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O Papel Do Trabalho de Campo Na Geografia, Das Epistemologias Da Curiosidade Às Do Desejo
O Papel Do Trabalho de Campo Na Geografia, Das Epistemologias Da Curiosidade Às Do Desejo
Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
17 | 2013
Número 17
Paul Claval
Traduction de Giovanna Thomaz; revisão de Patrícia Reuillard (UFRGS)
https://doi.org/10.4000/confins.12414
Texte intégral
1 A ideia de que a geografia deve fundamentar-se na prática do trabalho de campo se
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estabelece apenas tardiamente: o geógrafo não é um explorador ou um viajante; seu
trabalho não consiste em relatar o que se observa em cada lugar, mas em transformar a
Cevisão
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daqueles et estão em contato com a realidade em uma visão de
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conjunto, na qual limites se distinguem, linhas se desenham e convergências aparecem.
ceux que vous
A concepção souhaitez
moderna da profissão de geógrafo se define do final do século XVIII ao
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início do XIX.
2 Para que serve o trabalho de campo? Para garantir a autenticidade das observações
coletadas e proporcionar a descoberta de realidades que escapam às outras estratégias
✓ Tout accepter
de investigação. Ademais, também se faz útil para a formação do cidadão. É à gênese e
ao desenvolvimento desses aspectos que se dedica este pequeno ensaio.
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POR QUE O TRABALHO DE CAMPO?
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Em mineralogia ou geologia, o trabalho começa pela observação de rochas ou minerais
no lugar onde surgem. Os espécimes são em seguida estudados e conservados nos
museus de história natural — outros são analisados em laboratório.
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8
vousAsdonne
novasleciências
contrôlequesur nascem copiam os saberes naturalistas: é no terreno,
percorrendo
ceux que vous cidades e campos, imergindo nas sociedades autóctonas ou instalando-se
souhaitez
nas vilasactiver
industriais que o geógrafo, o etnólogo e o sociólogo exploram o mundo e
procuram explicá-lo.
9 Antes de os dados coletados pelos serviços especializados, públicos ou privados,
(estatísticas, pesquisas), estarem disponíveis, quase todas as ciências humanas
voltavam-se para o trabalho de campo: elas passam por uma fase em que essa prática é
primordial para suas formações. No fim do século XVIII e início do XIX, a geografia
aparece assim como a matriz comum de um certo número de disciplinas, especialmente
da economia e etnografia (Claval, 1072).
10 O trabalho de campo garante a autenticidade das observações, mas ele leva tempo e
limita as possibilidades de trabalho do indivíduo. Muitos procuram evitar essas
restrições e preferem explorar os testemunhos recolhidos por outros. É isso que passa a
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percorrer as estradas do mundo germânico por volta dos anos 1860 não procuram
somente compreender melhor o mundo que os cerca, mas também fortalecem o corpo e
o desejo ao percorrer esse árduo caminho.
22 A corrente que impulsiona o interesse dos jovens pelo contato com o ar livre, o
esporte e a viagem, não se consolida na França antes dos últimos anos do século XIX.
Mas o valor cidadão do trabalho de campo é reconhecido mais cedo: para alguns, os
oficiais franceses foram em parte responsáveis pela derrota na Guerra Franco-
Prussiana em 1870 – por não terem formação, eles eram incapazes de ler e utilizar os
mapas para organizar as manobras das tropas,. Para Loudovic Drapeyron ( Broc, 1974),
era necessário, então, ensinar os jovens franceses a ler as paisagens e o mapa por meio
de repetidas saídas de campo — uma das características importantes da renovação da
geografia que se manifesta nos anos 1870.
23 A escolha feita por Vidal de la Blache de dedicar suas férias para percorrer — de trem
ou a pé — a França e os países vizinhos se deve, em parte, a essa vontade de formar
melhor os franceses, levando-os a compreender o mundo através da prática da saída de
campo e do conhecimento geográfico (Sanguin, 1993). Esse envolvimento ajuda na
construção tanto do cidadão quanto do geógrafo.
A GEOGRAFIA E O TRABALHO DE
CAMPO NO SÉCULO XIX
24 A tarefa do geógrafo, até a criação do primeiro relógio marítimo de alta precisão de
John Harrison, na metade do século XVIII, é estimar as distâncias percorridas pelos
marinheiros ou exploradores a fim de determinar longitudes que não podem ser
medidas diretamente. A disciplina se baseia na análise dos relatos de viagem e dos
diários de bordo: ela se pratica em gabinete. Mas as novas possibilidades de
determinação das coordenadas obrigam os geógrafos a reinventarem seus métodos.
