Você está na página 1de 6
17 o1nLdvd = >= © Como uma itha coberta de lava pode voltar a ter vida? # Como vocé imagina que devem ser as primeiras espécies a colonizar uma rocha, por exemplo? a Etapas da sucessao No inicio do capitulo, vimos que depois da erup- dovulcanica no restou nenhum ser vivo na ilha de Krakatoa. A area ficou completamente desabitada. As condigSes para a sobrevivéncia de animais e ve- getais nessa rea eram extremamente desfavoré- veis: a iluminagao direta provocava altas tempera- turas; a fixacdo dos vegetais nas rochas era muito dificil; toda a agua da chuva escorria ou evaporava No entanto, mesmo em ambiente tao indspito, podem se instalar liquens (figura 17), trazidos pelo vento. Eles apresentam grande capacidade de reter gua e sao relativamente autossuficientes, pois rea- lizam fotossintese e fixam o nitrogénio atmosférico; por isso séo capazes de viver apenas com agua, are alguns sais minerais. As primeiras espécies a se instalarem em um, ambiente sem vida, como os liquens do exemplo anterior, so chamadas espécies pioneiras. E 0 con- junto de espécies pioneiras que coloniza um ambien- te forma uma comunidade pioneira. ‘Aos poucos, a comunidade pioneira modifica as condigdes iniciais da regiso (Figura 172). Continuan- do com o exemplo, os liquens produzem dcidos que dissolvem partes da rocha e entao se formam fendas, onde se acumiulam liquens mortos, excretas dos fun- gos € minerais das rochas. Com isso, forma-se um solo no local. Amedida que morrem, os seres pion ros enriquecem o solo com matéria organica em decomposigao (htimus). Desse modo, o terreno fica mais rico em sais minerais e melhora a umidade. Essas novas condigdes possibilitam a instalagao de plantas de pequeno porte, que necessitam de poucos nutrientes para crescer, ¢ atingem rapida- mente o periodo reprodutivo. £ 0 caso, por exemplo, dos musgos, cujos esporos podem ser trazidos pelo vento ou pela Agua, como vimos no Volume 2. Com ‘o crescimento da populagao de musgos, aumentam a umidade no local e a camada de solo. Assim, me- thoram-se as condicées para a instalacao e a sobre- vivéncia de plantas herbaceas. O aumento de maté- ria organica possibilita a vida de minhocas e outros animais. Isso leva a novas modificagdes ambientais, que favorecem o desenvolvimento de plantas maio- res e, 205 pouicos, mais animais também se estabe- lecem no local Portanto, a partir da instalagao das espécies pio- neiras, a comunidade passa por diversas mudancas. Essa modificacao da estrutura da comunidade ao longo do tempo é denominada sucessao ecolégica (figura 172). Figura 171 Liquens sobre rocha, Parque Nacional da Sera das Canfusdes, Caracol Pl em 2015 Em alguns casos, pode-se chegar a uma comu- nidade relativamente estavel, em equilibrio com o ambiente fisico, que é chamada comunidade climax. Muitos ecologistas, porém, preferem usar a expres- sao comunidade madura (falando em comunidades jovens para referir-se as etapas anteriores da suces- sao), poisttal estabilidade é relativa e podera mesmo nunca ser alcangada se ocorrerem alteragies fre- quentes no ambiente (como queimadas, furacdes ou outros fatores) Em geral, ao longo da sucesso ecoldgica, ocorre um aumento da biomassa total (quantidade de ma- téria organica na comunidade; figura 17.2). Também se observa inicialmente um aumento progressive da biodiversidade, pois novas espécies chegam, novos nichos ecolégicos sao explorados e as teias alimen- tares tornam-se mais complexas. Mas esse aumento da diversidade 6 apenas uma tendéncia, e ndo ocor- re em todos 0s tipos de sucessao. A comunidade formada depende do clima e de outros fatores fisicos da regio. Por exemplo, na Amazonia pode se formar uma floresta tropical; no Canada, uma floresta temperada ou de pinheiros; no Nordeste do Brasil, uma caatinga. As vezes, ha uma regio de transicdo entre duas comunidades (floresta e campo, por exemplo), em que ocorre uma mescla da flora e da fauna de ambas. Nessa regio, ha maior diversidade de plantas e de animais e maior competicdo