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SEL Mead Ay Ps NOME DO a Cl a HOJE,OMAIS Paar oly oi ar EADEMIRDA uy Guia, oceNiAL re > a 3 & 4 pees fh He ANOS 1970 PTUs PaO NES Cranley NCC) ass Data aey ASSIS E CONT w~ fey D E e) RA 0 ES sri iz Ly eta aN What Cel) aoe ret arate a elt se) eats E PRECISO APONTARO DEDO PARA OS RACISTAS vida nao é brincadeira, amigo/ A vida éa arte do encontro/ Embora haja tanto desencontro pela vi- da.” Foi com esse mote, extraido do “Samba da Béngao” de Vinicius de Moraes ¢ Baden Powell, que PLA- CAR decidiu celebrar esta histérica edigdo 1500 (1 000, como no po- deria deixar de ser, foi ancorada por Pelé). marca que nos emociona. E pouicas reunides seriam mais inte- ressantes do que a do divino Ademir da Guia — personagem contumaz dos primérdios da revista — com ‘Dudu, talvez o nome mais simbélico 4 IE 0 nee ME do Palmeiras dos anos 2020, vence: dor imparavel. Nao por acaso deci: dimos leva-los para a capa. Bles sio a locomotiva a transportar, com pompae circunstancia, outros feno. menais pares (€ trios, ¢ quartetos... ue passearam por nossas paginas desde 1970. Mas, como a vida nao é brine deira, ¢ haja desencontro pela vida, alguns dias antes de enviarmos are: vista para as bane: cado ~ mas nao surpreso, inf mente — com mais um episédio de racismo contra um outro Vinicius, 0 Vinicius, nojogode vergonha contra 0 Valencia: centrode umn movimento que pode muder futebol Vinicius Jr., atacante do Real Ma- drid e da selegao brasileira. Numa partida contra o Valencia, pelo Campeonato Espanhol, ele foi co- vardemente xingado por torcedores que o chamaram de “macaco”, an- tes, durante ¢ depois da partida. Co- rajoso, ele protestou ainda em cam- po, chamou 0 juiz.que 0 expulsara depois de um entrevero com os ad- versdrios e apontou 0 dedo para os ceriminosos. Depois, foi as redes so- ciais para deixar claro o que ocorre- ra, “Nao foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceia. O racismo €onormal na LaLiga. A competicao Tope ALnoRe ATTEN O jamais prfssionl GePLACAR tem ogpaiode Dracionat acha normal, a Federacao também e ‘os adversdrios incentivam, Lamento muito. O campeonato que jé foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma na- do linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para 0 mundo de um pais racista, Lamento pelos espanhois que nao concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha &conhecida como um pais de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada se- ‘mana, nio tenho como defender, Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até ‘fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui.” Houve comogao glo- bal, ¢ apenas 0s estiipidos no de- fenderam o craque brasileiro, PLACAR, desde sempre, esteve do lado do respeito ao ser humano, contra o preconceito e a xenofobia, agressdes que mancham o futebol. ‘simples: a vida éa arte do encon- tro, ¢ tudo o que for na contramio dessa afirmacao deve ser rechac do. Vinicius J. pode ter deflagrado, de vez, um extraordinario movi ‘mento para que 0 ddio seja chutado para longe. E: postura inegocidvel, com a qual caminharemos nas pré- ximas 1500 edigoes. ‘Onimrero 1 O00de PLACAR, de agasto de 1989: ancorado peloreiPelé 6 DUDUEADEMIR, 2023 Oslideres de duas Academias 14 PELEEAFONSINHO,1971 ‘Acateiadosbo eras enreniugio 16 FLAVIO, BEBETO, ALCINDOE DARIG.1977 Aoeriindaeacatimba dosatieros 22 OSCAREAMARAL,1979 ‘Aupla dzaga quasepereta % UI FEnAOOEFAI0 1981 ‘Aspnes mes do quateto decraques ‘30 PELEEGARRINCHA, 1981 ‘Acomoventreunisodo Ret cama ginio 38 ASSISERONALDINHO, 1988 ‘habia era sdecasa © tht Oquerdo forumbi 44 PELEENEYMAR, 2010 Oeterno 0eopreissor ‘dscpulpreiana 52. ENSAIO Grandes fotos dos arquivas ‘dePLACAR 58 an f imaselegode primera egestas RITALEE Atietérafutebolitica dawehanese 66 ARTIGO (Cassio Zanatta © £B revistapiecer BD opiacaty WS eplacar placar.combr {33 contato@placarcom.br Publiher lan Zar ue coe: £0: Gustavo tee Esitor Lie Felpe Gato Reporter: Klaus Ridmond Detox Comer Sco Santos Plnejarenta: Mares Ramos Miia soc ana Sema Franc, ‘canoe Govern « Gabel Rosigues sag: Fabio Kimura Fei Abit ethene ote: un ti gedaan tte DINTORA EICUTIVA BE OPERACOLS Gu ere secur comune acs aSiSchs fae Ponda iatomans aa 3 E Editora SMe! S NTRS Tato 3 vida os separa. LTT tert TCR Arent Ora cd Pret eel fl ioe estrondoso Pao eh ccs oe rllghe) ECR FUE Hae) PET UTR URS Crh uma antitese. Em ACRE oc) EC) FeO ETeg eRe ES Glee tuT |) rence rion ee SCT) as duas lend2S_ Pe LuizFelipeCastro Bois > UL Ut Recta Suptecitaeartiocs Od cael a Sees cry ies O INFERNAL eM eT) Cot Ce) perder para oCorinthians” demir impde com seu jogoo ritmo do chumbo (e 0 pese), da lesma, da camara lenta do homem dentro do pesa delo. Ritmo liquido se infiltrando no adversario, grosso, de dentro, im pondo-the o que ele deseja, mandan- do nele, apodrecendo-o. Ritmo mor no, de andar na areia, de agua doen- te de alagados, entorpecendo e entdo atando mais irrequieto adversi- rio” Assim definiu o poeta Jodo Ca- bral de Melo Neto (1920-1999), autor do classico "Morte e Vida (1955), 0 estilo de jogo de Ademir da Guia, 0 maestro que regeu as cha- madas Primeira e Segunda Acade- mias do Palmeiras, entre 1962 € 1977. A elegancia coma qual dominava a bola ¢ a distribuia, ao ritmo da cé mera lenta, de andar na areia, sem- pre o acompanhou também fora de campo. Foi coma habitual docura e tum efusivo abrago que Ademir rece- eu o atual idolo da torcida alviver- de. “Vocé ja esta me aleangande hein, Dudu’, disse o veterano camisa 8 INS 10, antes do movido por (lo 1500 da revista Dudu e Ademir, dez letras que ha décadas fazem os palestrinos se emocionarem. No anos 1960 ¢ 1970 houve um outro Dudu, Olegario To: loi de Oliveira, o volante que carrega- va o piano para o Divino brilhar, amigos de toda a vida. O goiano Eduardo Pereira Rodrigues, o Dudu de agora, é, desde 2015, a alma de um Palmeiras que de tao dominante g nhou a alcunha de Terceira Acade- mia, Ja sio 11 tagas conquistadas p Jo “Baixola’, como é conhecido pelos colegas, incluindo trés Campeonatos Brasileiros e duas Libertadores da América, sempre com protagonismo ros momentos deci os. Segundo as contas do préprio clube, que inclui o Torneio Laudo Natel, uma competi do amistosa, entre as tacas a serem Consideradas, o recorde ainda per tence a Ademire seu contemporsineo Junqueira, com 12 conquistas. “E uma honra estar me aproximando dos feitos do senhor, seu Ademir diz, com ternura,o terror dos marca dores da atualidade. A conversa en treo divino e o infernal a Palazzo Verde, um museu dedicado aos 109 anos de historia do Palme ras, localizado em uma antiga pro: priedade do Conde Fr razzo, em frente ao velho Palestra Itélia, atual Allianz Parque. Ademir chegou animado, de carona com um velho parceiro, César Mahuco, 0 se gundo maior artilheiro do Verdao, com 182 bolas na rede. “Ele sé est aqui por minha causa, meus gols. odeixaram famoso”, brincou César. Explosivo em campo, reservado na intimidade, Dudu se mostrou emo- conteceu no ncisco Mata- cionado ao realizar o tour no museu € rever sua propria histéria em vi deos, camisas, bolas e, especialmen- te, troféus.“Até de tudo que estamos construindo, é uma histéria bonita’, diz. “Assim co- mo o seu Ademir jéescreveu a histé- ria dele, e se pass hoje ele é lembrado, acho que s6 vou goranio caiuaficha Momento de virada: Dudu fez doisgolsna final daCopa do Brasil contra oSantos, em 2015, opontoda careira ‘no Verdo de que ele se orgulha saber a dimensio do idolo em que me transformei para a torcida palmei- rense no futuro.” Octogendrio, com- pletamente hicido e ainda em ativi- dade, pois costuma rodar o interior paulista para bater uma bola com a ‘equipe de masters do Verdao, 0 velho {dolo de cabelos braneos rejeita qual ‘quer tipo de cite com a possibilida- de de ter suas marcas superadas. “E bom para mim, pois meu nome se gue sendo falado depois de tanto tempo. Logo, logo o Dudu vai me passar em niimero de titulos, isso é importante, um sinal de que o Pal ‘meiras segue ganhando e nossa tor- cida esta contente”, diz o ex-jogador nascido no Rio de Janeiro, revelado pelo Bangu, e que desde que conhe- ‘eeu o bairro da Pompeia nunca mais ‘oabandonou. A troca de gentilezas foi constante e genuina, e Dudu pa- receu contagiado pela fleuma que sempre caracterizou Ademir. Justica seja feita: desde que retor- nou de uma breve passagem pelo Al Duthail, do Catar, entre 2020 ¢ 2021, Duduamadd mar tanto cod fragem e de- monstra uma lideranca mais serena. Explosdes? S6 pa bola eenfileirar marcadores. Segun- do dados internos do clube, o camisa 7 € 0 jogador mais veloz do elenco, com piques que ultrapassam os 37 kam/h. “ Dudu esté conseguindo me. Ihorar o futebol dele. £ muito répido, da dribles que ninguém entende, ¢ 0 maisimportante é que os gols saem’, diz Ademir. “O jogador tem que en tender que ele pode sempre metho- rar. Eu era um jogador técnico, mas no tinha essa velocidade. Entao pro: cureitreinar e entender meus pontos fracos. Vejo Dudu fazendo coisas que nio fazia no passado ea torcida est do lado dele.” O goiano consente. “Todo jogador quer sempre vencer mas tinha alguns comportamentos que eu tinha de mudar, como essa questao de tomar muitos cartdes afirma. “Felizmente agora eu me preocupo s6 em ajudar o Palmeiras, seja com passe, seja com gols. De 2015 para c& me transformei em um jogador melhor e também uma pes- soa melhor Clube nenhum do mundo se torna- ria gigante sem a presenga de equi- pes concorrentes & altura. Ademir € Dudu sabem bem disso ¢ exaltam as, grandes rivalidades do futebol pau- lista e brasileiro, O veterano travou embates histéricos contra 0 Corin- thians de Roberto Rivellino, 0 Sao Paulo de Pedro Rocha e, especial- mente, o Santos de Pelé. “Dependia muito da época, houve um tempo em que para nés 0 mais gostoso era ga- mhar do Santos, do Sio Paulo, do In- ter, do Cruzeiro... Mas para atorcida sempre foi do Corinthians. Nos di- ziam nas ruas: pode até perder 0 campeonato, mas nao pode perder para o Corinthians’, relembra Ade- ‘mir, que cumpriu o clamor popular risca. O Timo ndo ergueu um troféu sequer durante a era Ademir. Che- .gou perto disso em 1974, mas sucum- biu no Dérbi que decidiu o Paulista. 1.0, gol de Ronaldo, no jogo que NS! 9 id guide Academia" i ons aa marcou a despedida melancilica de Rivellino.Ironicamente,o tabu s6 se- ria quebrado em outubro de 1977, um més depois de Ademir pendurar as chuteiras, com problemas respirat6 rios, aos 35 anos. Na edicao 380 de PLACAR de 5 de agosto de 197, até ‘mesmo Vicente Matheus, 0 folclérico presidente alvinegro, se mostrava contrario a aposentadoria de Ade- mir: “Sei que sem ele no Palmeiras as coisas ficariam mais faceis para 0 meu time, mas torco para ele ficar. Nosso futebol precisa de craques co- mo ele”, cravou Matheus. Mas Ade- mir parou e os papéis se inverteram: foo Palmeiras quem enfrentou uma Tonga fila, de 17 anos, de 1976 até a conquista do Estadual de 1993, em novo classico diante do Corinthians. Coincidéncia ou nao, Ademir pisou no gramado do Morumbi naquela tarde. O craque cita 1972 como seu ano inesquecivel e repete a formac’o eterna sem titubear. “Leio, Eurico, Luis Pereira, Alfredo, Zeca, Dudu, 10 IKE Ganhamos os cinco campeonatos que disputamos, foi espetacular: Dudu, por sua vez, tem uma rel 0 ainda mais intensa com os rivais, inclusive diplomaticas. Quando pas sa férias nos Estados Unidos, viaja usando um visto emitido e pago as pressas pela diretoria do Corinthians que esperava contar com o reforgo para a Flérida Cup de 2015. Era jane ro daquele ano quando 0 Timi ficou aumacanetada final de contar como entao destaque do Grémio, revelado pelo Cruzeiro e vinculado ao Dina. mo de Kiev. O Sao Paulo entrou na parada e ficou perto do acerto. Eis, que um duplo “chapéu” do Verdio, que vinha com o moral baixissimo — por pouco nao havia sido rebaixado no ano de seu centenario —e acabara de firmar a parceria de sucesso coma Crefisa, mudou para a sempre o des- tino do futebol paulista. Fim da nove- la: Dudu é do Verdi; o resto éhisté, ria, O camisa 7 também aponta 0 Co: rinthians como o inimigo favorito, “& ‘6 jogo em que todo mundo da um a: go a mais’, mas guarda as melhores Iembrancas de um classico diante do Santos, na final da Copa do Brasil de 2015. Delirio completo no Allianz, 2a, depois de ter perdido o primeiro jogo por 1 a 0, na Vila Belmiro. “Foi uma virada para o clube, por toda a rivalidade que se criou, pelos meus dois gols, foi muito marcante’, diz. Comparavel até mesmo ao titulo da Libertadores de 2021, em Montevi- déu. “O sonho de todos é ganhar a Li bertadores, e se tornou ainda mais, especial por ser contra o