25 A questão do trabalho de campo, que se impõe no fim do século XIX, em uma
geografia finalmente modernizada, têm diversas fontes: a questão pestalozziana da
lição das coisas, a vontade de consertar as falhas do sistema educacional francês,
reveladas pela derrota de 1870, e a admiração pelas ciências naturais.
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29 Desde o início, a École des Eaux et Forets de Nancy, (Escola de Àguas e Florestas de
Nancy) introduz estágios em trabalho de campo em seu currículo: os estudantes
aprendem a trabalhar com plantas, a analisar a composição das florestas e a diferenciar
as florestas altas, as baixas e as mistasGiovanna P.2017-08-20T15:41:00. Uma vez
formados, alguns engenheiros florestais se beneficiam de sua prática com o trabalho de
campo para analisar a resistência das comunidades camponesas frente à política
implementada por sua instituição. Inspirados por Le Play, realizam uma entrevista
sociológica em campo. Os geógrafos se inspiram de bom grado em suas práticas
(Kalahora e Savoye, 1986)
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mais simplificada, por reduzi-la à sua forma em relevo e a alguns elementos humanos –
como a presença de madeira, pomares, vinhas, canais de comunicação e habitat. O
mapa fornece-lhe pontos de referência.
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mapa topográfico soma-se o geológico: ele revela aquilo que a observação direta
35
le contrôle sur
ceux que vousem
só demonstra alguns pontos (pedreiraGiovanna P.2017-08-20T15:41:00s, poços de
souhaitez
minas) nas regiões cobertas por um manto contínuo de solo e vegetação — assim, o
activer
geógrafo se beneficia dos dados coletados pelos geólogos que o precederam em campo,
bem como se beneficia do trabalho dos oficiais topográficos que aumentaram a escala
do mapa para 1/180000. É assim que, já no fim do século XIX, a saída de campo do
geógrafo difere daquela de pioneiros como Humboldt: graças aos mapas topográficos e
geológicos, graças também aos mapas temáticos que tornam mais compreensíveis os
dados estatísticos e que são fáceis de transportar (Palsky, 1996), ele pode aproveitar
aquilo que os serviços oficiais já coletaram a partir de análises sistemáticas com o
trabalho de campo.
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Foto Hervé activer
Théry
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estabelece no meio dos estudantes de Vidal na Escola Normal Superior, nos anos 1880 e
1890, é uma disciplina de trabalho de campo. É ela que lhe permite observar
particularmente dois tipos de estruturas, até então ignoradas, mas percebidas nas
paisagens: os sistemas agrários e as divisões regionais.
41 Primeiro discípulo de Vidal a ocupar uma cátedra de geografia, Lucien Gallois
percorre a região de Lyon, onde ele leciona, e mostra como ela é feita de um mosaico de
pequenas unidades: Dombes, Mâconnais, Beaujolais, Charolais, Lyonnais — a geografia
se torna regional e não pode mais passar sem a experiência em campo (Gallois,
1891/1892; 1895).
42 É por intermédio da geologia que a experiência fundadora de Humboldt — a da
descoberta de estruturas paisagísticas que passariam despercebidas sem isso — é
assimilada pela geografia francesa. O trabalho de campo não serve somente para
autenticar as informações coletadas pelos geógrafos, ele permite também a apreensão
de elementos que escapam ao viajante comum. Graças às competências de análise
visual adquiridas, o geógrafo é capaz de enxergar realidades invisíveis a outros.
43 A institucionalização desse procedimento acontece com Emmanuel de Martonne:
inventa, em 1905, a excursão interuniversitária (Baudelle et al., 2001). Para ele, o que
resulta do contato com a paisagem, pedreiras e recortes sem dúvida diz mais respeito à
geomorfologia do que à geografia humana; no entanto, ele percorreu bastante a
Romênia para saber como a observação direta é necessária para esclarecer as realidades
humanas de um país.
