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História Da Filosofia Antiga - Influencias Do Pensamento Pitagorico em Platao
História Da Filosofia Antiga - Influencias Do Pensamento Pitagorico em Platao
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
História da Filosofia Antiga;
Professor: Grabriele Cornelli;
Aluno: Igor lago Caribé – 07/33466.
Introdução
1
Giovanni Reale e Dario Antiseri
História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga vol1 ed. Paulus 2ª ed, 2004, p.25.
2
Giovanni Reale e Dario Antiseri
História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga vol1 ed. Paulus 2ª ed, 2004, p.11.
3
Aristóteles - Metafísica. I, 5, 985b
Fora do âmbito político, tanto Platão como Pitágoras acreditavam e
defendiam a transmigração das almas, ambos influenciados pela doutrina de
Orfeu. Os pitagóricos se aprofundaram sobre o assunto e contribuíram para a
disseminação de tais idéias, o que no futuro faria com que Platão desenvolvesse
a teoria Metafísica, dando uma explicação da ligação com um mundo supra-
sensível, e justificando a possível metempsicose (doutrina que explica a
transmigração da alma).
Muitas outras foram as relações de um com o outro. e será com os olhos
voltados principalmente para essas relações, que essa monografia terá sua base
e desenvolvimento.
Desenvolvimento
Pitágoras e os pitagóricos.
4
Simonne Jacquemard
Pitágoras e a harmonia das esferas ed. DIFEL 2007, p. 64.
5
Simonne Jacquemard
Pitágoras e a harmonia das esferas ed. DIFEL 2007, p. 65
distinguir um pitagórico de um não-pitagórico. Frases como “Calçar o sapato
direito em primeiro lugar”, “Abster-se de ingerir vagens”, “Não enxugue uma
cadeira com uma tocha”, “Não urine virado para o sol”, dentre outras; 2)
Tradicional respeito aos mais velhos; 3) Não comer nenhum ser animal; 4) Não
comer vagens6, crime considerado da mesma ordem que comer a cabeça dos
pais.
Muitas foram as influências dos pitagóricos no mundo, razão pela qual
tornáram-se famosos, e Crotona tornou-se a mais erudita cidade da Grécia
antiga. Alguns dos principais pitagóricos foram Brontino (que se supõe ter
casado com a filha de Pitágoras), Hípaso de Metaponto (o qual ficou famoso por
revelar um dos segredos pitagóricos7), Teano, Filolau, Alcmeão de Crotona e
Árquitas de Tarento.
Algumas das idéias principais derivadas desse célebre grupo foram: 1)
definirem ser o elemento dos números o princípio de todas as coisas; 2)
estabelecerem verdades matemáticas, das quais a mais famosa é o Teorema de
Pitágoras8, e 3) reformularam a doutrina órfica, popularizando-a entre os gregos.
Platão
6
De acordo com Diógenes Laércio, Aristóteles disse que os pitagóricos não comiam vagens “(...) porque
possuem a forma de testículos (...)”, representando a fertilidade. Já Plínio [História Natural] (Livro XVIII,
30) diz que era pelo fato da vagem não ter nenhum nó entre sua raiz e a vagem em si, o que representava
uma forma de ligação direta ente os mortos do Hades, e os vivos, e que nelas era feita a Metempsicose.
7
Violou o segredo que envolvia “a inscrição dos doze pentágonos no interior da esfera”.
8
Gerd A. Bornheim
Os Filósofos pré-socráticos ed. Cultrix, p. 47/48.
Tendo parentesco com Sólon e com o Rei Codros, Aristócles (seu
verdadeiro nome) tinha uma predisposição para as questões ligadas à política,
que, como revelaria posteriormente, era uma de suas paixões. Porém, não foi
muito bem sucedido nessa área, tendo desilusões, sendo preso, exilado, e até
mantido como escravo durante certa época. Tentou diversas vezes concretizar
sua cidade perfeita, mas nunca obteve sucesso.
De Sócrates, Platão teve suas maiores influências, a ponto de que
quando criou sua Academia em Atenas, lecionava matérias ligadas aos
pensamentos do mestre. Na maturidade, Platão começaria a escrever sobre
assuntos de seu próprio desenvolvimento: “a maioria dos outros diálogos,
especialmente os breves, constituem certamente escritos de juventude, o que,
de resto, se confirma pela temática acentuadamente socrática que neles se
discute”.9
Na Academia, estudaram alunos voltados a renovar o estado, pois
aqueles que melhor governam são os que Platão denominava de Reis-Filósofos.