Flamengo, com quem vinhamos de grandes dis- putas.” brinea sobre a final de Libertadores de 1968, numa derrota diante do Es tudiantes, da Argentina. "Nessa épo- cando tinha o VAR, né...Eles faziam gol impedido e eles davam’, diz, ci- fando uma suposta maozinha da ar- bitragem em favor dos vizinhos. Uma infeliz coincidéncia, contudo, ‘Ademir ouve atentamente ¢ Ovethoparceiro:Ademire outro Dud, legario Toldide vera, formavam-- sem divida algur ~amaiselegente duplade meio-campodo Brasilnofinal dos anos 1960einiciodos1970.Era umabelezavé-losem capa —— ‘marca a trajetéria dos idolos. Apesar de consagrados em territério nacio- ral, Ademir e Dudu receberam pou- ‘as chances na selecao brasileira ~ 0 primeiro atuow em 14 jogos ¢ 0 se- gundo, em apenas trés, Ademir reve Ta que 0 desejo de vestir a amareli- nha foi o maior combustivel de sua carreira. Em diversos momentos do apo, ele cita o pai, o espetacular za- gueiro Domingos da Guia, idolo de ‘Vasco, Boca Juniors, Flamengo ¢ Co- rinthians nas décadas de 30 ¢ 40, eu maior incentivador, 0 “Divino Mes- tre’, de quem herdou o apelido e a classe. “Meu pai esteve no Mundial de 1938 na Franca, ¢ eu tinha um de- sejo muito grande de também dispu- tar uma Copa. Hoje notamos que os brasileiros nao dao mais a importan- cia a selecdo como antes, os jogado- res estao todos la fora, as vezes nem conhecemos quem é, entdo ficou um pouco mais distante, Mas acho fun- damental o Palmeiras estar sempre levando dois ou trés jogadores para a selegio brasileira’, diz Ademir, dan- do a deixa para o caso de Dudu. “Eu ficaria muito feliz de ter disputado ‘uma Copa do Mundo e outras com- petigdes pela selecdo, mas sincere ‘mente nio troco minha histéria por nada que estou construindo pelo Pal- meiras’,afirma 07. Uma viagem aos arquivos de PLA- CAR, porém, pode servir de incent vo a0 atual idolo, Na edigao de 3 de novembro de 1972, o Divino parecia ter jogado a toalha sobre as chances de receber um chamado de Zagallo. “Eu nio vou, no devo e nem quero ser convocado. Nao vou porque, se no me deram uma oportunidade no México, € que nao vao me dar na ‘Alemanha’, desabafou. No entanto, ele realizaria de disputar uma Copa Rpois, aos 32 anos - embd do chama- doacampo| BP terceiro lu- gar, contra a ue venceria Naprdxima Copa, em 2026, Dudu te- 434 anos, “Enquanto estiver num grande clube, nao podemos desist mas sei que é um sonho distante. Te- ho de fazer o melhor no meu dia a diano Palmeiras, isso é 0 que vai me credenciar’, desconversa 0 atacante preterido por Tite. Como em outros encontros pro movidos por PLACAR em seus 53 anos de vida, relembrados nas pigi- nas que seguem, o clima foi de total leveza. Sobre as brincadeiras de ri- vais a respeito de o Palmeiras ter ou nao um titulo mundial, a dupla res- saltou a importancia da Copa Rio de E MUITO PROVAVEL QUE DUDU IGUALE E TALVEZ ATE SUPERE O RECORDE DE TITULOS DE ADEMIR NO FUTURO PROXIMO 1951, e disse nio se importar com questdes de nomenclatura. “As pia- das nao vao parar € o futebol & bom por isso, voeé ganha hoje, perde amanhé, fala do juiz, do VAR. ofute- bol movimenta toda essa coisa. Hou- ve uma festa espetacular no Mara- cana em 1951 e tenho certeza de que vamos disputar o Mundial mais ve- 2es", diz Ademir. “Tive a oportuni- dade de jogar uma final [contra 0 Chelsea], foi uma das derrotas mais, dolorosas porque tivemas a sensacao de que estava na nossa mao e deixa- ‘mos escapar, mas sempre falo com ‘meus companheiros que vamos vol- tar e, se Deus quiser, conquistar”, completa Dudu. “Que continue co- mo esta, os rivais falando do Mun- dial ends ganhando tudo” O Alviverde segue imponente ¢€ ‘mesmo provavel que Dudu iguale e talvez até supere o recorde de titulos de Ademir num futuro préximo. Ha, no entanto, outra marca que di- ficilmente sera superada, e que o Di- vino admite que nao pretende per- der: a de 902 jogos pelo clube, mais, que o dobro de Dudu, “Quando ele estiver com uns 800, eu falo para ele: Dudu, esta na hora de ir jogar no Marrocos’, sorri Ademir, “O senhor pode ficar tranquilo. Espero me aposentar aqui, mas 902 jogos é muito dificil de chegar.E 0 respeit, amor e carinho que o torcedor tem pelo senhor sera eterno’, responde Dudu. Houve tempo para um deli- cado afago final: “Dudu, eu vou sair em mais uma capa da PLACAR, de- vo ser o recordista, quero saber se vocé também vai chegar la... Pelas nossas contas, com esta edigao his- torica, o placar estéem 20 a9 em fa- vor do Divino. Sera que dé tempo? A seguir os versos de Joao Cabral que abrem esta reportagem. sim. Basta a Dudu, como Ademir, ir no “ritmo morno, de andar na areia, de gua doente de alagados, entorpecendo e entio atando o mais irrequieto ad- versério’.m ‘ieee LENDAS ALVIVERDES eRe) Guiag, 1962 a 12 litulos Perit t ord PeSecE TT gy pkey ithe) Vas aI e 1973 Cee irc ery , 1966, see RY As} ua Litt Cd ar LD) 1965 Torneio Laudo Lic Beye erences terete peers By a ee vy Pela r Peplol-w loys) 3 Perle) Brasileiros 2016, 2018 e 2022 3 ene) Paulistas 2020, 2022 eye} al Copa do Brasil 2015 ne Recopa Sul- SUC i CU) vier) ue ayy) Pee 2023 ‘0s nimeros do ogador foram contabilizados até Bled re eee sr) JOGADOR TAMBEM E GENTE Em1971, PLACAR ps frente a frente Pelé e Afonsinho, um jovem e polérico atacante que despontava no futebol brasileiro, para debater formas cde melhorar as condi¢6es de trabalho dos jogadores profissionais no pals Michel Laurence e Aristélio Andrade, com fotos de Lemyr Martins oem Sao Paulo. Afonsinho, um rapaz barbudo, cabeludo, de ideias revolucionérias, e Pelé, um homem inteligente, profundo conhecedor do futebol, em fim de carreira, discutiram vi- rios problemas da vida de um joga- dor profissional, Nao foi facil chega- rem a uma conclusao sobre o que precisa ser feito para melhorar as condigdes da classe, mas 0 ponto de partida emerge do didlogo: unir os jogadores de futebol em torno de cabeludo (@ esq), quejogaria pelo Sentos em 1972, eoreéideiasde mdos dadas 14 IRE seu sindicato (e de uma Federacdo Nacional) e, principalmente, conse- guir do governo federal a regula: mentagao da profissio. Afonsinho e Pelé querem que o jogador comum, que nao ganl rios do cra- Afonsinha - Bem, o problema é um podemos discutir problemas te a regulamentacio dessa profis- io, se nao existem leis para ela. Pelé verdade. Como pode ser en- quadrado o jogador de futebol, se sua profissio nao é nem mesmo re- conhecida pelas leis do pais? existe nenhuma base feita para que sejam apontadas solucoes. Afonsinho - 0 jogador, apesar de ser um profissional, é um marginal. ‘Um marginal que s6 excepcional- mente ganha muito bem. Segundo uma pesquisa de vocés mesmos, apenas quarenta jogadores, num to- tal de 6000 ¢ qualquer coisa, ga- nham razoavelmente bem Pelé - Além de ser uma classe mui- to desunida. A gente no consegue reunir todos 0s jogadores em torno de uma causa, de uma ideia. Nao se consegue nem mesmo reuni-los em torno do sindicato aqui em Sao Paul. Afonsinho - Nés temos que lutar para que a classe, por inteiro, seja favorecida. Eu poderia ficar saisfei- to porque consegui resolver 0 pro- blema do meu passe, mas nao ¢ isso que eu quero. Quero que todos este- jam protegidos. Pelé - Mesmo tendo methorado ‘muito, a nossa classe continua for- mada na maioria por gente humil- de, que ainda nao tem uma mentali- dade de classe formada. EDIGAO 90 -3 DEDEZ. DE 1971 Afonsinho - Verdade. A grande maioria dos nossos colegas nao con: segue aleancar a profundidade do problema. Nossa carreira é muito curta, e isso obriga a pessoa a pen: sar em termos imediatistas, em so lugées breves. Est muito preocupa da.em tirar o maximo possivel dessa carreira efmera para pensar no que pode lhe acontecer no futuro. Polé - Tem mais. Quando fomos fa lar com o presidente da Repiiblica, muita gente deturpou, dizendo que estvamos argumentando em causa propria. Ao contrario, eu fui pedir em favor da regulamentagao da pro- fissao de jogador de futebol Afonsinho - Se nao existe a profis sio de jogador, como é que algué pode se aposentar por sofrer um acidente nessa profissio? Por isso a iniciativa tem de partir desses joga dores que ganham mais, esses qua- rentaai que PLACAR falou. Pelé - Vocé. Afonsinho, como estu- dante, é que esta certo. Eu tentei fa zer a Escola de Educacao Fisica em Santos. Mas ai percebi que o impor tante ndo era me formar, mas saber. Por isso, parei. Mas vou continuar mais tarde. Todo jogador deve estu- dar, para depois ter outra profissio, Afonsinho - £ dificil fazer os joga- dores perceberem isso. Eu mesmo cheguei a ficar em diivida se conti- nuava a jogar enquanto estudava, quase desisti do futebol. Mas, com 0 passe na minha mao, consegui equacionar as duas coisas. E vocé, Pelé, vai mesino parar de jogar? Pelé - Vou, dentro de trés anos. ‘Afonsinho - Vocé vai aguentar? Pelé - Acho que vou. Se parasse agora, acho que nao aguentaria. m PHS IS. Rees cn 9 Dario( inter) e Alcinda (Grémio} Cee A’ Cee) ESPECIALISTAS landragem, a catimbe, Da importancia da prepara trintoes, quatr Divino Fonseca, 16 Iie assados dos 30, movimen- tam-se pelos gramados gat chos. Suas historias estdo escritas, Eles correm envol- vidos numa atmosfera de mistério e lenda. Velhos artilheiros: 125 anos soma das idades, 52 de carreira. Juntos, mais de 2000 gols. Na idade ‘em que a maioria age em fungao da aposentadoria, Flavio (32 anos, do Pelotas), Bebeto (30 anos, do Caxias), Aleindo (32 anos, do Grémio) e Da- rio (1 anos, do Inter) seguem firmes no oficio de marcar gols. Uma cate- goria a parte: a dos especialistas bem pagos, mimados pela torcida e pelos dirigentes. Se a tabela mostra Flavio liderando e ainda nao aponta 0s outros logo a seguir, tera razdo Dario: ‘O velhinho esta guardando o gis parao final Dos quatro, talvez seja Flavio 0 que melhor encarna a figura do especia- lista, do profissional bem coneeitua- do, Nao se oferece. Fica em casa espe- rando o chamado para resolver uma situagio de emergéncia. Pega as chu- teiras de estimacao-e se vai. Oscolo- rados lembram bem. O Internacional foi buscé-lo no Porto em 1975, f do um turno para 0 Campeonato Gaticho terminar, Flavio marcou os gols nas horas decisivas, marca no hepta e, para enc: acabou como artilheiro do Campeo- nato Brasileiro. Depois, acharam que ele nao tinha mais nada a dar e o dispensaram. Como passe na mio, em outubro do ano passado recebeu um convite do Pelotas, Pois Flavio, depois de classi- ficar o time para o campeonato, aca- ba de fechar o primeiro turno como artilheiro, com 11 golsem 13 jogos. ‘Nao foi um convite comum. Ofere- ceram-he o que um artilheiro com sua biografia merecia: um ordenado fixo, participacio nas rendas, mais, um tanto para entrar em campo. Ele nao revela quanto isso dé, mas dizem na cidade que passa dos 20 mil cru- zeiros por més, Na verdade, Pelotas dewlhe mais 0 aluguel de um confortavel aparta- ‘mento no Hotel Estoril e, © que pare ce mais importante, uma apaixona- da idolatria. Ele faz palestras na Es- cola de Educagao Fisica, de vez em quando comenta futebol no radio e, quando anda pelas ruas,recebe abra- 0s, tapinhas, abanos ~ Eo nosso Flavi com orgulho. No campo, ¢ poupado de criticas quando joga mal; e carregado nos ombros ao fim de suas habituais atuagées. Isso parece ser 0 mais im- portante, porque Flavio sente vonta- de de retribuir mais do que com gols. Bem como a histéria do merce rio que € contratado para e uma missio e se apaixona pela cau- sa. Umdia desses, por exemplo, o téc- nico e preparador fisico Jllio Arao demitiu-se e o clube entregou esses EMSS | 17 o ~ exclamam tar cencargos ao massagista e tapa-bura- cos Geraldo Saldanha, Flavio achou- ~se na obrigacao de ir a0 Internacio- nal pegar dicas com Gilberto Tim - e de ele mesmo comandar a ginastica. Edasduras. ~ Vamos li, forga, forca ~ grita en- quanto saltita ¢ levanta a perna a al- tra da cabera, As vezes se desola, 20 ver jogadores bem mais jovens do que ele fazendo corpo mol. Os dirigentes o recebemn em sua sa- la, dao satisfagdes, pedem opinides; e Flavio comenta que isso é bem o con- trario do Inter que encontrou na vo ta~ ja grande, uma poténcia -, onde cada dirigente tem sua sala e 96 rect be 0 jogador na hora do contrato. As veres pega a janta na casa de seu amigo Getilio, que fica ali mesmo, 0 lado da arquibancada, e demora- -se batendo longos papos com a fa- ilia. Diz. que se sente bem assim. De certa forma, é uma volta & sua crigem humilde, ‘Mas nao nega que esperava ter fi- cado mais uns dois anos no Interna cional. Chegoua sonhar com uma festa de despedida ao estilo europeu, uma seleco de jogadores de toda parte jogando contra o Inter, cle dan- do a volta olimpica na pista do Beira- Rio, Depois, sim, sairia para fazer 0 interior, viver