O TRABALHO DE CAMPO NA
GEOGRAFIA CLÁSSICA
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CeGeografia humana:
site utilise des cookies et o papel do entrevistador ou a
integração
vous dossursaberes vernaculares à geografia
donne le contrôle
ceux que vous souhaitez
científica activer
55 O geógrafo que se interessa pela ocupação humana não pode se contentar com esses
procedimentos. Eles o ajudam a compreender a articulação das paisagens rurais, a
penetração das formas suburbanas do habitat em torno das cidades, ou a morfologia
dos lugares habitados. Mas, para ir além, a observação não basta: o pesquisador precisa
entrevistar as pessoas, visitar as propriedades agrícolas, inventariar os instrumentos
agrícolas e seus usos, ouvir sobre os trabalhos e seus ritmos, questionar-se sobre o uso
das instalações do campo. Ele precisa se interessar pelas pequenas empresas industriais
que impulsionam certas regiões do campo. Nas grandes concentrações industriais, é o
complexo tecido dos edifícios industriais, canais, vias férreas, estradas e moradias de
operários que ele deve esclarecer.
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A metodologia nebulosa de ensino da prática em campo e o valor que ao mesmo
61
tempo lhe é dado faz com que muitos jovens pesquisadores fantasiem sobre esse
domínio. Eles têm suas receitas, seus hábitos, seus medos, seus prazeres.
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ceux que vous souhaitez
A sacralização
activer das práticas em campo
62 Enquanto espera pela defesa de sua dissertação, o pesquisador já tem um status,
graças ao trabalho de campo: aos olhos da comunidade científica, ele é reconhecido,
mesmo que ainda não tenha publicações, por ser o homem do Maciço do Vercors, do
planalto dos Grands Causses, das montanhas pré-Pyrénées ou da costa da Bretanha. A
regra que desaconselha fazer pesquisas em um terreno que já fora destinado a outro dá
àquele que o analisa o sentimento de ser, de certa forma, seu proprietário. Uma
estranha dialética do estatuto reconhecido e da propriedade reivindicada se estabelece.
63 O trabalho de campo ocupa um papel central na mitologia do geógrafo. Para o jovem
pesquisador, essa prática se mostra como uma prova, um rito de iniciação, às vezes,
podendo mesmo levar a um tipo de comunhão, de identificação com a região e as
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populações estudadas: para ele, é uma fonte de profundo prazer. Dessa forma, a
experiência com o trabalho de campo pode levar a uma interpretação quase
psicanalítica. No fim do século XIX e no início do XX, a geografia “sacraliza” e
“dramatiza” as práticas das saídas de campo (Calbérac, 2010).
64 É neste momento que a análise regional se torna uma peça central da pesquisa. O
trabalho em campo fornece ao geógrafo uma garantia da autenticidade dos dados com
os quais trabalha; permite-lhe apreender as estruturas do espaço estudado e as divisões
que o caracterizam. Um sentimento de culpa se instala naqueles que não conseguem
recolher do terreno o que é normalmente esperado.
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O que geografia deve ao trabalho de campo
66Ce site utilise des
A geografia dá cookies et a essa prática do que as outras disciplinas. E por quais
mais espaço
vous donne
motivos? le contrôle sur
67 ceux que vous“moderna”
A geografia souhaitezdo fim do século XIX se define por oposição a uma geografia
activer
mais antiga, que era uma ciência de gabinete e se apoiava essencialmente nos arquivos
de viagens e documentos provenientes delas, mais especificamente, os mapas.
68 A geografia moderna dá muita importância à natureza e aos aspectos físicos, analisa
as formas do relevo e especialmente as formações vegetais: é nesses domínios que a
observação direta e o trabalho de campo são indispensáveis.
69 Como a etnografia, a geografia humana se interessa por todas as sociedades, tanto as
que têm escrita como as orais. Existem arquivos que permitem a reconstituição da
origem e o funcionamento das sociedades históricas, mas a saída de campo constitui-se
como elemento essencial na análise de seus componentes paisagísticos, por muito
tempo pouco estudados e sobre os quais a documentação escrita é bastante pobre. É
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Sion, a maioria dos trabalhos se preocupa muito pouco com a organização territorial.
Contentam-se em mostrar o que o trabalho de campo traz para a compreensão de um
espaço cujos limites são geralmente arbitrários. Não são propriamente teses, pois os
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dados que apresentam não servem para demonstrar a validade de uma hipótese.
vous donne le contrôle sur
75 Emque
ceux suavous
carreira, um geógrafo só aborda as realidades da escala menor, as da nação
souhaitez
em particular, mais tarde, no momento de redigir um volume da Geografia Universal,
activer
por exemplo. O único pesquisador que defendeu uma tese sobre a organização regional
de um país inteiro, a Argentina, foi Pierre Denis — no entanto, ele abandonou a
disciplina depois da defesa de sua tese.
