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FICHA DE TRABALHO

10º ANO

Texto A

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Brinquedos para menino, brinquedos para menina


e bom senso para os paizinhos

Eu e a minha mulher estamos numa loja de brinquedos ou acessórios para crianças.


Também pode ser num corredor de supermercado. Estamos a olhar para bolas, mochilas,
puzzles, estojos, brinquedos, T-shirts ou outra bonecada qualquer e tentamos escolher uma
coisa para uma das nossas filhas. Ou para oferecer. Pouco importa, para o caso. Elas
também estão aqui. As filhas. A mais nova pega numa bola com o Homem-Aranha, a mais
velha segura numa fantasia da Dra. Brinquedos. A mais velha segura numa bisnaga, a mais
nova agarra num Nenuco. Uma tenta segurar num puzzle com uma princesa maior do que
ela, a outra quer tirar um bulldozer de uma caixa cheia de atilhos1 de segurança. […]
Este filme é frequente. O que nunca aconteceu, até hoje, foi alguma delas fazer uma
birra valente por querer – mesmo! – aquele copo do Hulk, aquelas pantufas do Faísca
McQueen ou aquela pandeireta com o Capitão América. Mas algum dia será. E nós, que
não estamos habituados a meninos, quando isso acontecer, vamos pagar e vimos embora
com a mesma naturalidade que teríamos se tivéssemos um filho e ele quisesse uma tábua
de engomar, um trem de cozinha ou um puzzle da Barbie. Como é que eu tenho tanta
certeza? Porque temos algum bom senso e acreditamos mais na educação que damos às
miúdas do que nos estereótipos2 que os adultos (os crescidos, portanto) atribuem ao
significado escondido por trás de um objeto de plástico.
Há outra coisa que as nossas filhas ainda não fazem: ir com frequência ao
McDonald’s. Se conhecessem bem as refeições da cadeia norte-americana, talvez já se
tivessem cruzado com as Happy Meals e os brinquedos oferecidos nas caixas respetivas.
Esses mesmos que, no início da semana passada, a empresa veio admitir serem
discriminatórios3, por serem dirigidos a raparigas ou a rapazes. My Little Pony para
raparigas, Transformers para rapazes. […] A McDonald’s Portugal garante que irá rever os
procedimentos em relação à Happy Meal, ao encontro do que é prática noutros países, onde
os empregados se referem ao nome do brinquedo e não ao género da criança que pode
brincar com ele.
Nada tenho contra esta medida. Nem contra a abolição4 do questionário que
acompanha algumas destas refeições, em que palavras como “criatividade”, “culinária” e
“estilo” são dirigidas a meninas e aos brinquedos delas e “trabalho de equipa”, “força” e
“poder” estão associadas aos meninos e aos brinquedos deles. O que me chateia é se,
nesta ânsia de uniformização5 de géneros atrás do politicamente correto, cairmos no
exagero de limpar todas as referências a “ele” e “ela” do imaginário infantil de jogos e
brincadeiras. […] E que tal deixar alguma margem para os pais e as próprias crianças
ajuizarem? Pais com bom senso, não os que emprenham pelos ouvidos6 e se chocam com
minudências7. É que – vá lá gente – isto são minudências, não são? Quando comparadas
com outras coisas maiores e mais urgentes, estas pequenas vitórias são uma espécie de
poeira cósmica num universo de assuntos verdadeiramente preocupantes. […]
Há que ter cuidado no uso das palavras. “Discriminação” é um palavrão danado. Que
se deve usar com alguma parcimónia8, para não perder força. “Discriminação” é uma das
minhas filhas não ser aceite num emprego porque é mulher ou receber menos do que um
colega porque ele é homem. O resto são minudências. E não tentem explicar que tudo isto
começa nos brinquedos dos filhos. Não é verdade. Começa é na educação dos pais.