alenda. ~ Mas ndo tem importancia - diz, sinceramente bem-humorado ¢ con- formado. — O futebol tira de um lado edi dooutro. No campo é que ndo se nota bem essa espécie de lei da compensacao esportiva. Como félego contadinho para os 90 minutos, nao se desloca ‘mais para as pontas, nem recua. Fica ali, rondando os beques, Como capi- tao do time, grita com todos e apon- ta Derepente, ga na direae jaesta la de i para os abracos. = Sabe, te devees- tar consciente’ proprias li- mitacdes, mas também das dos com- panheitos. O Francisco, nosso ponta- -direita, por exemplo, La para o fim do jogo, eu ja sei que ele nado tem mais forca, que vai largar bola curta. Ai, corro e me antecipo ao beque. Quantos gols j fiz assim! “Tele, que foi seu técnico no Flumi- nense, diz que viu poucos jogadores com o sentido de colocagao de Flivio. Hi dezesseis anos no oficio, Flavio lembra que no comeco corria para todos oslados do campo, esbanjando energia, impaciente porque nao lhe passavama bola ~ Achava que estava me prejudi- Bate-bola antes de fazer poseparaa foto principal: fresno fico decolocar bola nerede cando se nao aparecesse em todas. Depois aprendi que o principal é ter paciéncia e colocacio. Impossivel que o beque nao falhe uma vez.em 90 minutos, A sabedoria de Flavio tem sido fa- tala muitos times. Mas o Brasil, or val da cidade, éfregués. Num amis tos0 do inicio da temporada, o Pelo- tas ganhou de 3 a 0, trés gols de Fli- vio. Foi sorte, disseram uns torcedo- res, No clissico seguinte, pelo cam- peonato, chamavam-no de velho € gtitavam, em tom de gozacdo: -Flaaaaaaaavio. Dois a zero, dois gols de Flavio. No liltimo jogo entre os dois, o Brasil saiu garthando. Ea toreida, ressabia- da, pedia siléncio quando alguém en- saiava o grito, Mas, faltando meio ‘minuto para o jogo terminar, todos se soltaram: -Flaaaaaaaavio. QUANDO O PREPARADOR FISICO SE DEMITIU, FLAVIO FOI PEGAR DICAS COM GILBERTO TIM E LIDEROU O TREINO 18 INE Nesse exato instante, o beque do Brasil estirou-se no ar para rebater de bicicleta e furou, Flavio estava na jogada e, como quase sempre, nao deu perdi. = Acordamos o velhinho ~ pu- niam-se os torcedores. Bebeto esta sentado no tiinel do Caxias, olhando as torcidas que to- ‘mam lugar no Beira-Rio. Para esse jogo decisivo contra o Internacional, © téenico Marco Eugénio resolveu deixé-lo na reserva, pensando emse- gurar o adversério no primeiro tem- po com um esquema mais defensivo, — Nao me importo. 0 téenico sabe © que faz, ¢ 6 nao saio jogando hoje porque é ao especial. Mas sei que sou titular. No Inter, depois que compraram 0 Jodozinho Paulis- ta, senti que nem no banco ficaria Por isso pedi para sair. Meu negécio é jogar, nao importa onde. O primeiro tempo termina com o Inter vencendo por 1 a0, O Caxias volta para o segundo com Bebeto. Logo aos 4 minutos, ele entra na -ajeita a bola para o pé esquerdo, corta Vacaria e, como direito, chuta no canto eempata, 0 jogo de domingo retrasado, de- pois de muitas alternativas, acabou com a vitoria do Inter por 3 a2. E com muita ge beto tivesse histéria ber lenda desse a ‘que hd onze anos vem apavorando defesas no Rio Grande do Sul. Umartitheiro que, no entanto, jé teve uma chance no Grémio, duas no Inter ~ e munca conseguit confirmar a fama. Bebeto, diz-se, é um dos me- Ihores centroavantes do pais, mas seu futebol ndo serve para time gran- de, Qual éo mistério? ~ Nao ha mistério nenhum. E co- mo eu dizia antes daquele jogo. No Caxias, sei que sou itil, sei que con- fiam em mim. La, parecem saber me- Ihor do que no clube grande que o gol tanto pode sair no comeco como no fim do jogo. Quando a coisa est difi- cil, ai € que eles confiam mais em mim, No meu tempo de Gaticho tam- bém era assim. Por isso é que ja mar- quei, dizem, mais de 400 gols nesses Telé observa Flavio, Bebeto, Alcin- do ¢ Dario se fardando no vestiario do Grémio para fazerem, juntos, afo- to que ilustra esta reportagem. Diz. com indisfargavel orgulho, que foi técnico de trés deles. E acrescenta que gostaria de ter trabalhado tam- bém com Bebeto ~ Gosto muito dele. Mas que goza- do esse rapaz, nao &? S6 por aquele gol de ontem se nota que af est um grande artilheito, Mas nao da sorte emtime grande Bebeto continua explicando: = Nao é tanto caso de sorte. Quan- do vim para 0 Grémio, aqui estava 0 Aleindo. No Inter, ai esta o Dario. Eo artilheiro, meu amigo, precisa se sentir o dono da boca, saber que do com ele. Sendo, nao rende. Agora ‘mesmo, no Inter, com todo o respeito que tenho pelo Dario, estou certo de que ganharia a posicao se me esca- assem em trés jogos seguidos. Sua mobilidade nao é mais a mes- ma. Como 0s outros do oficio, ndo vai em todas ~ usa a experiencia, Mas, préximo de completar 31 anos, afirma que nao foi por falta de per- nas que saiu do Inter: acompanhava toda afisica do Tim ~ Ocertoé que nunca mais vou ter chance em um time grande. Agora terminou, Paciéncia, Mas nao é ruim ser idolo no interior, sabe? Eu, pelo ‘menos, me sinto em casa. Fui para 0 P8119 Caxias porque pedi. Ganhando 0 ‘mesmo ordenado. £ em casa, com a alma leve, que Bebeto vai marcando seus gols. Até agora siio cinco, com o desconto de ‘que foi para 0 Caxias como campeo- nato.a meio, E com um detalhe que distingue os artilheiros: faz gols em jogos importantes. O Caxias jé ga- nhou duas vezes do Juventude, no classico da cidade, ambas por 1a 0.E ambas com gol de Bebeto. Certa vez, o time de juvenis do Inter- nacional juntou Flavio e Aleindo no ataque. Resultado: 104 gols em um 6 campeonato. O que seria essa dupla nos profissionais ~ com Flavio de ‘meiardireita, vindo de tras - ficou por conta da imaginagio, pois logo de- pois o Gremio roubava Alcindo, para dominar o futebol gaticho até 1968. Alcindo, o “bugre chucro’, foi para ‘Santos em 1971. Em 1973, transfe- riu-se para 0 México. Lé, jogou no Ja- lisco, de Guadalajara, e, ultimamen- Petes Mere yu Pore cei segundo areportagem dePLACAR te. no América, da Cidade do México. ~ Fui artilheiro em todos, menos no Santos, e nao preciso explicar porque Seis anos depois de perder Alcindo, © Grémio tenta repetir o fendmeno da volta de Flavio ao Internacional. Pagow inclusive a mesma quanti pa- ra recontratévlo, a bagatela de 20 mil délares. O prego animou os dirigen: tes. arriscar, pois na verdade nao le- vavam muita fé na recuperagao do gordo ~ sete quilos.a mais ~e vet no artilheiro. Algumas semanas pa- ra perder peso, e Alcindo surpreen- dia: desbancava Zequinha, que tinha sido a grande estrela da excursio pe- a América no inicio da temporada. Para té-lo no time, Telé deslocava Tarciso para a ponta-direita - o que de certa forma confirmava a ideia de que, desde a saida do proprio Alcin- do, em 1971,0 pio tinha en- contrado u . que jogou bem menos do que os ou- tros artilheiros justifica Tele, lem- brando algumaslesdes que o tiraram do time. - Mas é importantissimo porque conhece a posigio e serve 20 esquema, Me arrisco até a afirmar que ele, hoje, tem mais colocagao do que seis anos ats, Com quinze anos de profissio, ele 86 nao perdeu a periculosidade na rea: fala mais devagar, sente-se mais tranquilo e demonstra idealis- ‘moem tudo. — Sou como qualquer pessoa que envelhece mas quer provar que ain- da é melhor que os jovens, entende? E normal, e nao fujo a regra. O im- portante, nessa fase, é 0 cara nao en- ganara sipréprio. Vou saber a hora de largar, sabe quando? Quando co- mecara reclamar dos companheiros. im, porque ai, se eu fico vendo os defeitos dos outros, é porque nao vejo ‘osmeus. Mas, por enquanto, 6 cuiido da bola, s6 cuido de mim, Acho que artilheiro éisso. COM FLAVIO E ALCINDO NO ATAQUE, OTIME DE JUVENIS DO INTER MARCOU 104 GOLS EM UM SO CAMPEONATO Artilheiro, para ele, nasce feito. E da categoria dos ruins, que nada sa- bem fazer e escolhem uma das duas posigdes: goleiro ou centroavante. = Oartilheito pega um lustrozi- rho, se acostuma com a rea e pode ppassar muitos anos fazendo amesma coisa sem que os beques possam im- pedi. Nao joga nada mas faz gols. Ongulha-se de pertencer a essa ca- tegoria e jura que jamais fara como ‘outros, que quando sentem o peso da ‘dade recuam para armar o jogo. — O que eu iria fazer la atras? Do- minar na canela? Passar vergonha? Nunca. Cala-se, fecha os olhos de indio recorda o tempo em que era um dos melhores. Lembra a grande mobili- dade, os piques, os gols. Era conheci- do também como um grande catim- beiro. Afirma que muita gente ia aos Gre-Nais 56 para ver suas malandra- ‘gens contra Gainete e Scala. ~ Hoje, preciso dosar as energias, usar a experiéncia que adquiri. Ca- ‘timba? Hoje os préprios clubes esto punindo. E nao vejo mais graca. Quando garotdo, achava que uma cexpulsio 56 prejudicava a mim. Hoje preciso pensar no time. ‘Quantos gols Alkindo jé fez? = Nunca soube. E nem me interes- sa, De qualquer maneira, nio vou uk trapassar o Pelé, nao €? Quero é con- {inuar fazendo. Santos chegou do Recife botando banca: ~Corro mais do que voeé, Dad Dario rive propos uma aposta. ~Cem metros. Vale milleruzeiros. Santos pereebeu no companheiro toda aquela confianca ¢ arrepiou. Como se veria depois, nao valendo nada, seria o dinheiro mais facil que Dario teria ganhado na vida. Quem o vé jogar seguidamente po- de comprovar: no minimo quatro da- ‘queles lances em que se desloca para a esquerda, toca a bola na frente € ga- nha do beque na corrida ele ainda faz ‘numa partida. Aos 31 anos, chutan- do a aposentadoria para um futuro desconhecido, Dario é, pelo menos centre os quatro velhinhos, o centroa~ vante mais veloz. Explicacio? A minha boa condiio orgie, obeque ( médico José Mottini, do Inter, jo- ‘gou futebol ~ inclusive com Flavio € Alcindo. Ele acha que a razio de os principais artilheiros gatichos serem see veteranosé una ale ecu — 0 Flavio toma seu uisque de ver ‘em quando? E daf? De vez em quan- do nao faz mal, Mas ele dorme ese alimenta bem e nunca foi visto ma- tando a fisica.E veja como 0 Dario se ‘emprega dos treinamentos. Nao per- de para ninguém. “Telé observa Dario se salientando ‘entre os outros artilheiros pela lo- ‘quacidade. Ei ~ Esse é um fendmeno. Nao bate falta, nao bate pénalti. Tem o chute desse tamanhozinho e é goleador. E cesta melhorando. Agora ja mata bola no peito. Mas, falando sério, ele sem- pre teve uma qualidade essencial do centroavante: na area, ¢ completa- ‘mente frio Se nao corre tanto como antiga- mente, Dario acha que desenvolveu ssa qualidade ao longo dos dez anos de profissdo. Esti cada vez mais fri, = Elamento que a frieza tena in- fluido até na minha maneira de ser. Rei Dada, hoje, vibra menos com um ool, ja notou? Sei lé por que, talver pela quantidade. Vai se tornando ‘uma coisa mecanica. Endo me per- gunte quantos ja fiz. Talvez 700, por ai, Rei Dada nao conta. Rei Dada é ‘um artilheiro desprendido, Sempre sincero, sempre exigente consigo, afirma que, gracas A expe- riéncia, ainda é 0 mesmo goleador terrivel de sempre. mas logo acres- centa que nio anda justificando to- talmente a fama, Fala em azar, mas secorrige: = Nao é bem isso, Num time mais modesto, as chances que aparecem ‘numa partida so poucas. Eno voce est sempre ligado, pronto para apro- veitar, porque sabe que pode nio vir coutra’ Aqui, nao. Aqui chove chance de gol. E Rei Dada esta perdendo muitas. Meio que relaxa, por saber que outras vido, e perde muitos gols. Mas estaria mesmo Dario perden- doa motivagao, com essa frieza e es- secerto relaxamento? = Nao é bem assim. Motivacio eu sempre vou ter, cada vez mais. Sabe por que? Faz suspense. Por fim, sai-se com ‘uma bela explicagao: = Existe muita prevengio contra o jogador trintao neste pais. Aqui, 0 velhinho vale pouco, passou dos 30 jd est acabado. Entao, cada gol que eu faco sinto como se fosse um gol nesse preconceito. Vou ser mais uma vez o artilheiro do campeonato porisso. a ‘esl 21 AIMBATIVEL ZAGA DA SELECAO Acomite de PLACAR, Oscar e Amaral, eracagas da defesa no final dosanos 1970 e inicio dos 1980, mostrararn muita disposigdo cde nao dar chance a ninguém, adversérios ou reserves José Maria de Aquino Adupla fundamental para acanarinho a caminho da Cope: comecode carrera ‘nos campineiros Guaranie Ponte Preta mia, garotos ainda, Ama- ral e Oscar treinaram jun- tos nos juvenis do Guarani, Eles nem se lembram mais disso, até porque tiveram de seguir iminhos diferentes para chegarem a0 mesmo objetivo: Amaral subi no proprio Guarani, Oscar encon- trou vaga na Ponte Preta. Muitas es- perancas depois, ambos se encon- traram na selecio ¢ integram 0 quarteto de craques que Cliudio Coutinho considera indispensiveis, e titulares, ao lado do goleiro Leao € do atacante Zico, ‘A.40 dias da primeira eonvocagio da selegaio, apés a Copa (para amis- toso contra o