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toda a documentação de “segunda” mão de que dispõe, que as conclusões de sua análise
geográfica se formulam, primeiramente como um esboço ou mapa. Mas o mapa não
Cefala:
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preciso fazê-lo
des falar.et
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88 vous A donne
etapa dole registro
contrôletextual
sur dos resultados constitui, portanto, uma parte importante
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do trabalho, como enfatiza Vincent Berdoulay (1988) ou Isabelle Lefort (1992). Passar
da imagem activer
cartográfica ao texto nunca é uma tradução automática: a linguagem tem
sua própria lógica, sugere aproximações, favorece comparações. A metáfora muitas
vezes substitui a explicação, ou a sugere.
89 A geografia clássica se extingue nos anos 1960. Para compreender o papel assumido
pelo trabalho de campo na disciplina, é preciso entender o lugar que ele ocupa na Nova
Geografia da década 1960 e nas formas sucessivas que a virada cultural da disciplina
reveste.
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O TRABALHO DE CAMPO NA
GEOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
90 O que a pesquisa atual sobre as práticas em campo não aborda diretamente diz
respeito ao que acontece com o trabalho de campo quando os pressupostos sobre os
quais se baseava o procedimento geográfico saem de moda. Quando se deixa de
acreditar que um contato direto com as paisagens e os homens é indispensável para
explicá-los, ou quando se admite que o papel da geografia é se interrogar sobre as
distribuições observadas por outros mais do que explicar sua origem ou função.
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nada de novo ao que já foi levantado por outros? O apelo ao estudo direto do terreno é
substituído por procedimentos que já não têm mais nada de intuitivo. Eles confiam —
uma confiança crítica, evidentemente — nos dados coletados por outros.
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95
vousOdonne
confronto direto com
le contrôle suro campo perde todo seu sentido? Não: acontece de nenhuma
ceux que vous souhaitez nenhum dos modelos imaginados para dar conta da
das interpretações teóricas,
distribuição dos fatos de produção, distribuição e consumo, ser operacional —
activer
estatisticamente, eles somente “explicam” uma pequena parte do que se conhece. O
procedimento não resulta em uma leitura satisfatória do real. Os processos que o
estruturam não são aqueles sob os quais se baseia a interpretação teórica. O que fazer
então?
96 Voltar ao mapa e, se este se mostrar insuficiente, ao trabalho de campo. A hipótese
testada não explica as distribuições observadas, mas há lugares em que ela parece
relativamente satisfatória, e em outros não. Por que não se voltar, então, para a
cartografia dos “resíduos” da análise, para a parte do real que ela não foi capaz de
esclarecer? A imagem obtida é suficiente, muitas vezes, para apontar as forças e os
processos que não foram levados em conta – a existência, por exemplo, de um forte
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relativos às instituições em que trabalhavam esses pesquisadores; ele tenta enxergar o
lugar reservado a eles na sociedade em geral e nos meios intelectuais. Assim, ele pode
comparar a dinâmica das ideias, o ambiente onde elas surgem e a demanda social a que
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respondem.
vous donne le contrôle sur
103
ceuxAs que
questões
vous metodológicas?
souhaitez São as mesmas que se mostram para o historiador:
avaliar a activer
sinceridade dos autores analisados, compreender suas motivações, levar em
conta os vieses que estruturavam ou deformavam suas representações.
104 O trabalho de campo? Assim como para qualquer outro historiador, ele não existe
para o historiador da geografia. No entanto, existem momentos em que o pesquisador
tem realmente a sensação de penetrar na lógica daqueles que estuda, de colar-se aos
seus pensamentos, de compartilhar suas preocupações. A emoção que experimenta em
tais momentos acaba por evocar aquelas sentidas pelo pesquisador de campo, para
quem o entorno se estrutura de repente e faz sentido. Ele consegue distinguir aquilo
que constitui a experiência autenticamente pessoal daqueles que ele estuda do que
revela a predominância dos estereótipos e das imagens que os cercavam.