Só quem pode governar com maestria e capacidade de julgamento correto, é
aquele que conhece a verdade, ou que pelo menos a almeje. Para tanto, Platão
tratou de convidar matemáticos, astrônomos, médicos, dentre outros, para assim
melhor formar os ali presentes.
Estudaram na academia, Filósofos famosos, como Xenócrates e Crates.
Porém, o aluno de maior destaque, sem dúvida, foi Aristóteles, o qual
permaneceu na Academia durante 20 anos, e foi o principal desenvolvedor de
críticas e melhorias nas teorias socráticas e platônicas, como, por exemplo, na
Metafísica.
De Platão temos aparentemente seu legado escrito completo, pois
chegaram para nós todos os trinta e seis trabalhos, divididos hoje em nove
tetralogias cronológicas, tendo “A República” como livro principal. No entanto
não podemos dizer o mesmo de seu pensamento. Muitas de suas idéias ficaram
em seus discursos, suas aulas, onde desenvolvia temas sobre os quais não
9
Giovanni Reale e Dario Antiseri
História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga vol1 ed. Paulus 2ª ed, 2004, p.134.
escreveu, apenas dissertou, como fez Sócrates durante toda vida, como as
temáticas sobre o Bem (o Belo-em-si).
“A República” foi escrita por Platão, tendo Sócrates como protagonista,
gerando um interessante dilema: ou Platão criou um personagem “Sócrates”, em
homenagem ao mestre, para através dele expor suas idéias, ou Platão exerceu
nesse contexto para a filosofia socrática um papel semelhante ao de Euclides
para a Geometria Plana em “Os Elementos”: Não tendo Sócrates deixado obra
escrita, teria se encarregado Platão de nos trazer seu legado na forma de
diálogos, eternizando o mestre.
A Influência do Orfismo
10
Palavra de significação imprecisa. No Crátilo, Platão escreve o seguinte discurso proferido por Sócrates:
“Quanto ao ‘Hades’, parece-me que a maioria dos homens admite que este significa ‘o invisível’...”, o que
concorda com o que está escrito no Górgias, no qual essa palara designa o ‘mundo invisível’. Porém o
mesmo Sócrates afirma em outra parte do Crátilo: “... este deus [Hades] é um sofista perfeito e grande
benfeitor dos que habitam com ele, o qual... tem abundantes riquezas lá em baixo, pelo que é denominado
‘Plutão’... Longe de ser derivada de invisível, a palavra ‘Hades’ indica antes o conhecimento de todas as
coisas belas; e daqui é que provém a derivação do ‘Hades’”. – Explicação transcrita do livro Fédon, de
Platão, ed. Rideel, 1ª ed. 2005, p. 11.
11
Giovanni Reale e Dario Antiseri
História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga vol1 ed. Paulus 2ª ed, 2004, p. 6 e 7 e 8.
12
Simonne Jacquemard
Pitágoras e a harmonia das esferas, ed. DIFEL 2007, p. 57.
não apenas em forma humana, mas também em formas animais) para expiar
aquela culpa.” 13.
Platão, influenciado pelas doutrinas de Orfeu e Pitágoras desenvolveu a
Teoria Metafísica, que buscava uma justificativa para a possível existência
desse Hades, um mundo não visível, um mundo supra-sensível (acima do
sensível). Para Platão, esse mundo era composto pela essência do que são as
coisas, e é um dever do filósofo buscar enxergar essas essências, que só
seriam captáveis pela parte mais elevada da alma, a inteligência.
Platão também acreditava que a alma fosse imortal, e que renasceria
muitas vezes, até se purificar, e acreditava que o corpo era a raiz de todo o mal,
oposto ao que dizia Orfeu, que o mal já era preexistente no homem, pois ao
nascer, um espírito diabólico encarnava nele. O filósofo deveria fugir do corpo,
dar valor à alma, e viver em função de se libertar, tal como pensava Orfeu.