Paraguai, a 17 de maio), Amaral e Oscar estao rigoro- samente tranquilos. Tao tranquilos que no admitem ficar de fora, se depender de seu futebol: — Uma nova convocaciio - explica Oscar ~ ser uma recompensa pelo que fizemos na Copa. Mas nao de- vemos nos acomodar, porque nin- guém é dono da posigio, na seleco. continua Amaral. - Sempre aparece alguém na sombra. Quando chega a época da convocacao, todo mundo sabe de producao, Por isso, nem no clube admito dar chance a outros. Quem esta embaixo s6 espe- ra uma oportunidade. Quando a oportunidade aparece, eles sobem pravaler. Os tempos mudaram. Para me- Ihor, é claro. Ha dois anos, Oscarera apenas uma possibilidade, pois 0 dono da 3 era Luis Pereira. Amaral, nessa altura, jé era titular, posicao que assumiu em inicios de 75, quan- do uma selecao mineira representou © Brasil na Copa Atlantico. Com a soma de suas experiéncias, Oscar e ‘Amaral nao tém medo do futuro Nem da reserva: —Numa selecao nao se pode dizer “queto jogar” fim — afirma Oscar. —No maximo, o jogador tem que dar tudo, dentro de campo, para ga- rantir a sua. Entao, nao posso me impor no grito. = 0 Oscar disse bem — apoia Amaral. ~Quando ele chegou na selecao, alias, foi mais feliz que eu, pegou uma turma bem mais cons- ciente do que a que eu peguei na minha primeira convocacio, Esse ambiente é muito importante: quanto melhor, mais fécil para o novato se firmar, ter tranquilidade. Em 78, o ambiente era sensacional Nao trouxemos a Copa, mas o am- biente era demais. Prova disso foi a uta que o pessoal fez para normali- zar a situacao do Dirceu. Isso tudo deixa o jogador contente, ee se sen- te apoiado pelos que esto no ban- co. Fntdo, mesmo que eu nao jogue. vou torcer pelos que jogarem. ‘A Copano foi uma decepeic? Os- car acha, como todo mundo, que o Brasil perdeu 0 caneco em Rosario, na partida contra a Argentina. Cli- ma de intimidacio, fora e dentro de campo, ele decidiu topar 0 desatio: —Na véspera, eu s6 consegui dor- mir as 3h, por causa do barulho. No jogo, o Luque veio me beliscar logo no inicio — ndo sei se fez isso tam- ‘bém como Amaral. Eu estava ciente do que ia enfrentar, eencarei. ‘io faltou coragem ao Brasil, nes- ssa partida? — Bem, em matéria de ir pra frente, fazer isso ou aquilo em campo — responde Oscar — a gente nao pode optar por nada, também porque somos membros da equipe, € ficaria mal distorcer a ideia do tre nador. Acredito que, se a gente ti- vvesse vencido a Argentina, decidiria afinal, mesmo. = 0 Oscar foi bem sincero —com- pleta Amaral — quando disse que € ruim a gente mudar a opiniao do treinador. Ele armou um esquema, acredito eu, certinho. Tanto que perdemos varios gols. — Agora — intervém Oscar, quan- to aser campeao moral, isso ai nao é muito valido, Importante era rece- ber otitulo, Eo prémio de 700 mil pelo 3 Iu- {gar no foi alto demais? = Todo ponto de vista é respeit vel— diz Amaral, ~ Se houve crit ‘cas sobre o prémio, a gente fica um tanto chateadg — Mas acl ldo -inter- rompe Ose: mos qua- tro meses cRigclntags, treinos, viagens, tudo to, nao foi uma coisa extraordindria nem exorbitante Daqui para a frente — inclusive porque Coutinho reviu suas con- cepcdes titicas € promete um time ofensivo e téenico —, Oscar e Ama- ral vio subir ainda mais de rendi- ‘mento. Nao bastasse o entrosamen- to, so muito amigos fora de campo. Oscar revela: — Sempre tivemos bom relaciona- mento, isso ajuda, E costumamos, na selecdo, trocar ideias antes dos jogos. Quem sai primeiro. A que ho- ra deve sair, Os truques. Os sinais. —E também a gente conversava em grupo — acrescenta Amaral. Os ‘quatro da defesa, mais 0 Ledo. Ne~ ‘g6cio de corrigir 0 posicionamento, ver o que era melhor para o setor. Em campo, nada de xingamentos conversa; 56 0 essencial. Um grito de “Iadrao", um aviso de “goleiro & bom”, a consciéncia de nunca de xar 0 companheiro no mano a ma- LET; Erg ‘no com um adversiirio. ~ Em campo - revela Oscar ~, 36 gritos no bom sentido. Mas, sabe, tem jogador que precisa levar algu- ‘mas prensas, ouvir uns palavroes para se mexer melhor. O Leo mes- ‘mo dizia que o Jorge Mendonga fica mais acordado quando gritam com ele, Esse nao é 0 meu caso, Para ‘mim, seria negativo. Oscar e Amaral. Uma dupla tio valorizada quanto qualquer dupla atacante. Sinal de que nao ha mais desnivel entre quem faz gol e quem defende. Oscar mostra como o fato = Tss0 comecou com o Figueroa, que veio ganhando muito bem e era excelente jogador, tinha nivel. En- tdo, viram que o jogador de defesa também é importante. Além disso, hoje se da muito valor ao homem em si, Ninguém quer comprar um. cara bichado, com vicios, certo? Mais que isso: com Oscar e Ama- ral, a técnica vence a batalha sobre a violencia, ¢ a selecdo ganha futuro. A violencia, como brinca Oscar, & coisa do pasado: — Os mais velhos & que dizem: “No meu tempo? Ah, no meu tempo se jogava com caneleira de bambu e travo de prego na chuteira’. m M8 123 AMESACOM OS GENIOS Uma conversa sobre futebol -e sobre a vida dura dos jogadores, a0 mengs nos anos 1980 ~ entre Falco, Reinaldo, Sécrates e Zico. E lucidez quase inacreditavel aos olhos de hoje Ico: Mudoua tatica. O fute-defensivos, sem falardo étimo con-cabeca, a cabeca do craque, esta bol ficou mais coletivo e isso dicionamento fisico. O que se apri- sempre a prémio: o estimulo por impediu a criatividade ~ ja morou foia tatica ~ e ela, aprimora-__derrotar o craque. Cobram nossos nio se cria tanto. O jogador da, inibiuo talento, erros na hora com essa inti s6 criativo pode ser sacado do time Reinaldo: O craque de antigamente que o talento acabou e,com medo, nao tenta mais, Prefe- era melhor que o de hoje, Pelé foi re opasse, um toque paraolado. melhor que Zico, tudo isso ¢ folclore PLACAR: Brasi Reinaldo: Hoje o Garrincha seriao do futebol. Muita gente diz que Pelé profissional? ssa €aperguntaque ouv- foi melhor, mas eu j ouvi gente Zico:0 futebol no Brasil é conto da mos. Claro, hoje o Garrincha seriao mais velha dizer que foi o Zizinho. _carochinha. Um erro do proprio jo Garrincha. Mas 0 Joao nao seria o_Jurar pela mae gador: nao se concentrar 0s 90 mi: Joao. Nao foi o Garrincha que dei- Sécrates: Tem razio, Cada época _nutos da partida. O sujeito que con- xou de existir, foi oJodo que morreu_apresenta condigdes especiais — no _sertao telefone da tua casa nao des- morreu omareador de um homem ha como comparar. gruda a atengdo daquele monte de s6, agora so muitos contra um, 3 ahoje, com abola,10 _fios. A mesma coisa é oeuropeu em ‘Oexemplo do Reinaldo é per segundos, s6 leva porrada, Diz.quea campo - nao deixa de participar um feito, Hoje o Garrincha, no primeiro gente tem que ser como jogador de minuto. Ele pode nao estar com a drible, seria quebrado, quem sabe _xadrez, antever 0 lance. isso ja ¢su- bola, mas est com o jogo. Nos mut inutilizado. Além disso, eu acho que _perado: tem que ser ainda mais rapi-_ tas vezes chegamos ao descaramen- a qualidade técnica hoje é mais ele- vada - quem é craque, é craque Reinaldo: Hoje o perna de pau tem _branga de um lateral ‘mesmo, porque conseguiu sobrevi-_condicdo fisiea, 0 que nao ocorria Sécrates: O brasileiro ainda nao é ver entre botinadas, sistemas ultra-antigamente. que anossa _profissional. O erro comega a0 co- nia de ‘ondo é bom do de raciocinio, to de virarmos as costas para a co: Abragofraternal bons de bola e hons de ideias, lideresincontestéveis - brar apenas 0s direitos ~ mas a ‘maioria se esquece completamente dos deveres e, consequentemente, ni pode ter direitos. Nés brasilei- ros ainda precisamos aprender mui- ta coisa em termos profissionais. Reinaldo: Perai, Nés jogadores s6 somos alertados pelos dirigentes pa- aos deveres, sem jamais se falar emdireitos - 0 dirigente parece des- conhecer essa palavra. £ um verda- deiro comand fascista, ou melhor, neofascista Zico: Nao hi futebol profissional no Brasil, essa é a pura e cruel verdade. Reinaldo: Neofascista, repito ‘Sécrates: Toda essa falta de estru- tura é decorrente da propria desu- nio dos profissionais de futebol. Reinald mos encontrar um jogador que participe das deci- sbes do futebol, da organizacao, Im- possivel que se fica um campeonato brasileiro e nenhum profissional se- ja ouvido, Nos somos apenas notifi- cados das frias decisies de gabinete Zico: Jogador é mercadoria ao bel- -prazer do grupo dirigente. Veja 0 ‘exemplo: estou usando na selecao 0 material esportivo de uma fibrica e tenho contrato com outra. Uma im- posicdo. Na selecdo, arbitrariamen- te, sou obrigado a colocar esse outro material. Precisamos protestar, re- lamar. Falco: Como ser profissional, se nao nos é dado este direito? O clube nos obriga a uma série de absurdos. Sécrates: Esse é 0 grande mal do nosso futebol ~ somos joguetes. Reinaldo: Quero alertar para um ponto ainda mais grave. No caso ci- tado pelo Zico, do material esporti- Ocolorado Faicén: Nob intervalo racional entre uma partide eoutra’ dirigentes, * cia, dos milhares que anseiam sua posicaio, o menino aceita de cabeca baixa ~ est ai um dos piores trau- ‘mas logo no inicio da carreita. Falcdo: Eu lembro da selecdo 1é no Embu. A gente protestou, virou a camiisa do avesso e, logo, logo come- caram a zumbir na nossa cabeca as ameacas de corte, de indisciplina. Ora, tinha gente com contrato com outras marcas ¢ af infringimos nos- soacerto por causa de um concurso paralelo da antiga CBD. Um autori- tarismo. Reinaldo: Essa nova clausula do nosso contrato é ainda pior ~ agora nos obrigam a usar, sem protestar, 0 uniforme do clube. E nosso direito de fazer publicidade? Zico:E verdade, esta escrito no con- trato. Mas no estatuto proibema pu- blicidade na camisa. Portanto, eu ‘me recuso a usar também no uni- forme de treino, Mas nosso sufoco nao fica ai. A recuperacio de uma contusio é até brincadeira. Nao se respeita o proprio problema fisico do jogador, nao se da tempo ao atle- tade recuperar o corpo, seu instru- ‘mento de trabalho. Sem falar do ini temporada - mal chegamos as e jd entramos em competi- io, em amistosos. Veja o Clindio Adio, no Flamengo: a inseguranca de eterno reserva o levava a entrar em campo sem condigdes fisicas, as vezes contundido. O que ganhou com isso? E 0 Adilio, que por medo de perder a vaga esta jogando sem contrato, Isso € crime, deveria haver ‘uma lei mais rigorosa protegendo 0 jogador. Falco: F a rotina dos jogos? Nao ha intervalo racional entre uma parti- dae outra. O Inter nesse més entra 11 vezes em campo, fora o tempo de viagens. O jogador acaba sem inte- resse, por mais profissional que seja ~ 0 massaere faz a propria mente perder o controle do corpo, tala an- sia inconsciente de ver a partida chegar ao fim, O que deveria ser prazer vira uma agio enfadonha, cansativa, angustiante. Sécrates: Acabama gana ea graca de jogar. Eu sempre fiz. do futebol um prazer, um grande prazer da minha vida. Hoje tem horas que nao aguento mais. O futebol brasi- "HA MEDO DESSA GERACAO DE PARTICIPAR, MEDO DA BARRA DOS ULTIMOS ANOS." DR. SOCRATES 27 leiro ja nao é espeticulo, ou melhor, éespeticulo de 30 minutos, tempo ngs ainda aguentamos de amos maquinas, para o mal do proprio futebol e para a frustra- <0 da torcida. : Maquina que nao pode falhar. Nem este direito nés temos. Ano passado joguei 76 vezes, tive um més de férias e fiquei dois me recu- perando de uma distensao. Minha média: a cada trés dias correndo atras da bola. Nao ha ser humano (que resista: parece que la dentro al- guma coisa vai explodir, a alma pa- rece separar do corpo. Falco: Este ¢ 0 problema pelo fato de nés servirmos como descarga so- cial. Sofremos muito com isso. A massa ja chega aos estadios com suas frustragoes normais e, 2 per- dermos, ao jogarmos mal um dia, # somos vaiados, xingados. Nés, a grande esperanca de alegria do po- ‘ao, falhamos. Isso soa como trai¢ao paraeles Sécrates: Falco tem razio. Nis so- mos um dos segmentos sociais mais importantes, se nao o mais impor- tante. Os olhos do povo esto no acerto das nossas pernas ~ ou nos Reinaldo: Precisivamos mesmo era de um sindicato forte, mas nos falta unidade. Nosso sindicato é desptezado, Falco: Perai. Nos ja apresentamos diversos pedidos e, na hora H, o mi- nistro (Murillo Macedo) pega aquele listao e barganha em cima de cinco edidos. Com unidade, forca, pode- riamos conseguir muito mais. Zico: 0 jogador ¢ 0 culpado. O joga- ‘tubro-negro: parceria, selada naselecdo brasileira dirigida por Telé Santana dor sé acred gto quando a coisa esta Bb: dois sim. pésios no R) D Alegre ~ comparecimel ‘amulo. Nos também temos graves falhas, deixa: mos brechas demais. Falco: Precisivamos nos reunir numa grande confederagao geral dos trabalhadores de Futebol Zico: Estivemos com 0 ministro Murillo Macedo, fizemos