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110 A natureza desses elementos é qualitativa (Blunt et al., 2003). Alguns deles podem
ser estudados através de textos, pinturas, estátuas, edifícios, músicas, danças que eles
inspiram ou expressam. O imaginário turístico pode ser lido nos materiais de
publicidade que as agências de viagem divulgam, ou nos cartões postais oferecidos aos
viajantes nas lojas de souvenirs. Uma parte essencial dos novos interesses geográficos
não tem, entretanto, uma expressão objetiva.
111 Os serviços públicos, a grande fonte de dados estatísticos, não são feitos para coletar
informações difíceis de formular e identificar. As pesquisas de opinião até conseguem
fazê-lo, mas se baseiam em questionários que geralmente só conseguem medir os
elementos já identificados — os envolvimentos políticos, por exemplo.
112 Ao administrar ele mesmo os questionários, o geógrafo extrai do trabalho de campo o
mesmo tipo de informação, mas ele pode utilizar-se de procedimentos mais flexíveis,
realizar entrevistas não-diretivas, deixar seu interlocutor falar: é nessas condições que
ele consegue levantar aspectos radicalmente novos — e diferentes daqueles que
esperava — da realidade que analisa. O trabalho de campo recupera todo o seu valor.
Alguns exemplos comprovarão isso
113 O campo e as cidades suíças são deliciosamente organizados. Mergulha-se em uma
atmosfera harmoniosa que seduz os turistas. A irmã da minha mulher havia casado com
um pastor suíço e morava em uma mansão num dos belos quarteirões da região alta da
cidade de Lausana. Nós morávamos em Besançon, na França, e gostávamos de visitá-
los para aproveitar a paz que reinava naquele ambiente excepcional. Meus cunhados
ficaram doentes ao mesmo tempo. Os incômodos começaram para eles: na primavera e
verão, já não tinham mais forças para podar as cercas vivas que rodeavam seu terreno
na altura recomendada – 1,20m –, e para colher, no outono, as castanhas que caíam no
chão; o que estragava o ambiente. Os vizinhos notificavam a polícia, que intervinha,
emitia um relatório, cobrava caro pela contravenção e enviava os trabalhadores
municipais para cortar as cercas vivas e recolher as castanhas – a altos preços, claro.
Por detrás da aparente harmonia, era o peso de uma rede implacável de vigilância
mútua que se via...
114 No início dos anos 1990, fui professor-visitante da Universidade de Amsterdã. Uma
jovem colega francesa, casada com um pintor holandês, era professora em um de seus
departamentos. Nós estávamos almoçando com ela um dia, que reclamava de não
conseguir encontrar programas de TV que pudessem distrair seus filhos e
proporcionar-lhe momentos de descanso. Havia, é claro, "Os Pioneiros", mas a série
passava no canal protestante conservador, e seu marido era um protestante de
esquerda. Sem condições, para ele, de deixar seus filhos assistirem a tal show.
115 Nossa interlocutora nos explicou então: a televisão estatal holandesa divide o tempo
de emissão entre os diversos componentes do país, protestantes conservadores ou
progressistas, católicos, minorias de imigrantes (turcos e marroquinos). Na Holanda, o
que conta são as comunidades que a constituem: fala-se de "pilares", "colunas", e se diz
☝🍪
que a sociedade holandesa é "pilarizada". O Estado está a serviço das comunidades, mas
não as domina. Estávamos descobrindo, de repente, o que opunha fundamentalmente
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concepções holandesas e francesas de democracia.
vous donne le contrôle sur
116 Eu lecionava na Universidade Laval, no Quebec, e havia pedido aos meus alunos que
ceux que vous souhaitez
fizessem um trabalho sobre um aspecto econômico ou social de sua localidade ou região
activer
de origem. Um desses ensaios tratava de uma paróquia do distrito de Bas du Fleuve,
onde faltam terras aráveis, onde a colheita da cevada ou aveia (o trigo não cresce) se faz
geralmente durante o primeiro cair da neve de outono, e onde os homens vivem
sobretudo — mas mal — da floresta, da caça ou da pesca. Só conseguem sobreviver com
a caça ilegal. Muitos são pegos e condenados à prisão. É no outono que isso acontece
geralmente. Mais de 20 % dos homens entre 20 e 50 anos estão, por isso, geralmente,
entre as grades. Por que uma tal proporção não parecia algo escandaloso? Por que não
suscitava na imprensa comentários indignados? A dificuldade de subsistência em um
meio tão ingrato explicava em parte esses comportamentos. Eles resultavam também
da convicção de que a prisão era "inglesa" e não tinha nada a ver com a moral. Ser
condenado e passar dois ou três meses na prisão não tinha nada de desonroso.