Platão também dava muito valor aos mitos, porém, não como órficamente
era feito, ou seja, num sentido religioso. O mito em Platão era um complemento
do logos (que pode ser compreendido como inteligência). Aquilo que não fosse
possível de ser captado pelo uso do logos, poder-lho-ia ser abstraído pelos
mitos, como, influenciado por Orfeu, fez o mito do Er (presente na República) e
do carro alado: mitos que explicavam a maneira como a alma faria seu percurso
de ida e volta, e quais almas passariam a eternidade sob a companhia dos
deuses, e qual seria castigada. O mito era uma maneira de melhor compreender
aquilo que parece inaceitável, incompreensível para a racionalidade humana.
13
Giovanni Reale e Dario Antiseri
História da Filosofia – Filosofia Pagã Antiga vol1 ed. Paulus 2ª ed, 2004, p. 29.
Um melhor entendimento destes tópicos será possível, se pudermos
compreender as bases da escola de Pitágoras, suas teses e argumentos.
Conhecemos algumas dessas peculiaridades graças a doxografias de não-
pitagóricos, e de fragmentos de discípulos do mestre Pitágoras. A exemplo: “(...)
Assim, a enorme velocidade do sol e da lua e dos astros em tão grande número
e tamanho, deve necessariamente produzir sons prodigiosos. Admitem isto e
também que a (diversa) distância (dos astros de seu ponto central) corresponde
às relações numéricas da harmonia musical. E como resultasse absurdo que
não ouvimos este som, explica que o ouvimos desde o nascimento, e em
conseqüência falta o contraste com o silêncio necessário para que o possamos
perceber.”14.
Tal doxografia evidencia o que pensavam os pitagóricos, a respeito da
harmonia das coisas, baseada nos números, pois, por via deles, tudo se
expressa possível de ser harmônico. O Elemento que compunha os números era
o elemento formador de tudo, “toda a natureza modelada segundo os números,
(...) todo o universo é harmonia e número.”15. A comunidade pitagórica foi
considerada modelo ideal, e muitas vezes imitada. A Academia de Platão
manteve tradições pitagóricas.
No diálogo-socrático Fédon, onde Platão relata a morte de Sócrates, são
citados com freqüência Cebes e Símias, discípulos de Sócrates, que
anteriormente haviam sido discípulos de Filolau, que foi um dos mais
importantes seguidores de Pitágoras. Torna-se evidente o fato de que Platão
teria sido iniciado na doutrina pitagórica por meio desses dois.
A respeito da alma, muito do que Platão relata também é influência das
formulações itálicas. Como foi dito no tópico anterior, a metempsicose é
reformulada, e a imortalidade da alma seria “provada”, pela Metafísica, pois a
alma humana seria capaz de conhecer aquilo que é imutável (Forma, Eidos).
Para isso, a alma tem de possuir uma natureza dotada de afinidade com tais
14
Aristóteles, De Coelo II, 9, 290b
15
Aristóteles, Metaph. I, 5, 985b
idéias, concluindo que como a alma só conhece o que é imutável e eterno, ela
também deve ter as mesmas propriedades.
Ainda sobre a alma, Platão escreve sobre a maneira como a alma teria
acesso ao conhecimento que ela já viveu, o que é chamado de anamnese, que é
o recordar-se do que a alma já sabe. No livro “Pitágoras e a harmonia das
esferas”, torna-se evidente que Pitágoras já sabia deste suposto conhecimento
prévio da alma perante as coisas, “trata-se de estimular a intensa busca interior
de algo que a alma guarda em seu recanto mais secreto, a chama da alegria.”
(p. 61).