nossos pe- didos. O homem parece interessado, ji foi ligado a clube de futebol. Com ele, se pressionarmos mais, conse. guiremos vitérias. Os outros esta. dos precisam participar mais, Reinaldo: Oth: no é boa por sei estatal, protela a criagdo do nosso sindicato mineiro. Temos que atrair 0 jogador para nosso sindicato, mas niio é com simpésio, que enche 0 sa- co, Temos que chamar o jogador pa- ra bater papo, tomar um café, falar de mulher, sacanagem e, no meio dessas coisas comuns, iremos lenta- ‘mente conscientizando cada um. Sécrates: 0 modo que estamos co: locando a questao esta errado. E uma medida tomada de cima para baixo, a estrutura ¢ falha, porque somos privilegiados. Continuaria a ser movimento de minoria, Zico: Mas ora, Socrates, desuniio, alienagao sio fenémenos gerais no pais. De 16 anos para c& nossa histé- da geracao chiclete, coca-cola e na sua mais recente grande desco- berta, a discoteca. Nos somos a ge- ragao discoteca PRECISAVAMOS DE UM SINDICATO FORTE, MAS FALTA UNIDADE. NOSSO SINDICATO E DESPREZADO." renaivo 281K ‘Sécrates: Uma geracio sem histé- ria. Tem razio. E uma medida toma- da de maneira errada, mas precisa- mos iniciar 0 movimento em torno de um sindicato nacional Falco: Mas reunir essa turma toda, ‘com tudo pago, nao é ficil. Sécrates: Hi medo dessa geracao de participar, medo da barra dos til- timos anos. Reinaldo: Uma solucao seria nds fa- zermos um jornal para distribuir entre os jogadores de todos os esta- dos, O Brasil é muito grande, e s6 através de um jornal atingiriamos todos os jogadores, Dariamos opor- tunidades de eles participarem. Zico: E a higiene dos vestiarios, a Faledo: Madar nosso futebol é dif «il - ha muitas ingeréncias. PLACAR: Mas eaparticipacodos jogadoresnos érgaos diretivos? Sécrates: Vai ser dificil a curto prazo, Hi interesse politico no go- ‘verno, envolvimento muito grande. Erstad eae Pee Leer ete ee eat ree poucode ucidezdos quatro Preece) errr acer ny Pode ser desinteressante para a ci pula dirigente um jogador de fute- bol lé dentro, advogando em causa Paleo: Veja ocaso do Santo Ange lo, Fechou, os jogadores nao recebe- ram, estavam passando fome. O presidente sai na maior, assim co- mo os diretores. Isso ocorre em vi- rios clubes, Brasil afora, sem o go- verno intervir. Zica: Se é numa estrutura séria, es- sa gente vai ser presa. E desumat dade, 6 crime. O futebol precisa ser PLACAR: O que émaisimportante para o futebol no momento? Reinaldo: Formar um sindicato na- cional forte, que se imponha diante das autoridades, que reivindique e consiga as coisas, que pressione Falco: 0 ma tante é que respeitem n humana, Nos somos respeitadas bre o jogador B de cada partida ~ nao podem sei trometer na vida particular. Sécrates: Perdemos a condicao de individuo. Somos objeto na mao de riuita gente sem condicio. Zica: Uma mereadoria sempre pronta. Veja o caso do Flamengo: queriam darme como garantia para a compra de Roberto. “Comigo nao’, eu disse. Nao estou aqui para ser e cada promocional de dirigente. C migo nao, violo. Tem que acabar 1m esta historia de que jogador & méquina infalivel, é mercadoria. Falco: Bem, agora que falamostu- do, que abordamos o regime profis- sional, basta saber quanto a PLA- CAR vai pagar pela entrevista (ele 1, todos riem). ico: Veja s6 - 0 jogador ¢ chamado para qualquer programa, de humo- ristico aqueles que server almogo e jantar.Se a gente pede cach, dizem: masearado, e metem 0 cacete na gente. Eu falo para qualquer érgi0 que tenha a ver com futebol - o res- to, s6 pagando. Sécrates: Nossa cultura é outra. Na Europa, o jogador, ao falar para re- vista de sexo, de moda, leva seu ca- ché normalmente, nem precisa pe- dir. Isso ¢ profissionalismo, Zico: Quero minha imagem veicu- lada para meu piblico, para o pabli- co que vai aos estidios me ver, que roatender a minha gente. Falco: 0 pior é0 autoritarismo que decide por vocé: quero sua presenca no programa a tantas horas, ok? aoa 5: Comeco acriar a obriga- ‘comigo mesmo, de negar. Reinaldo: iu falopora PLACAR nu- ma boa. Outra revista que nao seja de esporte, s6 se for do meu gosto. Querem sempre nos usar. Zico: 0 estudo, isso nio podemos deixar de falar. 0 jogador nao pode estudar - 0 jogador, para os dirigen- tes, nasceu para ser burro. Isso € até bom para eles, porque ficamos mais faceis de receber ordem, sermos ma- nipulados. Sem estudo, como anali- saros direitos? Sécrates: Sé eu seio estorco que fiz, para terminar meu curso de medici- na, Eu me impus a0 consumo do fu- tebol, porque nao precisava do fute- bol para sobreviver. Mas a maioria precisa. E ai? Reinaldo: Nosso contrato garante 0 direito de estudar ~ de ir as aulas, fazer provas, mesmo em dia de trei- no, de jogo. Eu vou, Zico vai, Falcio vai, Sécrates vai, ¢ nada acontece. Mas 0 garoto, que est comecando, ndo vai A escola por medo, fica ate- morizado de perder a vaga, de ser ‘mandado embora, de perder a gran- de oportunidade da vida, O contrato assegura 0 direito de estudar, mas 0 dirigente nao perdoa, coage a meni- nada de todas as maneiras. A me: ma coisa as faculdades, que dao bol- sas para os craques, mas nao para 0 iniciante, porque eles nao ajudam a promover o estabelecimento. Por is- so falo em neofascismo. m S29 VS Ue Se Dither Wet Oka REE) enicontro de um de seus maiores parceiros no futebol, o genial Garrincha, companheiro nas Copas CIS SS TPS) Re Seek CE SCE hie ate eeu Eod TEE rd eure ead Doe eG brasileironos enchem de saudade até hoje oi um reencontra historico Frente a frente, ninguém menos que Pelé e Mané Garrinch; ceraques do futebol brasileiro em to- dos os tempos. Foi um reencontro comovente. Quando se viu diante de Mane, Pelé abriu um sorriso largo. estendeu os bragos musculosos e cenlagou seu velho idolo num abraco apertado, longo e emocionado. Com a palavra, os senhores Ed- son Arantes do Nascimento ¢ Ma- noel Francisco dos Santos. Ou o his- torico e comovente reencontro de Pelé e Mané Garrincha. os dois maiares Pelé -E a bola de hoje, Mané? Ta pe- quenininha, né? Cada ver mais sin- to saudades de voce, daqueles dri- bles, do povo nos estadios que vibra- va com tuas entortadas nos “Jodes” Garrincha ePelé: ‘umabrago apertado, longo eemocionad entreoReie seu velha dala 32a Garrincha - Olha. crioulo, eu sou instrutor da Legiio Brasileira de As sisténcia e trabalho com 500 garo- tos, mas nao aparece nenhum “tor tinho" disposto a brincar na ponta. Pelé - Cada vez vejo menos habili- dade no jogador brasileiro. Garrineha A pelada esti perdendo espaco, s6 tem garotos jogando em campos cercados. Cadé o moleq de pé no chao batendo bola em terra dura? O pior é que todo mundo poe a culpa na retranca, mas continua bolando esquemas cada vez mais fe chados. Parece saudosismo, mas na Copa de 1958 também éramos muito marcados. Pelé - Pois é, cu era um garoto de 17 anos, mas tinha gente boa fazendoa hha cabeca. Alids, vocé lembra por que o Paulo Amaral (prepara: dor fisico) acabou com as corridas depois dos treinos? Garrincha - Claro, o pessoal corria atéo lago nao para melhorar 0 pre~ paro fisico, mas para ver as garotas, tomando banho nuas. Dai o Paulo Amaral proibiu a corrida e o remé- dio foi aturar vocé tocando violao. Pelé -Tocar nao é bem a palavra: eu batucava no violao. Garrincha -F ja aprendeu? Lembro que 0 teu apelido era Nega Elisa, porque a gente te achava parecido coma torcedora simbolo do Corin- thians Pelé - Tocareu ainda nao toco, mas, componho mais ou menos, Garrincha - ja ouvioo Jair Rodrigues, cantando uma miisica tua. Pega 0 violio e mostra ai, que eu te acom- panho no cavaquinho (e simula de- dilhando um instrumento de brin- quedo) NA OPINIAO DOS DOIS GIGANTES, OJOGADOR BRASILEIRO TINHA CADA VEZ MENOS HABILIDADE PE 83 Fo MW DEPOIS DE DUAS HORAS DE ENCONTRO, PELE SE EMOCIONOUEABRACOU __ GARRINCHA COM SINCERA ADMIRACAO Pelé - Bons tempos... Garrincha - Na Copa de 1962 foi uma pena voce ter se machucado. Eu dei sorte, fiz gols... Mas jamais vou esquecer da partida contra os russos em 1958. Pelé - Foi a primeira partida que disputamos juntos. Era a estreia de nés dois na Copa e vencemos por 2.a0, dois gols do Vavi. Vocé enlou- {queceu os russos. Logo na primeira bola, entortou trés. Dali em diante, 6 deu voce. Garrincha - Nunca te perguntaram se hoje conseguiriamos jogar da : ‘mesma maneira que jogavamos ha i ? en Be BA det, quinze anos? oy. Delay Sa ae ah es incha- Acho que nao teria ne- | = é g nhuma diferenca Cute Pelé -Concordo. Vocé continuaria a : entortar, deixando “Jodes" pelo ca- ‘minho ¢ indo a linha de fundo para ‘ruzar as bolas na cara do gol. Nos- so futebol est precisando de um novo Garrincha, de outro “Alegria do Povo" Garrincha -(suspira, desviao olhar, passa a miio no rosto e acende mais ‘um dos 40 cigarros que fuma diaria- mente). Pelé - E quantos filhos voeé tem, no Depois de duas horas emocionadas, ‘o encontro chega ao fim. Garrincha levanta-se, bate no peito nu de Pelé. ajeita a calga em suas famosas per- nas tornas eapaga ocigarro. Pelé se emociona, abraga Garrin- cha, olha fixamente nos olhos da- quele homem de 49 anos 28/10/1933) e acaricia seu rosto gordo, num ges- total? to de sincera admiracao. Subita- Garrincha - Estou com 13: dex. me- mente, o Rei do Futebol, o trica ninas ¢ trés meninos. Mas estou [IW aryrryppesearsragg | pedo do mundo, o Atleta doSéculo é partindo para o décimo quarto de novo uma crianga magnetizada Pel - Vocé continua o mesmo.. pela presenga do velho idolo. £ ape Garrincha - Com i eu fecho a fa- : nas a Nega Elisa, o crioulinko que brica. Também ja tenho sete netos.E Cue ay) Garrincha mandara parac ataque ‘vocé, ficou nos trés? aos berros. Pelé - Sim: a Kelly Cristina, 0 Edi- E, sob 0 céu iluminado de Copa- nho ea Jennifer. cabana, fez-se entao um momento Garrincha - E, crioulo, nessa eu te de profundo siléncio, respeito dei de goleada. saudade. m SME 135 OVERDADEIRO | CRAQUE DA FAMILIA PLACAR queria mesmo era epresentar ao Brasil um moleque de 17 anos do Grémio que comegava a bilha mas havia 20 lado dele o irmaozinho de 7 anos. ( resto é historia Alvaro Almeida, com fotos de Lemyr Martins ode o garoto de uma preli- minar despertar mais inte- resse do que os craq profissionais de um Gi mio x Corinthians? Roberto de As- sis Moreira, um moleque de 17 anos € dribles desconcertantes, provou quesim, Oepisédio aconteceu na noite de 19 de novembro do ano pasado, Quem chegou cedo ao Estadio Olimpico saiu maravilhado diante do futebol do camisa 10 dos junio- res do Grémio. Com um desempe- ho cheio de brilho, o meia-esquer da Assis ajudou o tricolor a con- quistar o titulo estadual da categ ria, arrancando aplausos entusias- mados dos poucos privilegiados ali presents, Aquela noite mudou a vida do jo- vem Assis e desencadeou uma série de acontecimentos que acabaram por transformé-lo na maior espe- ranga gremista para este fim de dé- cada. Nos trés meses seguintes, 0 garoto colecionou faganhas inima- ginaveis para um jogador de sua jade: a faixa de campeao juinior chegou exatamente u1 apés ter conquistado a dos juvenis Ent2o com 16 anos, disputou os dois campeonatos simultaneamente. Eo mais incrivel ainda estava por vir. Nas cadeiras especiais, dois 38S Seo ic} ds jogos prelihinars atentos observadores do Torino, da alia, acompanharam aquela hist6. rica partida e chegaram a uma con- clusao: seria ele, Assis, 0 sucessor de Jiinior no time. Cinco dias depois, bastante assustado, o jogador em- barcava para um estigio de quinze dias naquela que é uma das princi pais equipes italianas. De volta a Porto Alegre, ass seu primeiro contrato profissional como Grémio, com niimeros tao es: petaculares quanto seu talento: wma casa nova, avaliada em 4,6 milhoes de cruzados, mais luvas de 1.4 mi Ihdo e salério de 80000 mensais. To: tal: 580000 cruzados por més, pouco menos do que os 600000 oferecidos a0 j4 consagrado craque Valdo e ‘muito mais do que os 450000 que re- cebe o centroavante Lima. Desse jet- to 0 Gremio conseguiu fazé-lo desis- tir das mordomias e dos 50000 déla- res — cerca de 3,5 milhdes de cruza- dos ~ que receberia no Torino, Hoje, da Itélia, ele guarda apenas uma camisa do time de Turim, al- guns recortes de jornal e as lem- brancas das tabelas com o austria- co Polster ~ 0 mesmo que disputa a artilharia do “calcio italiano” com Maradona ¢ Elkjaer. “E muito facil jogar li. Tu 6, eles passam lota- dos’, brinca, imitando uma ginga de corpo. Na hora de falar sobre o futuro, entretanto, ele deixa de lado a irre- veréneia e assume uma postura que surpreende pelo equilibrio e coerén- cia. “Nao esperava uma ascensio tao rapida’, analisa. “Sei que agora tudo serd consequéncia de meu tra- balho entre os profissionais’ sucesso mudow sua vida -e ada