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117 Esses são alguns exemplos que mostram o que o trabalho de campo revela de mais
precioso no campo cultural: o que diferencia grupos aparentemente tão próximos que
nem suspeitamos da profundeza de suas divergências. Afinal, na Lausana e no Quebec,
fala-se francês como na França, e a democracia holandesa é tão forte quanto aquela que
vivemos no nosso país. Um detalhe, um pequeno incidente, revela então o abismo que
nos separa de pessoas que acreditávamos estar tão próximas.
118 Se fosse para resumir o que a prática direta em campo ensina de mais precioso à
geografia, poder-se-ia se dizer que ela contribui duplamente:
119 1 - A visão global e compreensiva das paisagens permite entender o que caracteriza as
unidades territoriais, encontrar seus limites — esta é, por assim dizer, a contribuição de
Humboldt, tão importante para a geografia física quanto para a geografia humana.
120 2 - O trabalho de campo permite encontrar as diferentes práticas ou políticas que
contribuem para modelar o espaço, assim como as características dos comportamentos,
das atitudes, e das concepções da vida em um dado lugar — o direito da comunidade em
controlar alguns comportamentos de seus membros, como na Suíça: a aceitação, na
sociedade quebequense, de sanções penais generalizadas, pois não são percebidas como
desonrosas; a ideia, nos Países Baixos, de que o que é fundamental para a nação são as
comunidades que convivem no país, e não o Estado, que está a seu serviço.
121 É a esse retorno ao trabalho de campo e ao frescor dos testemunhos que ele permite
recolher que os estudos sobre o espaço vivenciado, tão numerosos nos anos 1970,
devem muito de seu sucesso: eles rompiam com o caráter frio e calculista de muitos
trabalhos da Nova Geografia, pobres por contar somente com estatísticas.
☝🍪
uma reflexão mais voltada para os fundamentos da epistemologia. Deixa-se de
privilegiar suas dimensões puramente intelectuais, o "movimento das ideias": o aspecto
Ceconcreto dos métodos e suas condições materiais são agora levados em conta.
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124 O movimento se acentua
vous donne le contrôle sur nos anos 1990, o que resulta na mutação, que se produz
então,
ceux da imagem
que que se tem da ciência e da natureza da epistemologia. O que motivava
vous souhaitez
o pensamento científico
activer era a curiosidade. O termo designava primeiramente "o desejo,
a preocupação que se tem sobre as coisas". Ele se aplica posteriormente à "tendência
sobre o querer aprender, conhecer coisas novas" (Robert). É um "apetite" uma “sede de
saber". Nessa perspectiva, a ciência resulta de um movimento do espírito, que o leva a
explorar o real para compreendê-lo e explicá-lo.
125 Assim, a geografia nasce da tendência a conhecer nosso ambiente e aqueles que se
estendem para além do horizonte e que se descobre ao viajar. No fim da Idade Média e
durante a Renascença, quando a epistemologia moderna começa a se constituir, ela se
alimenta do olhar que vagueia sobre um mundo que se descobre por ser inundado de
luz. Com Roger Bacon e Robert Grosseteste, no século XIX, uma corrente do
pensamento cristão se interessa pela luz porque ela foi criada pelo Senhor desde os
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primeiros dias da Gênese: ela aparece como a energia que Deus mobiliza para modelar
o Universo – como o veículo de sua graça.
126 No século XV, a reflexão dos platônicos de Florença vai nesse sentido, como enfatiza
André Chastel:
127 Os princípios filosóficos da perspectiva se reduzem de fato à ideia de que o espaço é
inteiramente atravessado pela luz (ele é assim "inteligível") e com estrutura matemática
(ele é assim "mensurável"). Esses dois pontos, que já se encontravam presentes no
pensamento de alguns intelectuais do século XIII, ocupam um lugar central na "física"
do século XV e na doutrina de Ficin. Um de seus tratados da juventude, Quaestiones de
luce, insiste sobre o fato de que a propagação dos raios não é um deslocamento de
elementos corporais. A luz é cosa espirituale e só pode gerar efeitos inteligíveis. O
comentário no Timeu consolidará essa intuição pela teoria da alma do mundo e pela
concepção matemática do espaço que dela resulta... Tal é a ordem platônica que
desenvolve a intuição do cosmos harmonioso (Chastel, 1982, p. 305-306)
128 Como foi visto, essa concepção do saber se modifica sob a influência de outro
componente do pensamento medieval, o nominalismo, que impõe o retorno ao real e à
garantia da experiência pessoal das coisas. Essa dialética do espírito e do mundo se
efetua graças ao jogo do olhar e da luz, que é algo espiritual.
