da lei psicológica de que as pessoas tendem a amar, proteger e apoiar
aquilo que defende o seu próprio bem. Dado que o bem de todos é defendido, todos estarão
inclinados a defender o sistema.
Quando o princípio da utilidade é cumprido, no entanto, não existe a garantia de que todos
beneficiem. A obediência ao sistema social pode obrigar a que alguns, em particular os menos
favorecidos, devam renunciar a benefícios para que um bem maior esteja à disposição do conjunto.
(…) Mesmo quando não somos muito afortunados devemos aceitar as maiores vantagens dos
outros como uma razão suficiente para termos expectativas mais reduzidas ao longo da vida.
Trata-se de uma exigência excessiva. (…) É evidente que os utilitaristas destacam o papel da
simpatia e da aprendizagem moral, bem como o lugar central da benevolência, entre as virtudes
morais. A conceção utilitarista da justiça é ameaçada pela instabilidade, a não ser que a simpatia e
a benevolência sejam cultivadas de forma geral e intensa. Ao olhar a questão do ponto de vista da
posição original, as partes rejeitarão o princípio da utilidade e adotarão a ideia mais realista de
conceberem uma ordem social com base no princípio da vantagem recíproca. Não devemos,
evidentemente, supor que, na vida quotidiana, as pessoas nunca fazem sacrifícios substanciais
pelos outros, já que, movidas pelos laços de afeição e de sentimento, tal ocorre com frequência.
Mas tais ações não são exigidas, em nome da justiça, pela estrutura básica da sociedade.
John Rawls, Uma teoria da justiça, Editorial Presença, 2013, pp. 148-149.

2. Como se posiciona Rawls face ao utilitarismo? Porquê?


Na tua resposta, integra, de forma pertinente, informação do texto.

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CORREÇÃO
Grupo I
1. (V); 2. (V); 3. (F); 4. (F); 5. (V); 6. (V); 7. (F); 8. (V); 9. (F); 10. (V); 11. (V); 12. (F); 13. (V); 14. (F);
15. (V); 16. (F); 17. (V); 18. (F); 19. (V); 20. (V).

Grupo II
1. A noção de contrato está presente na filosofia desde a antiguidade, mas é só com os
pensadores da modernidade que esta adquire um lugar central nas teorias políticas. O
contratualismo, tal como foi entendido pelos filósofos dos séculos XVII e XVIII (Hobbes, Locke,
Rousseau e Kant), parte da ideia de que a organização social depende, em termos de justificação,
de um contrato ou acordo hipotético entre os membros da sociedade em causa, o qual permite
estabelecer os princípios básicos dessa mesma sociedade. Na base da argumentação
contratualista estão, resumidamente, três elementos: a situação inicial, o contrato e o resultado do
contrato.
Na segunda metade do século XX, Rawls renova esta perspetiva, ajustando-a à sua teoria da
justiça como equidade: «o conteúdo do acordo não está na adesão a uma sociedade dada ou na
adoção de uma certa forma de governo, mas na aceitação de certos princípios morais». À situação
inicial, pré-contratual, Rawls chama «posição original». É a partir desta situação inicial hipotética
que todos nós, seres livres e racionais, somos convidados a escolher, sob condições devidamente
definidas pela teoria, os princípios da sociedade em que iremos viver. A teoria da justiça como
equidade é um exemplo de contratualismo de inspiração kantiana.

2. A teoria da justiça de Rawls constitui uma forte reação ao utilitarismo clássico. A principal razão
desta rejeição está exposta no texto. Segundo o critério utilitarista, uma ação é moralmente correta
se, e só se, for aquela que mais felicidade trouxer a um maior número de agentes morais. A maior
felicidade do maior número é, portanto, aquilo que constitui a medida do correto e do incorreto para
utilitaristas como Stuart Mill. Quando o princípio da utilidade é cumprido não existe, portanto, diz-
nos Rawls, a garantia de que todos beneficiem. É perfeitamente possível «que alguns, em
particular os menos favorecidos, devam renunciar a benefícios para que um bem maior esteja à
disposição do conjunto». Esta é, para Rawls, uma exigência excessiva e injusta.
Para o autor norte-americano, o utilitarismo esquece a justiça, na medida em que se contenta com
a máxima produção de bem-estar sem se importar com o seu modo de distribuição. Claro que os

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utilitaristas destacaram a importância da educação na formação e desenvolvimento de agentes
competentes, mas ainda assim «a conceção utilitarista da justiça é ameaçada pela instabilidade, a
não ser que a simpatia e a benevolência sejam cultivadas de forma geral e intensa». Rawls
considera, por isso, que colocadas na posição original, «as partes rejeitarão o princípio da utilidade
e adotarão a ideia mais realista de conceberem uma ordem social com base no princípio da
vantagem recíproca».

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