familia, Enquanto se preparam para amudanga de endereco, ele despedindo da velha casa de made raem que moram, na Vila Nova, um bairro pobre e distante 18 km do centro de Porto Alegre. O pai, Jodo, trabalha como porteiro no Olimpico EDICKO 820 ~22E JAN. 1988 eee ey eee Caos eee Cee eee Cd Pee eu dduas péginas visiondrias, em dias de jogo, enquanto a mae a, éservente da prefeitura Oirmio Ronaldo, de 7 anos, é para Assis o “verdadeiro craque da fami lia’. Daisi,a irma, de 12 anos, sonha coma decoragao do quarto novo. A felicidade ser completa quan- do Assis fizer 18 anos e ganhar 0 carro que o Grémio Ihe promete Mas ele sabe que tanta atengao tem um prego. “Estou me preparando para este novo desafio” diz ele, que afirma ter plena consciéncia de que a cobranea da critica e dos torcedo res sera grande depois do belo con- trato que assinou Recém-chegado da selecio brasi leira de Juniores, que disputou 0 Cs ‘Omenino seguiaos Ct Gono pareciafadadoa etic een) Torneio da Amizade em Portugal, ele sonha em participar da Copa do Mundo da télia: “Quero estar na se lecao de 1990, mesmo com 19 anos” Antes ele conta com a boa vontade do treinador gremista, Otacilio Gongalves, para mostrar seu fute- bol. "Se o menino realmente for era- que, joga, independente de idade", garante Otacilio Agora a palavra esta com Assis Ou melhor, em seus pés. Afinal, se ele pen: 08 dos idolos Valdo, Zico, Marado: nae Pelé, precisa mostrar que esta novaestrelinha do futebol brasileiro nio perdera o brilho no meio do ca minho. m a mesmo em seguir os pas eiSO8 39 KIKO, LEANDRO E BRUNO? ‘Areunio de Kaké, Leonardo e Batista, que em 20} adolescentes sa0-paulinas, A aposta: se jogassem tricolor, poderiam conquistaro resto da torcida no Bra Arnaldo Ribeiro océ esté satisfeito comono- deles curte a banda homénima, vo Sio Paulo de Nelsinho Kaka e Jilio Baptista, que esta- Baptista? Esta? Nao? De vamna selecdo sub-20, é esto tra qualquer forma, vocé ainda _balhando com Nelsinho, mas Leo nao viu nada. O time da Copa dos _nardos6 vai estrear na Mercostl, no Campedes é apenas um esboco da-_ fim do més, Enquanto o time dispu dquele que vaidisputaroCampeona-_tava.a Copa dos Campedes, no Nor to Brasileiro e a Mercosul. O meio deste, ee passava por uma avaliagao campo, 0 coracao do time, deve _e iniciava os treinamentos fisicos no ‘mudar, e muito, para melhor. Centro de Treinamento do clube. Vem aio trio KLB. Kiko, Leandro Elesainda nem se conhecem. Bruno? Nao, nao estamos falando © grande dilema é:0s trés vao jo- da bandinha adolescente que arrasa gar juntos? Dificilmente. Em princi ‘8 corages teens. Eles até sao boni- pio, 0 treinador sio-paulino gosta tinhos (¢0 que dizemas fas), gostam de armar seus times com dois vo- de andar produzidos, mas em vez de _lantes estritamente marcadares (co- ‘misica romintica/pop, com algo de mo Alexandre ¢ o recém-contratado sertanejo, eles produzem futebol. Douglas ou 0 chileno Maldonado) e K éde Kaka, oL, de LeonardoeoB, mais um meia que também tenha de Jilio Baptista. Ah. Enenhum caracteristicas de marcagio (como SOE Ao! Carlos Miguel, Fabio Simplicio ou até mesmo Fabiano). Assim, o trio disputaria uma Gni- caposico na equipe titular. No mi- ximo, em tese, jogariam dois deles. “O meio-campo é 0 setor em que eu tenho mais opgdes, Tenho jogadores jovens, tenho jogadotes experientes, cada um com sua caracteristica. As- sim, posso mudar o ritmo de um jo- go quando bem entender. Vou preci- sar de todos. Quem vai jogar? Isso vai depender deles’, diz Nelsinho, De fato, o meio-campo sao-pauli- no tem excesso de contingente. Ex- cetuando os volantes caes de guar da, so nada menos que nove joga- dores brigando por duas vagas no meio, Kaka, Leonardo e Jilio Bap- tista no meio deles. Emsua volta ao Morumbi, Leonardo tinha 32anos, Tamaisque os novatos: “Eugostavadaestilo ba. dele" contou Baptista “A concorréncia é sempre uma boa. Vocé nunca se acomoda desta forma’, afirma Kaka. ‘A presenca de varios jogadores de qualidade no meio mostra que o Sao Paulo esta realmente em busca de titulos. Quem estiver melhor vai acabar jo- gando", diz Jilio Baptista. Leonardo também prefere no entrar na pole: mica e elogia os “concorrentes” dire tos, “Os garotos do Sao Paulo sio di- namicos, répidos, muito bons.” ‘Quando acertou a contratacao de Leonardo, muita gente pensou que 1 Sao Paulo fosse se desfazer de Kaké ou lio Baptista, seus joga- dores mais valorizados desde a conquista do Torneio Rio-Sio Pau- Jo, no inicio do ano. Mas parece que isso nao vai acontecer, pelo menos por enquan- to. Parao presidente Paulo Amaral, a presenga de Leonardo inclusive vai ajudar na formacao técnica e profissional dos dois garotos. “O assédio sobre as dois é natural, mas eles ainda so muito jovens. Pri- meiro, precisam dar algum titulo de expressio a0 Sao Paulo, para de- pois a gente pensar numa eventual negociagao para o exterior.” Quem garante € 0 diretor de Futebol do clube, José Dias. “O Sao Paulo nao quer vendé-lo agora. O Kaka também nao quer sair. O objetivo dele é se firmar co- mo titular e buscar um espaco na selecdo principal”, diz Wagner Ri- beiro, empresirio de Kaki, ressal- tando que emissérios italianos esti- veram em Cérdoba (Argentina) so- mente para observar 0 desempenho do seu pupilo no Mundial Sub-20. EO ae a Cra eet er ee) Peet eee De ee ee ay Para Ribe Leonardo ‘vio acabar 's como ti- tulares dae indo como torcedor, acho los Miguel & carta fora do baralho no momento, ois est acima do peso e vem per- dendo a posicao para 0 Souza, que, por sua vez, é muito irregular. Para mim, vao acabar jogando o Leonar- do eo Kaka” Polémico, ele, nao? Leonardo tem 32 anos, Kaké e Ji- lio Baptista, 19. O primeiro vai ga: nhar perto de 250 mil reais men- sais, quase 20 vezes mais que os ou- tros dois. Quando Leonardo deixou © Sao Paulo, em 1994, aps perder 0 tricampeonato da Taca Libertado- res para o Vélez Sarsfield, da Arget tina, Kaka e Jilio Baptista tinham apenas 12 anos. Eles jé jogavam juntos no departamento social do clube, futebol de saldo e futebol de campo, e viam 0s jogos dos profis- sionais, com os colegas, das cativas do Morumbi. “Eu gostava do estilo do Leonardo. Sera um prazer jogar junto dele. Eu sou meia-direita, Ele é meia-esquer- da, Acho que ha espaco para os dois’ diz jilio Baptista, “Eu também Jembro do Leonardo, principalmen- te do titulo brasileiro de 1991, sobre © Bragantino. Sé6 tenho a aprender com ele. Ele é um cara que 6 tem bons exemplos a transmitir para to- dos nés’,afirma Kaka, Elogio é bom, mas tem limite Leonardo nao quer chegar ja como uma referéncia para time, 0 novo lider da geracao de Kaka e Jilio Baptista, “Nada garante que o time ira girar em torno de mim, Nao que eu nao queira assumir responsabi- lidades, mas exemplo quem esco- Ihe € 0 grupo. Muita coisa vai pe- sar, como, principalmente, o meu rendimento em campo.” Foram as suas declaracdes no dia da apre- sentacao oficial. Kaka, jilio Baptista e Leonardo podem jogar juntos? Hé lugar para (0s trés no time? Nelsinho pode abrir mao de um dos volantes para reuni- -los na mesma formaci0? Isso $6 0 tempo vai dizer. Mas vocé pode dar ‘uma mao ao treinador. Vote na pé- gina do Sao Paulo no site de PLA- CCAR (wwwplacar.com br), no meio- -campo ideal para as competicdes, do segundo semestre. Prometemos enviar 0 resultado a Nelsinho. Se ele levar em con! uma outra histéria..m ELES ATE SAO BONITINHOS, MAS EM VEZ DE MUSICA ROMANTICA/POP, COM ALGO DE SERTANEJO, PRODUZEM FUTEBOL SAE SAO NOVE JOGADORES BRIGANDO POR DUAS VAGAS. ESSEEOPROBLEMAQUE | [iaiinEISa TODO TREINADOR GOSTARIA DE TER : E QUE NELSINHO TERA DAQUI PARA AFRENTE. SERA QUE ELE VAI SABER ESCOLHER OS MELHORES? ” | AFAVOR: AFAVOR: CONTRA: WOTOROL4 AFAVOR: CONTRA: j AFAVOR: UMA CONVERSA NOBRE Para o aniversario de 40 anos da revista, PLACAR pos lado lado Pelé e Neymar, em um revelador dialogo entre oRei ecentéocandidato amajestade Ricardo Perrone e Bernardo Itri Neymer, zas18 ands, efa@ maior espetanca deresgatarobiihada nosso futebol comanos tempos dePe': sorrisosepromesses egunda-feira, 1° de marco. As 17ha1, um dos telefones nna redagao de PLACAR to- a. Do outro lado da linha esta o empresirio Wagner Ribeiro Ele avisa: “O Neymar acabou de en- trar no carro, Estamos saindo. As 19h30 ele chega ai”. O dia é agitado para o atacante santista. Depois de brilhar no classico contra o Corin- thians, na véspera, recebeu uma avalanche de pedidos de entrevis- tas, treinow s 16h em Santos e se prepara para encontrar Pelé, nos Jardins, em Sao Paulo, exclusiva- ‘mente para uma sessao de fotos pa- ra acapa de PLACAR comemorativa dos 40 anos da revista. O encontro histérico foi breve, mas ilustrou bem as diferencas en- tre a primeira geragao de craques seguida pela revista e a mais recen- te, capitaneada pelo promissor ata- cante santista, que alimenta as es- peranas daqueles que sonham ver um novo Pelé. A turma mais antiga nasceu sem a pretensao de ser cele- bridade. Jé Neymar, a joia mais relu- zente do pelotio atual, preparou-se para os holofotes desde o bergo. (Quase uma hora apés Neymar co- ocar 0 pé na estrada, a reportagem chega ao esttidio sugerido pelo staff de Pelé para as fotos. O Rei esta la preparando a aula que dard is 20h paraa Rede de Ensino Despottivo, curso a distancia com telessalas até no exterior, Enquanto Neymar nao chega, Pe- 1k impregna o estadio (uma sala na qual nao para de entrar e sair gente em busca do autégrafo real) com sua simpatia, possivelmente fruto do oficio de viver de sua imagem por décadas. Quando termina de ensaiar, o Rei pergunta: “Com que roupa vao ser as fotos? Eu trouxe terno”. Vestido ‘com tmia camisa com 0 logotipo do curso, ouve que vestira uma camisa fie Santon Codec "Tet ma do Corinthians?” E.a primeira amostra SGT da alegria pela vit6ria no classico da véspera. Em seguida, fala como se fosse Iniciar um discurso: “Sei que todos voces gostam muito de mim, mas tem uma coisa que ninguém pode fazer por mim: xixi”, Depois de es- perar por 5 minutos até que funcio- narios do local certifiquem-se de que ele nao ser4 incomodade no caminho, deixa a sala dando tay ‘has nos bragos de quem esti sua frente. Pelé volta, da pelo menos mais dez autégrafos e comega a conver- sar com a reportagem. “Hoje estou muito feliz, ento posso ficar falan- do quanto tempo voce quiser.” Se dependesse de Pelé, o papo seria s6 sobre Santos 2 x 1 Corinthians. “Bles [jogadores do Santos} quase me mataram do coracio. A gente estava com 0 jogo ganho € quase ome meupafalavapramim, auefutebolum dom, mas tem que se cuidar muito bem" perdeu... Se o Teheco escora a bola de cabega no fim da partida, ele te- ria feito 0 gol. Ainda bem que quis, cabecear forte... Neymar nao per- deu o pénalti, Foi o Felipe que pe- gou..Se o Neymar errou no chapéu que deu no Chicio depois que o juiz parou o lance, foi por ter segurado a bola com as mios para fazer cera, foi por isso que 0 Chicao ficou bra- vo.” disse Pelé As 19h30, apés 15 minutos de en- trevista, a porta do estidio se abre e entra Neymar, timido ¢ acompa- nado por seu agente. Ao se aproxi- mar do Rei, ouve a bronea: “Voce quer me matar do coracao, mole~ que? Se eu morro, voe® teria remor- so para o resto da vida’, diz Pelé, Iembrando-se mais uma vez da par- tida no dia anterior. Neymar sorri timidamente ¢ fica num canto espe- rando a conclusio da entrevista Chamado para fazer as fotos, © tricampedo mundial fala sobre seu primeiro carro. Antes, aumenta 0 volume de sua voz e diz: “Nunca precisei comprar carro, sempre ga- nhei como prémio por ser artilhei- 10, S6 do Paulista foram oito vezes. Em 1984 [aposentado], a Fifa me deu um Mercedes de prémio”. Neymar, com uma historia diferen- te sobre seu primeiro automével, com certeza owvi (Em fevereiro, dias depois de completar 18 anos, Neymar ganhou de presente de aniversario um utili- tario Volvo escolhido por ele e com- prado por seu pai como dinheiro do atacante, O carro vale cerca de 170000 reais, quase 0 mesmo que seu salrio mensal) Pepe, ex-companheiro de Pelé, diz que o amigo ganhou um carro aos 16 anos. “Logo quando comecou a barbarizar — fim de 1956 e inicio de 1957 —, ganhou um Fusca, Foi um alvorogo para ele buscar 0 carro”, diz Pepe, Mas a historia que Pelé lembra é ‘outra: “Neymar, essa voeé tem que ouvir. Voltamos da Copa da Suécia, em 1958, ¢ 0 prefeito de Bauru pro- ‘meteu me dar um carro (0 jover ri fora de hora]. Cheguei na cidade, ‘uma grande festa. Esperava um car- ro conversivel para levar para San- tos. Mas quando tiraram 0 pano que cobria o carro... Uma Romiseta. ‘Um carrinho para duas pessoas, foi ‘uma decepcio”. Os dois, a essa altu- ra, diante do pano de fundo para fo- tos, riram juntos. Riram mais ainda quando