por espaco e recursos, criando uma “tensao ecolégica” entre as comunidades. Por isso, ela € chamada ecétone ou ecétono (do grego oikos = ambiente; tonus = tensao) Figura 17.2 €xempo ce sucessio ecolégica em uma racha ava Fotografias tiradas em Ubatubs, SP. Inialnete nsalamse Uiuen sare och Finalmente, deve-se compreender que os acon- tecimentos descritos até aqui sdo somente um mo- delo ~ na natureza nem sempre a sucessao ocorre da forma descrita. Além disso, embora frequente- mente sejam usados apenas o aspecto da vegetacao € dos liquens para descrever a sucesso, animais, fungos e microrganismos diversos também fazem parte do processo e interferem nele, Ainda se discute se a estabilidade da comuni- dade climax — isto é, a capacidade de uma comu- nidade retornar ao estado anterior quando modi- ficada por algum fator ambiental - cresce com 0 aumento da diversidade de espécies e da comple- xidade das teias. Alguns estudos indicam que comunidades com- plexas so mais resistentes 8 invasdo de outras es- pécies e a alterages provocadas por fatores ambien- tais. Por exemplo, estudos mostram que areas de pradaria que abrigavam maior numero de espécies perderam menos variedades vegetais e se recupera- ram mais rapidamente apés uma seca do que pra- darias com menor niimero de espécies Finalmente nstalar-se las cactacease pequenosarbustos. fdesenvlviments erases. @ Sucessao primaria e secundaria A sucesso que ocorre em uma regiao totalmen- te desabitada (sem vida) é chamada primatia, Ela corre, por exemplo, em terrenos cobertos por lava, rochas expostas por recuo de geleiras,ilhas vulcani- as ou dunas de areia em formacao. ‘Mas a sucesso pode ocorrer também em plan- tages abandonadas, matas destruidas por incén- dios, lagos que secaram ou a beira de estradas. Nes- ses locais, a vegetacao foi parcialmente ou mesmo completamente removida, mas 0 solo nao foi des- truido e ainda persistem sementes ou esporos. No| ambiente do cerrado, por exemplo, as regides des- trufdas por incéndios ocasionais so logo recompos- tas pela sucessao ecolégica (figura 173) ‘A sucessao que ocorre em locais jé habitados, cujo equilibrio foi rompido por alguma mudanca ambiental, causada ou nao pelo ser humano, é cha- mada secundaria O proceso de sucessao secundaria pode demo- rar muito tempo. Em 2007 (revista Nature, n. 447, p.995-998, 21 jun.), um grupo de cientistas brasilei- os mostrou que leva pelo menos setenta anos pa- ra que uma floresta desmatada para uso agricola meee recupere o nivel de nitrogénio do solo (a baixa taxa de nitrogénio no solo é um fator limitante para 0 crescimento da floresta). Mesmo assim, a vegetacio formada é menos diversificada que a original e ape- nas cerca de 70% da biomassa original 6 recuperada, de acordo com o estudo. Figura 173 Apés urna queimada ocasional, cerrado serecupera, passando pelo processo de sucessao ecoldgica secundéria. Parque Nacional do Aragua‘a, TO. Foto de 2010, Culturas agricolas Asplantacdes que fornecemalimento ao ser humano sao ecossistemas simplificados, forado estagio de climax. As espécies de plantas foram selecionadas para proporcionar produtividade elevada de alimento (grande nimero de semen- tes, comono caso dos cereais e das leguminosas) Mas esses sistemas sao mais sensiveis a0 ataque de pragas que uma floresta ou outra comunidade climax. Os insetos nocivos & pro- ducdo sao beneficiados nao apenas pela ausén- cia de predadores e competidores, mas também pela farta quantidade de alimento disponivel. Além disso, eles ¢ os outros organismos para- sitas, como os fungos, propagam-se com mais facilidade por causa da proximidade entre as plantas e porque nao ha vegetais resistentes, ‘que poderiam funcionar como barreira Outro problema esté nas culturas de propa- aco assexuada, como a cana-de-acticar, for- madas por organismos geneticamente idénticos. Como hé menor variagao genética, a populagdo & mais suscetivel ao ataque de pragas (quando hd diversas variedades genéticas, hd maior chan- ce de que alguns individuos sejam resistentes e sobrevivam) Nesses casos, passa a ser necessério 0 uso de agrotéxicos ou de outras formas de combate ‘as pragos. Allustragao a seguir representa os estagios de uma ‘rea inicialmente desabitada onde se instala, a0 cabo de muitos anos, uma floresta. 