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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE PATOS DE MINAS-MG

Autos nº 7001122-33.2019.8.13.0480

ROSALINA DE CÁSSIA DA SILVA ABRAVANEL, devidamente qualificada nos


autos em epígrafe da AÇÃO DE ALIMENTOS que ora move em face de EVARISTO
ABRAVANEL, também já qualificado, vem tempestiva e respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu procurador, que está subscreve, nos termos do art. 1.022 do
CPC/15, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO em face da decisão de fls. 31, que
determinou a improcedência total dos pedidos autorais.

SÍNTESE FÁTICA

Trata-se de ação de alimentos proposta por Rosalina com o intuito de ter garantido a
assistência que lhe é devida em virtude da sua menor idade, em que pleiteia o valor referente a
02 salários mínimo, a qual, foi julgada improcedente, no seguinte teor:

Nesta ordem de ideias, diante da ausência de provas, o pedido autoral deve ser julgado
improcedente, assim como o pedido de fixação de alimentos provisórios porque
ausentes os requisitos legais para concessão da tutela provisória. DIANTE DO
EXPOSTO, INDEFIRO o pedido de fixação de alimentos provisórios e JULGO
IMPROCEDENTE o pedido da Autora. Condeno a Autora, portanto, a arcar com as
custas e despesas processuais, bem como a pagar honorários advocatícios aos patronos
da parte requerida, os quais fixo em 10% tendo em vista que a causa foi de menor
complexidade e não houve a necessidade de realização de instrução processual, sendo
certo que a partir dos critérios previstos no art. 85 do CPC os honorários devem ser
fixados no mínimo legal.

Ocorre que, pela simples leitura da decisão, vê-se que há CONTRADIÇÃO do


magistrado, haja vista que o art. 355 do CPC/15 versa sobre a possibilidade do julgamento
antecipado do pedido com resolução de mérito apenas quando não houver a necessidade de
produção de outras provas.
Considerando que a decisão que julgou improcedente o pedido autoral teve como
fundamentação a inexistência de provas constitutivas do direito, está, portanto, merece ser
sanada, não restando outra alternativa à Embargante senão a oposição dos presentes embargos
declaratórios.

DA CONTRADIÇÃO

A contradição ocorre quando estamos diante de proposições inconciliáveis entre si, ou


seja, a narrativa fática aponta para a improcedência pela inexistência de provas do direito
autoral, ocorre que V. Exe. optou pelo julgamento antecipado da lide com resolução de mérito
por entender desnecessário a produção de outras provas, como preceitua o art. 355, I do CPC/15,
vejamos:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução
de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;

Neste sentido, não existe lógica entre o argumento utilizado para determinar a
improcedência dos pedidos autorais, qual seja, o ato de não produzir provas constitutivas do
direito, e a tese de julgamento antecipado, vez que esse, induz não ser necessário a produção de
nenhuma outra prova para que a resolução do mérito possa ser tomada atentando a todos os
preceitos processuais.

Além desta questão apontada como contraditória, a Lei 5.478/68 em seu art. 4º preceitua
a necessidade, no despacho da petição inicial, da fixação de alimentos provisórios a serem pagos
pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita, algo que não
ocorreu, como faz prova a insistência da Embargante em sua exordial, deixando bem claro a
necessidade dos alimentos, por se tratar de uma menor impúbere e da condição de penúria
vivida junto a sua genitora, vejamos:

Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem
pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Consoante a necessidade da fixação dos alimentos provisórios, foi atribuído à


Embargante um ônus probatório que lhe é impossível de determinar, qual seja, as condições
financeiras do Embargado, bem como a demonstração detalhada da necessidade dos alimentos,
sem ser observada a dificuldade para a obtenção de tal prova em se tratando dos proveitos
econômicos, bem como a desconsideração da necessidade presumida atribuída aos menores
impúberes.

Vejamos o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais em


julgamento de causa semelhante.