Pele brincou com o corte de cabelo do garoto. “Meu pai usava tum corte assim, chamava de mosca ré. O meu era mosca ré baixa.” Neymar fala baixinho: “O meu & moicano”. A sessao de fotos segue ‘com trocas de abracos e sorrisos. Diante das lentes de PLACAR estio dois homens vaidosos. O mais velho usa tintura para esconder os cabe- los brancos. Ja o mais joven corta 0 cabelo a cada 15 dias no maximo, além de receber no CT do Santos um cabeleireiro para passar cremes em seu moicano. Segundo Wilmer, seu cabeleireiro e amigo, Neymar passa trés cremes trés vezes por dia, mesmo em dias de jogos. “Ele passa creme quando acorda, antes de en- trar no campo ¢ depois do jogo”, afirma Wilmer. Além disso, adora se enfeitar com joias e raspa asa. Jas na tentativa de engrossar os pe- los. Fica constrangido de aparecer com pelos ralg te dos cole- ‘gas no vest Neymar descontrai comportam e% guiram seu primeiro carro sao al- ‘gumas das diferencas entre os dois. A primeira bolada milionaria na da de cada um também rende hist6- rias diferentes. Aos 14 anos, em 2006, apés uma bem-sucedida ma- nobra de Wagner Ribeiro, que o le- vou para treinar no Real Madrid e voltou de ki com uma oferta, 0 jo- vem atacante beliscou seu primeiro milhio de reais. Na verdade, 2 mi- Ihdes, pagos pelo Santos a titulo de Iuvas, além de 25000 reais mensais. ‘Aos 16 anos, o garoto prodigio abo- canhou mais 5 milhdes de reais. Foi quando a DIS, empresa do Grupo Sonda, comprou 40% de seus direi- tos federativos por 5,5 milhdes, que ele mesmo detinha em sociedade com Wagner Ribeiro. A venda esta- va praticamente acertada com a ‘Traffic, por menos dinheiro. Pelé, o melhor jogador do mundo de todos os tempos, s6 viu a cor de tanta grana no fim da carreira, em 1975, ao jogar nos Estados Unidos. “Fiz um contrato de seis meses com ‘0 Cosmos por 7 milhdes de délares. Isso, hoje, deve dar uns 70 milhoes de délares’, afirma o Atleta do Sé- culo, Antes de completar 18 anos, Neymar jé tinha comprado duas co- berturas. Hoje, ganha 180000 reais, mensais do Santos, além de 300000 de luvas anuais. Investe a maior parte em iméveis. Sem ainda ter vestido a camisa da selecao princi- pal, Neymar fez fortuna bem mais rapido que Pelé “Eu ganhava bem no Santos. Re- cebia 5000 por més — nem sei mais, qual era a moeda. Comprei uma ca- sa para o meu pai em Bauru ¢ outra para mim em Santos. Ganhar muito dinheiro cedo faz parte da geracio do Neymar. Na minha época, o que eu ganhei deu para fazer meu pé de meia, planejar minha vida ea da minha familia’, disse Pelé, antes de arevelacio santista chegar ao esti- dio. O Rei, que perdeu muito dinhei- ro em negécios que nao prospera- ram, detesta ficar atras de seus cole- gas de profissio. “Eu tive proposta da Europa, 0 Pepe teve, 0 Zito. A gente ganhava bem para os padroes brasileiros. Nés tinhamos outro es- tilo de vida, nao um padrao tao alto PELE ESTAVA DESCONTRAIDO E NEYMAR, ACANHADO. E O ENCONTRO HISTORICO ILUSTROU DIFERENCAS DE GERACOES M147 “JOGUEI DE GRACA NO SANTOS” PLACAR FALOU COM PELE ANTES DA SESSAO DE FOTOS DORE! COM NEYMAR Vocé uma vez deu entrevista di- zendo que o Neymar poderia su- perd-loumdia... ‘Nunca falei que o Neymar me supe- raria, Alguém esereveu uma coisa {que niofalei, © que costume dizer é que, quando comecei, « maximo {que queria era ser igual ao meu pai, bom jogador. O Neymar pode dese- jar muito mais. Que ele € especial, nfo tenho divida, Precisa amadure- cer e ganhar corpo. Tem muita vi ‘io de jogo, muita rapidez, muita fa- cilidade para tocar abola Oque hd de diferente entreasua geracdoeadeNeymar? Hoje ébem diferente, eles tm chute ra llas, brinco de brilhante. O joga- dor quer fazer gol e dar tchauzinho paraa camera. A gente queria meter Eefezabarba ‘nosaldodo fie ‘amigo Didi, em Santos: "Agente soqueria meter 0, hojeébrinco echuteiralilés” SBME gol. Se pegasse um time qualquer, a gente queria meter cinco, seis. Hoje 0 cara quer reclamar muito com o juiz. O goleiro faz defesa e fica no chao fa- zendo pose. Os jogadores gesticulam pedindo paraa torcida apoiar. A gen- te faziaa torcida levantar. ONeymar, provavelmente, jé ga- nha mais do que vocé ganhavano Santos. Eu ganhava bem para a época. Tive propostas para sair, mas fiquei por ‘que gostava do Santos. Engracado, as pessoas se esquecem disso. No meu tiltimo ano no Santos, em 1973 ou 1974, jogava de graca porque ado- rava 6 Santos " mas, quand. {na gestio d do meu bels Pelé, porque nao tinha vestidtio, os jogadores se trocavam num banco, Quem vai ganhar aCopa? Vitodas as selecdes. Brasil e Espa- nha sto as melhores. Nao significa que vio ganhar, porque é um tor- neio curto. 0 que acha da presséo parao Dungalevar Ronaldinho? Isso de pedirem jogador sempre tem, Em 1958 quebrou o pau, que- riam 0 Julinho [Botelho], o Luizi- nho. 0 Dunga tem suas conviegies Essa pressio nao atrapalha. Neymar deve ir? Futebol para ser convocado ele tem. Fui convocado com 16 anos, e ele pode ir com 18 anos. ‘como os jogadores se acostumaram hoje’, afirmou o Rei. Neymar jé. ga- nhava 20000 reais aos 13 anos. E ele nem tinha contrato de jogador pro- fissional, pois a idade nao permitia Desde 2006 é patrocinado pela Nike. Recebe 150000 délares por ano da ‘empresa, mas o valor pode pular pra 600000 délares, se for convocado para selegao, e para 1,2 milhao de délares, se for para um grande clube europeu. Miliondrio, o atacante ainda ndo tem liberdade para fazer o que bem entende com o dinheiro que ganha “Ewe a mae dele controlamos os cartoes de débito e crédito. Se o Neymar quer alguma coisa, a gente vvé primeito se podemos gastar, diz ‘ pai, seu Neymar. Mesmo com esse controle dos pais, o atacante ja es- banja luxo. Dias antes do encontro entre o Rei Neymar, PLACAR foi ao CT do Santos e teve a primeira conversa com o jovem santista. Ele chegou com seu Volvo branco, com 0 som alto, De chinelo, bermuda, éculos de sol azul-claros, um enorme rel6gio preto no pulso e mascando chiclete aponto de se ouvirem os estalos ca- da vez que abria a boca, o atacante sentou na sala da assessoria de im- prensa do clube para conversar. “Sou meio favela’, disse, durante a entrevista. Horas depois, 0 novo contrato de Neymar era fechado, no mesmo prédio. Ele nao parecia pteocupado. ‘A promessa santista diz, que ou- viu do Rei a recomendagao para obedecer aos pais. Eles ja tinham conversado algumas vezes no CT do Santos. Ny trocaram poucas palayf Depois d -onversou mais coma Falou sobre seu conselho p& foto. “Ta disse para ele, é como o meu pai falava para mim: ‘Tem que se alimentar bem, cuidar da satide’ Futebol é um dom, cle nao fez nada, ganhou esse dom de Deus. Tem que comer bem para encorpar, mas nao é para ser halterofilista’.O pai da nova estrela se preocupa com essa histéria de ga- nhar miisculos. “Ele nao tem que encorpar. Isso deve ser natural. Es- tou me formando em educagio fisi- ca para entender esse processo do meu filho”, afirmou seu Neymar, que mio estava no encontro, ‘Neymar, distraido, nem escutoua dica de Pelé. 0 jovem agora parece Dee) causes Rcd Cee rae Bd oo Patra a aquela crianga que comeca a perder a timidez e passa a explorar o terri- torio novo. Enquanto Pelé fala so- bre seu conselho, 0 jogador pede de presente duas bolas de futebol que encontrou no estiidio. O Rei conti- nua dando suas opinides sobre 0 novato, mas Neymar est mais dis- perso ainda, Achou um par de lu- vas de boxe ¢ est golpeando sew agente, que se aproxima de Pelé e dispara: “O garoto precisa de uma forca sua’. De bate-pronto, o Rei de- volve: “Ele é que tem que dar uma forca pra mim’. Depois, Pelé abaixa © tom de voz, se aproxima de Neymar e diz como quem revela um segredo: “O pessoal do Santos fica falando para eu aparecer para dar uma forca. Mandei o Edinho [seu filho e auxiliar de preparagio NO ESTUDIO, O JOVEM PEDE DUAS BOLAS DE PRESENTE E, DISPERSO, COMECA A FAZER EMBAIXADINHAS ME 69 “A MELHOR PARTE E SER CONHECIDO” NEYMAR FALOU COM PLACAR MINUTOS ANTES DE RENOVAR COM O SANTOS (Pelé acha que omaisimport te para vocé écomer bem para fi- car forte. Concorda? Quantos quilos ganhounouiltimoano? Claro que concorde. O tempo vai me ajudar, e jé consegui 4 quilos. Que conselhos Pelé Ihedeu?- Para manter a humildade e seguir ‘0s conselhos de meus pais J4 viu muitos gols do Pelé? Qual foi omais bonito? Tem algum que voc quer tentar fazerigual? Em video vi muitos. Acho todos bo- nitos. Gol sempre é bonito, Ficaincomodadade seus pais ain- daadministrarem seu dinheiro? De modo algum. Eles fazem o me- Ihor para nossa familia. Nao gosto de pensar nessas coisas Neymar czusa frisson aoiir 20 cabelereroimitar afotode Pelé “Vimuitos gols deleem video, achotodos mmuitobonitos* SONNE Vocé é muito comparado ao Robi- nho. Isso incomoda? Sou comparado com ele desde pe- queno. O cara é craque, entao nao me incomoda, Fico feliz com as comparages, mas fico muito com 0 pperinho no chao, tenho que ir deva- gar, obedecer a papai e mamie. Quando acha que vai sertitularda selecéo? Queria ser titular da selecio desde 0s 15 anos, mas sei que tem ainda riuita coisa para acontecer. Como foi conviver com Ronaldo, Robinho, Beckham, quando vocé foi treinarno ReatMadrid? Eutinha 13 muito ti ido. Mas e jita brinca, deira, bagu 1p0 todo, € Doquemais gostanofutebol? Ser reconhecido por todo mundo. Eoqueémaischato? Chato? Nao tem nada chato. Nem concentraco? Concentracao é legal, a gente fica baguncando. Oqueachou deo Rogério Cenité- -locriticada depois da paradinha que vocé deu no jogo contra o ‘S80 Paulo? Se tivesse outro pé- nalti na partida, cobraria com paradinha? Foi normal. Nao sei como cobraria {[duas horas antes, sem perceber a presenca da reportagem no CT, ha- via dito que torceu por outro pénalti para dar outra paradinha}. de goleiros do Santos] dizer que nao vou porque as coisas esto indo bem, agora nao precisam de mim’. E completa falando para a reporta- gem: O Neymar sabe que, quando as coisas nao andavam bem, eu es- tava sempre la”. “E. verdade”, diz 0 garoto, Passaram-se cerca de 15 mi- nuutos desde a chegada de Neymar. Um dos organizadores da aula de Pelé pede que todos deixem a sala parao Rei se trocar e descansar um pouco. Os craques do presente e do passado se despedem com um lon- go abraco. “O encontro foi como tum sonho para mim, Fiquei muito feliz’, disse Neymar, depois, a re- portagem. O atacante deixa o prédio acom- panhado por seu empresario, um funcionério dele e um seguranga. Desce um lance de escada e, sem a malandragem demonstrada dentro de campo, saca do bolso, na rua, um rel6gio de ouro de sua colegao, que havia tirado para as fotos, ¢ 0 colo- a. Vai acaminho do estacionamen- to, num trajeto de cerca de 100 me- tros, fazendo embaixadinhas com uma das bolas que pediu. “Para com isso que vao pensar que vocé é mes- mo o Neymar, Se passar um corin- I . tiano, vai te bater’, diz Wagner, tando despistar. Andando e man- cando ~ sequg zaga corint Neymar na que trés b provocado, of ara, segura a bola com as maos e diz: “Nao con- sigo mais de trés? Agora vocés vio ficar aqui até amanha” Parado, ele faz 21 embaixadinhas e perde o con: trole da bola. Isso, por volta das 20h, na movimentada esquina da aveni- da Paulista com a Bela Cintra, para desespero de seu agente. Quando a bola cai, Wagner Ribeiro decreta 0 fim da brincadeira. ‘Neymar ¢ assim, quando se sente a vontade vai logo dando um je de se divertir. Seu pai acredita que esse é seu segredo em campo. Ele se diverte jogando ao lado de seus amigos no Santos, mas, em breve, pode ter de encarar outra realidade. Wagner Ribeiro nao confirma, mas os planos sto de que ele va para a Europa ein agnsto. 