4 Tempe 30 7 Bo femanes) 4) No estagio indicado pelo niimero 1 sio encon- trados apenas liquense s6 depois de muito tem- po sio encontradas pequenas plantas rasteiras. Por que os liquens aparecem primeiro e sé de- pois aparecem as primeiras plantas? Um estudante disse que, ao estudar cadeias al- mentares, ele aprendeu que a biomassa diminui aolongo da cadeia Por isso, ele afirmou que abio- massa também diminuina sequéncia indicada na figura. Vocé concorda com 0 estudante? Por qué? Suponha que essa area agora ocupada pela flores- ta seja desmatada e transformada em pastagem ¢@, depois de algum tempo, seja abandonada. Com ‘opassar dos anos, o que deve ocorrer no lugar? » (© tubo digestério de um recém-nascido estéril Apés algum tempo, depois de passar a comer ali- mentos sdlidos, & possivel encontrar nele varias cespécies de microrganismos, como bactériase fun- {g05. Fazendo uma analogia com o contetido deste capitulo, que tipo de fendmeno ecolégico teria ocorrido nessa mudanca? (Ver) Uma pequena e isolada itha tropical foi de- vastada por uma grande queimada, que destruiu todos 0s seres vivos ali existentes. Quatro anos depois, o solo da ilha apresentava uma cobertura de cianobactérias, brisfitas, pteridofitas, além de algumas fanerégamas. Apds dez anos, ja existiam diferentes representantes de artrépodes e, aps sessenta anos, a ilha estava novamente coberta poruma mata densa, abrigando um grande niime- ro de espécies animais,incluindo répteis, aves e mamiferos. Nomeie 0 fendmeno ecolégico ocorrido nailha ao longo desse periodo e expliquea atuacao dos primeiros organismos surgidos, apés a queima- da, na recuperacao da biodiversidade local - (UFRJ) Dois agricutores possuem, cada um,10 hee tares de mata virgem, que abriga um grande nit mero de insetos predadores. O primeiro agricultor derruba amata e planta seus 10 hectares com soja 1. mh (© segundo derruba 60% de sua mata, deixando 40% preservada na forma de varias ihas de vege- tacio nativa e planta, na parte derrubada, milho, 50a € feijJo, em 4reas iguais. Nenhum dos dois usa defensivos agricolas (inseticidas). Qual dos dois agricultores corre maior risco de ter sua lavoura destruida por pragas? Justifique sua resposta, (UFRGS-RS) Na Floresta Atlantica, varias reas uti- lizadas no passado para extracio madeireira ou para cultivo foram abandonadas e hoje se encon- tram em proceso de sucessio secundaria. Assinale com V (verdadeiro) ou com F(falso) as afir- mages que seguem sobre esse processo. (A) Ble se caracteriza, em seu inicio, pela colon zacao de espécies pioneiras, tals como gra mineas e vassouras, (A) As espécies dos estagios iniciais e interme- didrios mantém-se em locais de estagio avancado da sucessio florestal (A) As redes alimentares e as interagies entre espécies tornam-se mais complexas com 0 avango do proceso, (A) Abiodiversidade ea biomassatendem a um aumento progressivo, mesmo quando a co- rmunidade atingiu o estagio climax Asequéncia correta de preenchimento dos parén- teses, de cima para baixo, ¢ Xa) V-F-V-F d) F>F-V-V. ©) V-F-F-V. (UFIF-MG) As queimadas, comuns na estacao seca em diversas regides brasileiras, podem provocar a destruigao da vegetacao natural. Apés a ocor- réncia de queimadas em uma floresta, é correto afirmar que: 4) com o passar do tempo, ocorreri sucessio pri b) apés o estabelecimento dos liquens, ocorrers a instalagao de novas espécies. a comunidade de climax sera a primeira a se restabelecer. d) somente apés 0 retorno dos animais & que as plantas voltarao a se instalara rea queimada, x€) acolonizacao por espécies pioneiras faciltard estabelecimento de outras espécies (Enem) Uma pesquisadora deseja reflorestar uma rea de mata ciliar quase que totalmente desma- tada, Essa formacdo vegetal é um tipo de