Somente desta maneira a alma se liga ao inteligível, e se torna mais
bela, sabedoura não da realidade sensível, aparente aos olhos e ouvidos
(sentidos em geral), mais daquilo que é a realidade-em-si, presente apenas no
mundo das idéias (também chamado Hiperurânio), que é onde vivem as almas
que não estão em nenhum corpo. Todos esses postulados platônicos são
originários das crenças pitagóricas, que diziam ser o número o princípio
fundamental, e que assim como as idéias, seria a forma das coisas, mudando
apenas de nomenclatura. 16
Uma outra ligação relevante entre Pitágoras e Platão, é que Pitágoras,
tinha um respeito e admiração por Sólon, poeta e governante de Atenas. Sólon
foi sábio em suas análises e condutas de governo, tendo realizado atos que até
hoje parecem necessários de serem feitos pelos governantes atuais. Sólon
decretou que estava proibido a mendigagem, e mais, o pai que não ensinasse
ao filho alguma profissão, não teria direito a benefícios do governo. Fundou uma
policia rural, destinada a fazer patrulhas para que não fossem realizadas más
ações com os animais, dentre outras atitudes que o eternizaram dentre aqueles
que governaram cidades gregas. 17
16
“(…) chamou essas entidades de Idéias e sustentou que todas as coisas sensíveis são nomeadas segundo
elas e em função de sua relação com elas, uma vez que a pluralidade das coisas que têm o mesmo nom e
que as Formas existem por participação nelas. (No que toca à participação, foi apenas a palavra que ele
(Platão) mudou, pois enquanto os pitagóricos afirmam que as coisas existem por imitação dos números,
Platão afirma que existem por participação (...)).” (Aristóteles – Metafísica ed. Edipro, 1ª ed. 2006, p. 60.).
17
Simonne Jacquemard
Pitágoras e a harmonia das esferas, ed. DIFEL 2007, p. 49.
Pois o venerado Sólon, foi parente de Platão, onde este também se
espelhou, não só para a entrada na vida política, como nos modelos de conduta
a serem seguidos.
Outra relação entre o filósofo de Samos e o Ateniense, é o gosto de
ambos pela música e a ginástica. Na República, Platão defende o uso destas
duas artes para formar os melhores guardiões para a cidade ideal, e de um
modo geral para um cidadão realmente justo, pois só a música, através de seu
ritmo e harmonia, seria capaz de formar pessoas boas e tendenciosas a serem
justas. O mesmo para com o corpo, sendo esse vinculado em segundo plano,
mas em igual proporção (no caso dos guardiões principalmente), onde a
ginástica deveria ser simples e harmônica, tal qual a música. “(...) a simplicidade
na música gera a temperança na alma, e a ginástica a saúde do corpo (...)”
(404e)
Na comunidade pitagórica, o grupo dos exotéricos tinham procedimentos
parecidos. Pela manha, os discípulos acordavam e saiam individualmente para
uma caminhada de contemplação e reflexão. Ao voltarem, antes de irem para
suas refeições, dedicavam-se à ginástica, e aqueles que estavam em condições
físicas, ao atletismo. Assim, garantiriam prazer e funcionamento satisfatório ao
corpo. Tinham aulas de música pela tarde, assim como outras atividades em
grupo. A música era considerada matemática pura, e essência de toda a
harmonia e ordem (em grego = kosmos). A importância dessa ordem
matemática, numérica, era tão expressiva, que consideravam que o que era
harmônico e ordenado era belo, conceito fundamental para quase totalidade da
doutrina platônica, donde o Belo-em-si é a Idéia superior na hierarquia do mundo
supra-sensível, donde tudo se origina. 18
A valorização do guardião, feita por Platão em seu livro A República,
também pode ser vista em Pitágoras, que dizia que o fundamento de sua
démarche é formar homens resolutamente pacíficos, mas que possuam a
intrepidez dos guerreiros.
18
Analogia seja permitida, à palavra cosméticos, que hoje em dia esta relacionada com produtos de beleza.
Por fim, vale a pena ressaltar que anos depois, Plotino (203-269 a.C)
fundaria em Alexandria a chamada Escola Neo-Platônica.
Os neo-platônicos se dedicavam ao estudo dos Diálogos de Platão, seus
pensamentos, e as doutrinas pitagóricas, se considerando herdeiros de
Pitágoras e de Orfeu, deixando claro que Pitágoras teve influência significativa
em Platão.
Conclusão
Bibliografia
ARISTÓTELES – Metafísica
São Paulo: Edipro, 2006;
BORNHEIM, Gerd A. (org.) – Os filósofos pré-socráticos
São Paulo: Cultrix, 13a edição, 2005;
JACQUEMARD, Simonne - Pitágoras e a harmonia das esferas
Rio de janeiro: Difel, 2007;
PLATÃO - A República
São Paulo: Martin Claret, 2006;
PLATÃO – Fédon
São Paulo: Rideel, 2005;
REALE, Giovanni - História da filosofia: filosofia pagã antiga, v.1
São Paulo: Paulus, 2ª edição, 2004.