129 O corpo está implicado na construção da verdade somente através do olhar — que
escapa, pois ele percebe a coisa espiritual, às determinações materiais. Isso tem várias
consequências.
130 1- O lugar que a cartografia ocupa no desenvolvimento da geografia vem daí : ela
resume e coloca ao alcance de todos aquilo que o olhar do viajante descobre.
131 2- A geografia explora o mundo através do olhar, o que reforça, a partir de Humboldt,
no início do século XIX, a ênfase na experiência direta do espaço estudado, no terreno,
nas paisagens que nele se descobrem e que a imagem permite comunicar.
132 3- Ciência do olhar, a geografia se mostra evidentemente como uma ferramenta de
vigilância, como o sublinha, depois de dúzias de anos, todos os trabalhos inspirados no
"Vigiar e Punir" de Focault.
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então, sobre sua dimensão subjetiva, que coloca no centro de sua reflexão para fazer
dela uma questão anterior ao cognitivo, e sobre sua dimensão espacial, que instaura por
meio dessa questão. (Volvey et al., p. 452)
Ce site utilise des cookies et
vousSua proposta a leva a enfatizar aquilo que bloqueia o desenvolvimento das
146
donne le contrôle sur
ceux que vous háptico
epistemologias ao estilo dos geógrafos anglófonos:
souhaitez
147 Se os activer
geógrafos anglófonos contemporâneos substituíram um 'regime linguístico'
(elaboração de dados produzidos na interdiscursividade) pelo 'regime escópico' de
conhecimento da geografia clássica (elaboração de dados produzidos pela observação
visual), eles penam, no entanto, para fundar um 'regime háptico de conhecimentos (um
regime baseado na elaboração de dados pré-linguísticos, sejam hápticos ou empáticos)
[...] . De fato, eles não adotam o princípio da simetria que lhes permitiria considerar
plenamente um regime háptico de conhecimento a partir de uma reflexão crítica
fundada na relação entre a metodologia de campo baseada no modelo do care, a
dimensão espacial dela e a experiência subjetiva do pesquisador. (Volvey et al., p. 453-
454).
148 Qual a contribuição dessas epistemologias críticas?
https://journals.openedition.org/confins/12414 21/25
29/05/2023, 11:20 O papel do trabalho de campo na geografia, das epistemologias da curiosidade às do desejo
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CONCLUSÃO
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156 Qual
ceux quebase dar
vous ao método da geografia? O trabalho de campo? A ideia é menos
souhaitez
universalactiver
do que parece à primeira vista. Tem raízes medievais, encontra seus primeiros
teóricos no século XVIII, consolida-se no decorrer do século XIX, triunfa no início do
século XX. Poder-se-ia acreditar que um tema tão central teria dado lugar a uma
elaboração sistemática. Na França, isso não aconteceu: um início de aprendizagem nas
excursões e, depois, muito empirismo. Cada um aprende como se organizar quando se
vê sozinho na natureza. A experiência às vezes é traumatizante e é interpretada de
muitas formas, como enfatiza toda uma corrente contemporânea de pesquisa.
157 Nos últimos 50 anos, a geografia vem dando cada vez mais espaço ao estudo dos
processos responsáveis pelas distribuições observadas. O trabalho de campo perde o
papel estratégico que tinha. No entanto, não desaparece das práticas da disciplina: ele
permite avaliar os limites do produto da análise dos mecanismos econômicos, sociais
https://journals.openedition.org/confins/12414 22/25
29/05/2023, 11:20 O papel do trabalho de campo na geografia, das epistemologias da curiosidade às do desejo
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Auteur
Paul Claval
Université de Paris-Sorbonne, p.claval@wanadoo.fr
Traducteur
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Giovanna Thomaz; revisão de Patrícia Reuillard (UFRGS)
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