Paulo Farinha, Notícias Magazine, in http://www.noticiasmagazine.pt/2016/brinquedos-para-menino-


brinquedos-para-menina-e-bom-senso-para-os-paizinhos/ (com supressões, consult. 23-04-2019)

VOCABULÁRIO
1. atilhos: fitas, cordões, arames ou outros objetos usados para atar. 2. estereótipos: opiniões ou ideias que se
atribuem ou impõem a alguém sem um fundamento sério. 3. discriminatórios: que tratam de forma desigual ou
injusta alguém, quando se compara com a forma como se tratam os outros. 4. abolição: extinção. 5.
uniformização: tornar igual. 6. emprenham pelos ouvidos: são facilmente influenciados por boatos, sem se
preocuparem com a verdade. 7. minudência: pormenores, detalhes sem importância. 8. parcimónia: moderação.

1. As afirmações de A. a E. referem-se a informações do artigo de opinião. Escreve a


sequência de letras que corresponde à ordem pela qual essas informações surgem no texto.
A. O autor não considera a medida da McDonald´s muito relevante.
B. O autor receia que certas medidas queiram tornar rapazes e raparigas iguais naquilo que
todos têm de diferente.
C. Para o autor, a questão dos brinquedos para rapaz e rapariga é algo sem importância.
D. Quando o autor vai às compras, as filhas querem coisas completamente diferentes.
E. Há questões de igualdade que o autor considera mais importantes do que os brinquedos.

2. Para responderes a cada item (2.1. a 2.3.), seleciona a opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.
2.1. O autor afirma que, se as filhas escolherem brinquedos tipicamente associados a rapazes,
isso não será um problema, pois
A. na verdade, desejava ter meninos.
B. considera os brinquedos de raparigas muito aborrecidos.
C. pensa que esses brinquedos lhes mostraram um pouco do mundo masculino.
D. acha que as crianças podem brincar com o que quiserem, se tiverem uma boa educação.

2.2. O autor receia que, com a tentativa, de evitar a discriminação entre meninos e meninas
A. se obrigue os rapazes a brincarem apenas com Tartarugas Ninja.
B. se tente apagar as diferenças positivas e naturais que existem entre os dois géneros.
C. se obrigue as crianças a brincarem com o que não querem.
D. se force os pais a educarem os filhos contra a sua vontade.

2.3. Através do último parágrafo, o autor pretende chamar a atenção para


A. os salários das suas filhas.
B. a falta de educação de certos pais e os brinquedos que oferecem.
C. a verdadeira discriminação entre géneros e a importância da educação.
D. o facto de brinquedos diferentes determinarem comportamentos diferentes.

3. Seleciona a opção que contém uma afirmação falsa, de acordo com o texto.
A. Na linha 4, “Elas”, em “Elas também estão aqui.”, refere-se a “As filhas” (l. 5).
B. Na linha 24, “onde”, em “onde os empregados se referem ao nome do brinquedo”, refere-
-se a “noutros países” (l. 27).
C. Na linha 25, “ele”, em “que pode brincar com ele”, refere-se a “género” (l. 28).
D. Nas linhas 40-41, “Que”, em “Que se deve usar com alguma parcimónia”, refere-se a
“palavrão danado” (l. 40).

GRUPO II

Lê, com atenção, o seguinte excerto:

“E enquanto o parvalhão do Rodrigo está todo contente a ver o TV Shop, a tua mãe vem-te
chamar para limpares a loiça ou fazeres uma coisa qualquer…”

Luísa Costa Gomes, Vanessa Vai à Luta. Porto: Porto Editora, 2015 [p. 71]

Escreve um comentário, com um mínimo de 250 e um máximo de 350 palavras, à afirmação de


Vanessa.
O teu comentário deve apresentar a seguinte estrutura:
– uma introdução, na qual explicites o sentido das palavras de Vanessa e o que ela demonstra
ao dizê-las;
– um desenvolvimento, no qual apresentes o teu ponto de vista sobre o que é dito e dois
argumentos que o fundamentem;
– uma conclusão, na qual reforces o teu ponto de vista.

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