flores- ta muito comum nas margens de rios dos cerra- dos no Brasil central ¢, em seu climax, possui vegetacao arborea perene ¢ apresenta dossel fechado, com pouca incidéncia luminosa no solo nas plantulas. Sabe-se que a incidéncia de luz, a disponibilidade de nutrientes ea umidade do solo sao 0s principais fatores do meio ambiente fisico que influenciam no desenvolvimento da planta. Para testar unicamente os efeitos da variagdo de lu, a pesquisadora analisou, em casas de vegetacao.com condigées controladas, o desenvolvimento de plantas de 10 espécies nativas da regido desmatada sob qua- ‘ro condigbes de luminosidade: uma sob sol pleno ¢ as demais em diferentes niveis de sombreamento. Para cada tratamento experimental, a pesquisadora relatou se o desenvolvimento da planta foi bom, ra- zodvel ou rum, de acordo com citérios especificos. Os resultados obtidos foram os seguintes: Condigae de luminosidade 30% | 50% | 90% 1 | Razoavel| Bom | Razoavel | Rulm 2 | Bom | Razoavel| Ruim | Ruim 3 | Bom | Bom |Razodvel| Ruim @ | Bom | Bom | Bom | Som 5 | Bom [Razodvel) Ruim | Ruim © | Ruim |Razodvel| Bom | Som 7 | Ruim | Ruim | Ruim | Razoavel 3 | Ruim | Ruim |Razoavel| Ruim 9 | Ruim |Razoavel| Bom | Som 10 _| Razoavel | Razodvel | Razoivel| Bom Para o reflorestamento da regiio desmatada, a) a espécie 8 € mais indicada que aura vez que aquela possui melhor adaptacao a regises com maior incidéncia de luz Xb) recomenda-se a utilizacao de espécies pioneiras, isto 6, aquelas que suportam alta incidéncia de luz, como as espécies 2,35. ) sugere-se 0 uso de espécies exéticas, pois so- mente essas podem suportar a alta incidéncia luminosa caracteristica de regides desmatadas. 4) espécies de comunidade climax, como as 4 €7, sao as mais indicadas, uma vez que possuem boa capacidade de aclimatacao a diferentes am- bientes €) € recomendado 0 uso de espécies com melhor desenvolvimento’ sombra, como as plantas das. espécies 4, 6,7,9 €10, pois essa floresta, mesmo no estagio de degradacao referido, possui dossel fechado, o que impede a entrada de luz 8. (UfscarsP) Asulstituigio ordenada e gradualde uma comunidade por outra, até que se chegue a uma co- rmunidade estivel, é chamada sucessao ecolégica Nesse processo, pode-se dizer que o que acorre é 3) a constncia de biomassa e de espécies. b) areducao de biomassa e maior diversficagao de espécies €) a redugao de biomassa e menor diversificagao de espécies 4) o aumento de biomassa e menor diversificagao de espécies Xe) o aumento de biomassa e maior diversificagao de espécies . (Utes) A tradicao cultural de algumas tribos indige- rnas da Amazénia tem influéncia no tipo de agricul- tura praticado. Esse consiste na rotagao de areas de plantio, com a derrubada e queima de pequenas reas de floresta, para o cultivo por um periodo de quatro anos. Ao final desse periodo, a baixa fertil- dade do solo faz com que essa area seja abandona- da, e uma nova area é submetida a esse processo ‘Apés 20 anos, aproximadamente, a primeira érea é novamente desmatada, queimada e cultivada Do ponte de vista da ecologia, essa pratica se apoia no conceito de: a} sucesso primaria, em que ocorre a substituicao temporal das espécies colonizadoras. Xb) sticessao secundaria, em que ocorre a formagao de uma floresta com espécies diferentes das da floresta original ©) competi¢ao interespecifica, devido a escassez de nutrientes no solo, 4d) exclusio competitiva, em que as espécies mais sensiveis sao substituidas pelas mais rsistentes. €) evolucao do ecossistema, com o aumento da produtividade primaria liquida, Sugest6es de aprofundamento Para ler: + Fique por dentro da Ecologia, °, Burnie. 2. ed. io Paulo: ‘cosac Naify, 2002 + Natureza e agroquimicos. Samuel Murgel Branca. 2.ed So Paulo: Moderna, 2003, Paraassi + Ilha das Flores Jorge Furtado. Brasil,1989. 90 minutos, Documentério que retrata a forga do apelo consumista o desperdicio eo preco da liberdade do ser humane como ser individual eresponsavel pela propria sobrevivencia, sucess

Você também pode gostar