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIMENTOS PROVISÓRIOS -


NECESSIDADE - POSSIBILIDADE - FILHO MENOR DE IDADE -
NECESSIDADE PRESUMIDA - NOVA FAMÍLIA - DESPROVIMENTO DO
RECURSO. 1 - É presumida a necessidade de alimentos do filho menor de idade.
2 - O valor da prestação de alimentos deve ser adequado às necessidades do
alimentário e às possibilidades do alimentante. 3 - A constituição de uma nova família
não é suficiente, por si só, para reduzir o valor da assistência material ser prestada ao
outro filho. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.074451-2/001, Relator
(a): Des. (a) Jair Varão, 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/08/2021, publicação
da súmula em 12/08/2021)

Ademais da necessidade presumida do filho menor de idade, não lhe deve ser exigido
prova distinta da relação de parentesco entre as partes, conforme art. 2º da Lei 5.478/68.

Art. 2º. O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz


competente, qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas o
parentesco ou a obrigação de alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome,
residência ou local de trabalho, profissão e naturalidade, quanto ganha
aproximadamente ou os recursos de que dispõe.

Nestes termos, nas palavras de Maria Berenice Dias:

Na ação de alimentos, há inversão dos encargos probatórios. Ao autor cabe tão-só


provar o vínculo de parentesco ou a obrigação alimentar do réu. Não há como lhe
impor que comprove o quanto percebe o demandado, pois são informações sigilosas
que integram o direito à privacidade. É do réu o ônus de demonstrar seus ganhos, para
que o juiz fixe os alimentos atendendo ao critério da proporcionalidade. A ausência
deste dado, no entanto, não pode inibir o juiz. Mesmo que o réu só possa trazer a prova
de seus rendimentos quando da contestação, isso não serve de justificativa para não
serem fixados alimentos provisórios. Sequer pode adiada a imposição dos alimentos
serem. Há determinação legal para que sejam fixados ao ser despachada a inicial.
Descabe aguardar ou a audiência ou a contestação.

Trata-se de necessário reconhecimento da contradição apontada, conforme lecionam os


precedentes acerca do cabimento dos Embargos:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO. OCORRÊNCIA. VÍCIO


SANADO. Embargos conhecidos e acolhidos. Relatório dispensado (Enunciado 92
do FONAJE). Voto. Conheço os embargos, visto que tempestivos. Primeiramente
cumpre esclarecer que nos termos do artigo 48 da lei nº 9.099/95 c/c artigo 1.022 do
CPC, caberá embargos de declaração quando na decisão judicial, houver obscuridade,
contradição, omissão ou erro material. Examinando o acordão embargado (evento 25),
verifica-se que assiste razão à embargante. Vislumbra-se a existência da contradição
apontada, uma vez que os honorários foram fixados sobre o valor da causa. Dessa
forma, acolho os embargos de declaração a fim de alterar o penúltimo parágrafo da
página 2 do acordão de evento 25 para que passe a constar a seguinte redação: “Não
logrado êxito em seu recurso, deve a parte recorrente arcar com o pagamento das
custas processuais e honorários de sucumbência, os quais fixo em 15% sobre o valor
atualizado da condenação, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95. ” O voto é,
portanto, pelo conhecimento e acolhimento dos embargos de declaração, sanando a
contradição existente. (...) (TJPR – 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais –
0001870-41.2017.8.16.0171 – Tomazina – Rel: Leo Henrique Furtado Araújo – J.
17.05.2018)

Porquanto a inobservância da norma quanto as contradições apresentadas, outro ponto


que merece guarida se trata da condenação à Autora, a arcar com as custas e despesas
processuais, bem como a pagar honorários advocatícios aos patronos da parte requerida,
oportunidade em que não foi observado a concessão do benefício da gratuidade de justiça à
Embargante em decisão de fls. 11 dos autos.

Desta forma, deve ser revista a decisão embargada de forma que seja sanada tal
inconsistência para o correto deslinde do processo.

DOS PEDIDOS

Portanto, requer seja sanada a contradição com o recebimento do presente embargo de


declaração, para fins de que seja observada a condição de menor impúbere, a qual presume-se
a necessidade dos alimentos, desincumbindo assim, do ônus da prova, bem como, a contradição
firmada na decisão de julgamento antecipado do mérito e a necessidade da produção de provas
para o deslinde do processo, além da condenação ao pagamento de custas, despesas processuais
e honorários advocatícios com a inobservância da concessão do benefício da gratuidade de
justiça à Embargante.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Patos de Minas, 16 de agosto de 2021

ADVOGADO
OAB/MG 17003063

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