6 a préxima eta- pa de um projeto para o qual Neymiar se prepara desde crianca, afinal sua carreira é muito mais pla nejada do que foi a de Pelé. Na es- treia de Neymar no Santos havia Os des idols santistas preparando-se pare asfotos: um encontracom a care dePLACAR. mais reporteres credenciados que na volta de Robinho, segundo a as- sessoria do clube. Gragas ao barulho feito por seu empresario. Desde os 13 anos Neymar da entrevistas. Tanta exposico vai ajudar ou atra- palhar? “Isso nao muda carter do jogador. Hoje isso é natural, tem muito meio de comunicagao, entio sempre tem muita gente. Ele ja foi criado nesse mundo, faz parte desse mundo; é natural para ele, nao vai prejudicé-lo”,afirma Pel. Apesar de tanta expectativa em torno de Neymar, nada é garantido. Em 40 anos de PLACAR, surgiram imimeros jogadores com a alcunha de “novo Pelé”. Nenhum deles con- seguiu substituir o Rei, Uma parte deles até construiu uma carreira vencedora. E Neymar? Serio desta- que da Copa no Brasil, em 2014, um novo Pelé, ou vai engrossar a lista de promessas que fazem bate-volta nna Europa? “cho que ele vai ser um novo Rob ho” diz 0 téenico Muricy Ramalho. Pelé descarta ser superado pelo no- vato. A tinica certeza éque Neymar é abola da ver, e nada melhor que Pelé apadrinhé-lo na capa comemorativa dos 40 anos de PLACAR. PMS | ST DE DOIS Pe retary ee cae Breer gh et Bee ruticy erry g i) oa aa iy nae 3 S eu Cet ea tricampedesdomundono ee ceed eRe eg eae eo n seria conhecido como Clu Cosa uy Peery INIMIGOS INTIMOS ‘Quem ousaria, nosdiasde hoje, detanta rivalidade agressiva, de tanta briga desnecesséria, juntar jogadores de dois clubes de uma mesma cidade. Em 1978, PLACAR posnumamesma fotografia osatletasdo Guaranicampedo brasileiro e da PontePreta que, um ano antes, disputara afinaldo Campeonato Paulista contra Corinthians de Basilio. Nao ‘setratadesaudosismo—mas ‘como seria bonito poder voltara ver cenas comoessa, Cescrete: Carlos, Oscar, Mauro, Polozzi, 2¢Carlose Odirley; Lucio, Renato, Careca, Zenone Tuta. SAME eee Cees aed Coutinho paraoSantos ce COs asindevidas, ceed Da TRES CORAGOES Edinho, oneto. Dondinho, o pai. Pelé, orei Pelé,o filho. Pela primeira ‘vez, reunides com ‘emocao, osArantes doNascimento.A fotografia, feitaem 1995, eraajoiada coroadahistérica edigdocoma capa de Edmundo segurando umurso de peltcia, Pelé diziaadoraressa imagem, um gestode carinho que oremetia ainfanciaem Trés Coragbes, onde ‘nasceu para omundo. EMSS ISS CANTO DOEXILIO Ao desembarcar na Alemanha, ‘em 1997, contratado pelo Bayer Leverkusen, Zé Elias grudouem Paulo Sérgio, que jé andava pelos ‘campos de ld. Colou no amigo, com quem pegavaccaronatodos os dias, em registroexclusivede PLACAR. “Ele é muito folgado”, disparou Paulo Sérgio. Era amizade de maos dadas com um outro par, deestrangeiros no Brasil, registradosem 2005 (a dir): o uruguaio Lugano, do Sé0 Paulo, eoparaguaio Gamarra, contratado pelo Palmeiras. SGM COMPADRE MEU ThiagosSilvae David Luiz pareciam feitosum parao outro, Em comum, viveram dispensas nas equipes de base, dramas, contusées, trocas de posiciese~claro ~azagadaselecdo. Aalegria estampada em 2013, depois daCopa das Confederacdes, seria pintadadedorem 2014, depois do7a Icontraa Alemanha, cujosimbolo maior (etriste foiochoro do defensor cabeludo. TRESEMUM ‘Sonny Anderson, Giovanni e Rivaldo tentavam ‘em1997 fazercom que Barcelona esquecesse apassagem vitoriosa de um outro brasileiro, Ronaldo Fendmeno—ento Ronaldinho. DA ARTE DE UNIR AS PONTAS Uma selegao de capas de PLACAR - do comeco aos dias de hoje~ feita de pares, trios eas vezes mais gente, pare comprovar que da jungao de ideias e pessoas sdo feitas¢ vide ea bola Os fenomenais Umaturma cariace canhatinhas do dapesada reunida trinoMéxico- por PLACAR: Rivelino, do Garrincha, Edu Corinthians, (que depois seria Gérson, do Seo conhecido coma Pauio, Endo irmaode Zico} deixaremde brincar Mere Anténio, umcom ooutt, lorge Mendonca - secundados peo alémde Paulo centroavante Cezar lairinho. César, do Palmeies. Encontro Umasemana improvavele depois, foie vezde bem-humorado PLACAR convidar ddePeéconsiga mesmo, vestindo amisasde selegtes comoas deUizo ovietica, edarespacone manchete principal paracracagos doguinteto dos srandes times Gana, deSéo Paulo: Portugal ete. Erao Clodoaldo, Reiem seu apogeu, Rivelino, Luis Pereira, Marinho ¢ Foran, consagradona Copa do México SBA Uma chamads em momento incémodo para dois attiheirosnatos dofutebo! pauista queandavam em fase uim, citicados pelas torcidas:Cés doPalmeiras, eMirandinha, doCorinthizns. Uma dupla de primeirissime aualidade despontava no pais, com enselode chegarem avestira canarinho: Beto, do Giémi, eCaleger, da Portugues, Eesnaoforam ‘opa de 974 Odiiema de Zegala paraaseleciona Cope de Alemane “Aexplosdoda telentode Rvelina ouacasse tranquil deAdemit dda Gui? Aseecto ainda duvida de sua cabeca’, Deu Riva PLACE ES ron nan 03 As ORiosorriaem campo, epesar da ditadura militar Roberto, Luizinho, TicoeGilemtorno deurradefiicsa simples ebonita “Averdadeé queo futebol seresumes uma coise-ogol. UnavezF amengo, sempre Flamengo: oGalnhode Quintino, que comecaveo caminha d li, e oatgentino mais cariacade todos, Doval,encantavarn a galere no Marace aosdomingos, Demados antecipar oano que nascia, com aCopa doMundona Espanhe eo Brasil favorito, PLACAR pésobolofote nosquatro génios daque'a linda travessia: Zico, Séerates, Reinaldo e Faldo. RM IS9 “Eumeamatro nese Magra0 disse orubro- negro. “Euadoro esse baixinho" resumiva alvnegra. juntos, comacamisa marela de selego, elesderam espetdculo-pena nao trem trazido cane. Umdeles, nemé preciso izes quem (cleroqueotricalor Serginh), sempre tevefemademau eincontldvel Coutro, deverde, Balthezer, cresceu com aiagem noavesso, ogente boa de vozpausada ilo de vida tranquildo. Casagrande, do Corinthians, eSerginho, do Santas, izeram uma dvertida apostapiblica niareportagem de PLACAR: quem perdesse vestiria camise do alverséro. Oresultado? zero GONE ft Nemtudo oi semprefutebo ainda bem. Emano deOlimpiada~em Los Angeles~era acesode ter a0 ado do craque corintignoas estieiesdo basquete (Horténcia)e davdlei(sabel eWilian) Depois de uma Vitorosaexcursa0 daseegtoparaa Europa, acorajosa apastaemquatio Jogadores (Mirandinha Geraldzo, Rae Valdo). Nem todos, éverdade, vingeramcomoa redacdo imaginou. Fezpartedo ogo Osdois geniais atacantes, tetracampebes do mundo nos Estados Unidos em 1996, eramnossa esperange de repetiradosee voltarda Franca comopenta~mas Baixo aeabou cortadopor "Ocraque francés Djrkaetfrende-se aotalento de Ronaldinho”, escreveu PLACAR pouco antes da Copa dsputada na Franca, Ninguém previ que heavet¢ um certoZnécine Zidane peo ceminho a4) ait in g I ESRI DDepois da derota no Mundie revista pis em destaque jovenstalentos que comegavamt abvitharno Brasilia esonhavam recolocer otime cenarinhono degrau maisaltodo patio. AD ota ct ape in ce OBrasilemcoroqueri Roméo, ogéniodotetra, mas Felipao n&co \evou entre os dois convocados. Com gree huridade, votamos da apo eda Coreia com openta. nig Bute stant on eR BMT eo Nas semifinais do Paulistéo, o acirramentoda tvaldede entreCorinthian e Santos insirou aprodugZodestafoto, com os dos principets destaques doselvinegros naquele momento PS | 61 ‘eterna elagSode amor eédiventre torcedorese seusidolas era tem de eportegem sbreogoera s&0-patlino RogériaCen, omelepareiense Alexeoatacantecorintiano Marcelinho. Be Seg are | : Sees a FR “Voc néoconheceesseranaz aclado?” perguntava a revista. Lonel Messiera apenas “oatgentino que nao desgruda de RoneltinhonoBercelonae quer ‘oubarotitulode mehordo mundo. CAIs Lulnhae Wilign, revelagdes da base, rometiam “tiaroCorinthins da lama’ econtavam em detahes como" Tera"formava asnovas geregdesde craquesdo Timo ed Prt Wan Dade } ASIL ‘Nem deanalisar dversasestatisticas, ouvimos seis comentaristasneste“duela inal” paradefinc ‘qual dos dois (Rogério Ceni, do Sao Paulo, cu Marcos, do Palmeiras) ere o melhor de posigo. OsjavensPauio Henrique Genso e Alexandre Pato «ram apontados comosolugao pare renovar aseleczo apf ofrecesso naCopadaAtrica doSul, mas nenhum dos dois foiconvocado paraZ014, Cempetes brasieiosnoane anteriog,Ralfe Paulinho eram ~pontados como os meloresvolantes dopalse,detato, seguiremdendo indmerasalegias8 torcidacxintiana ‘busca pe “novo Pel’ nuncaparau, evailonge ainda Hé onze anos, Messi aparecia com potencial pare desbancar 010 basic. Mas, ‘apesardeserum sigante,ndo ¢ Rei is eee ST DO mi Pentacampeao dorrundoem 2002 Riveldoera dirigente doMogi Mirime segua jogando, aoladodofiho Osdois foram os primeirosda histviaeatuer juntos emarcargols) emuma competigio ofici no pas. OBresileirdode 2023 comegou com setetécnicas portuguesese trés argentinos entre os 20timesda Série trans, a invaséodos estrangeiros causava espantoe estranhezgentie jomalistase torcedores. No ferinino, a veterana meio campista do SaoPauo. Nomascuino, omeia do Red Bul Bragantino Ambos a ceminho da Oimpizde de Toquio,aiada para 202! por causa dapandemia MSS 63 SAO COISAS DAVIDA Rita Lee sempre teve intima ligagao com o futebol e, portanto, comas paginas de PLACAR — especialmente no periodo da Democracia Corintiana, no inicio dos anos 1980 aT possivel contar a trajetoria de PLACAR, desde o inicio, em 1970, aos dias de hoje, a0 longo de 1500 edicoes, por meio das cangées e da postura de Rita Lee, A cantora e composito- ra, que morreu ems de maio, aos 73, anos, adorava futebol - em especial © Corinthians e o Internacional. Nao ha como dissocié-la do periodo da chamada Democracia Corintia- nado inicio dos anos 1980 - eem e pecial de uma cena histérica e deci- siva. Em novembro de 1982, ela cha- ‘mou ao palco de um show no Giné- sio do Tbirapuera, em Sio Paulo, trés jogadores do Timao: Casagrande, Sécrates e Wladimir. O pais come- cava a sair da ditadura militar de vinte anos. Dias depois daquele en- contro - e encontro é a marca desta edicd0 - 0 alvinegro venceria oSi0 Paulo por 3a Ina decisio do Cam- peonato Paulista E Casagrande - que naquela tar- de marcaria 0 gol ao qual daria 0 nome de “Rita Lee” - quem passeia no tempo, "Aquele gol comecou uma semana antes. Nos fomos no show dela, ela tinha me convidado, ai chamei os caras ¢ fomos todos. Subimos no paleo, demos a camisa para ela e, ai, em resposta ao convi- te, eufalei: ‘Domingo nés vamos jo- gar com o Sio Paulo a final, eu que- ria que vocé fosse ver o jogo. Convi- dei, e nao sabia que ela estava lina cabine com o Osmar Santos. Quan- do entrei em campo, o repérter, que era o Fausto Silva, veio em cima de mim, colocou © fone e o Osmar fa- lou: ‘Casagrande, estou aqui coma Rita Lee’. Ai eu falei: ‘Quer saber, Osmar? Fala pra ela que hoje vou fazer 0 gol Rita Lee’” E assim foi. Ri- ta, que naquela jornada riu com os corintianos, fez.a alegria de todas as torcidas, ao longo de sua vida. Diz a letra de “Saiide’, um de seus classi- cos: “Mas enquanto estou viva e cheia de graca / talver ainda faca um monte de gente feliz’ m ‘Acantora ecompositora coma camisa doCorinthians, esquerda, enoshow com Sécratese Casagrande, em 1982 (acima): em nome dademocracia, parafazer ummontede gente feliz PMS I6S CASSIOZANATTA CARLOS ALBERTO CHEGA AO PARAISO lance(...) Naaltura exata para vocé pegar naveia. Pobre Albertosi. Naoteve amenor chance. Aquelarede estufando foiuma epifania.” GBI U6. Quelugaréesse? — Nao me diga que nao sabe. — Hein?! Que susto! Quem é voce? ~ Voce pergunta isso desde o dia 21 dejunho de 1970, — Descullpa, nao me lembro. ~ Claro que sim. Ha meio século voc? se per ‘gunta, afinal, quem levantou aquela bola. = Abola? — Aquela, com 12 gomos pentagonais ¢ 20 hexagonais, pretos e brancos, que Pelé rolow para vocé com tanto carinho, na grama do Estadio Azteca. — Aquele chit... o quarto go) Hia..na final da Copa do Mé} ~ Sabia que voc@ ia se lemtffar!|Mgto Pra zer. Eu sou aquele que levat ola para voce chutar, ~C-como? Reveja o lance. Clodoaldo dribla um, trés, quatro italianos. Passa para Rivellino, que langa Jairzinho, que dribla mais um e entrega para Pelé. Este, homem meio apa- Ita a A = (Oderradeiro gona goleadapor 4a, em 1970: momenta mégicone Cidade doMésico rentado do Dono de tudo isso aqui, com um olho nas costas sente sua aproximagio. Vi- ra-se e toca a bola rasteirinha, implorando para ser chutada. Ai voc@ aparece feito um foguete para fuzilar ~ mas, um décimo de segundo antes, como por milagre, a bola so- be dois centimetros. —Emesmo. A bola deu uma levantadinha, —Naaltura exata para voce pegar na veia. Pobre Albertosi. Nao teve a menor chance. Aquela rede estufando foi uma epifania. — Esse tempo todo, achei que fosse um bura- cona grama, —Nada. —EntZo, voc? é um anjo! —Nao, no, anjo é aquele ali, com as pernas Vista essa camise- ta com oniimero 4 as costas, as chuteiras, a pelada vai comegar. Li esta o Gartincha, Di Stefano, Puskas, Cruyff, Maradona, Faltava oCapitio. — Jesus do céu! ~ Entao. Eu ia falar mesmo sobre isso. Te- nha paciéncia com 0 Moco, Ele é do seu ti- me, se acha o dono da bola, fica filosofando demais em campo, mas faz uns gols meio espiritas, bonitos até, voce vai ver. Enfim, nio grite com Ele. Eseja muito bem-vindo. ~ Obrigado. ~ Eu é que agradego. Aquele gol foi o maior ‘momento da minha vida, da eternidade, por todos os séculos e século. ~ Quer dizer que esse € 0 Paraiso? ~ Digamos que é um esbogo, a gente chega 1i, Paraiso foi o Estdio Azteca, naquela tar- de de 21 de junho de 1970. Quando Pelé ro- Joua bola para vocé, rastera, eeu, com uma levantadinha de génio...m Pouco tempo depois desta crdnica, o rei Pelé também era chamado para oracha. (sso anattaéredetarcescito.ndorecessalamertenessaorden. fl redatre eter sdcriagac da fmapOB00, OWS, Anca DPZeoutas pooner aghelas braces

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